VITAMINA D: UM ESTUDO DA IMPORTÂNCIA, FISIOLOGIA, COMERCIALIZAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7250720


Carlos Messias Olinto Guimarães1
Dayana Rose Pires dos Santos2
Tairo Vieira Ferreira3


RESUMO  

Este artigo consiste em um estudo sobre a fisiologia da vitamina D, benefícios para o sistema ósseo e outros sistemas e é também um estudo retroativo de saída de vitamina D e doses, em farmácia privada de Rio Verde – GO, utilizado o método da abordagem hipotética dedutiva, através de levantamento bibliográfico de livros, textos e bases eletrônicas, busca de dados por meio do PubMed, Lilacs, SciELO e demais plataformas de relevância, bem como revistas do Conselho Regional de Farmácia, enfatizando a vitamina D, sua fisiologia, importância, benefícios e recomendações, englobando o levantamento retroativo do histórico de saída de vitamina D registrado em uma farmácia de dispensação privada, pelo programa “Sysfar Automação”, utilizado pelo estabelecimento. Assim, foi observado um aumento significativo nas vendas de vitamina D na farmácia pesquisada, entre 2019 e 2020. A dose mais vendida foi a de 2.000UI, com um aumento de 46,2 vezes, se comparado o ano de 2019 ao de 2020. Houve queda de venda de 1,25 vezes de 2020 para 2021. No entanto, faz-se necessário que os níveis de 25(OH)D no organismo sejam monitorados constantemente, pois os níveis satisfatórios destes estão intimamente ligados à manutenção da homeostase como um todo, mas os excessos podem ocasionar em intoxicações. 

Palavras-chave: Vitamina D. Suplementação. Dosagem.  

ABSTRACT  

This academic paper consists of a study about vitamin D physiology, benefits to the skeletal system and other systems and it is also a retroactive study of vitamin D sales and doses, at a private drugstore in Rio Verde – GO. Hypothetical-deductive method was used, through a bibliographic research on books, texts and electronic databases, data research within PubMed, Lilacs, SciELO and other relevant platforms, as well as journals from Regional Pharmacy Council, focusing on vitamin D, its physiology, importance, benefits and recommendations, including the retroactive study about vitamin D history sales recorded at a private dispensed pharmacy, by “Sysfar Automação” program, which was used by this business place. This way, a significant increase in vitamin D sales was observed in the studied drugstore, between the years 2019 and 2020. The most sold dose was 2,000IU, with an increase of 46.2 times, comparing 2019 and 2020. There was a 1.25 fall-drop in sales from 2020 to 2021. Nevertheless, constant monitoring levels of 25(OH)D in our body is required, due to  the fact that satisfactory levels of them are closely linked to homeostasis maintenance as a whole, but excesses can lead to intoxications. 

Keywords: Vitamin D. Supplementation. Dosage. 

1. INTRODUÇÃO  

A vitamina D é fundamental para a manutenção da saúde musculoesquelética, e, possivelmente, até para a saúde extra esquelética, já que manter seus níveis adequados é de suma importância para manutenção da saúde (ZANINELLI, 2020). Trata-se de um hormônio esteroide, que tem por principal função a regulação do metabolismo ósseo. Sua deficiência causa diversos agravos à saúde, em proporções epidêmicas. Apesar dessas certezas, há questionamentos quanto às concentrações sanguíneas ideais, a necessidade e a forma de reposição dessa vitamina (GALVÃO et al., 2013). 

Nos últimos anos, com o aumento da longevidade mundial, fizeram com que surgissem pesquisas envolvendo a vitamina D quanto a sua função no metabolismo do cálcio e da formação óssea, e em como se dá sua interação com o sistema imunológico (KRATZ, SILVA, TENFEN; 2018). 

CÂMARA et al. (2021), relatam que no Brasil, inicialmente, acreditava-se que por ser um país ensolarado e de menor latitude, não ocorreria a deficiência de vitamina D, mas essa crença foi por terra ao observarem através de amostras realizadas por autores, que ainda é alta a prevalência de deficiência de vitamina D em diferentes faixas etárias. Apontando assim, a grande importância da realização de conscientização da população acerca dos problemas que a carência da vitamina D pode causar, e o quanto as concentrações ideais no corpo humano evitariam uma série de deficiências. 

