VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SOFRIDA POR MULHERES EM SITUAÇÃO DE PERDA FETAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

OBSTETRIC VIOLENCE SUFFERED BY WOMEN IN SITUATIONS OF FETAL LOSS: NA EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411251149


Alesy dos Santos Ribeiro1; Alice Santos Magalhães2; Cibelly Cristine Maia da Silva3; Otávio Henrique Santana Moura4; Raiziliane Araujo do Nascimento5; Professora Lorena Alves Santos6; Professor Adriano dos Santos Oliveira7


RESUMO:

O presente estudo tem como objetivo relatar a experiência de violência obstétrica sofrida por mulheres em situação de perda fetal, observada por estudantes de enfermagem durante estágio supervisionado em uma maternidade pública em Manaus, Amazonas. A pesquisa foi motivada pela carência de abordagens humanizadas na assistência obstétrica, especialmente em situações de perda gestacional, e pela recorrência de práticas violentas e negligentes que agravam o sofrimento emocional dessas mulheres. O estudo utilizou o método descritivo, do tipo relato de experiência, no qual os acadêmicos documentaram práticas de violência obstétrica, como negligência no manejo da indução ao parto e falta de apoio emocional. Os resultados demonstram a prevalência de práticas assistenciais tecnocráticas e desumanizadas, com destaque para a ausência de médicos em momentos cruciais, falhas na administração de medicamentos e inadequação na estrutura hospitalar para mulheres em luto perinatal. Conclui- se que há uma urgente necessidade de reformulação na formação dos profissionais de saúde, especialmente na enfermagem obstétrica, para que esses profissionais possam oferecer um atendimento mais humanizado e alinhado às evidências científicas. Além disso, recomenda-se a criação de políticas institucionais que priorizem o acolhimento emocional e o respeito à autonomia das mulheres em situação de perda fetal, prevenindo a perpetuação da violência obstétrica

PALAVRAS-CHAVE: Violência obstétrica, perda fetal, enfermagem, humanização, assistência obstétrica.

1 INTRODUÇÃO

A violência obstétrica é toda a agressão física, moral, patrimonial e psicológica cometida contra as mulheres durante o pré-parto, parto e no pós-parto, tornando-se uma realidade frequente nos sistemas de saúde, sejam estes públicos ou até mesmo no sistema privado de saúde (Marques, 2020). Neste cenário, os profissionais da saúde, aqueles que atuariam no cuidado assistencial, são a parte agressora. Do outro lado, a mulher gestante que por direito receberia os cuidados como paciente obstétrica, é a vítima.

De acordo com o estudo de Martins et al., (2024) as maternidades do estado do Amazonas que mais apresentaram denúncias inseridas no Inquérito Civil Público instaurado pelo Ministério Público Federal do Amazonas foram 88,4% da rede pública e 11,6% na rede privada. Com relação as práticas e ações que foram denunciadas como violência obstétrica, houve predominância para agressão/humilhação verbal (65,5%), proibição do acompanhante (41,4%), seguido de descaso e abandono (34,5%). No Paraná, o estudo de Nascer mostrou 44% gestantes sofreram abuso físico, psicológico ou emocional, como tratamento desrespeitoso ou agressivo, falta de privacidade, enfrentaram dificuldade em perguntar sobre seu estado de saúde ou o estado do recém-nascido e perda de autonomia. (MARIA et al., 2024).

A violência obstétrica é a prática de qualquer especialidade da saúde que por condutas ou expressões agressivas contra as mulheres durante o pré-parto, parto e no pós- parto, sendo englobado restrições de acompanhantes, procedimentos médicos sem consentimento, falta de privacidade, recusa em administrar medicamentos e violência física. De acordo com (Sousa et al. 2021) o grupo mais vulnerável são as mulheres solteiras, adolescentes, em situação de vulnerabilidade financeira e imigrantes.

O Ministério da Saúde (2009) define o óbito fetal ou morte fetal como a morte de um produto conceptual antes da expulsão ou retirada completa do corpo da mãe. É caracterizado pelos seguintes parâmetros: ausência de respiração ou sinais de vida, como batimentos cardíacos, pulsação do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, ocorridos a partir da 22ª semana completa de gestação, ou 154 dias ou fetos com peso igual ou superior a 500g, ou estatura a partir de 25cm.

