O POTENCIAL NEUROPROTETOR DO CANABIDIOL NO TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506200236


Ana Beatriz Soares Andrade
Mariana da Silva Leitão


Resumo  

O objetivo é analisar o uso do canabidiol (CBD), um composto extraído da planta Cannabis  sativa, no tratamento da Doença de Alzheimer (DA). A pesquisa aborda aspectos históricos,  legais e científicos relacionados ao canabidiol, destacando seu potencial terapêutico,  especialmente suas propriedades neuroprotetoras, anti-inflamatórias e ansiolíticas. A Doença de  Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva e sem cura, que afeta  significativamente a qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores. Diante da limitação  dos tratamentos convencionais, o CBD surge como uma alternativa promissora no manejo dos  sintomas comportamentais e cognitivos da doença. A metodologia adotada foi a revisão  bibliográfica integrativa, baseada em artigos científicos publicados entre 2013 e 2023,  selecionados nas bases SciELO, PubMed, LILACS e Google Acadêmico. Os resultados  sugerem que, embora ainda sejam necessárias mais pesquisas clínicas, o canabidiol apresenta  efeitos positivos na redução da neuroinflamação, melhora da memória e diminuição da agitação  e agressividade em pacientes com Alzheimer. Conclui-se que o CBD pode representar um  avanço significativo no tratamento da DA, contribuindo para o bem-estar dos pacientes e a  redução do sofrimento de seus familiares, desde que utilizado com respaldo médico e dentro  dos parâmetros legais.  

Palavras-chave: Alzheimer. Canabidiol. Cannabis. Tratamento. Neurodegeneração. 

Abstract  

This undergraduate thesis aims to analyze the use of cannabidiol (CBD), a compound extracted  from the Cannabis sativa plant, in the treatment of Alzheimer’s disease (AD). The research  explores historical, legal, and scientific aspects related to cannabidiol, emphasizing its  therapeutic potential, particularly its neuroprotective, anti-inflammatory, and anxiolytic  properties. Alzheimer’s disease is a progressive and incurable neurodegenerative condition that  significantly impacts the quality of life of patients and their caregivers. Given the limitations of  conventional treatments, CBD emerges as a promising alternative for managing the behavioral and cognitive symptoms of the disease. The methodology used was an integrative literature  review based on scientific articles published between 2013 and 2023, selected from the  databases SciELO, PubMed, LILACS, and Google Scholar. The results suggest that, although  further clinical research is still needed, cannabidiol shows positive effects in reducing  neuroinflammation, improving memory, and decreasing agitation and aggression in patients  with Alzheimer’s disease. It is concluded that CBD may represent significant progress in the  treatment of AD, contributing to patient well-being and reducing the burden on families, as long  as it is used under medical guidance and within legal parameters.  

Keywords: Alzheimer. Cannabidiol. Cannabis. Treatment. Neurodegeneration.  

1. Introdução  

A Doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa progressiva e fatal,  marcada pela perda gradual de memória e habilidades cognitivas. Com o tempo, as atividades  diárias são cada vez mais comprometidas, e surgem sintomas neuropsiquiátricos e mudanças  comportamentais. Embora a causa exata seja desconhecida, acredita-se que fatores genéticos  desempenham um papel importante.  

A incidência de casos diagnosticados de doenças neurodegenerativas tem aumentado com o passar do tempo, devido à elevação da expectativa média de vida da população, e também devido à evolução da medicina que, através do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias na área terapêutica, aumenta as chances de que as pessoas atinjam a velhice, fazendo com que cresçam os índices de problemas de saúde relacionados à idade (Magalhães; Sandberg, 2005, p.01)  

Afeta uma grande parcela da população, com 30 milhões de pessoas sofrendo com a doença  em todo o mundo. Estima-se que até 2040 esse número suba para 80 milhões. Esse aumento  está relacionado ao crescimento da expectativa de vida. Segundo o Ministério da Saúde, há  aproximadamente 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer no Brasil, sendo a maioria idosos.  Além disso, as taxas de mortalidade associadas à doença têm aumentado nos últimos anos,  sendo a décima principal causa de morte no país em 2019 (Barbosa et al., 2020). O Alzheimer  é a forma mais comum de demência em idosos, representando mais da metade dos casos nessa  faixa etária.  

Neste contexto, a busca por terapias alternativas tem ganhado relevância, o canabidiol  (CBD), um composto da planta cannabis, tem sido estudado por seus efeitos neuroprotetores em pacientes com Alzheimer. Pesquisas recentes sugerem que o CBD possui propriedades  neuroprotetoras, anti-inflamatórias e antioxidantes, que podem atuar na prevenção da  degeneração neuronal, característica da Doença de Alzheimer (a inflamação e o estresse oxidativo no cérebro, são fatores que contribuem para a progressão da doença). Além disso, o  CBD pode melhorar a função cognitiva, reduzir o acúmulo de placas beta-amiloides  (características da doença de Alzheimer) e aliviar sintomas como ansiedade e agitação. O CBD  também tem sido estudado por sua capacidade de modular sistemas neurais envolvidos na  regulação da resposta inflamatória e no estresse oxidativo, fatores chave na progressão dessa  doença. Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sistemática das evidências  científicas sobre o potencial neuroprotetor do canabidiol no tratamento da Doença de  Alzheimer, analisando seu impacto na degeneração cerebral e as possíveis implicações para a  prática clínica.  

