ICTERÍCIA NEONATAL: Cuidados de Enfermagem

NEONATAL JAUNDICE: Nursing Care

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10063338


GIOVANNA DE OLIVEIRA SANTOS1
MARIANA ALVES RAMOS2
NATHALIA LORRANE DA CONCEIÇÃO3
Rosimeire Faria do Carmo4


Resumo:

A icterícia neonatal é uma condição que afeta inúmeros recém-nascidos todos os anos. Essa condição pode ser tanto fisiológica como patológica e é importante saber diferenciá-las. Além disso, a família, principalmente a mãe, também é afetada devido ao aumento do tempo de hospitalização do neonato. Por isso, o presente estudo visa explorar os aspectos da icterícia neonatal, o papel da enfermagem no tratamento e a importância de ofertar um cuidado humanizado. O presente estudo foi realizado por revisão integrativa da literatura, o que permitiu uma ampla abrangência do assunto. Concluiu-se que o diagnóstico precoce é extremamente importante para a recuperação do neonato com hiperbilirrubinemia e por isso o enfermeiro deve estar sempre atento aos sinais e sintomas de icterícia nos recém-nascidos. Além disso, é de suma importância que haja um sistema de educação continuada nas maternidades para que os enfermeiros saibam reconhecer e tratar precocemente, prevenir complicações e realizar um atendimento humanizado com o neonato e sua família.

Palavras-chave: Icterícia Neonatal. Cuidados de enfermagem. Hiperbilirrubinemia. Fototerapia. Cuidado humanizado.  

Abstract: Neonatal jaundice is a condition that affects countless newborns every year. This condition can be both physiological and pathological and it is important to know how to differentiate them. Furthermore, the family, especially the mother, is also affected due to the increase in the newborn’s hospitalization time. Therefore, the present study aims to explore aspects of neonatal jaundice, the role of nursing in treatment and the importance of offering humanized care. The present study was carried out through an integrative literature review, which allowed a broad coverage of the subject. It was concluded that early diagnosis is extremely important for the recovery of newborns with hyperbilirubinemia and that is why nurses must always be aware of the signs and symptoms of jaundice in newborns. Furthermore, it is extremely important that there is a continuing education system in maternity wards so that nurses know how to recognize and treat early, prevent complications and provide humanized care for the newborn and their family.

Keywords: Neonatal jaundice. Nursing care. Hyperbilirubinemia. Phototherapy. Humanized care.

1  INTRODUÇÃO

A icterícia neonatal é um achado frequente em Recém-Nascidos (RN), com pluralidade em prematuros nos primeiros sete dias de vida. Visto que o prematuro possui uma imaturidade hepática, o que dificulta a captação e a conjugação correta da bilirrubina, resultando em níveis elevados na circulação sanguínea (ALMEIDA, 2018; WONG & BHUTANI, 2020). 

Pode ser atribuída a causas fisiológicas, quando não há o processamento da bilirrubina devido a maturação do fígado, resultando em acumulação na pele e a manifestação do chamado “amarelão”, dissemelhante das causas patológicas, que pode incluir, por exemplo, a incompatibilidade sanguínea entre a mãe e o RN.

(GUEDES, 2019; ALMEIDA, 2018).

A situação patológica se manifesta nas primeiras vinte e quatro horas após o nascimento, com um aumento dos níveis de bilirrubina para além de 13 mg/dL. Os principais sintomas incluem letargia, hipotonia muscular e dificuldade na sucção. A equipe de enfermagem desempenha um papel de extrema importância na assistência ao neonato hospitalizado devido a hiperbilirrubinemia. É uma abordagem que sempre coloca o bem-estar do RN e da mãe em primeiro plano, o que garante uma assistência eficaz e segura (FERRAZ et al, 2022).

