USE OF PCSK9 INHIBITORS IN STROKE TREATMENT: A INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505112118
Éwerton Therson Lima do Nascimento1
Dhébora Corrêa Fortes Bonates Lima2
Denilson da Silva Veras3
Resumo
O acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, com a dislipidemia, especialmente o LDL-c elevado, sendo um dos principais fatores de risco modificáveis. Embora as estatinas sejam amplamente utilizadas, muitos pacientes não atingem as metas terapêuticas, o que motiva a busca por terapias adicionais. Os inibidores da PCSK9, como alirocumabe e evolocumabe, surgem como alternativas eficazes, agindo ao bloquear a proteína PCSK9, aumentando a remoção do LDL-c do plasma. Ensaios clínicos, como FOURIER e ODYSSEY OUTCOMES, demonstraram a eficácia desses fármacos na redução de eventos cardiovasculares, embora o impacto no AVC isquêmico como desfecho primário ainda exija mais investigação. Este estudo visa analisar a eficácia e segurança dos inibidores da PCSK9 na prevenção do acidente vascular cerebral isquêmico, destacando seu papel complementar em pacientes de alto risco ou com resposta inadequada às estatinas.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral. Hiperlipidemia. Aterosclerose. Neurologia. Cardiologia.
1 INTRODUÇÃO
O acidente vascular cerebral (AVC) configura-se como uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, com elevada incidência, prevalência e impacto socioeconômico, especialmente em países de baixa e média renda. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC é responsável por mais de 12 milhões de mortes e cerca de 100 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) anualmente. Trata-se, portanto, de uma condição clínica prioritária para a saúde pública global, tanto no que tange à prevenção primária quanto à secundária.
O AVC pode ser classificado em dois grandes subtipos: isquêmico e hemorrágico. O tipo isquêmico representa aproximadamente 85% dos casos e resulta, na maioria das vezes, da oclusão de grandes ou pequenas artérias cerebrais por trombos ou êmbolos, geralmente associados a placas ateroscleróticas instáveis. Diversos fatores de risco contribuem para o desenvolvimento da doença cerebrovascular isquêmica, entre os quais a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes mellitus tipo 2, o tabagismo, a fibrilação atrial, a obesidade e, notadamente, a dislipidemia (KEECH et al., 2021).
Os distúrbios no metabolismo lipídico, principalmente, a elevação dos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), estão intimamente associadas ao processo aterosclerótico, contribuindo para a formação e progressão de placas instáveis nas artérias carótidas e intracranianas. Diversos estudos demonstram que a redução intensiva do LDL-c está correlacionada à diminuição significativa dos eventos aterotrombóticos, incluindo o infarto do miocárdio e o AVC isquêmico. Nesse contexto, o manejo da dislipidemia se consolidou como uma das estratégias terapêuticas mais eficazes na prevenção de eventos cardiovasculares maiores (PALACIO-PORTILLA et al., 2022).
Historicamente, as estatinas constituem a primeira linha de tratamento para a redução do LDL-c, sendo amplamente utilizadas na prática clínica e respaldadas por fortes evidências científicas. No entanto, uma parcela expressiva dos pacientes apresenta resposta subótima à terapia com estatinas, seja por intolerância, efeitos adversos musculares, limitação na dose máxima tolerada ou persistência de níveis elevados de LDL-c mesmo com uso pleno da medicação. Essa limitação terapêutica impulsionou a busca por alternativas farmacológicas inovadoras que pudessem atuar de forma complementar ou substitutiva à terapia convencional (DICEMBRINI et al., 2019).
Os inibidores da proproteína convertase subtilisina/quexina tipo 9 (PCSK9), como o alirocumabe e o evolocumabe, surgiram como agentes biológicos capazes de promover reduções adicionais e expressivas dos níveis séricos de LDL-c. A PCSK9 é uma enzima produzida no fígado que se liga aos receptores de LDL, promovendo sua degradação e, consequentemente, reduzindo a capacidade do fígado de remover LDL-c do sangue. Ao bloquear a ação dessa proteína, os anticorpos monoclonais anti-PCSK9 aumentam significativamente a reciclagem dos receptores de LDL, favorecendo a captação hepática do colesterol e resultando em uma redução robusta dos seus níveis plasmáticos (KHAN et al., 2019).