As tendências na suplementação de vitamina D têm implicações clínicas importantes, além de complexas questões de saúde pública. Este trabalho realiza um estudo sobre a fisiologia da vitamina D, através de dados da literatura, seus benefícios para o sistema ósseo e em outros sistemas, descrevendo os fatores que levam à hipovitaminose, suas necessidades diárias e complementação. Também disponibiliza um estudo retroativo de saída de vitamina D e doses, em farmácia privada de Rio Verde – GO. 

2. METODOLOGIA 

Foi utilizado, para realização desses objetivos, o método da abordagem hipotética dedutiva, através do levantamento bibliográfico de livros, textos e bases eletrônicas, por meio do PubMed, Lilacs e SciELO, como também demais plataformas de relevância e revistas do Conselho Regional de Farmácia, enfatizando a vitamina D, sua fisiologia, importância, seus benefícios e recomendações, utilizando artigos com relevância no tema e dando preferência para artigos publicados entre 2013 e 2022. 

Houve um levantamento retroativo do histórico de saída de vitamina D, registrado em uma farmácia de dispensação privada no Município de Rio Verde, no Estado de Goiás, e após a devida autorização pelo responsável legal e técnico da unidade (ANEXO 1). Os dados foram coletados a partir do programa “Sysfar automação”, utilizado pelo estabelecimento, tabulados em planilha do Microsoft Word dos dados registrados, referentes à saída das medicações, ou seja, baseados nas vendas realizadas entre o período de janeiro de 2019 a outubro de 2022, e as apresentações comerciais, conforme a dosagem (UI) de 1.000 UI – 50.000 UI. 

3. REVISÃO DE LITERATURA 

A vitamina D é uma vitamina que pode ser sintetizada pela exposição à luz solar, atua como hormônio exercendo um papel fundamental no metabolismo do cálcio, regulagem à fisiologia osteomineral e na manutenção da homeostase em geral (ALVES et al., 2013, REBELO-MARQUES et al., 2017).  

Outras funções em que a vitamina D interfere são a síntese de antibióticos naturais pelas células de defesa e a modulação das inter leucinas; também possui ação antioncogênica e auxilia no controle da pressão arterial. A vitamina D também está ligada à replicação e diferenciação celular, atuando em diversos genes, participando diretamente do controle de funções essenciais da homeostase, tais como crescimento, diferenciação e apoptose celular (TAZINAZZO; MORENO; LOPESORTIZ, 2021).  

Clinicamente, o interesse na vitamina D não está restrito somente ao metabolismo fosfocálcio, também está expresso em várias áreas médicas, como a diabetes, as doenças cardiovasculares, a esclerose múltipla, câncer, distúrbios psiquiátricos, doenças neuromuscular. Atualmente, várias evidências demostram correlações entre níveis insuficientes de vitamina D e o risco aumentado de desenvolvimento de outras doenças que não possuem correlação com sistema ósseo (PINHEIRO, 2015). 

Segundo Vanchinathan (2012), a fisiologia da vitamina D se dá através da exposição da pele à luz solar e aos raios ultravioletas (UV) artificiais, que irão estimular a produção de cole calciferol (vitamina D3) na pele, a partir da conversão de um precursor, o 7-deidrocolesterol (7-DHC ou provitamina D). Com a incidência de luz UV de 290 a 315 nm, ocorrerá uma clivagem fotoquímica produzindo a pré vitamina D na membrana plasmática de quera-tinócitos e fibroblastos nas camadas basal e supra basal da epiderme.  

Galvão et al., (2013) completam relatando, que no fígado ocorre a ação da 25hidroxilase, transformando-se em 25-hidroxivitamina D 25(OH)-D. Ao chegar aos rins, ocorrerá a transformação tanto para a forma ativa quanto para a inativa desse hormônio pela ação respectiva da 1-alfa-hidroxilase ou 24,25-hidroxilase, em aproximadamente 24 horas formam os homo dímeros, que se transformam em vitamina D12 (Figura1). 

Figura 1 – Síntese da 1,25(OH) vitamina D. O 7-deidrocolesterol (7- DHC), por ação da luz ultravioleta e do calor, isomeriza-se em cole calciferol na pele. 

Fonte: Galvão et al. (2013) 

Existem diferentes formas nutricionais de vitamina D, mas as que demostram interesse prático e científico são o Cole calciferol ou vitamina D3 (C22H44O), de origem animal, que apresenta a maior importância nutricional e no que tange ao desempenho de funções biológicas; e o Ergo calciferol ou vitamina D2 (C28H44O), de origem vegetal, utilizada ao nível da terapêutica.  

