ANALYSIS OF PSYCHOTROPICS USED BY ELDERLY PEOPLE IN BASIC HEALTH UNITS: A LITERARY ANALYSIS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506200147
Elaiane dos Santos Silva Halley1
Kleidiane Patrícia Medeiros De Almeida2
Layanne Cavalcante de Moura3
RESUMO
O envelhecimento populacional tem aumentado a prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), o que, por sua vez, acarreta o uso contínuo e simultâneo de múltiplos medicamentos por pessoas idosas. Este estudo objetivou realizar uma análise literária sobre o uso de psicotrópicos em idosos acompanhados pela UBS e caracterizar as publicações científicas encontradas no estudo. Tratou-se de uma Revisão Integrativa da Literatura com abordagem qualitativa e caráter descritivo-exploratório, as buscas foram realizadas entre abril e maio de 2025, através da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), composta de bases de dados, como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), além da base de dados PUBMED/Medline, com artigos publicados entre 2015 e 2025. Foram identificados 06 estudos que atenderam integralmente aos critérios de inclusão. Os achados apontaram que os benzodiazepínicos foram a classe medicamentosa que idosos fazem mais uso, conforme encontrado em duas publicações, além da maioria terem sido mulheres. Em relação aos principais motivos do uso de psicotrópicos esteve as afecções no sono, problemas familiares e ansiedade. Um dos estudos mostrou a prevalência de fatores de riscos cardiovasculares, comorbidades e déficits sensoriais. Percebeu-se em todos os estudos discussões sobre a necessidade de investimento em políticas públicas voltadas à racionalidade desses medicamentos associada a promoção de saúde que visem estratégias não medicamentosas. Conclui-se que as equipes que atuam nas UBS são essenciais para prevenir riscos associados aos efeitos adversos de psicotrópicos, bem como evitar a polifarmácia, por meio de práticas de cuidado integradas e estratégias de desprescrição seguras. Percebeu-se também a necessidade de mais estudos primários abordando a temática a fim de gerar informações que induzam a produção de políticas públicas.
Palavras-chave: Psicotrópicos. Idosos. Unidades Básicas de Saúde.
ABSTRACT
Population aging has increased the prevalence of Chronic Noncommunicable Diseases (NCDs), which, in turn, leads to the continuous and simultaneous use of multiple medications by elderly people. This study aimed to carry out a literary analysis on the use of psychotropic drugs in elderly people followed by the UBS and to characterize the scientific publications found in the study. This was an Integrative Literature Review with a qualitative approach and descriptive-exploratory character. The searches were carried out between April and May 2025, through the Virtual Health Library (VHL), composed of databases such as Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Nursing Database (BDENF), in addition to the PUBMED/Medline database, with articles published between 2015 and 2025. Six studies were identified that fully met the inclusion criteria. The findings indicated that benzodiazepines were the drug class most commonly used by the elderly, as found in two publications, and that the majority were women. The main reasons for using psychotropic drugs were sleep disorders, family problems, and anxiety. One of the studies showed the prevalence of cardiovascular risk factors, comorbidities, and sensory deficits. All studies discussed the need for investment in public policies aimed at rationalizing these drugs associated with health promotion that aim at non-drug strategies. It was concluded that the teams working in the UBS are essential to prevent risks associated with the adverse effects of psychotropic drugs, as well as to avoid polypharmacy, through integrated care practices and safe deprescription strategies. The need for more primary studies addressing the topic was also noted in order to generate information that induces the production of public policies.
Keywords: Psychotropic Drugs. Elderly. Basic Health Units.
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional tornou-se uma realidade mundial com consequente aumento da expectativa de vida e redução da mortalidade e inclui-se o Brasil, em que se observa acelerada ascensão nas últimas décadas (Passos Neto et al., 2020). Apesar de parecer uma conquista da humanidade segundo Ceccon et al. (2021), esse crescimento vem conectado com impacto social, tributário e de saúde evidentes, no caso deste último implica em aumento de enfermidades infectocontagiosas, elevação das doenças crônicas não contagiosas algumas com incapacidades físicas, cognitivas e mentais exigindo maior busca pelos serviços de saúde.
Os idosos como toda a população brasileira, tem como porta de entrada a esses serviços ofertados para a sua saúde a Atenção Primária à Saúde (APS) constituída por profissionais de nível médio e superior com intuito de fornecerem um conjunto de ações que envolvem o indivíduo e a comunidade em atividades de orientações, promoção de saúde e prevenção de doenças e agravos, diagnóstico e referenciamento aos serviços mais complexos se assim for necessário (Brasil, 2021).
