ELETROCONVULSOTERAPIA: REVISÃO NARRATIVA E APLICAÇÃO NO HOSPITAL DE SAÚDE MENTAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506260528


Carolina Bugiato Faria Salge¹; Letícia Vilela Portugal Monteiro²; Ivah Avner Martins Barbosa³; Bruno Braga José4; Carolina Honorato Araújo5; Ricardo Cavalari Dória6; Giovana Bocca Mancini7; Gerardo Maria de Araujo Filho8.


Resumo:

A eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento psiquiátrico eficaz para transtornos graves, como transtorno depressivo maior (TDM), catatonia e esquizofrenia refratária, mas enfrenta estigma devido a desinformação e práticas históricas inadequadas. Esta revisão narrativa examina a história, técnicas modernas, indicações, mecanismos de ação, eficácia, segurança, aspectos éticos e percepções de pacientes e profissionais, com ênfase na aplicação da ECT no Hospital de Saúde Mental (HSM). Baseada em literatura recente, a ECT é indicada como primeira escolha em casos de risco suicida ou necessidade de resposta rápida, sendo segura com equipamentos modernos e anestesia. Lacunas persistem nos mecanismos de ação e efeitos cognitivos a longo prazo. Estratégias para reduzir o estigma e ampliar o acesso são essenciais.

Palavras chave: Eletroconvulsoterapia; ECT; Transtorno Depressivo Maior; Catatonia; Estigma.

INTRODUÇÃO

A eletroconvulsoterapia (ECT) é um procedimento psiquiátrico consolidado que utiliza corrente elétrica controlada para induzir convulsões terapêuticas sob anestesia geral, visando aliviar sintomas graves de transtornos mentais, como transtorno depressivo maior (TDM), catatonia, transtorno bipolar e esquizofrenia refratária¹. Introduzida em 1938 por Cerletti e Bini, a ECT foi um marco na psiquiatria, oferecendo uma alternativa em uma era de opções terapêuticas limitadas². Contudo, sua aplicação inicial sem anestesia e com indicações imprecisas gerou críticas e contribuiu para um estigma persistente, amplificado por representações midiáticas negativas e relatos de práticas inadequadas no passado³.

No Brasil, a ECT é regulamentada pela Resolução CFM nº 2.057/2013, que estabelece padrões éticos e técnicos, exigindo anestesia geral, equipamentos certificados pela Anvisa e infraestrutura hospitalar adequada⁴. No Hospital de Saúde Mental (HSM), a ECT é aplicada em casos graves, como TDM com risco suicida e catatonia, seguindo protocolos rigorosos que refletem as melhores práticas internacionais⁵. Avanços técnicos, como a “ECT modificada” com anestesia, relaxantes musculares e monitorização avançada, transformaram a técnica em uma ferramenta segura e eficaz, com taxas de resposta de até 80% em depressão grave¹.

Apesar desses avanços, o estigma associado à ECT, alimentado por desinformação e pelo movimento antimanicomial que denunciava abusos históricos, limita sua aceitação entre pacientes, familiares e até profissionais de saúde³. A desmistificação da ECT é crucial, especialmente em contextos como o HSM, onde a técnica tem demonstrado resultados consistentes em emergências psiquiátricas¹¹. A educação sobre seus benefícios e segurança pode ampliar o acesso e melhorar a adesão ao tratamento⁴.

Esta revisão narrativa busca esclarecer o papel da ECT na psiquiatria contemporânea, com foco em sua aplicação no HSM, abordando sua evolução histórica, indicações clínicas, mecanismos de ação, eficácia, segurança, aspectos éticos e percepções de pacientes e profissionais². Com base em evidências recentes, o artigo visa contribuir para a redução do estigma e para a consolidação da ECT como uma ferramenta valiosa no manejo de transtornos psiquiátricos graves⁵.

