REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7589138
João Soares da Silva Neto
Diego Maia Lins de Albuquerque
Maria Deysiane Porto Araujo
RESUMO
A Varicela é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus varicela zoster (VZV), caracterizada por lesões polimórficas cutâneas, pruriginosas, febre baixa, mialgia e mal-estar geral. O objetivo deste trabalho é relatar um caso raro de varicela com presença de esplenomegalia em adulto previamente saudável, evoluindo com necessidade de uso de aciclovir via oral para controle da doença. No caso relatado, um paciente do sexo masculino aos 26 anos e 01 mes de idade foi diagnosticado com varicela zoster com alteração de enzimas hepáticas e presença de esplenomegalia, submetido a tratamento medicamentoso com antiviral. As informações e observações foram reunidas conforme o método de pesquisa do estudo de caso.
Palavras-chave: varicela, adulto, esplenomegalia.
ABSTRACT
Varicella is an infectious disease caused by the varicella zoster virus (VZV), characterized by polymorphic skin lesions, pruritic, low-grade fever, myalgia and general malaise. The objective of this study is to report a rare case of chickenpox with the presence of splenomegaly in a previously healthy adult, evolving with the need to use oral acyclovir to control the disease. In the reported case, a male patient aged 26 years and 01 months was diagnosed with varicella zoster with altered liver enzymes and presence of splenomegaly, submitted to drug treatment with antivirals. Information and observations were gathered according to the case study research method.
Palavras-chave: chickenpox, adult, splenomegaly.
1 INTRODUÇÃO
A varicela é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus varicela zoster (VZV). Na maioria das vezes benigna e autolimitada, a varicela é uma das doenças infantis mais comuns e é caracterizada por uma erupção cutânea semelhante a bolhas e febre¹.
A varicela é uma doença mundial, transmitida pelo ar, transmitida pela tosse e espirro, e também pelo contato com lesões de pele. Pode começar a se espalhar um a dois dias antes do aparecimento da erupção até que todas as lesões fiquem com crostas. Os pacientes com herpes zoster podem transmitir a varicela para aqueles que não são imunes através do contato com bolhas. A doença é diagnosticada com base nos sintomas apresentados e confirmada por teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) do fluido da bolha ou crostas. Testes de anticorpos podem ser realizados para determinar se a imunidade está presente. Embora possam ocorrer reinfecções por varicela, essas geralmente são assintomáticas e muito mais brandas do que a infecção primária². Apesar da baixa incidência de varicela entre os adultos, o risco de complicações graves e até mesmo fatais é 10 a 20 vezes maior do que em crianças³.
O objetivo desse estudo é relatar o caso de um adulto de 26 anos do sexo masculino que recebeu o diagnóstico improvável de varicela para a sua faixa etária, descrevendo os primeiros sintomas, a evolução da doença, o diagnóstico e conduta até o desfecho final. Isso, através do método de pesquisa do estudo de caso, uma vez que através da análise foram reunidas informações sobre o curso clínico da doença e, naturalmente, foram registradas. Diante da baixa epidemiologia da doença para a idade em relação à idade do paciente, o estudo proporciona a familiarização com a mesma, visto a distinta manifestação clínica com a criança e, ainda pode ser útil na tomada de decisão frente a outras situações semelhantes.
2 DESENVOLVIMENTO
Descrição do caso
Paciente do sexo masculino, aos 26 anos e 01 mes de idade, apresentou quadro subito de mialgia, astenia e lesões bolhosas disseminadas, com predominância em região de couro cabeludo e tronco, que o levou a buscar o serviço médico de urgência.
Às 02 horas da manhã do dia 12/11/2022, o paciente deu entrada em um serviço de urgência particular queixando-se de mialgia, astenia e sensação febril há 04 dias, evoluindo com lesões cutâneas disseminadas pruriginosas em todo o corpo. Ao exame físico, apresentava lesões vesiculares em couro cabeludo, tronco, face e membros superiores, tendo como hipótese diagnóstica varicela. Foram prescritos analgésicos e antialérgicos.
Os exames admissionais de relevância para o caso foram: leucócitos: 2670/mm³ ; plaquetas: 129000/mm³ ; proteína C reativa (PCR): 69,77 mg/L ; transaminase oxalacetica (TGO) : 108 U/L ; transaminase pirúvica (TGP) : 120 U/L.
O paciente recebeu alta hospitalar com prescrição externa de dipirona e difenidramina e retorno em caso de piora dos sintomas.
As 22 horas do mesmo dia o paciente retorna ao serviço com queixas de piora da mialgia, aparecimento de mais vesículas disseminadas e dor súbita e intensa em região de epigástrio e hipocôndrio esquerdo. Ao exame físico, apresentava dor intensa à palpação de andar superior do abdome. Foi mantida a hipótese diagnóstica de varicela e solicitados novos exames laboratoriais e um exame tomográfico do abdome, sem contraste iodado.