Classificadas quimicamente como seco esteroides, pois apresentam um dos 4 anéis constituintes quebrados, devido à adição de 2 átomos de hidrogénio em cada grupo terminal. Sendo assim, estruturalmente, a vitamina D2 e a D3 (Figura 2) são semelhantes, a diferença entre elas se apresenta quimicamente em nível da cadeia lateral, no carbono 17, onde se encontra incorporada na vitamina D2, com a presença de uma ligação dupla adicional e um grupo meti (PINHEIRO, 2015).  

Figura 2 – Estrutura química da (A) vitamina D2 (ergo calciferol) e da (B) vitamina D3 (cole calciferol) 

Fonte: Pinheiro, T (2015). 

Para que as vitaminas em questão fiquem ativas no organismo, é necessário ativá-las no fígado e no rim, mediante a adição de grupos hidroxila, tornando-as ativas em sua forma hormonal, representada nas Figura 03, respectivamente, denominadas de 1,25-hidróxiergocalciferol [1,25- OH)2D2] e 1á,25– diiidroxicolecalciferol ou calcitriol. Através de uma reação de fotólise, ocorrida na camada de Malpighi, ambas as formas representadas nas estruturas serão produzidas na epiderme, para que então os raios ultravioletas induzam a ruptura do núcleo dos esteroides precursores. (CÂMARA et al., 2021) 

Figura 3 – 1,25-hidróxiergocalciferol [1,25-(OH)2D2] e 1,25– diiidroxicolecalciferol ou calcitriol 

Fonte: Câmara et al. (2021) 

A Vitamina D é um componente essencial para a realização de funções como o metabolismo ósseo, sendo assim, está ligada também à fisiopatogênese de muitas doenças. A hipovitaminose D em criança pode desenvolver doenças como raquitismo e retardo de crescimento, e em adultos a osteomalácia, o hiperparatioridismo secundário, resultando no aumento da reabsorção óssea, perda de massa óssea, consequentemente osteogenia e osteoporose (FELIZ, 2020). 

Pode-se descrever duas etapas ocorridas durante a síntese in vivo dos dois metabólitos predominantementes e biologicamentes ativos da vitamina D. Primeiramente a hidroxilação da vitamina D3 ou D2, que ocorre no fígado com a produção da 25-hidroxivitamina D, já a segunda etapa da  hidroxilação acontece nos rins, onde irá originar 1,25-di-hidroxivitamina D, subsequentemente esses metabólitos da vitamina D agirão como facilitadores na absorção ativa de cálcio e fósforo, que ocorre no intestino delgado, aumentando assim, os níveis séricos de cálcio e fosfato necessários para a mineralização óssea, além de auxiliarem na mobilização de cálcio e fosfato nos ossos e aumentar a reabsorção nos  túbulos renais de cálcio, e talvez, também de fosfato (PLUDOWSKI et al., 2018). 

Prado, Ramos e Valle (2018) descrevem que o 1,25 (OH2) D e o PTH, formas ativas da vitamina D, são os principais hormônios ligados ao metabolismo ósseo. No intestino, a ligação de 1,25 (OH2) D ao receptor de vitamina D (VDR, do inglês vitamin d receptor), irá promove uma maior absorção de cálcio e fósforo. Já no osso, o PTH e o 1,25 (OH2) D estão relacionados à regulação da reabsorção e formação óssea, podendo mobilizar os estoques de cálcio ósseo na vigência de hipocalcemia. 

Após a administração de vitamina D, são necessários um período de 10 a 24 horas para o início de sua ação no organismo, isso devido a uma necessidade de síntese dos metabólitos ativos da vitamina D no fígado e nos rins. A responsabilidade dessa regulação está relacionada ao hormônio paratireoide deste metabolismo no nível dos rins.  

Na Figura 4, observa-se de forma resumida, como esse processo de metabolização ocorre. A partir do momento que a derme e epiderme recebem a incidência dos raios UVB (luz solar), o 7-dehidrocolesterol presente na derme e epiderme será convertido em pré vitamina D3, então essa reação é realizada através de uma reação foto lítica não enzimática. Após essa fase de formação da pré vitamina D3, outra reação não enzimática irá ocorrer, a isomerização térmica, que resultará na formação da vitamina D3 (CÂMARA et al., 2021).  

