PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL HUMANA NO TOCANTINS ENTRE OS ANOS DE 2016-2022

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HUMAN VISCERAL LEISHMANIASIS IN TOCANTINS BETWEEN THE YEARS 2016-2022

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049160


Euler Pereira Silva¹
Kamilly Santos Coradi¹
Katarina Destro Uliana¹
Layza Lopes da Silva¹
Leide Maria Soares de Sousa¹
Maria Eduarda Dornelas Mendes¹
Maria Eduarda Gomes Madruga¹
Matheus Henrique Turmena¹
Ranya Santos Soares¹
Vinícius Alves Nascimento¹


Resumo

A Leishmaniose Visceral (LV) é definida como uma doença de caráter endêmico e de notificação compulsória, por ter capacidade de evoluir para forma grave, altas taxas de incidência e letalidade. Seus agentes etiológicos são os protozoários do gênero Leishmania, e os vetores da patologia são os insetos flebotomíneos. A transmissão da doença se dá através da picada da fêmea do mosquito infectado, não sendo capaz a transmissão direta de pessoa a pessoa. A LV possui maior prevalência em crianças, desnutridos e imunodeprimidos, e apresenta variadas formas clínicas, dependendo de aspectos relacionados ao vetor a ao sistema imune do hospedeiro. O diagnóstico é obtido por meio de aspectos clínicos e laboratoriais, além de dados epidemiológicos da área em que se está inserido. Os principais medicamentos utilizados para o tratamento da LV são: antimoniato de N-metil glucamina, desoxicolato de anfotericina B e anfotericina B lipossomal. O objetivo do estudo é identificar o perfil epidemiológico da Leishmaniose Visceral Humana no estado do Tocantins, no período de 2016 a 2022, devido a doença ter caráter endêmico e possíveis evoluções graves, até mesmo contribuindo para altas taxas de mortalidade.   

Palavras-chave: Leishmaniose. Tocantins. Hepatoesplenomegalia. Endêmica.

Abstract


Visceral Leishmaniasis (VL) is defined as an endemic and compulsory notifiable disease, as it has the capacity to evolve into a severe form, with high incidence and lethality rates. Its etiological agents are protozoa of the genus Leishmania, and the vectors of the pathology are sandflies. The disease is transmitted through the bite of an infected female mosquito, and direct transmission from person to person is not possible. VL is more prevalent in children, malnourished and immunocompromised people, and presents different clinical forms, depending on aspects related to the vector and the host’s immune system. The diagnosis is obtained through clinical and laboratory aspects, in addition to epidemiological data from the area in which it is located. The main medications used to treat VL are: N-methyl glucamine antimoniate, amphotericin B deoxycholate and liposomal amphotericin B. The objective of the study is to identify the epidemiological profile of Human Visceral Leishmaniasis in the state of Tocantins, from 2016 to 2022, due to the disease being endemic and possible serious developments, even contributing to high mortality rates

Keywords: Leishmaniasis. Tocantins. Hepatosplenomegaly. Endemic.

INTRODUÇÃO

A Leishmaniose Visceral (LV), calazar ou barriga d’água, como popularmente conhecida, caracteriza-se como uma doença de caráter endêmico e de notificação compulsória, devido possibilidade de evolução grave, alta incidência e letalidade. Inicialmente, a LV era uma doença restrita a áreas rurais. No entanto, devido o acontecimento do êxodo rural que ocasionou em periurbanização, essa patologia teve expansão de seu espaço territorial, favorecendo a criação de áreas endêmicas. Além disso, a LV é característica de áreas de clima seco e com baixa precipitação pluviométrica, além de topografias compostas por vales e montanhas. Por isso, há prevalência em regiões de periferias de grandes centros urbanos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014)

A LV tem como agentes etiológicos os protozoários do gênero Leishmania, em que no Brasil, o principal agente é a L. Chagasi. Ademais, a doença também apresenta reservatórios em áreas urbanas e silvestres, que são cães e raposas, respectivamente; e vetores, sendo os insetos flebotomíneos, conhecidos como mosquito palha. Portanto, para que a doença tenha evolução significativa, é necessário que haja vetores, hospedeiros e reservatórios suscetíveis a completar o ciclo de transmissão da doença. (GONTIJO; MELO, 2004).