Embora geralmente seja benigna, em alguns casos, a icterícia neonatal pode se tornar grave, sendo atribuição do enfermeiro recorrer aos cuidados adequados para monitorar e tratar o RN, incluindo o manejo da fototerapia. Apesar de que a eficácia comparada com o tratamento de fototerapia seja inegável, é crucial destacar a necessidade de monitoramento constante dos enfermeiros. Isso ocorre porque procedimentos inadequados durante o tratamento podem ter consequências irreversíveis que afetam a qualidade de vida para o neonato (NASCIMENTO et al, 2018). 

Neste contexto, o objetivo da pesquisa em questão, é discorrer acerca de icterícia neonatal, além de propor critérios na assistência de enfermagem e medidas capazes de melhorias no atendimento, ressaltando a relevância da abordagem humanizada ao longo de todo o processo de assistência, não apenas em relação ao RN, mas também, à sua família.

A motivação para a escolha do tema foi a grande incidência de icterícia neonatal todos os anos e o presente estudo visa contribuir positivamente com a disseminação de informações acerca do tema.

2  MATERIAIS E MÉTODOS

Após ser verificada a necessidade de informar acerca do papel da enfermagem no tratamento da icterícia neonatal, iniciou-se este estudo. O presente estudo é uma revisão integrativa da literatura que permitirá reunir os dados sobre a icterícia neonatal, os cuidados de enfermagem no tratamento da icterícia e a importância do cuidado humanizado durante todo o tratamento tanto com o recém-nascido quanto com a família que está fragilizada no momento. As pesquisas ocorreram, entre os meses de julho e setembro de 2023, em duas etapas, primeiro cada uma das pesquisadoras apresentou os artigos que considerou relevantes às outras e depois todos os artigos foram revisados pelas três pesquisadoras, permitindo assim a seleção dos artigos que foram utilizados para a elaboração deste estudo. As buscas pelos artigos foram feitas a partir dos seguintes bancos de dados: Scientific Eletronic Library Online (Scielo), National Institutes of Health (PubMed), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). A pesquisa dos artigos foi realizada a partir dos seguintes descritores: “icterícia neonatal”, “neonatal jaundice”, “cuidados de enfermagem”, “hiperbilirrubinemia”, “fototerapia”, “exsanguineotransfusão”, “encefalopatia bilirrubínica” e “kernicterus”.

Foram utilizados os operadores booleanos “E” e “AND”. Como critérios de inclusão e exclusão foram utilizados o tempo de publicação, em que só foram selecionados artigos publicados nos últimos 5 anos, e se os artigos foram publicados na íntegra nos bancos de dados utilizados. A partir dos critérios citados foi feita uma seleção de 20 artigos para compor as referências que seriam utilizadas na elaboração do presente artigo.

3  RESULTADOS/DISCUSSÃO  

A icterícia neonatal ocorre muito comumente, afetando em média 60% nos neonatos, e é um dos principais problemas que atingem os RNs. Ela pode ser fisiológica ou patológica e é de extrema importância que a equipe multidisciplinar esteja atenta aos sinais de icterícia, principalmente nas primeiras 24 horas de vida do RN, pois pode estar relacionado a problemas mais graves que serão tratados mais facilmente se identificados precocemente (NÓBREGA & VIEIRA & GUEDES, 2019; CARVALHO & ALMEIDA, 2020). 

A hiperbilirrubinemia neonatal é causada pelo alto nível de bilirrubina não conjugada no sangue do RN, que não consegue absorvê-la normalmente. Os neonatos, principalmente os prematuros, são mais suscetíveis devido à imaturidade de seu sistema digestório, ao fato de que a capacidade de excreção ainda é pequena e a menor meia vida das hemácias (FERRAZ et al, 2022; CARVALHO & ALMEIDA, 2020).

O aumento da circulação êntero-hepática é uma das causas da hiperbilirrubinemia neonatal. A bilirrubina é produzida a partir do catabolismo do heme, um produto da degradação da hemoglobina e é assim que a circulação ênterohepática da bilirrubina se inicia (ASSOKU et al, 2023; GUTIERREZ, 2019). 

