VISÃO DOS ACADÊMICOS DE MEDICINA EM RELAÇÃO AO USUÁRIO DE TRANSTORNO MENTAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8414410


Felipe Rodrigues Da Silva
Melissa Francisca Pereira Ramos
Rodrigo Santiago Da Costa
Sergiane Miqueli Gonçalvez Lira
Tainy Mendes Farias
Orientador: Prof.ª. Drnd. Sarah Lais Rocha.


RESUMO

O trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa exploratória descritiva com abordagem quantitativa, realizada com os estudantes de medicina de Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), no município de Marabá-PA. A pesquisa teve como objetivo analisar e avaliar a visão dos acadêmicos de medicina em relação ao usuário com transtorno mental, explorando possíveis diferenças, em relação a outros estudos realizados por outros autores. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado com perguntas fechadas, criado na plataforma Google Foorms e enviado de forma online via WhatsApp. Com uma distribuição nos dois sexos, foi constituída por 118 estudantes de medicina, do 8° ao 5° período pelo qual já passaram pela disciplina de Instituição e Ensina na Comunidade (IESC).  Os resultados encontrados apontam boas experiências vividas na disciplina (36,44%), preparo adequado para atender o paciente com transtorno mental (31,36%), concordam satisfatória a cargo horária o curso em relação a disciplina de Saúde Mental (35,59%. No entanto, outras análises revelaram diferenças significativas em itens específicos como “Considera que o paciente apresenta risco a sociedade”, “Considera que o paciente deve ficar isolado”, “O contato com o paciente durante o curso deve ser ampliado” e “Considero que paciente com transtorno mental me desperta sentimentos negativos”. “Quais sentimentos foram mais presentes quando tive contato com usuários com transtorno mental”. Tendo em conta as referências bibliográficas utilizadas, verifica-se que os resultados obtidos são consistentes e apresentam importância para maior conscientização dos acadêmicos de medicina sobre a problemática dos pacientes com transtornos mentais e a desmistificação do preconceito. As implicações mais evidentes deste estudo apontam para a redefinição e incentivo a novas estratégias de educação, junto dos estudantes de medicina.

Palavras-chave: Transtornos Mentais, Acadêmicos de Medicina, Percepção, Educação Médica, Assistência à Saúde Mental.

ABSTRACT

The work presents the results of a descriptive exploratory research with a quantitative approach, carried out with medical students of the Faculty of Medical Sciences of Pará (FACIMPA), in the municipality of Marabá-PA.The research aimed to analyze and evaluate the view of medical students in relation to users with mental disorders, exploring possible differences in relation to other studies carried out by other authors.As a data collection instrument, a semi-structured questionnaire with closed questions was used, created on the Google Foorms platform and sent online via Whatsapp. With a distribution in both genders, it was made up of 118 medical students, from the 8th to the 5th period in which they had already passed the discipline of Institution and Teaching in the Community (IESC).The results found point to good experiences in the discipline (36.44%), adequate preparation to care for patients with mental disorders (31.36%), agree with the course in relation to the Mental Health discipline (35.59%) %) It isHowever, other analyzes revealed significant differences in specific items such as “Do you consider that the patient presents a risk to society”, “Do you consider that the patient should be isolated”, “Contact with the patient during the course should be expanded” and “I consider that patient with a mental disorder arouses negative feelings in me”. “What feelings were most present when I had contact with users with mental disorders”.Taking into account the bibliographical references used, it appears that the results obtained are consistent and are important for greater awareness of medical students about the problem of patients with mental disorders and the demystification of prejudice. The most evident implications of this study point to the redefinition and encouragement of new education strategies among medical students.

Keywords: Mental Disorders, Medical Students, Perception, Medical Education, Mental Health Care.

1 INTRODUÇÃO

Durante muitas décadas as pessoas acometidas com algum tipo de transtorno mental eram consideradas loucas, incapazes e consequentemente eram excluídas da sociedade, sendo largadas em ruas ou em hospitais psiquiátricos, sofrendo abusos, maus tratos e submissão a tratamentos desumanos sem nenhuma eficácia.

Tradicionalmente, a sociedade percebe o fenômeno do transtorno mental como relacionado à improdutividade, a algo negativo, suscetível de reclusão e, sobretudo, à periculosidade. Portanto, essa percepção contribui para a disseminação de atitudes negativas como o preconceito e para a dificuldade de inserção social das pessoas com sofrimento psíquico, configurando práticas no âmbito da assistência à saúde mental (SOUSA; MACIEL; MEDEIROS; VIEIRA, 2019).

Com o advento da reforma psiquiátrica, aconteceram mudanças no cenário da saúde mental tanto no Brasil como no mundo, que contribuíram para uma assistência mais humanizada ao usuário de sofrimento mental , observa-se, que o processo de exclusão social dos usuários de transtornos mentais, não é algo atual nem pontual, mas perpassa séculos de construção de representações estereotipadas, revelando o claro despreparo da população para o convívio com o doente mental (SOUSA; MACIEL; MEDEIROS; VIEIRA, 2019).

