BOQUINHAS NA ALFABETIZAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10080727


Fabiana Ribeiro Da Silva¹
Heloísa Da Silva Duarte¹
Lucimar Almeida Costa Souza¹
Mariza Silveira Neto¹
Rosilene Moreira Gomes Fialho¹
Valdir Firmino De Souza¹
Prof. Edio luis bressan²


RESUMO

O presente estudo faz uma reflexão sobre a uma forma de alfabetização não muito conhecida, chamada de fonovisuoarticulatório, carinhosamente apelidada de método das boquinhas, que resume sua abordagem, multissensorial, ou seja, alia entradas neurológicas fonológicas (som/fonema) às visuais (letras/grafemas), viabilizadas e facilitadas pelas vias articulatórias, sinestésicas (articulemas/bocas), formando o triângulo necessário para fazer com que o processo de decodificação/codificação (leitura/escrita) seja modificado de abstrato para concreto, possibilitando a sua aquisição de maneira mais simples, rápida e eficaz. A proposta desse artigo é divulgar e abrir uma porta para reflexão de um método não muito conhecido que vem trazendo consigo grandes avanços dentro da sala de aula.

Palavras-chave: Alfabetização – Boquinhas – Reflexão.

ABSTRAC

The present study reflects on a form of literacy that is not very well known, called phonovisuoarticulatorio, affectionately referred to as the notation method, which summarizes its multisensory approach, ie, alia phonological neurological inputs (sound / phoneme) to the visual ones / graphemes), made feasible and facilitated by articulatory, synesthetic (articulemas / mouths), forming the triangle necessary to make the decoding / coding process (reading / writing) modified from abstract to concrete, making it possible to acquire simpler, faster and more efficient. The proposal of this article is to spread and open a door to reflection on a not very well known method that has brought with it great advances within the classroom.

Keywords: Literacy – Mouthpieces – Reflection.

INTRODUÇÃO

Alfabetização é um tema bastante explorado hoje em dia, muito se fala e pouco se faz para termos qualidade naquilo que oferecemos para as crianças. O presente artigo trará um tema que ainda está sendo difundido pelos educadores do nosso país, o método de alfabetização fonovisuoarticulatório carinhosamente apelidado de método das Boquinhas, devidamente registrado pela sua autora Renta Jardini, Como o próprio título desse artigo diz, vou descrever como funciona o método das Boquinhas dentro da alfabetização, utilizando um dos livros da criadora do método para fundamentar minha teoria, o livro Boquinhas Uma Neuroalfabetização, esse livro orienta de forma clara e sucinta como funciona esse método que surgiu para revolucionar a forma de alfabetizar nossas crianças.

Dehaene 2015, afirma que os sons das palavras se intrometem na sua aquisição e compreensão, e estudos feitos com imagens cerebrais de adultos analfabetos mostram que a aprendizagem da leitura e da escrita se remete ao início do processo da linguagem oral, independentemente da idade, ou seja, esse pensamento reforça o que Jardini afirma, que qualquer pessoa pode aprender a ler e escrever através do método das Boquinhas que utiliza o som como um dos seus pilares de sustentação.

É sabido que o ponto de partida do ser humano na aquisição de conhecimento reside na boca, primeiramente exercendo a função de respirar, seguida de se alimentar e paulatinamente na produção de sons – fonemas, que são transformados em fala, meio de comunicação relativo ao ser humano. Contudo, partindo-se do pressuposto de que as habilidades de falar e escutar, no que diz respeito aos sons da língua, já estariam dominadas pelas crianças, estimulando-as a lidar com a língua escrita.

Desse modo, o objetivo do trabalho aqui exposto é respaldar a intervenção proposta pelo Método das Boquinhas, por meio de pesquisa científica, para alfabetizar e reabilitar os distúrbios da leitura e escrita com crianças de etiologia variadas, auxiliando professores a desenvolverem um excelente trabalho de alfabetização no país, resgatando sua função e missão educativa.