No Brasil, existem poucos estudos de base populacional ou hospitalar que estimem a prevalência de violência obstétrica em perda fetal, sendo uma importante lacuna na literatura (Costa et al, 2022). motivando a autoria deste artigo e considerando a relevância social e científica, pois estão envolvidas situações de violência obstétrica experienciadas por mulheres gestantes em situação de perda fetal, desencadeando eventos traumáticos, e causas de sequelas de má formação congênita e de desenvolvimento cognitivo, em razão da iatrogenia associada a perturbações da saúde mental e física no período gestacional. Este estudo objetiva relatar uma experiência de violência obstétrica sofrida por uma mulher em situação de perda fetal, presenciada por acadêmicos de graduação de enfermagem no centro de pré-parto, parto e pós- parto (CPPP) em uma maternidade na zona leste de Manaus

REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com Miura et al. (2018), o termo violência é comumente associado a atos de constrangimento físico ou moral, uso da força e coação, o que reflete o significado socialmente compartilhado dessa palavra.

A violência contra a mulher é amplamente reconhecida como um problema de saúde pública, especialmente devido às desigualdades de gênero. Estudos epidemiológicos apontam que a prevalência de violência física cometida por parceiros íntimos varia entre 13 e 61% no contexto mundial, sendo que, entre gestantes, os índices no Brasil variam de 5,1 a 19,1%, o que reflete o impacto significativo dessa violência na saúde e na sociedade como um todo (Baraldi et al., 2012).

Henriques (2021) relata que a prevalência da violência obstétrica no Brasil varia entre 18,3% e 44,3%, conforme estudos de base populacional. Apesar desses altos índices, ainda são escassos os estudos epidemiológicos nacionais sobre o tema. Nos últimos anos, o interesse por essa forma de violência tem aumentado, especialmente em razão de movimentos feministas e grupos que buscam resgatar a fisiologia do parto e o protagonismo feminino durante o processo.

A Agência Câmara de Notícias (2023) explica que:

“O parto prematuro pode deixar tantas sequelas que até os cinco anos de idade pode vir a causar o óbito da criança. Aqui a nossa taxa de prematuridade está acima da taxa global, 12% mais ou menos, dependendo de cada região do Brasil, que tem realidades diferentes. Mas a taxa global é 10%” (Agência Câmara de Notícias, 2023).

Palma e Donelli (2017) conduziram um estudo com 1.626 mulheres brasileiras, tanto primíparas quanto multíparas, com idade superior a 18 anos. Dentre as participantes, 52,3% (n = 850) relataram sentir-se inferiorizadas, vulneráveis e inseguras durante o atendimento no parto; 49,8% (n = 810) sentiram-se expostas e sem privacidade; e 42,2% (n = 686) afirmaram que não se sentiram à vontade para fazer perguntas, pois ou não recebiam respostas ou as respostas eram inadequadas (Figura 1). Esses números ilustram um amplo espectro de experiências negativas durante o atendimento obstétrico.

Figura 1. Experiências e Sentimentos vivenciados no parto/cesárea segundo estudo de Palma e Donelli (2017)

Fonte: Palma e Donelli (2017)

A violência obstétrica é uma realidade que afeta diversas mulheres em todo o mundo, especialmente aquelas em situação de perda fetal. Esse tipo de violência abrange um amplo espectro de práticas que desrespeitam os direitos reprodutivos, a autonomia e a dignidade da mulher durante o atendimento obstétrico, caracterizando-se por atitudes e intervenções abusivas por parte dos profissionais de saúde. Em contextos de perda gestacional, onde a mulher já se encontra em um estado de extrema vulnerabilidade emocional e física, a violência obstétrica pode agravar ainda mais o sofrimento, transformando uma experiência já dolorosa em um trauma prolongado e muitas vezes irreparável (De Oliveira et al., 2020).

A literatura descreve que a violência obstétrica não se manifesta apenas no momento do parto, mas também durante o processo de abortamento, especialmente em casos de perda fetal. Nesses momentos, as mulheres relatam situações de abuso verbal, falta de informações sobre seu estado de saúde, procedimentos e exames, bem como atitudes negligentes e desumanas por parte dos profissionais de saúde. Esses comportamentos são exacerbados pela sobrecarga de trabalho nos sistemas de saúde, que muitas vezes resulta em atrasos no atendimento e negligência, aumentando o sofrimento das mulheres (Pedrosa et al., 2018).

Essa negligência institucional também contribui para um ambiente de violência estrutural, no qual as mulheres não encontram o apoio emocional e físico necessário durante o luto gestacional.