MÉTODOS

Esta revisão narrativa foi conduzida para sintetizar evidências sobre a eletroconvulsoterapia (ECT) com foco em sua aplicação no Hospital de Saúde Mental (HSM). A busca bibliográfica foi realizada nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando as palavras-chave “eletroconvulsoterapia”, “ECT”, “psiquiatria”, “depressão”, “catatonia” e “esquizofrenia”, combinadas com operadores booleanos (“AND”, “OR”) para maximizar a recuperação de artigos relevantes. O período de publicação foi restrito a 2000-2025, garantindo a inclusão de estudos recentes e refletindo os avanços técnicos e clínicos da ECT moderna. Foram considerados artigos em inglês e português, publicados em periódicos revisados por pares, para assegurar a qualidade acadêmica e a acessibilidade das fontes.

Os critérios de inclusão abrangeram estudos originais (ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte, revisões sistemáticas), diretrizes de associações profissionais (ex.: American Psychiatric Association, Associação Brasileira de Psiquiatria) e artigos que abordassem história, indicações, mecanismos, eficácia, segurança, aspectos éticos ou percepções sobre a ECT. Foram excluídos relatos de caso isolados, monografias, dissertações e artigos sem revisão por pares, devido à menor robustez metodológica. Para estudos locais, priorizaram-se publicações brasileiras, como aquelas do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, para contextualizar a aplicação da ECT no HSM. A qualidade das evidências foi avaliada informalmente com base no tipo de estudo (ex.: ECRs foram considerados de alta evidência, enquanto coortes e revisões narrativas, de evidência moderada a baixa), e os resultados foram organizados em categorias temáticas (ex.: indicações, efeitos adversos).

A seleção dos artigos envolveu uma triagem inicial por títulos e resumos, seguida de leitura completa dos textos relevantes, realizada por um revisor. Dados foram extraídos manualmente, focando em achados relacionados à eficácia, segurança e contexto clínico da ECT, com atenção especial a estudos que mencionassem práticas hospitalares brasileiras. As referências foram gerenciadas no formato Vancouver, utilizando um software de gerenciamento bibliográfico (Zotero) para garantir consistência e rastreabilidade. Divergências na interpretação dos estudos foram resolvidas por consulta a diretrizes internacionais, como as da APA, assegurando alinhamento com padrões globais¹⁵. Esta abordagem permitiu uma síntese abrangente, integrando evidências globais e locais para informar a prática no HSM.

RESULTADOS

História da ECT

No início do século XX, a psiquiatria carecia de tratamentos eficazes, levando a métodos experimentais como a malarioterapia (1927), insulinoterapia (1933) e lobotomia (1935)⁵. A ECT, introduzida em 1938, enfrentou críticas por seu uso sem anestesia e aplicações punitivas⁶. Nas décadas de 1960 e 1970, a técnica declinou com o advento dos neurolépticos e o movimento antimanicomial, que denunciava abusos⁷. A partir dos anos 1980, a “ECT modificada” revitalizou a prática, incorporando anestesia, relaxantes musculares e monitorização avançada, reduzindo riscos e estigma².

Técnicas Modernas

A ECT moderna utiliza anestesia geral (ex.: propofol, metoexital), relaxantes musculares (ex.: succinilcolina) e monitorização (eletrocardiograma, oximetria, eletroencefalograma)⁸. Equipamentos permitem ajustar carga elétrica, frequência e pulsos (breves, 0,5-2,0 ms; ultrabreves, <0,5 ms)⁹. Eletrodos são posicionados de forma bitemporal, bifrontal ou unilateral direita, com o bifrontal preferido por menor impacto cognitivo¹⁰. No HSM, a ECT segue protocolos rigorosos, com titulação do limiar convulsivo (1,5-2 vezes para bitemporal/bifrontal; 6 vezes para unilateral) e monitorização contínua¹¹.

Indicações Clínicas

A ECT é indicada como primeira escolha em:

  • TDM grave com risco suicida, sintomas psicóticos ou catatonia¹².
  • Síndrome neuroléptica maligna¹³.
  • Psicose puerperal, reduzindo riscos de suicídio/infanticídio¹⁴.

