UTILIZAÇÃO DO MODELO DE ROTAÇÃO POR ESTAÇÕES COM FOCO RECREATIVO EM COMEMORAÇÃO AO DIA DA MATEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10500889


Karoline Reis Pinheiro1
Alcides Castro Amorim Neto2


RESUMO

Com o intuito de buscar estratégias para melhorar o ensino de matemática e como resultado de métodos aplicados durante a pandemia, estudou-se a utilização de metodologias ativas, especificamente a aplicação do modelo rotação por estações de forma recreativa e observou-se os efeitos dessa aplicação durante comemoração ao dia da matemática. A aplicação ocorreu em escola pública de Manaus, de tempo integral que atende somente ao ensino médio. Neste trabalho descrevemos o funcionamento do modelo rotação por estações, e as estações preparadas para a participação dos alunos: Xadrez, Dominó de operações, Cubo Mágico e Kahoot. Utilizou-se uma abordagem qualitativa, onde o objetivo foi a observação participante e coleta de dados qualitativos como a percepção e diagnóstico dos professores diante da aplicação do modelo. Foi possível então verificar que o modelo é viável no ensino de matemática pois com a sua aplicação conseguimos ter a interação dos alunos de forma natural, e ainda, diagnosticar através da observação dos jogos as possíveis deficiências de conteúdos anteriores e dificuldades apresentadas por eles. Assim, consideramos essencial a continuidade no estudo de metodologias ativas como o modelo aplicado, pois a cada dia somos apresentados a novas ferramentas que estão disponíveis e devem ser utilizadas na educação.

Palavras-chave: Rotação por estações; Metodologias Ativas; Matemática.

INTRODUÇÃO

O ensino de matemática sempre foi considerado desafiador por se tratar de uma disciplina da área de exatas em que, geralmente, os alunos apresentam grandes dificuldades, seja na interpretação de problemas ou mesmo na resolução deles.

Para tentar minimizar essas dificuldades que são apresentadas pelos alunos e até trazer certa familiaridade e entretenimento é comum que se utilizem estratégias que possibilitem o envolvimento dos alunos de modo que eles se tornem ativos na construção do conhecimento próprio, e esse é o foco principal das metodologias ativas. Partindo da ideia que aprendemos de várias formas, e que durante toda a vida estamos praticando uma aprendizagem ativa que nos permite vivenciar e experimentar situações e com elas aprender algo, temos aí a base da teoria das metodologias ativas, que visa o protagonismo do estudante, a contextualização das situações onde o aluno possa se reconhecer em meio ao conteúdo que está sendo proposto a ele, além da utilização das tecnologias digitais para facilitar e auxiliar no processo ensino-aprendizagem.

Bacich & Moran (2018, p. 3) afirmam que:

os processos de aprendizagem são múltiplos, contínuos, híbridos, formais e informais, organizados e abertos, intencionais e não intencionais. O ensino regular é um espaço importante, pelo peso institucional, anos de certificação e investimentos envolvidos, mas convive com inúmeros outros espaços e formas de aprender mais abertos, sedutores e adaptados às necessidades de cada um.

Concordando com esse pensamento, no ano de 2021, em comemoração ao dia da matemática (06 de maio), foi proposto pela coordenação de Matemática junto com os professores da área, de uma escola estadual de tempo integral da cidade de Manaus, a utilização do modelo rotação por estações, onde em cada estação estava presente um jogo lógico-matemático e ainda uma estação que apresentou um jogo online, atendendo a proposta do modelo que é aplicar a forma híbrida de ensino, utilizando atividades presenciais e pelo menos uma atividade online. O objetivo da atividade foi ensinar matemática de forma recreativa, onde os alunos pudessem participar ativamente na resolução de situações problema, competindo de forma individual ou equipes, e ali aplicar conhecimentos que foram adquiridos durante todo o seu percurso escolar, aproveitando a data comemorativa que era propícia para a realização da atividade.

Com isso tornou-se possível o desenvolvimento desse trabalho pois segundo Marconi & Lakatos (2022, p. 31):

pesquisa é uma atividade que se realiza para a investigação de problemas teórico ou práticos, empregando métodos científicos. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando procedimentos científicos.

Sendo assim, foi aplicado o método de rotação por estações que se trata de uma metodologia ativa, mais especificamente fazendo parte do ensino híbrido, onde a proposta é que se utilize algumas estações com atividades presenciais e, pelo menos, uma estação com atividade online. A ideia é que os alunos transitem, em grupos ou individualmente, entre todas as estações que estão dispostas e que ao final possa haver uma discussão sobre o que foi visto em cada uma delas.