Essa estigmatização secular também parece contribuir com a falta de interesse de boa parte dos alunos de medicina em escolher a psiquiatria enquanto área de interesse, e mesmo de especialização médica. Uma revisão brasileira sobre o tema foi publicada (SCHOMERUS et al., 2012) e pôde constatar que o baixo interesse por essa especialidade médica está ligado a três fatores principais: aos transtornos mentais e o início do curso indicou ser um momento oportuno para oferecer esse tipo de atividade. A experiência também aponta que a colaboração eficaz entre a Universidade e o SUS pode promover mudanças positivas na formação em saúde mental de futuros médicos brasileiros

O estigma relacionado ao transtorno mental e à psiquiatria, à baixa exposição durante a graduação médica à prática psiquiátrica e à necessidade de se investir na Rede de Assistência em Saúde Mental no país. Os achados da literatura internacional parecem reforçar o caráter universal dessa problemática. Uma revisão feita por Lyons (2013) aponta que a escolha da psiquiatria como especialidade médica ainda é relativamente baixa, e que uma experiência positiva do aluno durante o aprendizado da psiquiatria na graduação é um estímulo para escolha da carreira. Em outra revisão, a mesma autora (LYONS, 2014) concluiu que para uma especialidade ainda tão impopular quanto é a psiquiatria, a qualidade das experiências curriculares ofertadas no currículo médico é de fundamental importância.

Sob esse prisma, espera-se que os espaços de produção do saber, especialmente os ambientes universitários, estejam suscitando debates em torno dessa problemática, na busca de meios para solucioná-la, com ações que envolvam não somente as comunidades às quais alunos e docentes frequentam, por ocasião das práticas oriundas das disciplinas curriculares dos cursos da área de saúde, mas, também, no interior do ambiente acadêmico, junto aos estudantes, professores e servidores, haja vista que, onde houver relacionamentos interpessoais, necessário se faz repensar conceitos e valores e ressignificar práticas.

Dessa maneira, a visão dos alunos de Medicina acerca do usuário com transtorno mental e da reforma psiquiátrica são valiosos instrumentos para se compreender onde estarão pautadas as práticas desses futuros profissionais, que atuarão na área da saúde mental, tendo em vista o novo modelo de assistência à saúde mental, preconizada pela reforma psiquiátrica (BARROS & CLARO, 2011; MENEGAT, 2010).

Portanto, disserta-se nessa pesquisa, sobre a visão dos alunos de medicina a respeito do usuário com transtorno mental, onde iremos destacar que estas são compostas pela informação qualidade e quantidade de conhecimento que o sujeito/grupo tem sobre o usuário, pelas atitudes possibilidade de identificar posições favoráveis ou não em relação a determinado objeto e pelo campo de representação (MACIEL, BARROS, CAMINO & MELO, 2011). Tendo como principal objetivo analisar a visão dos acadêmicos de medicina, em relação ao usuário com transtorno mental. Além disso, compreender as experiências e percepções das interações clínicas dos acadêmicos de medicina, FACIMPA, com pacientes com transtorno mental e sintetizar os fatores que promovem uma boa relação entre o estudante e o paciente;

2 METODOLOGIA        

2.1 Desenho do Estudo / Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem quantitativa, com o objetivo de analisar a visão que os acadêmicos de medicina da faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Campus I no município de Marabá-PA.

A pesquisa exploratória tem como objetivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Para Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que foi investigado, possibilitando sua definição e seu delineamento, facilitando a delimitação do tema da pesquisa, bem como, orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses, ou por exemplo, descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto.

A abordagem quantitativa busca garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando uma margem de segurança quanto às inferências. Esta utiliza a descrição matemática como uma linguagem, ou seja, a linguagem matemática é utilizada para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre as variáveis, sendo a estatística a responsável por estabelecer a relação entre modelo teórico proposto e os dados observados no mundo real (MARCONI; LAKATOS, 2017).

Esse tipo de abordagem quantitativa busca a validação das hipóteses mediante a utilização de dados estruturados, estatísticos, com análise de muitos casos representativos, recomendando um curso final da ação. Ela quantifica os dados e generaliza os resultados da amostra para os interessados (MATTAR,2001).

Nesse sentido, a metodologia aqui apresentada envolve aplicação de questionários com alunos de medicina que tiveram experiências ligadas diretamente com o tema proposto.

2.2 Local e Período

A pesquisa foi aplicada na Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), no município de Marabá-PA, região Norte do Brasil. Localizado na região sudeste do estado, aproximadamente 500 quilômetros da capital e às margens dos rios Tocantins e Itacaiúnas, é o principal polo socioeconômico da mesorregião do sudeste paraense. Com uma população estimada em 279.349 pessoas no ano de 2019 e área territorial de 15.128,058 km², é o quarto mais populoso do estado e conta com uma taxa de mortalidade infantil de 18,68 a cada mil nascidos vivos no ano de 2017 (IBGE, 2019).

A FACIMPA foi escolhida como campo de estudo devido à relação direta dos pesquisadores com o campus, visto que é local de estudo deles.  Tal fato permite uma coleta de dados mais completa e dinâmica, tendo em vista que os participantes e pesquisadores do estudo frequentam diariamente o local. O período a coleta de dados para o projeto foi de dezembro de 2022 até fevereiro de 2023.

2.3 População de estudo

Alunos do curso de medicina que já passaram pela disciplina de Integração Ensino e Serviço a Comunidade (IESC) IV, no qual se encontram as turmas 2019.2, 2020.1, 2020.2, 2021.1.

