DISTRAÇÃO OSTEOGÊNICA MAXILOFACIAL – MECANISMO, INDICAÇÃO E LIMITAÇÕES: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10074732


Samara Martins de Oliveira¹
Sabrina Andressa Gonzalez Correia¹
Enzo Araujo Evangelisti¹
Alice de Lima Camilo²
Cintia Cristina Ali Ayoub Squizato³


Resumo

O método de distração osteogênica é uma técnica de reconstrução óssea para o aumento vertical e horizontal dos maxilares. As principais indicações são defeitos ósseos congênitos ou devido a trauma, além de outros tipos de deformidades ósseas. Mesmo se tratando de uma técnica em desenvolvimento, a distração osteogênica pode reduzir complicações e limitações de outros métodos de reconstrução, como a cirurgia ortognática, enxertos ósseos e retalhos livres. O objetivo desta revisão consiste em assomar e revisar a literatura acerca da distração osteogênica, exibindo os seus mecanismos, modalidades, aplicações clínicas e limitações. O método de distração osteogênica é uma alternativa para a reconstrução que utiliza as propriedades fisiológicas do próprio tecido e pode ser dividido em quatro fases: osteotomia e instalação, latência, ativação e consolidação. Seu mecanismo consiste na tração gradual dos tecidos o qual cria estresse e ativa o crescimento e a regeneração dos mesmos, na mesma proporção, a morfologia e densidade óssea são influenciadas pela carga mecânica e pelo suprimento sanguíneo. As técnicas de aplicação incluem: distratores manuais, hidráulicos e automáticos. O tempo de tratamento total é variável de acordo com a resposta biológica e aderência ao método pelo paciente. A técnica apresenta limitações por falta de estudos suficientes e aplicabilidade clínica. Contudo, seu uso apresenta resultados satisfatórios para diversas condições, como atrofias severas, pacientes sindrômicos e deformidades de desenvolvimento craniofacial. Com o aumento do desenvolvimento científico sobre o tema, a técnica poderá, em breve, apresentar maiores indicações e resultados ainda mais assertivos. 

Palavras-chave: Osteogênese; Distração; Distração osteogênica maxilofacial; Distração osteogênica mandibular.

Abstract

The osteogenic distraction method is a bone reconstruction technique for vertical and horizontal jaw augmentation. The main indications are congenital bone defects or those due to trauma, in addition to other types of bone deformities. Even though it is a technique in development, distraction osteogenesis can reduce complications and limitations of other reconstruction methods, such as orthognathic surgery, bone grafts and free flaps. The objective of this review is to summarize and review the literature on distraction osteogenesis, showing its mechanisms, modalities, clinical applications and limitations. The osteogenic distraction method is an alternative for reconstruction that uses the physiological properties of the tissue itself and can be divided into four phases: osteotomy and installation, latency, activation and consolidation. Its mechanism consists of the gradual traction of tissues, which creates stress and activates their growth and regeneration. In the same proportion, bone morphology and density are influenced by mechanical load and blood supply. Application techniques include: manual, hydraulic and automatic distractors. The total treatment time varies according to the biological response and patient adherence to the method. The technique has limitations due to a lack of sufficient studies and clinical applicability. However, its use presents satisfactory results for several conditions, such as severe atrophies, syndromic patients and craniofacial development deformities. With increased scientific development on the topic, the technique may soon present greater indications and even more assertive results.

Keywords: Osteogenesis; Distraction; Maxillofacial distraction osteogenesis; Mandibular distraction osteogenesis.

