BIOSAFETY AND GOOD LABORATORY PRACTICES IN THE CONTEXT OF HIGHER EDUCATION IN HEALTH SCIENCES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506101150
Miriam Rodrigues de Sá 1; Francisca Nilcélia Macêdo Barroso 2; Eliziane Oliveira de Lima 3; José Adriano Cavalcante Alencar 4 ; Alciene Pacheco da Silva 5; Iara Alda de Fontes Gois 6; Lhaís Suelen Soares Leal 7; Nayara Rodrigues de Carvalho 8; Marcos Felipe de Sales Aquino 9
Resumo
A biossegurança e as boas práticas laboratoriais são fundamentais para garantir a segurança nos laboratórios universitários, especialmente nas ciências da saúde. Este estudo aborda os principais desafios e riscos ocupacionais encontrados nesses ambientes acadêmicos, como os riscos químicos, biológicos, físicos e ergonômicos. A pesquisa discute as normas e regulamentações que norteiam as práticas de biossegurança e a importância de sua implementação eficaz nos cursos de graduação. A gestão de resíduos laboratoriais também é destacada como um desafio, sendo necessário um manejo adequado para evitar impactos à saúde e ao meio ambiente. A revisão bibliográfica indica que a formação dos estudantes, o investimento em infraestrutura e a conscientização contínua sobre a importância da biossegurança são fundamentais para a criação de um ambiente acadêmico seguro e para o avanço científico responsável. A pesquisa propõe a integração das boas práticas laboratoriais no cotidiano acadêmico e sugere medidas de melhoria para superar as dificuldades encontradas na implementação de biossegurança nas universidades.
Palavras-chave: Biossegurança, Práticas Laboratoriais, Riscos Ocupacionais, Resíduos de Saúde, Educação em Saúde, Segurança no Trabalho, Ensino Superior.
Abstract
Biosafety and good laboratory practices are essential to ensure safety in university laboratories, especially in the health sciences. This study addresses the main challenges and occupational hazards found in these academic environments, such as chemical, biological, physical, and ergonomic risks. The research discusses the regulations and guidelines that govern biosafety practices and highlights the importance of their effective implementation in undergraduate programs. Laboratory waste management is also emphasized as a challenge, requiring proper handling to prevent health and environmental impacts. The literature review indicates that student training, investment in infrastructure, and ongoing awareness of the importance of biosafety are crucial for creating a safe academic environment and promoting responsible scientific advancement. The study proposes the integration of good laboratory practices into academic routines and suggests improvement measures to overcome the difficulties faced in implementing biosafety in universities.
Keywords: Biosafety, Laboratory Practices, Occupational Hazards, Healthcare Waste, Health Education, Workplace Safety, Higher Education.
1 INTRODUÇÃO
A biossegurança é definida como o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde humana, animal, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados (Santos, 2019). No Brasil, a biossegurança é regulamentada por diversas normativas, destacando-se a Lei nº 11.105/2005, que trata da manipulação de organismos geneticamente modificados, e as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que abordam os riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes nos ambientes laborais (Brasil, 2005).
Historicamente, o conceito de biossegurança começou a ganhar relevância no cenário mundial a partir da década de 1970, com a intensificação das pesquisas biomédicas e biotecnológicas e o reconhecimento dos riscos inerentes ao manuseio de microrganismos patogênicos. Nos Estados Unidos, a publicação do Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories (BMBL) pelo CDC e NIH, em 1984, marcou um avanço importante na normatização de práticas seguras em laboratórios. No Brasil, o tema ganhou força a partir dos anos 1990, especialmente com a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 1995, responsável por avaliar as atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs), consolidando o arcabouço legal da biossegurança no país.
Nos laboratórios de ensino superior em ciências da saúde, a aplicação rigorosa dos princípios de biossegurança é essencial, uma vez que esses ambientes apresentam uma diversidade de riscos ocupacionais, incluindo agentes biológicos, produtos químicos perigosos e equipamentos potencialmente lesivos. A adoção de boas práticas laboratoriais (BPLs) é fundamental para garantir a segurança dos estudantes, professores e técnicos, bem como para assegurar a qualidade dos resultados obtidos nas atividades acadêmicas (Ruiz, 2022).
