ESTAFILOCOCCIA NA INFÂNCIA: UM RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506101142


Ana Maria Esteves Cascabulho1; Laura Botelho Ramos Godinho2; Lorena de Freitas Gottardi3; Stella Motta Ranzato4; Suzana Ferreira de Souza Fernandes5; Thais Aparecida Marques Zanon Jacomino6; Thalia Vasconcellos Silva Pereira7; Thammy de Lima Bastos Rosa8


RESUMO

A síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE) ou estafilococcia é uma condição cutânea grave causada por toxinas produzidas por cepas do Staphylococcus aureus. Ela ocorre principalmente em crianças pequenas, especialmente menores de seis anos, embora também possa afetar crianças maiores e adultos. O diagnóstico é clínico, com baixa incidência, onde há uma quebra da barreira da pele, até mesmo por trauma ou picadas de insetos, tais microrganismos tornam-se patógenos oportunistas, sendo destaque o Staphylococcus. Inicia-se normalmente com erupção cutânea precedida por princípios como febre, mal-estar, irritabilidade, prostração e dor à palpação da pele. O caso relatado apresenta uma criança de oito meses de idade, admitida para internação hospitalar devido a lesões de pele com aspecto bolhoso em região periorbitária e perioral, com disseminação para face e tronco, evoluindo com edema, vesículas e descamação. Os diagnósticos diferenciais podem ser confundidos com demais transtornos bolhosos e com esfoliação, os quais incluem impetigo bolhoso, epidermólise bolhosa, pênfigo, eritema multiforme e até mesmo necrólise epidérmica tóxica induzida por algum medicamento. O prognóstico é satisfatório e o tratamento com antibioticoterapia sistêmica ou oral, além de suporte clínico na vigência de alterações hidroeletrolíticas e termorregulação do menor de idade. O presente estudo teve o objetivo apresentar os problemas relacionados com infecções cutâneas ocasionadas pela bactéria Staphylococus aureus. Tratou-se de uma pesquisa quantitativa e de revisão de literatura, desenvolvida com base em informações já publicadas em artigos científicos e trabalhos acadêmicos, com o objetivo de sintetizar os achados e conhecimentos existentes sobre o tema.

Palavras-chave: Staphylococus aureus; Infecções Cutâneas; Síndrome da Pele Escaldada Estafilocócica

ABSTRACT

Staphylococcal scalded skin syndrome (SSSS) or staphylococcus is a serious skin condition caused by toxins produced by strains of Staphylococcus aureus. It occurs mainly in young children, especially under six years of age, although it can also affect older children and adults. Diagnosis is clinical, with low incidence, where there is a breakdown of the skin barrier, even due to trauma or insect bites, such microorganisms become opportunistic pathogens, with Staphylococcus being the most prominent. It usually begins with a rash preceded by symptoms such as fever, malaise, irritability, prostration and pain on palpation of the skin. The case reported here is of an eight-month-old child admitted for hospitalization due to skin lesions with a bullous appearance in the periorbital and perioral regions, with spread to the face and trunk, evolving with edema, vesicles and desquamation. The differential diagnoses can be confused with other bullous and exfoliative disorders, which include bullous impetigo, epidermolysis bullosa, pemphigus, erythema multiforme and even toxic epidermal necrolysis induced by some medication. The prognosis is satisfactory and treatment with systemic or oral antibiotic therapy, in addition to clinical support in the presence of hydroelectrolytic and thermoregulatory alterations in the minor. The present study aimed to present the problems related to skin infections caused by the bacterium Staphylococus aureus. This was a quantitative research and literature review, developed based on information already published in scientific articles and academic papers, with the aim of synthesizing the existing findings and knowledge on the subject.