Desta forma, cabe a Unidade Básica de Saúde (UBS), identificar a pessoa enquanto indivíduo e participante de uma comunidade para que possa se estabelecer um atendimento global à saúde dos moradores que estão inseridos naquele território caracterizando o funcionamento da equipe mínima da Estratégia Saúde da Família (ESF) conforme a Política Nacional de Atenção Básica aprovada pela Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017, que estabelece a revisão das diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
E é nesse cenário em que o idoso é acompanhado tornando-se necessário fortalecimento de políticas de saúde voltadas para esse grupo com finalidade de proporcionar atenção integral à saúde da população com idade igual ou acima de 60 anos (Passos Neto et al., 2020).
De acordo com o estudo Rodrigues et al. (2020), o envelhecimento eleva a prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) que influencia na necessidade de medicamentos por períodos prolongados. Completam ainda que os Transtornos Mentais e Comportamentais (TMC) estão entre essas enfermidades mais incapacitantes para os idosos e que acarretam a deterioração da qualidade de vida.
A presença de várias comorbidades relacionadas às falhas na troca de informações na referência e contra referência contribui para que os idosos sejam atendidos por diferentes especialistas, o que pode estar associado à polifarmácia (Oliveira et al., 2021).
Conforme Silva et al. (2022), o consumo de vários medicamentos e a existência de várias doenças concomitantes podem contribuir para um pior estado de saúde mental. Moreira et al. (2020) complementam que os idosos possuem grande suscetibilidade à ocorrência de efeitos adversos ocasionados pelas alterações da farmacodinâmica e farmacocinética próprias das mudanças fisiológicas advindas do processo de envelhecimento.
O declínio da função renal e hepática em conjunto com maior percentual de gordura corporal em idosos torna os psicotrópicos favoráveis ao acúmulo e intoxicação bem como a depender da classe potencialização às quedas e dependência medicamentosa (Baldoni et al., 2020). Diante do exposto e pela observação em estágios na UBS da prática diária de idosos em uso de psicotrópicos e muitos destes comparecendo às consultas apenas para renovar a medicação na UBS surgiu a seguinte pergunta norteadora: Como se apresenta o uso de psicotrópicos em idosos acompanhados por uma equipe de ESF?
Em vista disso, o objetivo geral do presente estudo foi realizar u m a análise literária sobre o uso de psicotrópicos em idosos acompanhados pela UBS e caracterizar as publicações científicas encontradas no estudo.
Neste sentido, o presente estudo tem como relevância clínica e social na saúde pública por poucos estudos sobre a temática e na prática a alta quantidade de idosos nas UBS em uso contínuo desses medicamentos que exigem acompanhamento adequado por profissionais da saúde, em especial os médicos de família e comunidade.
2. METODOLOGIA
Tratou-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL) do tipo descritivo exploratória, com abordagem qualitativa, observando o acompanhamento profissional na literatura sobre o efeito de psicotrópicos em idosos. O estudo seguiu seis etapas para o seu desenvolvimento: 1) elaboração da pergunta norteadora; 2) busca ou amostragem na literatura; 3) coleta de dados; 4) análise seletiva e crítica dos estudos incluídos; 5) discussão dos resultados; e 6) apresentação da revisão integrativa (Souza, Silva, Carvalho, 2010; Ercole, Melo, Alcoforado, 2014). Para esse estudo, foi elaborada a seguinte questão norteadora: “Como se apresenta o uso de psicotrópicos em idosos acompanhados por equipes de ESF?”
As buscas foram realizadas entre abril e maio de 2025, através da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), composta de bases de dados, como Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), além da base de dados PUBMED/Medline. Os descritores utilizados em inglês, espanhol e português obtidos no Medical Subject Headings (MESH) e Descritores em Ciência e Saúde (DeCS), sendo: psicotrópicos (psychotropic drugs); idosos (elderly), unidades básicas de saúde (basic health units); pesquisados através do operador booleano “AND”.
Desta forma, os critérios de inclusão dos artigos foram os estudos primários em português e inglês, com recorte nos últimos 10 anos (2015-2025), com intuito de selecionar publicações atuais e pertinentes sobre a temática (Souza, Silva, Carvalho, 2010). Excluiu-se capítulos de livros, metanálise, resumos, textos incompletos, relatos e informes técnicos, estudos duplicados, editoriais, cartas e opiniões pessoais.