As boas práticas laboratoriais englobam um conjunto de normas, procedimentos e atitudes de segurança que visam minimizar os acidentes nos laboratórios, incrementar a produtividade, assegurar a melhoria da qualidade dos serviços desenvolvidos e manter um ambiente seguro para todos os usuários (Teixeira, 2010). Entre as práticas recomendadas estão: restrição de acesso aos laboratórios, uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), manutenção da higiene pessoal e do ambiente, proibição de ingestão de alimentos e bebidas nos locais de trabalho, e treinamento contínuo dos usuários (Brasil, 2006).
A biossegurança não deve ser compreendida apenas como um conjunto técnico de medidas preventivas, mas como uma cultura organizacional a ser promovida dentro das instituições. O desenvolvimento dessa cultura depende de ações educativas permanentes, que envolvam desde a inserção de conteúdos teóricos nos currículos dos cursos até a capacitação prática dos estudantes e profissionais. Nesse contexto, o papel das universidades é fundamental para formar profissionais que reconheçam a biossegurança como um compromisso ético com a vida, a saúde e o meio ambiente.
Apesar da existência de regulamentações e diretrizes claras, persistem deficiências relevantes na formação e na prática dos profissionais e estudantes em relação à biossegurança. Fatores como a falta de recursos, a alta rotatividade de usuários nos laboratórios e a ausência de programas de educação continuada contribuem para a não conformidade com as normas estabelecidas, aumentando os riscos de acidentes e comprometendo a saúde dos envolvidos (Costa; Costa, 2008). A negligência com essas práticas pode gerar consequências graves, não apenas para a integridade dos indivíduos diretamente envolvidos, mas também para a comunidade acadêmica e para o meio ambiente.
Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica descritiva sobre a biossegurança e as boas práticas laboratoriais no contexto do ensino superior em ciências da saúde, com ênfase na identificação dos principais riscos ocupacionais, das normativas aplicáveis e das estratégias de prevenção adotadas nas instituições de ensino.
A escolha deste tema se justifica pela importância de promover ambientes laboratoriais seguros nas instituições de ensino superior, garantindo a integridade física e mental dos estudantes, professores e técnicos. A compreensão e a aplicação efetiva dos princípios de biossegurança são essenciais para a formação de profissionais conscientes e responsáveis, capazes de atuar de forma segura e ética em suas futuras atividades profissionais.
A metodologia adotada neste trabalho consiste em uma revisão bibliográfica descritiva, utilizando fontes acadêmicas e normativas relevantes, como artigos científicos disponíveis em bases de dados como SciELO e PubMed, capítulos de livros especializados, legislações e normas técnicas nacionais e internacionais. A análise das informações será realizada de forma crítica, buscando identificar as principais práticas recomendadas, os desafios enfrentados pelas instituições de ensino e as estratégias adotadas para promover a biossegurança nos laboratórios.
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E LEGAIS DA BIOSSEGURANÇA EM AMBIENTES ACADÊMICOS
A biossegurança é um campo multidisciplinar que visa prevenir, minimizar ou eliminar riscos inerentes às atividades que envolvem agentes biológicos, químicos e físicos, especialmente em ambientes laboratoriais. Em contextos acadêmicos, onde o ensino e a pesquisa são centrais, a biossegurança assume papel importante na proteção da saúde humana, animal e do meio ambiente, garantindo a integridade das atividades científicas e educacionais (Rivero e Santos, 2025).
Historicamente, o conceito de biossegurança emergiu como uma resposta às necessidades de contenção de agentes patogênicos e à proteção de trabalhadores expostos a riscos biológicos, inicialmente nos setores da microbiologia e da biotecnologia. Com o avanço das ciências da vida e o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais complexas, como a engenharia genética, tornou-se necessário estabelecer diretrizes mais rígidas para o manuseio seguro de organismos potencialmente perigosos. A preocupação global com a segurança laboratorial ganhou força, especialmente após eventos como os surtos de antraz e a pandemia de HIV nos anos 1980, que impulsionaram políticas públicas e protocolos internacionais de biossegurança.