Para Hughes e Herron (2019) o CBD apresentou o potencial terapêutico na atenuação da Doença de Alzheimer, protegendo a plasticidade sináptica em um  modelo in vitro. Considerando a evidência crescente de que o CBD pode reduzir a  neuroinflamação e proteger contra os efeitos de peptídeos beta-amiloides tanto in vitro  quanto em alguns modelos in vivo, este canabinóide não psicoativo deve ser  considerado seriamente como uma possível nova terapia para o tratamento da DA  (Abate, et al., 2021, p. 06).  
Os canabinoides, substâncias ativas derivadas da Cannabis, representam uma opção promissora de tratamento para indivíduos com Doença de Alzheimer, pois  proporcionam neuroproteção ao reduzir indiretamente os efeitos relacionados ao  acúmulo de placas beta-amiloides, como o estresse oxidativo, a neurodegeneração e  apoptose. Além disso, atuam diretamente no processo peptídico envolvido na  formação dessas placas (Moraes; Fukushima; Nicoletti, 2022 p. 03).  

De que maneira o canabidiol (CBD) atua como agente neuroprotetor na Doença de  Alzheimer, e quais são os seus impactos nos mecanismos de neurodegeneração e nas funções  cognitivas dos pacientes?  

O CBD pode ser um importante agente terapêutico no tratamento, na prevenção e na  reversão de lesões oriundas de doenças neurodegenerativas. Dessa forma, este trabalho tem  como objetivo geral analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, o potencial do  canabidiol (CBD) como agente neuroprotetor no tratamento da Doença de Alzheimer,  investigando seus mecanismos de ação, efeitos sobre a função cognitiva e possíveis aplicações  clínicas. 

2. Metodologia 

Este estudo trata-se de um artigo de revisão de escopo, que vai seguir o protocolo de  Joanna Briggs Institute, que é uma metodologia para a realização de revisões de escopo, que  são sínteses de evidências. O JBI é uma organização internacional de pesquisa e  desenvolvimento sem fins lucrativos.  

O protocolo do JBI é composto por cinco etapas para a condução de pesquisas:  

1. Identificar a questão da pesquisa: Definir claramente o problema ou pergunta de  pesquisa que você quer investigar. Essa questão guiará todo o processo de busca e  análise de dados.  

2. Identificar os estudos relevantes: Fazer uma busca detalhada nas bases de dados  científicas para encontrar estudos que respondam à questão de pesquisa. Usar  palavras chave e critérios específicos para localizar as publicações.  

3. Selecionar os estudos: Aplicar critérios de inclusão e exclusão para escolher os estudos  que serão analisados. Isso garante que apenas os estudos mais pertinentes sejam  considerados na revisão.  

4. Analisar os dados: Coletar e organizar as informações dos estudos selecionados. Aqui,  os dados são examinados de forma crítica para entender suas contribuições e limitações. 

5. Agrupar, sintetizar e apresentar os dados: Reunir as informações dos estudos,  sintetizálas de forma clara e apresentá-las de maneira organizada, geralmente em forma  de tabelas, gráficos ou texto descritivo. Isso permite tirar conclusões e responder à  pergunta da pesquisa.  

O potencial neuroprotetor do Canabidiol no tratamento da doença de Alzheimer  

De que maneira o canabidiol (CBD) atua como agente neuroprotetor na Doença de  Alzheimer, e quais são os seus impactos nos mecanismos de neurodegeneração e nas funções  cognitivas dos pacientes?  

P: A neurodegeneração é causada pela Doença de Alzheimer.  

C: O uso do canabidiol (CBD) como neuroprotetor.  

C: Pacientes com Alzheimer e o impacto nas funções cognitivas. 

Os critérios de inclusão foram estudos que abordem o uso do CBD em doenças  neurodegenerativas, com ênfase em Alzheimer, e que explorem suas propriedades  neuroprotetoras, anti-inflamatórias e antioxidantes. Serão incluídos estudos experimentais e  revisões sistemáticas que discutam os mecanismos de ação do CBD e suas implicações  terapêuticas. Os artigos selecionados serão analisados quanto aos métodos, resultados e  conclusões sobre o impacto do CBD na redução da neurodegeneração e melhora das funções  cognitivas. A revisão também abordará as limitações e lacunas presentes nos estudos atuais,  visando apresentar uma visão crítica e atualizada sobre a viabilidade do CBD como uma  intervenção clínica para o Alzheimer.  

Exclusão: Artigos que não apresentem dados específicos sobre o uso de CBD no  contexto neuroprotetor ou que sejam duplicados entre bases.  