Keywords: Staphylococcus aureus; Skin Infections; Staphylococcal Scalded Skin Syndrome

INTRODUÇÃO

A síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE) ou estafilococcia é uma condição cutânea grave causada por toxinas produzidas por cepas do Staphylococcus aureus. Ela ocorre principalmente em crianças pequenas, especialmente menores de seis anos, embora também possa afetar crianças maiores e adultos. A toxina estafilocócica se dissemina pelo sangue a partir de um foco infeccioso, e atua rompendo a adesão entre as células da pele, levando à formação de bolhas superficiais, descamação intensa e aparência semelhante a queimaduras (Mcmahon, 2024, p. 01).

Essa síndrome representa uma condição dermatológica rara, porém de grande importância clínica, especialmente na faixa etária pediátrica. As toxinas produzidas pelo S. aureus podem fazer com que doença evolua rapidamente para quadros sistêmicos se não tratada adequadamente. O diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para evitar complicações graves como desidratação, sepse e distúrbios eletrolíticos. Por afetar majoritariamente crianças menores de cinco anos, a SPEE demanda atenção redobrada de pediatras e dermatologistas para seu reconhecimento imediato (Carmo et al, 2022, p. 04). 

A síndrome da pele escaldada estafilocócica tem bom prognóstico em crianças, principalmente se o tratamento for instituído precocemente, com recuperação em até 14 dias e sem cicatrizes. O tratamento baseia-se em antibióticos sistêmicos ajustados ao antibiograma e cuidados de suporte, como hidratação e proteção da pele, a fim de garantir um bom prognóstico e reduzir riscos à saúde infantil (Mcmahon, 2024, p.12)

OBJETIVOS

O presente estudo teve o objetivo apresentar os problemas relacionados com infecções cutâneas ocasionadas pela bactéria Staphylococus aureus.

METODOLOGIA 

O presente relato de caso, tratou-se de uma pesquisa quantitativa e de revisão de literatura, desenvolvida com base em informações já publicadas em artigos científicos e trabalhos acadêmicos, com o objetivo de sintetizar os achados e conhecimentos existentes sobre o tema.

A coleta de dados foi realizada por plataformas eletrônicas, utilizando descritores: infecções cutâneas estafilococos, Staphylococcus aureus e infecções bacterianas cutâneas. Sendo critérios de inclusão artigos publicados nos últimos doze anos, textos disponíveis na íntegra, tais como artigos que abordassem estratégias terapêuticas e manejo clínico em crianças.

RELATO DE CASO

Paciente LAS, 8 meses, sexo feminino, acompanhado pela mãe e admitida para internação hospitalar devido a lesões de pele com 48 horas de evolução, lesões essas com aspecto bolhoso em região periorbitária e perioral, disseminando para face e tronco, evoluindo com edema, vesículas e descamação em dorso (Imagem 1,2,3,4). Apresentou posteriormente início de febre. O hemograma evidenciou desvio à esquerda; marcadores inflamatórios sem alterações (Proteína C reativa: 0,3mg/dl). Realizada coleta por Swab das lesões para análise, evidenciando Staphylococcus aureus. Diagnosticado Síndrome da pele escaldada ou estafilococcia, teve início ao tratamento endovenoso com Oxacilina e Ceftriaxona, além de limpeza da pele por loções e óleo de girassol, mantidos por cinco dias durante sua hospitalização. Com evolução clínica progressiva, bem como regressão das lesões, após 48 horas menor recebeu alta hospitalar com uso de antibiótico tópico e por via oral, a fim de completar o tratamento. Paciente obteve resultados positivos ao tratamento e evoluiu sem cicatrizes.

Imagem 1: Lesões em mácula com crosta em região periorbitária direita com eritema ao redor e leve descamação em região perioral.
Imagem 2: Placa eritematosa extensa em região perioral. Descamação seca ao redor das crostas.
Imagem 3: Lesão eritematosa em pápula e placas descamativas.
Imagem 4: Lesões confluentes de placas maiores com descamação fina central.

DISCUSSÃO

A síndrome da pele escaldada, inicia-se normalmente com erupção cutânea precedida por princípios como febre, mal-estar, irritabilidade, dor à palpação da pele, dentre outros sintomas. Toda produção de exotoxinas pode originar-se com focos de infecção com uma otite média, escoriação de pele, lesões do impetigo bolhoso (Carmo et al, 2022, p. 103).

