UTILIZAÇÃO DE CIMENTO BIOCERÂMICO NA OBTURAÇÃO DE DENTES DIAGNOSTICADOS COM TRINCAS RADICULARES CAUSADO POR TRAUMA – RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10076064


Bruna Félix De Freitas¹
Vitória Carolina Schmitz¹
Prof. Esp. Juliani Vendramini Maciel²


RESUMO

O presente trabalho tem o intuito de apresentar relato de caso clínico, paciente com histórico de trauma dentário. Paciente de 36 anos, gênero feminino, parda, procurou a Clínica escola de Odontologia, da Faculdade Integrada Aparício Carvalho (FIMCA) com queixa principal de intensa sensibilidade nos elementos dentários 22 e 23. Após anamnese, em sua história pregressa, a paciente relata trauma dentário por acidente automobilístico há 10 anos. Em exame clínico observou-se presença de doença periodontal e muita sensibilidade ao toque nos elementos citados. Ao exame radiográfico, os elementos com sintomatologia, apresentaram imagem radiolúcida na região de periápice, sugestiva de lesão periapical de origem endodôntica. Devido suspeita de trinca radicular foi realizado tomografia computadorizada de cone bean, para confirmação de diagnóstico. Os dentes traumatizados estão em região de bateria labial. Optou-se por tratamento endodôntico, pois a exodontia iria submeter a paciente a utilização de prótese ou procedimento cirúrgico de implantes, o que pode afetar o bem-estar psicológico e autoestima. Devido a complexidade do caso, foi planejado tratamento endodôntico com instrumentação de sistema rotatório, irrigação com clorexidina em gel de natrosol a 2% e soro fisiológico para preparo-químico-mecânico, e obturação com cimento biocerâmico, devido as propriedades de reparação tecidual, se tornando um material altamente eficaz na endodontia.

PALAVRAS-CHAVES: Endodontia. Trincas radiculares. Cimento biocerâmico. Trauma dentário.

ABSTRACT

The present work aims to present a clinical case report, a patient with a history of dental trauma. A 36-year-old patient, female, brown race, sought the Odontology School Clinic, at Faculdade Integrada Aparício Carvalho (FIMCA) with a main complaint of intense sensitivity in 22 and 23 dental elements. After anamnesis, in her past history, the patient reports trauma dental injury in a car accident 10 years ago. On clinical examination, the presence of periodontal disease and great sensitivity to touch were observed in the aforementioned elements. On radiographic examination, the elements with symptoms presented a radiolucent image in the periapical region, suggestive of a periapical lesion of endodontic origin. Because of the suspicion of root crack, cone bean computed tomography was carried out to confirm the diagnosis. The traumatized teeth are in the lip battery region. We opted for endodontic treatment, as extraction would subject the patient to the use of a prosthesis or surgical implant procedure, which could affect psychological well-being and self-esteem. Due to the complexity of the case, endodontic treatment was planned with rotatory system instrumentation, irrigation with 2% natrosol gel chlorhexidine and physiological saline for chemical-mechanical preparation, and filling with bioceramic cement, due to the tissue repair properties, if making it a highly effective material in endodontics.

KEYWORDS: Endodontics. Root cracks. bioceramic cement. dental trauma.

1. INTRODUÇÃO

A endodontia é a especialidade que visa diagnosticar, prevenir e tratar infecções pulpares e periapicais, devolvendo o elemento dental ao sistema estomatognático, capaz de integrar ao sistema curado (BONETI et al. 2018).

O tratamento endodôntico, deve seguir um protocolo de passo a passo, onde há etapas que devem ser realizadas com cautela e precisão. Tais etapas podem ser descritas como: cirurgia de acesso a câmara pulpar e posteriormente ao canal radicular, limpeza e sanificação do sistema de canais radiculares, modelagem, obturação e blindagem da embocadura dos canais (JESUS; FERNANDES, 2022). São utilizados instrumentais específicos para tratamento endodôntico – limas manuais, rotatória e reciprocante, soluções irrigadoras, medicações intra-canal, cimentos endodônticos e cones de gutta percha (OLIVEIRA et al. 2022).