Para participar da pesquisa os alunos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido através do Google Foorms.

2.4 Critérios de inclusão

  • Foram incluídos todos os alunos com mais de 18 anos de idade;
  • Do 5º ao 8º período do curso de graduação em Medicina;
  • Regularmente matriculados na instituição e nas disciplinas dos módulos de Integração Ensino e Serviço a Comunidade (IESC).

2.5 Critérios de exclusão

  • Não aceitaram participar da pesquisa;
  • Alunos com indisponibilidade no momento de coleta de dados por afastamento; por questões de doença ou gestação;

2.5 Instrumentos de coleta de dados

O processo de coleta de dados foi realizado por meio de um questionário (APÊNDICE 1) semiestruturado com perguntas fechadas, aplicado entre dezembro de 2022 e abril de 2023 somente mediante a apreciação aprovação prévia do Comitê de ética. Esse questionário teve como forma de envio online pela plataforma Google Foorms, a primeira parte contou com perguntas objetivas na qual oferece alternativas de respostas, o questionário analisou a opinião pessoal dos acadêmicos sobre usuário com transtorno mental que eles acompanharam nas aulas práticas.  A segunda parte foi um questionário com perguntas fechadas sobre as estratégias de tratamento tanto farmacológicos quanto não farmacológicos que são utilizadas pelos órgãos responsáveis pelo cuidado do paciente, e se eles notaram melhoras e se tem realmente eficácia no uso dessas abordagens terapêuticas.

2.6 Variáveis do estudo

Verificou-se as opiniões pessoais dos alunos em relação a problematização proposta, se desenvolveram sentimentos como: amor, carinho, compaixão, afeto, medo, desprezo e receio perante o paciente psiquiátrico (AMARANTE,1995).

2.8 Procedimentos para a Coleta de Dados

Enviou- para as IES uma cópia do projeto juntamente com a solicitação para a realização da pesquisa. Após parecer da Reitoria/direção ou o representante legal designado por estes, e de posse da carta de aceite, o projeto foi submetido à Plataforma Brasil (PB). Após o parecer e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), a pesquisa iniciou com as etapas de convite e recrutamentos dos participantes.

Desenvolveu-se um questionário online via Google Foorms, a primeira parte contou com perguntas objetivas na qual ofereceu alternativas de respostas, questionando a opinião pessoal dos acadêmicos sobre os pacientes que eles acompanharam nas aulas práticas ao longo do semestre. 

O desenvolvimento ocorreu da seguinte maneira:  o contato com os discentes ocorreu via WhatsApp através dos grupos das turmas, por onde enviamos um link individual, o aluno interessado em Saúde Mental responderá rapidamente o questionário com perguntas objetivas. O questionário foi individual e não teve tempo de duração determinado, indique os estudantes o anonimato e a proteção de seus dados. O arquivo da pesquisa está armazenado em pastas em nuvem (Google drive) destinadas somente para esta pesquisa, as quais serão protegidas com senhas de acesso restrito apenas aos pesquisadores.

As experiências, buscando a essência do que foi vivenciado e descrito pelos alunos durante as aulas práticas. Posteriormente as respostas serão articuladas umas às outras, emergindo temas comuns e selecionando partes essenciais nas afirmações relativas à visão de cada aluno e as estratégias terapêuticas, seguindo então para o terceiro momento de compreensão fenomenológica e interpretativa. Além disso, todas as informações posteriormente transcritas ficarão de posse exclusiva e responsabilidade dos pesquisadores e serão acessadas apenas nos momentos de construção da pesquisa.

2.7 Análise de Dados

Os dados obtidos foram tabulados, tratados eletronicamente e analisados quantitativamente. Na análise estatística utilizou-se o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 22.0.0.0 versões para o Windows®. 

Para a análise dos dados, as variáveis quantitativas foram representadas por suas médias e desvios-padrão, quando suas distribuições eram normais, e por medianas e intervalos interquartis, quando não normais e com outliers importantes. A definição de normalidade foi feita por meio de análise gráfica e teste de Shapiro-Wilk. As variáveis categóricas foram representadas por meio de frequências e porcentagens (RAZALI; WAH, 2011). As análises foram conduzidas com o software IBM StatisticalPackage for the Social Sciences (SPSS ®, Chicago, IL, EUA) 20.0.

2.8 Aspectos Éticos

Após a anuência do IPEC/FACIMPA – Marabá.  Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) via Plataforma Brasil (PB) e aprovada com o CAAE: 63411822.0.0000.0014. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Todas as informações foram utilizadas para fins científicos e não há conflito de interesse relacionado ao estudo.

A pesquisa foi realizada seguindo as normas que regulamentam pesquisa envolvendo seres humanos contidas nas resoluções nº 466/12 e 510/16 CNS/CONEP. Estas resoluções determinam a eticidade da pesquisa, dispondo sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana.