A forma de transmissão da LV é através da picada de fêmeas dos flebotomíneos. Há, no Brasil, duas espécies que são capazes de transmitir a doença: Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. O período de maior transmissão desses vetores é durante e após a estação chuvosa, pois está relacionado ao aumento da quantidade populacional do inseto. A atividade do vetor é restrita ao período noturno, e o período de infecção passa por um ciclo biológico dividido em quatro etapas, sendo: ovo, larva, pupa e adulto. Além disso, a transmissão de pessoa a pessoa não é evidenciada, dependendo exclusivamente da atuação do inseto vetor. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014)

A LV tem maior prevalência em crianças de até quatro anos de idade, desnutridos e em imunodeprimidos, em especial pacientes também infectados por HIV. Em adultos a infecção também é relatada, porém com apresentação clínica diferente, sendo oligossintomática ou até mesmo assintomática. As principais manifestações clínicas nos grupos de maior prevalência incluem febre, anemia, hepatoesplenomegalia, perda ponderal e diarreia. A evolução da doença é dividida em três fases, sendo o período inicial, período de estado e período final. Na fase aguda, ou período inicial, destacam-se febre; esplenomegalia, podendo ou não estar associada a hepatomegalia; e palidez cutâneo-mucosa. No período de estado, acrescenta-se emagrecimento, evolução da hepatoesplenomegalia e comprometimento do estado geral do paciente. Por fim, no período final, verifica-se desnutrição, hemorragias e complicações, como exemplo infecções bacterianas. Cabe destacar que a forma de apresentação clínica de cada paciente depende da resposta da atividade do sistema imune celular e humoral, e da competência do mosquito vetor infectado. Sendo assim, há registros de pacientes que possuem evolução assintomática, oligossintomática e até mesmo ao quadro clássico da doença, como descrito acima. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014)

O diagnóstico da doença se baseia em critérios clínicos e laboratoriais, além de dados epidemiológicos da área em que se está inserido. Assim, realiza-se exames sorológicos, pesquisa de antígenos de leishmania por PCR (reação em cadeia de polimerase), diagnóstico imunológico por ensaios imunoenzimáticos ou imunofluorescência indireta, diagnóstico parasitológico através de punção aspirativa esplênica ou aspirado de medula óssea, ou até mesmo através da intradermorreação de Montenegro reativa. (PASTORINO, 2002)

Os principais medicamentos utilizados para o tratamento da LV são: antimoniato de N-metil glucamina, desoxicolato de anfotericina B e anfotericina B lipossomal. A duração do tratamento é por volta de 30 dias, dependendo da resposta clínica do paciente. Além disso, os pacientes devem ser acompanhados durante e após o término do tratamento, devendo sempre haver investigação de reações adversas graves como exemplo prolongamento do intervalo QT, artralgia e nefrotoxicidade. (PELISSARI et al, 2011)

Sendo assim, conhecer o perfil epidemiológico desta patologia é fundamental para implementar estratégias públicas de saúde e ações de prevenção primária e secundária, objetivando diminuir a incidência de casos graves. Por se tratar de uma doença endêmica com alteração em suas características epidemiológicas devido a urbanização crescente, torna-se necessário efetuar métodos eficazes na detecção precoce da doença e em seu tratamento eficiente, sendo que o perfil epidemiológico auxilia essas vertentes.

OBJETIVOS

O objetivo desse estudo é identificar o perfil epidemiológico da Leishmaniose Visceral Humana no estado do Tocantins, no período de 2016 a 2022, com o propósito de evidenciar as principais variantes que estão relacionadas com sua prevalência, visando a conscientização sobre a gravidade da patologia e incentivar a adoção de estratégias que permitem o diagnóstico precoce e acompanhamento periódico de pacientes com diagnóstico confirmado, mesmo após o término do tratamento.

METODOLOGIA

O presente trabalho é um estudo epidemiológico descritivo, realizado através da coleta de dados que são ofertados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados pelo Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), referente ao período de 2016 a 2022 no estado do Tocantins.

Trata-se de um estudo epidemiológico de natureza descritiva, retrospectiva e observacional, considerando casos de pacientes acometidos por Leishmaniose Visceral. A pesquisa foi realizada através da obtenção de dados do SINAN, em que é um sistema mantido pela notificação e análise de circunstâncias de doenças que são de caráter de notificação compulsória. Além disso, foram utilizados artigos para consolidação bibliográfica encontrados no Google Acadêmico e Scielo.