Apesar de se existir um protocolo, o cirurgião dentista deve ter conhecimento da morfologia dentária, bem como as possíveis variações de cada grupo dental, além de conhecer os aspectos fisiológicos normais e identificar possíveis alterações patológicas da polpa e periápice. Como objetivo o tratamento endodôntico promove a desinfecção e eliminação dos microrganismos que estão no interior dos canais, propiciando um ambiente adequado para a reparação dos tecidos. (MECCATI; CARVALHO, 2023).

Visando um melhor vedamento dos canais radiculares o mercado vem inserindo materiais com propriedade de resistência, biocompatibilidade e capacidade de reentrância nos túbulos dentinário expostos ao tratamento endodôntico, tal como o cimento biocerâmico. Apresentado ao mercado odontológico, este que é uma nova atualidade em cimentos obturadores, possui características positivas como biocompatibilidade, principalmente para os casos de extravasamento na região periapical, promove um bom selamento do canal radicular principal e dos canais acessórios graças ao seu escoamento, age diretamente na microbiota de lesões, juntamente com o cone de gutta percha reforça a estrutura radicular, devolvendo o dente ao sistema estomatognático apto a exercer seu papel na mastigação e fonação do paciente (HADDAD; AZIZ, 2016).

Este trabalho tem o objetivo de realizar o tratamento endodôntico em dentes apresentando extensa lesão periapical diagnosticados com trincas radiculares causado por trauma, onde será utilizado material obturador biocerâmico que possui diversas qualidades sendo algumas delas a biocompatibilidade, ação antibacteriana, capacidade regenerativa. No todo, visa proporcionar a proservação dos elementos dentários em função e estética, estabelecendo o bem-estar e saúde do paciente.

2. REFERÊCIAL TEÓRICO

A endodontia diagnostica, trata e previne patologias da polpa e lesão perirradicular (MELO et al. 2022). O objetivo do tratamento endodôntico é promover a remoção de microorganismos nos interiores dos canais radiculares, promover a limpeza e sanificação, e adequar o ambiente para que seja possível reparação dos tecidos periapicais, a fim de reestabelecer a função do dente (VILELA, 2022).

É a especialidade que vem conquistando um espaço importante na odontologia, pois, exerce um forte papel na promoção de saúde, visando a preservação dos dentes na cavidade bucal (SANTOS et al. 2020). Para o sucesso da terapia deve-se observar e seguir critérios rigorosos, pois qualquer etapa não realizada corretamente, pode levar a terapia a falha. E necessário realizar anamnese minuciosa, exame clínico, radiografias periapicais (bem reveladas e processadas), avaliar sintomatologia, edema, presença de fistula e lesão periapical (SILVA, et al. 2021).

Na execução do tratamento endodôntico deve-se seguir o passo a passo criteriosamente: diagnóstico, limpeza e sanificação dos canais, modelagem, obturação e blindagem das embocaduras. (CANCELLA; FERNANDES, 2022). A endodontia trabalha em uma área de difícil acesso, pois muitas vezes o campo de visão é limitado, desta forma é importante que seja feito a cirurgia de acesso adequada, a fim de localizar facilmente os canais sem prejudicar a estrutura coronária, este passo e de extrema importância para a terapia endodôntica, pois a coroa do dente deve ser preservada da melhor maneira possível, não somente para reabilitação do dente no arco, mas também para ser guia na odontometria e obtenção do comprimento real de trabalho, assim será possível a correta limpeza e preenchimento do conduto com material obturador (MELO et al. 2022).

2.1. BIOCERÂMICO

A obturação é a fase final que tende a selar e vedar os canais radiculares evitando que ocorra uma recolonização de bactérias e causando o insucesso do tratamento, o material deve preencher todo espaço vazio entre as paredes dos condutos radiculares (COLOMBO, 2022). Para que se consiga o selamento tridimensional é utilizado guta-percha e cimento com propriedades biológicas que estimulem o reparo. A guta-percha é um cone que não possui adesividade necessitando do cimento para preencher e selar totalmente os espaços (LIMAS, 2020).

A escolha do material para o tratamento endodôntico é crucial para um resultado bem-sucedido. No mercado existe diversos cimento obturadores, e para ser um cimento ideal deve ter propriedades de biocompatibilidade, ser bacteriostático, estabilidade, ser radiopaco, ser de fácil remoção, não ser condutor térmico e nem cariogênico (MOREIRA, 2022).

