UTILIZAÇÃO DA CAFEÍNA COMO SUBSTÂNCIA NOOTRÓPICA EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E DO ENSINO MÉDIO

USE OF CAFFEINE AS A NOOTROPIC SUBSTANCE IN COLLEGE AND HIGH SCHOOL STUDENTS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10205509


¹Jennifer Domingues Oliveira
²Nicolli Martha Silva
³Pedro Luis Gonçalves de Souza
4Tauany Aparecida dos Santos
5Victoria Azeredo Pereira
6Leandro Giorgetti


RESUMO

Nootrópicos, popularmente conhecidos como “droga da inteligência”, são substâncias que atuam diretamente no sistema nervoso central, aumentando a liberação ou diminuindo a recaptação de neurotransmissores em nível neural. A noradrenalina e a dopamina são exemplos destes neurotransmissores, agindo diretamente no estímulo da vigília, ocasionando aprimoramento cognitivo, como aumento de concentração, foco e memória. O uso dessa substância gera um grande impacto na modulação dos neurotransmissores e reduz os danos cerebrais causados pelo estresse e ansiedade devido ao aumento de oxigenação e ação antioxidante, bem como diversos outros efeitos, sendo positivo ou negativo.

Embora o uso indiscriminado destas substâncias esteja cada vez mais presente em ambientes acadêmicos e de trabalho competitivo, comprovações científicas afirmam o malefício que suas altas dosagens podem ocasionar. A exposição a determinados fatores de risco pode desencadear o uso de substâncias, como a carga horária extensa, a necessidade de estudar frequentemente, a preocupação com o desempenho acadêmico, dentre outros.

A cafeína, principal objeto de estudo deste artigo, é identificada como um estimulante do sistema nervoso central, sendo, portanto, uma droga psicotrópica, que atua como antagonista competitiva contra os efeitos depressores da adenosina, outra substância que exerce uma importante atividade na regulação do sono, excitação, cognição, memória e aprendizado. A dose terapêutica contida em medicamentos varia entre 30 a 100 miligramas, enquanto a dose letal estabelecida em adultos é de 5 a 10 gramas, tanto por via oral ou endovenosa.

Conclui-se que a entrada dos jovens na universidade, pode se tornar um período crítico e de maior vulnerabilidade para o início do uso de substâncias estimulantes cognitivos. Entende-se que estudantes do pré-vestibular são os maiores consumidores destes psicotrópicos. Contudo, por não haver um controle para dispensação dessas substâncias, o uso indiscriminado é recorrente, levando ao consumo irracional de doses não recomendadas, e assim, gerando efeitos maléficos à saúde.Palavras-chave: cafeína; estudantes; foco; irracional; nootrópicos.

ABSTRACT

Nootropics, popularly known as “smart drugs”, are substances that act directly on the central nervous system, increasing the release or decreasing the reuptake of neurotransmitters at the neural level. Norepinephrine and dopamine are examples of these neurotransmitters, acting directly in the stimulation of wakefulness, causing cognitive improvement, such as increased concentration, focus and memory. The use of this substance has a great impact on the modulation of neurotransmitters and reduces brain damage caused by stress and anxiety due to the increase in oxygenation and antioxidant action, as well as several other effects.

Although the indiscriminate use of these substances is increasingly present in academic and competitive work environments, scientific evidence affirms the harm that high dosages can cause. Exposure to certain risk factors can trigger the use of substances, such as the long workload, the need to study frequently, the demands imposed by society and by the students themselves, the concern with academic performance, among others.

Caffeine, the main object of study in this article, is identified as a central nervous system stimulant, and is therefore a psychotropic drug that acts as a competitive antagonist against the depressant effects of adenosine, another substance that plays an important role in the regulation of sleep, excitement, cognition, memory and learning. The therapeutic dose in medications varies between 30 to 100 milligrams, while the lethal dose established in adults is 5 to 10 grams, either orally or intravenously.

It is concluded that the entry of young people into university can become a critical and more vulnerable period for the beginning of the use of cognitive stimulant substances. It is understood that pre-university students are the biggest consumers of these psychotropic drugs. However, because there is no control for dispensing these substances, indiscriminate use is recurrent, leading to irrational consumption of non-recommended doses, and thus generating harmful effects on health.Keywords: caffeine; students; focus; irrational; nootropics.