Figura 1 – Circulação êntero-hepática da bilirrubina

Fonte: Elaborado pelas autoras.

A albumina só é capaz de se ligar a uma quantidade limitada de bilirrubina e se essa circulação é aumentada os processos serão realizados de maneira mais rápida, tornando a quantidade de bilirrubina desconjugada reabsorvida maior e assim não há albumina suficiente para transportá-la adequadamente, o que contribui para a hiperbilirrubinemia (LAMONICA, 2022).

A hiperbilirrubinemia grave, quando o nível de bilirrubina no sangue está acima de 25 mg/dL, é uma complicação decorrente do não tratamento da icterícia e deve ser investigada o quanto antes para que seja tratada antes que ocorra alguma disfunção neurológica. A disfunção neurológica ocorre, pois, a bilirrubina em excesso se torna capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e se torna extremamente tóxica para o sistema nervoso, esta é uma complicação muito grave chamada kernicterus (CARVALHO & ALMEIDA, 2020; NÓBREGA & VIEIRA & GUEDES, 2019).

O kernicterus, também conhecido como encefalopatia bilirrubínica, pode causar diversos problemas para o neonato como surdez ou paralisia cerebral, e normalmente não haverá a possibilidade de recuperação. Entretanto, o surgimento dessa complicação é evitável com detecção e tratamento precoce (LEITE & GOMES, 2021). 

3.1  Icterícia neonatal fisiológica e patológica

A icterícia fisiológica se inicia no intervalo de 48 a 72 horas após o nascimento, se revela clinicamente quando os níveis de bilirrubina na corrente sanguínea aumentam menos de 5 mg/dL por dia e desaparece após o sétimo dia. No caso da icterícia fisiológica é ocasionada pela adaptação do RN à metabolização da bilirrubina (FERRAZ et al, 2022). 

Os RNs, principalmente os prematuros, têm restrições quanto ao transporte e à excreção da bilirrubina sobretudo devido à imaturidade hepática e por isso necessitam de algum tempo para que seu organismo comece a processar a bilirrubina adequadamente. Esse processo pode causar um excesso de bilirrubina não conjugada que será exposto na pele e mucosas do neonato, deixando-as amareladas, mas assim como os níveis de bilirrubina na corrente sanguínea irão se normalizar após o sétimo dia, a pele e mucosas do RN também voltarão à normalidade nesse período (GADELHA et al, 2023).

No caso da icterícia fisiológica, é importante que os profissionais da enfermagem orientem os familiares e estejam atentos para que em qualquer sinal e/ou sintoma de agravamento do quadro haja a intervenção adequada, prevenindo complicações mais graves. Além disso, é importante orientar os pais quanto à importância dos banhos de sol, da amamentação e informar que no caso de algum sinal e/ou sintoma de alerta é necessário o retorno imediatamente, para que a equipe multidisciplinar avalie o RN. Se o neonato precisar da fototerapia também é necessário orientar a puérpera quanto a importância do tratamento (IGLEZIAS et al, 2021).

A icterícia se manifesta no sentido céfalo-caudal, ou seja, se inicia na cabeça e quanto mais progride mais perto dos pés será manifestada. Isto é demonstrado pelas Zonas de Kramer, como apresentado na figura 2, a seguir (ANDRADE et al, 2022): 

Figura 2 – Zonas de Kramer

Fonte: ALMEIDA & TOMAZ & PAES, 2023.

  1. Cabeça e pescoço. Bilirrubina Total: 4,3 – 7,8 mg/dL.
  2. Tronco (até a cicatriz umbilical). Bilirrubina Total: 5,4 – 12,2 mg/dL.
  3. Da cicatriz umbilical até os joelhos. Bilirrubina Total: 8,1 – 16,5 mg/dL.
  4. Dos joelhos até os tornozelos, e os antebraços. Bilirrubina Total: 11,1 – 18,3 mg/dL.
  5. Regiões plantares e palmares.  Bilirrubina Total: > 15 mg/dL.