Ensaios clínicos de grande porte, como o FOURIER (Further Cardiovascular Outcomes Research With PCSK9 Inhibition in Subjects With Elevated Risk) e o ODYSSEY OUTCOMES, demonstraram que o uso desses agentes, além de seguro, está associado a uma redução consistente de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE). No entanto, apesar da crescente incorporação dos inibidores da PCSK9 na prática clínica, particularmente em pacientes com alto risco cardiovascular ou com hipercolesterolemia familiar, ainda existem lacunas importantes no entendimento do seu impacto específico sobre o risco de AVC isquêmico (SALVATORE et al., 2020). Diante da relevância epidemiológica do AVC e do potencial papel dos inibidores da PCSK9 como ferramenta terapêutica na prevenção e manejo de eventos cerebrovasculares, torna-se necessário investigar, de forma sistemática e crítica, as evidências existentes a respeito da sua eficácia clínica nesse contexto específico (BRUCKERT et al., 2019).
O presente estudo possui como objetivo primordial a realização de uma revisão da literatura científica, com o intuito de analisar e sintetizar concisamente os mais atuais e pertinentes dados acerca do uso de inibidores da PCSK9 na prevenção primária e secundária do AVC isquêmico, bem como avaliar os desfechos associados à sua segurança, tolerabilidade e custo-efetividade descritos em estudos recentes. O propósito inextricavelmente entrelaçado com esta empreitada reside na compilação e análise exaustiva dos mais recentes desfechos e descobertas científicas sobre os pacientes que experienciaram distúrbios cerebrovasculares com envolvimento trombótico, a fim de fornecer uma visão panorâmica que possa subsidiar a tomada de decisões clínicas e auxiliar a orientação da prática médica contemporânea frente a esta patologia recorrente no contexto da neurologia em setor global.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
O acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade em escala global, caracterizando-se pela interrupção súbita do fluxo sanguíneo cerebral em decorrência de uma oclusão arterial, culminando em hipóxia tecidual, disfunção neuronal e, frequentemente, morte celular irreversível em áreas críticas do parênquima encefálico. Trata-se de uma condição médica de caráter emergencial, cujas repercussões transcendem os aspectos neurológicos imediatos, afetando substancialmente a funcionalidade, a autonomia, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos acometidos, sobretudo entre populações idosas e com comorbidades cardiovasculares associadas (SHIN et al., 2024). A etiopatogenia do AVC isquêmico envolve, em grande parte dos casos, mecanismos aterotrombóticos, nos quais a formação e progressão de placas ateroscleróticas em artérias cerebrais de médio e grande calibre — ou ainda em vasos extracranianos que irrigam o cérebro, como as artérias carótidas internas — levam à obstrução parcial ou total da luz arterial, podendo evoluir para trombose in situ ou embolização distal (BÉTRISEY et al., 2024).
A aterosclerose, nesse contexto, é um processo multifatorial, crônico e progressivo, cujos elementos centrais incluem a disfunção endotelial, a inflamação vascular persistente, a infiltração lipídica subendotelial e a ativação de células do sistema imune inato e adaptativo. Dentre os fatores que amplificam e aceleram essa cascata patológica, a dislipidemia, especialmente os níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), emerge como um determinante central. A hipercolesterolemia favorece a deposição de colesterol oxidado nas paredes arteriais, promovendo recrutamento de monócitos, formação de células espumosas e instabilidade das placas ateroscleróticas. Tal instabilidade, por sua vez, aumenta o risco de ruptura da placa, com consequente exposição do conteúdo trombogênico ao lúmen vascular, desencadeando eventos trombóticos agudos. Dessa forma, o controle rigoroso dos níveis de LDL-c tem sido reiteradamente apontado na literatura como uma estratégia prioritária na prevenção primária e secundária de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares (WANG et al., 2020).
A abordagem terapêutica da dislipidemia tem como pilar histórico a utilização de estatinas, fármacos que inibem a enzima HMG-CoA redutase, reduzindo a síntese endógena de colesterol e promovendo aumento compensatório da expressão de receptores de LDL no fígado. No entanto, uma parcela significativa dos pacientes, especialmente aqueles com doença aterosclerótica estabelecida, histórico de AVCi ou risco cardiovascular muito elevado, não atinge os alvos terapêuticos apenas com estatinas, mesmo em doses máximas (MILIONIS et al., 2016). Nesse cenário, surgem como ferramentas farmacológicas inovadoras os inibidores da pró-proteína convertase subtilisina/quexina tipo 9 (PCSK9), moléculas biológicas desenvolvidas com a finalidade de modular diretamente a regulação dos receptores hepáticos de LDL (GOLDSTEIN et al., 2023).
