MANEJO MINIMAMENTE INVASIVO DO HEMATOMA SUBDURAL: REVISÃO INTEGRATIVA  

MINIMALLY INVASIVE MANAGEMENT OF SUBDURAL HEMATOMA: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505141446


Thiago Henrique Pereira dos Santos1
Thaís Souza dos Santos2
Denilson da Silva Veras3


RESUMO

O hematoma subdural crônico (HSC) é uma condição prevalente em idosos, frequentemente associada a traumatismos leves e ao uso de anticoagulantes. Tradicionalmente tratado por craniotomia ou trepanação, o HSC passou a ser abordado por técnicas minimamente invasivas visando menor morbidade e tempo de internação. Esta revisão integrativa analisou estudos publicados entre 2015 e 2024 sobre o uso do Subdural Evacuation Port System (SEPS), da drenagem endoscópica e da embolização da artéria meníngea média (AMM). As evidências demonstram que essas técnicas apresentam taxas de sucesso superiores a 80%, com menor recidiva e internação reduzida. A drenagem endoscópica mostrou eficácia especial em casos de HSC septado, enquanto o SEPS destacou-se pela praticidade à beira-leito. A embolização da AMM contribuiu para a prevenção da recidiva. Apesar dos benefícios clínicos, os estudos apresentam limitações metodológicas, como amostras pequenas e heterogeneidade de critérios, além da escassez de ensaios clínicos controlados. As modalidades técnicas minimamente invasivas são promissoras e devem ser consideradas especialmente em pacientes de alto risco, embora sejam necessários estudos mais robustos para consolidar sua aplicabilidade clínica em larga escala.

Palavras-chave: Hematoma Subdural Crônico. Cirurgia Minimamente Invasiva. Neurocirurgia. Endoscopia.

1 INTRODUÇÃO

O hematoma subdural crônico (HSC) consiste em uma coleção de sangue que se acumula lentamente no espaço subdural do crânio há mais de 3 semanas, geralmente como consequência de traumatismos cranianos de baixa energia, com incidência de 1.72:20.6/100.000, sendo mais comum em pacientes idosos, podendo ser ainda maior em populações geriátricas institucionalizadas ou submetidas a anticoagulação prolongada (MOONEY et al., 2023). Esta condição neurológica é frequentemente subestimada, mas possui alta relevância epidemiológica, especialmente em virtude da transição demográfica global e do envelhecimento populacional. A prevalência crescente desse distúrbio tem impulsionado o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas que visem a resolução do hematoma simultaneamente à redução dos riscos e o tempo prolongado associados ao procedimento operatório de ressecção do sangramento intracraniano (IRONSIDE et al., 2021). 

Este distúrbio cerebrovascular está relacionado, majoritariamente, à ruptura de veias pontes corticais, geralmente após traumatismo cranioencefálico (TCE) de baixa energia, típicos em idosos com atrofia cerebral e fragilidade vascular. Essa ruptura origina uma pequena hemorragia subdural que, ao não ser completamente absorvida, desencadeia uma cascata inflamatória crônica com neoformação vascular, fragilidade capilar e permeabilidade aumentada. O resultado é a formação progressiva de uma cápsula vascularizada, composta por tecido de granulação, que contribui para o extravasamento contínuo de fluido rico em proteínas e novos episódios de micro-hemorragia, mantendo a expansão lenta e progressiva do hematoma (EDLMANN et al., 2017).

Clinicamente, o HSC manifesta-se de forma insidiosa e por muitas vezes inespecífica, com quadro neurológico variável que inclui cefaleia persistente, alterações cognitivas, instabilidade postural, déficit motor focal, crises epilépticas ou redução do nível de consciência. Esses sintomas são frequentemente atribuídos ao envelhecimento ou a doenças pré-existentes, o que contribui para o atraso diagnóstico e piora dos desfechos clínicos. Em sua forma mais grave, o HSC pode levar a hipertensão intracraniana e herniação cerebral, representando urgência neurocirúrgica (TREVISI et al., 2020) .