A icterícia patológica, se inicia dentro das primeiras 24 horas de vida e dura mais do que duas semanas, podendo desencadear várias complicações. Nesse caso, os níveis de bilirrubina se elevam e atingem valores acima de 13 mg/dL. A hiperbilirrubinemia acaba acarretando alguns sintomas, como sucção débil, diminuição do tônus muscular, instabilidade térmica e letargia (ANDRADE et al, 2022; FERRAZ et al, 2022).

Alguns dos principais fatores de risco para o aparecimento de icterícia patológica no neonato são: incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto tanto no sistema ABO quanto pelo fator Rh, prematuridade, diminuição da captação e/ou conjugação da bilirrubina devido à imaturidade do sistema hepático, coleção sanguínea extravascular (hemorragia), baixa oferta de aleitamento materno e aumento da circulação ênterohepática (MOTTA & BELBUCHE, 2022).

Quando o RN apresenta icterícia patológica a maior preocupação que a equipe de enfermagem deve ter é quanto ao diagnóstico precoce, quanto mais rápido for diagnosticado mais rápido a equipe conseguirá intervir e o tratamento precoce previne complicações mais graves. Outra coisa importante que merece a atenção da equipe é se há um aumento dos valores de bilirrubina, pois quando ficam muito altos o quadro do neonato pode evoluir para a forma mais grave da hiperbilirrubinemia (CARVALHO & ALMEIDA, 2020). 

O RN com um nível de bilirrubina muito alto pode evoluir para uma encefalopatia bilirrubínica que se não for tratada rapidamente pode trazer complicações irreversíveis como déficit neurológico ou morte. Por isso é importante que a equipe esteja acompanhando o quadro do neonato e se possível previna a encefalopatia bilirrubínica, além de realizar Intervenções rápidas no caso da evolução do quadro (ALVES et al, 2020).

A encefalopatia bilirrubínica, também conhecida como Kernicterus, decorre de um aumento tão significativo da hiperbilirrubinemia que a bilirrubina começa a ultrapassar a barreira hematoencefálica e assim acarreta lesões no sistema nervoso do neonato. O avanço da encefalopatia pode ser evitado se tratado precocemente quando o quadro ainda não progrediu para a fase crônica indicada por paralisia cerebral, surdez e outras disfunções neurológicas que impactarão na qualidade de vida do neonato (CARVALHO & ALMEIDA, 2020).  

Além das complicações já citadas, Leite e Gomes (2021), alertam com relação a um estudo que exibiu resultados que comprovam a grande ocorrência (75%) de um quadro de sepse nos recém-nascidos que estavam com encefalopatia bilirrubínica. Portanto, os profissionais responsáveis pelo tratamento do neonato com quadro de kernicterus também devem se atentar a possíveis quadros de sepse. 

Consequentemente, conclui-se que é necessário que toda a equipe multidisciplinar, principalmente o enfermeiro, e a família do RN estejam atentos aos sinais e sintomas da icterícia para que haja o tratamento adequado a cada caso e assim previna-se disfunções mais graves ao neonato. É notória a necessidade de realizar a educação continuada com a equipe de enfermagem e com os demais profissionais para que eles saibam não apenas reconhecer o quadro de icterícia como também ter o conhecimento acerca das prevenções, tratamentos, manejos dos equipamentos e possíveis complicações (SILVA, 2019). 

3.2  Como identificar a icterícia neonatal

Como dito anteriormente, o diagnóstico precoce melhora consideravelmente as chances de tratar o RN sem que haja complicações mais graves como o kernicterus. Para identificar a hiperbilirrubinemia é necessária a realização de um exame físico completo, principalmente a inspeção e a palpação para que sejam avaliados se existem sinais de icterícia no RN. Com o exame físico é possível verificar a progressão céfalo-caudal e classificar a gravidade da icterícia seguindo as Zonas de Kramer (figura 2) como parâmetro, até que os resultados laboratoriais com a confirmação do quadro sejam apresentados (GODOY et al, 2021).