Figura 4 – Metabolismo da Vitamina D 

Fonte: Câmara et al. (2021) 

Em especial, segundo a descrição da Medley (2021), a vitamina D3 (cole calciferol) é importante e comumente indicada na prevenção e no tratamento auxiliar dos casos de desmineralização óssea e complementar, e que a Vitamina D 2.000 UI auxilia na melhoria do funcionamento do sistema imune, bem como na absorção do cálcio e fósforo, na formação dos ossos e dentes e no melhor funcionamento muscular. 

Esses fatores fazem com que, segundo Kratz, Silva, Tenfen (2018), a vitamina D tenha se tornado, nos últimos anos, em um alvo para um número crescente de pesquisas, que têm confirmado sua função no metabolismo do cálcio e da formação óssea, e além dessas funções, foram observados aspectos de sua interação com o sistema imunológico, através da expressão de receptores de vitamina D presentes em uma ampla variedade de tecidos corporais, como cérebro, coração, pele, intestino, gônadas, próstata, mamas e células imunológicas, além de ossos, rins e paratireoide.  

Comprovando assim, que em seu nível ideal, apresenta grande efetividade nas prevenções de doenças como neoplasias e doenças autoimunes, além de estar relacionada a uma possível ação moduladora de resposta imunológica, auxiliando assim, no entendimento dos mecanismos dessas doenças, tornando-se um coadjuvante importantíssimo no tratamento das doenças crônicas (OKOSHI et al., 2021). 

Festa (2020) relata que a National Health and Nutrition Examination Survey demostra em sua base de dados que a tendência de uso de vitamina D entre 1999 e 2014, foram 18,2% de suplementação com dosagem de 1.000 UI, destes 51,1% das pessoas eram do sexo feminino. Relatam ainda que com o tempo esse consumo tem aumentado, inclusive, em dose diária que vão até 4.000 UI, e por vezes, acima, o que desperta um alerta sobre os riscos de efeitos colaterais devido ao quadro clínico de intoxicação por vitamina D. 

Caracterizado pelo aparecimento de sinais e sintomas como náusea e vômito, anorexia, dor abdominal, obstipação; polidipsia, poliúria, desidratação, nefrolitíase, nefrocalcinose, diabetes insipidus nefrogênico, nefrite intersticial crônica, insuficiência renal aguda e crônica; hipotonia, parestesias, confusão mental, crise convulsiva, apatia, coma; arritmia, bradicardia, hipertensão, cardiomiopatia; fraqueza muscular, calcificação, osteoporose; calcificação conjuntival. A intoxicação pode ser diagnosticada laboratorialmente através de resultados demostrando a hipercalcemia (GALVÃO et al.; 2013).  

A partir do ano 2019 pode-se observar um aumento no consumo de vitaminas. Esse aumento foi intensificado a partir de julho de 2019, mesmo antes da pandemia, e o motivo pode ser ligado à variação sazonal, pois no inverno ocorre a baixa exposição a luz solar, resultando em hipovitaminose de vitamina D (TAZINAZZO; MORENO; LOPES-ORTIZ, 2021). 

Kartz, Silva, Tenfen (2018) relatam na Tabela 01, as principais causas de hipovitaminose D, além dessas, descrevem outros fatores que podem estar correlacionados com as diferentes populações, que são a exposição UVB reduzida, que podem ser ocorrer por conta da estação do ano e os fatores culturais, por exemplo, populações com hábito cultural do uso de roupas cobrindo o corpo todo.  

Tabela 1 – Principais causas de hipovitaminose D 

Causas Exemplo 
Síntese reduzida na pele Protetor solar, pigmento da pele, estação, latitude, período do dia, idade, enxertos de pele. 
Absorção reduzida Fibrose cística, doença celíaca, doença de Whipple, doença de Crohn, by-pass gástrico, medicamentos que reduzem a absorção de colesterol 
Sequestro aumentado Obesidade  
Catabolismo aumentado Anticonvulsionante, glicocorticoides, tratamento antirretroviral altamente ativo, e alguns imunossupressores. 
Amamentando  Síntese de 25-hidroxivitamina D diminuída  Insuficiência hepática 
Perda urinária de 25-hidroxivitamina D  Proteinúria nefrótica 
Síntese de 1, 25-hidroxivitamina D diminuída Insuficiência renal crônica 
Desordens hereditárias Mutações genéticas que causam raquitismo, ou resistência de vitamina D 
Desordens adquiridas Osteomalácia (tumor-induzido), hiperparatiroidismo primário, hipertiroidismo, desordens granulomatosas como sarcoidose, tuberculose e alguns linfomas. 
Fonte: Kartz, Silva, Tenfen (2018) p.4. 