METODOLOGIA

A escola em que foi aplicada a atividade é uma escola pública de Manaus, que atende as três séries do ensino médio e funciona em tempo integral. Em 2021 possuía 425 alunos que participaram da atividade proposta, divididos em 6 turmas de 1ª série, 3 turmas de 2ª série e 3 turmas de 3ª série; uma professora coordenadora da área de Matemática e três professores de matemática, que atuavam em sala de aula, aos quais chamaremos de professor(a) 1, 2 e 3.

Utilizou-se uma abordagem qualitativa, pois segundo Creswell (2014, p. 50)

a pesquisa qualitativa começa com pressupostos e o uso de estruturas interpretativas/teóricas que informam o estudo dos problemas da pesquisa, abordando os significados que os indivíduos ou grupos atribuem a um problema social humano. Para estudar esse problema, os pesquisadores qualitativos usam uma abordagem qualitativa da investigação, a coleta de dados em um contexto natural sensível às pessoas e aos lugares em estudo e a análise dos dados que é tanto indutiva quanto dedutiva e estabelece padrões ou temas. O relatório final ou a apresentação incluem as vozes dos participantes, a reflexão do pesquisador, uma descrição complexa e interpretação do problema e a sua contribuição para a literatura ou um chamado à mudança.

O evento foi realizado em um único dia, nas dependências de área aberta da escola – pátio e refeitório – foram criadas 4 estações, a primeira estação com xadrez, outra com dominó de operações, a terceira com a competição de cubo mágico e por fim a estação com o Kahoot.

Na primeira estação aconteceu a competição de Xadrez, foi solicitada a inscrição dos alunos de todas as turmas, eles deveriam procurar o professor 1 colocar seus nomes na lista e no dia certo competir entre os inscritos. Foram contabilizadas 16 inscrições, então foi realizado um sorteio para determinar as duplas concorrentes. Foram realizadas 4 rodadas de disputas: a primeira rodada com 8 duplas disputando, entre si, 4 vagas na próxima etapa; a segunda rodada foi disputada entre os vencedores da rodada anterior, sendo somente 4 duplas concorrentes; na terceira rodada, a semifinal, quatro alunos jogaram pela vaga na grande final, e por fim dois alunos disputaram a final. Foi ainda realizada uma disputa extra pela classificação de terceiro e quarto lugar pelos alunos que perderam na semifinal. Nessa estação, como em todas as outras, os alunos tiveram a liberdade de se inscrever ou não, e participaram aqueles que já tinham conhecimento prévio sobre o jogo de xadrez.

A segunda estação apresentava vários jogos de dominó de operações matemáticas, desde as operações básicas até operações trigonométricas. Foram dispostos jogos de dominó sobre as mesas disponíveis no refeitório, que são de muitos lugares então foi possível que, pelo duas equipes de 4 alunos jogassem ao mesmo tempo, por mesa. Os jogos foram elaborados com material didático pelos próprios professores da escola. A professora 2, foi a responsável por essa instruir e acompanhar essa atividade.

A terceira estação apresentou a competição de cubo mágico. Nessa competição a disputa foi pelo menor tempo, mais uma vez os alunos puderam se inscrever para participar da atividade e trouxeram seus próprios cubos mágicos para a competição. Como esperado se inscreveram os alunos que tinham conhecimento prévio da resolução do cubo mágico, e foram 10 os alunos que participaram. A coordenadora junto com o professor 1 foram responsáveis por realizar a competição e medir o tempo de cada aluno. O vencedor da competição resolveu o cubo com o tempo de 52 segundos.

A quarta estação continha o jogo Kahoot, que é uma plataforma online onde estão vários desafios de todas as áreas de conhecimento e o professor pode utilizar para sua atividade, ou criar um desafio próprio. Nessa plataforma, a professora 3, selecionou previamente desafios que poderiam ser utilizados, todos eles da área da matemática, com perguntas básicas, de contagem, das quatro operações, e algumas mais complexas envolvendo geometria, análise combinatória, ângulos e sistemas de equações. Foi colocada uma mesa do próprio refeitório, uma tv, e para que os alunos pudessem participar eles precisavam de seus celulares onde baixaram o aplicativo e colocaram o código do desafio escolhido pela professora. A pergunta aparecia na tv e na tela dos celulares apareciam as opções de resposta, os alunos então deveriam marcar a opção desejada e quando todos marcassem aparecia na tv a resposta correta seguida pelo ranking de pontuação dos alunos. Para a pontuação é levado em consideração o tempo que o aluno levou para responder, ou seja, não bastava responder corretamente, precisava ser mais rápido para ganhar mais pontos.

Nessa etapa não foram contabilizados pontos, pois alguns alunos que não tinham celular acabaram se juntando em equipes e usando um único aparelho para participar. Foram utilizados, pelo menos, 5 desafios da própria plataforma para que todos os alunos que quisessem pudessem jogar, individual ou em grupos.

