INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM CONTEXTOS EDUCATIVOS NO RIO DE JANEIRO: REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE INCLUSÃO E DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS COM TRANSTORNOS NEUROPSICOLÓGICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202510131732


M.ª Evelyn Apolinario Batista


Resumo 

O presente artigo, elaborado através do projeto científico do mestrado em intervenção no desenvolvimento e na educação, aborda desta vez uma natureza teórica e reflexiva, tendo como objetivo analisar as contribuições da psicologia escolar para a inclusão educacional de alunos com transtornos e distúrbios neuropsicológicos, com ênfase no contexto do ensino fundamental no município do Rio de Janeiro. A partir de um diálogo entre a literatura clássica e as produções contemporâneas, busca-se compreender o papel do psicólogo escolar na mediação dos processos de ensino e aprendizagem, considerando o impacto das políticas públicas e das condições institucionais na efetivação das práticas inclusivas. O estudo propõe uma reflexão crítica sobre os desafios enfrentados pela escola brasileira diante da diversidade neuropsicológica, destacando a importância de intervenções que articulem teoria, prática e compromisso social. A análise indica que a psicologia escolar, ao assumir um enfoque crítico, contribui para a construção de uma educação democrática, sensível às diferenças e comprometida com o desenvolvimento integral dos estudantes.

Palavras-chave: psicologia escolar; inclusão educacional; transtornos neuropsicológicos; políticas públicas; ensino fundamental.

Abstract 

This article, prepared through the scientific project of the master’s degree in intervention in development and education, addresses a theoretical and reflective nature, aiming to analyze the contributions of school psychology to the educational inclusion of students with neuropsychological disorders and disturbances, with an emphasis on the context of elementary education in the city of Rio de Janeiro. Based on dialogue between classical literature and contemporary research, it seeks to understand the role of the school psychologist in mediating teaching and learning processes, considering the impact of public policies and institutional conditions on the effectiveness of inclusive practices. The study proposes a critical reflection on the challenges faced by Brazilian schools in dealing with neuropsychological diversity, emphasizing the importance of interventions that connect theory, practice, and social commitment. The analysis indicates that school psychology, when adopting a critical approach, contributes to building a democratic and inclusive education committed to students’ integral development.

Keywords: school psychology; educational inclusion; neuropsychological disorders; public policies; elementary education.

Introdução 

O aumento do número de diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a dislexia, tem impulsionado debates sobre a importância da intervenção psicológica em contextos educativos. No município do Rio de Janeiro, essa questão assume relevância especial diante dos desafios da rede pública de ensino e da implementação desigual das políticas inclusivas. A psicologia escolar, especialmente após a promulgação da Lei nº 13.935/2019, tornou-se essencial para a promoção da inclusão e do bem-estar socioemocional dos alunos. Este artigo busca refletir sobre a atuação do psicólogo escolar e as práticas de intervenção que contribuem para o desenvolvimento cognitivo e emocional de estudantes com transtornos neuropsicológicos, destacando suas implicações teóricas, sociais e institucionais.

  1. Psicologia Escolar e Inclusão Educacional 

A psicologia escolar no Brasil tem uma trajetória marcada por transformações significativas. Patto (1997) e Lane (1984) destacaram que o fracasso escolar é um fenômeno social, e não apenas individual, defendendo uma psicologia comprometida com a transformação da realidade educacional. A partir dos anos 2000, autores como Oliveira (2002) e Coll (2004) ampliaram a compreensão sobre os processos de aprendizagem, considerando a influência das interações sociais e da cultura. Estudos recentes (Yamamoto & Costa, 2019; Silva & Aquino, 2022) reforçam que a atuação do psicólogo escolar deve ir além do diagnóstico, atuando como mediador entre os agentes educativos e promotor da equidade.

