VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TESTES RÁPIDOS NO DIAGNÓSTICO DA MALÁRIA EM ÁREAS REMOTAS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10359675


Ana Sarah Nobre Bezerra Santos1
Amanda de Jesus Abreu Rocha2
Flávia Ritchelle Coutinho Lucena3
Raimundo Romualdo Pereira4
Prof. Ademilton Costa Alves5


RESUMO

INTRODUÇÃO: A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium spp e transmitida pela picada da fêmea infectada do mosquito do gênero Anopheles. Apesar de ser uma doença tratável, a malária ainda continua sendo umas das doenças parasitárias mais preocupantes para a saúde em todo o mundo. O tratamento da doença requer a confirmação de seu diagnóstico, o qual é realizado comumente pelo exame de gota espessa, porém, em regiões remotas tem-se dificuldade de acesso a estes exames, podendo-se utilizar os testes de diagnóstico rápidos.

OBJETIVOS: Neste sentido, o objetivo deste estudo consiste em investigar na literatura sobre os testes rápidos no diagnóstico de malária em regiões remotas, com suas vantagens e desvantagens.

MÉTODOS: Trata-se de uma revisão da literatura, do tipo revisão integrativa. O levantamento dos artigos científicos foi realizado na base de dados (SciELO) e Us National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed). Realizou-se uma leitura preliminar dos títulos, resumos e trabalhos completos relacionados ao tema em questão. Posteriormente, foram aplicados critérios de inclusão e exclusão, sofridos na seleção de artigos científicos completos em língua inglesa que se destacaram especificamente pelo propósito deste estudo.

RESULTADOS: Os resultados obtidos por meio das bases de dados PubMed e Online SciELO inicialmente totalizaram 956 artigos. No entanto, após a aplicação dos critérios metodológicos reconhecidos para esta pesquisa, apenas 10 artigos científicos foram selecionados.

CONCLUSÃO: Concluiu-se que as desvantagens destes testes são geralmente suplantadas pelos seus benefícios, que possibilitam o tratamento imediato da enfermidade, evitando o seu agravamento, assim como alastramento dessa patologia e até o próprio óbito do paciente.

Palavras-chave: doença parasitária; plasmodium spp.; imunocromatografia.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Malaria is an infectious disease caused by the protozoan Plasmodium spp and transmitted by the bite of an infected female Anopheles mosquito. Despite being a treatable disease, malaria still remains one of the most worrying parasitic diseases for health worldwide. Treatment of the disease requires confirmation of its diagnosis, which is commonly carried out using a thick smear test, however, in remote regions it is difficult to access these tests, and rapid diagnostic tests can be used.

OBJECTIVES: In this sense, the objective of this study is to investigate the literature on rapid tests for diagnosing malaria in remote regions, with their advantages and disadvantages.

METHODS: This is a literature review, an integrative review. The survey of scientific articles was carried out in the database (SciELO) and Us National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed). A preliminary reading of the titles, abstracts and complete works related to the topic in question was carried out. Subsequently, inclusion and exclusion criteria were applied, undergone in the selection of complete scientific articles in English that stood out specifically for the purpose of this study.

RESULTS: The results obtained through the PubMed and Online SciELO databases initially totaled 956 articles. However, after applying the methodological criteria recognized for this research, only 10 scientific articles were selected.

CONCLUSION: It was concluded that the disadvantages of these tests are generally outweighed by their benefits, which enable immediate treatment of the disease, preventing its worsening, as well as the spread of this pathology and even the patient’s death.

KEYWORDS: parasitic disease; plasmodium spp.; immunochromatography

1.INTRODUÇÃO

As chamadas doenças parasitárias negligenciadas compõem um grupo de enfermidades causadas por uma variedade de parasitas, incluindo vermes e protozoários. Geralmente são transmitidas por insetos vetores, e apresenta maior incidência nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, sobretudo, em áreas de baixa renda. Essas enfermidades causam uma série de consequências, incluindo redução da qualidade de vida humana, sofrimento e morte, uma vez que a comunidade carente atingida, na maioria das vezes, não tem acesso aos serviços de saúde adequados, tratamento eficaz ou medidas de prevenção. Dentre as doenças parasitarias mais populares do mundo, a Malária tem um grande destaque, ela é relatada em praticamente todas as regiões tropicais do mundo, e considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o maior problema de saúde pública em vários países em desenvolvimento (SANTOS, 2017).