Para a construção da pesquisa foram obtidos dados referentes aos casos de Leishmaniose Visceral Humana diagnosticados no período de 2016 a 2022 no estado do Tocantins. As variáveis utilizadas foram: totalidade de casos confirmados, sexo, faixa etária, co-infecção por HIV e município de residência dos pacientes diagnosticados. Os critérios de exclusão determinados, por não terem significância estabelecida com o estudo, foram: grau de escolaridade e raça. 

ANÁLISE DOS DADOS

A partir dos dados obtidos na pesquisa que estão evidenciados na TABELA 1, houve um total de 1.240 casos diagnosticados no estado do Tocantins entre o período de 2016 a 2022. No entanto, grande parte dos casos estão concentrados nos três primeiros anos abordados, e de maneira consequente, houve redução gradativa da quantidade de casos confirmados nos anos de 2019 a 2022, possivelmente devido a adoção de medidas de prevenção, como exemplo o combate do inseto vetor.

TABELA 1. Totalidade de casos confirmados em cada ano de notificação no estado do Tocantins, avaliando o intervalo de tempo de 2016 a 2022. 

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

            Quando é analisado a faixa etária de pacientes que são acometidos pela LV, como na TABELA 2, percebe-se que, em primeira instância, há predomínio na população de até quatro anos de idade, confirmando o fundamento de que a patologia tem maior incidência na população pediátrica, devido ao sistema imune imaturo até o momento. Em segundo instante, há prevalência da doença em pacientes na faixa etária de 20 a 59 anos de idade, o que confirma sua incidência em adultos, porém podendo ser com forma clínica distinta.

 TABELA 2. Incidência da Leishmaniose Visceral no Tocantins de acordo com a faixa etária.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

            Ao se analisar a incidência da patologia estudada de acordo com o sexo, como na TABELA 3, foi possível observar que houve predomínio no sexo masculino em todos os anos estudados, confirmando a hipótese de que os indivíduos do sexo masculino são mais suscetíveis a desenvolver a doença.

 TABELA 3. Sexo mais acometido dos casos notificados de Leishmaniose Visceral no Tocantins.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Verificando a existência ou não de predomínio da LV em pacientes infectados por HIV, como na TABELA 4, analisamos que a doença teve evolução em 162 pacientes no decorrer de 2016 a 2022, a respeito de um total de 992 casos confirmados nesse período.

TABELA 4. Análise da ocorrência de Leishmaniose Visceral em pacientes co-infectados por HIV no Tocantins.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Por fim, ao desenvolver pesquisas a respeito de municípios tocantinenses que abrigam a maior totalidade de casos de LV, verifica-se que a cidade de Araguaína tem a maior densidade de casos, com um total de 200 pacientes residindo na mesma, de um conjunto de 738 casos confirmados. Atrás dela, encontra-se as cidades de Palmas, Porto Nacional e Gurupi, abrigando a quantidade de 147, 70 e 68 casos, respectivamente. (TABELA 5)

TABELA 5. Distribuição de casos confirmados de Leishmaniose Visceral entre os municípios do Tocantins.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).


CONCLUSÃO


Diante do exposto, é de suma importância que haja maiores investimentos em programas municipais de prevenção primária em saúde, com foco em medidas como: saneamento ambiental; controle da população canina errante e medidas de proteção individual, como exemplo uso de telas em portas e janelas, além do uso de repelentes. Além disso, deve ser estimulado o diagnóstico precoce constantemente durante consultas na Atenção Básica, de maneira que seja admissível considerar a doença como um possível diagnóstico diferencial desde o primeiro sintoma relatado.

Por fim, é de extrema importância a adoção de mudanças estratégicas eficazes que possam prevenir a patologia, combinando desde medidas utilizadas no cotidiano da sociedade, até mesmo a melhorias no serviço de saúde em relação a conscientização da importância crucial do diagnóstico precoce e notificação compulsória, objetivando reduzir o número de casos, evolução grave e mortalidade da Leishmaniose Visceral.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Brasília, 2014.

GONTIJO, Célia Maria Ferreira; MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de epidemiologia, v. 7, p. 338-349, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/R8mCHPzNCQw6n4npxBRxCtt/?Fo rmat=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 out 2023.

PASTORINO, Antonio C. et al. Leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais. Jornal de Pediatria, v. 78, p. 120-127, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jped /a/7MHkFCnXG43DBHGHNHJ5s6w/?format=html. Acesso em: 13 out 2023.

PELISSARI, Daniele Maria et al. Tratamento da leishmaniose visceral e leishmaniose tegumentar americana no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 20, n. 1, p. 107-110, 2011. Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?pid=S1679-49742011000100012& script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 13 out 2023.