1 Introdução

Os princípios da técnica de distração osteogênica foram citados desde 1905. No entanto, na década de 1950, variados cientistas determinaram as bases científicas desse conceito e mostraram que, com esse procedimento de alongamento de ossos longos sem o uso de material de enxerto foi possível. A distração mandibular em humanos usando um distrator extra oral em pacientes foi relatada em 1992, e este estudo foi o primeiro a aplicar a distração osteogênica no terço médio da face em um paciente com microssomia craniofacial unilateral. Desde então, a técnica tornou-se cada vez mais notória. (Natu et Al, 2014)

A distração se baseia em um processo de formação de osso novo entre as superfícies de segmentos ósseos que foram gradualmente separados por tração incremental, por meio de osteotomia, inserção do distrator maxilofacial, um período de latência, aplicação de tração contínua e posterior consolidação óssea e remoção do dispositivo. Constituindo-se de uma técnica de tração controlada no local da ruptura óssea produzida cirurgicamente durante a cicatrização. As forças mecânicas são direcionadas predominantemente para longe do local, e a técnica tira proveito da capacidade regenerativa do osso criando e mantendo uma área ativa de formação óssea no espaço criado cirurgicamente. (Natu et Al, 2014)

O método de distração osteogênica é uma solução de reconstrução recentemente emergente para o alongamento e reconstrução do tecido ósseo. Usando esta técnica, traumas, reabsorções ósseas, retardo de crescimento congênito do tecido ósseo e deformidades esqueléticas podem ser reconstruídos (Hatefi et al, 2020). Podendo ser vista como solução para o tratamento ortodôntico cirúrgico de anomalias de desenvolvimento craniofacial, onde o osso pode ser moldado em diferentes formas juntamente com o tecido mole adjacente gradualmente, resultando em menos recidiva. (Natu et Al, 2014).

Mesmo se tratando de uma técnica em desenvolvimento, a distração osteogênica pode reduzir complicações e limitações de outros métodos de reconstrução.

Objetivo

Dada a escassez de estudos publicados sobre o tema, o objetivo desta revisão consiste em associar e revisar a literatura acerca da distração osteogênica, exibindo os seus mecanismos, modalidades, aplicações clínicas e limitações. 

2 Metodologia

O presente trabalho, que consiste em uma revisão de literatura, que partiu do levantamento bibliográfico de artigos nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMeD) e Capes Periódicos. A estratégia de pesquisa derivou da aplicação da associação dos descritores indexados na lista dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): “Osteogênese”; Distração; “Distração osteogênica maxilofacial”; “Distração osteogênica mandibular”.

Para os critérios de inclusão, foram escolhidos os artigos que concordavam com o objetivo do nosso trabalho e estudos que contemplam revisão sistemática, literária, narrativa e relato de casos, filtrados pelo limite temporal dos últimos 10 anos. Desta forma, foram selecionados 18 artigos em inglês e português para a construção do estudo.

3 Revisão de Literatura

3.1 Mecanismos

O mecanismo de distração osteogênica consiste na aplicação de uma força de tração contínua, lenta e de baixa intensidade entre os cotos ósseos. Após a osteotomia, esse espaço é preenchido por fibras colágenas onde se inicia a fase de cicatrização óssea, levando a um cuidadoso e delicado estiramento desse tecido prematuro (Queiroz et al, 2016). A formação óssea em geral pode ser através de intermediário cartilaginoso (ossificação endocondral) ou de recrutamento e diferenciação de células mesenquimais primitivas (ossificação intramembranosa) visto na distração osteogênica. Em síntese, a tração gradual dos tecidos cria estresse que ativa o crescimento e a regeneração dos tecidos.  Sendo a forma e a massa do osso influenciadas pela carga mecânica e pelo suprimento sanguíneo. (Natu, et Al, 2014)

Em relação ao nível celular, o processo inicia-se a partir da perturbação do córtex ósseo, seguido da migração de células inflamatórias, e da formação de hematoma e calo prematuro após a osteotomia. Assim, ocorre a resposta vascular marcada pelo aumento da expressão de numerosos fatores de crescimento vascular na zona de distração, incluindo fator de crescimento endotelial vascular, fator induzível por hipóxia, fator básico de crescimento de fibroblastos e angiopoietina com síntese de colágeno tipo I. Cria-se então, uma ponte fibrovascular e fibras colágenas orientadas ao longo do eixo. Por fim, as forças mecânicas de tensão e estresse são convertidas em uma cascata de sinais moleculares, que por sua vez ativam numerosos eventos celulares e a mineralização inicial surge aproximadamente de 10 a 14 dias. (Natu, et Al, 2014). 