A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium spp e transmitida pela picada da fêmea infectada do mosquito do gênero Anopheles. Existem diversas espécies do Plasmodium, entretanto as quatro capazes de infectar o ser humano são: P. falciparum; P. malarie; P. vivax; P. ovale. No Brasil, os casos registrados por malária são causados pelas três primeiras espécies, com maior predominância do P. vivax. O quadro mais grave e fatal é caracterizado pelo                    P. falciparum. Há mais de 400 espécies diferentes do mosquito Anopheles, mas nem todas são vetores da malária, apenas algumas espécies têm capacidade de transmitir o Plasmodium (GONÇALVES, 2023).

Nas regiões da Amazônia Legal (Amazônia, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) onde é concentrado a maioria dos casos de malária, o mosquito Anopheles darlingi destaca-se como o principal vetor dessa doença (GONÇALVES et al., 2019). Essa espécie é altamente eficaz na transmissão devido às suas características comportamentais e biológicas. Além disso, o mosquito apresenta características anatômicas que o torna ainda mais eficiente na disseminação da malária. As fêmeas do mosquito possuem uma probóscide afiada capaz de penetrar facilmente na pele humana e injetar os parasitas na corrente sanguínea (COUTO, 2020). 

No Brasil, a malária já era endêmica nas regiões tropicais antes da colonização, porém se tornou mais proeminente quando os colonizadores europeus chegaram ao Brasil. Durante a década de 80, a região Amazônica brasileira recebeu um grande fluxo migratório de trabalhadores que buscavam empregos nas plantações de seringueiras e no garimpo. A falta de infraestrutura de saúde, a aglomeração de pessoas em condições precárias e a presença de mosquitos vetores da malária causaram um grande surto da doença, resultando em inúmeras mortes (CARLOS        et al., 2019).

Apesar de ser uma doença tratável, a malária ainda continua sendo umas das doenças parasitárias mais preocupantes para a saúde em todo o mundo. Segundo a OMS, em 2020, foram notificados aproximadamente 241 milhões de casos de malária em 86 países. No mesmo ano, 627 mil pessoas vieram a óbito devido à doença (BRASIL, 2022). O Brasil registrou 145.188 casos de malária em 2020, o que representa uma diminuição de 7,8% comparado ao ano anterior. Estima-se que 83% dos casos de malária no Brasil foram causados pelo Plasmodium vivax (BRASIL, 2021). 

O ciclo de vida do parasita Plasmodium é complexo e envolve diferentes estágios entre o mosquito vetor e o hospedeiro (ser humano). A primeira fase inicia quando a fêmea do mosquito se alimenta do sangue do ser humano infectado e ingere os parasitas. No estômago do mosquito os parasitas se desenvolvem e se multiplicam formando esporozoítos. Quando o mosquito infectado pica outro ser humano ele injeta essas formas na corrente sanguínea e elas viajam até chegar ao fígado, onde invadem as células hepáticas, multiplicam-se e transformam-se em merozoítos. Esses são liberados das células hepáticas e invadem as hemácias na corrente sanguínea. Nessas células, essas formas transformam-se em trofozoítos. Esse novo estágio se divide em novos merozoítos, ocorrendo à destruição dos eritrócitos e a liberação de mais merozoítos no sangue. Alguns desses se desenvolvem em gametócitos, forma sexuada do parasita. Caso o mosquito Anopheles picar um hospedeiro infectado na fase em que esses gametócitos estiverem presentes na corrente sanguínea, eles podem ser ingeridos pelo mosquito e assim dar início a um novo ciclo (TECCHIO, 2021).

A gravidade dos sinais e sintomas da malária varia de acordo com: a espécie de Plasmodium envolvida; a intensidade da infecção; a imunidade do indivíduo; e outros fatores. Os sintomas geralmente aparecem de 7 a 30 dias após a picada do mosquito, as manifestações clínicas mais comuns incluem: febre, dor de cabeça, fadiga, calafrios, sudorese, dores musculares e articulares. Em casos mais graves a malária pode levar a complicações graves, como anemia, insuficiência renal, comprometimento do sistema nervoso central e insuficiência respiratória. Crianças e gestantes são mais vulneráveis à um quadro grave da doença (FONSECA, 2017).