Nesse momento difícil que o mundo passou com a pandemia pela Sars-CoV-2, estudos demostraram que níveis suficientes e elevados de vitamina D influenciaram na redução das chances de contrair, agravar ou chegar a óbito em razão das complicações da COVID-19. Apesar desses resultados, a indicação dessa medida provisória ou terapêutica ainda não é preconizada, pois ainda precisa se levar em conta que doses muito elevadas podem desencadear um quadro de intoxicação. Independentemente da confirmação dessa indicação, importante é ressaltar a necessidade de se acompanhar os níveis de 25(OH)D no organismo, para que se mantenha níveis satisfatórios, para manutenção da homeostase como um todo, evitando os excessos e possíveis intoxicações (OKOSHI et al., 2021).  

Com a endemia causada pelo Sars-CoV-2, ocorreu uma mobilização internacional na área da pesquisa, no intuito de encontrar tratamentos e formas de prevenção das infecções causadas pelo vírus. Em muitos trabalhos ficou demostrado que os níveis elevados de vitamina D estão associados à redução no agravamento de vários vírus que acometem o sistema respiratório, demostrando o potencial positivo da vitamina D no auxílio da recuperação nos casos da COVID-19 (TAZINAZZO; MORENO; LOPES-ORTIZ, 2021).  

Durantes esses estudos realizados, Raharusun et al., (2020) na Indonésia, observaram que dos pacientes infectados pela COVID- 19, 23% apresentavam deficiência e 27,3% tinham insuficiência de vitamina, e relacionaram que esses indivíduos apresentaram reciprocamente, índices de mortalidade de 98,9% nos pacientes com deficiência e 87,8% dos pacientes com insuficiência.  

Associação da recuperação e/ ou prevenção da infecção a partir da suplementação vitamina D se dá pelo fato da sua atuação na redução das citocinas pró-inflamatórias, como o interferon gama e a interleucina-6, principais causadores dos danos ao revestimento pulmonar, no seu auxilio na elevação das citocinas antiinflamatórias e peptídeos, como a catelicidina, que reduzem as taxas de replicação viral (OLIVEIRA et al., 2020). 

Pesquisa realizada por D’avolio et al., (2020) demostraram que doses elevadas de Vitamina D reduziram as chances de infecção ou agravamento da COVID-19, de pacientes que com as concentrações de 25(OH)D mais baixas testaram positivo para Sars-CoV-2 do que os que testaram negativo, com dosagem de 11,1ng/mL e 24,6ng/ml, respectivamente (D’AVOLIO et al., 2020). O mesmo foi observado por Tazinazzo; Moreno; Lopes-Ortiz (2021), onde demostraram que a deficiência de vitamina D está associada ao maior risco de desenvolver a doença.  

Apesar desses achados ser um fator preocupante, o fato é de que as vendas foram realizadas, em sua grande maioria, por indicação do farmacêutico ou por automedicação, sendo assim difícil definir qual a dosagem que realmente as pessoas estavam usando nesse período. O risco de toxicidade aguda pelas doses diárias, está acima de 10.000UI/dia de vitamina e seu uso diário e prolongado de doses acima de 4.000UI/dia podem levar à toxicidade crônica (LIM; THADHANI, 2020). 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Na pesquisa realizada foi analisada a quantidade de vitamina D vendidas em uma farmácia de dispensação, localizada na cidade de Rio Verde – GO, de janeiro de 2019 a outubro de 2022. No presente trabalho não foi abordado a quantidade de cápsulas dispensadas e sim a quantidade de caixas que foram vendidas de 6 laboratórios distintos e nas dosagens de 1000UI, 2000UI, 5000UI, 7000UI, 10000UI e 50000UI. 

Na Tabela 2 é possível observar a quantidade de caixas de vitamina D dispensadas por mês, nos anos de 2019 a 2022. Foi possível observar que em relação aos anos estudados, houve um aumento considerado a partir do agravamento dos casos da pandemia e o aumento dos estudos realizados envolvendo a Vitamina D. Em 2021, a partir de agosto, foi observada a diminuição das vendas, associada à diminuição dos casos de Sars-CoV-2. Outra variação que foi possível observar neste levantamento retroativo foi a tendência de maior venda nos meses de menor incidência de luz (inverno).   