COMO SURGIU AS BOQUINHAS

Contar a história de como surgiu o método das boquinhas é esbarrar na história pessoal da Fonoaudióloga Renata Jardini, na busca de auxiliar na alfabetização de dois filhos especiais Renata, pesquisou muito.

E ainda quando eles eram bebês fui tentar descobrir qual é o órgão primordial que nos confere as aprendizagens básicas para sermos seres viventes. Por onde entraria o sopro divino? (AMORC, 2017). E cheguei na BOCA, embora os egípcios sinalizassem as narinas, ou melhor, talvez pela boca expressamos esse sopro divino recebido pelas narinas …. Pois é a boca que nos faz respirar, alimentar, falar/comunicar, sentir e amar. Então, por que ela não poderia ser também usada para nos ensinar a ler e escrever? (JARDINI, 2017, p. 31).

A partir daí Renata começou uma verdadeira saga em busca de embasamento teórico para aplicar essa técnica no que ela chamou de “filhos-cobaias”, e essa experiência deu muito certo, com essa certeza nas mãos ela passou a praticar também nos seus pacientes esses também com êxito.

Então, debrucei-me a estudar tudo o que consegui, sobre como uma boca poderia ser usada para ler e escrever (que detalharei as referências científicas no próximo capitulo) até preconizar os primórdios do que viria a ser Boquinhas, que passei avidamente a praticar nos filhos-cobaias. E deu muito certo, pois começaram a falar bem rápido e a enveredar-se nas letras, como se nenhuma alteração ou atraso em seu desenvolvimento possuíssem. (JARDINI, 2017, p. 31).

Com tudo dando certo esse sistema começou a ser testado na cidade de Araraquara SP, primeiro com aqueles alunos chamados de “aluno-problema” e depois com a sala toda, com resultados positivos, Renata teve que aperfeiçoar-se ainda mais tendo que voltar à Universidade para estudar Psicopedagogia na (UNICEP/São Carlos), fez mestrado e doutorado na (UNICAMP/Campinas), com essa bagagem teórica maior e mais respeitada ela decidiu divulgar mais esse método, mesmo não sendo nada fácil (JARDINI, 2017).

Jardini 2017, afirma que com o método Boquinhas ela encontrou seu lugar e focou em ministrar cursos e capacitações, para ensinar quem quisesse aprender, a usar boquinhas e obter resultados rápidos e duradouros. Ela embasou seus cursos e livros com fundamentações simples, livres de armadilhas acadêmicas.

E o porquê do apelido Boquinhas?

Jardini 2017, explica que o nome correto para boquinhas é metodologia fonovisuoarticulatória, e que sua abordagem é multissensorial, aliando entradas neurológicas fonológicas (som/fonema) às visuais (letras/grafemas) viabilizadas e facilitadas pelas vias articulatórias, sinestésicas, (articulemas/bocas), formando os três pilares necessários para o processo de aprendizado. Jardini, ainda afirma que o apelido Boquinhas foi dado pelas próprias crianças, resumindo o que elas faziam.

Os Três Pilares

Para entender como funciona o método Boquinhas é preciso entender primeiro como funciona sua base, ou seja, os seus três pilares: a consciência Fonológica, fonêmica e fonoarticulatória.

Jardini 2012, definiu consciência fonológica como uma análise dos sons envolvidos “dentro” de uma palavra, observar para os sons da fala enquanto essas palavras são pronunciadas, ou seja, a criança precisa ter consciência do som que cada letra possui e usá-lo para decodificar ou codificar as palavras, essa consciência é fundamental para a aquisição da leitura e escrita.

Segundo Jardini 2012, consciência fonêmica é uma análise mais “refinada” da palavra, desse som dentro da palavra, ou seja, a sequência dos sons, o que é ouvido antes, depois e depois, para que se compreende a unidade e continuidade do processo, ela ainda dá um exemplo bem simples para explicar, na palavra pastel por exemplo o som da letra S, está no meio da palavra, enquanto na palavra sopa o mesmo som está no início.

