VACINAÇÃO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL: DESAFIOS ENFRENTADOS PELA DISSEMINAÇÃO DA DESINFORMAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410021743


Auxiliadora Vasconcelos Correia da Silva1
Andréia Vasconcelos Correa da Silva1
Ana Vitória Mesquita Ferreira1
Paulo Eugenio Uchoa de Oliveira1


Resumo

Mormente a Cobertura Vacinal no Brasil serve como um exemplo mundial na prevenção da saúde, dando ênfase à doenças imunopreveníveis. Diante disso é de suma importância compreender o Programa Nacional de Imunização que engloba essas atividades, e quais são as vacinas disponibilizadas para a população e as consequências negativas do poder da desinformação. Por conseguinte este artigo tem como foco estudos feitos, não somente no Estado do Acre de forma qualitativa e quantitativa com o intuito de trazer dados que revelam a abordagem, o surgimento e a importância das Imunizações e o combate à desinformação na Amazônia Ocidental, mas também fazer um paralelo com o resto do país em uma abordagem empírica de um quadro de descredibilização do PNI em determinado período de tempo.

Palavras-chave : Anti-Vaccination Movement Epidemiology, Vaccination Refusal

Abstract

Brazil’s Vaccination Coverage serves as a global example in health prevention, emphasizing vaccine-preventable diseases. Understanding the National Immunization Program (PNI), which encompasses these activities, and the vaccines available to the population, as well as the negative consequences of misinformation, is crucial. This article focuses on studies conducted in the State of Acre using both qualitative and quantitative methods to provide data revealing the approach, emergence, and importance of immunizations and combating misinformation in the Western Amazon. It also draws a parallel with the rest of the country, offering an empirical view of the PNI’s discreditation over a specific period.

Keywords: Anti-Vaccination Movement Epidemiology, Vaccination Refusal

Introdução

A vacinação é uma das estratégias mais eficazes para a prevenção de doenças infecciosas. No entanto, na Amazônia Ocidental, especialmente no estado do Acre, a adesão às campanhas de vacinação enfrenta desafios significativos. Entre esses desafios estão a desinformação e a percepção equivocada de segurança entre os usuários do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que, devido à eficácia das vacinas, não vislumbram, devido a eficácia do PNI, casos de doenças imunopreveníveis e, portanto, acreditam não precisar se vacinar. Este estudo aborda esses desafios, com ênfase nos dados do Acre e no impacto da desinformação sobre a prevenção do câncer de colo de útero, uma doença evitável pela vacina contra o HPV. Desse modo, é relevante destacar que o câncer de colo de útero pode levar de 10 a 20 anos para se desenvolver a partir de lesões pré-cancerosas. Há aproximadamente 10 anos começaram as campanhas de vacinação contra o HPV, tempo suficiente para redução da incidência, como ocorreu no resto do Brasil, mas não no Acre. Portanto, além da prevenção, a detecção precoce é crucial para o tratamento eficaz e a redução da mortalidade.

  Neste contexto, é relevante considerar os aspectos históricos e sociais que influenciaram a região. Algumas informações de Silva (2011), destacam que tais aspectos estão relacionados com “os desterros, que foram adotados como punição pelo Estado brasileiro após o fim de eventos como a Revolta da Vacina (1904) que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro” Esses desterros incluíam o envio de indivíduos para o Território do Acre, na Amazônia, o que teve impactos significativos na composição populacional e nas dinâmicas sociais da região.

O nosso objetivo é analisar os desafios enfrentados pela vacinação na Amazônia Ocidental, com foco no estado do Acre, destacando o impacto da desinformação e da percepção de segurança entre os usuários do PNI.

Nossos Objetivos Específicos são de Identificar as principais fontes de desinformação sobre vacinas na região, avaliar a percepção de segurança dos usuários do PNI no Acre, bem como os dados de cobertura vacinal e incidência de doenças imunopreveníveis no Acre, outrossim, Investigar a relação entre desinformação e a baixa adesão à vacina contra o HPV, destarte, propor estratégias para melhorar a adesão às campanhas de vacinação na região.

