REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202504161850
ROSA, Glaucio J. F.1
Prof.ª Orientadora: CORREA, Vanessa de Paula2
Resumo
Este artigo analisa práticas pedagógicas e teóricas relacionadas ao ensino de estatística na educação de jovens e adultos (EJA), com foco em desafios e estratégias para promover uma aprendizagem mais significativa e eficaz. Com base em pesquisa qualitativa e bibliográfica, foram investigadas publicações acadêmicas de 2013 a 2023 disponíveis em plataformas como Google Acadêmico, SciELO e repositórios institucionais brasileiros. O estudo identificou desafios que dificultam a contextualização das estatísticas, incluindo evasão escolar, baixa motivação dos alunos e treinamento inadequado dos professores. Além disso, foi apontado que há uma carência de materiais didáticos adaptados às realidades socioculturais dos alunos, o que contribui para o distanciamento entre o aprendizado e a vida cotidiana. Os resultados indicam que métodos ativos, materiais contextuais e tecnologias digitais podem aumentar o envolvimento na aprendizagem, promover a alfabetização estatística e aprimorar a aplicação prática de conceitos. A utilização da etnomatemática revelou-se particularmente eficaz na ligação dos conteúdos estatísticos com as experiências culturais dos discentes, promovendo assim a inclusão social e o desenvolvimento do pensamento crítico. Este estudo também destaca a importância das políticas públicas para formação dos professores e o fornecimento de recursos educacionais para atender às peculiaridades da EJA. Conclui-se que a educação estatística, se planejada de forma contextual e abrangente, tem potencial transformador para promover a cidadania ativa e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; Ensino de Estatística; Metodologias Ativas; Etnomatemática; Formação Docente; Letramento Estatístico.
1. Introdução
O ensino de Estatística na Educação de Jovens e Adultos (EJA) configura-se em um desafio significativo e traz oportunidades únicas no campo educacional. Considerando as peculiaridades desse público, a presente pesquisa investigou como o ensino de Estatística pode ser planejado e implementado na modalidade EJA, de modo a possibilitar uma aprendizagem significativa e conectada ao cotidiano dos estudantes. O problema central desta pesquisa foi: como o ensino de Estatística pode ser estruturado para atender às necessidades específicas da EJA?
Este trabalho é justificado pela importância do conhecimento em Estatística no desenvolvimento do pensamento crítico, ferramenta essencial para a inclusão social em uma sociedade cada vez mais orientada por dados. A Estatística desempenha um protagonismo na interpretação de informações e na tomada de decisões conscientes, o que a torna um componente imprescindível para a formação de cidadãos críticos e participativos.
No contexto da EJA, sua relevância é ainda maior, considerando o perfil dos estudantes, geralmente composto por indivíduos que conciliam o retorno aos estudos com a vida profissional e familiar. Essa característica demanda práticas pedagógicas que sejam adaptadas não apenas ao tempo e à disponibilidade dos estudantes, mas também às suas experiências de vida.
A literatura aponta que o ensino de Estatística na EJA enfrenta obstáculos significativos. Entre eles, destacam-se a evasão escolar, a desmotivação dos estudantes e a insuficiência de formação específica por parte dos docentes. Há também a ausência de materiais didáticos adequados e metodologias que conectem a Estatística às vivências culturais dos estudantes, o que agrava os desafios.
Esses fatores não apenas dificultam o aprendizado, mas contribuem para a uma falsa percepção da Estatística ser uma disciplina distante e pouco aplicável à realidade cotidiana social.
Apesar disso, estudos têm destacado a importância de práticas pedagógicas inovadoras, capazes de promover a contextualização de conteúdos, tornando o aprendizado mais alinhado à vivência dos estudantes. Práticas como a etnomatemática e o uso de metodologias ativas têm mostrado grande potencial para superar esses desafios.
Considerando a etnomatemática, verifica-se a valorização dos saberes locais e as vivências culturais dos discentes, criando um vínculo entre o conteúdo acadêmico e as experiências individuais e comunitárias. Tal abordagem permite que os aprendizes vejam a Estatística como uma ferramenta prática e útil, com aplicação nas questões reais que fazem parte de seu cotidiano e como a análise de dados relacionados ao trabalho, à saúde e à economia familiar podem ser aplicadas em suas rotinas diárias.
Já as metodologias ativas, ao incentivar a participação e o protagonismo dos alunos, ajudam a construir um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e significativo. Estratégias como projetos interdisciplinares, resolução de problemas baseados em dados reais e o uso de tecnologias digitais têm sido amplamente reconhecidas por aumentar o engajamento e melhorar os resultados educacionais.