A malária causada por P. vivax geralmente tem sintomas menos graves como: febre periódica, calafrios, fadiga, sudorese e dores musculares. Os sintomas se manifestam após o período de incubação que varia de 13 a 17 dias após a picada do mosquito infectado. Embora seja menos propensa a complicações severas, o P. vivax pode causar recaídas devido à formação de hipnozóitos, uma forma latente no fígado (COSTA, 2017). Já a malária causada pelo P. falciparum apresenta sintomas mais graves, as primeiras manifestações iniciam entre o 8º e 12º dia após a picada e incluem febre e mal-estar em geral, à medida que a infecção progride, o protozoário invade as hemácias de forma mais agressiva, causando complicações severas como anemia e febre intermitente. Além disso a infecção pelo P. falciparum pode causar danos ao fígado, desconforto respiratório e complicações neurológicas levando o indivíduo infectado à óbito (LIMA, 2022).

O tratamento é realizado com antimaláricos que são escolhidos conforme a espécie de Plasmodium identificada; a gravidade da infecção; e a forma que o parasita é encontrado. Nos casos de infecção pelos P. vivax são usados dois antimaláricos: cloroquina e primaquina. Essa combinação tem objetivo de tratar a forma do parasita encontrado na corrente sanguínea e a nível hepático. No entanto, a utilização da primaquina é contraindicada em gestantes e crianças, portanto, somente é administrada cloroquina a esse grupo. Para infecções por P. falciparum ou infecções mistas (P. vivax e P. falciparum) o tratamento é feito com derivados de artemisinina: artesunato / mefloquina ou artemeter / lumefantrina, dependendo da disponibilidade do local (BRASIL, 2020). 

Existem diversos métodos de diagnóstico para identificar a malária, a escolha do método, muitas vezes, depende das condições locais e dos recursos disponíveis. A microscopia da gota espessa é uma técnica simples, eficiente e de baixo custo. Ela é considerada o Padrão Ouro pela OMS. O método consiste na visualização do parasita em uma amostra de sangue através da microscopia óptica, permitindo diferenciar sua espécie por meio da visualização da morfologia do parasita. Outros testes realizados são os sorológicos e os moleculares (SANTOS et al., 2021). 

Há ainda o diagnóstico por meio de testes de diagnóstico rápido (TDR), que expressam uma abordagem mais prática e eficiente. Esses testes identificam proteínas específicas do Plasmodium no sangue do paciente, o que é extremamente valioso em regiões remotas, já que normalmente, nessas áreas não se tem à disposição, muitas das vezes, a estrutura e os profissionais especializados para a elucidação através de exames microscópicos. O diagnóstico precoce e preciso é crucial para o início de um tratamento correto, a fim de reduzir as complicações graves da doença (SANTOS et al., 2021). Conforme o exposto, justifica-se o presente estudo no sentido de se conhecer sobre os testes de diagnóstico rápido, como primeira escolha para o diagnóstico da malária em locais remotos, possibilitando o diagnóstico parasitário da doença, assim como seu tratamento, ações estas de grande relevância para seu controle. 

Assim, o presente estudo teve como objetivo investigar na literatura sobre os testes de diagnóstico rápidos (TDR) para a investigação da malária em regiões remotas e suas vantagens e desvantagens.

2.METODOLOGIA 

Trata-se de um estudo no formato integrativo de revisão bibliográfica da literatura cujo tema é VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TESTES RÁPIDOS NO DIAGNÓSTICO DA MALÁRIA EM ÁREAS REMOTAS; baseado na coleta de dados realizada por meio de consulta a periódicos e posterior leitura minuciosa dos títulos, resumos e trabalhos completos. Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca na base de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Us National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed). Foram utilizados, para busca dos artigos, os seguintes descritores e suas combinações na língua inglesa: “Malaria”; “diagnosis”; and “rapid tests”, conforme o Descritores em Ciências da Saúde – DeCS, com a realização do levantamento bibliográfico no período de 10 de outubro a 01 de dezembro de 2023, obtendo em seguida, somente os artigos científicos gratuitos e em inglês. Foram incluídos artigos de revisão de literatura e pesquisa entre 2018 e 2022, que abordassem ao tema proposto neste trabalho. Como critérios de exclusão, descartou-se os que não retratassem ao propósito deste estudo, ou que não apresentavam o texto completo na íntegra, ou que estivessem redigidos em outras línguas que não a acima citada.