Há pouco tempo está sendo utilizado na endodontia o biocerâmico que vem se expandindo devido sua grande gama de qualidades. Os biocerâmicos é obtido por meio de processos químicos, tem em sua composição silicatos tricálcicos e dicálcicos, fosfato de cálcio, hidróxido de cálcio e óxido de zircónio. Este cimento induz formação de hidroxiapatita, e a regeneração do corpo humano (GUILHERME, 2022).

Apresenta biocompatibilidade, ser regenerativo, apresentar baixa toxidade, ter ação antibacteriana, pH alcalino, ser fácil de manipular e promove um bom vedamento (MOREIRA, 2022). Também aumenta a resistência radicular, não é reabsorvível, tem capacidade osteoindutiva e tem propriedades que permitem que possa ser aplicado em ambientes úmidos apresentando água, sangue ou até fluido dentinários (LIMAS, 2020).

De acordo com Colombo (2022) os biocerâmicos não são tóxicos, e não sofrem alteração volumétrica, se mantendo estável, outra vantagem é a sua capacidade na presa de se ligar a dentina. E segundo Carneiro (2022), os cimentos biocerâmicos apresentam propriedades que favorecem a recuperação dos tecidos dentais danificados. Além disso, estes materiais são capazes de induzir a formação de novos tecidos, facilitando assim o processo de cicatrização das lesões endodônticas.

Na endodontia os cimentos biocerâmicos possuem diversas indicações como para proteção pulpar, perfurações, pulpotomia, obturação de canais, retratamento endodôntico, em reabsorções radiculares, cirurgias periapicais, apicificação, considerado material que substitui a dentina (GUILHERME, 2022).

O uso de cimentos biocerâmicos para a obturação tem mostrado resultados promissores. Esses materiais se ligam quimicamente ao dente e podem selar trincas, prevenindo a infecção bacteriana e promovendo a cicatrização. Além disso, sua capacidade de induzir a formação de hidroxiapatita durante o processo de cura contribui para a reparação do tecido duro (MELO, 2021).

2.2. TRAUMA DENTÁRIO

O trauma dental é considerado como uma urgência onde o cirurgião dentista deve ser ágil para formular um plano de tratamento, o trauma pode varia de lesão simples como fratura de esmalte a uma lesão mais grave que engloba tecidos de suporte (VIEIRA, 2021).

De acordo com estudos a região antero-superior é a mais afetada pelo trauma devido sua posição ser mais exposta, além de que pacientes com maloclusões pode ter maior incidência (OLIVEIRA, et al. 2022). As causas mais comuns são por brigas, quedas, acidentes automobilísticos, acidente de trabalho, arma de fogo, esportes, acidente escolar, coice de cavalo, epilepsia e muitas outras causas (VIEIRA, 2021).

Para um tratamento adequado, o diagnóstico é indispensável, pois a diversos tipos de traumas e para tratar deve-se identificar quais estruturas foram afetadas. Exame clinico deve ser realizado atentamente, visualizar se tem corpo estranho na região, os ferimentos ocorridos aos tecidos moles, dente e osso alveolar, exame de palpação para verificar se possui mobilidade, exame de percussão visando identificar se ocorreu lesão aos tecidos periodontais e apicais, testes de sensibilidade também podem ser realizados e os exames radiográficos que é considerado o mais importante (VIEIRA, 2021).

O exame radiográfico intrabucal é o de primeira escolha, e quando se tem a desconfiança de fratura necessita-se de expor o paciente a diversas radiografias e ângulos diferentes na tentativa de identificar, caso ainda tenha a dúvida é recomendado a tomografia computadorizada. (MORELLO, 2018).

A Tomografia computadorizada de feixe cônico é um sistema radiológico moderno especifico para uso no esqueleto maxilofacial, as imagens não são distorcidas e é tridimensional, possibilita uma melhor visualização da anatomia da região e suas diversidades. O campo de visão é restrito e de alta definição é indicado para casos de avaliação de trauma dentário com suspeita de fratura radicular em que a radiografia periapical não possibilitou a identificação (MORELLO, 2018).