O paciente foi transferido para a enfermaria hospitalar, onde foi medicado com buscopam composto, dipirona e pantocal, via endovenosa, apresentando melhora parcial dos sintomas álgicos.
Os novos exames laboratoriais de relevância foram: leucócitos: 3470/mm³ ; plaquetas: 138000/mm³ ; amilase: 45 U/dL ; lipase: 18 U/I ; TGO: 165 U/L ; TGP: 194 U/L ; PCR : 74,5 mg/L.
A tomografia de abdome sem contraste evidenciou presença de esteatose hepática leve e esplenomegalia, que justificaria a queixa abdominal do paciente.
Diante do caso, o paciente foi orientado a repouso e evitar atividades de contato físico devido a esplenomegalia e seu risco de ruptura e foram prescritos aciclovir e omeprazol via oral e permanganato de potássio tópico, além de orientações acerca dos sinais de alarme e retorno em 48 horas ou menos, em caso de piora.
No dia 16/11/2022, às 8h da manhã, o paciente retorna ao serviço de urgência do mesmo serviço, agora com queixa de dor, prurido e odor fétido em região inguinal. Refere estar fazendo uso de medicações prescritas e relata melhora do quadro abdominal. Ao exame físico foram observadas que algumas lesões anteriormente vesiculares, agora se apresentavam em forma de crostas, mas mantinham o padrão polimórfico, e a presença de tinea cruris em região inguinal.
Sob hipótese diagnóstica de varicela, foram solicitados novos exames laboratoriais para confirmação da patologia. A sorologia para Epstein-Barr IgM negativa e IgG positiva e a sorologia para Varicela Zoster IgM positiva e IgG positiva, confirmaram a suspeita diagnóstica de varicela.
O paciente foi orientado a continuar o tratamento com aciclovir, prescrito pomada Trok-N para tratamento da lesão em região inguinal e o paciente foi orientado a retornar em caso de não melhora dos sintomas.
3 DISCUSSÃO
A varicela usualmente não é grave em crianças saudáveis, que geralmente vão se recuperar espontaneamente e sem complicações. Quando adultos desenvolvem a varicela, eles geralmente sentem-se mais doentes do que as crianças e são mais propensos a desenvolverem complicações, embora as razões para isso sejam desconhecidas. Adultos podem experimentar um pródromo, com náuseas, mialgia, cefaléia, mal-estar geral e febre baixa4.
O trabalho e os locais públicos devem ser evitados até que todas as vesículas tenham se tornado crostas a fim de reduzir o risco de propagação da infecção. Os indivíduos também devem ser orientados a beber líquidos claros para manter-se hidratados. Paracetamol pode ajudar a reduzir os sintomas associados à febre, mas anti-inflamatórios não esteroidais, como ibuprofeno, devem ser evitados, pois podem causar reações adversas na pele de pessoas com varicela5.
O medicamento antiviral aciclovir pode reduzir a gravidade dos sintomas se for usado nos estágios iniciais da infecção, dentro de 24 horas do aparecimento da erupção cutânea6.
4 CONCLUSÃO
A varicela é um diagnóstico comum em crianças e raro em adultos. É importante salientar que no adulto ela tem risco de complicações graves maiores em relação à varicela na criança, e por isso necessita de atenção especial. A abordagem terapêutica deve ser individualizada de acordo com a forma de apresentação de cada paciente. O paciente deste caso, mesmo com rápida evolução da doença e com algumas complicações, como a esplenomegalia e aumento de enzimas hepáticas, apresentou um desfecho favorável, com remissão total da doença e boa qualidade de vida.
REFERENCIAS:
1. Lo Presti C, Curti C, Montana M, Bornet C, Vanelle P. Chickenpox: An update. Med Mal Infect. 2019 Feb;49(1):1-8. doi: 10.1016/j.medmal.2018.04.395. Epub 2018 May 20. PMID: 29789159.
2. Ayoade F, Kumar S. Varicella Zoster (Chickenpox). 2022 Oct 15. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan–. PMID: 28846365.
3. Abdukhuhidovich, Zhuraev Shavkat, et al. “Some Clinical Features Of The Chickenpox In Adults And Children In Modern Conditions.” European Journal of Molecular & Clinical Medicine 7.03 (2020): 2020.
4. (Miller E, Vurdien J, Farrington P (1993b) Shift in age in chickenpox. The Lancet. 341, 8840, 308-309.)
5. NHS Choices (2012) Chickenpox. Introduction. www.nhs.uk/ Conditions/Chickenpox/Pages/ Introduction.aspx (Last accessed: March 18 2014.)
6. British National Formulary (2013) British National Formulary No. 66. BMJ Group and the Royal Pharmaceutical Society of Great Britain, London.