Para finalizar Jardini 2012, afirma que a consciência fonoarticulatória é equitativamente que ter conhecimento de qual gesto a boca está articulando enquanto se está falando, seria o esmiuçar da fala em pequenas unidades articulatórias. Uma exploração sensorial da boca que essa e fala, ela ainda diz que essa consciência é adquirida através de treinamentos. A partir da compreensão desses três pilares podemos começar a ver como Boquinhas é utilizado na alfabetização.

Boquinhas na alfabetização

A busca por conceituar o que é alfabetização vem surgindo ao longo do tempo, e junto com o tempo esse conceito sofre revisões significativas associadas as outras áreas de conhecimento, que reconhecem o “fato de que a mera leitura e grafia não significava o domínio do ato de ler e escrever que é exigido nas atividades sociais” (SÉRKEZ, MARTINS, 1996, p.9)

No método das Boquinhas a alfabetização é construída pelo próprio aluno, internamente estando aberto a troca uma vez que todos aprenderiam pela mesma “ferramenta” a boca. Atingindo assim de maneira mais rápida e eficaz a conversão fonema/ grafema possibilitando a compreensão e utilização do princípio alfabético da Língua Portuguesa (JARDINI 2017).

Qualquer indivíduo falante ou não, dono de uma boca, consegue compreender e usar Boquinhas. Basta se deparar com as bocas abaixo que você verá a “mágica” acontecer. Sabe por quê? Porque temos neurônios-espelho e esses nos fazem imitar o que vemos. (JARDINI, 2017, p.39).

Segundo Myklebust e Johnson (1983), a criança que não consegue ler não é capaz de escrever, podendo ser capaz de copiar, mas não de se expressar com significado pessoal, pois a expressão não pode preceder a recepção, por esse motivo, Jardini 2017, explica que no processo de alfabetização das Boquinhas, a escrita acontece ao mesmo tempo que a aquisição da leitura, porém é dado uma atenção maior a leitura pois acredita-se que na língua portuguesa a leitura é mais fácil que a escrita, essa escrita deve ser treinada para a fixação dos grafemas.

Jardini 2017, aborda o polêmico assunto de qual letra deve-se iniciar a Alfabetização e no método das Boquinhas ela sugere que na educação infantil, deve-se trabalhar somente letra maiúscula (caixa alta), já no primeiro ano após a quarta consoante trabalhada são adicionadas as letras manuscrita maiúscula e minúscula e a impressa ambas somente para leitura. Para as crianças que possuem muita dificuldade em memória espacial, não guardando o traçado dos grafemas, ela recomenda uma série de exercícios como: Apoio oral enquanto traça a letra. Ex.: Letra O, uma bolinha. O que também gera resultados positivos é o confronto das letras aprendidas. Ela enfatiza a ineficiência dos cadernos de caligrafia nessa etapa pois de nada adianta cobrar uma letra bonita, sem que os pré-requisitos estejam fundamentados, como apoio de cotovelo, pulso e ombro, movimento de pinça, isso causaria muito estresse e desconforto. Um outro exercício que ela recomenda é o roll playing ou troca de papéis onde o professor se torna o “aluno” e o aluno transforma-se em “professor”, durante o exercício, o professor pode até estar sentado na cadeira do aluno e realizar o que é solicitado, esse exercício é eficiente para a criança criar estratégias de correção pois unicamente quem aprende pode corrigir a si próprio ou ao outro, ela enfatiza que é importante que esses exercícios sejam realizados inicialmente na lousa, com outros exemplos, escolhendo várias crianças para realiza-las, antes de se fazer a resolução deles no caderno, as crianças agradam muito fazer esses exercícios pois sentem-se parte da conquista da aprendizagem.

A alfabetização começa pelas vogais, apresentadas na mesma ordem sempre fonema, grafema e articulema, ou seja, som, letra e boquinha. O sucesso para desse processo deverá se dar a grande quantidade de material multissensorial que for oferecido as crianças.

