VIOLÊNCIA DIGITAL: O IMPACTO DO CYBERBULLYING NAS REDES SOCIAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL

DIGITAL VIOLENCE: THE IMPACT OF CYBERBULLYING ON SOCIAL MEDIA AND ITS CONSEQUENCES FOR MENTAL HEALTH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301207


Gabriel da Silva Araújo1
Gabrielle Nobre Cruz1
Maria Cristiane Teixeira Fontinele1
Michele Nepomuceno Barbosa1
Thais Pinheiro Nicacio1
Vitoria Sabrina Castro Farias1
Nany Camilla Sevalho Azuelo2
Adriano dos Santos Oliveira2


Resumo

Este estudo investiga o impacto do cyberbullying nas redes sociais e suas consequências para a saúde mental, com ênfase nas experiências de jovens e adolescentes. Motivada pela crescente prevalência de violência digital e pelo aumento dos casos de depressão, ansiedade, e ideação suicida entre as vítimas, a pesquisa busca entender as implicações psicológicas do cyberbullying e identificar medidas de intervenção eficazes. Os objetivos centrais foram explorar a relação entre o cyberbullying e problemas de saúde mental, bem como avaliar a eficácia de programas de prevenção e apoio psicossocial. A metodologia empregada consistiu em uma revisão bibliográfica de estudos publicados entre 2014 e 2024, abrangendo artigos revisados por pares de diversas bases de dados reconhecidas, como SciELO e Google Acadêmico. Foram aplicados critérios rigorosos de inclusão e exclusão para garantir a relevância e a qualidade dos materiais analisados. Os resultados indicaram uma forte correlação entre a exposição ao cyberbullying e o aumento de sintomas de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Ademais, observou-se que intervenções baseadas em resiliência e apoio social são cruciais para mitigar os efeitos negativos do cyberbullying. Conclui-se que estratégias preventivas e terapêuticas adequadas são fundamentais para reduzir os riscos associados à violência digital e promover um ambiente online mais seguro e saudável para todos. Este resumo oferece uma visão abrangente da pesquisa, destacando sua relevância no campo da saúde mental e na prevenção do cyberbullying.

Palavras-chave: Cyberbullying, saúde mental, violência digital, prevenção.

1. INTRODUÇÃO

A violência digital, especialmente o cyberbullying, tem se destacado como um fenômeno relevante e preocupante no contexto das redes sociais. O termo “violência digital” refere-se a atos de agressão ou assédio que ocorrem no ambiente online, utilizando-se de tecnologias digitais como meios para infligir danos a indivíduos. Cyberbullying, em particular, é uma forma de violência digital caracterizada pelo uso de plataformas de redes sociais, aplicativos de mensagens e outros meios digitais para intimidar, humilhar, ou ameaçar outras pessoas. Este fenômeno não apenas amplifica o alcance das agressões, mas também as torna incessantes, uma vez que podem ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar, seguindo as vítimas além dos limites físicos (Mahanta; Khatoniyar, 2019).

No cenário das redes sociais, o cyberbullying tornou-se uma preocupação crescente, especialmente devido ao aumento da integração de jovens e adolescentes nestas plataformas. A natureza onipresente das redes sociais contribui para a gravidade do cyberbullying, pois permite que os agressores mantenham o anonimato e que as ações prejudiciais sejam vistas por uma ampla audiência, intensificando o impacto psicológico sobre as vítimas. As consequências dessa forma de violência digital são alarmantes, com impactos significativos na saúde mental, como depressão, ansiedade, e até mesmo pensamentos suicidas (Collantes et al., 2020; Deol; Lashai, 2022).

A relevância do tema para a sociedade contemporânea é inegável, dada a rápida evolução e penetração da tecnologia digital em todos os aspectos da vida cotidiana. Com o aumento do uso de dispositivos digitais entre jovens, o cyberbullying tornou-se uma forma de violência que pode ter efeitos duradouros sobre o bem-estar mental e emocional das vítimas. Estudos têm mostrado que os jovens que sofrem cyberbullying são mais propensos a apresentar problemas emocionais e psicossomáticos, dificuldades sociais e um senso de insegurança no ambiente escolar (Bottino et al., 2015).

O estudo do impacto do cyberbullying é essencial não apenas para entender as suas consequências diretas, mas também para desenvolver estratégias de intervenção eficazes que possam mitigar seus efeitos prejudiciais. A importância do referencial teórico neste campo de estudo reside em sua capacidade de fornecer uma compreensão aprofundada das dinâmicas de poder e agressão no ambiente digital, bem como em sua aplicação na criação de programas educativos e políticas públicas voltadas para a prevenção e manejo do cyberbullying (Muhonen et al., 2017).