É possível constatar que uma análise de dados coletados sobre temas do cotidiano, como transporte público e alimentação saudável, possibilita aos alunos compreenderem conceitos estatísticos de forma aplicada e concreta.
Assim, o objetivo geral deste trabalho foi analisar estratégias pedagógicas aplicadas no ensino de Estatística na EJA e seus impactos na aprendizagem e na formação cidadã. Para alcançar esse objetivo, a pesquisa também explorou como os saberes socioculturais dos estudantes podem ser integrados ao ensino de Estatística, de modo a torná-lo mais significativo e acessível.
Essa perspectiva valorizou o contexto dos alunos, aproximando o conteúdo acadêmico de suas realidades cotidianas. A relevância desse objetivo baseia-se na possibilidade de construir uma educação estatística que vá além do domínio técnico, incorporando valores como inclusão social, pensamento crítico e cidadania ativa.
Metodologicamente, foi realizada uma pesquisa qualitativa de abordagem bibliográfica. A coleta de dados incluiu publicações científicas dos últimos 10 anos, disponíveis em bases como Scielo, Google Acadêmico e Periódicos CAPES.
Os materiais foram organizados em três eixos principais: estratégias pedagógicas, desafios enfrentados por professores e alunos, e pedagogia das práticas. Esses eixos foram analisados à luz de teorias que destacam a importância da contextualização no ensino de Estatística, como as que envolvem a etnomatemática e o uso de tecnologias digitais.
Além disso, a pesquisa buscou identificar os aspectos deficientes elencados na literatura, apontando possíveis caminhos para a implementação de práticas mais inclusivas e eficazes. Este estudo não apenas contribui para o debate acadêmico e pedagógico, mas também oferece subsídios que permitam o aperfeiçoamento do ensino de Estatística na EJA.
Esse trabalho foi organizado em seções baseadas em uma lógica de progressão investigativa. A seção de metodologia descreveu os procedimentos adotados na pesquisa, a revisão bibliográfica trouxe as principais contribuições teóricas e empíricas sobre o tema e as considerações trouxeram uma análise da situação do ensino de Estatística, sintetizando as estratégias levantadas e destacando as possíveis soluções para a questão em foco, com o intuito de reunir as contribuições do estudo e sugerir caminhos promissores para futuras investigações.
Este estudo procurou destacar contribuições relevantes que possam inspirar novas reflexões sobre a importância de uma abordagem educacional transformadora, que reconheça e valorize a diversidade de experiências dos estudantes da EJA.
Dessa forma, buscou-se promover não apenas o aprendizado técnico, mas também a formação de cidadãos críticos, conscientes e participativos.
2. Metodologia
Esta pesquisa foi desenvolvida com base em uma abordagem qualitativa e de caráter bibliográfico, em que o principal objetivo foi analisar práticas pedagógicas e teóricas relacionadas ao ensino de Estatística na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A abordagem qualitativa foi escolhida por sua capacidade de interpretar e compreender as contribuições acadêmicas sobre o tema, possibilitando uma análise crítica das publicações existentes e sua relação com os desafios práticos da educação na modalidade EJA.
O caráter bibliográfico justificou-se pela ampla disponibilidade de materiais previamente publicados, como artigos científicos, dissertações, teses e outros documentos acadêmicos, os quais foram fundamentais para a construção de uma base sólida de investigação sobre metodologias e práticas pedagógicas voltadas ao ensino de Estatística. Além disso, a natureza bibliográfica da pesquisa permitiu a captura de diferentes perspectivas e garantiu a relevância das informações coletadas.
Visando garantir tanto a transparência quanto a replicabilidade do processo, a condução da pesquisa seguiu algumas etapas. Inicialmente, foi estabelecido um conjunto de plataformas e repositórios acadêmicos para a coleta de materiais relevantes, dentre elas, merecem destaque o Google Scholar, reconhecido por sua abrangência e facilidade de acesso a trabalhos acadêmicos de domínio público, permitindo a consulta a pesquisas de diversas áreas do conhecimento, o que ampliou significativamente o escopo da investigação.
Outra plataforma relevante foi a SciELO, base que reúne artigos de revistas científicas brasileiras e latino-americanas. Essa plataforma foi escolhida por sua relevância no contexto acadêmico regional, agregando diversos repositórios institucionais brasileiros, como os das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e do Piauí (UFPI), além do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), os quais serviram como bases consultivas para este estudo. Além desses, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) desempenhou um papel essencial na consulta a dissertações e teses. Essas bases, em conjunto, garantiram uma abordagem diversificada e ampla, indispensável para acessar materiais relevantes sobre o ensino de Estatística na EJA.