Os objetivos da pesquisa, assim como todos os procedimentos realizados, foram previamente explicados a todos os participantes. Somente depois de obtidos o TCLE, é que a coleta de dados deu início, nas dependências da instituição participante e coparticipante, e no caso dos juízes, onde estes estiverem, através do Google Formes, via e-mail. As informações ficarão sob a guarda e responsabilidade dos pesquisadores por um período máximo de cinco anos, após esse período serão destruídas. Os dados serão divulgados em forma de relatórios e comunicações científicas, entretanto, sem a identificação dos envolvidos em qualquer fase do estudo. Caso os participantes queiram ter acesso aos resultados do estudo, estes serão disponibilizados.

2.9 Riscos

Os riscos encontram-se descritos de acordo com os pressupostos contidos nas Resoluções nº 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)/ Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve riscos, estes em graus variados, levando-se em consideração as dimensões biopsicossocial e espiritual dos indivíduos.

Como precaução todas as informações foram codificadas, sendo utilizadas somente pelo pessoal autorizado, mantendo-se o sigilo das informações coletadas e anonimato dos envolvidos, de forma a preservar a integridade dos participantes da pesquisa. Tais riscos foram prevenidos ao se procurar manter as informações sob a guarda e responsabilidade dos pesquisadores, sendo os dados utilizados somente nessa pesquisa e usando-se de métodos que mantenham o sigilo das informações e o anonimato dos pesquisados.

Diante de um número significativo de questões presentes no questionário, entendemos que poderá ocorrer um certo temor e desconforto aos participantes. Tendo como objetivo minimizar tais riscos, de forma a não lhes causar constrangimento, estes poderão deixar de responder qualquer pergunta do questionário à medida que julgarem conveniente. Em relação aos riscos relacionados à rotina dos professores, como interferência no horário de aula e replanejamento das atividades acadêmicas serão tomados os devidos cuidados em realizar as atividades em dias e horários designados pela coordenação do curso e agendados conforme a disponibilidade dos participantes, de forma que não haja interferências nas atividades acadêmicas. 

2.10 Benefícios

A importância desta pesquisa reside no fato que seus resultados subsidiaram a como referência para que outros alunos, para que melhorem sua percepção sobre o paciente psiquiátrico, para que haja também adaptação e familiarização com o tema proposto, contribuindo assim para uma melhora do desempenho acadêmico, bem como na melhoria da formação médica, tendo em vista a complexidade e responsabilidade envolvidas na profissão.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos no decorrer do presente estudo. Optou-se por expor os resultados em função das etapas, de acordo com as perguntas realizadas da coleta de dados, a saber: Etapa I- caracterizando a população de estudo, Etapa II- visão dos acadêmicos em relação ao usuário portador de transtorno mental; Etapa III- visão dos acadêmicos sobre o ensino de saúde mental

ETAPA I- CARACTERIZANDO A POPULAÇÃO DE ESTUDO

Tabela 1- Caracterização dos participantes de pesquisa de acordo com a variável sexo

SexoFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Feminino7563,56%
Masculino4336,44%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

A tabela 1 mostra o número de participantes da pesquisa, com um total de 118 alunos, sendo a predominância no sexo feminino com a frequência absoluta de 75 mulheres e frequência relativa de 63,56%. Já para o sexo Masculino consta-se frequência absoluta de 43 homens e frequência relativa de 36,44%.

A influência do género nas atitudes perante a doença mental tem sido testada, levando a diferentes resultados. Há estudos em que não foram encontradas diferenças significativas entre homens e mulheres (PINHAL, 2010; ADDISON & THORPE, 2004). Por outro lado, há investigações cujos resultados vão ao encontro dos obtidos no presente estudo, apontando para a presença de atitudes mais positivas nas mulheres (BOYLE ET AL., 2010; MUNRO & BAKER, 2007; AY ET AL., 2006; LAUBER ET AL., 2006). A possível influência do papel de cuidadora, socialmente adotado pela maioria das mulheres, poderão fundamentar o aparente padrão de atitudes face à doença mental apresentado pelos elementos do sexo feminino.

Apesar de o estudo ter uma quantidade de entrevistados predominantemente feminino e sugerir, ainda, um pouco contato destes com as práticas clínicas as respostas analisadas dos questionários revelam grandes estigmatizações referente a pacientes com transtorno mental na maioria dos entrevistados. Esses dados vão de encontro aos resultados de outro estudo realizado em uma Faculdade de Medicina, haja vista que as atitudes menos positivas à psiquiatria foram encontradas em alunos do sexo masculino, sem experiência prévia em psiquiatria, com histórico de currículos mais direcionado às ciências e menos às humanidades (KUHNIGK et al., 2009 apud PEREIRA et al., 2022)

Figura 1- Caracterização dos participantes da pesquisa de acordo com a sua formação anterior

Fonte: Próprio autor

A figura 1 contabiliza a formação previa dos discentes do curso de medicina, sendo assim, cerca da grande maioria, 96 pessoas responderam não ter nenhuma formação anterior na área da saúde (81,36%). Os outros 22 alunos (18,64%), responderam já terem outra graduação, sendo a maioria formados em Enfermagem, seguido de Odontologia, Fisioterapia e Tec. em radiologia.