Existe uma outra forma de verificar o nível de bilirrubina no sangue do RN de maneira não invasiva, através do bilirrubiômetro transcutâneo. Esse aparelho, porém, só é utilizado em lugares com acesso a recursos mais avançados e, portanto, não é tão utilizado quanto o hemograma, o exame físico e as Zonas de Kramer(LEITE & GOMES, 2021). 

Além disso, é fundamental realizar exames laboratoriais que determinem os valores de bilirrubina na corrente sanguínea do neonato. É importante sempre verificar os resultados do hemograma quando ficarem prontos, pois mesmo que pelas Zonas de Kramer esteja determinado um nível de icterícia, o exame físico é muito relativo ao ambiente, ao tipo de pele do RN e à experiência do profissional que o realiza. Realizar a tipagem sanguínea tanto da mãe quanto do neonato pode ser muito relevante para o diagnóstico, pois como já foi apresentado, um dos fatores de risco para a icterícia neonatal é a incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto (GODOY et al, 2021; CARVALHO & ALMEIDA, 2020).

Da mesma forma, é importante que toda a equipe multidisciplinar e a puérpera estejam atentos a sinais como letargia, sucção débil e instabilidade térmica, pois a icterícia patológica pode vir acompanhada por algum desses sinais. Nesse sentido, antes da alta hospitalar é necessário que haja toda uma verificação do estado geral do neonato para que nenhum sinal e/ou sintoma da icterícia passe despercebido. Somente após a aplicação das Zonas de Kramer e/ou outros escores é que qualquer RN pode receber a alta hospitalar, por ser um método não invasivo, com baixa demanda de recursos e de aplicação relativamente fácil pode ser aplicado até mesmo em unidades básicas de saúde (MOTTA & BELBUCHE, 2022; LEITE & GOMES, 2021).

3.3  Tratamento da icterícia neonatal

As abordagens iniciais para tratar a icterícia incluem a promoção da amamentação e a fototerapia neonatal por meio de banhos de luz (REIZ & SILVA, 2022). A fototerapia é extremamente empregada como tratamento primordial devido à sua condição não invasiva e à sua eficácia notável na diminuição dos níveis de bilirrubina no sangue, diferente da promoção de amamentação, que também se faz eficaz pelo leite materno obter substâncias que contribuem com o processamento de bilirrubina. Ambos atuando em conjunto fornecem contato entre mãe-filho, que gera uma frequência maior na amamentação, resultando numa melhora intestinal, aumentando a defecação e consequentemente eliminando a bilirrubina (CARNEIRO, 2020).

Durante o tratamento com fototerapia, os RNs são posicionados no berço sem roupas, apenas com proteção genital e ocular, com distância de trinta (30) a cinquenta (50) centímetros para prevenir queimaduras. Eles são expostos à luz contínua por um período longo, que muitas vezes podem interferir na relação da mãe com o filho, bem como a amamentação e contato pele a pele. Com a luz contínua, a bilirrubina presente na pele é irradiada, reduzida e consequentemente transformada em moléculas solúveis em água, que facilmente são eliminadas pelos sistemas biliares e urinários (CARNEIRO et al, 2022; REIS & SILVA, 2022).

Embora existam numerosos efeitos benéficos no tratamento com fototerapia, ela não é totalmente dispensada de riscos, ainda que o seu impacto seja relativamente menor em comparação com as complicações que um RN poderia enfrentar sem seu uso, existem algumas preocupações associadas à fototerapia. Isso inclui letargia, eritema, perda de água, redução no crescimento na segunda infância, evacuações em níveis elevados, alterações nas hemácias, risco de queimaduras e possíveis danos na retina (LOPES, 2021).