Historicamente, o tratamento do HSC foi baseado em abordagens cirúrgicas convencionais, como a craniotomia, realizada a partir da remoção de um segmento do osso craniano para permitir o acesso direto à cavidade subdural ou a trepanação com drenagem, por meio da abertura de um ou dois burr holes para evacuação passiva do hematoma. Embora eficazes, esses procedimentos não são isentos de complicações. As taxas de infecção, convulsões pós-operatórias, reabsorção incompleta do hematoma e necessidade de reoperação são elevadas, particularmente em pacientes com idade avançada, coagulopatias, doença cardiovascular ou múltiplas comorbidades (BUCHANAN & MACK, 2017; HOFFMAN et al., 2021).

Com o advento da medicina minimamente invasiva e a busca por estratégias terapêuticas mais seguras e me nos agressivas, novas modalidades foram propostas e vêm ganhando espaço na prática neurocirúrgica contemporânea. Dentre essas, destaca-se a utilização do Subdural Evacuation Port System (SEPS), da drenagem endoscópica subdural e da embolização seletiva da artéria meníngea média (AMM), todas concebidas com o objetivo de minimizar a invasão tecidual, reduzir o tempo cirúrgico e acelerar a recuperação funcional do paciente, mantendo eficácia comparável às abordagens tradicionais (DOROSH et al., 2019). 

O presente estudo possui como objetivo primordial a realização de uma revisão da literatura científica, com o escopo de condensar e apresentar concisamente os mais atuais e pertinentes achados acerca das técnicas minimamente invasivas no tratamento do hematoma subdural crônico (HSC). O propósito inextricavelmente entrelaçado com esta empreitada reside na compilação e análise exaustiva dos mais recentes desfechos e descobertas científicas sobre pacientes que foram submetidos a essas intervenções, a fim de fornecer uma visão panorâmica que possa subsidiar substancialmente a tomada de decisões clínicas e auxiliar a orientação da prática neurocirúrgica contemporânea diante da incidência notória dessa patologia cerebrovascular na atualidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

O hematoma subdural crônico (HSC) é uma entidade clínica de significativa relevância no contexto da neurocirurgia moderna, caracterizada pelo acúmulo progressivo de sangue entre a dura-máter e a aracnoide, geralmente decorrente da ruptura de veias pontes (BEEZ et al., 2018). A ocorrência desse distúrbio é mais comum em indivíduos idosos, devido à atrofia cerebral fisiológica associada à idade, o que aumenta a vulnerabilidade dessas estruturas vasculares. Com o avanço da expectativa de vida e a crescente utilização de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, observa-se uma elevação substancial na incidência de HSC, o que exige abordagens terapêuticas cada vez mais seguras aos desfechos clínicos pós-operatórios dos pacientes e menos invasivas, com objetivo de diminuir a estratificação de riscos (BOYACI et al., 2016).

Durante décadas, o tratamento do HSC baseou-se em intervenções clássicas, como a craniotomia ou a trepanação com drenagem subdural, consideradas padrão-ouro por permitirem descompressão cerebral imediata e evacuação eficiente do hematoma (ABE et al., 2016). No entanto, tais procedimentos implicam em riscos significativos, como infecção do sítio cirúrgico, crises convulsivas, sangramentos pós-operatórios, complicações anestésicas e prolongado período de internação hospitalar. Em pacientes geriátricos, cuja reserva funcional é reduzida, tais riscos se acentuam, elevando os índices de morbidade e mortalidade (LEROY et al., 2015).

Nesse contexto, ganham destaque as técnicas minimamente invasivas, cujo princípio fundamental é minimizar o trauma cirúrgico sem comprometer os desfechos clínicos. Essas técnicas envolvem o uso de dispositivos modernos, como drenos percutâneos, sistemas de sucção fechados e endoscopia neurocirúrgica, os quais permitem a realização do procedimento sob anestesia local, reduzindo a exposição do paciente a riscos sistêmicos.