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

Segundo Reis, Prata e Parra (2018), a violência pode ser entendida como o uso intencional da força ou do poder, seja de forma real ou em ameaça, direcionado a si próprio, a outra pessoa, ou a um grupo ou comunidade, e que pode causar lesão, morte, dano psicológico, deficiência no desenvolvimento ou privação.

De acordo com Sepúlveda e Sepúlveda (2021), o cyberbullying é uma forma de bullying que ocorre por meio das tecnologias digitais, como mídias sociais, plataformas de mensagens, jogos online e celulares. Esse comportamento repetido visa intimidar, enfurecer ou envergonhar as vítimas, sendo exemplos disso a disseminação de mentiras, compartilhamento de fotos constrangedoras, envio de mensagens humilhantes ou ameaças, e até a prática de se passar por outra pessoa para enviar mensagens maldosas.

Os impactos psicológicos do cyberbullying são amplamente documentados na literatura, destacando como essa forma de violência digital afeta profundamente a saúde mental das vítimas. Estudos mostram que o cyberbullying está associado a altos níveis de depressão, ansiedade, baixa autoestima e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Vítimas de cyberbullying frequentemente apresentam sintomas depressivos e ansiosos mais intensos do que aquelas que não foram vítimas, e também demonstram um risco aumentado de ideação suicida (Kota; Selkie, 2018). A associação entre cyberbullying e ideação suicida é particularmente alarmante, pois indica que a exposição a este tipo de violência digital pode levar a comportamentos de autolesão e tentativas de suicídio. A literatura indica que o impacto psicológico do cyberbullying é muitas vezes comparável, ou até mesmo mais severo, do que o bullying tradicional, devido ao seu caráter contínuo e onipresente, que ultrapassa as fronteiras físicas e temporais (Quintana-Orts, Rey; Neto, 2020).

Além disso, os efeitos de curto e longo prazo do cyberbullying na saúde mental das vítimas variam de acordo com a gravidade e a frequência dos incidentes. A exposição prolongada ao cyberbullying pode resultar em consequências de longo prazo, como transtornos de ansiedade persistentes e depressão crônica, bem como dificuldades em construir e manter relações interpessoais saudáveis (Fahy et al., 2016). Em contraste, efeitos de curto prazo frequentemente incluem sentimentos imediatos de medo, vergonha e insegurança, que podem levar a comportamentos de evasão escolar ou social, e isolamento (Widiyanto, 2019).

Estudos que comparam as consequências do cyberbullying com outras formas de bullying sugerem que, embora ambos os tipos possam levar a resultados psicológicos adversos, o cyberbullying apresenta desafios únicos. Enquanto o bullying físico ou verbal tradicional ocorre em locais e momentos específicos, o cyberbullying é caracterizado pela sua capacidade de seguir a vítima em qualquer lugar e a qualquer momento, intensificando o sofrimento emocional e psicológico da vítima (Hamm et al., 2015). Esta forma de violência digital é também amplificada pela ausência de supervisão e pela facilidade com que os agressores podem permanecer anônimos ou ocultos, o que dificulta a identificação e a intervenção (Deol & Lashai, 2022).

Essas constatações destacam a necessidade de intervenções eficazes que abordem tanto os efeitos imediatos quanto os de longo prazo do cyberbullying. Programas que promovem a resiliência e o apoio social, bem como estratégias que incluem a educação dos pais e a conscientização sobre o uso seguro da internet, são cruciais para mitigar os impactos negativos do cyberbullying na saúde mental dos jovens (Brailovskaia et al., 2018). A prevenção e a intervenção precoce, especialmente em populações vulneráveis, podem reduzir significativamente os riscos associados a essa forma de violência digital.

3. METODOLOGIA 

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi baseada em uma revisão bibliográfica, com o intuito de explorar e compreender o tema proposto de maneira ampla e aprofundada. A escolha da revisão bibliográfica como método se deu por sua capacidade de proporcionar uma visão abrangente do estado da arte sobre o assunto, por meio da análise de publicações já existentes, sem a necessidade de realizar coleta de dados primários.