Seria de esperar que, à medida que aumenta a “formação académica”, diminuísse a manifestação de visões negativas face à doença mental, o que poderia ser explicado com o aumento do conhecimento, bem como, pelo aumento da diversidade de experiências ao longo de toda a sua formação académica. Segundo Avanci, Malaguti e Pedrão (2002), os estudantes da área da saúde, ao ingressarem num curso superior, manifestam estereótipos e preconceitos que prevalecem na sociedade num dado momento e que podem influenciar a forma como futuramente interagem com os doentes. No entanto, através da formação adequada é possível alterar conceitos erróneos e por este motivo os autores salientam a importância de uma análise profunda aos planos de estudo dos cursos, que devem contribuir para a modificação de crenças, substituindo os mitos sobre a doença mental, por conceções precisas (CORRIGAN, RIVER ET AL., 2001).

Tabela 2- Caracterização dos participantes da pesquisa de acordo com qual o período no curso de medicina

PeríodoFreq. AbsolutaFreq. Relativa
5 período (T4-2021.1)2622,03%
6 período (T3-2020.2)108,47%
7 período (T2-2020.1)6353,39%
8 período (T1-2019.2)1916,10%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

Como pré requisito para a seleção dos participantes de pesquisa foi priorizado as turmas que já haviam passado pelo módulo do IESC V tendo como conteúdo majoritário Saúde Mental e Psiquiatria, sendo elas: Turma 1, Turma 2, Turma 3 e Turma 4. A grande maioria das respostas foram obtidas na turma 2 onde os discentes se encontram no 7° período, com 63 pessoas participantes, totalizando 53,39% da população em estudo. Seguido pela turma 4, que se encontra no 5° período, com 26 pessoas participantes, totalizando 22,03% da população pesquisada.  Por fim se encontram turma 1, com 16,10% dos participantes e turma 3 com 8,47% dos participantes.

Na análise observa-se que a alternância de alunos por período sendo eles menos ou mais avançados no curso, não muda como significativamente a visão dos acadêmicos sobre um paciente usuário de transtorno mental, de acordo com os diferentes o avançar dos períodos. Podemos pressupor uma baixa influência do curso de medicina e da formação aí decorrente no combate às atitudes e visões estigmatizantes.

Seria de esperar que, à medida que aumenta a formação acadêmica, diminuísse a manifestação de visões negativas face à doença mental, o que poderia ser explicado com o aumento do conhecimento, bem como, pelo aumento da diversidade de experiências ao longo da formação acadêmica. Face aos resultados obtidos, parece-nos natural reconhecer a necessária reflexão sobre a organização do curso de medicina, apelando à integração de estratégias específicas de educação que contemplem os conhecimentos, práticas e investigação da área da saúde mental.

Figura 2- Caracterização dos participantes da pesquisa de acordo o propósito de se especializar em psiquiatria

Fonte: Próprio autor

A figura 2 representa a pergunta se os pesquisados teriam interesse em ser especializar na área de Psiquiatria, obteve a resposta de que 31 alunos cerca de 26,27% gostariam de se especializar em Psiquiatria. No entanto, 87 alunos cerca de 73,73% responderam que não gostariam de se especializar nessa área.

Ao observar o estudo, nota-se que uma certa diferença de porcentagem entre os participantes que têm vontade de se especializar em psiquiatria e os que não tem, a análise por item demonstrou que os alunos que não pretendem esta especialização, podem não apresentar interesse pelo tema, aprendendo sobre ele apenas por ser uma competência necessária ao médico generalista. Estes dados parecem ser consistentes, apesar de não definirem diferenças entre quem gostaria da especialização em psiquiatria e quem não considera essa opção.

Por outro lado, ainda que o número de alunos que possuem interesse de se especializar na área de psiquiatria pareça baixo, há fatores dentro da graduação que podem estimular de estudantes para a área. As práticas clínicas e a participação extracurriculares em ligas acadêmicas, por exemplo podem despertar o interesse dos alunos para área, desmistificar estigmatizações e por fim aumentar o número de especialistas (MOREIRA et al., 2019).

ETAPA II- VISÃO DOS ACADÊMICOS EM RELAÇÃO AO USUÁRIO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL

Figura 3- Sobre a comparação do tipo de tratamento dispensado para pacientes com transtorno mental e outros pacientes sem transtorno mental

Fonte: Próprio autor

A figura 3 ilustra a pergunta presente no questionário: ´´Considero que o paciente com transtorno mental não deve ser tratado de forma a diferente de qualquer outro paciente“. Percebe-se que a maioria concorda ou concorda plenamente que o usuário com transtorno mental não deve ser tratado de forma diferente, percentualmente percebemos a variação entre 32,20% e 17,80%. E discordantes temos a variável entre 24,50% a 22,03%. Observa-se ainda a pequena diferença entre os que concordam (32,20%) e os que discordam (24,58%). Representando a diferença de 7,62%.

Nesse sentido, os dados obtidos na pesquisa compactuam que, todos merecem ter tratamento igualitário com base no respeito. Segundo estudos publicados por Mendonça Maria (2019) a dignidade é ideia absoluta, representando a garantia a todos os indivíduos do respeito pela sua humanidade, refletido pela consideração de seus interesses, bem-estar, sua vida e autonomia. Reconhecer que a cada pessoa é concedido valor singular e supremo, representado pela amplitude da integridade da pessoa humana, gera respeito não apenas à existência, mas propriamente à autonomia igualmente conferida a todos. O valor supremo da dignidade assegura, assim, a estrutura da igualdade.