3.RESULTADOS

Com este estudo foi possível observar 956 artigos, dos quais 237 artigos foram pré-selecionados e após leitura minuciosa dos títulos e resumos 30 foram incluídos para avaliação de elegibilidade, desses foram inclusos apenas 10 artigos como objeto de estudo nesta pesquisa, selecionados pelos critérios de inclusão e exclusão. 

Os detalhes dos 10 artigos selecionados estão descritos no Quadro 1 abaixo, onde está demonstrado a caracterização desses artigos científicos selecionados como objeto de estudo, em relação a procedência, título do trabalho, autores, periódicos e as considerações relevantes desta revisão integrativa.

Quadro 1:  Artigos utilizados nesta revisão integrativa.

4.REVISÃO INTEGRATIVA

No cuidado ao paciente com malária, torna-se imprescindível diagnosticar precocemente a doença e promover o seu tratamento oportuno, para reduzir a morbimortalidade. O diagnóstico parasitário é essencial, pois permite diferenciar a malária de outras infecções febris, orienta o comportamento médico adequado, possibilita o uso racional de medicamentos, além de propiciar uma estimativa epidemiológica precisa da enfermidade. É, portanto, extremamente importante que o diagnóstico parasitário seja preciso para que o tratamento seja realizado adequadamente, porém, a realização destes testes em regiões remotas, nem sempre é possível por meio do método de microscopia, o que leva a tratamentos inadequados. Diante da inespecificidade da apresentação clínica da doença do paciente, não consideram a malária no diagnóstico diferencial do quadro febril agudo, e atribuem o quadro dos pacientes, à possível infecção pelo vírus da dengue (KIEMDE et al., 2018).

Bosco et al., (2020) alertaram que em regiões onde a malária não é endêmica, assim como naquelas remotas, podem ocorrer manifestações graves da doença, possivelmente pelo retardo da suspeita clínica, do diagnóstico e do tratamento. A dificuldade de diagnóstico, assim como da microscopia pode ocasionar um tratamento tardio, incidindo no agravamento do quadro de saúde do paciente, assim como alastrar a enfermidade, podendo, inclusive, levar ao óbito. Diante disso, quando há suspeita da enfermidade, recomenda-se realizar os testes de diagnóstico rápido (TDR).

No Brasil, o Programa Nacional de Controle da Malária prescreve a necessidade de novas alternativas diagnósticas para a malária, especialmente em áreas remotas e de difícil acesso aos serviços de saúde, assim como em áreas de baixa prevalência da doença, onde não existem serviços capazes de realizar diagnóstico microscópico, com ausência de laboratórios bem equipados ou microscopia especializada, surgindo como alternativa os TDRs. Esses testes de diagnóstico rápido, apresentam como um de seus benefícios, a facilidade em seu manuseio (COSTA et al., 2019). E ressalta-se que os profissionais de saúde, com pouco treinamento e habilidades de laboratório ou com baixa supervisão, podem realizar estes testes, que são comparativamente mais fáceis de usar do que a microscopia (BOYCE et al., 2018).

O estudo de Boyce et al., (2018) ainda discorre sobre essa temática que embora o pouco treinamento exigido para realização dos testes de diagnóstico rápido, é consolidado que profissionais de saúde podem usar com segurança e precisão os TDRs, após receberem um curto treinamento e instrução, como também pôde ser observado nessa pesquisa, já que avaliaram o uso desses testes por 271 agentes comunitários de saúde, que foram treinados para realizar o procedimento, verificando a competência desses profissionais, que demonstraram segurança e precisão ao interpretarem os resultados.

Como vantagem dos testes rápidos, Costa et al., (2019) destacam que esses exames são fáceis de usar, fornecem resultados rápidos, não requerem eletricidade e estão sujeitos a menores variações relacionadas ao investigador, assim como não precisam de equipamento laboratorial volumoso e caro, em comparação com a microscopia e PCR, que são métodos que podem somente ser realizados por equipamentos próprios. No que se refere à rapidez dos referidos testes, eles podem ser realizados em aproximadamente 15 a 30 minutos por indivíduos com treinamento mínimo na técnica, com kits que não requerem energia elétrica ou equipamentos especiais, tornando-se uma alternativa efetiva de diagnóstico, por ser de fácil implantação nos serviços de saúde.

