CHALLENGES FACED BY SCHOOLS IN AN INCREASINGLY TECHNOLOGICAL SOCIETY: POST-COVID ADAPTATIONS AND EDUCATION 5.0
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202511301112
Giuli Gabrieli Socek1
Erica Piovam Ulhôa Cintra2
Resumo
A escola possui papel fundamental na formação e no desenvolvimento social dos indivíduos. No entanto, a pandemia de COVID-19 expôs as fragilidades estruturais da educação brasileira, realçou as desigualdades históricas e revelou a ausência de preparo institucional diante da necessidade emergencial do ensino remoto. De um lado, a falta de infraestrutura tecnológica, a dificuldade de acesso à internet, a sobrecarga docente e a insuficiência de políticas públicas capazes de responder à crise em tempo real; de outro, o avanço das tecnologias digitais, a discussão sobre a chamada “Educação 5.0”, isto é, inovação tecnológica aliada a valores humanos, propondo uma educação crítica, inclusiva e orientada pela criatividade e pela sustentabilidade. O presente artigo, através de uma pesquisa online com a comunidade escolar, tem como objetivo compreender os desafios enfrentados pela escola em uma sociedade cada vez mais tecnológica, destacando as adaptações realizadas no período pós-pandemia e as perspectivas da Educação 5.0.
Palavras-chave: Educação 5.0. Pandemia. Novas tecnologias. Escola. formação docente.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo compreender os desafios enfrentados pela escola em uma sociedade cada vez mais tecnológica, destacando as adaptações realizadas no período pós-pandemia e as perspectivas da Educação 5.0. E está vinculado ao projeto de pesquisa Histédiice – História da educação: instituições, intelectuais e culturas escolares, em desenvolvimento, no curso de Pedagogia da Unespar.
É de conhecimento amplo que as escolas possuem papel fundamental na formação e no desenvolvimento social dos indivíduos. Um evento mundial recente, como a pandemia de Covid-19, especialmente no seu período inicial (2020-2021) de crise, expôs as severas fragilidades estruturais da educação brasileira instada a agir em ambiente virtual quase imediatamente, o que realçou desigualdades históricas e revelou a ausência de preparo institucional diante da necessidade emergencial do ensino remoto. (AVELINO & MENDES, 2020). Esse processo trouxe à tona problemas como a falta de infraestrutura tecnológica, a dificuldade de acesso à internet, a sobrecarga docente e a insuficiência de políticas públicas capazes de responder à crise em tempo real.
Com o avanço das tecnologias digitais, por sua vez, a discussão sobre a chamada Educação 5.0 foi obtendo cada vez mais relevância. Trata-se de um modelo educativo que busca integrar a inovação tecnológica e os valores humanos, na proposição de uma educação crítica, inclusiva e orientada pela criatividade e pela sustentabilidade, através dos meios digitais e informacionais do nosso tempo.
Segundo Vilela Junior et al. (2020), o que ficou convencionado como Educação 5.0 representa uma evolução que une não apenas ferramentas tecnológicas, mas também uma visão humanista e ecológica de educação, promovendo a formação integral do indivíduo em sintonia com os desafios do século XXI.
Já para Guimarães et al. (2023) a abordagem da Educação 5.0 procura valorizar o desenvolvimento de competências socioemocionais e a personalização do aprendizado, atendendo às necessidades dos chamados “nativos digitais”, pois considera que já nascemos num universo híbrido entre o físico e o virtual.
Entre uma e outra visão, ambas, a nosso ver, complementares, desenvolveremos o tema que nos propomos apresentar na edição desse evento anual de pesquisa, extensão e inovação tecnológica, no sentido de melhor compreender os impactos dessa revolução para a educação como um todo.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa realizada seguiu a abordagem qualitativa, fundamentada em pesquisa bibliográfica constituída por artigos e relatórios acadêmicos que discutem os impactos da pandemia na educação, além de dados coletados por meio de questionário online aplicado a profissionais que participam da área da educação.
Segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), a pesquisa documental e bibliográfica é essencial para contextualizar o fenômeno estudado, permitindo compreender suas dimensões históricas e sociais; e assim nos dedicamos, num primeiro momento.
O questionário aplicado de modo online (confira as questões do instrumento, ao final do artigo: Apêndice), contou com a participação de 16 respondentes, entre professores, gestores e estagiários, todos atuantes em diferentes cidades do Paraná, como Paranaguá, Curitiba, Araucária, Matinhos e Pontal do Paraná. Os respondentes pertencem tanto a rede pública quanto particular da educação, o que possibilitou uma análise comparativa das condições enfrentadas em diferentes contextos escolares.