Esta abordagem permitirá a sistematização das evidências disponíveis e a avaliação de seu  potencial para aplicação prática, contribuindo para a discussão sobre novas terapias para a DA.  

Fontes de Dados: As bases de dados utilizadas incluem PubMed e BVS, abrangendo estudos  publicados entre 2014 e 2024. Serão priorizados artigos revisados por pares, ensaios clínicos,  estudos pré-clínicos e revisões sistemáticas.  

Estratégia de Busca: As palavras-chave utilizadas serão: cannabidiol, Alzheimer’s disease,  neuroprotection, CBD therapy e seus correspondentes em português, combinadas com  operadores booleanos (AND, OR).  

A busca foi realizada nas bases de dados PubMed e bvs, utilizando los descriptores (“Alzheimer  disease” OR Behavioral symptoms” OR “cannabidiol OR  “neurodegenerative diseases”) AND (Nursing OR “Nursing Care” OR “Nurse Practitioners”  OR “Nursing Services”)  

Foram selecionados aproximadamente 10 artigos publicados na base de dados PubMed, em  português e inglês, que abordavam especificamente a atuação da enfermagem no cuidado de  pacientes com Alzheimer, com foco no uso do canabidiol como agente neuroprotetor. Estudos  que tratavam de outras condições neurológicas sem relação direta com a doença de Alzheimer  foram excluídos da análise. 

3. Resultados e Discussão

TÍTULOAUTOR/ANOOBJETIVOOBSERVAÇÃO
Phytocannabinoids as PotentialMultitargeting Neuroprotectants in Alzheimer’s DiseaseSumit S Rathod et al. Curr Drug Res Rev. 2024.O artigo analisa  como o Sistema Endocanabinoide e  compostos vegetais  atuam na proteção  neural e na redução  da inflamação, com  foco na Doença de  Alzheimer.O artigo destaca o  potencial terapêutico  dos canabinoides no  tratamento de  doenças neurodegenerativas,  especialmente pelo  efeito anti-inflamatório  e neuroprotetor do SistemaEndocanabinoide.
Potential and Limits  of Cannabinoids in Alzheimer’s Disease TherapyAbate G,Uberti D, Tambaro S Et/al 2021Explorar os benefícios e  limitações do uso de canabinoides no  tratamento da doença de Alzheimer.Conclui que, apesar  do potencial,  há desafios como dosagem e efeitos  colaterais.
The therapeutic  potential of the  phytocannabinoid  cannabidiol for Alzheimer’s disease.Tim Karl et al. Behav Pharmacol. 2017 Apr.O artigo analisa o  potencial do CBD  como terapia para  Alzheimer, devido às  suas propriedades  neuroprotetoras e  anti-inflamatórias,  abordando também o papel do sistema endocanabinoide e a segurança do uso.O artigo destaca o CBD como uma  alternativa promissora para o tratamento do  Alzheimer, por atuar  em múltiplos  sintomas da doença  sem causar efeitos  psicoativos.
From Cannabis sativa to Cannabidiol: Promising Therapeutic Candidate for the Treatment ofNeurodegenerative  Diseases.Cassano T,VillaniR,Pace L,Carbone A,Bukke VN, Orkisz S,Avolio C,Serviddio G Et/al 2020Avaliar o CBD como  tratamento para  doenças neurodegenerativas,  como Alzheimer e  Parkinson. Enfatiza  propriedades antioxidantes e  neuroprotetoras,  mas indica a  necessidade de  ensaios clínicos  robustos.
Understanding the  Modulatory Effects  of Cannabidiol on Alzheimer’s DiseaseYinyi Xiong et al. Brain Sci. 2021.O objetivo do artigo  é analisar como o  CBD pode ajudar no tratamento do  Alzheimer, destacando seus  efeitos protetores no  cérebro e os desafios  para seu uso clínico.O artigo reforça o CBD como uma  alternativa  terapêutica  promissora para o  Alzheimer, embora ainda haja obstáculos a  serem superados para seu uso efetivo em  humanos.
Neuroprotective potential of  cannabidiol:  Molecular  mechanisms and clinical implicationsSrushti M Tambe et  al. J Integr Med. 2023 May.O artigo revisa os  efeitos terapêuticos  do CBD em doenças  neurológicas como  Alzheimer, 
Parkinson e  epilepsia, com foco  em seus mecanismos  neuroprotetores e no  potencial para  futuras aplicações  clínicas.
O texto reforça o CBD como uma  alternativa  promissora e segura  para tratamentos neurológicos, por não causar efeitos  psicoativos e por  atuar em múltiplos  processos patológicos do  sistema nervoso.
Cannabidiol, aplant-derived  compound, is X an  emerging strategy for treating cognitive  impairmentsYndart Arias A,Vadell K,Vashist A,Kolishetti N,Lakshmana MK,Nair M,Liuzzi JP Et/al 2024Investigar o CBD  como estratégia  terapêutica para  déficits cognitivos.Aponta mecanismos  como redução de  neuroinflamação, mas destaca  a escassez de  dados em humanos
Cannabis andNeuropsychiatric  Disorders: An Updated Review.Chayasirisobhon S Et/al 2019Revisar a relação entre cannabis e  transtornos  neuropsiquiátricos.Discute riscos (ex.:  psicose) e benefícios  (ex.: ansiedade),  dependendo do uso e  do perfil do paciente.
Overview ofCannabis including  Kampo Medicine and Therapy forTreatment of Dementia: AReview.Wenger T,Watanabe K,Sasaki Y,Kanazawa  K,Shimizu K,Sirikantaramas S,Shoyama Y,Taura  F, Morimoto S,Shoyama Y Et/al 2021Explorar o uso da  cannabis e  da medicina  Kampo no tratamento da demência.Aborda combinações  terapêuticas tradicionais e  modernas, mas com  evidências limitadas.
Treatment ofNeuropsychiatric Symptoms X inAlzheimer’s Disease  with a Cannabis-Based Magistral FormulationNavarro CE, Pérez JC Et/al 2024 Avaliar uma  formulação magistral à base de cannabis  para sintomas 
neuropsiquiátricos no Alzheimer.
Relata melhorias em  agitação e apetite,  porém com  variações individuais  na resposta. 