O Subdural Evacuation Port System (SEPS) consiste em uma das estratégias minimamente invasivas mais consolidadas em diversos centros hospitalares ao redor do mundo. Trata-se de um sistema de drenagem fechado e portátil, que pode ser instalado à beira-leito, sem necessidade de centro cirúrgico nem anestesia geral. A técnica consiste na realização de um orifício de trepanação com introdução de uma cânula conectada a um reservatório de sucção contínua. De forma prática, o hematoma subdural é evacuado progressivamente, promovendo descompressão cerebral segura. Conforme o estudo de MOONEY et al. (2023), o SEPS apresenta taxas de eficácia que variam entre 80% e 90%, embora em casos de hematomas com septações internas ou recidivantes seja necessária a conversão para métodos cirúrgicos mais invasivos, como a abordagem endoscópica.

A análise de FERNANDES et al. (2025) explora a aplicação da drenagem endoscópica no tratamento do HSC, técnica que tem ganhado relevância especialmente em situações de hematoma recidivante ou com múltiplas loculações internas. A introdução do endoscópio por um pequeno orifício craniano permite visualização direta da cavidade subdural, facilitando a remoção seletiva de coágulos organizados, septações fibróticas e membranas neovasculares. A mesma investigação demonstrou que, após um acompanhamento ambulatorial médio de 25,3 meses, nenhum paciente apresentou recoleção do hematoma, reforçando a eficácia da abordagem. Importa destacar que essa técnica vem sendo incorporada ao arsenal terapêutico de múltiplos eventos cerebrovasculares associados, notadamente, ao traumatismo cranioencefálico (TCE).

A associação entre a técnica endoscópica e a embolização da artéria meníngea média (AMM), conforme analisado por CHONG et al. (2023), representa um avanço importante na prevenção da recidiva do HSC. A embolização tem por objetivo obliterar os vasos neovasculares que alimentam a membrana externa do hematoma, reduzindo sua vascularização e, consequentemente, o risco de nova hemorragia. Os autores demonstraram que a combinação de ambas as estratégias – drenagem endoscópica e embolização – resulta em desfechos pós-operatórios superiores quando comparados às abordagens isoladas.

RODRIGUEZ et al. (2023) relatam que, em casos complexos, especialmente aqueles com múltiplas loculações ou com importante componente de membranas organizadas, a abordagem endoscópica permite um tratamento mais abrangente. Contudo, enfatizam que sua adoção demanda investimento institucional em tecnologia e qualificação da equipe médica, sendo ainda limitada a centros de referência.

A série de casos publicada por HSIAO et al. (2024) avaliou a eficácia do tratamento endoscópico do HSC em seis pacientes idosos (entre 63 e 84 anos), faixa etária mais acometida pela doença. Os resultados foram animadores: nenhum dos pacientes apresentou mortalidade operatória ou recidiva do hematoma, e observou-se resolução de 76,9% do hematoma em três dias, com índice de 96,8% de clareamento da cavidade subdural após um mês do procedimento.

No tratamento de hematomas subdurais refratários, especialmente aqueles não responsivos às técnicas minimamente invasivas, MATSUMOTO et al. (2018) indicam que a craniotomia ou mini-craniotomia endoscopicamente assistida permanece como estratégia eficaz, conforme revisão sistemática da literatura. Contudo, alertam que essa opção não deve ser aplicada indiscriminadamente, devendo-se considerar aspectos como a complexidade anatômica do hematoma, presença de septações internas, condições clínicas do paciente e recursos disponíveis no serviço hospitalar.

Dessa forma, os dados científicos atuais convergem para a compreensão de que as técnicas minimamente invasivas representam um marco no manejo do HSC. Elas proporcionam não apenas melhores resultados funcionais, mas também menor tempo de internação, recuperação pós-operatória acelerada e menor incidência de complicações, especialmente em populações vulneráveis, como os idosos e pacientes com comorbidades severas. A seleção criteriosa da abordagem terapêutica, baseada em protocolos individualizados, tende a se consolidar como paradigma contemporâneo na neurocirurgia voltada ao tratamento do hematoma subdural crônico.