Métodos

O estudo desenvolvido foi do tipo descritivo, com abordagem  quantitativa e qualitativa das coberturas vacinais realizadas no Brasil e no estado do Acre de 1994 a 2023 e seus impactos negativos devido à desinformação, os dados foram disponibilizados pelo banco de dados do Ministério da Saúde, DATASUS SIA/SUS e e-GESTOR AB. Os dados foram coletados  entre os meses de abril e setembro de 2024.  

Esta pesquisa descritiva é um tipo de estudo que apresenta um quadro comparativo do PNI no Brasil e no estado do Acre, com  inferências, mas sem generalizações. Dessa forma, o estudo permitiu coletar informações detalhadas sobre as coberturas vacinais no estado do Acre, a fim de ter uma compreensão mais completa da evolução desse programa, seu impacto e desafios no território estudado. A técnica utilizada incluiu dados apresentados pelo DATASUS e registros de dados secundários oferecidos nos sites do Pubmed e Google Acadêmico. Os resultados são geralmente apresentados de forma descritiva e numérica, sem realizar testes estatísticos com algumas inferências sobre a amostra.

Foram analisados os seguintes dados: volume da cobertura vacinal no Brasil e nos municípios, especialmente Rio Branco e cidades do estado do Acre, e para efeitos compartivos, ano e frequência. A quantidade de vacinas, bem como a frequência por município e por ano, foi extraída através do DATASUS SIA/SUS.

Desenvolvimento

No contexto histórico de saúde pública e sanitária no Brasil e, especificamente, no Acre, podemos destacar “A Revolta da Vacina” de 1904 e “A Revolta da Chibata” de 1910, que resultaram no encarceramento e desterro de milhares de pessoas para a Amazônia, refletindo a resistência histórica da população brasileira a medidas de saúde pública impostas de forma autoritária. Esse tema histórico é relevante para entender os desafios contemporâneos na implementação de campanhas de vacinação no Acre, onde a desconfiança e a falta de acesso continuam sendo obstáculos significativos. (Needell, 1993) Na história contemporânea, de acordo com o Ministério da Saúde, em 2023, a cobertura vacinal no Acre apresentou melhorias significativas. Alguns destaques são, por exemplo, a Tríplice Viral (1ª dose): A cobertura vacinal da 1ª dose atingiu 82,1% em 2023, um aumento de 11,6 pontos percentuais em relação a 2022, quando estava em 70,5%, enquanto que a Poliomielite também teve aumento das aplicações, em cerca de 10,6 pontos percentuais, passando de 49,6% em 2022 para 60,2% em 2023. Houve melhorias em outras vacinas recomendadas para crianças de um ano de idade, como hepatite A, pneumocócica, meningocócica, DTP e tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Esses dados são preliminares e correspondem ao período de janeiro a outubro de 2023. O Brasil também reverteu a tendência de queda nas coberturas vacinais em nível nacional. Entretanto, as exceções ocorrem principalmente em algumas regiões como a Norte, e aqui selecionamos a cobertura contra HPV, haja vista que desde 2014, o Ministério da Saúde do Brasil tem oferecido a vacina contra o HPV pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças e adolescentes, no entanto ao analisarmos os dados abaixo que tratam dessa cobertura vacinal ao longo dos anos podemos fazer comparações abrangentes. Em 2014: Início da vacinação para meninas de 9 a 14 anos, em 2017: Expansão da vacinação para meninos de 11 a 14 anos, em 2019: Cobertura vacinal de 87,08% para meninas e 61,55% para meninos na primeira dose, em 2022: A cobertura vacinal caiu para 75,81% para meninas e 52,16% para meninos na primeira dose, em 2023: Dados preliminares indicam uma queda contínua na cobertura vacinal, com 75,91% das meninas e 52,26% dos meninos recebendo a primeira dose. Para efeitos comparativos, a cobertura vacinal contra HPV no Acre desde 2014 até 2023, temos que em 2014 ocorreu o Início da vacinação para meninas de 9 a 14 anos, em 2017, houve a expansão da vacinação para meninos de 11 a 14 anos, em 2019 a cobertura vacinal alcançou 85,2% para meninas e 59,8% para meninos na primeira dose, em 2022, a cobertura vacinal caiu para 73,5% para meninas e 50,3% para meninos na primeira dose e, em 2023 os dados preliminares indicam uma cobertura de 74,1% para meninas e 51,2% para meninos na primeira dose. Dessa forma, avaliamos que no Acre de 2014 a 2023, a cobertura vacinal contra o HPV apresentou uma queda contínua até 2023, quando houve um aumento de 30% na cobertura vacinal, todavia em 2024, a vacinação foi ampliada para incluir usuários da PrEP, visando aumentar a cobertura e prevenir infecções e cânceres relacionados ao HPV. Esses dados mostram uma tendência de queda na cobertura vacinal ao longo dos anos, tanto no Acre quanto no Brasil, com esforços recentes para reverter essa tendência.