Tabela 2 – Quantidade total de caixas de vitamina D, dispensadas por mês, entre janeiro de 2019 a outubro de 2022.  

Fonte: Elaborada pelos autores. (2022) 

Esses resultados corroboram com os resultados encontrados por Tazinazzo; Moreno; Lopes-Ortiz (2021), que descreveram o aumento no consumo de vitaminas, quando comparam o ano de 2019 e 2020. E também observaram a partir de julho de 2019, mesmo antes da pandemia, que teve um aumento acentuado das vendas dessa vitamina, provavelmente devido à deficiência causada pela variação sazonal, já que no inverno ocorre a baixa exposição à luz solar, causando a hipovitaminose de vitamina D, que necessita da radiação solar para ser sintetizada de forma endógena. 

O mesmo foi observado por Silvino et al., (2020) que descrevem que o primeiro semestre de 2020, principalmente a partir de março, data em que a pandemia chegou ao Brasil, houve um aumento significativo nas vendas da vitamina D, e destacam o interesse pela população em suplementar a vitamina, talvez devido à ocorrência da privação da exposição solar devido ao lockdown. A vendas se intensificaram a partir de julho de 2020, quando as informações sobre a importância da vitamina D na imunidade foram amplamente divulgadas.  

Oliveira et al., (2020) ressaltaram a evidência das informações sobre a importância da vitamina D para o sistema imune, que corroboraram para o aumento do consumo e, consequentemente, aumentando a automedicação desse tipo de vitamina. Silva et al., (2021) alertam para esse aumento de consumo desorientado, devido ao medo da rapidez do contágio e a mortalidade associados à Covid-19, e a facilidade de aquisição devido à desobrigação de receituário e a facilidade de ser encontrada qualquer farmácia de dispensação, tudo isso pode desencadear possíveis riscos de intoxicação aguda e/ ou crônica por excesso de vitamina D. 

A tabela 3 demostra nesse período, as dosagens mais comercializadas, podendo notar de 2019 a 2020, que as dosagens de 2.000 UI foram as mais utilizadas, seguida das doses de 7.000 UI e 5.000 UI, respectivamente. Já entre 2020 e 2021, a dose 2.000 UI se manteve a mais utilizada, mas houve uma inversão entre as doses 5.000 UI e 7.000 UI.  

Apesar da queda de vendas observada do ano 2021 para 2022, muito provavelmente ligada à diminuição do número de casos da Caovid-19 e aumento do número de pessoas vacinadas, pode-se observar que houve após um aumento do uso da dosagem 1.000 UI, entre os anos de 2019 e 2020, sendo que o uso dessa dosagem se manteve estável entre 2020 – 2022. 

Tabela 3 – Quantidade de vitamina D vendida, conforme a dosagem(UI), durante o período de 2019 a outubro de 2022 a outubro de 2022. 

Fonte: Elaborada pelos autores. (2022) 

Resultados semelhantes quanto ao aumento do consumo de vitamina D foram encontrados por Tazinazzo; Moreno; Lopes-Ortiz (2021), na cidade de Maringá – PR, entre os ano de 2019 a 2020. Diferenciando do presente trabalho quanto a escolha da dosagem pela população local que foi maior consumo da dosagem de 7.000UI, seguido de 10.000UI e da maior dosagem, de 50.000UI.  

Meltzer et al., (2020) e D’avolio et al., (2020), corroboram quanto aos achados em pesquisa em relação ao aumento do número de vendas de vitamina D do ano de 2019 ao de 2020, e afirmam que pesquisas demostram que o uso da vitamina D em doses elevadas, reduzem as chances de infecção ou agravamento da COVID-19. Os mesmos resultados foram observados na Suíça, em estudo realizado na Universidade de Medicina de Chicago. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A Vitamina D está intimamente ligada ao desenvolvimento e manutenção do organismo e seu estado hígido, controlando a saúde musculoesquelética, o metabolismo ósseo, replicação e diferenciação celular, e a pressão arterial.  

Sua fisiologia se dá através da exposição da pele aos raios ultravioletas (UV) solares, se completando no fígado e sendo ativado nos rins. Atualmente, devido aos hábitos diários e baixa exposição ao sol, tem-se aumentado consideravelmente a suplementação de Vitamina D. Um fator que interferiu nesse aumento foi a pandemia de COVID-19, além do fator sazonal no inverno, onde há uma menor incidência de luz solar. 