Todas as atividades foram realizadas ao mesmo tempo, e alguns dos alunos conseguiram participar de todas as estações.

RESULTADOS

Com a aplicação do modelo foi possível observar o interesse dos alunos em participar de todas as atividades por se tratar de algo diferente do dia a dia deles. Na estação do xadrez e do cubo mágico, que exigiam conhecimentos e habilidades prévios, foi possível observar a presença de, pelo menos, 5 alunos em ambas as atividades, o que nos mostra alto grau de interesse por essa área de conhecimento e atividades afins.

Na estação de dominó, foi possível verificar que os alunos mesmo em operações básicas apresentavam dificuldades. No dominó de frações que deveria relacionar a fração escrita com sua imagem correspondente foi observado um alto grau de dificuldade por parte dos alunos que estavam jogando e que alguns até preferiam trocar de jogo, mesmo sendo um conteúdo básico do ensino fundamental que, teoricamente, deveria ser dominado por alunos do ensino médio.

Na estação do Kahoot, mesmo sendo a mais divertida segundo os próprios alunos, também foi notório o quanto eles ainda têm muitas dificuldades em matemática, principalmente nas questões envolvendo frações, ângulos e operações. Perguntas que envolviam nomenclatura dos ângulos, onde eles deveriam dizer se o ângulo apresentado era reto, obtuso, agudo ou raso, por exemplo, estão entre as mais difíceis segundo eles.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vivência de sala de aula nos mostra que ensinar matemática é sempre um grande desafio, mesmo atualmente o aluno tendo tantos recursos, ainda enfrentamos situações como a falta de interesse e dificuldades de aprendizado que aconteceram lá na base e que impactam grandemente na etapa do ensino médio.

Para auxiliar no processo de construção do conhecimento, os professores se veem sempre na obrigação de buscar novos métodos de ensino e novas ferramentas que possam atrair a atenção dos alunos. As metodologias ativas surgem como inovação na educação, embora os estudos sobre o assunto não sejam tão recentes quanto se pensa, e trazem consigo várias ideias e novas formas de ver e fazer a educação. O foco no aluno como protagonista, a utilização da contextualização, utilização das tecnologias digitais e a autonomia do aluno formam a base da teoria das metodologias ativas.

Visando uma observação através do uso do modelo rotação por estações foi possível durante a aplicação das atividades concluir que é necessário conhecer mais sobre o que as metodologias ativas podem oferecer, e que temos um público em nossas escolas que demanda novos métodos, além do tradicional livro, pincel e quadro. Nossos alunos têm a sua disposição inúmeras ferramentas que podem ser utilizadas para o ensino de matemática.

O modelo de rotação por estações foi aplicado e bem recebido pelos alunos, foi possível através do seu uso observar as maiores dificuldades apresentadas por eles, os conteúdos que eles têm mais deficiência ou que não foi bem aprendido, foi possível para os professores fazer um diagnóstico diante do observado que possibilitaria até um reforço ou revisão futuros.

Diante do que foi visto na aplicação do modelo rotação por estações é possível concluir que esta atividade pode ser reproduzida mais vezes, seja para trabalhar conteúdos mais específicos, para revisar conteúdos, enfim, é um modelo viável que exige um mínimo de ferramentas digitais que são acessíveis, muitas delas já são de uso do próprio aluno, como é o caso do celular, ou ainda computadores e tv’s da escola, e que apresenta grande potencial para o ensino de matemática.

É necessário que continuemos estudando sobre as metodologias ativas e tudo que elas podem proporcionar ao trabalho docente, pois já vivemos uma era digital, onde com um clique temos acesso a inúmeras informações, portanto devemos aliar o trabalho docente às constantes mudanças do mundo, para que nossos alunos tenham sempre as melhores possibilidades de construção do seu conhecimento.

REFERÊNCIAS

BACICH, L; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

CRESWELL, J. W. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. John Creswell; tradução: Sandra Mallmann da Rosa. 3ª ed. Porto Alegre: Penso, 2014.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso.  9ª ed. São Paulo: Atlas, 2022.


1Mestranda em Educação e Ensino de Ciências e Matemática na Amazonia, Licenciada em Matemática pela Universidade do Estado do Amazonas. Professora da Secretaria de Estado de Educação e Desporto – SEDUC/AM, Brasil. krp.mca21@uea.edu.br.

2Doutor em Clima e Ambiente com ênfase em Interações Clima-Biosfera da Amazônia – INPA/UEA. Mestre em Matemática com ênfase em Geometria Diferencial – UFAM.  Professor Adjunto e Coordenador do curso de Matemática Mediado por Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. acaneto@uea.edu.br.