3. METODOLOGIA

Paciente F.F.C. do sexo feminino, 36 anos, procurou a Clínica Odontológica da Faculdades Integradas Aparício de Carvalho – FIMCA para atendimento odontológico, relatando queixa de “dor de dente, dentes quebrados e extrema sensibilidade nos dentes da frente”, dentes 22 e 23, com história pregressa e acidente a 10 anos e que bateu a boca, e após 5 anos a hipersensibilidade iniciou. Paciente não faz uso de medicamentos sistêmicos e não possui alergias. Em exame clinico foi constatado doença periodontal, e intensa sensibilidade ao toque não sendo possível realizar exames de teste térmicos, percussão e palpação, ao realizar exame complementar de radiografia periapical verificou-se a presença de lesão periapical nos dentes 22 e 23.

Após exames complementares identificamos que o possível diagnóstico seria de lesão perirradicular com trincas radiculares ocasionado pelo trauma, para uma maior clareza do diagnóstico solicitamos a tomografia computadorizada. Ao receber a tomografia computadorizada foi feita a análise das imagens, e houve a confirmação do diagnóstico.

Em planejamento avaliando a história pregressa, imagens radiográficas e diagnostico o tratamento de primeira escolha seria a exodontia, seguida de implantes dos dentes 22 e 23 ou confecção de prótese parcial removível. No entanto, considerando a questão financeira e psicológica da paciente propomos a realização do tratamento endodôntico promovendo a desinfecção e viabilizando a possibilidade de proservar os elementos dentários desempenhando suas funções no sistema estomatognático.

Na mesma consulta iniciou-se com a abertura de acesso, odontometria, alargamento do terço cervical e médio, preparo químico e mecânico (PQC) e medicação intracanal nos dentes 22 e 23. Para o processo a paciente foi anestesiada com anestésico lidocaína 2% com epinefrina, e efetuação de isolamento absoluto. Vale ressaltar que só após realizada a anestesia foi possível apalpar e realizar um teste de mobilidade, averiguando que tem mobilidade grau I.

Foram utilizadas brocas esféricas diamantadas para acessar a câmara pulpar, brocas endo Z para a realização dos desgastes compensatórios e forma de contorno (triangular com base maior para incisal). Para a exploração inicial dos canais foram empregues limas endodôntica de série especial #08 e #10, no comprimento provisório de trabalho (CPT). O comprimento provisório é definido através do comprimento aparente do dente (CAD), é realizada a medida da radiografia inicial desde a incisal até o ápice (CPT= CAD-3mm).

Após a exploração inicial efetivamos a odontometria com o auxílio do de um localizador apical, no intuito de obter com precisão o comprimento real dos dentes, determinando que o comprimento de trabalho (CT) do dente 22 é de 19mm e o dente 23 é de 25mm, tal medida segue o mesmo parâmetro do comprimento aparente do dente (CAD), medindo da incisal até o ápice.

Para o acesso ao canal radicular, em ambos os dentes foram efetivadas com brocas Largos no preparo do terço cervical e com brocas Gates Glidden no preparo do terço médio. Seguido dos preparos damos início ao preparo químico mecânico (PQM) com protocolo de limas manual, com movimentos de limagem fora feita a ampliação e modelagem dos canais, no canal do dente 22 chegamos ao diâmetro #35 e no canal do dente 23 o diâmetro alcançado foi de #80. Durante as trocas de instrumental é efetivada a irrigação abundantemente e renovado a solução irrigadora de hipoclorito de sódio 2,5%, no protocolo de irrigação final a toalete foi utilizando sistema Easy Clean e solução irrigadora de hipoclorito de sódio 2,5% agitando-o 3 ciclos de 20 segundos, em seguida 3 ciclos com Edta 17% e finalizado com soro fisiológico, e secos com cone de papel absorvente para que seja feita a inserção de medicação intracanal em um ambiente limpo. A medicação de escolha foi o Hidróxido de cálcio (Ultra cal), preenchendo todo o espaço vazio do canal em ambos os dentes.

Uma bolinha de teflon foi introduzida na entrada dos canais e realizado restauração provisória com resina composto. Ao encerrar a consulta, foram efetuadas orientações de higiene bucal, instruindo a necessidade de manter um com controle da placa bacteriana.

Na consulta seguinte, 20 dias após a primeira etapa da intervenção, a paciente mencionou que durante o período entre as consultas sentiu dor e muita sensibilidade, ao exame radiográfico analisou-se que a lesão não houver nenhuma regressão, ao exame clinico observamos que o fundo do vestíbulo na região dos dentes em questão se apresentava edemaciada e muito sensível. Neste caso fora decidido a realização de troca da solução irrigadora, mesmo a paciente expressar não ter alergia suspeitamos que poderia ser irritação causado pelo hipoclorito de sódio 2,5%, fora feita anestesia, isolamento absoluto, remoção da restauração provisória e remoção da medicação intracanal com o auxílio de irrigação com soro fisiológico e limas endodônticas manuais no diâmetro da última instrumentação, calibradas de acordo com o comprimento de trabalho (CT) de cada dente.