Um dos principais elementos que caracterizam a violência obstétrica é a comunicação inadequada entre os profissionais de saúde e as pacientes. Muitas vezes, as mulheres que passam por uma perda fetal enfrentam a falta de explicações claras sobre o que está acontecendo com seus corpos, ou são submetidas a procedimentos sem o devido consentimento informado. Estudos demonstram que a falta de empatia e o tratamento frio e distante por parte dos profissionais durante essas situações intensificam a sensação de abandono e desamparo, contribuindo para o aumento do trauma emocional (Freitas & Farinelli, 2016). Esses episódios de desrespeito à autonomia e à dignidade das mulheres configuram uma forma de violência que vai além da agressão física, adentrando também o campo do abuso psicológico e institucional.

Em relação às práticas obstétricas específicas que configuram violência, várias intervenções desnecessárias são frequentemente realizadas, como manobras sobre o abdômen, uso inadequado de ocitocina, rompimento artificial da bolsa amniótica e episiotomias de rotina, muitas vezes sem o consentimento da paciente. A imposição dessas intervenções, que muitas vezes não seguem evidências científicas robustas, agrava o sofrimento físico e psicológico das mulheres, especialmente em casos de perda gestacional, onde o luto pela morte fetal já representa uma carga emocional significativa (Costa et al., 2017). As mulheres que passam por esses procedimentos de forma compulsória ou sem a devida explicação muitas vezes relatam traumas duradouros e evitam futuras gestações devido ao medo de reviver o mesmo tipo de tratamento.

Além disso, a violência obstétrica está intrinsecamente ligada a questões mais amplas de gênero e desigualdade. A medicalização do parto e do cuidado obstétrico, frequentemente caracterizada pela objetificação do corpo feminino, reforça relações de poder assimétricas entre profissionais de saúde e pacientes. Essa despersonalização do cuidado obstétrico faz com que as mulheres, especialmente aquelas em situação de perda gestacional, se sintam desumanizadas e relegadas a uma posição passiva, sem voz ativa no processo de tomada de decisões sobre seus próprios corpos (Dixon, 2015). Estudos realizados no Brasil destacam que muitas mulheres, especialmente em contextos hospitalares, vivenciam humilhações, coações e até agressões verbais durante o atendimento, resultando em um profundo impacto psicológico e emocional (Silva & Serra, 2017).

Adicionalmente, as consequências da violência obstétrica vão além do momento imediato da perda fetal. Mulheres que sofrem esse tipo de violência têm maior propensão a desenvolver transtornos mentais, como depressão, ansiedade e Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT), que podem persistir por muitos anos após o evento. O impacto psicológico da violência obstétrica pode ser tão profundo que muitas mulheres evitam buscar cuidados médicos futuros, temendo a repetição do tratamento desrespeitoso, o que coloca em risco sua saúde reprodutiva e bem-estar geral (Freitas; Farinelli, 2016).

É evidente, portanto, a necessidade urgente de reformular as práticas de atendimento obstétrico, especialmente em situações de perda fetal, com o objetivo de garantir um cuidado mais humanizado e respeitoso. A literatura aponta para a importância de investir na capacitação contínua dos profissionais de saúde, com foco na empatia, comunicação efetiva e respeito aos direitos reprodutivos das mulheres. Essa mudança de paradigma é crucial para prevenir a perpetuação da violência obstétrica e promover um ambiente de cuidado em que as mulheres se sintam apoiadas e respeitadas em todas as fases de suas experiências reprodutivas, inclusive no luto pela perda fetal (De Oliveira et al., 2020; Silva et al., 2015).

Por fim, para combater efetivamente a violência obstétrica, é essencial que as instituições de saúde implementem políticas claras de humanização do cuidado, com ênfase na garantia dos direitos reprodutivos das mulheres, oferecendo suporte emocional e psicológico adequado, especialmente em momentos de luto gestacional. Essa abordagem, baseada no respeito à autonomia das pacientes e no cuidado integral, é fundamental para mitigar o sofrimento causado pela perda fetal e prevenir o impacto traumático da violência obstétrica (Costa et al., 2017).

3 METODOLOGIA

Estudo descritivo, tipo relato de experiência. Observado por discentes do curso de Enfermagem no 5º período do centro Universitário FAMETRO, em período de estágio supervisionado (tempo integral – Dois meses com total de 192h). Focados em situações caracterizadas como violência obstétrica institucional, psicológica e física, ocorridas no CPPP de uma maternidade pública estadual, de Manaus, em janeiro e fevereiro de 2024, com um total de 22 partos vaginais durante 25 dias no setor, no quais 5 mulheres sofreram violência obstétrica.

