PREVENTION OF COMPLICATIONS IN FACIAL FILLER PROCEDURES WITH THE SUPPORT OF ULTRASOUND
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506260544
Gabrielle Rodrigues Fernandes Garcia1
Dorotéa Clara Braga Teti2
Berinaldo Rodrigues Ribeiro Júnior3
Filipe Rodrigues da Silva4
Adelmo Cavalcanti Aragão Neto5
Resumo
A ultrassonografia tem ganhado destaque na odontologia estética, especialmente na harmonização orofacial, por permitir a visualização em tempo real das estruturas anatômicas da face, contribuindo para a segurança e precisão dos procedimentos com preenchedores faciais. Este estudo, por meio de uma revisão narrativa da literatura, teve como objetivo analisar o uso da ultrassonografia na prevenção de intercorrências em procedimentos minimamente invasivos realizados por cirurgiões-dentistas. A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas bases SciELO, PubMed, Google Scholar e BVS, utilizando os descritores “harmonização orofacial”, “ultrassonografia”, “preenchedores faciais”, “complicações” e “odontologia”, de forma isolada e combinada com operadores booleanos. Foram considerados artigos publicados entre 2020 e 2025, em português e inglês, que abordassem especificamente a aplicação do ultrassom na prática odontológica. Dos 42 artigos inicialmente identificados, 11 compuseram a amostra final, após a aplicação de critérios de elegibilidade. Os resultados apontaram que a ultrassonografia atua como recurso diagnóstico, preventivo e terapêutico, permitindo o mapeamento preciso das estruturas faciais, a identificação de áreas de risco e o acompanhamento de possíveis intercorrências. Além disso, destaca-se a importância da capacitação técnica do profissional para o uso adequado da tecnologia, bem como o papel da ultrassonografia na consolidação de uma prática clínica baseada em evidências. Conclui-se que sua integração à rotina odontológica representa um avanço significativo na segurança, previsibilidade e qualidade dos tratamentos estéticos com preenchedores.
Palavras-chave: Harmonização orofacial. Ultrassonografia. Complicações.
1 INTRODUÇÃO
O avanço das tecnologias de imagem tem desempenhado papel fundamental na prática clínica, especialmente na odontologia. Entre esses recursos, destaca-se a ultrassonografia, que utiliza ondas sonoras de alta frequência para gerar imagens em tempo real das estruturas internas. Trata-se de um método não invasivo, seguro e eficaz, amplamente utilizado em diversas especialidades médicas e odontológicas. Além de seu uso diagnóstico, o ultrassom tornou-se ferramenta essencial no planejamento e na execução de procedimentos, contribuindo para maior segurança, precisão e previsibilidade nas intervenções (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
Na odontologia, o uso da ultrassonografia ainda está em expansão, mas seu potencial é evidente, especialmente nas áreas de harmonização orofacial e cirurgia bucomaxilofacial. A incorporação dessa tecnologia amplia as possibilidades diagnósticas e terapêuticas do cirurgião-dentista. Na harmonização orofacial, em particular, o ultrassom tem se destacado por facilitar o mapeamento anatômico, aspecto essencial diante da complexidade dos procedimentos estéticos faciais. Sua aplicação permite maior precisão na identificação de estruturas delicadas, como vasos e nervos, conferindo mais segurança e controle às intervenções (GOUVEIA et al., 2024).
Nos procedimentos com preenchedores faciais — como ácido hialurônico e hidroxiapatita de cálcio — a ultrassonografia configura-se como recurso preventivo e estratégico. Seu uso antes, durante ou após a aplicação permite mapear estruturas anatômicas, definir a profundidade ideal e monitorar a dispersão do produto. Segundo Costa e Duarte (2023), a visualização em tempo real proporciona maior previsibilidade e segurança ao profissional, além de reduzir significativamente os riscos ao paciente.