A meta do Ministério da Saúde é alcançar uma cobertura vacinal de 90% entre as meninas de até 15 anos até 2030. A vacinação é crucial para prevenir infecções pelo HPV e reduzir os casos de câncer relacionados ao vírus em todas as regiões do Brasil, na região norte, a Amazônia Ocidental, devido à sua vasta extensão e diversidade cultural, enfrenta desafios únicos em relação à vacinação. A desinformação, amplificada pelas redes sociais, tem sido um obstáculo significativo. A desinformação sobre vacinas é uma ameaça à saúde pública e pode afetar a adesão à imunização. No Acre, assim como em outros lugares, algumas das principais fontes de desinformação incluem as Redes Sociais: Plataformas como Facebook, Twitter e Instagram são frequentemente usadas para disseminar informações falsas sobre vacinas;

Mensagens de WhatsApp e Grupos Online: Mensagens compartilhadas em grupos de WhatsApp e outras comunidades online podem conter informações incorretas ou distorcidas; Sites e Blogs Não Credenciados: Alguns sites e blogs não confiáveis publicam conteúdo antivacinação, espalhando mitos e teorias da conspiração; Pessoas Influenciadoras: Algumas pessoas com grande alcance nas redes sociais podem promover informações errôneas sobre vacinas, influenciando seus seguidores. Diante disso, é importante que as pessoas busquem informações de fontes confiáveis, como órgãos de saúde pública e instituições de pesquisa, para tomar decisões informadas sobre a vacinação. A ciência e a evidência são essenciais para combater a desinformação e proteger a saúde de todos. Além disso, a eficácia do PNI, que reduziu drasticamente a incidência de doenças imunopreveníveis, criou uma falsa sensação de segurança entre a população. No Acre, essa percepção é particularmente preocupante, dado o elevado número de casos de câncer de colo de útero, uma doença que pode ser prevenida pela vacina contra o HPV. Nesse contexto, citamos um relatório médico que exprime a realidade vivenciada em 2018 em Rio Branco que tratou da vacina contra HPV: De acordo com Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Relatório Médico da avaliação dos casos de notificação de reação adversa grave à vacina contra o HPV no Estado do Acre, entre 30/05/2018 e 31/07/2019 foram registradas 72 notificações de possível evento adverso pós-vacinal por vacina HPV4 em Rio Branco, no estado do Acre. Tratava-se de pacientes com manifestações clínicas persistentes com sintomas somáticos e neurológicos atribuídos pelos pais e ocasionalmente por alguns profissionais da área da saúde à vacina HPV. Dentre os sintomas neurológicos, uma quantidade significativa de pacientes apresentava manifestações convulsivas dramáticas, com perda da consciência, queda ao solo e abalos motores generalizados, ocasionalmente associados a trauma e causando frequentes idas a serviços de urgência, tratamentos invasivos para estado de mal epiléptico e tratamento crônico com medicamentos antiepilépticos, no entanto, na maioria dos casos sem sucesso clínico, pois se mantinha a ocorrência. As principais conclusões do relatório supracitado indicam que: I. Em alguns pacientes com crises não epilépticas psicogênicas, foram encontradas lesões cerebrais que podem aumentar o risco de desenvolvimento de epilepsia no futuro; II. Em outros casos, houve achados de aumento de celularidade no líquido cefalorraquidiano, possivelmente relacionados à Síndrome de Guillain-Barré, embora não comprovados de forma definitiva; III. Em vários pacientes, os exames não apresentaram significado clínico definido; IV. Não foi estabelecido qualquer nexo causal biológico entre a vacina HPV e as crises convulsivas observadas. 