Foi possível observar o aumento significativo nas vendas da vitamina D na farmácia pesquisada, entre 2019 e 2020. Esse aumento ocorreu de forma mais acentuada no segundo semestre de 2020, com resultados apresentados por trabalhos que demostravam que a deficiência de Vitamina D está ligada ao maior número de pacientes que testaram positivo para a COVID-19.  

A dose mais vendida foi a de 2.000UI, com um aumento de 46,2 vezes, se comparando o ano de 2019 ao ano de 2020. E queda de venda foi de 1,25 vezes de 2020 para 2021. No entanto, faz-se necessário que os níveis de 25(OH)D no organismo sejam monitorados constantemente, pois os níveis satisfatórios estão intimamente ligados à manutenção da homeostase como um todo, mas os excessos podem levar à ocorrência de intoxicações. 

A doses preconizadas têm sido em média de 2.000 UI diárias, as indicações observadas são de 1.000 a 4000 UI diárias, acima dessas doses aumentam consideravelmente os riscos de uma intoxicação por vitamina D, que culmina em sintomas digestivos, como náusea e vômito, anorexia, dor abdominal, obstipação; polidipsia; renais, como poliúria, desidratação, nefrolitíase, nefrocalcinose, diabetes insipidus nefrogênico, nefrite intersticial crônica, insuficiência renal aguda e crônica; musculoesquelético, como hipotonia, parestesias fraqueza muscular, calcificação, osteoporose; calcificação conjuntival; sistema nervoso, confusão mental, crise convulsiva, apatia, coma; sistema cardíaco, arritmia, bradicardia, hipertensão, cardiomiopatia.  

REFERÊNCIAS 

ALBUQUERQUE, A. B. B. Vitamina D em Pacientes com COVID-19: Atuais Perspectivas UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO NATAL/RN, 34 p., 2021. Disponível em:https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/33283/1/VitaminaD_Albuquerque_ 2021.pdf.  Acesso em 20 mar. 2022. 

ALVES, Márcia e Colaboradores Vitamina D–importância da avaliação laboratorial. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, v. 8, n. 1, p. 3239, 2013. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1646343913000084. Acesso em 04 mai. 2022. 

CÂMARA, J. L.; BOAS, R. R. V.; NETO, L. F. C. N.; SANTOS, S. D. G. Vitamina D: uma revisão narrativa Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 5904-5920 mar./apr. 2021. Disponível em: DOI:10.34119/bjhrv4n2-152. Acesso em 28 fev. 2022 

D’AVOLIO, Antonio e colaboradores. 25-Hydroxyvitamin D concentrations are lower in patients with positive PCR for SARS-CoV-2. Nutrients, v. 12, n. 5, p. 1359, 2020. Disponível em: https://pubmed-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/32397511/. Acesso em 14 out. 2022. 

FESTA, J., Alerta! Cresce o número de pacientes fazendo uso de doses excessivas de vitamina D. Portal PEBMED. Ago de 2020. Disponível em: https://pebmed.com.br/alerta-cresce-o-numero-de-pacientes-fazendo-uso-de-dosesexcessivas-de-vitamina-d/?utm_source=artigoportal&utm_medium=copytext. Acesso em 04 mai. 2022. 

GALVÃO, L.; GALVÃO, M. F.; REIS, C. M. S.; BATISTA, C. M. Á.; CASULARI, L. A.  Considerações atuais sobre a vitamina D Brasília Med 2013;50(4):324-332. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/rbm.org.br/pdf/v50n4a08.pdf. Acesso em 28 fev. 2022. 

KRATZ, D. B.; SILVA, G. S.; TENFEN, A. Deficiência de vitamina D (250H) e seu impacto na qualidade de vida: uma revisão de literatura Revista RBAC, 2018. Disponível em: http://www.rbac.org.br/artigos/deficiencia-de-vitamina-d-250h-e-seuimpacto-na-qualidade-de-vida-uma-revisao-de-literatura/. Acesso em 04 mai. 2022. 

LIM, Kenneth; THADHANI, Ravi. Toxicidade da Vitamina D. J Bras Nefrol., v. 42, n. 2, p. 238-244, 2020. Disponível em: https://www.bjnephrology.org/wpcontent/uploads/articles_xml/2175-8239-jbn-2019-0192/2175-8239-jbn-2019-0192pt.pdf. Acesso em 14 out. 2022. 