Tabela 3- Sobre o estigma do medo ao se ter contato com o paciente com transtorno mental

Medo do contato com paciente com transtorno mentalFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo4840,68%
Concordo plenamente2420,34%
Discordo2420,34%
Discordo totalmente1815,25%
Não concordo e nem discordo43,39%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

A tabela 3 representa o questionamento bastante notório em relação ao contato direto do discente com o usuário de transtorno mental ´´Considero que tive medo em relação ao primeiro contato com o paciente com transtorno mental“. De acordo os levantamentos da pesquisa, 48 alunos assumiram que sentiram medo, com isso, observamos que esse sentimento pode gerar atitudes que se refletem em comportamentos que podem ainda inferir na dignidade do paciente afetado.

Outrossim, o medo do contanto com paciente foi evidenciado em 60% dos acadêmicos entrevistados. Esse dado reafirma que o transtorno mental ainda é considerado um tabu na educação médica (SOIERO et al., 2022). A formação na área da saúde, diante deste levantamento, não tem atuado de maneira eficaz na desmistificação dos estigmas sociais relacionados a esta patologia, já que o medo e a insegurança foram característica que predominaram, em um público que já se encontra na metade de sua formação e que 18,64% deste já possui outra formação na área da saúde.

Tabela 4- Sobre os principais sentimentos sentidos pelos acadêmicos quando tiveram contato com o paciente usuário com transtorno mental

PALAVRASFREQUÊNCIA
Medo44
Paciência52
Pena/Dó38
Empatia70
Chateação5
Respeito59
Impotência31
Segregação5
Raiva1
Vontade De Ajudar89
Fonte: próprio autor

Ao questionar aos acadêmicos quais foram os sentimentos despertados quando tiveram contato com o paciente usuário de transtorno mental, observou-se a presença de alguns sentimentos que tiveram maior prevalência, como o Medo cerca de 44% das frequências nas respostas, a Paciência com 52% das frequências nas respostas, Empatia com 70% das frequências nas respostas, Respeito com 59% das frequências nas respostas e a Vontade de Ajudar com 89% das frequências nas respostas. Na experiência relatada foi possível notar o medo e incertezas que perpassaram nas mentes dos estudantes provenientes do olhar acerca da doença mental difundidos na coletividade devido a uma construção histórica. Entretanto, nota-se um combate com relação dos resultados descritos acima, aos sentimentos: Medo (44%) e Vontade de Ajudar (89%). Dessa maneira nota-se apesar dos alunos sentirem medo também se sobressaiu a vontade de ajudar ao próximo, o que mostra uma quebra de paradigma de preconceito que se estende perante a sociedade, propagando a humanização e a garantia do respeito em todas as esferas do cuidado.

Além disso, também é importante salientar que o medo do doente mental deve ser tema de debate nas instituições acadêmicas, de forma a redefinir o julgamento de risco e perigo generalizando todos os portadores de transtornos mentais, sem dar atenção ao seu diagnóstico e quadro clínico de fato apresentados.  

Dessa forma, a nuvem de palavras representa bem o principal sentimento: Vontade de Ajudar.  

A disposição destas palavras reafirma que a estigmatização que ainda vigorou nas respostas dos questionários desta pesquisa pode ser diminuída de maneira significativa a partir do contato do acadêmico ao decorrer de sua formação com pacientes psiquiátricos (PEREIRA et al., 2022)

Tabela 5- Sobre a visão que os acadêmicos de medicina se o paciente usuário de transtorno mental apresenta risco a sociedade

Considera que o paciente apresenta risco a sociedadeFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo1411,86%
Concordo plenamente65,08%
Discordo2722,88%
Discordo totalmente6555,08%
Não concordo e nem discordo65,08%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

A tabela 5 apresenta o seguinte questionamento ´´Considero que o paciente com transtorno mental apresenta risco a sociedade“. Dentro dos dados coletados, foi observado uma questão bastante importante, a porcentagem de 55,08% afirma que 65 alunos discordam totalmente que todo paciente usuário de transtorno metal apresenta risco para a sociedade. Por outro lado, 11,86% dos entrevistados concordam com essa análise.

O resultado desta análise é de imensa relevância, haja vista que retrata uma evolução dos pensamentos e estigmas sociais em relação ao paciente psiquiátrico. A institucionalização prolongada foi responsável pelo enraizamento cultural de preconceitos e marginalização atribuídos a estes pacientes. A quantidade de respostas negativas notadamente é caracterizada como um avanço do conhecimento popular diante do entendimento da doença mental.

Tabela 6- Sobre a visão que os acadêmicos tiveram quanto ao isolamento do paciente usuário de transtorno mental

O paciente deve ficar isoladoFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo32,54%
Concordo plenamente32,54%
Discordo5647,46%
Discordo totalmente2319,49%
Não concordo e nem discordo3327,97%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

Na tabela 6, observamos o seguinte questionamento ´´Considero que o paciente com transtorno mental deve ficar isolado“, ao coletar os dados temos um comparativo interessante em relação aos que discordam e aos que não discordam e nem concordam com o isolamento. De acordo com análise 47,46% dos discentes discordam, mas, outra grande parte também não tem uma opinião formada sobre o assunto, 33 alunos (27,97%) escolheram que não concordam e nem discordam sobre o tema.