A PCSK9 consiste em uma proteína sintetizada principalmente no fígado e que se liga aos receptores de LDL na superfície dos hepatócitos, promovendo sua degradação lisossomal e, consequentemente, reduzindo a capacidade do fígado de remover LDL-c da circulação (KORMAN, 2018). A inibição dessa proteína, por meio do uso de anticorpos monoclonais como o alirocumabe e o evolocumabe, bloqueia essa interação deletéria, aumentando a densidade de receptores de LDL na superfície celular e promovendo uma redução robusta e sustentada dos níveis plasmáticos de colesterol LDL, com efeitos comprovados de até 60% de redução adicional quando usados em associação às estatinas (SABATINE et al., 2017).
Estudos clínicos multicêntricos, randomizados e controlados têm conferido sustentação científica sólida ao uso dos inibidores da PCSK9 na prevenção de eventos aterotrombóticos. O estudo FOURIER, conduzido por SABATINE et al. (2017), envolveu mais de 27 mil pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica e demonstrou que o uso de evolocumabe, além de reduzir significativamente os níveis de LDL-c, esteve associado à diminuição do risco de desfechos compostos como infarto do miocárdio, revascularização coronária e AVC. De forma semelhante, o estudo ODYSSEY OUTCOMES, coordenado por SCHWARTZ et al. (2018), avaliou o impacto do alirocumabe em pacientes com síndrome coronariana aguda recente, evidenciando também a eficácia do fármaco na redução de eventos cardiovasculares maiores.
Embora o desfecho primário desses estudos tenha sido a redução global de eventos cardiovasculares e não exclusivamente o AVC isquêmico, as análises secundárias e posteriormente aos eventos trombóticos revelaram uma redução significativa na incidência de eventos isquêmicos cerebrais nos grupos tratados com inibidores da PCSK9. Esses achados sugerem que a agressiva redução do LDL-c, sobretudo em indivíduos com risco vascular elevado, pode representar uma estratégia eficaz na mitigação do risco de novos episódios de AVCi, reforçando o papel emergente dessas terapias no arsenal farmacológico voltado à neuroproteção secundária e à estabilização da aterosclerose cerebral (MURPHY et al., 2019).
Dessa forma, diante da elevada carga global do AVC isquêmico e da íntima relação entre dislipidemia, aterosclerose e eventos cerebrovasculares, os inibidores da PCSK9 despontam como uma classe terapêutica promissora e fundamentada em evidências robustas. Seu uso estratégico, especialmente em populações de risco elevado, pode contribuir não apenas para o controle mais eficaz da dislipidemia refratária, mas também para a redução significativa de eventos neurológicos isquêmicos recorrentes, configurando um avanço relevante no paradigma da prevenção secundária do AVC.
3 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada em abril de 2025, mediante estratégia de busca nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando os termos “PCSK9 Inhibitors”, “Alirocumab”, “Evolocumab”, Stroke”, “Cerebrovascular Accident”, “Ischemic Stroke” e “Atherosclerosis”, combinados entre si e por meio dos Operadores Booleanos “AND” e “OR”. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais, revisões sistemáticas e meta-análises, além de estudos que avaliaram o uso de inibidores da PCSK9 com desfechos relacionados ao AVC (incidência, recorrência, mortalidade) e estudos com população adulta (≥18 anos), publicados entre 2013 e 2025, disponíveis online em português e inglês e contendo análises sobre indivíduos de ambos os gêneros. Foram excluídos artigos duplicados, relatos de caso, editoriais, cartas ao editor e resumos sem texto completo disponível.
Diante disso, é oportuno ressaltar que esta pesquisa dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza intervenções clínicas em seres humanos e animais. Portanto, asseguram-se os preceitos de aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei (BRASIL, 2013).
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A presente revisão integrativa identificou 12 estudos relevantes que analisam o uso de inibidores da PCSK9 em pacientes com risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC), com ou sem eventos cardiovasculares prévios. Os estudos incluíram ensaios clínicos randomizados, metanálises e coortes prospectivas, com amostras que variaram entre 2.000 e 83.000 participantes. A análise crítica da literatura revelou pontos de convergência e lacunas relevantes nos estudos revisados, permitindo construir uma visão abrangente e crítica sobre o tema.