Compreender o uso das vogais dentro das palavras é adquirir a etapa silábica de leitura e escrita, segundo a Psicogênese da Leitura e Escrita (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986), etapa essa, que configura a compreensão da consciência fonêmica. Reiteramos que não se trata simplesmente de consciência fonológica, usar as vogais corretamente dentro das palavras, pois sua posição está também requerida, ou seja, trabalha-se na presença / ausência da vogal, mas e, sobretudo sua sequência de apresentação na palavra. (JARDINI, 2017, p. 123)

Jardini 2017, afirma que a criança que atinge a etapa silábica com Boquinhas se alfabetizará, essa aquisição é muito rápida, obtida em uma semana, quando se trabalha com crianças sem alterações de aprendizagem. Essa certificação pode abalar alguns professores que levam anos para obter escritas silábicas de seus alunos. Ela enfatiza que a prioridade é que a criança domine auditivamente as vogais, e na sequência das palavras. Assim, sugerimos que se construam palavras, a partir dessas vogais assimiladas, mas ouvindo-as e não apenas copiando-as da lousa. Inclusive sugerimos que se façam treinos somente auditivos, de bocas/ sons, sem uso das letras, para que essas não sejam memorizadas. Jardini (2017, p.124).

Progressivamente as vogais vão sendo estudadas e dão aberturas as consoantes, que são diferentes das vogais que possuem maior quantidade na Língua Portuguesa, por apresentarem em todas as silabas, mas, o maior diferencial das vogais é que o nome das letras coincide com o seu respectivo som, ou seja fala-se A escreve-se A. o que é diferente das consoantes. O que é muito diferente no caso das consoantes, como no exemplo: o nome da letra é [JOTA], mas fala-se [J], como [JANELA] e não [JOTANELA]. Como já descrito acima, ninguém pode ler [JOTA, A, ENE, E, ÉLE, A], isto é apenas soletração, que para alguém que não está alfabetizado, não faz sentido algum! Jardini (2017 p.124). Jardini afirma que as consoantes devem ser iniciadas apenas após as vogais estarem totalmente assimiladas. A partir daí pode começar o trabalho com as consoantes, que formam sílabas simples.

Cada consoante apresentada será fixada na “família silábica”. Ex.; consoante L, família LA, LE, LI, LO, LU. Mas essa família silábica deve ser compreendida pelo apoio articulatório de que a boca [L] se junta a boca A e forma [LA], duas bocas, dois sons duas letras. Usamos a expressão família silábica, que é disseminada entre qualquer educador, na intenção de facilitar a compreensão. Para Boquinhas, pertencer a uma determinada família silábica é fazer a mesma boca, ter o mesmo som e não necessariamente escrever com a mesma letra, dada as dificuldades ortográficas. (JARDINI , 2017 p.125)

Segundo Jardini 2017, temos que entender que é feita a união entre duas bocas, dois sons e duas letras, para formar uma sílaba (consoante + vogal), que quando o processo de alfabetização é pautado pela boca não há nenhum tipo de “decoreba”, isso acontece por que o cérebro aprende assim, com a fala, usando seus famosos neurônios-espelho para produzir e pronunciar o som.

Para compreendemos melhor como funciona essa junção, devemos prestar atenção no exemplo do BA, de como funciona:

E esse [BA] é um contínuo, sem a junção de [B] + [A], ou [B] com [A]. Apenas [BA], unido, pronunciado pausadamente cada consoante, para que se perceba que são duas articulações. Caso você esteja resistente a compreender que estamos falando de duas bocas, duas articulações, uma vez que o [B] sendo plosivo, é muito rápido de ser ouvido isoladamente, mas não de ser percebida a sua articulação. Recomendamos que experimente falar [BA] sem fechar os lábios. O que sairá? Pois é, sairá [A], o que prova a evidente presença do gesto articulatório bilabial da letra B, que necessariamente fecha os lábios. (JARDINI, 2017, p.126).