É notório destacar que, se o dispositivo de distração não tiver estabilidade suficiente ou se a taxa de distração progredir rapidamente, o tecido estabelecido pode amadurecer de maneira lenta ou não amadurecer. Contudo, se a distração progredir muito lentamente, o tecido regenerado pode amadurecer de modo prematuro ou pode haver aumento da dor durante o procedimento. Miloro et al, (2016) acreditam que, se há dor recorrente associada à ativação de um distrator, um ligeiro aumento da frequência de distração geralmente reduz a dor.

Em relação a mecânica, o protocolo da distração osteogênica consiste em quatro fases: osteotomia óssea e instalação do dispositivo, latência, ativação e consolidação. O procedimento se inicia com a osteotomia óssea e instalação do distrator. Na próxima fase, chamada de latência, o distrator é instalado no local defeituoso sem nenhuma ativação, enquanto as células osteogênicas no local osteotomizado já começaram a se regenerar e se consolidar. Após a latência, inicia-se a fase de ativação e o segmento ósseo móvel move-se por um caminho linear predeterminado em direção à posição desejada para preencher o defeito. Após a fase de ativação, há uma fase de consolidação na qual o distrator não é ativado, e então, em um segundo procedimento cirúrgico, o dispositivo é removido. (Hatefi et al, 2020)

3.2 Aplicações Clínicas 

A distração osteogênica (OD) envolve deslocamento gradual e controlado de fragmentos ósseos criados cirurgicamente normalmente indicados para avanços maiores do que 10mm, para pacientes em desenvolvimento craniofacial e anomalias severas (Ver Tabela 1).

Deficiência Óssea VerticalRegião posterior da mandíbula pré-instalação de implantes (Queiroz et al, 2016)
Microssomia HemifacialAumento e correção de algumas anomalias transversais (Pagnoni et al, 2013). 
Retrusão da MaxilaRetrusão severa do terço médio da face, muitas vezes requerem um avanço maxilar qua cirurgia ortognática tradicional pode não ser capaz de oferecer.  (Arguto et al, 2020)
Pacientes PediátricosAumento Vertical ou Horizontal dos maxilares (Ramanathan, et al, 2020)
Avanços de grandes proporçõesAvanços maiores do que 10m (Ramanathan, et al, 2020)
Minimizar deformidadesCasos de pacientes com discrepâncias esqueléticas graves (Ramanathan, et al, 2020)
Deformidades TransversaisAumento de tecido mole e duro, minimizando a necessidade de grandes cirurgias. (Ramanathan, et al, 2020).
Pacientes IrradiadosA confirmação da viabilidade óssea e a condição dos tecidos moles circundantes são parâmetros vitais para garantir o sucesso da distração, não sendo contraindicados para pacientes irradiados (Ramanathan, et al, 2020).
Distrações CraniofaciaisA distração da abóbada craniana posterior oferece uma vantagem considerável sobre osteotomias da abóbada posterior em pacientes com craniossinostose e o uso de distratores reabsorvíveis internos anulam a necessidade de uma cirurgia adicional. (Ramanathan, et al, 2020).
Apneia Obstrutiva do SonoA osteogênese por distração é a modalidade inicial de tratamento da apneia obstrutiva do sono, onde além do ganho ósseo, haverá a manipulação dos tecidos moles envolvidos, assim aumentando a via aérea do paciente. (Ramanathan, et al, 2020).
Crianças candidatas à ventilação mecânicaÉ uma técnica promissora para crianças com micrognatia que pode eliminar a necessidade de traqueostomia ou permitir a decanulação precoce em lactentes com traqueostomia. (Ramanathan, et al, 2020).
Retrognatismo GravePacientes que apresentam comprometimento das vias aéreas e assimetria facial, onde a distração pode ser uma opção de tratamento atuando no ganho de tecido ósseo e mole. (Alwal, et al, 2019).