4.1 PRINCIPAIS ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO DE LITERATURA







Os principais estudos incluídos nesta revisão convergiram na avaliação da eficácia dos inibidores da PCSK9 na redução do risco de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), por meio da administração desses medicamentos a variados grupos de pacientes, com ênfase na redução dos níveis de LDL-c, que é um fator chave na fisiopatologia da aterosclerose e, consequentemente, do AVCi. A meta-análise de KHAN et al. (2019) forneceu evidências expressivas acerca da associação entre a redução de LDL-c e a diminuição de eventos adversos cardiovasculares, incluindo o AVCi. Os autores destacaram que os pacientes com níveis elevados de LDL-c, em particular aqueles com múltiplos fatores de risco como hipertensão arterial sistêmica, diabetes e dislipidemia resistente ao tratamento com estatinas, experimentaram benefícios significativos ao utilizarem inibidores da PCSK9, uma classe terapêutica capaz de reduzir de forma intensa e sustentada o LDL-c, com impacto positivo na prevenção do AVCi.
De maneira complementar, os achados de DICEMBRINI et al. (2019) reforçaram a conclusão de que a redução do LDL-c com inibidores da PCSK9 não apenas melhora o controle lipídico, mas também está associada à redução da morbidade cardiovascular geral, incluindo o AVCi. A revisão desses autores apontou que, mesmo em pacientes com condições complexas, como diabetes tipo 2 e resistência à insulina, a terapia com PCSK9 foi eficaz na diminuição do risco de eventos isquêmicos, oferecendo uma alternativa válida quando as estatinas não são bem toleradas ou não são suficientes para atingir as metas de LDL-c.
MURPHY et al. (2019) corroboraram essas evidências ao demonstrar que a redução intensiva do LDL-c, alcançada com inibidores da PCSK9, resultou em uma diminuição significativa na incidência de eventos cardiovasculares maiores, incluindo o AVCi. O estudo indicou que os benefícios observados com esses fármacos eram consistentes em diferentes subgrupos de pacientes de alto risco, o que sugere que os inibidores da PCSK9 podem ser uma opção terapêutica valiosa, especialmente para pacientes com dificuldades em controlar o LDLc com estatinas ou que apresentaram eventos cardiovasculares prévios.
Ademais, o estudo de MILIONIS et al. (2016) reforçou a eficácia dos inibidores da PCSK9, evidenciando que, em pacientes com hiperlipidemia, especialmente aqueles com dislipidemia grave e resistente ao tratamento com estatinas, a utilização dessa classe terapêutica foi eficaz tanto na redução do LDL-c quanto na diminuição do risco cardiovascular, incluindo o AVCi. O estudo destacou que, quando utilizados em pacientes com dificuldades terapêuticas, os inibidores da PCSK9 não só oferecem uma abordagem alternativa, mas também têm o potencial de reduzir a incidência de eventos aterotrombóticos cerebrais, evidenciando seu papel na prevenção do AVCi.
4.2 COMORBIDADES CARDIOVASCULARES E FATORES DE RISCO




Os estudos incluídos nesta revisão abordam detalhadamente os fatores de risco e comorbidades associadas ao aumento do risco de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), com ênfase especial na dislipidemia e na presença de múltiplos fatores de risco. Os achados desses estudos ressaltam a importância de uma gestão adequada dessas condições para a prevenção de AVCi.
A análise de CORDERO et al. (2020) identificou que pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica e com níveis elevados de LDL-c, mesmo após o uso de estatinas, ainda apresentavam alto risco de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares. Esses pacientes foram beneficiados pela adição de evolocumabe, um inibidor da PCSK9, que reduziu significativamente os níveis de LDL-c e contribuiu para a diminuição de eventos como o AVCi.
Nesse contexto, a dislipidemia, especialmente os altos níveis de LDL-c, foi identificada como um dos principais fatores de risco para o AVCi, com destaque para os pacientes que não conseguiam controlar adequadamente os níveis de LDL-c com estatinas.