No Brasil, a biossegurança é regulamentada por um conjunto de leis e normas técnicas que estabelecem diretrizes para a condução segura de atividades laboratoriais. A Lei nº 11.105/2005, conhecida como Lei de Biossegurança, institui normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvem organismos geneticamente modificados (OGMs), além de criar a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) como órgão consultivo e deliberativo em matéria de biossegurança (Brasil, 2005). Complementarmente, a Norma Regulamentadora nº 32 (NR-32), estabelecida pela Portaria nº 485/2005 do Ministério do Trabalho e Emprego, dispõe sobre medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em serviços de saúde, incluindo laboratórios (Brasil, 2005).
A implementação eficaz da biossegurança em ambientes acadêmicos requer a adoção de boas práticas laboratoriais (BPLs), que consistem em um conjunto de procedimentos e condutas que visam garantir a qualidade dos resultados experimentais e a segurança dos envolvidos. As BPLs abrangem desde a correta utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva (EPCs) até a manutenção adequada dos equipamentos e a gestão apropriada dos resíduos laboratoriais (SBAC, 2024).
A estrutura física dos laboratórios também desempenha papel fundamental na biossegurança. A classificação dos laboratórios em níveis de biossegurança (NB-1 a NB-4) é determinada com base nos agentes biológicos manipulados e nas atividades realizadas, sendo que cada nível possui requisitos específicos de contenção e segurança (Brasil, 2006). Por exemplo, laboratórios classificados como NB-2 devem restringir o acesso a pessoal autorizado, possuir equipamentos de contenção adequados e adotar procedimentos rigorosos de descontaminação (Hirata e Mancini Filho, 2002).
Além das medidas físicas e procedimentais, a gestão administrativa é essencial para a biossegurança em ambientes acadêmicos. A elaboração de manuais de biossegurança, a realização de treinamentos periódicos e a implementação de programas de educação continuada são estratégias que contribuem para a conscientização e o comprometimento de todos os envolvidos nas atividades laboratoriais (Instituto Adolfo Lutz, 2024). A política de biossegurança deve ser clara, acessível e incorporada à cultura institucional, promovendo um ambiente de trabalho seguro e responsável.
Do ponto de vista internacional, organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) também desempenham papel importante na normatização e no monitoramento de práticas de biossegurança. Seus guias e manuais são frequentemente utilizados como base para a formulação de políticas nacionais, inclusive no Brasil. A harmonização dessas diretrizes com a realidade local é fundamental para uma atuação eficaz frente aos desafios contemporâneos, como o surgimento de novas doenças infecciosas e os riscos de bioterrorismo.
Apesar desses avanços normativos e institucionais, persistem deficiências relevantes na implementação das práticas de biossegurança nas instituições de ensino superior. A escassez de recursos financeiros, a falta de infraestrutura adequada e a ausência de uma cultura institucional voltada para a segurança são fatores que comprometem a implementação efetiva das práticas de biossegurança (Lima, Bento e Borges, 2024). Além disso, a biossegurança muitas vezes não é devidamente incorporada aos currículos acadêmicos, o que limita a formação de profissionais conscientes e preparados para lidar com os riscos inerentes às atividades laboratoriais.
Diante desse cenário, é imperativo que as instituições de ensino superior adotem uma abordagem proativa em relação à biossegurança, integrando-a de forma transversal aos programas de ensino, pesquisa e extensão. A promoção de uma cultura de segurança, aliada ao investimento em infraestrutura e capacitação, é fundamental para garantir a proteção da saúde dos estudantes, professores e técnicos, bem como a qualidade e a confiabilidade das atividades acadêmicas.
Em suma, os fundamentos conceituais e legais da biossegurança em ambientes acadêmicos são essenciais para a construção de um ambiente educacional seguro e de excelência. A compreensão e a aplicação efetiva das normas e práticas de biossegurança não apenas protegem os indivíduos e o meio ambiente, mas também fortalecem a integridade e a credibilidade das instituições de ensino superior.