O instrumento abordou temas como: infraestrutura tecnológica disponível nas escolas; percepção sobre mudanças no uso das tecnologias após a pandemia; adequação da formação docente; e, compreensão da Educação 5.0. Esse instrumento buscou dar voz aos profissionais diretamente envolvidos no cotidiano escolar, permitindo uma análise articulada entre a teoria e a prática que utilizam cotidianamente.
A justifica dessa pesquisa reside no fato de que, é preciso compreender não apenas os dados objetivos da realidade, mas também as percepções subjetivas que orientam as práticas pedagógicas e revelam necessidades ainda não compreendidas pelo sistema educacional.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕE
Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (FREIRE, 1992, p.32).
Muito recentemente, a emergência mundial em saúde pública, da Covid-19, revelou de forma contundente a fragilidade estrutural das escolas brasileiras, especialmente as da rede pública de ensino. A necessidade de ensino remoto colocou em evidência as limitações de acesso às tecnologias, e ampliou desigualdades sociais já presentes.
Souza Junior et al. (2022) aponta que a ausência de infraestrutura adequada comprometeu o andamento das aulas síncronas, realizadas ao vivo, enquanto a falta de políticas públicas agravou os obstáculos enfrentados por estudantes e professores.
A pandemia também impactou diretamente a saúde mental dos professores, imediatamente sobrecarregados com novas demandas, conforme destaca Baade et al. (2020) e Saraiva, Traversini e Lockmann (2020). O ensino remoto emergencial não apenas alterou metodologias, mas expôs os limites de um sistema precariamente preparado para lidar com o universo digital em tão imediato tempo.
O debate sobre a Educação 5.0, que sobreveio a esse tempo de experiência e adaptações, não se limitava ao mero uso de ferramentas digitais, mas, como Oliveira e Pimentel (2020) compreendem, significou um novo compromisso com o bem-estar humano e social, no sentido de promover uma educação horizontal e mais inclusiva. Essa perspectiva é reforçada por Rua (2019, apud Guimarães et al., 2023), que a compreende como uma nova tendência educacional, não meramente técnica ou tecnológica, mas inclusiva e humanizada, integrando habilidades comportamentais de fundo colaboracional e pró-ativo, como empatia, colaboração e resiliência no processo educativo.
Para Vieira, Tanajura e Souza (2020) essa proposta exige, sem dúvida, investimento consistente em infraestrutura e valorização da formação docente, pois a simples introdução de tecnologias não garante os avanços pedagógicos pretendidos. Além disso, conforme defendem Vilela Junior et al. (2020), a Educação 5.0 é caracterizada por três pilares fundamentais, a conhecer: ser uma educação complexa e ecológica, tecnológica e humanista, e físico-matemática e artística. Essa visão amplia o conceito de technê – o saber fazer com sabedoria, que aprendemos desde os gregos -, e coloca a tecnologia à serviço da humanização e da sustentabilidade.
Dessa forma, compreender as adaptações pós-pandemia implica em reconhecer tanto os limites vivenciados pelas instituições escolares num dado momento imediato, mas também as possibilidades de reconfiguração do ensino em direção a um modelo mais inclusivo, colaborativo, e, também, inovador.
4 As adaptações pós-Covid e a Educação 5.0
Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. (FREIRE, 1992, 56).
Considerando, agora, mais detidamente os resultados obtidos no retorno à aplicação do questionário, identificamos, a partir das respostas obtidas, algumas tendências relevantes sobre o uso da tecnologia e os desafios da Educação 5.0, os quais apresentamos a seguir de modo objetivo, em tópicos:
Função dos participantes: 50% (08) atuam como professores, 37,5% como gestores e 12,5% em funções de estagiários ou apoio administrativo;
Rede de atuação: metade dos respondentes trabalha em escolas públicas, 37,5% em escolas privadas e 12,5% em ambas as redes;
Infraestrutura tecnológica: 75% indicaram a falta de infraestrutura como principal obstáculo para a Educação 5.0; apenas metade afirmou que suas escolas contam com internet funcional e projetores em sala de aula; enquanto 25% declararam não dispor de nenhum recurso digital;
Formação docente: 68,8% avaliaram a formação recebida como incompleta ou insuficiente para atender às novas demandas; apenas 18,8% consideraram que a formação foi adequada;
Uso das tecnologias: 56,3% afirmaram que o uso das tecnologias aumentou apenas de forma superficial; 31,3% perceberam um avanço significativo; e, 18,8% não notaram mudanças relevantes;
Inteligência artificial: a maioria relatou que o uso de ferramentas digitais, como ChatGPT, ainda ocorre de forma pontual; mas 18,8% afirmaram perceber o uso frequente por alunos ou professores.
Ilustração 1 – Perfil dos participantes