As buscas foram pautadas por palavras-chave relacionadas ao tema central. As expressões utilizadas incluíram “Educação de Jovens e Adultos”, “Ensino de Estatística”, “Metodologias Pedagógicas” e “Aprendizagem Estatística”. Essas palavras-chave foram aplicadas tanto de forma independente quanto combinada, em todas as plataformas mencionadas, de modo a maximizar o número de publicações encontradas. Por exemplo, no Google Scholar, a busca inicial resultou em um total de 95 publicações relacionadas ao tema. Em outras bases, como SciELO e repositórios institucionais, o número de publicações foi ampliado, permitindo maior alcance e diversidade.
Para selecionar os materiais mais relevantes, foram aplicados critérios de exclusão, com destaque para o período de publicação, restrito a obras publicadas entre 2013 e 2023. Além disso, optou-se por selecionar apenas textos em português, garantindo maior proximidade com o contexto educacional brasileiro. Outro critério fundamental foi a acessibilidade, com prioridade para acesso a textos completos, de modo a permitir uma análise detalhada. Também foram avaliados o título e o resumo de cada publicação, selecionando aqueles que apresentavam maior alinhamento com os objetivos da pesquisa. Após essa triagem, o número inicial de publicações foi reduzido para 25 trabalhos relevantes, dos quais 15 obras foram selecionadas para análise aprofundada, considerando sua possibilidade de contribuição para a pesquisa.
A organização e interpretação dos dados coletados foram realizadas com base em critérios de categorização das informações como título, autoria, fonte de publicação, objetivos descritos e principais resultados apresentados. As publicações foram classificadas em três categorias principais: (1) estratégias pedagógicas para o ensino de Estatística, (2) desafios enfrentados na modalidade EJA e (3) práticas voltadas para a aprendizagem estatística. Por exemplo, na categoria “Estratégias Pedagógicas”, foram analisadas metodologias inovadoras e recursos específicos utilizados no ensino de Estatística, com ênfase em suas aplicações no contexto educacional.
Na categoria ‘Desafios’, analisaram-se as principais barreiras enfrentadas por professores e alunos da EJA, como a escassez de recursos didáticos e as limitações de infraestrutura. Essa análise possibilitou a identificação de padrões, tendências e lacunas nas publicações selecionadas.
A tabela organizada possibilitou a sistematização da análise e ofereceu um panorama claro das práticas pedagógicas estudadas. Uma das publicações analisadas explorou o uso de planilhas eletrônicas como ferramenta de ensino da Estatística, demonstrando sua eficácia na aprendizagem de conceitos básicos. O estudo indicou que as planilhas oferecem uma abordagem prática e acessível para os alunos da EJA, facilitando sua aplicação em contextos reais.
Embora esta pesquisa tenha utilizado apenas fontes secundárias, a diversidade de fontes e a riqueza das publicações consultadas contribuíram para mitigar essa limitação. A utilização de várias plataformas e repositórios acadêmicos proporcionou uma base sólida e abrangente de informações. Com isso, o estudo proporcionou uma visão ampla e fundamentada das práticas pedagógicas e dos desafios do ensino de Estatística na EJA e buscou fomentar reflexões relevantes e contribuir para avanços no campo educacional, reforçando a importância de metodologias adaptadas a esse contexto.
3. Revisão Bibliográfica
Embora a Estatística seja reconhecida e consolidada como uma ferramenta essencial para a leitura e interpretação da realidade, verifica-se que, no contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA), sua aplicação ainda apresenta desafios significativos, uma vez que muitos alunos relatam dificuldades não apenas em compreender os conceitos estatísticos, como também em enxergar sua utilidade no cotidiano. Pesquisas e relatos de educadores indicam que fatores como evasão escolar e falta de materiais contextualizados ampliam esse problema, tornando a aprendizagem desafiadora e, por vezes, desmotivadora.
O domínio da Estatística ainda é limitado em diversas áreas do conhecimento, o que se reflete também entre os professores, inclusive aqueles que lecionam matemática. Segundo Andrade e Guimarães (2023), a ausência de uma formação específica em Estatística compromete tanto o aprendizado dos professores quanto sua capacidade de contextualizar os conteúdos para os alunos. Os autores apontam que, em muitos casos, os docentes utilizam apenas materiais genéricos, sem considerar as realidades socioculturais dos estudantes, o que resulta em prejuízos significativos para a aprendizagem, sobretudo em turmas com perfis diversos.