3 METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada em abril de 2025, mediante estratégia de busca sistemática nas bases de dados PubMed, Google Acadêmico e SciELO. Foram utilizados os seguintes descritores em inglês: “Chronic Subdural Hematoma”, “Minimally Invasive Surgery”, “Subdural Evacuation”, “Endoscopic Drainage” e “Neurosurgical Techniques”, combinados entre si por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”. Foram incluídos estudos publicados entre os anos de 2015 e 2024, disponíveis nos idiomas português e inglês, com acesso online, que abordassem especificamente métodos minimamente invasivos no tratamento do hematoma subdural crônico em indivíduos adultos de ambos os sexos. Foram excluídos artigos duplicados, publicações com foco em hematomas agudos ou subagudos e revisões que não apresentassem dados específicos sobre técnicas minimamente invasivas. Após triagem inicial de 76 artigos identificados, 14 estudos foram selecionados conforme os critérios de inclusão previamente estabelecidos e submetidos à análise qualitativa e descritiva.

Outrossim, faz-se oportuno ressaltar que esta pesquisa dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza intervenções clínicas em seres humanos e animais. Portanto, asseguram-se os preceitos de aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei (BRASIL, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
4.1  PRINCIPAIS ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO DA LITERATURA
Estudo (autor/ano)Tipo de EstudoFrequência da Amostra (n)
AN et al. (2025)Coorte retrospectivo87
BUCHANAN  & MACK (2017)Revisão sistemática243
SHAFIQUE et al. (2023)Revisão sistemática155
MOONEY et al. (2022)Revisão sistemática230
SAWAY et al. (2023)Revisão sistemática300
HSIAO et al. (2024)Estudo retrospectivo6
GUO et al. (2023)Estudo retrospectivo948
MATSUMOTO et al. (2018)Estudo retrospectivo40
CUTLER et al. (2022)Revisão sistemática 9
SINGH et al. (2022)Estudo retrospectivo95
HOFFMAN et al. (2021)Revisão sistemática/
Metaanálise
953
FLINT et al. (2017)Estudo retrospectivo1.030
NAKAGAWA et al. (2023)Revisão sistemática4
TREVISI et  al. (2020)Estudo retrospectivo213

Os estudos incluídos nesta revisão integrativa abrangem uma variedade de delineamentos metodológicos, com predominância de coortes retrospectivas, séries de casos e revisões sistemáticas, convergindo na análise acerca da eficácia e da segurança das técnicas minimamente invasivas no tratamento do hematoma subdural crônico (HSC).

Os estudos de BUCHANAN & MACK (2017) e HOFFMAN et al. (2021), a exemplo, forneceram uma visão abrangente dos riscos e benefícios das abordagens tradicionais e minimamente invasivas, demonstrando que as técnicas recentes podem reduzir significativamente o tempo de internação, a morbidade pós-operatória e a necessidade de reintervenção. 

A análise de MOONEY et al. (2023) destacou o uso do SEPS como método eficaz e seguro para pacientes com contraindicação à anestesia geral, sendo viável inclusive em unidades de terapia intensiva. Complementando essa noção, SAWAY et al. (2023) e SHAFIQUE et al. (2023) analisaram a combinação da drenagem subdural com embolização da artéria meníngea média, sugerindo que essa associação contribui para menor recidiva do hematoma e melhora dos desfechos funcionais, sobretudo em pacientes com histórico de sangramento recorrente.

Outros estudos, como os de HSIAO et al. (2024) e SINGH et al. (2022), trouxeram contribuições relevantes sobre o uso da drenagem endoscópica. Essas abordagens foram associadas à evacuação eficaz de hematomas septados e à redução de reoperações. Vale ressaltar que o estudo de CUTLER et al. (2022), embora baseado em uma amostra pequena, reforça a viabilidade técnica da endoscopia subdural mesmo em ambientes com recursos limitados, desde que haja capacitação adequada.

Matsumoto et al. (2018) e Nakagawa et al. (2023) analisaram casos de hematoma refratário, evidenciando que a mini-craniotomia assistida por endoscopia permanece uma opção válida nos casos mais complexos ou quando falham os métodos convencionais.

Em conjunto, os dados extraídos destes estudos reforçam a segurança, a aplicabilidade clínica e os benefícios operacionais das técnicas minimamente invasivas. A diversidade metodológica dos estudos apresentados permite uma visão ampla dos contextos clínicos em que essas abordagens podem ser utilizadas, embora também evidencie a necessidade de padronização dos protocolos e de estudos prospectivos mais robustos.