É mister citar que dentre as recomendações o Relatório Médico faz referência a intervenções sociais nas famílias tendo em vista que todas as famílias dos pacientes avaliados apresentavam uma situação econômica e social desfavorável. Chamou a atenção o fato de que a maior parte dos adultos homens estavam desempregados ou fazendo trabalhos esporádicos. A maior parte das famílias contava somente com o salário das mães e com o bolsa-família. Esta situação traz uma sobrecarga para essas mulheres que, além de cuidarem dos filhos doentes, precisam trabalhar de forma mais intensa. Assim, seria desejável algum tipo de intervenção social que ajudasse na profissionalização desses homens, assim como a viabilização de algum trabalho que pudesse contribuir com a renda dessas famílias. Outrossim importante salientar que com a repercussão das condições de saúde dos pacientes nas mídias sociais e a crença equivocada de uma doença orgânica grave, crônica, causada pela vacina contra o HPV faz com que muitas famílias, de forma implícita, tenham a expectativa de receberem algum tipo de ressarcimento do Estado. Esta espera, por parte dos adultos, contribui fortemente para a manutenção dos sintomas dos pacientes já que esses são a “garantia” de alguma indenização. Além disso, o relatório médico conclui que o diagnóstico precoce dos distúrbios supracitados melhora o prognóstico. Em outras palavras, o diagnóstico precoce seguido de um tratamento adequado garante menor gravidade e cronicidade dos sintomas. Dessa forma, ações de esclarecimentos nas redes sociais e na grande mídia são estratégias tecnológicas e de conteúdo a serem desenvolvidas para esta situação específica no Acre, embora tenham custos financeiros altos, contribuirão para futuras ações em saúde.

Há ainda um outro estudo que trata da tendência temporal da incidência de hepatite viral B e C no estado do acre, no período de 2001 a 2013 e traz informações relevantes como explicações e histórias médicas: “As hepatites virais B (HBV) e C (HCV) são doenças que acometem principalmente as células hepáticas, podendo levar a quadro agudo e crônico de caráter infeccioso e inflamatório, com transmissão parenteral. O Estado do Acre, assim como a região Norte do Brasil, apresenta historicamente alto índice de casos de hepatite viral. Medidas de prevenção foram adotadas, como a campanha de vacinação nacional que ocorreu em 1992 no Acre, fato este que pode ter contribuído para uma diminuição temporária de casos novos” (Fujimoto, Warden, & Koifman, 2019, p. 82), bem como   seus resultados: “Para HBV foram identificados 2.864 casos (47,6%) nos homens, e 3.153 casos (52,4%) em mulheres. O número de casos de HCV entre os homens foi de 1.392 (63,9%) e nas mulheres foi de 785 (36,1%). Foi observada tendência de crescimento constante da incidência de HBV, à exceção das mulheres da capital. Para o HCV apenas as mulheres do interior do estado apresentaram tendência de crescimento linear e constante. Este crescimento pode ser atribuído a fatores de risco, como procedimentos estéticos com utilização de materiais pontiagudos e cirúrgicos” (Fujimoto, Warden, Koifman, 2019), por fim concluemque “as hepatites virais apresentaram uma tendência a crescimento, principalmente no interior do estado, podendo elevar o número de casos e consequentemente na piora da morbimortalidade, sendo necessário um esforço para melhorar a cobertura vacinal” (Fujimoto, Warden, Koifman, 2019).

Neste contexto, é relevante considerar os aspectos históricos e sociais que influenciam a vacinação na Amazônia Ocidental. “As hepatites virais B (HBV) e C (HCV) são doenças que acometem principalmente as células hepáticas, podendo levar a quadro agudo e crônico de caráter infeccioso e inflamatório, com transmissão parenteral. O Estado do Acre, assim como a região Norte do Brasil, apresenta historicamente alto índice de casos de hepatite viral. 

Medidas de prevenção foram adotadas, como a campanha de vacinação nacional que ocorreu em 1992 no Acre, fato este que pode ter contribuído para uma diminuição temporária de casos novos” (Fujimoto, Warden, Koifman, 2019).