3 BOAS PRÁTICAS LABORATORIAIS NO ENSINO SUPERIOR EM SAÚDE: PROCEDIMENTOS, PROTOCOLOS E CONDUTAS ÉTICAS
As Boas Práticas Laboratoriais (BPL) constituem um conjunto de diretrizes, normas e procedimentos sistematizados que visam assegurar a qualidade, a segurança e a integridade das atividades realizadas em ambientes laboratoriais. No contexto do ensino superior em saúde, a implementação rigorosa das BPL é essencial não apenas para a proteção dos estudantes, docentes e demais profissionais envolvidos, mas também para a formação de profissionais éticos, tecnicamente capacitados e conscientes dos riscos associados às atividades laboratoriais. Além disso, garantem a confiabilidade dos resultados produzidos em pesquisas científicas e análises clínicas (Magalhães et al., 2013).
A adoção de Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) representa uma das ferramentas mais eficazes para a padronização das atividades laboratoriais. Esses documentos orientam detalhadamente a execução de processos técnicos, descrevendo passo a passo cada etapa dos procedimentos a serem realizados. No ambiente acadêmico, os POPs promovem a uniformização das práticas, minimizam a ocorrência de falhas operacionais, otimizam a gestão do tempo e favorecem a reprodutibilidade dos experimentos. Além disso, sua aplicação reforça a cultura de responsabilidade e organização entre estudantes e profissionais da saúde (UEMC, 2024).
A infraestrutura física dos laboratórios exerce influência direta sobre a qualidade das práticas laboratoriais. Espaços projetados de acordo com normas técnicas, que contemplem ventilação adequada, iluminação apropriada, bancadas resistentes, pias com torneiras especiais e espaços de armazenamento seguros para reagentes e amostras, são indispensáveis. A manutenção regular e a calibração periódica dos equipamentos laboratoriais são igualmente importantes, pois asseguram a precisão dos dados e previnem falhas que possam comprometer a segurança ou a validade dos resultados (Silva e Pereira, 2024).
A segurança no laboratório é um dos pilares centrais das BPL. O uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, máscaras, jalecos, óculos de proteção e protetores faciais, deve ser obrigatório e continuamente fiscalizado. Complementarmente, os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs), como capelas de exaustão, chuveiros de emergência e lavadores oculares, devem estar disponíveis e em condições de uso. A promoção de treinamentos regulares, que abordem não apenas o uso correto dos EPIs, mas também os procedimentos em situações de emergência, é essencial para a prevenção de acidentes e para o fortalecimento da cultura de biossegurança nos ambientes acadêmicos (Rivero e Mariano, 2025).
A gestão de resíduos laboratoriais constitui uma prática imprescindível à preservação ambiental e à saúde coletiva. A segregação correta dos resíduos, químicos, biológicos, perfurocortantes, recicláveis e comuns, deve obedecer à classificação prevista na legislação vigente. O armazenamento temporário em recipientes apropriados, a rotulagem padronizada, o transporte interno e o descarte final devem seguir as normas estabelecidas pelos órgãos ambientais e sanitários competentes. Práticas sustentáveis, como a reutilização de materiais quando viável e a redução na geração de resíduos, também devem ser incentivadas (Abdalla et al., 2018).
A ética profissional é outro componente indispensável das BPL, especialmente no âmbito da formação acadêmica. O Código de Ética do Profissional Biomédico (Brasil, 2011) destaca a importância da responsabilidade, da honestidade, da integridade científica e do respeito à dignidade humana. No ambiente acadêmico, a formação ética deve ser transversal, contemplando desde a confidencialidade dos dados de pacientes e amostras até o combate à falsificação de resultados e ao plágio acadêmico. É essencial que os estudantes compreendam que a conduta ética é parte indissociável da prática laboratorial responsável e segura.
A elaboração e implementação de manuais de boas práticas e biossegurança adaptados à realidade institucional são medidas estratégicas para a organização das atividades laboratoriais. Esses documentos orientam sobre o uso correto de EPIs, manuseio de substâncias perigosas, armazenamento de reagentes, descarte de resíduos, controle de acesso ao laboratório, além de aspectos legislativos e de gestão da qualidade. A sua ampla divulgação e constante atualização fortalecem a cultura institucional de segurança, prevenção e excelência científica (Teixeira, 2010).