  1. Intervenções Psicológicas e o Papel do Psicólogo Escolar 

A intervenção psicológica no ambiente escolar envolve ações preventivas, interventivas e formativas. O psicólogo escolar atua como mediador entre professores, alunos e famílias, promovendo o diálogo e a corresponsabilidade no processo de ensino-aprendizagem (Leal & Bortolozzi, 2018). Além disso, práticas como rodas de conversa, oficinas socioemocionais e programas de tutoria entre pares têm se mostrado eficazes na promoção do bem-estar e da inclusão (Beneditti, 2025). Entretanto, as dificuldades estruturais e a sobrecarga de trabalho ainda limitam a efetividade dessas práticas, especialmente na rede pública do Rio de Janeiro (CRP-RJ, 2022).

  1. Transtornos Neuropsicológicos e Desafios da Inclusão 

De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), os transtornos do neurodesenvolvimento afetam funções cognitivas e socioemocionais essenciais para o processo de aprendizagem. A ausência de formação docente e a falta de articulação entre psicólogos, professores e famílias são barreiras persistentes à inclusão (Freitas & Aquino, 2022; Almeida et al., 2023). A atuação interdisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas, é apontada como estratégia fundamental para promover a inclusão e o desenvolvimento integral dos alunos (Moura, 2023).

  1. Perspectivas e Reflexões Críticas no Contexto Carioca 

No município do Rio de Janeiro, observa-se um cenário de avanços e contradições. Apesar da expansão do número de psicólogos escolares, a cobertura ainda é insuficiente, e as práticas permanecem fragmentadas. Experiências bem-sucedidas em universidades e escolas públicas demonstram o potencial das ações colaborativas, mas apontam a necessidade de institucionalização e continuidade (Oliveira & Sousa, 2019). Uma abordagem crítica da psicologia escolar, fundamentada em Patto (1997) e Yamamoto & Costa (2019), exige o reconhecimento das dimensões estruturais e sociais do fracasso escolar, propondo uma escola democrática e inclusiva, comprometida com o desenvolvimento humano e a equidade.

Considerações Finais 

A reflexão desenvolvida neste artigo evidencia que a psicologia escolar desempenha papel essencial na construção de uma educação inclusiva. A atuação do psicólogo escolar, ao articular teoria e prática, favorece a criação de espaços educativos mais democráticos e acolhedores. Contudo, a efetividade das intervenções depende de políticas públicas consistentes, de formação docente contínua e da consolidação de práticas interdisciplinares. Assim, a psicologia escolar crítica reafirma seu compromisso com a transformação social, contribuindo para uma escola que reconhece e valoriza a diversidade neuropsicológica.

Referências 

Almeida, R. S., Pereira, T. F., & Moura, L. C. (2023). Interdisciplinaridade e inclusão escolar: desafios contemporâneos no Brasil. Revista Brasileira de Educação Inclusiva, 19(2), 45–62.

American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Artmed.

Beneditti, M. R. (2025). Intervenções psicológicas no contexto escolar: práticas e resultados. Revista Psicologia & Educação, 29(2), 112–130.

Candeira, M. G., & Negreiros, F. (2023). Psicologia escolar crítica: novos rumos e perspectivas. Cadernos de Educação, 22(3), 78–95.

CRP-RJ. (2022). Relatório sobre a implementação da Lei 13.935/2019 no estado do Rio de Janeiro.

Freitas, A. P., & Aquino, C. M. (2022). Diagnóstico precoce e inclusão escolar: perspectivas interdisciplinares. Revista Brasileira de Educação Especial, 28(1), 15–32.

Lane, S. T. M. (1984). Psicologia social e compromisso social. Brasiliense.

Oliveira, P. S., & Sousa, J. A. (2019). Inclusão escolar e psicologia: avanços e desafios no Rio de Janeiro. Revista Educação e Pesquisa, 45(1), 1–18.

Patto, M. H. S. (1997). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. T.A. Queiroz.

Silva, R. M., & Aquino, L. A. (2022). Psicologia escolar e inclusão: novos desafios contemporâneos. Revista Psicologia em Estudo, 27(4), e52345.

Yamamoto, O. H., & Costa, M. C. (2019). Psicologia escolar crítica: desafios para a inclusão. Revista Semestral de Psicologia, 35(2), 231–245.