A falta de recursos pedagógicos que conectem a Estatística à realidade agrava esse déficit de conhecimento. Conti e Carvalho (2009) destacam que a desconexão entre os materiais didáticos e as vivências dos alunos prejudica o engajamento e a aprendizagem, mostrando a carência de materiais mais contextualizados à realidade cotidiana discente. As atividades que utilizam dados rotineiros, como informações sobre transporte público, hábitos de consumo ou dados sobre a saúde da comunidade, poderiam tornar os conceitos mais concretos e aplicáveis, valorizando as experiências dos alunos e facilitando a compreensão dos conceitos estatísticos, o que poderia constituir-se em um caminho promissor para a superação desse obstáculo.
Além do domínio do conteúdo, a capacidade dos educadores de contextualizar os conceitos teóricos nas atividades diárias dos alunos é essencial para o aprendizado. Ferreira (2022) enfatiza que o ensino de Estatística se torna mais eficaz quando incorpora elementos culturais e experiências cotidianas dos estudantes, promovendo uma aprendizagem mais inclusiva. No estudo de caso citado pela autora, foi realizada uma abordagem onde os alunos foram incentivados a coletar dados sobre práticas culturais locais de suas comunidades, como feiras e festivais, a fim de explorar conceitos como média e frequência, gerando como resultado uma compreensão mais clara dos conceitos abordados e um elevado grau de envolvimento por parte dos alunos.
Existem profissionais que, cientes da complexidade e dimensão do cenário em questão, enxergam oportunidades de melhoria e inovação pedagógicas, de forma a tornar a aprendizagem menos monótona, mais interessante e atrativa. O trabalho de Barreto (2021) aponta que a ausência de metodologias ativas e práticas inovadoras limitam a eficácia do ensino de Estatística na EJA, já que a adoção de práticas com o uso de jogos educativos ou a introdução de projetos baseados em dados reais têm demonstrado um impacto positivo. A autora descreve uma atividade em que jogos de tabuleiro foram usados para ensinar probabilidades, o que promoveu uma dinâmica de aula mais interativa e envolvente.
Dado que a Estatística está presente em diversas esferas do cotidiano, sua aplicação a acontecimentos atuais pode enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Scherwenske e Rodrigues (2010) indicam que o uso de temas contemporâneos, como processos eleitorais, é uma abordagem eficiente para contextualizar o ensino de Estatística. Essa estratégia, além de despertar o interesse dos alunos, relaciona e fomenta discussões sociais e políticas, incentivando um aprendizado mais engajado e crítico. Um exemplo mencionado no estudo foi a análise de pesquisas eleitorais reais, onde os alunos trabalharam com margens de erro e distribuição de frequência para entender melhor os conceitos estatísticos e a relação com o cenário político nacional.
O uso de temas atuais pode ser uma estratégia eficaz para aumentar o engajamento dos estudantes. Sousa (2019) argumenta que o ensino de Estatística se torna ainda mais significativo quando inclui atividades que desafiam os alunos a aplicar os conceitos aprendidos em cenários reais. Em seu trabalho, o autor cita como exemplo uma atividade na qual os estudantes coletaram dados sobre a acessibilidade em suas comunidades e geraram gráficos e tabelas que contribuíram para uma análise crítica da realidade local. Essa metodologia interdisciplinar foi capaz de ampliar o engajamento dos aprendizes e promover a reflexão sobre questões sociais, trazendo um grande reforço no reconhecimento da importância e da aplicabilidade da Estatística na vida rotineira de toda sociedade.
O engajamento dos educandos também foi abordado por Santos e Ignacio (2020) cujo trabalho destaca que a inclusão de questões relacionadas à economia familiar e à sustentabilidade no ensino de Estatística aumenta sua relevância e favorece a compreensão da disciplina. Como exemplo, os autores citam o desenvolvimento de um projeto no qual os alunos investigaram os gastos energéticos de suas residências, calcularam médias e proporções, e discutiram alternativas para redução do consumo. Ignácio reforça que a abordagem prática auxilia na compreensão dos conceitos estatísticos, ao conectá-los diretamente ao cotidiano dos estudantes.