O estágio voluntário possibilitou às discentes vivências e situações práticas do cuidado, que possibilitou a associação da teoria e prática, a fim de estimular a criticidade e futuramente desenvolvimento de medidas que permitam a transformação do cenário.

O estudo foi contextualizado através da leitura de artigos científicos e protocolos do Ministério da Saúde que discutiam o tema abordado, consultados na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando os descritores “violência contra a mulher”, “perda fetal” e “violência obstétrica”.

Foram encontrados 28 artigos falando sobre a Violência Contra a Mulher, 17 violência Obstétrica, 9 Perda Fetal e 0 sobre violência Obstetrícia contra mulheres em Situação de Perda Fetal.

Buscaram-se artigos e documentos públicos de atenção à saúde que abordassem o conceito e os tipos de violência obstétrica, a assistência ao parto humanizado e sentimentos das parturientes durante o trabalho de parto, e atendessem aos seguintes critérios de inclusão: ser documento público nacional e/ou artigo original com textos completos em língua portuguesa disponíveis on-line, estar na base de dados BVS.

4. RELATO DE CASO

De acordo com o relato de experiência de estudantes de enfermagem, fundamentado em seus conhecimentos teóricos e científicos sobre Violência Obstétrica e protocolos de indução em processos de perda fetal, consideramos que há uma série de violências obstétricas relatadas por eles durante o estágio supervisionado em uma Maternidade na cidade de Manaus-Am. Há uma diferença fundamental entre os dois tipos de assistência à perda fetal: a Obstetrícia baseada em evidências e o modelo hospitalar tradicional tecnocrático, normalizado e comum, encontrado em diversas maternidades públicas, privadas e mistas, com raras exceções.

Nesta oportunidade, buscou-se oferecer atendimento humanizado, sendo estes acolhedores as gestantes, assim como para seus acompanhantes no esclarecendo dúvidas e anseios, assim como foi realizado todas as etapas da sistematização da assistência à enfermagem (avaliação de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação de enfermagem e evolução de enfermagem), foram realizados a interpretação de exames laboratoriais e administração de medicamentos conforme prescrição médica supervisionados pela enfermeira responsável pelo setor

Em situação de perda fetal, a maior demanda das mulheres é de apoio emocional. A perda fetal é um processo delicado, que na maioria das vezes tem evolução por indução: o colo do útero começa a abrir, o útero começa a se contrair, o feto começa a descer, e tudo vai ficando mais intenso, mais doloroso, e é nesse processo que ocorre as falhas na indução, seja por falta de assistência médica, ou cuidado de enfermagem. O Misoprostol somente pode ser adquirido na farmácia mediante prescrição médica, embora seja incomum a presença de médicos no setor. Se a medicação não for administrada no horário adequado, o resultado esperado da indução pode demorar além do esperado.

Observaram o despreparo, a negligência e a imperícia dos profissionais da Obstetrícia, sejam eles médicos, enfermeiros, enfermeiros obstetras ou auxiliares de enfermagem. As violências praticadas por enfermeiros obstetras e médicos obstetra, cuja formação deveria ser abrangente e humanizada, de acordo com a Defensoria Pública do estado de São Paulo (2023), quando o/a profissional questiona a causa do abortamento (pergunta se foi provocado ou não), quando o/a profissional de saúde condiciona o atendimento à confissão de um eventual aborto provocado, ameaças, acusações e culpa, nos levam a refletir sobre como estão sendo preparados esses profissionais.

Outro fator que contribuiu para a violência obstétrica foi a falta de estrutura hospitalar adequada para mulheres em situação de perda fetal, incluindo alojamento separado para essas mulheres, equipe capacitada e diretrizes assistenciais.