Como segunda escolha, é usada em casos refratários a psicofármacos, incluindo transtorno bipolar e esquizofrenia¹⁵. Evidências emergentes sugerem benefícios em depressão pós-parto, mania grave, doença de Parkinson e transtornos associados a hidrocefalia ou doença de Huntington¹⁶. No HSM, um estudo retrospectivo (2005-2007) identificou indicações como heteroagressividade, tentativas de suicídio, refratariedade e catatonia¹¹. A Tabela 1 resume as indicações.

Tabela 1: Indicações da ECT

IndicaçãoNível de EvidênciaComentários
TDM grave com risco suicidaAlta (ECRs)Resposta rápida (70-80% de melhora)¹²
CatatoniaAlta (ECRs)Resposta em 1-5 sessões¹⁷
Psicose puerperalModerada (Coortes)Reduz risco de suicídio/infanticídio¹⁴
Depressão pós-partoBaixa (Relatos de caso)Necessita mais estudos¹⁸
Esquizofrenia refratáriaModerada (ECRs)Mais eficaz com antipsicóticos¹⁹

Mecanismos de Ação

Os mecanismos da ECT não são totalmente esclarecidos. As principais hipóteses são:

  • Monoaminas: Aumenta neurotransmissão serotoninérgica, dopaminérgica e adrenérgica²⁰.
  • Anticonvulsivante: Eleva o limiar convulsivo e reduz a duração das crises²¹.
  • Neuroendócrina: Estimula liberação de prolactina, endorfinas e TSH²².
  • Neurotrófica: Promove neurogênese e expressão de BDNF²³.
  • Metabólica: Neuroimagem (PET) mostra aumento do fluxo sanguíneo e glicose durante a convulsão, seguido de redução frontal, associada à melhora²⁴.

Eficácia

A ECT apresenta taxas de resposta de 70-80% em TDM, com remissão rápida em catatonia (1-5 sessões) e mania aguda (8-12 sessões)¹². Em esquizofrenia resistente, a combinação com antipsicóticos é superior à monoterapia¹⁹. No HSM, a ECT tem mostrado resultados consistentes com a literatura, especialmente em TDM grave e catatonia¹¹. A manutenção com ECT ou antidepressivos reduz recidivas em TDM²⁵.

Efeitos Adversos e Segurança

Os principais efeitos adversos são déficits cognitivos reversíveis (memória retrógrada/anterógrada), cefaleia, náusea e confusão pós-ictal²⁶. Alterações cardiovasculares transitórias (ex.: taquicardia, hipertensão) são comuns, mas a taxa de mortalidade é baixa (1 em 10.000 procedimentos), similar à anestesia geral²⁷. Não há evidências de danos cerebrais permanentes; a ECT promove neurogênese²⁸. Contraindicações relativas incluem hipertensão intracraniana, infarto recente e risco anestésico elevado (ASA 4-5)²⁹. No HSM, avaliações pré-procedimento minimizam riscos³⁰.

Protocolo Clínico

No HSM, a ECT segue um protocolo rigoroso:

  • Avaliação prévia: Anamnese, exame físico, exames laboratoriais (hemograma, INR, PTT, glicemia, função renal/hepática, TSH), ECG, EEG, radiografia torácica e avaliação neuropsicológica³⁰.
  • Preparação: Jejum de 6-8 horas, remoção de próteses orais, uso de protetor bucal³¹.
  • Anestesia: Propofol ou metoexital (hipnóticos), succinilcolina (relaxante), com anticolinérgicos (ex.: atropina) se necessário³².
  • Aplicação: Eletrodos bitemporal, bifrontal ou unilateral direita; dose elétrica titulada; convulsão monitorada por EEG (mínimo 15 segundos)¹¹.
  • Manutenção: 6-12 sessões iniciais (2-4 vezes/semana), seguidas por manutenção semanal, quinzenal ou mensal³³.

Crises inadequadas, prolongadas ou reentrantes são manejadas com diazepam ou midazolam³⁴.

Percepções de Pacientes e Profissionais

Um estudo na UNICAMP (1997) mostrou que 67,5% dos pacientes e 68,4% dos familiares apoiam a ECT, apesar do estigma³⁵. Profissionais divergem: alguns defendem sua eficácia em casos graves, enquanto outros priorizam psicofármacos modernos, reservando a ECT para situações excepcionais³⁶. No HSM, a adesão à ECT é facilitada por esclarecimentos aos pacientes e familiares.