O nível de evidência das publicações foi avaliada de acordo com o Agency for Healthcare Research and Qua-lity (AHRQ), classificada em seis níveis, a saber: 1) Metanálise de múltiplos estudos controlados; 2) Estudos individuais com delineamento experimental; 3) Estudos com delineamento quase-experimental como estudos sem randomização com grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou caso-controle; 4) Estudos com delineamento não-experimental como pesquisas descritivas correlacional e qualitativa ou estudos de caso; 5) Relatórios de casos ou dado obtido de forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de avaliação de programas; 6) Opinião de autoridades respeitáveis baseada na competência clínica ou opinião de 8 comitês de especialistas, incluindo interpretações de informações não baseadas em pesquisas (Stetler et al., 1998).
Todas as normas de autoria foram respeitadas, garantindo a correta citação das referências utilizadas no estudo, conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (2018). Além disso, os princípios éticos na produção de revisões integrativas foram rigorosamente seguidos, promovendo transparência e integridade na pesquisa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa constou no total de 6 artigos após análise crítica nos locais de buscas e para facilitar a análise dos dados, os estudos selecionados foram sintetizados em dois quadros que caracterizam respectivamente quanto aos autores, ano da publicação, metodologia e nível de evidência (Quadro 1); e distribuição de informações quanto ao(s) autor(es)/ano de publicação, objetivos e os principais resultados (Quadro 2).
Quadro 1 – Caracterização segundo autor(es)/ano de publicação, periódico, métodos e nível de evidência sobre as publicações incluídas na revisão integrativa sobre a análise dos psicotrópicos utilizados por idosos em unidades básicas de saúde. Teresina, PI, Brasil, 2025.
Autor(es), ano | Periódico | Métodos/ Nível de evidência |
Alves et al., 2019 | Rev. Med. Minas Gerais | Estudo transversal/ IV |
Caballero et al., 2016 | Atención Primaria | Estudo transversal/ IV |
Prado et al., 2017 | Epidemiol. Serv. Saude | Estudo transversal de base populacional/ IV |
Rodrigues et al., 2020 | Ciência & Saúde Coletiva | Estudo transversal de base populacional/ IV |
Silva et al., 2019 | Rev. Esc. Enferm. USP | Estudo transversal/ IV |
Silva et al., 2018 | Rev. Cient. Esc. Estadual Saúde Pública Goiás “Cândido Santiago” | Relato de experiência/ IV |
Quadro 2 – Distribuição segundo autor(es)/ano de publicação, objetivos e principais resultados das publicações incluídas na revisão integrativa sobre a análise dos psicotrópicos utilizados por idosos em unidades básicas de saúde. Teresina, PI, Brasil, 2025.
Autor(es), ano | Objetivo | Principais resultados |
Alves et al., 2019 | Verificar a prevalência de uso de psicotrópicos nas áreas de abrangências de UBS de Barbacena | A classe dos benzodiazepínicos foi a mais utilizada principalmente entre aqueles com idade menos a 60 anos. Sendo o clonazepam o mais prescrito desta |
Caballero et al., 2016 | Analisar a possível associação entre o uso crônico de psicofármacos e o aparecimento de fratura de quadril na população do centro de saúde La Paz, Badajoz | A prevalência de fatores de risco cardiovascular, comorbidades e déficits sensoriais, revela que 67,1% da população é hipertensa, 43,8% teriam algumas enfermidades cardiovasculares, 30,1% enfermidades osteoarticulares e 16,4% osteoporose. |
Prado et al., 2017 | Estimar a prevalência do uso de psicofármacos e fatores associados em adultos e idosos e identificar as principais classes utilizadas | Foram observadas desigualdades quanto a sexo e etnia e cor de pele; os achados contribuem para a avaliação do uso racional desses medicamentos |
Rodrigues et al., 2020 | Verificar a prevalência do uso de psicotrópicos nos adultos e idosos e os fatores associados, classes terapêuticas de medicamentos e fontes de obtenção | Os resultados mostraram baixa proporção de obtenção dos psicotrópicos no SUS e a necessidade de políticas que incentivem a prescrição e tratamento com mais racionalidade, promovendo melhor qualidade de vida e garantia do direito à saúde à população |
Silva et al., 2019 | Estimar a prevalência do uso de benzodiazepínicos por mulheres adultas em UBS | Identificado 81 usuárias de benzodiazepínicos entre 1.094 mulheres adultas |
Silva et al., 2018 | Realizar um relato de experiência sobre o apoio matricial no núcleo de apoio a saúde da família as UBSs de Inhumas – GO, para conscientização do uso indiscriminado de psicofármacos | Dos 125 participantes, 18 estiveram em todos os encontros, prevalecendo mulheres, idosas, que relataram usar psicotrópicos há mais de 10 anos, por motivos de insônia, problemas familiar e controle de ansiedade |
Percebe-se que sua maioria (cinco ao todo), foram publicados no idioma português, com dois estudos lançados em periódicos científicos nos anos de 2019, demais anos apenas uma publicação (2016, 2017, 2018, 2020), quanto ao delineamento metodológico, predominou o nível de evidência IV. Segundo Rocha e Araújo (2025), para garantir-se confiabilidade nas publicações torna-se essencial identificar seus níveis de evidência científica, pois possibilita integrar as melhores evidências ao processo de tomada de decisões.