Todavia, Kozycky et al., (2017) chamaram a atenção que apesar de sua grande utilidade, os testes de diagnóstico rápido possuem limitações intrínsecas que prejudicam seu desempenho em uma variedade de contextos, como a maior quantidade de falsos positivos e negativos, conforme observaram em seu estudo comparativo entre os testes rápidos e os exames de microscopia, onde foi demonstrado que no diagnóstico da malária para P. falciparum, com os testes rápidos apresentam taxas de falsos positivos (1,2%) diferente da microscopia (0%), assim como maiores percentuais de falsos negativos, 23,5%, contra 11,8%, respectivamente, em decorrência de uma possível menor sensibilidade, dos testes imunocromatográficos. O que exige aos profissionais de saúde maior cautela ao usar os testes rápidos, pois pacientes com parasitemia de baixa densidade, por exemplo, podem não ser detectados.

Iwuafor et al., (2018) enumeraram também algumas possíveis limitações dos TDRs, em relação a armazenagem em altas temperaturas, considerando uma grande desvantagem. Neste sentido o teste de diagnóstico rápido é bastante afetado em ambiente quentes, sendo uma variante a ser considerada decisiva para sua utilização em áreas remotas, onde a falta de refrigeração é um fator aguardado. A maioria das empresas fabricantes do TDR recomenda que os kits sejam armazenados em temperaturas que variam de 2ºC a 30ºC, assim como, as datas de vencimento para esses testes geralmente são estabelecidas de acordo com essas condições, onde o prazo de validade e sensibilidade destes testes são reduzidos quando os kits são armazenados em temperaturas acima das recomendadas. Assim, torna-se crucial o monitoramento da qualidade e o desempenho do TDR quando as condições climáticas não são ideais, principalmente em áreas remotas, como da Amazônia Legal, onde os kits costumam ser transportados e armazenados em temperaturas superiores a 30°C por períodos prolongados.

Os testes de diagnóstico rápido possuem ainda limitações no tocante ao desempenho diante de uma possível baixa de parasitemia (ou seja, menos de 200 parasitas / μL), em determinados indivíduos portadores de algum tipo de espécie do protozoário do gênero Plasmodium. A sua interpretação deve ser realizada com extremo cuidado nos casos de crianças e mulheres grávidas, pois essas populações de pacientes possuem maior probabilidade de manifestar sintomas com baixa carga parasitária (ORISH et al., 2018).

O TDR é, portanto, um método adequado e sensível para diagnosticar infecções por P. falciparum, todavia a microscopia por meio da gota espessa ainda continua a ser o padrão ouro, pois quando comparado com o teste rápido apresenta melhores resultados, como foi observado no estudo transversal realizado por Iwuafor e colaboradores, com amostra de 167 crianças com histórico de febre por um período de 6 meses, foi realizado o teste rápido e seu desempenho foi comparado com a microscopia usando a gota espessa. Nos resultados verificaram que a prevalência de infecção por malária foi de 41,9%. Verificaram que a microscopia assumiu ser 100% sensível e específica, enquanto o teste rápido apresentou taxas menores, uma sensibilidade de 51,4% e uma especificidade de 73,2% (IWUAFOR et al., 2018).

5.CONCLUSÃO

Em conclusão, para o diagnóstico da malária em regiões remotas e de difícil acesso, que não possuam o método microscópio padrão-ouro da gota espessa, têm-se como uma relevante opção os testes de diagnóstico rápido (TDRs), que apresentam como vantagem o acesso rápido ao diagnóstico da malária, tornando-se útil também no diagnóstico diferencial das formas graves com outras doenças, necessitando somente de pessoal com mínimo treinamento na técnica, além dos seus kits não requererem energia elétrica ou equipamentos especiais, sendo de fácil implantação nos serviços, além de apresentar boa acurácia, contudo apresentam como principais desvantagens a sua instabilidade em condições de temperatura elevadas e suas possíveis limitações de desempenho em casos de baixa parasitemia, o que pode levar a um prejuízo real ao diagnóstico dessa patologia. Ainda assim, as desvantagens desses testes são geralmente suplantadas pelos seus benefícios, que propiciam um tratamento imediato da malária, em regiões remotas, evitando o seu agravamento, assim como o seu alastramento, ou até óbitos.

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