4.2  DESFECHOS CLÍNICOS DAS TÉCNICAS MINIMAMENTE INVASIVAS
TécnicaTaxa  de sucesso clínicoTempo médio de internaçãoTaxa de recidiva (%)
SEPS80-902-4 dias10-15
Drenagem endoscópica85-953-5 dias5-8
Drenagem guiada por imagem80-901-3 dias6-11

As técnicas minimamente invasivas para o tratamento do hematoma subdural crônico (HSC) têm se consolidado na literatura médica recente como alternativas terapêuticas de eficácia semelhante às técnicas tradicionais, com vantagens clínicas consideráveis no que tange à morbidade perioperatória, tempo de internação e recidiva do sangramento. Os estudos selecionados nesta revisão demonstram que abordagens como o Subdural Evacuation Port System (SEPS), a drenagem endoscópica subdural e a drenagem do hematoma guiada por imagem apresentam taxas de sucesso clínico geralmente superiores a 80%, com resolução funcional satisfatória em curto prazo e baixos índices de complicações graves.

A escolha do método depende da morfologia do hematoma, da condição clínica do paciente e da estrutura hospitalar disponível. SEPS e drenagem endoscópica se destacam por apresentarem os melhores perfis de recuperação e controle da recidiva. A drenagem endoscópica, por exemplo, permite visualização direta da cavidade subdural e facilita a remoção de septações internas que dificultam a drenagem por métodos convencionais.

Os dados apontam para um perfil de recuperação mais acelerado e menos dispendioso no grupo de pacientes submetidos às abordagens minimamente invasivas, com menores tempos de internação e taxas reduzidas de reinternações. Esses desfechos são particularmente relevantes em pacientes idosos, em uso crônico de anticoagulantes, ou com contraindicações clínicas à anestesia geral — justamente o grupo etário mais acometido pelo HSC.

O estudo de HSIAO et al. (2024) é emblemático nesse sentido: analisando seis pacientes entre 63 e 84 anos, observou-se clareamento radiológico do hematoma em mais de 76% das áreas afetadas dentro de três dias, com recuperação neurológica progressiva e ausência de necessidade de reintervenção. Já a embolização da AMM, como relatado por CHONG et al. (2023), mostrou-se particularmente eficaz na prevenção de recidivas, ao interromper a vascularização da membrana externa do HSC — responsável por sua perpetuação patológica.

Não obstante, a drenagem endoscópica também demonstrou desempenho superior em casos de HSC septado, nos quais os métodos tradicionais falham devido à compartimentalização do hematoma. A pesquisa de RODRIGUEZ et al. (2023) descreve que a visualização direta pela via endoscópica possibilita a lavagem dirigida da cavidade, rompimento de septações internas e otimização da drenagem, com melhor resposta clínica pós-operatória.

4.3  DESFECHOS CLÍNICOS DESCRITOS NOS ESTUDOS  
Técnica Taxa de sucesso clínico (%)Tempo      médio de internaçãoTaxa                  de recorrência (%)Referências
SEPS80-902-4 dias10-15HOFFMAN et al. (2021); HSIAO et al. (2024)
Drenagem endoscópica85-953-5 dias5-8NAKAGAWA et al. (2023); SAWAY et al. (2023)
Drenagem guiada   por imagem80-901-3 dias1-2SHAFIQUE et al. (2023); FLINT et al. (2017)

Os dados indicam que, apesar de serem estratégias menos agressivas, as técnicas minimamente invasivas não estão isentas de riscos. A escolha do procedimento deve, portanto, considerar não apenas a eficácia, mas também o perfil de segurança individualizado do paciente, a experiência da equipe cirúrgica e a infraestrutura hospitalar disponível.

De forma geral, os estudos analisados convergem para a constatação de que a adoção de técnicas minimamente invasivas tem contribuído significativamente para o aprimoramento do cuidado neurocirúrgico, com impacto positivo sobre a taxa de complicações e desfechos funcionais. A drenagem endoscópica mostrou-se mais eficaz na prevenção da recidiva do hematoma, especialmente nos casos com septações internas. Por outro lado, o SEPS obteve destaque pela praticidade e possibilidade de execução à beira-leito, enquanto a drenagem guiada por imagem apresentou melhor resultado em pacientes com elevado risco cirúrgico e restrições anestésicas.