A capacitação contínua dos envolvidos nas atividades laboratoriais é um fator crítico de sucesso na consolidação das BPL. A realização de oficinas, cursos, palestras e treinamentos periódicos sobre biossegurança, ética e procedimentos técnicos contribui para o desenvolvimento de competências técnicas e atitudes responsáveis. Ademais, a inclusão de disciplinas específicas sobre BPL nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação e pós-graduação em saúde contribui para a formação integral dos futuros profissionais, promovendo a interdisciplinaridade e a integração entre teoria e prática.
Por fim, as Boas Práticas Laboratoriais no ensino superior em saúde abrangem um conjunto articulado de procedimentos técnicos, protocolos padronizados, condutas éticas e ações educativas que visam garantir a segurança, a qualidade e a confiabilidade das atividades laboratoriais. A sua implementação efetiva exige comprometimento institucional, alocação de recursos adequados, capacitação contínua e engajamento de toda a comunidade acadêmica. Promover a cultura das BPL é investir na excelência da formação profissional e na integridade da produção científica nas instituições de ensino superior.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A biossegurança em laboratórios universitários é essencial para proteger a saúde de estudantes, docentes e técnicos, além de garantir a integridade das pesquisas e do meio ambiente. No entanto, a implementação efetiva de práticas de biossegurança enfrenta diversos desafios, especialmente relacionados aos riscos ocupacionais presentes nesses ambientes (Rivero e Mariano, 2025).
Os laboratórios acadêmicos estão sujeitos a uma variedade de riscos ocupacionais, incluindo físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Riscos físicos podem surgir do uso de equipamentos como centrífugas e autoclaves; químicos, da manipulação de reagentes tóxicos; biológicos, do contato com agentes patogênicos; ergonômicos, de posturas inadequadas durante experimentos; e de acidentes, como cortes e queimaduras. A identificação e o mapeamento desses riscos são fundamentais para a implementação de medidas preventivas eficazes (Arruda, 2015).
A elaboração de mapas de risco é uma ferramenta valiosa na gestão da biossegurança. Esses mapas permitem visualizar os perigos presentes no ambiente laboratorial, facilitando a adoção de estratégias de mitigação. Além disso, a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, aventais e óculos de proteção, é indispensável para minimizar a exposição a agentes nocivos. No entanto, a eficácia dessas medidas depende da conscientização e do treinamento contínuo dos usuários do laboratório (Silva e Pereira, 2024).
A implementação de protocolos de biossegurança enfrenta obstáculos significativos, como a falta de infraestrutura adequada, recursos financeiros limitados e resistência à mudança por parte dos usuários. Muitos laboratórios universitários carecem de equipamentos essenciais, como chuveiros de emergência e extintores de incêndio, além de apresentarem deficiências na sinalização de segurança e na disponibilidade de manuais de procedimentos (IFCS, 2024).
A formação acadêmica é imprescindível na promoção da biossegurança. Entretanto, pesquisas revelam que a temática ainda é abordada de forma insuficiente nos currículos dos cursos de graduação em saúde. Um estudo realizado em instituições de ensino superior no Amazonas mostrou que apenas 37,5% dos cursos analisados apresentavam a temática de biossegurança de forma satisfatória em seus Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) (Silva e Pereira, 2020).
A cultura de segurança é outro fator determinante na efetividade das práticas de biossegurança. A promoção de uma cultura organizacional que valorize a segurança e a prevenção de riscos é essencial para a adesão às normas e procedimentos estabelecidos. Isso inclui a realização de treinamentos periódicos, auditorias internas e a criação de comissões de biossegurança responsáveis por monitorar e avaliar as práticas laboratoriais (Cirino e Porto, 2025).
A gestão de resíduos laboratoriais também representa um desafio significativo. O descarte inadequado de resíduos químicos e biológicos pode acarretar riscos à saúde pública e ao meio ambiente. A implementação de Planos de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) é fundamental para assegurar o manejo seguro desses materiais, conforme estabelecido pela legislação vigente (Arruda Junior, Almeida e Oesterreich, 2023).
Diante disso, a integração da biossegurança nas políticas institucionais é imprescindível para superar os desafios existentes. Isso envolve o comprometimento da gestão universitária em investir em infraestrutura, capacitação e na elaboração de normativas internas que regulamentem as práticas laboratoriais. A colaboração entre diferentes setores da instituição é vital para a construção de um ambiente seguro e propício ao desenvolvimento científico.