A necessidade da formação continuada de professores é um dos aspectos centrais para a melhoria do ensino. Muitos docentes enfrentam dificuldades não apenas conceituais, mas também metodológicas, especialmente na construção de gráficos e na análise de dados. A pesquisa de Andrade e Guimarães (2023) sugere a implementação de oficinas práticas como estratégia para superar essas dificuldades. Nessas atividades, os professores trabalhariam com dados locais na construção de gráficos e tabelas, conectando o conteúdo à realidade dos alunos. Os autores citam, como exemplo, oficinas que analisam o consumo de energia elétrica em comunidades locais, permitindo que os docentes explorem conceitos estatísticos de forma mais aplicada e significativa.
Práticas pedagógicas bem estruturadas também podem transformar a experiência de aprendizagem. Atividades que integrem tecnologia e temas do cotidiano potencializam a melhoria do desempenho acadêmico e fortalecem o pensamento crítico. Lima et al. (2023) ressaltam a eficácia de atividades que integram esses elementos, enquanto Saraiva (2015) descreve um projeto bem-sucedido em que o uso de planilhas eletrônicas serviu como base para cálculos de médias e desvios padrão, a partir de dados coletados sobre consumo de água e energia. Tal prática foi capaz de alinhar os conceitos estatísticos às questões ambientais e econômicas na comunidade, promovendo um aprendizado efetivo.
A aprendizagem ativa, por sua vez, tem se mostrado uma alternativa eficaz para engajar os alunos. Um estudo de Metodologias Ativas (2023) destaca a importância de conectar a educação estatística às realidades dos alunos, e que práticas interativas têm a capacidade promover o aprendizado, a autonomia e a participação ativa estudantil. A criação de um projeto onde os estudantes investigaram a saúde alimentar local, por meio da coleta de dados sobre consumo de frutas e vegetais, juntamente com a análise dos resultados em sala, por meio da aplicação de conceitos estatísticos de forma prática e da discussão sobre a relação desses resultados com a qualidade de vida, é descrita como sendo um exemplo de sucesso.
A conexão entre Estatística e temas relevantes para a sociedade pode proporcionar um ensino mais contextualizado e motivador. Questões relacionadas à saúde pública, por exemplo, oferecem uma rica oportunidade para explorar conceitos estatísticos em sala de aula. Nascimento (2017) apresenta um estudo destacando que atividades interdisciplinares, como pesquisas sobre saúde e tabagismo, ajudam a conectar os conceitos estatísticos à vida cotidiana. Nesse trabalho, gráficos e tabelas, criados pelos estudantes para ilustrar dados de saúde local, resultaram em grande participação estudantil com elevada compreensão do conteúdo, além de despertar discussões relevantes sobre saúde pública.
Outro aspecto essencial para a efetividade do ensino da Estatística na EJA é a integração dos conteúdos às vivências socioculturais dos alunos. Ferreira (2022) destaca que a etnomatemática oferece uma base sólida para esse tipo de contextualização, utilizando elementos culturais para tornar o aprendizado mais significativo. Esse conceito pode ser observado em atividades que exploram padrões numéricos presentes no artesanato, na culinária e no comércio local, onde padrões de artesanato local foram aplicados para ensinar conceitos como proporções e percentuais. O uso dos conceitos matemáticos associados às referências familiares e cotidianas dos discentes gerou maior engajamento e compreensão.
Nessa mesma perspectiva, Silva (2023) contribui com uma proposta prática de integração da etnomatemática no ensino, ressaltando que a abordagem contextualizada pode ampliar o significado da aprendizagem matemática. Seu trabalho descreve que os alunos analisaram dados sobre a produção agrícola local e utilizaram esses números para aprender sobre médias e gráficos, associando os conceitos matemáticos à rotina de suas famílias. Esse tipo de estratégia não apenas facilitou a compreensão dos conteúdos, mas também reforçou a aplicabilidade da Estatística em cenários reais.
O impacto da Estatística vai além da sala de aula e pode contribuir para o desenvolvimento de cidadãos mais críticos e participativos. Quando aplicada na análise de políticas públicas, a Estatística se torna uma ferramenta essencial para a formação cidadã. Jannuzzi (2019) enfatiza que indicadores sociais, como taxas de escolaridade e dados de saúde, podem ser explorados pedagogicamente para estimular reflexões sobre desigualdade, acesso a direitos e planejamento urbano. Dessa forma, o ensino de Estatística na EJA pode extrapolar o caráter técnico e assumir um papel transformador na sociedade.