Em relação ao presente relato, a menor apresentou lesões de aspecto bolhoso em região periorbitária e perioral, a qual houve disseminamento para face e tronco evoluindo com edema, vesículas e descamação em dorso. Apresentou posteriormente ao início da febre.

O diagnóstico normalmente é clínico, com baixa incidência, antecedida por faringite   ou conjuntivite associadas a sintomas   sistêmicos   e   ocasionada   por   infecção   estafilocócica. Sendo tais diagnósticos diferenciais, sintomas de irritabilidade, febre, sensibilidade cutânea, exantema e mal-estar (Carmo et al, 2022, p. 04).

A menor apresentou desenvolvimento de sinais na pele típicos da SPPE, com lesões de aspecto bolhoso em região periorbitária e perioral, possivelmente sendo porta de entrada para o surgimento da síndrome. Por este motivo, tais diagnósticos diferenciais da SPEE podem ser confundidas com demais transtornos bolhosos e com esfoliação, os quais incluem impetigo bolhoso, epidermólise bolhosa, pênfigo, eritema multiforme e até mesmo necrólise epidérmica tóxica induzida por algum medicamento (Carmo et al, 2022, p. 04).

Após ruptura epitelial, a infecção estafilocócica altera as defesas do hospedeiro e usa mecanismos de quebra de defesa imune celular e humoral para a invasão de órgãos e tecidos, os quais formarão abcessos encapsulados. Após inúmeras infecções cutâneas, tais abcessos formam diretamente após essa ruptura epitelial (Lopes, 2023, p. 14).

Tais infecções estafilocócicas são normalmente causadas por bactérias do próprio indivíduo (infecções endógenas), ou por amostras adquiridas por doentes ou portadores sadios (infecções exógenas). Toda essa transmissão, ocorre por contato direto ou indireto, geralmente discretas e superficiais, porém, graves quando ocorridas em recém-nascidos (Silva, 2023, p. 50).

A internação frequentemente é necessária para amenizar morbidade e potencial de mortalidade, do qual o tratamento consiste na erradicação do agente infeccioso, hidratação adequada, controle da dor e febre, bem como correção dos desequilíbrios eletrolíticos, se houver.  A internação da menor L.A.S ocorreu após cinco dias do início da sintomatologia característicos de infecções na pele, observando-se provável SPPE. Houve indicação do tratamento com Mupirocina creme e Oxacilina de forma endovenosa e antibiótico oral empregado na continuidade. Normalmente a duração do tratamento endovenoso e oral com antibiótico apropriado para o quadro, são de dez dias, podendo estender-se para quatorze dias em casos de pacientes com pouca expansividade ao tratamento, os quais persistem eritema, febre e progressão das próprias lesões (Tolentino, 2023, p. 388).

No tratamento tópico podem ser utilizados emolientes que oferecem lubrificação e diminuição do desconforto do paciente. Podem ser recomendados banhos e compressas para ajudar no desbridamento da epiderme superficial necrótica. Porém, muitos autores afirmam tal uso de antibiótico tópico desnecessário, mas em diversas literaturas agentes como Sulfadiazina de Prata, Bacitracina e Mupirocina, podem ser utilizados, principalmente em infecções localizadas, as quais poderão ser mantidas no cuidado de evitar o uso de agentes tópicos sensibilizantes (Carmo et al, 2022, p. 04).

Ainda que a recuperação seja rápida, tais complicações como excessiva perda de líquido, desequilíbrio eletrolítico, septicemia e celulite, podem aumentar normalmente a morbidade da SPEE.

Contudo, nota-se que há diversos microrganismos que fazem parte da microbiota da pele, a maioria das situações não são patogênicas. Observa-se quando existe uma quebra da barreira da pele, até mesmo por trauma ou picadas de insetos, tais microrganismos tornam-se patógenos oportunistas, sendo destaque o Staphylococcus. Desta forma, é de extrema importância a clínica apresentada por S. aureus, sendo decorrente de uma série de doenças as quais são causadas por esse patógeno. A contraposição de toxinas produzidas por esse microrganismo sugere-se uma bactéria causadora de inúmeras patologias, tanto simples quanto mais graves (Silva, 2023, p. 51).