A exsanguineotransfusão (EXT) é uma terapia utilizada para tratar a icterícia neonatal em sua forma mais grave, em casos de neurotoxicidade, ou em casos refratários à fototerapia. É um procedimento invasivo que consiste em retirar o sangue do RN e substitui-lo por um compatível. Esse tratamento é indicado com maior relevância em casos de incompatibilidade ABO ou Rh, chamada de eritroblastose fetal (ET) e por hiperbilirrubinemia excessiva. O procedimento de EXT permite corrigir anemia, restaurar frequência cardíaca e realizar a remoção mais rápida da bilirrubina sérica, sendo capaz de secretar até 40% da bilirrubina (MOTTA, 2022).

Mesmo que seja uma terapia eficaz e segura, a necessidade de realizar uma EXT foi significativamente diminuída, por razão da introdução da fototerapia e do uso de imunoglobulina humana inespecífica. Mas ela não descarta efeitos adversos, uma vez que incluem complicações metabólicas, hemodinâmicas, infecciosas, vasculares, hematológicas e reações pós transfusão. Em vista disso, esse procedimento deve ser indicado em casos específicos e sob assistência de profissionais habilitados em cuidados intensivos neonatais, pois apresenta casos complexos, o que pode evoluir para o óbito (SILVA, 2019).

Entre as terapias complementares, a imunoglobulina endovenosa inespecífica também é um tratamento para icterícia neonatal, quando administrada em doses de 0,5 a 1g/Kg. Esse medicamento age através da isomerização do Rh, reduzindo assim os níveis séricos de bilirrubina não conjugada. Ainda assim, deve ser utilizada em conjunto com a fototerapia para atingir o resultado esperado, pois ela não apresenta resposta positiva em todos os neonatos, o que não remove a bilirrubina sérica. O fenobarbital é outro medicamento para este diagnóstico, na qual atua diretamente na enzima glicuronil transferase, aumentando a sua atividade, e consequentemente convertendo a bilirrubina não conjugada em sua forma conjugada (CARNEIRO, 2020).

É necessário que a equipe de enfermagem esteja qualificada para o cuidado deste cliente, sendo importante adquirir um conhecimento abrangente sobre o tema, tendo cuidados especiais para evitar complicações graves, como acúmulo de bilirrubina no tronco encefálico, causando danos neurológicos. É crucial que haja uma compreensão completa de prevenção, possíveis efeitos colaterais e sobretudo, do manejo adequado dos equipamentos, pois a falta deste conhecimento e monitoramento pode gerar consequências, deixando o neonato com sequelas irreversíveis (NASCIMENTO et al, 2018). Não há dúvida quanto à necessidade da criação de um sistema de informação que proporcione à equipe de enfermagem os conhecimentos necessários e atualizados para tratar a icterícia neonatal (SILVA, 2019). 

3.4  Papel da enfermagem no tratamento da icterícia neonatal 

O papel do enfermeiro nos cuidados ao RN é de extrema relevância, uma vez que ele tem um papel essencial para o sucesso da fototerapia, pois possui maior contato com o cliente, na qual se torna cuidado direto. A assistência com neonatos que possuem hiperbilirrubinemia inicia-se com a detecção precoce do problema e abrange todos os aspectos do tratamento, bem como receber o RN, quanto o preparo dos equipamentos para fototerapia. Vale ressaltar a importância de que a equipe de enfermagem esteja qualificada e preparada, além de ter um atendimento humanizado, visto que um bom cuidado ajuda a reduzir o tempo em que a família está no hospital, bem como evitar sequelas (ALVES, 2020).

No decorrer do tratamento com fototerapia, a equipe de enfermagem possui alguns cuidados, na qual incluem ampliar a oferta de água e oxigênio, verificar a temperatura axilar a cada três horas, proteger os olhos e genitália, observar os sinais de dano cerebral, de conjuntivite e sempre manter as vias aéreas desobstruídas. Além disso, deve-se pesar o RN diariamente e monitorar a quantidade de micção, evacuação e vômito, bem como os padrões delas. (SILVA et al, 2021). É válido lembrar que esses cuidados devem vir acompanhados de medidas importantes, como a higienização dos olhos do RN com soro fisiológico 0,9% uma vez ao dia, manter a distância de trinta (30) a cinquenta (50) centímetros entre o neonato e a luz, utilizar uma cobertura radiopaca e orientar os pais a não usarem produtos oleosos durante o tratamento (CARVALHO & ALMEIDA, 2020).