A capacitação dos professores também precisa acompanhar essa perspectiva inovadora. Pereira e Leite (2024) argumentam que a formação docente deve incluir conteúdos ligados à etnomatemática, valorizando os saberes socioculturais dos alunos e promovendo uma abordagem pedagógica mais significativa. A pesquisa relata um programa de formação continuada que capacitou professores a trabalharem com dados relacionados à economia local, promovendo aulas mais contextualizadas e relevantes.
Além dos saberes locais, a inserção de práticas atuais da vida social deve ser levada em consideração, no processo de aperfeiçoamento profissional. Badassie (2020) enfatiza que a formação docente desempenha um papel central na eficácia do ensino de Estatística na EJA, ao destacar que programas de capacitação contínua que consigam incluir práticas interativas com o uso de tecnologias digitais, têm grande potencial em superar as lacunas de formação e promover uma experiência de aprendizagem mais enriquecedora.
Por fim, a pesquisa de Barreto (2021) reforça a importância da construção de ambientes de aprendizado colaborativos capazes de permitir que os alunos participem ativamente da construção do conhecimento. Sua dissertação apresenta a experiência de professores que incentivaram a criação de gráficos em grupo, promovendo a troca de conhecimentos entre os estudantes e facilitando a assimilação dos conceitos estatísticos.
Percebe-se ainda, como enfatizado por Gadelha (2017), ser essencial que os professores compreendam as especificidades culturais de seus alunos para integrar práticas pedagógicas que considerem a diversidade presente no público da EJA. A etnomatemática, nesse contexto, além de valorizar as vivências dos alunos, cria uma conexão mais direta entre o aprendizado e suas realidades, fato corroborado por Silva (2023). Tais práticas são fundamentais para a transformação do ensino de Estatística em uma experiência significativa e inclusiva.
4. Conclusão
Os achados desta pesquisa evidenciaram que, de forma semelhante aos estudos de Andrade e Guimarães (2023), as principais dificuldades enfrentadas no ensino de Estatística na EJA incluem a evasão escolar, a desmotivação dos estudantes e a falta de formação específica dos professores para contextualizar os conteúdos. Além disso, em consonância com Conti e Carvalho (2009), observou-se que a ausência de materiais didáticos adaptados às realidades socioculturais dos alunos contribui para um ensino descontextualizado e pouco atrativo.
Por outro lado, essa realidade também apresenta oportunidades para a transformação pedagógica. A realização de abordagens inovadoras, como a etnomatemática e as metodologias ativas, pode contribuir para a melhoria do ensino de Estatística na EJA. Tais medidas estão alinhadas com pesquisas anteriores, como as de Ferreira (2022) e Silva (2023), que destacam a importância da utilização de elementos culturais, temas do cotidiano e tecnologias digitais para promover uma aprendizagem mais significativa. Essas estratégias conectam o conhecimento matemático às experiências dos alunos, ampliando a inclusão social. Exemplos como a análise de consumo energético e a coleta de dados sobre acessibilidade local, utilizados por Sousa (2019) e Santos e Ignácio (2020) , também demonstram o impacto positivo dessas estratégias na formação cidadã dos estudantes.
Da mesma forma que os trabalhos de Badassie (2020) e Barreto (2021), esta pesquisa também reforçou a necessidade de políticas públicas voltadas para a capacitação continuada dos professores, assegurando recursos e suporte para a implementação de metodologias mais eficazes. A adoção de programas que valorizem os saberes locais e incentivem o uso de dados reais é fundamental para garantir que os conteúdos estatísticos se tornem relevantes e aplicáveis na rotina dos estudantes.
Por tudo isso, foi possível concluir que o ensino de Estatística na EJA deve transcender seu caráter técnico, transformando-se em uma experiência inclusiva e culturalmente significativa, de modo a contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico dos estudantes da EJA e para o fortalecimento e construção de uma sociedade mais equitativa e participativa. Tais feitos ocorrem ao desenvolver a capacidade crítica e analítica dos estudantes, diante das métricas e indicadores que permeiam o cotidiano social. Assim, da mesma forma que Januzzi (2019), nota-se que ao valorizar as vivências e especificidades do público da EJA, o ensino de Estatística pode desempenhar um papel crucial na democratização do conhecimento e na formação de cidadãos mais críticos e atuantes.
Por fim, este estudo ressalta a necessidade de investigações futuras que avaliem o impacto de longo prazo das estratégias pedagógicas discutidas. A continuidade dessas investigações será essencial para aprimorar as práticas educacionais e consolidar a Estatística como um instrumento de transformação na Educação de Jovens e Adultos.
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1Licenciando em Matemática no Centro Universitário Internacional Uninter
2Prof.ª Orientadora.