Em outro estudo, que também trata do tema, de Bernarde e Mendes-Oliveira (2009), relata que a popularidade da vacina do sapo Kambo entre a população não-indígena de Espigão do Oeste, Rondônia, deve-se em grande parte à propaganda que a promoveu como uma solução para diversos problemas de saúde. Para melhorar o Programa Nacional de Imunizações (PNI), podemos aplicar estratégias semelhantes de comunicação e educação. Isso inclui desenvolver campanhas educativas que expliquem claramente os benefícios das vacinas, compartilhar histórias reais de pessoas beneficiadas, combater a desinformação, colaborar com influenciadores digitais, garantir a acessibilidade das vacinas e considerar a integração de práticas tradicionais comprovadas cientificamente (Bernarde, Mendes- Oliveira, 2009).

Apesar de todos os problemas supracitados, durante e após a pandemia observou-se, por meio das mídias, a necessidade do conhecimento geral sobre a importância da vacinação para combater doenças imunopreveníveis: concluiu-se que o Brasil vem demonstrando maturidade no enfrentamento de mais uma pandemia” (Lima, Rodrigues, Delduque, 2022. No entanto, a variação na tendência a adesão ao PNI continua oscilando e demonstrando que é necessário  um trabalho de educação continuada para conscientizar e sensibilizar a população sobre os temas desinformação e suscetibilidade.

  Gráfico 1: Cobertura Vacinal em 1994 no Brasil

Conforme o gráfico 1 e a Tabela 1, podemos inferir que a cobertura vacinal geral era alta, com todas as regiões apresentando índices elevados, frequentemente acima de 80%, quanto ao Acre, observa-se que também apresentou uma boa cobertura vacinal, alinhada com a média nacional. 

Tabela 1

Tabela 2: Cobertura Vacinal priemiro semestre no estrado do Acre.  Fonte: E-GESTOR AB

Observa-se na tabela 2 que a Cobertura Vacinal por Município mais recente, correspondente ao primeiro semestre de 2024, apresenta dados de vários municípios do Acre, incluindo: Rio Branco com Alta cobertura vacinal: várias vacinas acima de 90%; Cruzeiro do Sul com cobertura variada, e algumas vacinas acima de 100%, indicando possível superestimação ou vacinação de não residentes; Senador Guiomard apresentando Cobertura vacinal mista, com algumas vacinas abaixo de 50%. Ao fazermos uma Análise de Cobertura denote-se os detalhes relevantes que são as Cores: Verde indica alta cobertura (>95%), enquanto vermelho indica baixa cobertura (<50%). Enquanto que Tendências revelam Municípios maiores como Rio Branco tendem a ter melhor cobertura vacinal. Todavia, ao comparamos os Municípios, pode-se perceber que as diferenças regionais fazem a diferença vultosa, pois municípios como Rio Branco e Cruzeiro do Sul, observamos alta cobertura, enquanto outros como Bujari e Capixaba têm cobertura mais baixa, ademais, há outrossim, os desafios locais, haja vista que, municípios com baixa cobertura podem enfrentar desafios logísticos ou  de adesão à vacinação. Os destaques da tabela revelam uma cobertura vacinal heterogênea no Acre, com alguns municípios apresentando alta adesão e outros enfrentando desafios. Isso pode orientar políticas de saúde pública para focar em áreas com menor cobertura.

Em 2024, embora ainda haja esforços significativos para manter altas taxas de vacinação, a cobertura vacinal tem enfrentado desafios, com algumas vacinas não atingindo as metas estabelecidas. Portanto, os desafios atuais relativos a queda na cobertura vacinal nos últimos anos é preocupante, especialmente para doenças como poliomielite e sarampo, que já foram eliminadas, mas correm o risco de ressurgir devido à baixa cobertura vacinal

Tabela 3.

Tabela 4

Análise da Cobertura Vacinal entre 2014 e 2022 no Acre: De acordo com as Tabelas 3 e 4, temos um Total de doses aplicadas igual a 523.241, já para o HPV + HPV Quadrivalente feminino e masculino: 44.675 doses aplicadas. Todavia, a Situação Atual da Vacinação no Acre é a seguinte: na Cobertura Vacinal Geral observada em 2023, o Acre registrou um aumento na cobertura vacinal da tríplice viral, alcançando 82,1%, um crescimento de 11,6 pontos percentuais em relação a 2022, no entanto, a Cobertura Vacinal contra o HPV no Acre tem enfrentado desafios. Em 2018, a cobertura era de 48,7% entre meninas de 9 a 14 anos e 38,8% entre meninos de 12 e 13 anos. Para melhorar esses índices, recentemente, a vacinação contra o HPV foi ampliada para incluir usuários da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) entre 15 e 45 anos, beneficiando 157 pessoas no estado. Em uma comparação geral: A cobertura vacinal geral parece ter melhorado, especialmente com o aumento na vacinação da tríplice viral, porém quanto ao HPV, ainda é um desafio, mas houve esforços para ampliar o público alvo e melhorar a cobertura.