Apesar dos avanços nas técnicas minimamente invasivas, os procedimentos com preenchedores faciais ainda estão sujeitos a intercorrências. Tais complicações não apenas comprometem o resultado estético, mas também podem afetar a saúde e o bem-estar do paciente, sendo objeto constante de investigação na área (MANGANARO; PEREIRA; SILVA, 2022).
Diante desse cenário, o uso da ultrassonografia tem se consolidado como estratégia eficaz na prevenção de intercorrências. Ao fornecer dados precisos sobre a anatomia individual do paciente, permite intervenções mais seguras e personalizadas. Sua aplicação no planejamento e acompanhamento dos procedimentos contribui para a identificação de áreas de risco e para o manejo precoce de complicações. A adoção desse recurso eleva o padrão técnico do atendimento e reforça uma prática ética, pautada na segurança e nas evidências científicas (FREIRE et al., 2021).
Adicionalmente, a Resolução CFO nº 198/2019 reconhece a harmonização orofacial como especialidade odontológica e estabelece como competência do cirurgião-dentista a realização de procedimentos com preenchedores faciais e o uso de tecnologias associadas, como o ultrassom, desde que observados os critérios técnicos e científicos que garantam a segurança dessas intervenções (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2019).
Portanto, diante do aumento da demanda por procedimentos estéticos realizados por cirurgiões-dentistas e da responsabilidade técnica envolvida, torna-se fundamental compreender o papel do ultrassom como ferramenta preventiva (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
Neste contexto, o presente estudo, por meio de revisão narrativa da literatura, teve como objetivo analisar a utilização da ultrassonografia como recurso auxiliar na prevenção de intercorrências associadas a procedimentos com preenchedores faciais realizados por cirurgiões-dentistas.
Espera-se que os achados contribuam para as discussões acerca da importância da integração da ultrassonografia à prática estética, visando à redução de riscos e à qualificação dos resultados clínicos.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Fundamentos do exame de ultrassonografia na área da saúde
A ultrassonografia, ou ecografia, é um dos métodos de imagem mais utilizados na prática clínica contemporânea. Baseado na emissão e recepção de ondas sonoras de alta frequência, o exame permite a visualização em tempo real das estruturas internas do corpo, oferecendo um diagnóstico seguro, dinâmico e não invasivo.
Inicialmente desenvolvida para aplicações industriais e militares no início do século XX, a tecnologia foi adaptada à medicina nas décadas seguintes, consolidando-se como ferramenta diagnóstica a partir dos estudos do obstetra escocês Ian Donald, na década de 1940 (ARAÚJO; POLONIATO; SIMIÃO, 2025).
A ultrassonografia apresenta diversas vantagens em relação a outros exames de imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Além de não utilizar radiação ionizante, trata-se de um recurso portátil, acessível e capaz de gerar imagens dinâmicas em tempo real. Essas características tornam o exame especialmente útil em atendimentos de urgência, avaliações musculoesqueléticas, acompanhamento gestacional e procedimentos guiados por imagem (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
A inserção do ultrassom na odontologia acompanha uma tendência de integração de tecnologias de imagem à prática clínica, permitindo diagnósticos mais precisos e melhor planejamento terapêutico. Na harmonização orofacial, por exemplo, o exame possibilita a identificação de vasos, músculos e espessuras teciduais, o que contribui significativamente para a segurança na aplicação de preenchedores (COSTA; DUARTE, 2023).
A ultrassonografia, portanto, ultrapassa sua função tradicional de exame complementar, consolidando-se como uma ferramenta integrativa na odontologia contemporânea. Seu uso não se limita à visualização anatômica, mas também atua como recurso terapêutico e preventivo, sobretudo em procedimentos minimamente invasivos como os realizados na harmonização orofacial. Dessa forma, o cirurgião-dentista que incorpora essa tecnologia amplia sua competência técnica e clínica, oferecendo tratamentos mais seguros, personalizados e fundamentados em evidências científicas (ARAÚJO et al., 2022).