3.3 Modalidades

A aplicação da osteodistração oferece novas soluções para o tratamento ortodôntico cirúrgico de anomalias de desenvolvimento do esqueleto craniofacial, pois o osso pode ser moldado em diferentes formas juntamente com o componente de tecido mole gradualmente, resultando em menos recidiva. (Natu et al, 2014). As modalidades técnicas incluem: dispositivo intraoral manual, intraoral automático e dispositivo extraoral.

3.3.1 Dispositivo intraoral manual

O acionamento e a movimentação do segmento ósseo dos distratores se dão mediante acionamentos manuais por um operador. Nos distratores intraorais manuais, o distrator é ativado e o segmento ósseo é movido uma ou duas vezes ao dia em direção à posição de destino, com uma precisão de distração de 0,5 a 1 mm/dia. (Hatefi et al, 2020)

O dispositivo de distração osteogênica mandibular intra oral é colocado diretamente sobre o osso antes das osteotomias para se obter a referência previamente à instalação. As osteotomias são realizadas com uma peça de mão de corte sagital. O segmento do rebordo alveolar é mobilizado com o auxílio de cinzéis e qualquer interferência óssea que dificulte o processo de distração alveolar precisa ser removida. Após descolamento, o dispositivo de distração é fixado com parafusos de titânio no segmento do rebordo alveolar e no corpo da mandíbula. É importante planejar adequadamente as perfurações para a inserção dos parafusos, a fim de evitar dano ósseo excessivo e posicionar as perfurações do osso abaixo do canal mandibular. Por fim, o retalho é reposicionado e a mucosa suturada. O pino do dispositivo de distração permanece na cavidade oral, permitindo acionamentos. Após a latência pós-operatória, inicia-se a distração propriamente dita e o profissional ou o paciente aciona o pino do aparelho, girando-o para a esquerda ou para a direita conforme a média de ativações recomendadas. (Queiroz et al, 2017)

3.3.2 Dispositivo intraoral automático

Os dispositivos de distração osteogênica automáticos têm uma precisão de distração muito alta em comparação com os distratores manuais convencionais. Em um tratamento com esses dispositivos, o ritmo de distração aplicado pelo operador é aumentado de forma significativa, assim, com o ritmo de distração mais alto e etapas  reduzidas na fase de ativação, o resultado é um período de tratamento mais curto, com menos desconforto e dor para o paciente, ao mesmo tempo em que ocorre a evolução do tratamento. 

No entanto, a solução automática é um método novo e ainda não foi usado em humanos devido a limitações ainda presentes no método. Diferentes fatores influenciam o processo de distração e limitam a aplicação dos dispositivos de distração existentes. Além de que mais pesquisas e investigações precisam ser realizadas para o projeto e desenvolvimento de um dispositivo de distração automática ideal para uso em humanos. (Hatefi et al, 2020)

3.3.3 Distratores extraorais:

A seleção do tipo de distrator a ser utilizado é baseada em diversos fatores, como na idade do paciente, quantidade de distração necessária, rigidez do arco zigomático e a preferência técnica do cirurgião. Tanto o sistema de distração interna, quanto na externa apresentam vantagens e desvantagens. Ao considerar o uso do distrator externo, suas vantagens englobam não necessitar de uma incisão coronal para a osteotomia de terço médio da face. Além disso, o dispositivo de distração externa é recomendado para pacientes com hipoplasia do desenvolvimento devido à união zigomática maxilar fraca e o menor risco de disjunção e fratura do osso distraído durante a remoção do aparelho. Nesses casos, distratores externos são melhores. (Winters e Tatum, 2014).