Em síntese, a implementação da biossegurança em laboratórios universitários requer uma abordagem multifacetada, que aborde desde a identificação e mitigação de riscos ocupacionais até a promoção de uma cultura institucional voltada para a segurança. A superação dos desafios existentes depende do engajamento de todos os atores envolvidos no processo educativo e científico
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação de práticas de biossegurança e boas práticas laboratoriais nos ambientes de ensino superior, especialmente nas ciências da saúde, é essencial para garantir a proteção dos profissionais envolvidos nas atividades acadêmicas e de pesquisa. O estudo mostrou que, apesar da existência de normativas e regulamentações que norteiam a biossegurança, como as da ANVISA e do Ministério da Saúde, a adoção de práticas adequadas ainda enfrenta diversos desafios, principalmente relacionados à infraestrutura limitada, à falta de recursos financeiros e à resistência à mudança por parte de alguns acadêmicos e técnicos. Esses obstáculos dificultam a plena implementação das diretrizes de biossegurança, comprometendo a eficácia das estratégias preventivas.
Além disso, os riscos ocupacionais presentes nos laboratórios acadêmicos, como os agentes químicos, biológicos, físicos e ergonômicos, exigem uma gestão cuidadosa e contínua. A identificação desses riscos e a adoção de medidas de mitigação, como a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a criação de mapas de risco, são fundamentais para garantir a segurança de todos os envolvidos. A conscientização constante e o treinamento adequado são componentes-chave para a implementação eficaz dessas medidas de segurança, e o estudo apontou que muitos laboratórios carecem de uma formação sólida sobre biossegurança dentro dos currículos acadêmicos.
Outro ponto importante abordado foi a gestão de resíduos laboratoriais, que continua a representar um desafio significativo. A adequada destinação de resíduos químicos, biológicos e outros materiais perigosos é essencial para evitar impactos negativos à saúde pública e ao meio ambiente. A implementação de Planos de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) é uma medida indispensável, e o estudo evidenciou a necessidade de uma maior capacitação e recursos para que as instituições de ensino superior possam lidar com esse problema de forma eficaz.
Por fim, para que a biossegurança e as boas práticas laboratoriais se tornem uma realidade consolidada nas universidades, é fundamental que as instituições de ensino superior adotem uma postura proativa, investindo em infraestrutura, promovendo treinamentos contínuos e integrando a biossegurança à cultura acadêmica. Somente por meio de uma gestão integrada e do comprometimento de toda a comunidade acadêmica será possível criar um ambiente seguro e favorável ao desenvolvimento científico responsável. A implementação bem-sucedida das práticas de biossegurança não é apenas uma exigência legal, mas uma questão ética que garante a integridade das pesquisas e a segurança dos profissionais da saúde.
REFERÊNCIAS
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1 Graduada em Biomedicina, Mestranda em Gestão de Cuidados em Saúde pela MUST University, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: miriamsa.sp@gmail.com. ORCID: 0000-0001-9396-9715.
2 Graduada em Agronomia, Mestre em Ecoecologia pela UEMA, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: nilceliamacedo@ufpi.edu.br. ORCID: 0009-0005-4245-7185.
3 Graduada em Enfermagem, Mestre em Saúde Coletiva pela UECE, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: elizianeoliveira@ufpi.edu.br. ORCID: 0001-9243-4938
4 Graduado em Química, Mestrando em Química pela UFPI, vinculado à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: jose.alencar@ufpi.edu.br.
5 Graduada em Nutrição, Mestre em Dinâmicas e Desenvolvimento do Semiárido pela UNIVASF, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: aliciene.pacheco@discente.univasf.edu.br. ORCID: 0000-0003-4117-2792
6 Graduada em Biomedicina, Mestre em Ciências Biomédicas pela UFPI, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: iara.gois@ufpi.edu.br.
7 Graduada em Ciências Biológicas, Mestre em Biotecnologia pela UFPI, vinculada à Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: lhaisleal@ufpi.edu.br.
8 Graduada em Nutrição pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: nayaraoak@gmail.com. ORCID: 0009-0006-5850-3518
9 Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: marcos_salesaquino1@hotmail.com. ORCID: 0009-0001-5215-7531.