Embora as abordagens minimamente invasivas apresentem vantagens em relação às técnicas tradicionais, também foram observadas limitações e eventos adversos. As principais complicações relatadas incluíram infecção no sítio de inserção, drenagem incompleta, hematomas residuais e re-sangramento.

4.4 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TÉCNICAS TRADICIONAIS E MINIMAMENTE INVASIVAS

O tratamento cirúrgico do hematoma subdural crônico (HSC) tradicionalmente se fundamenta na utilização de técnicas como a trepanação com drenagem subdural fechada e a craniotomia com remoção da membrana subdural, amplamente descritas na literatura como eficazes na evacuação do hematoma e descompressão cerebral. No entanto, a elevada taxa de complicações, principalmente em pacientes idosos com comorbidades, instigou a busca por métodos menos invasivos, com maior segurança e menor tempo de recuperação (BUCHANAN & MACK, 2017).

A comparação entre técnicas tradicionais e minimamente invasivas revela profundas diferenças, não apenas nos aspectos técnicos e anestésicos, mas também em relação à morbidade, mortalidade, tempo de internação e reinserção funcional dos pacientes. Enquanto as abordagens tradicionais exigem acesso direto à cavidade intracraniana, maior manipulação do tecido meníngeo e, frequentemente, anestesia geral, as técnicas minimamente invasivas, vale citar, o SEPS, a drenagem endoscópica e a embolização da artéria meníngea média (AMM), podem ser realizadas sob anestesia local, com menor invasão cirúrgica, menos tempo de período operatório e menor risco anestésico, reduzindo o tempo de internação para menos de 5 dias em muitos casos (MOONEY et al., 2023; CHONG et al., 2023).

É importante ressaltar que nem todos os pacientes são candidatos ideais para técnicas minimamente invasivas. Casos de HSC com volumosos coágulos organizados, septações complexas, sinais de hipertensão intracraniana grave ou reabsorção incompleta após drenagens anteriores podem requerer abordagens mais tradicionais para garantir o sucesso terapêutico. Entretanto, para uma parcela significativa dos pacientes — especialmente idosos frágeis, anticoagulados ou com risco cirúrgico elevado — as técnicas minimamente invasivas têm se mostrado uma alternativa valiosa, oferecendo recuperação mais rápida e menos complicações.

A evidência atual também sugere que as abordagens minimamente invasivas podem ser eficazes em centros de menor complexidade, desde que haja treinamento adequado e protocolos bem definidos, o que pode contribuir para a descentralização do tratamento do HSC, tornando-o mais acessível em diferentes regiões geográficas e contextos hospitalares.

4.5 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E LACUNAS NA LITERATURA ATUAL

O panorama clínico contemporâneo no manejo do HSC aponta para um cenário de transformação, no qual as técnicas minimamente invasivas têm desempenhado papel de destaque. A possibilidade de realização de drenagem subdural segura sem necessidade de craniotomia, com menor tempo cirúrgico, risco reduzido de infecção e menor tempo de internação, representa um avanço considerável para a neurocirurgia moderna. Nesse contexto, a adoção dessas técnicas reflete diretamente em indicadores clínicos e operacionais, como a redução de custos hospitalares, o aumento da rotatividade de leitos e a melhora da experiência do paciente, especialmente em unidades neurocríticas.

Entretanto, a análise aprofundada da literatura evidencia limitações metodológicas importantes que ainda fragilizam a aplicação sistemática desses métodos em larga escala. Os estudos disponíveis apresentam, em sua maioria, desenho retrospectivo ou observacional, com pouca randomização e amostras heterogêneas. A carência de ensaios clínicos multicêntricos, com seguimento prolongado e análise de desfechos funcionais validados, representa um obstáculo para a construção de diretrizes sólidas.