Salientamos que antes de introduzir outra solução irrigadora, ocorreu uma rigorosa limpeza com auxílio de irrigação abundante de soro fisiológico, limas endodônticas manuais e mini escova de robson, para então realizarmos um novo protocolo de irrigação final, o toalete, com auxílio da Easy Clean e desta vez solução irrigadora de clorexidina em gel 2% agitando-o 3 ciclos de 20 segundos, em seguida 3 ciclos com Edta 17%, finalizado com soro fisiológico, e secos com cones de papel absorvente para a inserção de medicação intracanal. A medicação de escolha foi o Hidróxido de cálcio (Calen PMCC), preenchendo todo o espaço vazio, esta intervenção fora feita em ambos os dentes 22 e 23.

Com 30 dias a paciente retornou para realizar o tratamento periodontal. Raspagem e profilaxia foram realizadas, consulta essa dedicada a realizar orientações, como escovar corretamente, utilizar o fio dental, indicamos que a paciente passe a utilizar escova de cerdas macia e com a cabeça pequena para facilitar a higienização nos dentes posteriores onde ela relatou ter dificuldades para escovar, e utilizar o fio dental todos os dias substituindo o palito de dente que faz uso. Sobre os dentes 22 e 23 a paciente citou que não sentiu dor, mas que a sensibilidade persiste. Esta paciente já passou por trauma em atendimento odontológico e necessita que tenha calma e paciência na realização dos procedimentos, pois possui um elevado grau de dor.

Sem demora, houve período de férias na faculdade e retornamos após um período de 90 dias. Ao retornamos marcamos a consulta e a paciente prontamente compareceu, iniciamos com radiografia de acompanhamento, anestesia, isolamento absoluto, remoção de restauração provisória e retirada da medicação intracanal com irrigação de soro fisiológico e limas endodônticas manuais. Devido ao tempo do início da intervenção entendemos que seria viável realizar novamente o preparo químico mecânico (PQC), agora com protocolo rotatório.

Utilizamos o protocolo rotatório do Canal Bom diâmetro #35.04, irrigando e aspirando com solução irrigadora de clorexidina em gel 2%, onde no dente 22 ocorreu um sangramento, efetivamos o protocolo de irrigação final conforme citado na primeira intervenção com soluções irrigadoras de clorexidina em gel 2%, Edta, soro fisiológico. Após secar com cone de papel absorvente introduzimos uma nova medicação intracanal, encorpamos hidróxido de cálcio PA com clorexidina em gel 2% e levamos nos canais com auxílio de uma Easy Clean, vedamos a emborcadura com bolinha de teflon e restauração provisória em resina composta.

Trinta dias após a paciente retornou sem queixas de sensibilidade ou dor, realizamos radiografia de acompanhamento e tencionamos em obturar os canais com o cimento biocerâmico. Anestesiamos, isolamos e iniciamos o procedimento de remoção da restauração provisória e medicação intracanal, irrigamos com muito soro fisiológico, e realizamos o protocolo de irrigação final com auxílio de Easy Clean, durante esse período desinfetamos o cone de gutta percha principais e acessórios com álcool 70 % e gazes estéril, para então realizar prova de cone que foi selecionado de acordo com o diâmetro e calibrados na medica do comprimento de trabalho (CT) de cada dente. Depois de todo o processo de irrigação final e cone de gutta percha selecionado, realizamos a prova de cone, os introduzindo nos canais, obtendo o travamento apical e confirmação por radiografia.

O cimento de escolha para obturação dos canais foi o cimento endodôntico biocerâmico (Bio-C sealer) e a técnica de condensação lateral será a efetivada. Iniciamos pelo dente 22, e logo após o dente 23, ao efetuar a radiografia de confirmação, observamos que não obteve o total sucesso, ficando com algumas bolhas em região de terço médio em ambos os dentes, foi removido toda obturação para uma nova tentativa, executamos o protocolo de irrigação final e secamos com cones de papel absorvente.