O período delimitado para a pesquisa abrangeu publicações entre os anos de 2014 a 2024, garantindo assim que as informações consideradas fossem atuais e relevantes, refletindo o que há de mais recente nas discussões e descobertas sobre o tema. A escolha desse intervalo temporal foi pensada para incluir tanto os avanços mais recentes quanto os desdobramentos ocorridos ao longo da última década, permitindo uma análise que contempla tanto a evolução quanto o estado atual do conhecimento.

A busca pelos artigos foi realizada em várias bases de dados reconhecidas pela sua relevância no meio acadêmico, como SciELO, Google Acadêmico, repositórios institucionais, revistas científicas de destaque e bibliotecas virtuais. Essas bases foram escolhidas por oferecerem uma ampla gama de publicações em diversas áreas do conhecimento, além de garantir o acesso a fontes confiáveis e de qualidade. A diversidade de fontes consultadas também foi importante para assegurar que diferentes perspectivas e abordagens sobre o tema fossem consideradas, enriquecendo o resultado da pesquisa.

Durante o processo de coleta, foram encontrados 50 artigos que apresentavam alguma relação com o tema estudado. No entanto, após uma análise preliminar, foram selecionados 7 artigos para compor o corpus da pesquisa. A seleção foi feita com base na relevância dos estudos em relação ao tema central, bem como na disponibilidade completa dos textos, de modo a permitir uma análise mais detalhada e profunda do conteúdo. A escolha dos artigos priorizou aqueles que abordavam o tema de forma direta e que forneciam subsídios teóricos ou empíricos relevantes para a compreensão do assunto.

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

De acordo com amado et al. (2009), o cyberbullying pode ser compreendido como uma forma específica de bullying que utiliza tecnologias de comunicação, como e-mails, chats e celulares, para realizar agressões e ameaças repetidas e premeditadas contra uma vítima que, em geral, tem dificuldade em se defender. Contudo, nem toda ação ofensiva online pode ser caracterizada como cyberbullying, sendo necessário um entendimento mais preciso sobre o conceito.

Seixas, Fernandes e Morais (2016) destacam que uma das maiores dificuldades na literatura sobre cyberbullying é a ausência de uma definição consensual, dado que as características específicas da comunicação digital podem tornar alguns aspectos do bullying tradicionais ambíguos no ambiente virtual. No contexto online, questões como anonimato e desigualdade de poder podem ser diferentes das situações observadas no bullying presencial, uma vez que o poder pode ser mediado por fatores como a habilidade tecnológica e o próprio anonimato proporcionado pela internet.

Conforme Os Dados Da Pnad Contínua, Em 2022, Aproximadamente 87,2% Das Pessoas Com 10 Anos Ou Mais Acessaram A Internet, Representando Um Aumento Em Relação Ao Ano Anterior. Observa-Se Um Crescimento Expressivo No Uso Entre A População Rural, Que Chegou A 72,7%, Enquanto A Região Centro-Oeste Registrou O Maior Percentual De Usuários (96,6%) (Ibge, 2022).

Figura 2. Acesso à internet por pessoas de 10 ou mais anos de idade (%)

Gráfico

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Fonte: Agenda Ibge Notícias (2022)

O Principal Meio De Acesso À Internet Continua Sendo O Telefone Celular, Utilizado Por 98,9% Das Pessoas. Em Contrapartida, O Uso De Microcomputadores E Tablets Vem Diminuindo, Atingindo 35,5% E 7,6%, Respectivamente, Em 2022. O Acesso Pela Televisão, Contudo, Teve Um Crescimento Significativo, Chegando A 47,5% (Ibge, 2022)

Figura 3. Acesso à internet por pessoas de 10 ou mais anos de idade (%) por equipamento utilizado.

Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Agenda Ibge Notícias (2022)

De acordo com Silva, De Sena E De Oliveira Bastos (2022), os professores de escolas públicas municipais de campo grande, ms, relataram ter presenciado ou tomado conhecimento de situações de cyberbullying envolvendo alunos. Em uma escala de frequência, 77,8% dos professores souberam de insultos online e a mesma porcentagem se refere a casos em que alunos escreveram piadas ou boatos para ridicularizar colegas e espalharam segredos ou imagens por plataformas como whatsapp e instagram. Além disso, 66,7% dos professores presenciaram ou souberam de alunos enviando mensagens ameaçadoras ou postando imagens com o intuito de humilhar colegas. Em relação ao envio de fake news, 11,1% dos professores afirmaram ter presenciado essas ações muitas vezes (tabela 1).

Figura 4. Frequência que o professor presenciou ou ficou sabendo de alunos que utilizaram a Internet para enviar mensagens, em Campo Grande/MS

Fonte: Silva, De Sena E De Oliveira Bastos (2022).