O sistema RED (Rigid External Distraction, KLS Martin, Tuttlingen, Germany) utiliza um halo ancorado ao crânio e oferece maior comprimento de distração, permite realizar a osteotomia em osso hipoplásico deficiente, tem a possibilidade de mudar o vetor de distração durante o período de alongamento, oferece um controle sobre o vetor de alongamento e é facilmente removido desparafusando os pinos. No entanto, é desconfortável para o paciente usar o dispositivo por vários meses e o dispositivo fica exposto a forças externas de trauma durante esse período e há risco de penetração do osso parietal. (Rachmiel e Shilo, 2015)

Em relação ao procedimento cirúrgico maxilar: Sob anestesia geral e posterior intubação naso ou orotraqueal, é realizada a abordagem LeFort I. Em pacientes que possuem continuidade do processo alveolar adequado, uma placa de 2.0 é adaptada e fixada ao osso maxilar para prevenir fraturas indesejáveis. Ao realizar esta técnica, o osso maxilar pode ser distraído como uma única unidade e não como segmentos separados. Por fim, a experiência do cirurgião é fundamental para decidir o quão extensa deve ser a osteotomia  do osso maxilar sem realizar a fratura óssea completa. Uma vez que o retalho é fechado, o ortodontista instala o aparelho oral. Após a instalação do aparelho, um novo campo cirúrgico é feito e o distrator é adaptado à cabeça do paciente. A posição adequada do dispositivo RED é 2 cm superior à hélice auricular, paralelo ao plano horizontal e com 3 a 4 parafusos de fixação no halo em cada lado, instalados no osso temporal. A haste vertical é instalada na área de recuperação com o paciente totalmente consciente. Posteriormente, fios laterais foram fixados aos parafusos de distração.

Apesar das vantagens, existem grandes preocupações e complicações relacionadas ao distrator extra-oral como: lesões nervosas, formação de cicatriz, infecção e desconforto do paciente, essas são complicações graves que influenciam no resultado do tratamento e limitam a aplicação de tais dispositivos extra-orais. (Hatefi et al, 2020). Além disso, dispositivos externos são menos aceitos social e esteticamente para a maioria dos pacientes em comparação com dispositivos internos e são vulneráveis a traumas durante o dia e durante o sono.(Rachmiel e Shilo, 2015)

3.3.4 Limitações e complicações:

Como acontece com qualquer procedimento operatório, podem ocorrer complicações. A distração osteogênica geralmente é muito bem tolerada e a gravidade e a frequência das complicações que podem ocorrer estão correlacionadas com a extensão da cirurgia. Para distração mandibular, a incidência de recidiva de até 65% foi relatada em algumas séries, enquanto as taxas de recidiva para avanços Le Fort parecem ser mais baixas, 7,3% em algumas séries. Por esse motivo, 10% a 30% de correção excessiva normalmente está incluída no plano inicial. (Winters e Tatum, 2014)

Os dentes também podem ser afetados durante a instalação ou distração subsequente de aparelhos dentários e caso sejam usados para fixar o distrator do terço médio da face em casos de distratores externos, logo uma estreita coordenação multiprofissional é essencial para evitar esse contratempo. Dependendo da abordagem cirúrgica utilizada, vários nervos correm o risco de serem lesionados. Para a distração mandibular, o nervo alveolar inferior está em risco devido à própria osteotomia, enquanto sua continuação distal, o nervo mentoniano, pode estar em risco durante a incisão intraoral. (Winters e Tatum, 2014)

A complicação imediata inclui danos à dentição decídua ou permanente. Além de complicações precoces, que incluem infecção, afrouxamento do distrator, parestesia e problemas de adesão do paciente ao tratamento. As complicações tardias incluem desarmonia oclusal, vetor incorreto, recidiva, consolidação óssea prematura, lesão do nervo facial, reabsorção condilar e alterações na articulação temporomandibular. (Natu, et Al, 2014)

4 Discussão

A técnica de distração osteogênica possui risco mínimo de infecção porque o osso distraído é vital, possuindo neovascularização, que pode ser mais resistente à infecção do que no caso do enxerto ósseo. (Natu, et al 2014).  Em adição, Salah Sakka et al (2022), afirma que junto ao ganho ósseo, o tecido mole simultaneamente ganha novas proporções. 