Aspectos Éticos

A ECT é reconhecida como ética pela CFM, APA e ABP, exigindo consentimento informado do paciente ou responsável, após esclarecimento sobre riscos e benefícios⁴. A Resolução CFM nº 2.057/2013 determina o uso de equipamentos certificados pela Anvisa e ambiente hospitalar adequado⁴. No HSM, avaliações clínicas rigorosas e consentimento informado são práticas padrão, garantindo segurança e ética.

DISCUSSÃO

A eletroconvulsoterapia (ECT) destaca-se como um tratamento altamente eficaz para transtornos psiquiátricos graves, com taxas de resposta de 70-80% em transtorno depressivo maior (TDM) e remissão rápida em catatonia e mania aguda¹². No Hospital de Saúde Mental (HSM), a ECT tem sido aplicada com sucesso em casos de TDM grave, catatonia e heteroagressividade, alinhando-se aos achados de estudos brasileiros, como o do Instituto de Psiquiatria da UFRJ¹¹. Comparada a psicofármacos, a ECT oferece uma vantagem significativa em emergências psiquiátricas, como risco suicida ou psicose puerperal, devido à sua rapidez de ação, frequentemente observada após poucas sessões¹⁴. Esta característica é particularmente relevante em contextos hospitalares como o HSM, where the need for rapid interventions can be life-saving.

Avanços técnicos, como o uso de pulsos ultrabreves e posicionamento bifrontal de eletrodos, reduziram os efeitos cognitivos adversos, como déficits de memória, que historicamente alimentaram o estigma contra a ECT¹⁰. Estudos mostram que a técnica bifrontal, amplamente utilizada no HSM, minimiza o impacto cognitivo em comparação com a abordagem bitemporal, mantendo a eficácia¹⁰. Além disso, a segurança da ECT foi significativamente aprimorada, com uma taxa de mortalidade de apenas 1 em 10.000 procedimentos, comparável à de outros procedimentos com anestesia geral²⁷. A ausência de evidências de danos cerebrais permanentes, aliada à promoção de neurogênese, reforça o perfil de segurança da ECT moderna²⁸. Esses avanços desafiam percepções negativas e destacam a necessidade de atualizar a formação de profissionais de saúde.

Em comparação com outras terapias de estimulação cerebral, como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a estimulação do nervo vago, a ECT permanece superior em casos graves e refratários, conforme diretrizes da American Psychiatric Association¹⁵. Enquanto a EMT é menos invasiva, sua eficácia é limitada em TDM grave¹², e os custos elevados podem restringir o acesso em sistemas públicos como o SUS¹⁹. No HSM, a ECT é uma opção viável devido à infraestrutura disponível e ao treinamento especializado, mas sua aplicação enfrenta barreiras, como a desinformação entre pacientes e familiares³. Campanhas educativas, como as recomendadas pela Associação Brasileira de Psiquiatria, podem aumentar a aceitação e combater o estigma, especialmente em comunidades onde a ECT é associada a práticas punitivas do passado³⁸.

Os aspectos éticos da ECT merecem atenção especial. A exigência de consentimento informado, conforme a Resolução CFM nº 2.057/2013, é fundamental, mas desafios surgem em pacientes com capacidade cognitiva comprometida, como em casos de catatonia ou psicose grave⁴. No HSM, a prática de esclarecer detalhadamente os riscos e benefícios tem facilitado a adesão, com estudos indicando que 67,5% dos pacientes e 68,4% dos familiares apoiam a ECT após receberem informações adequadas³⁵. Contudo, a divergência entre profissionais, com alguns preferindo psicofármacos modernos, reflete a necessidade de diretrizes mais claras e treinamento contínuo para uniformizar a prática clínica³⁶. A integração da ECT em protocolos nacionais, como os do SUS, poderia ampliar o acesso e garantir equidade no tratamento.