É importante visar a proteção do RN durante toda a assistência, podendo englobar procedimentos técnicos como coleta de dados, exame físico, diagnóstico, intervenção e implementação de enfermagem, direcionados a melhora do neonato, sendo possível verificar a eficácia do tratamento. Na coleta de dados, é crucial que o enfermeiro tenha uma boa relação com a família, em especial, a mãe, atingindo informações necessárias sobre a evolução do bebê. (ARAÚJO et al, 2020). A etapa do exame físico não deve ser descartada, devendo ser feita de forma correta, para que assim, possíveis complicações sejam analisadas, como desidratação, letargia, queimadura e danos na retina, o último, porém, recebe uma atenção redobrada, pois a não realização desse cuidado pode gerar consequências, como à perda da visão. A equipe de enfermagem deve instruir os pais a observarem caso o bebê retire a proteção durante a fototerapia (FARIA et al, 2021; BOMFIM et al, 2021).

Embora a fototerapia seja um tratamento seguro e eficaz, atuando em conjunto com a equipe de enfermagem de forma humanizada e com um olhar holístico, serão fatores contribuintes para a progressão do tratamento e melhora do neonato. Os enfermeiros devem acolher as famílias e informá-las acerca da icterícia neonatal e sobre o desenvolvimento do bebê, reduzindo então, a tensão e a preocupação que a família enfrenta no momento. Além disso, os enfermeiros agregam diversas habilidades, como liderança, vigilância, competência, responsabilidade e principalmente empatia. Mesmo que exista um RN em tratamento, existe uma família que precisa de suporte, sendo essencial que a equipe de enfermagem esteja antenada a isto, consciente de que a assistência também deve ser estendida a ela (SILVA et al, 2022).

4  CONCLUSÃO

O presente artigo possibilita um conhecimento abrangente sobre icterícia neonatal, bem como a atuação de enfermagem na assistência, na qual se dispõe de um papel importantíssimo. É evidente que esta patologia representa um desafio para os enfermeiros, uma vez que, exigem vigilância contínua, tendo a necessidade de monitorar de perto os sinais e sintomas apresentados pelo recém-nascido, como também, humanizar o cuidado, garantindo o acolhimento das famílias que se encontram em um período de vulnerabilidade.  

Conclui-se então que os profissionais de enfermagem busquem aprimorar suas habilidades e conhecimento no que diz respeito à icterícia neonatal, a fim de aumentar sua confiança ao fornecer assistência e acompanhamento, deve também, reconhecer de forma precoce a patologia e prosseguir com os cuidados destinados a estas situações, uma vez que realizadas em tempo hábil, reduzirão as chances de evoluir para um quadro mais grave, chamado Kernicterus.

É crucial destacar que a enfermagem vai além dos cuidados realizados com o cliente, mas também, participa da gestão de equipes, realizando a implementação de medidas de educação contínua e a adoção de protocolos para o manejo da patologia, uma vez que uma boa colaboração interprofissional garante melhores cuidados com os necessitados naquele momento, evitando assim causas impremeditáveis. 

REFERÊNCIAS

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Giovanna de Oliveira Santos, acadêmica do Centro Universitário UniLs, giovanna.santos42@lseducacional.com1
Mariana Alves Ramos, acadêmica do Centro Universitário UniLs, mariana.ramos30@lseducacional.com2
Nathalia Lorrane da Conceição, acadêmica do Centro Universitário UniLs, nathalia.conceicao@lseducacional.com3
Rosimeire Faria do Carmo Professora orientadora, enfermeira rosimeire.carmo@unils.edu.br4