A doença de Alzheimer é o distúrbio neurodegenerativo mais comum, é caracterizada  pela perda progressiva da cognição. São mais de 35 milhões de pessoas que atualmente têm DA  em todo o mundo. Às terapias existentes refletem apenas um alívio sintomático módico. A  doença de Alzheimer apresenta neurodegeneração no cérebro, há perda progressiva de  neurônios, especialmente em regiões como o hipocampo (memória) e o córtex cerebral (funções  cognitivas). (Sumit et al.. 2024) 

A DA também traz altos níveis de estresse oxidativo, o cérebro é particularmente  vulnerável devido ao alto consumo de oxigênio e baixa capacidade antioxidante, e inflamação,  a inflamação agrava a lesão neuronal e pode impulsionar a progresso da DA. Os pacientes com DA têm o cérebro acometido pela deposição de beta-amilólide, e formas hiperfosforiladas  da proteína tau. O acúmulo de peptídeos β-amiloides, especialmente Aβ42, formam placas  extraneuronais (placas senis) no espaço extracelular. Esses peptídeos são produzidos a partir  do processamento anormal do precursor da proteína amiloide (APP) por enzimas como βsecretase e γ-secretase. Tau é uma proteína associada aos microtúbulos, que, quando  hiperfosforilada, forma agregados intracelulares chamados emaranhados neurofibrilares. Esses  emaranhados perturbam o transporte axonal e contribuem para a degeneração neuronal. (Abate  G. et al, 2021) 

O fitocanabinoide canabidiol (CBD) apresenta efeitos neuroprotetores, antioxidantes e  anti-inflamatórios, além de inibir, em estudos in vitro, a produção de beta-amiloide e a  hiperfosforilação da proteína tau. Em modelos in vivo, o CBD também demonstrou eficácia,  destacando-se como uma alternativa promissora para novas abordagens terapêuticas na Doença  de Alzheimer (DA), especialmente por não possuir efeitos psicoativos ou impactos negativos  sobre a cognição. Dessa forma, o uso do CBD pode integrar estratégias farmacológicas  preventivas e multimodais, voltadas ao enfrentamento simultâneo de múltiplos aspectos  patológicos da DA, o que se mostra uma abordagem potencialmente ideal. Cannabis sativa,  conhecida como maconha, contém um conjunto de metabólitos secundários da planta com  efeitos terapêuticos. (Abate G et al, 2021) 

O canabidiol (CBD) é um dos principais fitocanabinoides da Cannabis sativa, mas, ao  contrário do Δ9-THC (tetrahidrocanabinol), não possui efeitos psicoativos. Estudos recentes  destacam seu potencial como agente anti-inflamatório e antioxidante, o que o torna um  candidato promissor para o tratamento de doenças onde a inflamação crônica e o estresse  oxidativo (EO) estão envolvidos. Nesse sentido, os distúrbios neurodegenerativos mais comuns,  são caracterizados por extenso dano oxidativo a diferentes substratos biológicos que podem  causar morte celular por diferentes vias. (Abate G, et al 2021) 

O estresse oxidativo (EO) é um fator importante no processo de envelhecimento. Ele  surge principalmente, quando há um desequilíbrio no organismo: a produção de espécies  reativas de oxigênio (ERO), que são moléculas potencialmente danosas, supera a capacidade  das enzimas antioxidantes de neutralizá-las. Ou seja, quando o sistema de defesa antioxidante  do corpo é insuficiente para combater os efeitos das ERO, ocorre o estresse oxidativo,  contribuindo para o envelhecimento celular e tecidual.  

Nesta última condição, a alta produção de ERO pode alterar a estrutura de proteínas, lipídios, ácidos nucleicos e componentes da matriz, levando à morte celular  está programada ( Cassano et al., 2016, p. 01 ).  
Diferentes tecidos apresentam diferentes suscetibilidades ao EO. O sistema nervoso central (SNC) é extremamente sensível a esse tipo de dano por várias razões.  Nesse sentido, o SNC possui um baixo nível de enzimas antioxidantes, um alto teor de substratos oxidáveis e uma grande quantidade de ERO produzida durante reações  neuroquímicas ( Trabace et al., 2004 ; Uttara et al., 2009, p.09 ).  