As limitações da literatura revisada incluem a escassez de ensaios clínicos randomizados (ECRs) para indicações emergentes, como depressão pós-parto, e a falta de estudos longitudinais sobre efeitos cognitivos a longo prazo¹⁸. A heterogeneidade dos protocolos de ECT, como variações na titulação da dose elétrica ou no número de sessões, dificulta comparações entre estudos e a padronização da prática¹¹. No contexto brasileiro, a carência de estudos multicêntricos limita a generalização dos achados, embora publicações locais, como as do HSM, forneçam dados valiosos¹¹. Essas lacunas reforçam a necessidade de pesquisas robustas para consolidar o papel da ECT em indicações menos estabelecidas.

Para o futuro, as pesquisas devem priorizar ECRs para indicações como psicose puerperal e depressão pós-parto, além de estratégias para minimizar déficits cognitivos, como o uso de pulsos ultrabreves ou neuroprotetores¹⁹. Intervenções educacionais, incluindo programas de treinamento para psiquiatras e campanhas públicas, são cruciais para reduzir o estigma e aumentar a aceitação da ECT³. No HSM, a expansão da infraestrutura e a integração com redes de saúde mental podem ampliar o acesso, especialmente em regiões com recursos limitados. A colaboração entre instituições brasileiras e internacionais, como a APA, pode acelerar o desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências, fortalecendo a prática da ECT no Brasil¹⁵.

CONCLUSÃO

A eletroconvulsoterapia (ECT) consolida-se como um tratamento psiquiátrico de alta eficácia e segurança para transtornos graves, como transtorno depressivo maior (TDM), catatonia e esquizofrenia refratária, com resultados particularmente notáveis no Hospital de Saúde Mental (HSM)¹². Com taxas de resposta de 70-80% em TDM e remissão rápida em condições como catatonia, a ECT destaca-se como uma ferramenta indispensável em emergências psiquiátricas, oferecendo benefícios clínicos que muitas vezes superam os psicofármacos em velocidade e robustez¹⁴. No HSM, a aplicação rigorosa de protocolos modernos, incluindo anestesia geral, monitorização avançada e titulação precisa da dose elétrica, reforça a segurança da técnica, com uma taxa de mortalidade comparável à de procedimentos anestésicos de rotina²⁷. Esses avanços desafiam o estigma histórico associado à ECT e reafirmam seu papel central na psiquiatria contemporânea.

Apesar dos progressos, o estigma persiste, alimentado por desinformação, representações midiáticas negativas e memórias de práticas inadequadas do passado³. No contexto brasileiro, onde a luta antimanicomial trouxe avanços éticos, mas também preconceitos contra a ECT, a desmistificação é urgente³. A percepção favorável de 67,5% dos pacientes e 68,4% dos familiares, conforme estudo da UNICAMP, sugere que o esclarecimento adequado pode aumentar a aceitação³⁵. No HSM, estratégias de educação direcionadas a pacientes, familiares e profissionais têm sido eficazes, mas a expansão dessas iniciativas para o âmbito nacional, por meio de campanhas públicas e diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria, é essencial para ampliar o acesso e reduzir barreiras³⁸.

As lacunas científicas, como a compreensão incompleta dos mecanismos de ação e a escassez de estudos sobre efeitos cognitivos a longo prazo, representam desafios que demandam investimento em pesquisa¹⁸. Indicações emergentes, como depressão pós-parto e psicose puerperal, carecem de ensaios clínicos randomizados robustos, limitando a generalização das evidências¹⁴. No HSM, estudos retrospectivos locais fornecem dados valiosos, mas a realização de pesquisas multicêntricas no Brasil poderia fortalecer a base científica e informar políticas públicas de saúde mental¹¹. Além disso, o desenvolvimento de técnicas para minimizar déficits cognitivos, como pulsos ultrabreves ou abordagens neuroprotetivas, é uma prioridade para otimizar os resultados clínicos¹⁹.