O processo foi repetido novamente, prova de cone, travamento apical e confirmação por radiografia periapical, desta vez introduzimos o cimento com auxílio de um Easy Clean e após flambamos o cone de gutta percha no cimento e levamos ao conduto, repetimos com os cones de gutta percha acessórias, ao radiografar observamos que ainda havia falhas em ambos os dentes. A paciente já estava muito tempo deitada na cadeira e já se demostrava inquieta, com isso, após remover a obturação, efetivamos o protocolo de irrigação final e houve a introdução de medicamento intracanal de hidróxido de cálcio (Ultra cal), restaurado provisoriamente com resina composta.

Com um período de 30 dias a paciente retomou para tentarmos novamente a obturação. Efetivamos todo o protocolo novamente, anestesia, isolamento absoluto, remoção de restauração provisória e medicação intracanal. Após os canais limpos e secos iniciamos o protocolo de obturação, seleção do cone de gutta percha, travamento apical e radiografia de confirmação. Primeiramente com auxílio de uma ponta aplicadora injetamos o cimento biocerâmico diretamente no canal e agitamos com ultrassom, e após colocamos o cone de gutta percha principal e acessórios, ao radiografar observamos que desta vez o dente 22 ficou bem vedado, realizamos o corte dos cones de gutta percha na altura de crista óssea, em seguida, a condensação com os condensadores de paiva. Só então passamos para o dente 23, repetimos o processo, introduzimos o cimento com auxílio de uma ponta aplicadora e o agitamos com o ultrassom, em seguida o cone de gutta percha principal foi introduzido e logo após os acessórios. Ao radiografar observou-se que não ocorreu o mesmo sucesso, ocorrendo falhas no terço médio, porém no terço apical ficou bem vedado. A paciente já estava muito tempo deitada, então para não ficar mais cansativo, restauramos provisoriamente com resina composta e marcamos uma próxima consulta.

Avaliando as radiografias, foi observado que as paredes dos condutos se encontram bem finas e frágeis, decidimos então em desobturar 18mm até onde possui a falha da obturação e reforçar com pino de fibra de vidro. A paciente chegando para a consulta explicamos e tiramos as dúvidas do que iriamos executar e iniciamos o procedimento, anestesia, isolamento absoluto, remoção da restauração provisória. Para a desobtução do canal do dente 23 foi utilizado brocas Largos, removendo todo material obturador na medida de 18mm, após é feita seleção do pino de fibra de vidro, realizada a devida do pino de fibra de vidro com ácido fosfórico 35% e limpeza do conduto com protocolo de irrigação final, introduzimos o cimento Dual diretamente no canal e logo em seguida o pino de fibra de vidro e fotoativação. Com o pino cimentado recortamos na altura da coroa e realizamos a restauração final.

Já no dente 22 onde a obturação em que ficou favorável, foi removido a restauração provisória, e analisado que no terço cervical da raiz, havia necessidade de reforço, pois em uma das consultas houve um desvio na abertura devido o dente está giro vertido, deixando a parede mesial fina neste intuito foi adicionado o biocerâmico (MTA REPAIR HP), aguardado o tempo de presa de 15 minutos e selado a embocadura com resina twisty pink e restaurado com resina composta.

Finalizado o procedimento orientamos a paciente quanto a continuidade do cuidado com a higiene bucal, e será monitorada de 3 em 3 meses para que possamos avaliar como está a regressão da lesão e se realmente a paciente está conseguindo manter uma boa higiene. Foi alertada que possa não ocorrer a regressão da lesão e que futuramente venha ter que realizar implantes na região.

Paciente retornou após 3 meses para acompanhamento do caso. Em exame clinico observamos que não há mobilidade e constatado a melhora na higienização bucal, ao exame radiográfico observamos que mesmo com pouco tempo de obturação dos canais, no dente 23 é visível uma pequena formação óssea. Foi orientado a paciente a continuar com os cuidados e retornar para o acompanhamento.

Figura 01 – Imagem radiográfica inicial identificando lesão periapical nos dentes 22 e 23.

Fonte – Própria

Figura 02 – Imagem da tomografia computadorizada cone bean dos dentes 22 e 23.

Fonte – Própria

Figura 03 – Imagem da tomografia computadorizada cone bean dos dentes 22 e 23.

Fonte – Própria

Figura 04 – Imagem radiográfica da proa de cone de gutta-percha dos dentes 22 e 23.