A indicação mais importante para esta técnica é tratar defeitos ósseos verticais graves ou deficiências maiores que 9 mm; no entanto, defeitos menores também podem se beneficiar deste procedimento. O ganho ósseo vertical obtido por distração pode chegar a 15 mm de forma mais “fisiológica” do que a regeneração óssea guiada (ROG), sem necessidade de enxerto ósseo, e apresenta menor morbidade (Salah Sakka et al, 2022). Além disso, Agurto et al (2020) relata que pacientes com retrusão severa do terço médio da face requerem avanço maxilar que nem sempre a cirurgia ortognática tradicional pode oferecer, seja pela sua extensão, seja pelos riscos funcionais que o avanço maxilar pode acarretar para o paciente, como alterações de fala e voz. Ademais, os avanços significativos da cirurgia ortognática aumentam o risco de recidiva de nossos tratamentos. Em contrapartida, Ramanathan et al (2020) afirma que movimentos de mais de 7 mm, envolvendo LeFort I ou avanços de nível superior, têm propensão para não consolidação e recidiva, portanto, justificam o enxerto ósseo para torná-los mais estáveis e alcançar a cicatrização primária.

Distratores manuais têm sido amplamente utilizados. Porém, a ativação do dispositivo depende do ajuste manual do comprimento. Existe um erro protecional no ajuste manual do comprimento ao aplicar uma quantidade incerta de força de distração para executar o movimento. As principais limitações dos distratores manuais são movimento instável, grande precisão do passo, baixa taxa de distração de 0,25 a 1 mm/dia e baixo ritmo de distração (uma ou duas vezes ao dia). O longo período de tratamento, a formação de cicatrizes, a fase dolorosa e distração e a adesão do paciente são outros problemas nas soluções manuais. (Hatefi et al, 2020) 

Uma das maiores vantagens da distração osteogênica é facilitar o tratamento precoce de múltiplas deformidades faciais. Isso diminui sua gravidade, diminuindo também as condições funcionais, estéticas e psicológicas que afetam os pacientes. Essa técnica cirúrgica pode tratar com eficácia a retrusão severa do terço médio da face em pacientes com fissura orofacial, obtendo avanço significativo e estável sem a necessidade de enxerto ósseo e com resultados positivos em tecido mole. Outra vantagem é o menor risco de insuficiência velofaríngea, resultando em um perfil mais harmonioso e estável, maior qualidade de vida do paciente e integração social mais precoce. (Agurto et al, 2020) Em contradição, Ramanathan, et al (2020) afirma que os dispositivos externos de distração do halo trazem grande desconforto físico e social ao paciente. Dispositivos internos são, portanto, mais preferidos, mas a saliência do braço de ativação na cavidade oral pode ser uma fonte de desconforto significativo durante a fala e a ingestão de alimentos. Embora a taxa de satisfação seja alta após a distração, a dor e o comprometimento funcional durante a distração ativa são uma grande desvantagem.

5 Conclusão

A técnica apresenta limitações por falta de estudos suficientes e aplicabilidade clínica, além de complicações e limitações inerentes. Contudo, seu uso apresenta resultados satisfatórios para inúmeras condições, como atrofias severas, pacientes sindrômicos e deformidades de desenvolvimento craniofacial, tendo como vantagem uma formação óssea de qualidade superior e menor taxa de recidiva quando comparada a outras técnicas, como os enxertos ósseos, retalhos microvasculares e cirurgias ortognáticas. Com o aumento do desenvolvimento científico sobre o tema, a técnica poderá, em breve, apresentar maiores indicações e resultados ainda mais assertivos.

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1 Cirurgiões-Dentistas – Universidade Nove de Julho
2 Cirurgiã-Dentista – Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
3 Cirurgiã-Dentista e Professora do Departamento de Clínica Odontológica Integrada da Faculdade de Odontologia – Universidade Nove de Julho
1 samara.martins@uni9.edu.br