Ilustração 2 – Categoria de atuação

Fonte: Elaboração da autora.
Ilustração 3 – Formação docente recebida

Fonte: Elaboração da autora.
Ilustração 4 – Mudanças no uso de tecnologia pós-pandemia

Fonte: Elaboração da autora.
Ilustração 5 – Uso de inteligência artificial na escola

Fonte: Elaboração da autora.
Ilustração 6 – Respostas abertas

Fonte: Elaboração da autora.
Essa amostragem é interessante para reconhecer como os respondentes se colocam de modo bastante diverso e até contraditório em algumas respostas. Alguns participantes destacaram que a dependência excessiva da tecnologia enfraquece aprendizagens mais profundas, ao estimular práticas de “copia e cola”, outros, ressaltaram que a Educação 5.0 só será possível com treinamentos contínuos e úteis que ajudem o professor a aplicar a tecnologia de forma equilibrada. Houve também menções à dificuldade da inclusão digital e à necessidade de maior empatia e diálogo entre profissionais da escola. Mas ainda há os que observam que o uso das tecnologias em sala de aula até aumentou após a pandemia, quando a tecnologia foi muito requerida num período de interdição de trânsito e convivência. Interessantes apontamentos que denotam, ainda, alguma rejeição, porém uma maior aceitação da tecnologia no universo escolar e, como não compreender, até no impacto pessoal.
Esses resultados reforçam a ideia de que o processo de adaptação pós-Covid continua em andamento, mesmo embora haja um hiato entre o discurso de inovação e a realidade cotidiana das instituições com suas limitações e resistências.
A análise conjunta da base teórica e da pesquisa de campo, porém, evidencia que a Educação 5.0 ainda está distante da realidade da maioria das escolas brasileiras, especialmente, as mais afastadas dos centros urbanos. Embora a pandemia tenha acelerado a adoção de tecnologias, os dados indicam que essa mudança ainda carece de investimentos estruturais e de uma uniformização no meio educativo.
A literatura ressalta que a tecnologia, sozinha, não é capaz de transformar o ensino (ARRUDA, 2020; KOHAN, 2020); é necessário integrá-la às práticas pedagógicas que valorizem a humanização, a criatividade e a criticidade. Nesse sentido, a Educação 5.0 exige que as escolas não se contentem apenas em disponibilizar dispositivos digitais e busquem avançar em direção a um modelo que, como apontam Guimarães et al. (2023), priorize a customização do ensino, o trabalho colaborativo e a interdisciplinaridade, utilizando metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Projetos.
O questionário mostra que, sem formação adequada e infraestrutura de qualidade, os professores tendem a utilizar as ferramentas digitais de modo limitado, muitas vezes, como recurso complementar, e não como parte estruturante do processo educativo.
Outro ponto relevante é a desigualdade entre escolas públicas e privadas.
Enquanto algumas instituições avançam na adoção de tecnologias, outras ainda lutam para oferecer condições mínimas de acesso. Essa disparidade pode ampliar ainda mais as diferenças educacionais, se não houver políticas públicas voltadas à inclusão digital.
5 Um outro caminho é possível?
Superar os desafios identificados exige ação integrada que envolva Estado, escolas e sociedade. É preciso garantir infraestrutura adequada, ampliar a formação docente e estimular práticas pedagógicas inovadoras, é o que nos sugere o último quadro a seguir, da opinião dos respondentes sobre os desafios para se alcançar a educação do futuro.
Ilustração 7 – Principais desafios para a Educação 5.0