A pesquisa de BÉTRISEY et al. (2024), que analisou a utilização do alirocumabe somado à administração de estatinas e terapia de redução de triglicerídeos (por meio da suplementação de ômega-3 e fibrato) evidenciou que pacientes com diabetes tipo 2 e com múltiplos fatores de risco cardiovascular, incluindo hipertensão e obesidade, se beneficiaram da redução intensiva do LDL-c. A combinação de diabetes e dislipidemia foi associada a um risco maior de AVCi, e a redução de LDL-c com inibidores da PCSK9 foi eficaz em reduzir esse risco, destacando a relação entre a dislipidemia e a formação de placas ateroscleróticas instáveis.
O estudo de BRUCKERT et al. (2019), que realizou uma análise combinada de nove estudos randomizados com alirocumabe, mostrou que pacientes com histórico de infarto do miocárdio ou AVCi prévio, juntamente com comorbidades como diabetes, hipertensão e dislipidemia, apresentavam um risco maior de novos eventos cardiovasculares, incluindo AVC. O uso de alirocumabe foi eficaz na redução dos níveis de LDL-c e na diminuição do risco desses eventos, especialmente em pacientes com múltiplos fatores de risco.
Adicionalmente, na investigação de LEE et al. (2022), observou-se que pacientes com diabetes tipo 2 e comorbidades associadas ao AVC, como hipertensão e obesidade, apresentavam um risco significativamente maior de AVCi, e que a redução intensiva do LDLc, especialmente com o uso de inibidores da PCSK9, foi capaz de reduzir esse risco de forma substancial.
4.3 RELEVÂNCIA DO USO DOS INIBIDORES DA PCSK9



Os inibidores da PCSK9 têm se destacado como uma ferramenta terapêutica relevante no controle da dislipidemia, especialmente em pacientes com risco elevado de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), cuja condição não é adequadamente controlada com as estatinas. A elevação persistente dos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) é um dos principais fatores de risco para eventos cardiovasculares e cerebrovasculares, incluindo o AVCi. Níveis elevados de LDL-c favorecem a formação de placas ateroscleróticas, especialmente nas artérias carótidas e intracranianas, o que predispõe à oclusão vascular e aumenta a chance de eventos tromboembólicos cerebrais.
Embora a redução do LDL-c seja amplamente reconhecida como um mecanismo fundamental na diminuição do risco de AVC, muitos pacientes não atingem as metas terapêuticas com o uso exclusivo de estatinas, seja devido à intolerância à medicação, resposta subótima ou contraindicações clínicas. Nesse contexto, os inibidores da PCSK9 surgem como uma opção terapêutica crucial.
Estudos clínicos, como os de Goldstein (2023), Dezembrini (2019) e Murphy (2019), mostraram que pacientes com hipercolesterolemia e alto risco cardiovascular que utilizaram inibidores da PCSK9 apresentaram uma redução significativa nos níveis de LDL-c, superior a 60%, com impacto direto na redução do risco de AVCi. A meta-análise de Cordero (2020), que incluiu mais de 80 mil participantes, confirmou que, quanto maior o nível basal de LDL-c, mais significativo é o benefício clínico com o uso desses medicamentos.
Assim, os inibidores da PCSK9 têm um papel fundamental no controle rigoroso dos níveis lipídicos, especialmente em pacientes com dislipidemia refratária às estatinas ou com alto risco de eventos vasculares. Sua utilização oferece uma abordagem mais eficaz na prevenção de novos eventos cerebrovasculares, sendo especialmente valiosa para pacientes com histórico de AVC ou risco elevado de recorrência.
4.5 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E LACUNAS NA LITERATURA ATUAL
A consolidação dos inibidores da PCSK9 como uma estratégia eficaz na redução do LDL-c e na prevenção de eventos cardiovasculares representa um avanço significativo no manejo da dislipidemia, sobretudo em pacientes com risco elevado para acidente vascular cerebral isquêmico. Os estudos incluídos nesta revisão apontam para benefícios clínicos consistentes quando esses agentes são utilizados em associação com estatinas, especialmente em indivíduos com níveis persistentemente elevados de colesterol LDL ou com intolerância à terapia convencional.
Sob a ótica clínica, a incorporação dos inibidores da PCSK9 ao protocolo terapêutico pode contribuir para uma abordagem mais agressiva e personalizada na prevenção secundária do AVC, reduzindo desfechos adversos e melhorando o prognóstico a longo prazo. Além disso, seu perfil de segurança favorável e a ausência de efeitos adversos neurológicos graves reforçam sua aplicabilidade prática, inclusive em populações com múltiplos fatores de risco cardiovascular.