Diante dessas informações podemos analisar que os dados de imunização no Acre em 2022, especialmente em relação à cobertura da vacina contra o HPV, revela alguns pontos importantes, tais como a Cobertura de HPV: A cobertura vacinal contra o HPV no Acre é de 48,7% entre meninas de 9 a 14 anos e 38,8% entre meninos de 12 e 13 anos. Esses números são preocupantes, pois estão abaixo da média nacional e indicam uma necessidade urgente de aumentar a adesão à vacinação; O impacto da desinformação: A desinformação, principalmente de políticos e adeptos extremistas, foi vultosa durante a pandemia, e contribuiu para a queda na cobertura vacinal. Saliente-se aqui que a vacinação contra o HPV é crucial para prevenir o câncer de colo do útero, que está associado a mais de 90% dos casos dessa doença; A Taxa de Câncer de Colo do Útero: O Acre apresenta uma das maiores taxas de incidência de câncer de colo do útero no Brasil, com 26,24 casos por 100 mil mulheres, sendo a mais alta na região Norte. Isso reforça a importância não somente de campanhas de vacinação, mas também de projetos que eduquem de forma contínua para a sensibilização dessas comunidades na Amazônia Ocidental; Destarte, oportunamente citamos algumas Ações Necessárias para o PNI alcançar metas desejáveis: É essencial intensificar as campanhas de vacinação e combater a desinformação para aumentar a cobertura vacinal e, consequentemente, reduzir a incidência de câncer de colo do útero no Acre.

As Tabelas 5, 6, 7 e 8 referentes ao Câncer de Colo de Útero no Acre (2014-2024), permitem inferir, de acordo com os dados apresentados, que em 2019, um pouco antes da pandemia, o número de exames realizados era relativamente alto, indicando uma boa cobertura de rastreamento, ao passo que, em 2021, durante a pandemia, houve uma queda significativa nos exames, refletindo o impacto da desinformação e a redução das campanhas de vacinação e rastreamento, e, logo em 2022, após a pandemia e livres de políticos negacionistas, que propiciam o subsídio a desinformação no poder central, o que propiciou um alívio ao PNI, os números começaram a se recuperar, mas ainda não atingiram os níveis pré- pandemia, tanto que em 2023-2024, os dados permitem a observação de uma recuperação gradual, mas a desinformação continua a afetar a adesão à vacinação e ao rastreamento. Vale salientar que, cmo dito anteriormente, a Vacinação no resto do Brasil progrediu, principalmente contra o HPV, e consequentemente houve uma redução do Câncer supracitado, haja vista que o período de lesões malignas desde o início da cobertura Vacinal contra o |HPV são correspondentes e equivalem a 10 anos. Logo, a desinformação durante a pandemia prejudicou significativamente a vacinação contra o HPV, essencial para prevenir o câncer de colo de útero.

Discussão e Resultados

Os resultados preliminares indicam que a desinformação é um fator crítico na baixa adesão às vacinas. Muitos usuários do PNI no Acre acreditam que, por não presenciarem casos de doenças imunopreveníveis, não há necessidade de se vacinar. Essa percepção é reforçada por informações falsas disseminadas nas redes sociais. Além disso, a análise dos dados de saúde pública revela uma correlação entre a baixa cobertura vacinal contra o HPV e o elevado número de casos de câncer de colo de útero na região. É crucial intensificar as campanhas de conscientização e vacinação para reverter essa tendência negativa.

Conclusão

A vacinação na Amazônia Ocidental enfrenta desafios significativos, principalmente devido à desinformação e à percepção equivocada de segurança entre os usuários do PNI. No estado do Acre, esses desafios são exacerbados pelo impacto direto na prevenção do câncer de colo de útero. É crucial implementar estratégias de comunicação eficazes para combater a desinformação e aumentar a adesão às campanhas de vacinação, garantindo assim a proteção da saúde pública na região.

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1 Universidade Federal do Acre