Gondim (2018) investigou a frequência das agressões sofridas por adolescentes no ambiente virtual, revelando que 39% dos participantes relataram ter recebido mensagens hostis via e-mail, redes sociais ou aplicativos uma ou duas vezes, enquanto 28% indicaram que isso ocorreu de duas a três vezes por mês e 6% mencionaram que enfrentaram esse tipo de agressão pelo menos uma vez por semana. A pesquisa também revelou que 39% dos alunos afirmaram que já foram vítimas de comentários maliciosos, ameaças ou piadas na internet uma ou duas vezes, 22% sofreram essas agressões de duas a três vezes por mês, e 17% relataram que esses eventos ocorriam semanalmente.

Quando se trata de postagens de mentiras sobre os estudantes, 22% disseram ter sido alvo uma ou duas vezes, enquanto 22% afirmaram que isso aconteceu mensalmente e 6% relataram uma ocorrência semanal. Além disso, 50% dos participantes indicaram nunca ter sido excluídos de grupos ou jogos online, enquanto 22% relataram essa experiência de duas a três vezes por mês. A pesquisa destacou também que 6% dos estudantes foram vítimas de compartilhamento de fotos ou vídeos constrangedores com a mesma frequência.

Esses dados indicam que as agressões no ambiente virtual ocorrem de forma repetida para uma parcela significativa dos adolescentes, com consequências principalmente psicológicas (91%), seguidas por impactos sociais (64%) e físicos (45%). Além disso, 61% dos participantes afirmaram que identificaram o agressor, geralmente uma pessoa de seu convívio presencial.

Figura 5. Frequência De Vitimização On-Line (Situação 1: Entraram no meu e-mail e se passaram por mim; Situação 2: Mensagens hostis por e-mail, redes sociais e/ou aplicativos; Situação 3: Compartilhamento de informações, fotos ou vídeos constrangedores; Situação 4: Exclusão de um jogo ou grupo on-line; Situação 5: Postagem de mentiras na internet; Situação 6: Falaram mal, ameaçaram ou fizeram piadas na internet; Situação 7: Outra forma como comentar minhas fotos inadequadamente/chacota; Situação 8: Outras formas como através de indiretas.)

Fonte: Gondim (2018)

O estudo de Wendt E Lisboa (2020) investigou a relação entre cyberbullying e depressão em adolescentes, com o objetivo de compreender a prevalência do fenômeno e as possíveis associações com variáveis sociodemográficas. A pesquisa, realizada com 367 adolescentes, revelou que 72,7% dos participantes relataram ter sofrido ao menos um episódio de agressão cibernética, enquanto 75,6% informaram ser vítimas de cyberbullying. O estudo não encontrou diferenças significativas entre os sexos em relação ao envolvimento com o cyberbullying. No entanto, adolescentes mais velhos apresentaram maior envolvimento com agressões online.

Uma importante descoberta foi a associação significativa entre o tempo gasto na internet, o envolvimento com o cyberbullying e os sintomas de depressão. Adolescentes que desempenharam o papel de vítimas-agressores relataram maiores níveis de depressão em comparação aos que foram apenas vítimas ou agressores. Esse dado reforça que a exposição ao cyberbullying, tanto na condição de vítima quanto de agressor, pode potencializar as consequências emocionais negativas, especialmente em relação à depressão.

Ikuma e Costa (2023) destacam que o cyberbullying emergiu como uma forma ampliada de bullying, com características específicas que são potencializadas pelo uso das tecnologias da informação e comunicação (tics). O estudo aponta que o impacto do cyberbullying, tanto no âmbito emocional quanto no social, pode ser mais grave do que o bullying tradicional, devido à possibilidade de disseminação rápida e contínua das agressões virtuais, o anonimato dos agressores e a dificuldade em conter os danos causados.

No contexto escolar, o cyberbullying exige a atuação não apenas de professores, mas também de psicólogos escolares, que são peças fundamentais para criar estratégias de prevenção e enfrentamento desse fenômeno. Os autores ressaltam a importância de trabalhar com a comunidade escolar, famílias e alunos para desenvolver ações preventivas que promovam o uso responsável da tecnologia, bem como para lidar com as consequências psicossociais do cyberbullying, como depressão, ansiedade e isolamento social, que têm sido identificadas em vítimas.