A discordância da maioria dos entrevistados quanto ao isolamento social de pacientes psiquiátricos reintegra a eficácia gradativa que a Reforma Psiquiátrica exerceu sob o pensamento social. Isso por que, com a Lei 10.216, de 2001 foi instituída as garantias de pacientes com transtorno mental, ao promover o fechamento gradual de manicômios, criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) que visa promover a reabilitação e reintegração destes pacientes à sociedade garantido assistência e tratamento não hospitalar (BRASIL, 2005).

No entanto, o número significativo de pessoas que ainda não possuem opinião formada sobre o assunto pode derivar da demora de implantação da lei supracitada, o que enraizou estigmatizações diante do transtorno mental, e sobretudo da falha do Ministério da Saúde em promover políticas públicas que combatem esses estigmas sociais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2020).

Figura 4- Sobre o incomodo sentido pelos acadêmicos de medicina ao atender pacientes com sinais sugestivos de transtornos psiquiátricos

Fonte: Próprio autor

Ao analisar a figura que levanta a seguinte pergunta ´´Considero que me sinto incomodado em atender pacientes com sinais sugestivos de transtornos psiquiátricos“, observamos que a grande maioria dos entrevistados não se sente incomodando frente a frente com um paciente psiquiátrico, a porcentagem gera em torno de 44,92% com 53 alunos concordando. Já outros 27,97% não concordam e nem discordam no assunto.

É notório que apesar das possíveis dificuldades encontradas pelos estudantes, a grande maioria não apresenta incomodo ao atender o paciente sugestivo de transtorno mental, cabe ressaltar a importância de um atendimento digno e humanizado para com os pacientes. Assim, somado a habilidades e conhecimentos técnicos, o trato do paciente com maior atenção e cuidado leva o profissional da saúde ao verdadeiro respeito a dignidade do paciente com transtorno mental.

Figura 5- Sobre a visão dos acadêmicos de medicina no que diz respeito a pacientes usuários de transtorno mental que deveriam ou não se afastar das atividades laborais e do trabalho

Fonte: Próprio autor

A figura 6 está baseado no seguinte questionamento: ´´Considero que usuários com transtorno mental deveriam se afastar das atividades laborais e do trabalho“. No qual foram observadas uma pequena diferença de resposta, 37,3% dos discentes discordam da problemática e 40,7 % não tiverem opinião formada, isso somatiza a diferença de 3,4% apenas.

Transtorno mental é uma variedade de condições com grande teor incapacitante (GONÇALVES et al., 2018). Apesar de possuir uma grande incidência ainda há uma dificuldade na realização do diagnóstico seja pela baixa procura de ajuda, seja pelo estigma da população, inclusive profissionais da saúde relacionado a doença. Logo o presente estudo é uma ferramenta de suma importância, ao passo que avalia a visão de futuros profissionais que serão peças essenciais na avaliação, no tratamento e na conduta de pacientes com transtorno mental.

Tabela 7- Sobre a visão dos acadêmicos de medicina no que se refere ao paciente com transtorno mental crônico não ter condições de tomar decisões sobre sua própria vida

Considero que paciente com transtorno mental crônico não têm condições de tomar decisões sobre sua própria vidaFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo1613,56%
Concordo plenamente119,32%
Discordo2924,58%
Discordo totalmente5748,31%
Não concordo e nem discordo54,24%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

Na tabela 8 podemos visualizar a visão dos acadêmicos em relação ao paciente usuário de transtorno mental crônico, 57 alunos (48,31%) responderam que discordam totalmente que o paciente não tem capacidade de tomar decisões sobre a própria vida e 16 alunos (13,56%) concordaram com a problemática.,

A discordância significativa dos alunos a este questionamento é de grande importância, por evidenciar que os futuros profissionais poderão garantir os pacientes com patologias mentais a execução de seus direitos redigidos na Reforma Psiquiátrica (2005), cuidados médicos apropriado, instrução a formação, readaptação e conselhos que os ajudem a desenvolver o máximo de suas capacidades.

ETAPA III- VISÃO DOS ACADÊMICOS SOBRE O ENSINO DE SAÚDE MENTAL

Figura 6- Em relação ao contato com o paciente com transtorno mental durante o curso deve ser ampliado

A figura 6, evidencia que os alunos concordam (44,9%) que o contato com o paciente usuário de transtorno mental deve ser ampliando durante o curso de medicina, julgando a carga horaria do modulo de saúde mental reduzida.

A interação dos estudantes com as aulas teóricas e práticas clínicas os, capacitam e são primordiais para a diminuição do estigma frente a pacientes com transtorno mental. Em uma pesquisa realizada por Queiroz et al.  (2013) que comparou dois grupos de alunos, onde o primeiro grupo manteve contato com pessoas com algum tipo de deficiência mental por um tempo determinado e o segundo grupo, considerado controle, permaneceu sem contato, foi possível evidenciar que este último continuou a refletir comportamentos discriminatórios. Tal pesquisa justifica então os asseios dos acadêmicos de medicina ao relatarem insatisfação com a carga horária do curso destinada a temática.