Jardini 2017, recomenda uma forma diferente de se apresentar as consoantes, não como estamos acostumados a ver, introduzindo da seguinte forma: L, P, V, T, M, F, B, N, D. Depois C (ca-que-qui-co-cu, qua), R inicial, e RR (entre vogais), G (ga-gue-gui-go-gu, gua), r fraco (entre vogais), J (já-je-ge-ji-gi-jo-ju), S inicial; SS (entre vogais); CE-CI e Ç, X; CH, Z; S (entre vogais). Posteriormente introduzem-se os arquifonemas (consoantes intercaladas) AR, AS, AN, AM, AL, depois os dígrafos NH, LH, e por últimos os grupos consonantais R e L. Ela afirma que essa sequência foi testada e aprovada quanto a sua eficácia devido a posição articulatória das letras, começando da mais fácil para a mais difícil, essa sequência precisa ser respeitada para evitar a semelhança entre as letras que provoquem as trocas fonêmicas.

Jardini 2017, afirma que o educador controla a aprendizagem durante todo processo, e durante esse processo são oferecidos exercícios de confronto para checar a aprendizagem e garantir a continuidade, e caso o aluno não esteja assimilando o conteúdo é recomendado que seja feito mais treino. É importante salientar que esses exercícios são para uma melhor fixação e compreensão das diferenças e semelhanças entre essas famílias.

Jardini afirma que a partir de cinco famílias silábicas dominadas a criança é capaz de ler e elaborar novas outras palavras, iniciando também escrita de frases primárias e de pequenos textos.

A partir de cinco famílias silábicas dominadas, a criança já compreendeu o mecanismo do processo de leitura e escrita, adquirindo o insight da leitura, fazendo generalizações importantes, tornando o aprendizado bem mais acelerado, estando apta para compreender as dificuldades variáveis ortográficas da língua. (JARDINI, 2017, p. 128)

Jardini 2017, deixa bem claro que Boquinhas não precisa tomar todo tempo da aula, é necessário o que ela chamou de recorte da aula, para que a criança tenha crescimento. Ela enfatiza que não é necessário que esse método se inicie junto com o ano letivo, ele pode ser iniciado a qualquer momento, basta que o educador anuncie para os alunos que uma nova proposta será apresentada, ela recomenda também que deve ser retirado da sala de aula as combinações diretas de letras com objetos ou animais, exemplo: A de Abelha, C de Casa, esse tipo de combinações tende a confundir todo o processo, ela indica que no lugar dos desenhos que o educador coloque a foto das bocas.

Jardini 2012, aborda a questão da EJA, ela afirma que esse sistema é totalmente recomendável para o EJA, que já possuem experiências isoladas e que o sucesso dessas experiências tem sido o mesmo. Ela diz que adequações tem que serem feitas principalmente ao material que foi feito exclusivamente para crianças.

A partir do momento que Boquinhas se tornou o método mais eficaz para alfabetização e começou a ser difundido, mais trabalhos científicos estão sendo desenvolvidos com esse tema, com isso mostrando seu alto nível de fundamentação teórica.

Boquinhas caracterizou-se como metodologia eficaz para alfabetizar quaisquer indivíduos, por suas evidências cientificas, pela sua resposta a intervenção (RTI) (HEINEMANN, 2012) e práticas aceitas em todo território nacional, pois foca nos aspectos linguísticos da alfabetização como porta de entrada, obviamente não desconsiderando sua contraparte social e contextual. Por isso tem se tornado, além de prática, objeto de estudo científico, para trabalhos de aperfeiçoamentos, mestrados e até doutorados, obrigando-nos, sempre, a manter seu alto nível de aprofundamento teórico. (JARDINI, 2017, p. 25)

A intervenção aqui descrita pelo Método das Boquinhas não é apenas uma técnica mecanicista que afasta da criança a possibilidade de compreender e refletir a escrita enquanto linguagem e seus significados, nem tampouco descreve uma ação homogenizadora e fragmentada da linguagem, como ressaltam, ao contrário, capacita a criança a enfrentar desafios linguísticos em igualdade para com os demais alunos, uma vez que, tendo efetivamente aprendido a ler, com segurança e eficácia, de forma reflexiva e contextualizada.