2.2 Aplicações do ultrassom na odontologia e na prática da harmonização orofacial
Com o aumento da demanda por procedimentos estéticos na odontologia, o conhecimento anatômico detalhado da face tornou-se uma exigência técnica e ética. Nesse contexto, a ultrassonografia se destaca como ferramenta estratégica ao possibilitar a avaliação em tempo real das estruturas envolvidas em procedimentos minimamente invasivos, como os realizados na harmonização orofacial. Por meio de imagens bidimensionais dinâmicas, o profissional pode visualizar com precisão as camadas teciduais, localizando estruturas vasculares e musculares, o que reduz significativamente o risco de complicações durante a aplicação de preenchedores dérmicos (GOUVEIA et al., 2024).
O uso do ultrassom ultrapassa a prevenção de intercorrências, permitindo o refinamento da técnica clínica por meio de um planejamento individualizado e uma execução precisa. Em regiões como o sulco nasogeniano, a região malar e a região mandibular, o exame auxilia na definição da profundidade ideal de aplicação, minimizando assimetrias, otimizando os resultados estéticos e reduzindo os riscos de oclusões vasculares. O sucesso na harmonização orofacial depende tanto da escolha da técnica quanto da compreensão da relação entre a anatomia individual do paciente e o produto utilizado (BOZ; KOSE, 2024).
De acordo com Ramos et al. (2022), o uso do ultrassom em tempo real permite ajustes na trajetória da cânula ou agulha durante o procedimento, de acordo com as respostas anatômicas observadas. Além disso, em casos de insucesso, o exame auxilia na identificação de acúvulos de produto e orienta intervenções corretivas com maior precisão do que a avaliação clínica isolada.
2.3 Preenchedores faciais e intercorrências associadas a seu uso
Embora considerados minimamente invasivos, os procedimentos com preenchedores faciais estão sujeitos a riscos, sobretudo quando realizados sem conhecimento anatômico adequado, planejamento individualizado ou técnica apropriada. As complicações podem ser imediatas, precoces ou tardias, incluindo edema, hematomas, dor persistente, nódulos, granulomas, assimetrias e, em casos mais graves, necrose tecidual e cegueira, decorrentes da embolização acidental de vasos faciais (MANGANARO; PEREIRA; SILVA, 2022).
Entre os principais materiais utilizados destacam-se o ácido hialurônico, a hidroxiapatita de cálcio, a policaprolactona e o ácido polilático, cada qual com propriedades físico-químicas e indicações clínicas específicas, variando quanto à viscosidade, durabilidade, grau de reticulação e biocompatibilidade (MOURA et al., 2022).
O ácido hialurônico é o preenchedor mais utilizado mundialmente, por ser substância naturalmente presente no organismo, apresentando alta biocompatibilidade e baixo potencial de reações adversas. Sua principal função é hidratar e conferir volume aos tecidos, sendo gradualmente absorvido. A possibilidade de reversão por meio da hialuronidase aumenta seu perfil de segurança (DAHER et al., 2020).
A hidroxiapatita de cálcio possui efeito bioestimulador mais intenso, sendo indicada para regiões que exigem maior sustentação e estimulação da produção de colágeno, como a mandíbula e a região malar. A policaprolactona e o ácido polilático, embora menos frequentes na odontologia, vêm sendo explorados por sua capacidade de estimular colágeno e gerar resultados mais duradouros (BOTELHO; PÊGO; ROCHA, 2024).
A escolha do preenchedor deve considerar o resultado estético desejado, a densidade do produto, sua integração tecidual e as características anatômicas do paciente. O conhecimento dessas propriedades por parte do profissional é essencial para o sucesso do procedimento, pois a aplicação inadequada ou em planos incorretos pode gerar intercorrências com impacto estético e funcional significativo (COSTA; DUARTE, 2023).