O estresse oxidativo é um dos principais motores da neurodegeneração, danificando  neurônios e acelerando doenças como Alzheimer e Parkinson. Embora o oxigênio seja essencial  para a vida, seu metabolismo desregulado gera ROS em excesso, levando a um círculo vicioso  de morte celular.  

Os radicais livres causam lesões em proteínas e DNA, ativam processos inflamatórios e  subsequente apoptose celular ( Cassano et al., 2012 ). Nos últimos anos, a busca por novos  fármacos capazes de proteger as células contra os danos causados pelo estresse oxidativo (EO)  e desestabilização das membranas celulares tem se intensificado. Nesse cenário, o sistema  endocanabinoide (eCB) emergiu como um alvo terapêutico de grande interesse, graças à sua  capacidade única de modular vias de sinalização relacionadas ao equilíbrio redox e à integridade  celular. ( Piomelli, 2003 ; Di Marzo, 2008 ; Kunos et al., 2009) 

Os dois eCBs bem caracterizados são N-araquidonoil-etanolamina ou anandamida (AEA) e 2-araquidonoil-glicerol (2-AG), que são sintetizados sob  demanda em resposta a elevações de cálcio intracelular ( Howlett et al., 2002 ; Di  Marzo et al., 2005, p. 02) 

E respectivamente metabolizados pela amida hidrolase de ácido graxo (FAAH) e pela lipase de  monoglicerídeo (MAGL) ( Piomelli, 2003 ; Di Marzo, 2008 ; Kunos et al., 2009 ). Os  receptores canabinoides (CB) existem em dois subtipos diferentes: tipo 1 (CB1) e tipo 2 (CB2)  ( Matsuda et al., 1990 ; Munro et al., 1993 ; Howlett et al., 2002 ).  

Os receptores CB1, clonados pela primeira vez em 1990, são amplamente distribuídos no corpo e no SNC são distribuídos no nível dos gânglios da base,  cerebelo, hipocampo, núcleo caudado, putâmen, hipotálamo, amígdala e medula  espinhal ( Matsuda et al., 1990, p. 02)  

Os receptores CB2, clonados em 1993, estão localizados principalmente em células do  sistema imunológico com alta densidade no baço, linfócitos T e macrófagos ( Matsuda et al.,  1993 ) Evidências convergentes sugerem fortemente que os eCBs atuam como mensageiros  sinápticos retrógrados ( Kano et al., 2002 ; Freund et al., 2003 ). O processo ocorre após a  ativação de um neurônio na região pós-sináptica (ou seja, após a transmissão do sinal entre  dois neurônios). Esse processo começa com o aumento da concentração de cálcio no citoplasma  da célula pós-sináptica. Esse aumento de cálcio desencadeia a produção e a liberação de  endocanabinoides (eCBs) no espaço sináptico — a região entre os neurônios onde ocorre a  comunicação química. Assim, os eCBs atuam como mensageiros retrógrados, podendo  influenciar a atividade do neurônio pré-sináptico. ( Howlett et al., 2002 ; Pertwee e Ross, 2002)

Posteriormente, os eCBs ativam os receptores CB1 em níveis pré-sinápticos e bloqueiam a liberação dos terminais dos neurônios de diferentes transmissores, como  ácido gama-aminobutírico (GABA), glutamato, dopamina (DA), noradrenalina,  serotonina e acetilcolina ( Howlett et al., 2002 ; Pertwee e Ross, 2002 ; Szabo e  Schlicker, 2005, p. 02). 
Esses mecanismos mediados pela ativação de receptores CB1 pré-sinápticos são denominados supressão de inibição induzida por despolarização (DSI) e excitação  (DSE), respectivamente quando estão envolvidas as transmissões sinápticas inibitórias  (GABA) ou excitatórias (glutamato) ( Kano et al., 2002 ; Freund et al., 2003 , p. 02).  
Da mesma forma, os receptores CB2 podem modular a produção e a função de certas citocinas inflamatórias em vários níveis, ativando as células imunes e  modulando sua migração dentro e fora do SNC ( Freund et al., 2003 ; Walter e Stella,  2004, p. 02 ).  

A limitação atual de terapias eficazes no enfrentamento da progressão de doenças  neurodegenerativas, com ênfase especial na Doença de Alzheimer (DA). Dentro desse contexto,  o canabidiol (CBD) é apresentado como uma substância promissora, por sua capacidade de  modular o sistema endocanabinoide (eCB) e, adicionalmente, por atuar por mecanismos que  independem do receptor canabinoide CB. Essas características posicionam o CBD como um  potencial protótipo para o desenvolvimento de novos fármacos com propriedades  antiinflamatórias voltadas ao tratamento de distúrbios neurodegenerativos. (Navarro et al,2024) 

Os efeitos medicinais e psicotrópicos da Cannabis sativa são bem conhecidos há muito  tempo. Uma infinidade de metabólitos secundários foi extraída desta planta e a maioria deles  foi utilizada para fins terapêuticos por diversas culturas.  