Tabela 8- Em relação ao domínio da anamnese e exame das funções mentais pelos acadêmicos de medicina

Domínio da anamnese e exame das funções mentaisFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo4235,59%
Concordo plenamente108,47%
Discordo3428,81%
Discordo totalmente2924,58%
Não concordo e nem discordo32,54%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

Ao serem questionados se dominando a anamnese e o exame das funções mentais que são princípios fundamentais para diagnóstico e tratar doenças mentais, cerca de 42 alunos (35,59) disseram dominar esses conhecimentos e 34 alunos (28,81%) disseram não dominar o assunto.

Observa-se assim, a grande importância de uma anamnese e de um exame físico bem feito para o prognóstico do paciente, visto que a forma como compreendemos o outro e como nos esforçamos para ouvir também são partes importantes de qualquer tratamento. No decorrer dos anos o atendimento, não só no Brasil como no mundo, tem mudado, e essa mudança se dá exatamente por se perceber a importância que esse atendimento mais humano tem na melhoria e na qualidade dos tratamentos (ALMEIDA, 2019).

A recuperação dos pacientes também é influenciada pelo atendimento, toda melhoria no atendimento as pessoas influência no resultado do processo, e essa busca tem se intensificado devido os muitos trabalhos voltados à melhoria e a humanização do atendimento, ou melhor, do trabalho voltado a saúde como um todo (SANTOS e LIMA, 2017).

Tabela 9- Em relação ao preparado pelos acadêmicos de medicina para atender paciente com transtorno mental

Preparado para atender paciente com transtorno mentalFreq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo3731,36%
Concordo plenamente1210,17%
Discordo2319,49%
Discordo totalmente4437,29%
Não concordo e nem discordo21,69%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

Na pergunta em questão, foi abordado se os discentes se sentiam preparados para atender um paciente com possível transtorno mental, 31,36% dos alunos consideram estar preparados para essa abordagem, por outro lado 37,29% afirmaram que estão despreparados para atender o paciente usuário de transtorno mental.

A percepção de despreparo para o atendimento de pacientes com transtorno mental em quantidades significativa dos entrevistados é concomitantemente observada por Corrêa et al. (2022) o qual afirma que as aulas práticas são os meios pelos quais estudantes podem ter confrontados seus preceitos e adquirir um aprendizado consciente.

No Brasil ainda existe uma lacuna, em saúde mental, entre os pacientes que precisam de tratamento e aqueles que o recebem (MELLO et al., 2022). A justificativa para este cenário pode estar pautada na falha diagnóstica do transtorno mental, já que este estudo estimou que 53,39% dos entrevistados não sabem realizar anamnese e exame físico adequado e 63,56% não sabem manejar um surto psicótico.

Apesar do sentimento de despreparo, insegurança e medo diante de uma patologia ligada a saúde mental, o estudo evidenciou quantidade significativa de pessoas que afirmam ter uma boa experiência da disciplina na faculdade e que consideram a especialização em psiquiatria uma opção de carreira. Com isso, pode-se inferir que a formação pode ser considerada um estopim para a quebra de paradigmas no âmbito social e profissional.

Tabela 10- Em relação ao ensino de Saúde Mental: considero que tive boa experiência no módulo IESC V

Considero que tive boa experiência na disciplina IESC V.Freq. AbsolutaFreq. Relativa
Concordo4336,44%
Concordo plenamente4235,59%
Discordo75,93%
Não concordo e nem discordo2622,03%
Total118100,00%
Fonte: Próprio autor

De acordo com os dados coletados, 43 alunos (36,44%) confirmaram que tiveram uma boa experiencia com a disciplina de saúde mental no modulo de IESC V, no entanto, 7 (5,93%) disseram não ter gostado da experiência e 26 (22,03%) disseram não concordar e nem discordar da problemática.

As respostas positivas desta pergunta condiz com relato de experiência de acadêmicos do curso de medicina da UFGD, o qual expões a relevância dos estágios práticos para o desenvolvimento multidisciplinar, senso de corresponsabilidade, atendimento humanizado, sendo possível, assim , fornecer o melhor diagnóstico e tratamento as patologias mentais (ANDRADE, 2014)

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os achados no presente estudo indicam existência de estigmas e preconceitos relacionados a transtorno mentais, que ainda perpetuam mesmo na graduação de profissionais da saúde. Isso evidencia que mesmo com a melhoria na visibilidade da saúde mental com o advento da Reforma Psiquiátrica não foi o suficiente para mitigar preceitos que necessitam de uma profunda mudança científica e social.

O estudo foi condizente com dados da literatura que afirmam que o ser humano é produto de sua experiência no mundo social e cultural que convive (CORREA et al.,2022). Logo foi possível destacar a importância da prática clínica dentro da graduação para a construção de um futuro médico, principalmente, ao se tratar da área da saúde mental, por ser um mecanismo de quebra de estigmas e promoção de melhoria na relação médico-paciente e conduta adequada a pacientes com transtorno mental.

Por fim, o estudo ao expor conceitos e ideias negativos, ainda existente na visão de alguns estudantes, principalmente antes do contato com pacientes psiquiátricos, tornou-se uma ferramenta para que outros acadêmicos melhore sua percepção e tenha familiarização com o tema proposto, atuando, assim na melhoria da formação destes como profissionais capacitados para atuar na área.

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