As complicações imediatas costumam incluir dor, eritema e edema local, geralmente transitórios. Caso persistam por mais de 72 horas ou se agravem, há suspeita de complicações vasculares ou inflamatórias. Em médio prazo, podem ocorrer nódulos inflamatórios, reações de hipersensibilidade e infecções subclínicas, evoluindo para fibroses ou granulomas. As complicações tardias, embora menos frequentes, costumam ser mais complexas e incluem deslocamento do produto, formação de biofilmes e inflamações crônicas (SAMPAIO et al., 2024).
A gravidade dessas complicações está relacionada à técnica utilizada, ao conhecimento anatômico e à resposta fisiológica do paciente. Profissionais menos experientes apresentam maior risco, especialmente por desconhecer regiões críticas, como a artéria angular, a artéria facial e a glabela. Fatores como pressão de injeção, calibre da agulha ou cânula e plano de aplicação também influenciam na segurança do procedimento. Nesse sentido, Costa e Duarte (2023) enfatizam que a ultrassonografia, ao permitir o mapeamento da vascularização facial e dos planos de aplicação, contribui de forma significativa para a redução desses riscos, aumentando a previsibilidade e o controle das intervenções.
Reconhecer que intercorrências não são raras e que demandam preparo técnico e recursos clínicos adequados é fundamental. A utilização da ultrassonografia representa um importante avanço nesse sentido, promovendo maior segurança, redução de riscos e melhor qualidade nos resultados estéticos e funcionais (ARAÚJO et al., 2022).
2.4 O ultrassom como ferramenta de prevenção e manejo de intercorrências
A aplicação da ultrassonografia como instrumento de apoio ao planejamento clínico na harmonização orofacial constitui uma das principais inovações da odontologia contemporânea. Ao permitir a visualização eficaz das estruturas anatômicas faciais, respeitando suas variações individuais, a tecnologia possibilita ao profissional realizar intervenções com máxima segurança (COSTA; DUARTE, 2023).
A capacidade do exame em fornecer imagens em tempo real favorece o mapeamento preciso de áreas de risco, como vasos sanguíneos, planos musculares e espessuras teciduais. Tal abordagem é especialmente relevante em regiões de alta complexidade anatômica, como a glabela, o sulco nasogeniano e a região periorbitária (COSTA; DUARTE, 2023).
A visualização direta das camadas faciais antes e durante a aplicação dos preenchedores permite minimizar intercorrências e orientar condutas mais assertivas. Além disso, a tecnologia contribui para a personalização dos tratamentos, uma vez que as variações anatômicas de cada paciente podem ser identificadas com maior precisão, otimizando os resultados e reduzindo a necessidade de intervenções corretivas (BOZ; KOSE, 2024).
A crescente inserção da ultrassonografia na odontologia demanda não apenas o acesso ao equipamento, mas também formação técnica especializada. O correto manuseio do transdutor, a interpretação das imagens e a aplicação clínica dos achados exigem capacitação, que vem sendo ofertada em cursos de especialização e formação continuada (IZZETTI et al., 2021).
Nesse contexto, Costa e Duarte (2023) defendem que o domínio da ultrassonografia é uma competência essencial para os profissionais que atuam com harmonização orofacial, uma vez que amplia a segurança clínica e o controle técnico das intervenções.
A utilização do ultrassom também está em consonância com os princípios da odontologia baseada em evidências, ao favorecer decisões clínicas fundamentadas em dados objetivos. Assim, o exame deixa de ser apenas um recurso complementar, passando a integrar o protocolo de segurança e de conduta ética na prática estética odontológica (BOZ; KOSE, 2024).
Ainda segundo Costa e Duarte (2023), a aplicação eficaz do ultrassom exige não apenas conhecimento anatômico clássico, mas também compreensão da anatomia ecográfica, o que reforça a necessidade de formação técnica específica.