Até o momento, mais de 400 compostos químicos foram isolados da Cannabis sativa e, entre eles, mais de 100 compostos terpeno-fenólicos, denominados fitocanabinoides, foram detectados ( Mechoulam e Hanus, 2000; Mechoulam et al., 2007, p. 02 ).  
Nesse sentido, embora o CBD apresenta afinidade muito menor que o delta9-THC pelos receptores CB1 e CB2, ele é capaz de antagonizar agonistas dos receptores  CB1/CB2 in vitro em concentrações razoavelmente baixas (faixa nanomolar) (  Thomas et al., 2007, p. 03 ).  
Em particular, foi demonstrado por estudos in vitro que o CBD é capaz de atuar como agonista inverso dos receptores CB1/CB2, uma ação que fundamenta seu  antagonismo de CP55940 e R-(+)-WIN55212 no receptor CB1/CB2 ( Thomas et al.,  2007, p. 03).  

Embora a farmacodinâmica do CBD não esteja totalmente esclarecida, diferentes  evidências foram acumuladas mostrando que o CBD parece atuar por diferentes vias. Foi  levantada a hipótese de que as ações anti-inflamatórias do CBD podem ser devidas à sua  capacidade de atuar como um agonista inverso do receptor CB2 ( Pertwee et al 2006 ) .

Os receptores canabinoides (CB), o canabidiol (CBD) também atuam sobre outros alvos  farmacológicos. O CBD também mostrou afinidade pelos receptores ativados por proliferadores  de peroxissomos (PPARs), que compõem uma família de fatores de transcrição ativados por  ligantes. Esses receptores pertencem à superfamília dos receptores nucleares hormonais e  desempenham papel relevante na regulação da expressão gênica, estando envolvidos em  processos como a inflamação, o metabolismo lipídico e a homeostase celular. Assim, a interação  do CBD com os PPARs amplia seu potencial terapêutico, especialmente no contexto de doenças  neurodegenerativas.  

Em humanos, existem três isoformas de PPAR: PPARα, PPARβ/δ e PPARγ, que são codificadas por genes separados e são expressas de forma diferente em órgãos  e tecidos ( Michalik et al., 2006, p.03).  
Além disso, o CBD exerce efeitos antioxidantes mais potentes do que outros antioxidantes, como o ascorbato ou o α-tocoferol, em estudo in vitro onde neurônios  corticais foram tratados com concentrações tóxicas de glutamato ( Hampson et al.,  1998 ; Campos et al., 2016, p.03 ).  

A planta conhecida cientificamente como Cannabis sativa L. pertence ao gênero Cannabis  que abrange diversas espécies, sendo as principais Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis  ruderalis. Das diferentes espécies de cannabis, já foram isolados mais de 70 compostos  denominados canabinoides (CBN). São mais de 100 substâncias químicas naturais. As  principais substâncias químicas extraídas da planta Cannabis são o delta-9-tetraidrocanabinol  (THC) e o canabidiol (CBD). O THC é o principal composto psicotrópico da planta, sendo  responsável pelos efeitos eufóricos e alteradores de consciência frequentemente associados ao  uso recreativo da cannabis. (Wenger T et al, 2021) 

Em contrapartida, o CBD não possui propriedades psicotrópicas, o que o torna um  candidato promissor para aplicações terapêuticas, especialmente em contextos que exigem a  preservação das funções cognitivas e comportamentais. Contudo, os canabinoides não são exclusivos da planta Cannabis. Substâncias com estrutura e função semelhantes também são  produzidas endogenamente pelo organismo de mamíferos, sendo denominadas  endocanabinoides. Além disso, compostos com propriedades canabinoides podem ser  sintetizados artificialmente em laboratório, sendo conhecidos como canabinoides sintéticos.  Essas três classes – fitocanabinoides (de origem vegetal), endocanabinoides (produzidos pelo  organismo) e canabinoides sintéticos – interagem com o sistema endocanabinoide,  desempenhando papéis relevantes em processos fisiológicos e patológicos. ( Pertwee et al 2006)

Os endocanabinoides são neurotransmissores lipídicos endógenos que atuam de forma  retrógrada, são liberados pelo neurônio pós-sináptico e se ligam a receptores presentes no  neurônio présináptico, modulando a liberação de neurotransmissores. Esses compostos interagem com receptores canabinoides amplamente distribuídos no sistema nervoso central e  periférico dos mamíferos, incluindo o cérebro. Os dois principais receptores endocanabinoides  identificados são o CB1 e o CB2, ambos pertencentes à família dos receptores acoplados à  proteína G. O receptor CB1 é altamente expresso em áreas do cérebro associadas a funções  cognitivas, emocionais e motoras, como o córtex frontal, hipocampo, gânglios da base,  hipotálamo, cerebelo e medula espinhal. (Tim Karl et al, 2017) 