Consideramos relevante relatar um caso que há uma série de violências obstétricas relatadas pelos estudantes, ocorrido em uma Maternidade na cidade de Manaus, no Amazonas, durante o estágio: na assistência prestada a uma parturiente de feto morto. D.F.E, 25 anos, branca, casada, 11 anos de escolaridade, auxiliar de escritório, cônjuge operador de máquina, renda familiar de 02 salários mínimos, residiam 03 pessoas no domicílio na zona urbana de Manaus. G2PN1, intervalo interpartal de 05 anos, não usava método contraceptivo, apresentou ITU na gestação anterior. Na atual gestação não apresentou nenhuma intercorrência. DUM 15/11/2023 DPP 22/12/15 Realizou 04 consultas de pré-natal pela rede pública, sendo a 1ª consulta em 16/12/2023 com 04 semanas de gestação, Peso 52kg, PA 133/89, última consulta com 31 semanas e 3 dias, peso 70 kg, PA 138/79, enfermeira da Atenção Primária a Saúde (APS) não conseguiu auscultar os batimentos cardiofetais. Em 22/06/24 procurou a maternidade encaminhada pela APS, para realizar avaliação de vitalidade fetal. Ao exame de ultrassonografia foi evidenciado óbito fetal, o obstetra plantonista prescreveu indução de trabalho de parto para a gestante, que iniciou a indução do trabalho de parto no setor admissão com misoprostol. A mesma estava entre as Parturientes que aguardavam pela cirurgia cesariana e outras que estavam em trabalho de parto, à espera de uma transferência para o setor de PPP (Pré-parto, parto e pós-parto), o que a deixou em uma situação constrangedora e emocionalmente afetada.

Após a transferência para o PPP, foi acomodada em um box com dois leitos, mas permaneceu em isolamento. Na segunda dose de Misoprostol, não havia médico disponível para prescrever e dar seguimento na indução do seu parto, o que agravou ainda mais a dor causada pela perda.

Sendo assim, é necessário promover alterações no modelo de assistência obstétrica e na grade curricular da formação dos profissionais técnicos em Obstetrícia, especialmente na categoria da Enfermagem Obstétrica, a fim de diferenciar a formação médica tradicionalista.

No entanto, como estudantes de enfermagem e admiradores da Obstetrícia, acredita-se que a Enfermagem Obstétrica pode atualizar os seus conhecimentos à luz das melhores evidências científicas disponíveis atualmente e assegurar que as pacientes usufruam dos avanços dessas pesquisas.

Há uma preocupação do governo, uma vez que o Ministério da Saúde, através da sua área técnica em Saúde da Mulher, em conjunto com o Ministério da Educação e Ciência, incentiva as instituições de Ensino Superior para a formação de enfermeiros obstétricos, seja na modalidade de especialização lato sensu ou residência, o que significa um aumento na qualidade da assistência à mulher no processo de gravidez, parto e puerpério, bem como um aumento no número de profissionais alinhados à rede cegonha.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O relato de caso descrito neste estudo, centrado na experiência de uma mulher em situação de perda fetal e observado por estudantes de enfermagem, revela uma série de violações dos direitos reprodutivos e assistenciais, classificadas como violência obstétrica. Esta situação evidencia a carência de uma abordagem humanizada nos serviços de saúde obstétrica, especialmente em momentos tão delicados como o da perda gestacional. A principal demanda dessas mulheres é o apoio emocional, o que muitas vezes é negligenciado em favor de um modelo de assistência tecnocrático e desumanizado, amplamente adotado em diversas maternidades no Brasil.

Os resultados observados pelos estudantes revelam uma dissonância entre o conhecimento teórico, baseado em evidências científicas, e a prática clínica observada. As falhas na indução do parto, como a administração incorreta do misoprostol e a ausência de prescrição médica no tempo adequado, aumentaram o sofrimento da parturiente, demonstrando negligência assistencial. Esse contexto contribui para agravar o trauma emocional da perda fetal e destaca a importância de um suporte não apenas técnico, mas principalmente humanizado. A falta de assistência emocional adequada, a exposição da paciente a ambientes compartilhados com outras mulheres em trabalho de parto e a ausência de médicos de plantão reforçam um cenário de descaso institucional.

A literatura sobre violência obstétrica aponta que, em contextos de perda gestacional, essa violência se manifesta tanto de forma física quanto psicológica, com atitudes negligentes e desumanas por parte dos profissionais de saúde. Neste caso específico, a parturiente foi vítima de isolamento inadequado e de falhas assistenciais que contribuíram para seu sofrimento. Tais práticas refletem a falta de preparo e de diretrizes adequadas para lidar com o luto perinatal, além de uma carência estrutural nas maternidades, que, muitas vezes, não possuem espaços adequados para mulheres em situações de perda gestacional.