Outro ponto pouco explorado refere-se à reabilitação pós-operatória e ao acompanhamento ambulatorial de longo prazo, especialmente em pacientes idosos, cuja recuperação neurológica muitas vezes é lenta e associada a déficits cognitivos, motores ou funcionais prévios. Outrossim, não há consenso sobre critérios padronizados para indicação ou contraindicação das técnicas minimamente invasivas, tampouco sobre o uso de imagens seriadas como ferramenta de decisão terapêutica (ex: persistência de hematoma após drenagem parcial). Ainda há escassez nos registros atuais sobre esse tópico acerca de modelos de estratificação de risco clínico, que considerem não apenas o volume e a morfologia do hematoma, mas também fatores como coagulopatias, fragilidade muscular, estado nutricional e comprometimento cognitivo, que são determinantes nos desfechos pós-operatórios.

Posto isso, embora as implicações clínicas apontem para uma clara vantagem das abordagens minimamente invasivas, ainda é necessário consolidar critérios objetivos de escolha terapêutica, ampliar a realização de estudos controlados e estabelecer protocolos clínicos integrados que contemplem não apenas o momento cirúrgico, mas também o pré e o pós-operatório em completude.

4.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

A presente revisão integrativa, embora tenha reunido evidências recentes e relevantes acerca das técnicas minimamente invasivas para o tratamento do hematoma subdural crônico, apresenta limitações metodológicas que devem ser consideradas na interpretação dos dados.

A inclusão de estudos com metodologias distintas, populações heterogêneas e ausência de padronização nos desfechos clínicos dificulta a comparação direta dos resultados e impede a realização de síntese quantitativa dos dados (meta-análise). Concomitantemente, a falta de ensaios clínicos randomizados controlados sobre o uso isolado de técnicas como SEPS, NASP ou endoscopia em comparação direta com trepanações ou craniotomias limita o nível de evidência dos achados. Muitos dos estudos incluídos apresentam pequenas amostras, curto período de seguimento e ausência de avaliação funcional pós-operatória com escalas validadas (como Glasgow Outcome Scale) o que enfraquece a interpretação do impacto das intervenções na qualidade de vida dos pacientes.

Além disso, outra limitação importante refere-se à concentração geográfica das pesquisas em países de alta renda, portadores de hospitais de grande porte e acesso a tecnologia de ponta, o que dificulta a extrapolação dos resultados para contextos hospitalares com recursos limitados, como é o caso de muitas instituições dos interiores brasileiros, expressando heterogeneidade na análise de alguns dados.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora as abordagens minimamente invasivas no tratamento do hematoma subdural crônico (HSC) representem um avanço relativamente recente na neurocirurgia, observa-se um crescimento exponencial em sua adoção clínica, especialmente em pacientes idosos e de alto risco cirúrgico. Evidenciou-se, ao longo da presente revisão integrativa, a predominância de técnicas como o Subdural Evacuation Port System (SEPS), a drenagem endoscópica e a embolização da artéria meníngea média, as quais demonstraram taxas elevadas de sucesso clínico e baixos índices de recidiva, principalmente em casos com hematomas septados ou refratários à drenagem tradicional. Essas intervenções, por minimizarem o trauma tecidual e a necessidade de anestesia geral, têm contribuído para a redução da morbimortalidade operatória, da permanência hospitalar e das complicações pós-operatórias. Ainda assim, torna-se imperativo adotar uma abordagem holística e individualizada no manejo do HSC, considerando as variabilidades anatômicas, clínicas e estruturais de cada paciente.

Dessa forma, reforça-se a necessidade de realização de estudos maiores e com metodológica e evidência clínica elevada que consolidem a eficácia, a segurança e a aplicabilidade dessas técnicas em diferentes contextos hospitalares. Tais investigações poderão subsidiar de forma mais assertiva a prática neurocirúrgica contemporânea, favorecendo o acompanhamento multiprofissional, a padronização de protocolos terapêuticos e a melhora dos desfechos funcionais dos pacientes criticamente comprometidos longo prazo.

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: thiagohenrique.advogado.mao@gmail.com

2Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus. Mestre em Ciências da Saúde (PPGCIS/UFAM). e-mail: denilsonveras55@gmail.com 

3Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: thays.souzaa@gmail.com