Está presente em neurônios GABAérgicos (inibitórios) e glutamatérgicos (excitadores),  exercendo papel fundamental na modulação sináptica. Já o receptor CB2, por sua vez, é  predominantemente encontrado em células do sistema imunológico, células hematopoiéticas e  células da glia. Em condições fisiológicas normais, sua expressão é restrita principalmente à  periferia. No entanto, diante de processos patológicos, inflamatórios ou lesivos, há um aumento  na expressão do CB2 no sistema nervoso central, especialmente no cérebro, o que indica sua  participação em respostas neuroimunes e neuroinflamatórias. Entretanto, o efeito psicoativo  induzido pelo delta-9-tetraidrocanabinol (THC), frequentemente descrito como a sensação de  “euforia” ou “alta”, representa uma limitação significativa para sua aplicação clínica. Esse  efeito colateral restringe seu uso terapêutico em determinadas condições e populações. Como  consequência, os estudos voltados exclusivamente para o potencial terapêutico do THC isolado  ainda são relativamente escassos, quando comparados a outros canabinoides, como o canabidiol  (CBD), que não apresenta propriedades psicoativas.  

A Doença de Alzheimer (DA) é atualmente uma das condições neurodegenerativas mais preocupantes do ponto de vista de saúde pública,  especialmente pelo envelhecimento crescente da população mundial. Trata-se de uma  enfermidade crônica, progressiva e ainda sem cura definitiva, que compromete  diretamente a cognição, memória, linguagem e comportamento dos pacientes,  afetando também de forma intensa a vida dos cuidadores e familiares (TAMBE et al.,  2023,p.236 a 237).  

Do ponto de vista fisiopatológico, a DA é caracterizada principalmente pelo acúmulo de  placas de beta-amiloide (Aβ) entre os neurônios e pelos emaranhados neurofibrilares compostos  por proteína tau hiperfosforilada. Essas alterações provocam a morte neuronal, interrupção das  conexões sinápticas e perda progressiva de funções cognitivas essenciais (XU et al., 2022). Os tratamentos atualmente disponíveis, como os inibidores da colinesterase e os antagonistas dos  receptores NMDA, conseguem retardar levemente o avanço dos sintomas, mas não impedem a  progressão da doença. (Cassano et al, 2020). 

Diante desse cenário, o canabidiol (CBD) tem se destacado como uma alternativa promissora, especialmente por suas propriedades neuroprotetoras,  antiinflamatórias, antioxidantes e ansiolíticas. O CBD é um composto derivado da  planta Cannabis sativa, porém, ao contrário do tetrahidrocanabinol (THC), não possui  efeitos psicoativos, sendo bem tolerado por diferentes perfis de pacientes (TAMBE et  al., 2023, p.236).  

Uma das grandes vantagens do CBD é justamente essa ausência de efeitos eufóricos ou  alucinógenos, o que amplia sua aplicabilidade clínica e facilita a aceitação por parte dos  pacientes e profissionais de saúde.  

O Sistema Endocanabinóidergo (ECS) regula a memória, aprendizagem e plasticidade  sinapáptica (capacidade dos neurônios de se adaptarem e formar novas conexões). O receptor  CB1 (principado receptor ECS) está altamente presente no hipocampo (área crucial para  memória) e no córtex e psicotrópicos da cannabis. Os estudos apontam os efeitos controversos  que foram observados principalmente em adolescentes e jovens adultos que fazem o uso da  maconha e canabinóides sintéticos. cérebro se forma por completo aos 25 anos, tornando mais  vulnerável aos efeitos da cannabis nessa fase, o uso na adolescência pode estar associado aos  efeitos adversos. A modulação do ECS pode ser uma estratégia promissora para tratar o  Alzheimer, aativação dos receptores CB1 e CB* tem efeitos neuroprotetores, como:  

– Redução da deposição de β-amilóide (proteína que forma placas no Alzheimer). 

– Diminuição da fosforilação de ta (outro marcador da doença).  

– Doses baixas de THC (Δ9-tetrahidrocanabinol) mostraram:

– Estimular a neurogênese (formação de novos neurônios) no hipocampo.

– Reduzir a toxicidade do β-amilóide em estudos com animais e humanos.