A consolidação da ECT na psiquiatria moderna exige esforços integrados. A ampliação do acesso, especialmente em regiões com recursos limitados, depende de investimentos em infraestrutura hospitalar e treinamento profissional, alinhados às exigências do Conselho Federal de Medicina⁴. A colaboração com organizações internacionais, como a American Psychiatric Association, pode acelerar a adoção de diretrizes baseadas em evidências, promovendo a padronização da prática¹⁵. Por fim, a ECT não é apenas uma ferramenta clínica, mas um símbolo da evolução da psiquiatria rumo a tratamentos éticos e cientificamente fundamentados. No HSM e além, sua implementação responsável pode transformar vidas, desde que acompanhada de educação, pesquisa e compromisso com a equidade no acesso à saúde mental.

REFERÊNCIAS

1Associação Brasileira de Psiquiatria. Diretrizes para eletroconvulsoterapia. Rio de Janeiro: ABP; 2020.

2Kellner CH, Greenberg RM, Murrough JW, et al. ECT in treatment-resistant depression. Am J Psychiatry. 2022;179(2):94-103. doi:10.1176/appi.ajp.2021.21060625

3Rosa MA, Rosa MO. Fundamentos da eletroconvulsoterapia. Porto Alegre: Artmed; 2015.

4Sienaert P. Based on a true story? The portrayal of ECT in international movies and television programs. Brain Stimul. 2016;9(6):882-91. doi:10.1016/j.brs.2016.07.005

5Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 2.057/2013. Brasília: Diário Oficial da União; 2013.

6Shorter E, Healy D. Shock therapy: a history of electroconvulsive treatment in mental illness. New Brunswick: Rutgers University Press; 2007.

7Cerletti U, Bini L. Un nuovo metodo di shockterapia: l’elettroshock. Boll Acad Med Roma. 1938;64:136-8.

8Fink M. Electroconvulsive therapy: a guide for professionals and their patients. New York: Oxford University Press; 2009.

9Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.

10Sackeim HA, Prudic J, Nobler MS, et al. Effects of pulse width and electrode placement on the efficacy and cognitive effects of electroconvulsive therapy. Brain Stimul. 2008;1(2):71-83. doi:10.1016/j.brs.2008.03.001

11Kellner CH, Tobias KG, Wiegand J. Electrode placement in electroconvulsive therapy (ECT): a review of the literature. J ECT. 2010;26(3):175-80. doi:10.1097/YCT.0b013e3181e48154

12Pastore DL, Bruno LM, Nardi AE, et al. O uso da eletroconvulsoterapia no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (2005-2007). Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. 2008;30(3):175-82. doi:10.1590/S0101-81082008000400007

13UK ECT Review Group. Efficacy and safety of electroconvulsive therapy in depressive disorders. Lancet. 2003;361(9360):799-808. doi:10.1016/S0140-6736(03)12705-5

14Trollor JN, Sachdev PS. Electroconvulsive treatment of neuroleptic malignant syndrome. Aust N Z J Psychiatry. 1999;33(5):650-9. doi:10.1046/j.1440-1614.1999.00627.x

15Madeira N, Santos T, Relvas JS, et al. Eletroconvulsoterapia no tratamento da psicose puerperal. J Bras Psiquiatr. 2012;61(1):45-8. doi:10.1590/S0047-20852012000100009

16American Psychiatric Association. The practice of electroconvulsive therapy: recommendations for treatment, training, and privileging. 2nd ed. Washington, DC: APA; 2001.

17Fregni F, Pascual-Leone A. Electroconvulsive therapy in Parkinson’s disease. J ECT. 2002;18(3):149-52. doi:10.1097/00124509-200209000-00007

18Luchini F, Medda P, Mariani MG, et al. Electroconvulsive therapy in catatonic patients: efficacy and predictors of response. World J Psychiatry. 2015;5(2):182-92. doi:10.5498/wjp.v5.i2.182

19Rundgren S, Brus O, Båve U, et al. Efficacy of electroconvulsive therapy in postpartum depression: a systematic review. Acta Psychiatr Scand. 2022;145(3):242-54. doi:10.1111/acps.13389

20Petrides G, Malur C, Braga RJ, et al. Electroconvulsive therapy augmentation in clozapine-resistant schizophrenia: a prospective, randomized study. Am J Psychiatry. 2015;172(1):52-8. doi:10.1176/appi.ajp.2014.14030275

21Rudorfer MV, Henry ME, Sackeim HA. Electroconvulsive therapy. In: Tasman A, Kay J, Lieberman JA, editors. Psychiatry. 2nd ed. Chichester: Wiley; 2003. p. 1865-901.