Os principais veículos encontrados foram: Revista de Medicina de Minas Gerais, Atención Primaria, Epidemiologia e Serviço de Saúde, Ciência & Saúde Coletiva, Revista da Escola de Enfermagem da USP e a Revista Científica da Escola Estadual de Saúde Pública Goiás “Cândico Santiago”.
Sabe-se que com o aumento da expectativa de vida da população, ocorre elevação no número de pessoas acometidas por afecções crônicas refletindo maiores demandas de assistência contínua, na qual os medicamentos têm um papel importante (Brasil, 2021; Figueiredo; Ceccon; Figueiredo, 2021). Dentre as classes dos fármacos que apresentaram aumento nas últimas décadas em seu consumo foram os psicofármacos conforme resultados de estudos no Brasil, Europa e América Latina (Quemel et al., 2018).
No estudo e Alves et al. (2019) observa-se que a prevalência de uso de psicotrópicos em diferentes pesquisas conduzidas no Brasil entre 2006 e 2019, saiu de 7,8% para 53%. No qual as mulheres representaram a maioria dos usuários desses medicamentos é mais preocupante foi a associação com o tabagismo e quando se trata de idoso Pereira et al. (2019) reforçam que esse hábito eleva os riscos de doenças respiratórias, Acidentes Vasculares Encefálicos (AVE), neoplasias que prejudicam a qualidade de vida.
As mulheres foram a maioria no estudo transversal de base populacional, realizado em Campinas-SP, Brasil de janeiro de 2008 a abril de 2009 (Prado et al., 2017) e foi observado associação desse gênero com a pior percepção da saúde e com a presença de pelo menos um transtorno mental. Resultado semelhante encontrado por Rodrigues et al. (2020) ao verificarem a prevalência do uso de psicotrópicos nos adultos e idosos encontraram associações significativas entre o sexo feminino, pior autoavaliação de saúde e presença de doenças crônicas.
Esses resultados corroboram com os dados em outros estudos como os de Cobo, Cruz e Dick (2021) em que constataram maior prevalência do sexo feminino no consumo de psicofármacos, justificado por serem as que mais frequentam os serviços de saúde, mostrarem-se mais preocupadas com a saúde e tornando-as mais consciente com as questões relacionadas ao autocuidado e de boa adesão aos tratamentos ofertados.
Em relação a presença de doenças crônicas encontradas por Rodrigues et al. (2020) também foram mostradas nos resultados do estudo de Caballero et al. (2016) que encontraram prevalência de comorbidades (hipertensos, portadores de enfermidades osteoarticulares e osteoporose respectivamente em: 67,1%, 30,1% e 16,4%), fatores de riscos cardiovasculares em 43,8%, além de alguns com déficits sensoriais. A prevalência no uso de psicotrópicos foi maior naqueles com idade acima dos 60 anos (16,1%) no estudo de Rodrigues et al. (2020) e mais elevada se comparada ao resultado do estudo transversal de base populacional realizado no município de Campinas (10,8%) feito por Prado et al. (2017).
Nesse sentido, Silva et al. (2019) e Alves et al. (2019) constataram que os benzodiazepínicos foram os mais utilizados dentre os medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) com percentuais respectivos de pacientes assistidos por equipes de UBS: 7,4% (somente entre mulheres) e 61,3% (os participantes eram de ambos os sexos). Confirmando com outros estudos que mostram o diazepam e clonazepam como líderes, seguidos pelo alprazolam, bromazepam e lorazepam (Nunes; Costa; Moromizato, 2020).