Fonte – Própria

Figura 05 – Imagem radiográfica da obturação final dos canais radiculares dentes 22 e 23, (dente 23 com pino de fibra de vidro).

Fonte – Própria

Figura 06 – Imagem radiográfica da proservação com 3 meses após a obturação.

Fonte – Própria

4. DISCUSSÃO

De acordo com a literatura o trauma dental, se não tratado imediatamente, resultará em prejuízo biológico (OLIVEIRA, et al. 2022). A demora na procura de atendimento odontológico levou a paciente ter dor, alteração da cor da coroa dental e tornou o prognostico obscuro em relação a cura e devolução do dente ao sistema estomatognático.

Oliveira (2022), diz que em caso de fraturas, o tratamento é o acompanhamento em até cinco anos para verificar se houver reparação. Já Vieira (2021), diz que o tratamento varia muito, no entanto, para fratura de raíz se faz a contenção e acompanha o progresso, e se a fratura for longitudinal é indicado a exodontia, e em casos onde houve necrose pulpar necessita-se e tratamento endodôntico.

Ainda que o prognóstico não seja favorável, optou-se por prolongar a vida útil dos dentes em boca com a realização de tratamento endodôntico, efetuando a sanificação, limpeza, modelagem e a obturação dos condutos (CANCELLA; FERNANDES, 2022). O tratamento endodôntico é realizado com o objetivo de preservar e retomar a normalidade dos tecidos periapicais. O entendimento da patologia e dos materiais disponíveis para tratamento, são fundamentais para o sucesso terapêutico em casos complexos (SILVA, et al. 2020).

A aplicação de cimentos biocerâmicos na odontologia vem sendo bem-sucedida em diversas áreas, principalmente no que diz respeito aos tratamentos endodônticos. Baseando-se principalmente na capacidade de promover regeneração tecidual. O seu escoamento favorece a aplicação efetiva, penetrando em fissuras, trincas e canais acessórios, impedindo que ocorra progressão de lesões (COLOMBO, 2022).

No relato de caso apresentado, foi possível observar a eficácia do material no preenchimento radiculares, proporcionando uma obturação satisfatória e a redução dos processos inflamatórios associados à lesão. Ao comparar nosso achado com a revisão bibliográfica sobre o tema, notamos uma concordância geral sobre a eficácia do uso de cimentos biocerâmicos no tratamento endodôntico. De acordo com Melo (2022), cimentos biocerâmicos demonstraram alta biocompatibilidade e capacidade seladora eficiente quando comparados a outros materiais utilizados em obturações endodônticas.

A importância do fato reside na possibilidade de oferecer aos pacientes um tratamento mais efetivo, seguro e duradouro para situações complexas como dentes traumatizados em que ocorre trincas ou até fraturas radiculares. Além de reforçar as evidências atuais, que apontam para a eficácia dos cimentos biocerâmicos em procedimentos endodônticos, contribuindo para o avanço da prática clínica e da literatura científica na área.

5. CONCLUSÃO

Este estudo concluiu que o uso de cimento biocerâmico na obturação de dentes com trincas radiculares causadas por trauma é eficaz. Isso foi evidenciado pelo alívio dos sintomas, reparo das trincas e manutenção da função dental do paciente. Além disso, o paciente relatou satisfação com o resultado do tratamento, destacando a ausência de dor e desconforto após a realização do procedimento. Não foram observadas complicações ou sinais de insucesso no tratamento.

Desta maneira o uso do cimento biocerâmico na obturação, proporcionou uma maior garantia de sucesso no caso, por apresentar excelentes características químicas e biológicas para a obturação de dentes trincados, incluindo biocompatibilidade, selamento hermético e capacidade de induzir a regeneração tecidual. Esta característica se mostrou especialmente útil no caso estudado, onde foi observada uma considerável recuperação da estrutura óssea do dente trincado.

A conclusão deste estudo pode contribuir para orientar futuras pesquisas na área da Endodontia. Estudos adicionais poderiam explorar ainda mais as propriedades do cimento biocerâmico e seu potencial uso em outras condições dentárias.

REFERÊNCIAS

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¹Bacharel em Odontologia – Faculdade de Educação de Jaru – FIMCA UNICENTRO

²Orientadora: Prof. Especialista Juliani Vendramini Maciel