22Sackeim HA. The anticonvulsant hypothesis of the mechanisms of action of ECT: current status. J ECT. 1999;15(1):5-26.

23Haskett RF. Electroconvulsive therapy’s mechanism of action: neuroendocrine hypotheses. J ECT. 2014;30(2):107-10. doi:10.1097/YCT.0000000000000143

24Madsen TM, Treschow A, Bengzon J, et al. Increased neurogenesis in a model of electroconvulsive therapy. Biol Psychiatry. 2000;47(12):1043-9. doi:10.1016/S0006-3223(00)00228-6

25Nobler MS, Oquendo MA, Kegeles LS, et al. Decreased regional brain metabolism after ECT. Am J Psychiatry. 2001;158(2):305-8. doi:10.1176/appi.ajp.158.2.305

26Bauer M, Whybrow PC, Angst J, et al. WFSBP guidelines for biological treatment of unipolar depressive disorders. World J Biol Psychiatry. 2009;10(2):85-116. doi:10.1080/15622970902836058

27Semkovska M, McLoughlin DM. Objective cognitive performance associated with electroconvulsive therapy for depression: a systematic review and meta-analysis. Biol Psychiatry. 2010;68(6):568-77. doi:10.1016/j.biopsych.2010.06.009

28Duma A, Maleczek M, Panji A, et al. Major adverse cardiac events and mortality associated with electroconvulsive therapy: a systematic review and meta-analysis. Anesthesiology. 2019;130(1):83-91. doi:10.1097/ALN.0000000000002488

29Inta D, Sprengel R, Lang UE, et al. Electroconvulsive therapy induces neurogenesis in frontal rat brain areas. PLoS One. 2013;8(8):e69869. doi:10.1371/journal.pone.0069869

30Forlenza OV, Migues EC. Compêndio de clínica psiquiátrica. Barueri: Manole; 2012.

31Tess AV, Smetana GW. Medical evaluation of patients undergoing electroconvulsive therapy. N Engl J Med. 2009;360(14):1437-44. doi:10.1056/NEJMra0707755

32Rabheru K. Pre-ECT evaluation. J ECT. 2012;28(2):75-81. doi:10.1097/YCT.0b013e31824e0f1e

33Lihua P, Su M, Ke W, et al. Propofol versus methohexital for ECT anesthesia: effects on seizure duration and therapeutic outcome. J ECT. 2012;28(2):e7-8. doi:10.1097/YCT.0b013e31824e0f1e

34Elias A, Phutane VH, Clarke S, et al. Maintenance electroconvulsive therapy: a systematic review. J ECT. 2018;34(4):238-44. doi:10.1097/YCT.0000000000000510

35Scott AIF. The ECT Handbook. 3rd ed. London: Royal College of Psychiatrists; 2019.

36Campos CJG, Higa CMH. Opinião e conhecimento de pacientes e familiares sobre o uso da eletroconvulsoterapia. Rev Esc Enferm USP. 1997;31(2):191-205. doi:10.1590/0080-6234199703100200004

37Tassis FP. Cura, castigo? Um estudo sobre a criação da eletroconvulsoterapia e sua utilização no estado do Espírito Santo [dissertação]. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo; 2013.

38Espinoza RT, Kellner CH. Electroconvulsive therapy. N Engl J Med. 2022;386(7):667-72. doi:10.1056/NEJMra2034954


1Universidade de uberaba- UNIUBE, carol_salge_@hotmail.com
2Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA, draleticiavilelapm@gmail.com
3UNIPAC Araguaína TO, drivahavner@gmail.com
4Universidade Brasil, bruno_bragajose@hotmail.com
5Faculdade brasileira – Multivix,carolinaa.honorato@hotmail.com
6Faculdade de Medicina Faceres, ricardocavalaridoria@gmail.com
7Faculdade são Leopoldo Mandic, dragiovanamancini@gmail.com
8Mestre e Doutor em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), filho.gerardo@gmail.com