MAEDA, S. S.; BORBA, V. Z. C.; CAMARGO, M. B. R. D.; SILVA, M. W.; BORGES, J. L. C.; BANDEIRA, F.M. L.-C. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/02_ABEM585_miolo.pdf.  Acesso em 28 fev. 2022. 

MEDLEY Bula VitaMedley Vitamina D Copyright © 2016 SANOFI MEDLEY FARMACÊUTICA LTDA, última revisão: 19/04/2021. Disponível em: https://www.medley.com.br/vitamedley/vitamedley-vitamina-d. Acesso em 26 mai. 2022. 

OLIVEIRA, A. de F. de F. de, DIAS, A. D. C., ARAÚJO, D. G. de S., SILVA, E. M. da, SILVA, I. M. F. e, & GOMES, L. M. de F. (2020). A importância da alimentação saudável e estado nutricional adequado frente a pandemia de Covid-19 / The importance of healthy eating and adequate nutritional status in the face of the Covid19 pandemic. Brazilian Journal of Development. Disponível em: https://brazilianjournals.com/ojs/index.php/BRJD/article/view/16336. Acesso em 14 out. 2022. 

OKOSHI, M. P.; CORTEZ, R. M.; PAGAN, L. U.; MARTINEZ, P. F.; PEREIRA, F. W. L. Suplementação de Vitamina D Minieditorial • Arq. Bras. Cardiol. 116 (5). Maio 2021. Disponível em: https://abccardiol.org/short-editorial/suplementacao-devitamina-d/. Acesso em 03 mar. 2022. 

PINHEIRO, Tânia Marisa Macedo. A Importância Clínica da Vitamina D. Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto, 88 p., 2015. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstrea m/10284/5301/1/PPG_27959.pdf. Acesso em 29 fev. 2022. 

REBELO-MARQUES, A. e Colaboradores. A vitamina D nos Cuidados de Saúde Primários, a importância do seu doseamento e a sua suplementação. Patient Care, v. 22, p. 30-41, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/311775438_A_vitamina_D_nos_Cuidados_ de_Saude_Primarios_a_importancia_do_seu_doseamento_e_a_sua_suplementacao . Acesso em 04 mai. 2022. 

PRADO, F. C.; RAMOS, J. A.; VALLE, J. R. – Atualização terapêutica de Prado, Ramos e Valle: diagnóstico e tratamento – 26. ed.,- São Paulo: Artes Médicas, 2018. 

PLUDOWSKI, P.; E Colaboradores Vitamin D supplementation guidelines. J Steroid Biochem Mol Biol. 2018 Jan; 175:125-135. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28216084/. Acesso em 12 jul. 2022.  

SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria Hipovitaminose D em pediatria: recomendações para o diagnóstico, tratamento e prevenção Guia Prático de Atualização Departamento Científico de Endocrinologia Nº 1, dezembro de 2016. Disponível em:  https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/12/EndcrinoHipovitaminose-D.pdf. Acesso em 28 fev. 2022. 

SILVA, Gulnar Azevedo e colaboradores. Mortalidade por Covid-19 no Brasil ajustada por idade: mais alta na região norte. Escola de Medicina – USP, 2021. Disponível em: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/download/1874/3433/3558. Acesso em 15 jul. 2022. 

SILVINO, Valmir Oliveira e Colaboradores Vitamina D e doenças infectocontagiosas na pandemia da COVID-19. Research, Society and Development, v. 9, n. 7, p. e771974614-e771974614, 2020. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/4614/4183/23278. Acesso em 14 out. 2022. 

VANCHINATHAN V, LIM HW. A dermatologist’s perspective on vitamin D. Mayo Clin Proc. 2012;87(4):372-80. Disponível em: https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(12)00203-0/fulltext.  Acesso em 10 jun. 2022. 

ZANINELLI, Daniele. Vitamina D: posicionamento das sociedades brasileiras sobre os novos valores de referência Portal PEBMED 28 Dec. 2020. Disponível em: https://pebmed.com.br/vitamina-d-posicionamento-das-sociedades-brasileiras-sobreos-novos-valores-dereferencia/?utm_source=artigoportal&utm_medium=copytextPortal. Acesso em 04 mai. 2022.


1, 2Acadêmicos do 10º período do curso de Farmácia da Faculdade Unibrás de Goiás. Artigo apresentado à Banca Examinadora do Curso de Farmácia Unibrás de Rio Verde Goiás, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

3Orientador. Mestre e professor da Faculdade Unibrás de Goiás.