No total de 125 participantes do relato de experiência sobre o apoio matricial do Núcleo de Apoio à Saúde da Família às Unidades Básicas de Saúde de Inhumas, Goiás apenas 18 destes participaram de todos os encontros, maioria mulheres idosas que relataram utilizar psicotrópicos há mais de 10 anos e como principais motivos: insônia, problemas familiares e para controle da ansiedade (Silva et al., 2018).
Sabe-se que estimativas a níveis mundiais apontam cerca de 400 milhões de pessoas com algum tipo de afecção mental ou comportamental e, por conta do envelhecimento populacional e do agravamento dos problemas sociais, esse número tenderá a um aumento progressivo que provocará custos substanciais (Moreira et al., 2019; Rodrigues et al., 2020).
Torna-se necessário que o médico que atua em UBS seja capacitado para manejo de pacientes em utilização de psicotrópicos, pois conforme Caballero et al. (2016) o papel de analisar, revalidar a conduta e decidir sobre a manutenção ou ajuste de doses ficou a cargo desse profissional da saúde que por vezes optam por manter as prescrições dos pacientes advindos de outras clínicas e estabelecimentos de saúde, por terem compreensão limitada dos efeitos clínicos e adversos dessa classe de medicamentos corroborando com Rolim, Carneiro e Araújo (2023) que encontraram diversos pacientes em utilização desses fármacos sem real necessidade gerando aumento nos gastos públicos.
Apesar de que os resultados encontrados por Rodrigues et al. (2020) foram de baixa aquisição dos psicotrópicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas que reforçaram a necessidade de incentivar a prescrição e tratamento com mais racionalidade, promovendo melhor qualidade de vida e garantia do direito à saúde à população.
Em suma, entende-se que as equipes das UBS necessitam de suporte de equipes de saúde mental para ampliar sua oferta de intervenções comunitárias e ações de promoção da saúde mental de caráter psicossocial que sejam alternativas e/ou complementares ao tratamento puramente medicamentoso (Silva et al., 2018; Alves et al., 2019; Caballero et al., 2016).
Deve-se considerar que no caso do uso de psicotrópicos, alguns fatores como o reconhecimento social dos TMC e a organização de um sistema de atenção à saúde com ações e serviços aptos a diagnosticar a doença e ofertar opções terapêuticas, incluindo um sistema adequado de fornecimentos e distribuição de medicamentos, podem impactar no acesso aos psicotrópicos para o tratamento dos problemas de saúde (Rodrigues et al., 2020; Prado et al., 2017; Silva et al., 2019).
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que as equipes que atuam nas UBS são essenciais para prevenir riscos associados aos efeitos adversos de psicotrópicos, bem como evitar a polifarmácia, por meio de práticas de cuidado integradas e estratégias de desprescrição seguras. Percebeu-se também a necessidade de mais estudos primários abordando a temática a fim de gerar informações que induzam a produção de políticas públicas, pois nessa análise sobre o uso de psicotrópicos em idosos acompanhados pela UBS, visto que existem um baixo número de estudos que exploram o uso dessa medicação por idosos e nenhuma publicação nessa busca nos últimos dez anos com nível de evidência I que tornaria mais seguro a aplicação da medicina baseada em evidências.
Dessa forma, este estudo pode contribuir para construção de subsídios científicos para gestores e profissionais de saúde atuantes na principal porta de entrada do serviço de saúde pública quanto ao uso de psicotrópicos em idosos.
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1Graduanda de Medicina do Centro de Educação Tecnológica de Teresina (UNICET). Graduada em Enfermagem pela FACID, pós graduada em Saúde do Trabalhador pela IBPEX e mestrado em Saúde da Família pela UNINOVAFAPI. E-mail: elaianesantos@hotmail.com
2Graduanda de Medicina do Centro de Educação Tecnológica de Teresina (UNICET). Graduada em Enfermagem pela Faculdade Santa Maria, pós graduada em Saúde do Trabalhador pela FIP-PB. E-mail: kleidianemedeiros@gmail.com
3Médica de Medicina de Família e Comunidade, Mestre em Saúde da Mulher pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Docente dos Cursos de Bacharelado em Enfermagem, Farmácia, Biomedicina e Medicina do Centro de Educação Tecnológica de Teresina (UNICET). E-mail: layannecavalcante@hotmail.com