O tratamento de forma precoce e adequado, determina sem dúvidas um bom prognóstico, sendo uma taxa de mortalidade infantil inferior a 5%. Após o mesmo, a febre cessa e a erupção cutânea tem uma melhora significativa, onde a descamação da pele normalmente ocorre em cinco dias, com uma resolução completa em aproximadamente quinze dias, sem sequelas permanentes ou qualquer tipo de cicatriz (Guerrer et al, 2022, p. 07). 

CONCLUSÃO

Em suma, o relato foi apresentado como forma de alerta para a importância do rápido reconhecimento da infecção cutânea por Staphylococcus aureus, a fim de tratar de forma precoce, evitando riscos de uma terapia inadequada, bem como complicações naturais da manifestação desse patógeno em crianças.

Dessa forma, torna-se possível atingir um desenredo positivo em uma patologia de baixa prevalência, como a Síndrome da pele escaldada estafilocócica. Sendo extremamente importante diferenciar tal patologia de outras doenças bolhosas, por análise das lesões cutâneas, devido se manifestar por diversas formas inerentes de tratamento e gravidade das mesmas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARMO, R. S. V. et al. Síndrome da pele escaldada estafilocócica: relato de caso. Revista de Medicina (São Paulo), v. 101, n. 6, e189509, nov./dez. 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v101i6e-189509. Acesso em: 16 maio 2025.

GUERRER, B. L. Infecções Bacterianas Superficiais Cutâneas. 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23597c-DC_Infeccoes_Bacterianas_Superficiais_Cutaneas.pdf. Acesso em: 23 mai 2025.

LOPES, V. S. G. ANÁLISE PROSPECTIVA DE PACIENTES INFANTIS COM INFECÇÕES DE PELE, INTERNADOS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO PÚBLICO. 2023. Disponível em: https://repositorio.uvv.br/bitstream/123456789/976/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20FINAL%20DE%20VANUZA%20SOLANGE%20GUASTI%20LOPES.pdf. Acesso em: 24 mai 2025.

McMAHON, P. et al. Staphylococcal scalded skin syndrome. UpToDate, Inc., 2024. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/staphylococcal-scalded-skin-syndrome. Acesso em: 16 maio 2025.

SILVA, D. G. B. et al. INFECÇÕES CUTÂNEAS OCASIONADOS POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. 2023. Disponível em: https://editorapublicar.com.br/ojs/index.php/publicacoes/article/view/4. Acesso: 24 mai 2025.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Infecções bacterianas superficiais cutâneas. Departamentos Científicos de Dermatologia e Infectologia (2019–2021). 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23597c-DC_Infeccoes_Bacterianas_Superficiais_Cutaneas.pdf. Acesso em: 16 maio 2025.

TOLENTINO, L. M. L. et al. Síndrome da pele escaldada estafilocócica: relato de caso. 2023. Disponível em: http://revistas.funorte.edu.br/revistas/index.php/bionorte/article/view/684/494. Acesso em: 23 mai 2025.


1Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000E-mail: anacascabulho@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2493-7183

2Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: laurabotelhoramosgodinho@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1005-9511

3Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: lorenagott@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9850-8942

4Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: laurabotelhoramosgodinho@gmail.com
https://orcid.org/0009-0001-6440-5205

5Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: suzana.eccardsouza@gmail.com
https://orcid.org/0009-0002-7656-0357

6Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: thaiszanon@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1158-8845

7Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: thalia_vasconcellos@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0007-7234-4565

8Instituição: Hospital São José do Avaí Rua Cel. Luiz Ferraz 397, Itaperuna, RJ, CEP: 28300-000 E-mail: thammybastosrosa@gmail.com
https://orcid.org/0009-0003-9503-8115