O uso da maconha tanto para fins medicinais quanto recreativos é conhecido há milênios.  Registros históricos indicam que, por volta de 2700 a.C., um antigo tratado médico chinês já  mencionava os efeitos terapêuticos da planta. Com o avanço da ciência nas últimas décadas, os pesquisadores passaram a investigar de forma mais aprofundada os compostos químicos  presentes na maconha, especialmente os seus princípios ativos. Mais recentemente, o foco tem  se voltado para os mecanismos biológicos que explicam a variedade de efeitos provocados por  esses compostos. A planta Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, possui  uma composição complexa, com mais de 500 substâncias identificadas. Dentre elas, cerca de  120 são denominadas fitocanabinóides, que apresentam estruturas químicas diversas e  propriedades farmacológicas específicas. (Kumar et al,2012) 

Apesar de o CBD não se ligar diretamente aos receptores clássicos do sistema  endocanabinoide (CB1 e CB2), ele influencia esse sistema de forma indireta, atuando por meio  de outros receptores, como o PPAR-γ (receptor ativado por proliferador de peroxissoma gama),  além de interferir em vias inflamatórias e oxidativas que estão altamente ativadas na DA (XU  et al., 2022). Esses mecanismos apontam o CBD como um agente multifuncional, capaz de atuar  em diferentes pontos-chave da neurodegeneração. Além do CBD, outros fitocanabinoides como  β-cariofileno (BCP), canabigerol (CBG), canabicromeno (CBC) e canabinol (CBN) têm sido  investigados por suas interações com o sistema endocanabinoide e possíveis efeitos  terapêuticos. Esses compostos naturais são capazes de modular a atividade dos receptores CB1  e CB2 e também de inibir enzimas como a FAAH e a MAGL, que estão envolvidas na  degradação dos endocanabinoides endógenos. ( Yniyi Xiong et al, 2022). 

A inibição dessas enzimas aumenta os níveis de anandamida e 2-AG no cérebro,  promovendo efeitos anti-inflamatórios, ansiolíticos e neuroprotetores (KUMAR et al., 2022). A  modulação desses elementos pode, inclusive, reduzir a ativação microglial e a liberação de  citocinas inflamatórias como IL-1β, IL-6 e TNF-α, que estão diretamente relacionadas à  progressão da DA. Além dos estudos experimentais, ensaios clínicos com CBD também têm  avançado nos últimos anos. Um levantamento sistemático da literatura realizado por Oliveira et  al. (2023) revisou 14 ensaios clínicos randomizados que avaliaram os efeitos do CBD sobre  sintomas de ansiedade e cognição. Embora os resultados ainda apresentam certa variabilidade,  nove dos dezesseis ensaios analisados relataram melhorias significativas nos quadros ansiosos  e cognitivos. Essa inconsistência pode ser explicada por diferentes fatores, como dosagens  variadas, ausência de controle para comorbidades, pureza desconhecida do CBD utilizado e  desenhos metodológicos subdimensionados. Ainda assim, os dados apontam que o CBD  apresenta um perfil de segurança favorável e não induz comportamentos de dependência,  mesmo quando administrado em doses elevadas (Oliveira et al., 2023). 

Um estudo particularmente relevante conduzido por Navarro e Pérez (2024) acompanhou  uma coorte de 59 pacientes com Alzheimer e sintomas neuropsiquiátricos (NPS), como  agressividade, irritabilidade, delírios e agitação. Os pacientes foram tratados com óleo rico em  CBD administrado por via sublingual, com ajuste gradual da dose ao longo do tempo. Após três  meses de tratamento, observou-se uma redução significativa nos escores de gravidade dos  sintomas e também no nível de estresse relatado pelos cuidadores. Mais de 94% dos pacientes  apresentaram melhora superior a 30% nos sintomas, sendo que mais da metade alcançou  melhora superior a 50%. Além disso, os efeitos positivos foram mantidos por até dois anos, sem  ocorrência de efeitos colaterais importantes. Esse estudo reforça o potencial do CBD como uma  ferramenta terapêutica segura e eficaz, tanto para os pacientes quanto para os cuidadores, que  muitas vezes enfrentam sobrecarga física, emocional e financeira. (Navarro et al, 2024) 

Considerações Finais  

Esse trabalho destaca o mecanismo multifacetados de atuação do canabidiol, que incluem  desde a modulação neuroquímica e neuroinflamatória até a redução do estresse oxidativo, da  apoptose neuronal e da agregação proteica anormal. A ativação do receptor PPAR-γ, a melhoria  na função sináptica, a preservação das estruturas cerebrais como o hipocampo e os impactos  positivos sobre sintomas cognitivos e comportamentais evidenciam que o CBD não se restringe  a um efeito paliativo, mas intervém diretamente nos processos fisiopatológicos da doença.  

Entretanto, é necessário reconhecer as limitações ainda presentes na literatura. A  heterogeneidade nos protocolos de pesquisa, a falta de padronização na dosagem e via de  administração, além da escassez de ensaios clínicos em larga escala, indicam que ainda não é  possível recomendar o uso do CBD como terapia convencional. É imprescindível que os  próximos estudos sejam conduzidos com maior rigor metodológico, adotando critérios clínicos  mais estritos, amostras mais representativas e seguimento longitudinal para verificar os reais  benefícios, riscos e limites da substância no contexto da DA.  

Em síntese, o CBD desponta como uma intervenção terapêutica promissora, sobretudo por  sua capacidade de atuar de forma abrangente sobre múltiplas vias envolvidas na  neurodegeneração. Em um cenário onde a DA continua sendo um desafio crescente para a saúde  pública mundial, o avanço das pesquisas com canabinoides representa uma esperança concreta  para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes, seguras e personalizadas de cuidado. 

Referências  

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