Acredita-se, que ler e escrever não é o mesmo que decodificar e codificar grupos de grafemas, limita-se ao ato mecânico de reconhecimento e identificação de letras e agrupamento das mesmas em palavras e sentenças, enquanto que a compreensão representa um trabalho de reflexão em que construímos entendimentos dos objetos, do mundo e das pessoas.

Todos esses anos que Jardini 2017, trabalha com o método das Boquinhas ela aprendeu muito com os outros educadores que apaixonados pelo método acrescentaram mais conhecimento, como ela gosta de dizer Boquinhas se “personificou em um substantivo próprio, plural, feminino”, como uma instância que nos acompanha diariamente, posto que nos pertence a todos, nos confere autoria e saber e talvez por isso, encante tanto. JARDINI 2017.

Portanto, quando nos deparamos com uma criança que vem apresentando uma dificuldade para aprender, se deve levantar com alto grau de profundidade, as características da estimulação oferecida à criança, nos aspectos quantidade, qualidade, acessibilidade e disponibilidade, exclusividade e incondicionalidade, que colaborarão para a hipótese diagnóstica e o plano terapêutico a ser adotado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo apresentou um apanhado sucinto de como o sistema de alfabetização Boquinhas pode auxiliar os professores a alfabetizarem com qualidade e com mais facilidade, de uma forma simples e natural e que não confundirá a cabeça das crianças usando um “acessório” que todo mundo possui: a boca.

Especificou como os três pilares ou três passos são importantes no processo de alfabetização, que antes era tão complicado e tornou-se bem mais simples através das Boquinhas. Mostrou também o passo a passo de como ele deve ser aplicado em sala de aula, e como os exercícios são importantes para o sucesso desse processo. Boquinhas vem contribuindo também para a inclusão pois oferece a assistência segura e confiável de que o educador precisa para exercer seu ofício de maneira igualitária.

No entanto, o Método das Boquinhas viabiliza e favorece a alfabetização a partir da conscientização fonoarticulatória e com esse conhecimento atinge-se seguramente, e de maneira rápida e eficaz, a conversão fonema/grafema, viabilizando a compreensão e utilização do sistema de escrita alfabética da Língua Portuguesa.

Com isso, o educador que usa Boquinhas para alfabetização está em constante evidência, contribuindo para o real aprendizado e recuperação da leitura e escrita, trazendo autoestima para os seus alunos já que os mesmos participam ativamente das aulas, detendo o conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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JARDINI, Renata Savastano Ribeiro. Método das Boquinhas Uma Neuroalfabetização. Bauru: Boquinhas Aprendizagens, 2017.

JARDINI, Renata Savastano Ribeiro. Boquinhas no Desenvolvimento Infantil. Bauru: Boquinhas Aprendizagens, 2012.

JARDINI, Renata Savastano Ribeiro. EJA: alfabetizando e letrando com Boquinhas. Bauru: Boquinhas Aprendizagens, 2012.

MYKLEBUST, H. R.; JOHNSON. D. J. Distúrbios de aprendizagem: Princípios e práticas educacionais. São Paulo: Pioneira, 1983.

SÉRKEZ, A.M.B.; MARTINS, S.M.B. Trabalhando com a palavra viva: sistematização da Língua Portuguesa através de texto. V. 1: Curitiba. Renascer, 1996.

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CIASCA, S. M.; ROSSINI, S. D. R. Distúrbio de aprendizagem: mudança ou não? Correlação de dados de uma década de atendimento. Temas Desenvol., v. 8, n. 48, p. 11-16, 2000.

CIELO, C. A. A flexibilidade do paradigma conexionista. Letras Hoje, Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 43-49, 1998.


¹Graduando em Especialista em educação infantil e alfabetização.

²Orientador