Com os avanços na miniaturização dos dispositivos e na resolução das imagens, a tecnologia tem se tornado mais acessível aos consultórios odontológicos. O desenvolvimento de softwares com inteligência artificial integrada promete otimizar a interpretação das imagens e reduzir a dependência da experiência clínica individual (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
Nesse cenário, a integração entre tecnologia e conhecimento anatômico transforma a prática do cirurgião-dentista, consolidando a harmonização orofacial como um campo técnico, seguro e cientificamente respaldado dentro da odontologia moderna (COSTA; DUARTE, 2023).
3 METODOLOGIA
Este estudo configura-se como uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo de reunir e analisar produções científicas que abordam a utilização da ultrassonografia na prevenção de complicações associadas a procedimentos com preenchedores faciais na odontologia, com ênfase na harmonização orofacial.
A busca foi realizada nas bases de dados SciELO, PubMed, Google Scholar e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores “harmonização orofacial”, “ultrassonografia”, “preenchedores faciais”, “complicações” e “odontologia”, de forma isolada e combinada com operadores booleanos (AND, OR). Foram incluídos artigos publicados entre os anos de 2020 e 2025, nos idiomas português e inglês, que abordassem diretamente a aplicação do ultrassom na prática odontológica.
Ao todo, foram identificados 42 artigos. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade — como aderência ao tema central (uso da ultrassonografia na prevenção de intercorrências com preenchedores faciais), recorte temporal e relevância científica —, 31 estudos foram excluídos. As razões para exclusão incluíram: ausência de foco específico na aplicação do ultrassom em procedimentos com preenchedores (n = 12), publicação fora do período estabelecido (n = 8), duplicidade entre bases (n = 6) e baixo rigor metodológico ou caráter opinativo (n = 5).
Com isso, 11 artigos compuseram a amostra final, possibilitando uma análise crítica e atualizada sobre os avanços da ultrassonografia na odontologia estética. Os achados evidenciam a relevância dessa tecnologia na promoção da segurança clínica, na precisão dos procedimentos e na consolidação de uma prática profissional baseada em evidências científicas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A literatura científica revisada indica que a ultrassonografia representa um avanço significativo na prática clínica odontológica, sobretudo quando aplicada à harmonização orofacial. A capacidade do exame de fornecer imagens em tempo real dos tecidos faciais contribui diretamente para a segurança, a precisão e a individualização dos procedimentos com preenchedores dérmicos.
O uso da ultrassonografia por cirurgiões-dentistas permite o mapeamento detalhado da anatomia facial, incluindo vasos sanguíneos, camadas musculares e planos profundos. Essa visualização favorece a identificação de áreas de risco, como glabela, nariz e fronte, regiões caracterizadas por alta densidade vascular e maior propensão a intercorrências graves (COSTA; DUARTE, 2023).
Além da prevenção, a ultrassonografia também potencializa os resultados estéticos, permitindo ajustes em tempo real quanto à profundidade e à direção da cânula ou agulha durante a aplicação do preenchedor. Essa precisão proporciona maior simetria, naturalidade e previsibilidade dos resultados (CRUZ et al., 2021).
A aplicação do exame é igualmente relevante na gestão de complicações. Em casos de edema persistente, dor, nódulos ou reações inflamatórias, a ultrassonografia atua como recurso diagnóstico auxiliar, facilitando a localização da intercorrência e permitindo uma intervenção mais precisa e menos invasiva (COSTA; DUARTE, 2023).
O exame também é eficaz na detecção de acúvulos de preenchedor ou obstruções vasculares, contribuindo para a escolha terapêutica, especialmente em situações que demandam o uso de enzimas como a hialuronidase para reverter os efeitos de preenchimentos com ácido hialurônico (SAMPAIO et al., 2024).
A revisão evidencia que complicações associadas aos preenchedores faciais são frequentes e, em muitos casos, resultam de falhas técnicas, desconhecimento anatômico, escolha inadequada do produto ou ausência de ferramentas diagnósticas como a ultrassonografia (MANGANARO; PEREIRA; SILVA, 2022).