O estudo sugere ainda que a conexão entre alunos pode funcionar como um fator protetivo contra o cyberbullying, promovendo um ambiente escolar mais saudável e inclusivo. Para os psicólogos escolares, torna-se essencial atuar não apenas na mediação de conflitos, mas também na criação de espaços de escuta e apoio, ajudando a fomentar um clima de respeito e empatia nas relações interpessoais.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo reforça a complexidade e seriedade do fenômeno do cyberbullying, especialmente no contexto das redes sociais, e suas profundas consequências para a saúde mental dos adolescentes. Ao longo da pesquisa, evidenciou-se que o cyberbullying não apenas replica as características do bullying tradicional, mas as amplifica devido ao ambiente digital, onde as agressões podem ocorrer de forma contínua, sem limitação temporal ou espacial. Esse fator agrava o impacto psicológico sobre as vítimas, pois elas não conseguem escapar facilmente das agressões, que podem se prolongar indefinidamente e se espalhar para um público mais amplo, intensificando a sensação de isolamento e vulnerabilidade.

Os resultados obtidos apontam uma forte correlação entre a exposição ao cyberbullying e o desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. A pesquisa revelou que as vítimas, particularmente aquelas que também assumem o papel de agressores, apresentam maiores níveis de sofrimento emocional, demonstrando que o envolvimento com o cyberbullying pode ser prejudicial tanto para quem sofre quanto para quem perpetua a violência. Esse dado destaca a natureza bidimensional do impacto psicológico, afetando ambos os lados dessa dinâmica de agressão digital.

Além disso, o estudo chamou a atenção para a importância de considerar variáveis sociodemográficas, como a idade e o tempo de exposição à internet, que podem aumentar a suscetibilidade dos adolescentes ao cyberbullying. Adolescentes mais velhos e aqueles que passam mais tempo conectados mostraram-se mais propensos a serem vítimas ou agressores, o que sugere a necessidade de uma atenção particular a esses grupos. O anonimato e a facilidade de disseminação de conteúdo nas redes sociais foram identificados como fatores que não apenas facilitam as agressões, mas também tornam mais difícil a sua contenção e o suporte imediato às vítimas.

Em termos de intervenção, a pesquisa evidencia a necessidade urgente de estratégias que combinem a prevenção, o apoio psicológico e a educação digital. A criação de programas que ensinem os jovens a navegar com segurança no ambiente online, ao mesmo tempo em que os educa sobre os riscos e as consequências do cyberbullying, é crucial. Esses programas devem incluir pais, educadores e psicólogos escolares, promovendo um esforço colaborativo para monitorar e mediar situações de violência digital. Os ambientes escolares, em particular, precisam ser capacitados para identificar sinais de cyberbullying e fornecer um suporte psicológico adequado para as vítimas, além de trabalhar com os agressores para reverter o comportamento.

Outro aspecto fundamental apontado é a promoção da resiliência e do apoio social. A resiliência pode atuar como um fator protetivo, ajudando os adolescentes a lidar de maneira mais saudável com as adversidades do ambiente online. Ao mesmo tempo, a criação de redes de apoio entre pares, professores e familiares pode contribuir significativamente para mitigar os efeitos negativos do cyberbullying. A conscientização de toda a comunidade escolar sobre o uso responsável da tecnologia, além da promoção de uma cultura de respeito e empatia nas interações online, são passos cruciais para a construção de um ambiente digital mais seguro.

Portanto, conclui-se que o cyberbullying não é apenas um problema tecnológico, mas um desafio social e psicológico que exige intervenções sistêmicas e multidimensionais. A violência digital, quando não tratada adequadamente, pode deixar marcas profundas na saúde mental dos jovens, comprometendo seu desenvolvimento emocional e social. Assim, políticas públicas, ações educacionais e suporte contínuo são essenciais para reduzir os impactos do cyberbullying e criar um ambiente online mais saudável e seguro para todos os envolvidos. O desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção eficazes pode não apenas proteger os adolescentes das consequências mais graves dessa forma de violência, como também promover um uso mais consciente e ético das redes sociais e das tecnologias digitais.

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1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: gabrielsilvacobra33@gmail.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: gabrielle.cruz1@outlook.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: cristianetexeirafontinele1981@gmail.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: michelenepomuceno9@gmail.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: tanicacio1515@.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. e-mail: vitoriafarias9@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. mestre em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP). e-mail: nany.azuelo@fametro.edu.br
2Docente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. Especialista em Enfermagem do trabalho. e-mail: adriano.oliveira@fametro.edu.br