Fonte: Elaboração da autora.
A Educação 5.0 só se consolidará se for capaz de equilibrar inovação tecnológica e humanização, colocando o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem e promovendo inclusão social. É uma possibilidade de ressignificação do ensino, mas sua implementação depende de investimentos consistentes em infraestrutura e formação docente. Além disso, como destacam Vilela Junior et al. (2020) e Guimarães et al. (2023), é essencial que a formação docente inclua não apenas o domínio tecnológico, mas também o desenvolvimento de competências socioemocionais e a compreensão de práticas pedagógicas inovadoras, como a personalização do aprendizado e a integração entre áreas do conhecimento. É, também, todo um esforço de derivação do sentido objetivo da tendência neotecnicista de educação que tem marcado o ensino brasileiro, e até mundial, desde o advento da internet.
Nesse contexto, a reflexão de Edgar Morin (2007) sobre a sociedade complexa, ou o pensamento complexo, torna-se fundamental, pois evidencia uma virada paradigmática individual e coletiva. A educação deve preparar os indivíduos para lidar com a incerteza, a diversidade e a interconexão dos fenômenos contemporâneos. A escola, portanto, precisa assumir uma postura integradora, capaz de articular dimensões sociais, culturais e tecnológicas em um processo formativo que esteja de acordo com a realidade de mudanças e novos objetos.
De forma complementar, Philippe Perrenoud (2000) ressalta que as novas demandas educacionais exigem o desenvolvimento de competências e habilidades que não se limitam ao domínio técnico, mas envolvem capacidades de reflexão crítica, resolução de problemas e adaptação às tecnologias emergentes. Assim, a Educação 5.0 só se consolidará se conseguir equilibrar inovação tecnológica e humanização, com o estudante, novamente, no centro do processo de aprendizagem.
As perspectivas de Morin e de Perrenoud reforçam que o futuro da educação depende de uma visão complexa e de uma formação docente voltada para competências críticas e criativas, capazes de enfrentar os desafios da sociedade tecnológica do século XXI.
Cabe às escolas, gestores e órgãos públicos refletir sobre as mudanças necessárias para que a tecnologia seja utilizada de forma crítica, ética e inclusiva.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo permitiu compreender que os desafios enfrentados pela educação no período pós-Covid não se restringem somente à falta de recursos materiais, mas envolvem também a valorização dos professores e a necessidade de políticas públicas eficazes.
Esse debate permanece aberto e aponta para a importância de novas pesquisas que aprofundem a compreensão sobre as práticas pedagógicas e o uso das tecnologias, especialmente em realidades marcadas por desigualdades sociais.
REFERÊNCIAS
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VILELA JUNIOR, G. B. et al. Você está preparado para a Educação 5.0? Revista CPAQV, v. 12, n. 1, 2020.
1Discente do Curso Superior de Pedagogia da Unespar Campus Paranaguá. E-mail: giuligabrieli@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Campus Paranaguá. Mestre em Educação pelo PPGMAD/UNIR. E-mail: erica.cintra@unespar.edu.br