Outro ponto crucial evidenciado pelos resultados foi a formação inadequada dos profissionais de saúde. Tanto os médicos quanto os enfermeiros mostraram imperícia no manejo de uma situação tão delicada, o que nos leva a questionar a qualidade da formação oferecida nas instituições de ensino. A ausência de uma abordagem humanizada na formação dos profissionais, que muitas vezes reproduzem um modelo tradicionalista, reforça a perpetuação da violência obstétrica. É necessário que as instituições de ensino revisem suas grades curriculares e incorporem uma formação focada no respeito à autonomia das mulheres e no suporte emocional, especialmente em situações de luto.

A partir dos dados obtidos, fica claro que a violência obstétrica está enraizada em questões estruturais do sistema de saúde, mas também reflete falhas na capacitação dos profissionais. As atitudes desumanas observadas não apenas violam os direitos das mulheres, mas também exacerbam o trauma associado à perda fetal. O relato de caso revela que essas falhas não são isoladas, mas sim parte de um sistema mais amplo que negligencia a saúde mental e emocional das pacientes.

Para além dos fatores individuais, é fundamental discutir o papel das instituições de saúde e das políticas públicas na promoção de um cuidado mais humanizado. No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio de programas como a Rede Cegonha, já promove ações voltadas à humanização do parto. No entanto, essas iniciativas precisam ser ampliadas e adaptadas para incluir o cuidado em situações de perda gestacional. As diretrizes assistenciais devem ser revistas para garantir que as mulheres em luto recebam o apoio necessário, tanto físico quanto emocional.

É imprescindível que a formação dos profissionais de saúde se alinhe com as melhores práticas baseadas em evidências, priorizando o acolhimento e o suporte emocional. A implementação de diretrizes que respeitem a autonomia e os direitos reprodutivos das mulheres, associada à capacitação contínua dos profissionais, pode reduzir significativamente a violência obstétrica e melhorar a qualidade da assistência.

Por fim, a inclusão de disciplinas voltadas à humanização do parto e do luto perinatal nas grades curriculares de cursos de enfermagem e medicina pode contribuir para formar profissionais mais preparados para lidar com essas situações. A criação de ambientes hospitalares adequados, com espaços reservados para mulheres em situação de perda gestacional, também é uma medida necessária para evitar o agravamento do sofrimento emocional dessas pacientes.

6. CONCLUSÃO

Conclui-se que no período entre 2015 e 2020, houve diminuição da quantidade de óbitos fetais no Brasil, sendo o maior número registrado em 2015 e o menor em 2020. Além disso, mostrou-se mais prevalente na região sudeste, uma vez que há maior parcela de habitantes. sexo masculino foi responsável pelo maior número de óbitos e ocorreram de forma prevalente entre bebês de mães com idade de 20-24 anos, com escolaridade de 8 a 11 anos e que apresentaram gestação única. Ademais, esse número foi superior em nascidos de parto vaginal, com 32 a 36 semanas e com peso ao nascer inferior a 2500 kg

O relato de estudantes de enfermagem em um estágio supervisionado revelou a necessidade urgente de reformulações na assistência obstétrica. A falta de preparo dos profissionais e de estruturas adequadas nos hospitais contribui para a perpetuação da violência obstétrica. É fundamental que a formação desses profissionais inclua projetos de extensão, tais como de pesquisa e práticas de humanização e cuidado, assim como este visa contribuir na formação e assistência obstétrica, tendo relevância na sociedade, a fim de que as mulheres recebam um tratamento respeitoso, digno, minimizando a ocorrência de violência obstétrica e melhorando a qualidade da assistência à saúde materna.

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1 Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste e-mail: alesi.santos.15@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste e-mail:
alice43magalhaes@gmail.com
3 Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste e-mail:
cibellyseito@gmail.com
4 Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste e-mail:
otaviohenry33@gmail.com
5 Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste e-mail:
rayzinha0000@gmail.com
6 Docente do Curso Superior de Biomedicina do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste. Instituiçãode formação: UNINORTE LAUREATE – Centro Educacional do Norte – UNINORTE LAURETE, Pós-graduação em Ciências Aplicadas á Hematologia da Universidade do Estado do Amazonas (PPGH-UEA), Manaus 69050-001, AM, Brasil.e-mail: lorena.alves@fametro.edu.br
7 Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto CEUNI FAMETRO Campus Unidade Leste. Instituição de formação: Universidade do Vale do Sapucaí. e-mail: adriano.oliveira@fametro.edu.br