Tais intercorrências, que incluem hematomas, necrose, assimetrias e reações granulomatosas, têm impacto funcional e estético. A literatura destaca que a individualização do planejamento com base em imagem pode minimizar esses riscos e favorecer melhores desfechos (BOTELHO; PÊGO; ROCHA, 2024).
A experiência clínica do profissional, associada ao conhecimento anatômico aprofundado, é um fator determinante para a segurança do procedimento. A ultrassonografia, nesse sentido, funciona como extensão da percepção clínica, ampliando o controle e reduzindo a ocorrência de erros iatrogênicos.
A capacitação para o uso adequado do ultrassom é destacada como essencial. Embora o acesso aos equipamentos tenha se tornado mais viável, muitos profissionais ainda carecem de formação específica para interpretação e aplicação das imagens (COSTA; DUARTE, 2023).
A formação continuada por meio de cursos e treinamentos é apontada como estratégia fundamental para o uso seguro e eficiente da ultrassonografia, sobretudo no contexto da harmonização facial (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
Avanços tecnológicos também têm favorecido sua expansão, com aparelhos mais compactos, de alta resolução e conectividade. Plataformas com inteligência artificial integrada prometem facilitar a interpretação das imagens e reduzir a curva de aprendizado (VIEIRA; DIAS; FREITAS, 2023).
A harmonização orofacial caminha, assim, para uma prática cada vez mais técnica e baseada em evidências. A ultrassonografia desponta como ferramenta estratégica não apenas na execução, mas também no diagnóstico, no planejamento e no monitoramento dos resultados.
Sua incorporação definitiva à rotina clínica representa uma mudança de paradigma: de um modelo centrado na experiência empírica para uma atuação fundamentada na tecnologia e na segurança (SAMPAIO et al., 2024).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crescente demanda por procedimentos estéticos minimamente invasivos na odontologia, especialmente no âmbito da harmonização orofacial, impõe ao cirurgião-dentista a necessidade de dominar recursos que assegurem a qualidade, a segurança e a previsibilidade dos resultados clínicos.
Nesse contexto, a ultrassonografia desponta como ferramenta fundamental, ao possibilitar a visualização em tempo real das estruturas faciais, otimizando a aplicação de preenchedores e minimizando riscos de intercorrências.
A literatura revisada aponta que falhas técnicas, desconhecimento anatômico e escolha inadequada de materiais são fatores associados à ocorrência de complicações. O uso da ultrassonografia contribui para mitigar esses problemas, ampliando a capacidade diagnóstica e permitindo maior controle durante e após os procedimentos. Contudo, o uso eficaz dessa tecnologia exige formação específica e atualização contínua por parte dos profissionais.
Dessa forma, a inclusão do ensino da ultrassonografia nos programas de especialização e nas práticas de educação continuada deve ser incentivada, de modo a fomentar uma prática clínica mais segura, ética e cientificamente embasada.
Conclui-se, portanto, que a ultrassonografia deve ser considerada não apenas como um recurso auxiliar, mas como ferramenta estratégica na atuação do cirurgião-dentista que realiza procedimentos com preenchedores faciais. Sua integração à rotina clínica contribui para a consolidação da harmonização orofacial como uma especialidade técnica, segura e respaldada por evidências científicas.
REFERÊNCIAS
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1Graduada em Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT/PE. Campus Recife-PE. e-mail: dragabriellefernandes@hotmail.com
2Graduada em Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT/PE. Campus Recife-PE. e-mail: clarinha_bs@hotmail.com
3Graduado em Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT/PE. Campus Recife-PE. e-mail: berinaldo.odonto@gmail.com
4Graduado em Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT/PE. Campus Recife-PE. e-mail: filiperodrigues.nutri@gmail.com
5Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT/PE. Campus Recife-PE. Doutor em Biologia aplicada a Saúde pela UFPE, Mestre em Bioquímica e Fisiologia pela UFPE. e-mail: adelmo_cavalcanti@unit.br