No entanto, persistem lacunas relevantes na literatura. A maioria dos estudos analisados avaliou o AVC como desfecho secundário, o que limita a precisão das estimativas específicas para esse evento. Além disso, são escassos os estudos que exploram o custo-efetividade desses agentes em cenários de saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda. Faltam, ainda, investigações com seguimento prolongado que avaliem os impactos neurovasculares de longo prazo e sua possível interação com outras comorbidades neurológicas.
Posto isso, torna-se necessária a realização de ensaios clínicos randomizados com foco exclusivo na prevenção de AVC, bem como estudos de farmacoeconomia que sustentem a adoção ampla desses fármacos em políticas públicas de saúde.
4.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Embora esta revisão integrativa tenha reunido evidências relevantes e atualizadas sobre a eficácia dos inibidores da PCSK9 na prevenção do acidente vascular cerebral isquêmico, algumas limitações metodológicas devem ser reconhecidas. Primordialmente, a maioria dos estudos analisados avaliou o AVC como desfecho secundário em ensaios clínicos voltados principalmente para eventos cardiovasculares maiores, como infarto do miocárdio e mortalidade por causas cardíacas. Este fator é responsável por limitar a robustez das inferências específicas sobre o impacto direto desses fármacos no contexto cerebrovascular.
Concomitantemente, observou-se heterogeneidade entre os estudos incluídos quanto ao perfil dos participantes, variando em idade, comorbidades, histórico prévio de AVC e níveis basais de LDL-c, o que dificulta a padronização dos resultados e pode introduzir viés de interpretação. Além disso, muitos estudos também não estratificaram adequadamente os desfechos por subgrupos, o que compromete uma análise mais detalhada do efeito dos inibidores da PCSK9 em populações específicas, como pacientes com histórico de AVC prévio ou com intolerância grave às estatinas.
Outro ponto limitante refere-se à escassez de estudos com longo tempo de seguimento, o que impede a avaliação precisa dos efeitos dos inibidores da PCSK9 sobre a recorrência de AVC e sobre potenciais consequências neurológicas tardias. Outrossim, poucos estudos abordam a análise de custo-efetividade e o impacto financeiro da incorporação dessa classe medicamentosa em sistemas públicos de saúde, especialmente em países em desenvolvimento.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas evidências analisadas nesta revisão sistemática, conclui-se que o uso de inibidores da PCSK9, como alirocumabe e evolocumabe, tem se mostrado eficaz na redução do risco de acidente vascular cerebral isquêmico em pacientes com alto risco cardiovascular, especialmente naqueles que apresentam doença aterosclerótica estabelecida e níveis elevados de LDL-c não controlados adequadamente com estatinas. A diminuição dos níveis de LDL-c, como demonstrado em diversos estudos clínicos, está diretamente associada à diminuição do risco de eventos aterotrombóticos cerebrais, como o acidente vascular cerebral isquêmico.
Os estudos clínicos evidenciam um perfil favorável à segurança do uso dos inibidores da PCSK9, com baixa incidência de efeitos adversos graves e redução dos níveis de LDL-c. Não foi observada uma elevação no risco de eventos hemorrágicos ou neurológicos, o que reforça a viabilidade clínica desses fármacos para o tratamento e prevenção de doenças ateroscleróticas, incluindo a prevenção de AVC. É válido ressaltar que, embora os resultados sejam promissores, ainda são necessários mais estudos com foco específico em desfechos diretamente relacionados ao AVC, para melhor compreensão dos efeitos de longo prazo e da eficácia desses medicamentos no contexto clínico do AVC.
Logo, são necessários estudos aprofundados por meio de análises em larga escala quanto ao tempo de seguimento e perfil dos pacientes da população de amostra, com enfoque nos desfechos vinculados à administração dos inibidores da PCSK9 e suas implicações no contexto dos distúrbios cerebrovasculares, a qual pode fornecer dados mais específicos e representativos da população global, contribuindo para a definição de estratégias de saúde pública que favoreçam a redução da carga global do acidente vascular cerebral.
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¹Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: prof.ewertonlima@hotmail.com
²Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: dheboracfblima@gmail.com
³Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus. Mestre em Ciências da Saúde (PPGCIS/UFAM). e-mail: denilsonveras55@gmail.com