INTRODUÇÃO

Os nootrópicos ou “smart drugs” foram descobertos em 1972/1973 por Cornelius E. Giurgea, com a premissa de aumentar a função cognitiva, ampliando a sinalização neural. Estes teriam também o intuito de provocar estímulos nos neurotransmissores, tais como aumento da liberação ou diminuição da recaptação, impactando positivamente na melhoria de estímulos cognitivos (MALIK, 2022).

Com o objetivo de melhorar o desempenho, o seu uso indiscriminado se faz cada vez mais presente em universidades e ambientes de trabalho competitivos (BRANDÃO, 2020). São comercializados majoritariamente como suplementos, tornando-se de fácil acesso para compra e consumo (CASTRO,2020).

Desde a antiguidade, a cafeína era utilizada como um estimulante energético para reduzir a fadiga. A semente do café era muito utilizada para produzir esses tais efeitos em cabras. (GUERRA; BERNARDO; GUTIÉRREZ, 2011). Embora acredite-se que a cafeína tenha sido muito usada pelos seus efeitos farmacológicos através de plantas medicinais no passado, não há registros que marquem desde quando ela é usada. Apenas no século XIX, em 1819, com o encontro do físico Friedlieb Ferdinand Runge e do notável intelectual da época chamado Johann Wolfgang Von Goethe, finalmente fizeram a descoberta desta molécula, isolando-a e nomeando-a “cafeína” (WEINBERG; BEALER, 2002).

Atualmente, a busca pela melhoria de atividades cognitivas como foco, concentração, memória e maior desempenho cresce consideravelmente, sendo cada vez mais almejada pela sociedade. Os nootrópicos atuam diretamente no sistema nervoso central (SNC), agindo nos neurotransmissores e ocasionando aprimoramento cognitivo. Essa substância age de diversas formas, sendo: aumento do fluxo sanguíneo cerebral; proteção contra danos cerebrais; aumento do metabolismo cerebral; estimulação da liberação de dopamina, captação de colina e transmissão colinérgica. Os nootrópicos naturais usados como suplementação e que contém cafeína em sua composição ainda traz benefícios na eliminação de radicais livres, melhorando a oxigenação cerebral, têm efeitos anti-hipóxicos e protegem o tecido cerebral da neurotoxicidade (SULIMAN, 2016). 

A cafeína encontra-se em local de destaque, uma vez que é a mais estudada e conhecida no mercado, sendo amplamente consumida através do próprio café ou bebidas energéticas que possuem a cafeína em sua composição. Por sua vez, o uso excessivo deste composto químico pode ocasionar em malefícios ao sistema cardiovascular, entre outros problemas relacionados à saúde do ser humano (RIBEIRO, 2012).

Este artigo tem como intuito de aprofundar a compreensão sobre a influência do uso da cafeína como nootrópico nos dias atuais, entre jovens universitários e vestibulandos que buscam, muitas vezes de forma inconsequente, aprimoras sua performance cognitiva.


MÉTODOLOGIA

A metodologia adotada consistiu em uma revisão de literatura descritiva qualitativa, com o intuito de explorar os prejuízos clínicos associados ao uso irracional de nootrópicos.

Para a condução desta pesquisa e seleção criteriosa dos artigos científicos, recorreu-se às seguintes bases de dados: Google Acadêmico, SciELO e Repositório USP (ReP USP). As palavras-chave utilizadas foram escolhidas de maneira a abranger aspectos relevantes do tema, sendo elas: nootrópicos, cafeína, estudantes, foco e irracional.

Os critérios de inclusão adotados para a elaboração deste trabalho científico foram: selecionar artigos que estavam publicados nas plataformas mencionadas anteriormente, estar disponíveis nos idiomas português ou inglês, alinhar-se ao escopo temático proposto por esta pesquisa e terem sido publicados no intervalo temporal entre os anos de 2000 e 2023. Essa abordagem meticulosa visou garantir a relevância, atualidade e consistência dos estudos incorporados à análise, contribuindo para uma compreensão mais abrangente e fundamentada dos impactos do uso da cafeína como nootrópico no contexto acadêmico.

REVISÃO E DISCUSSÃO

EFEITOS E MECANISMO DE AÇÃO

A busca por substâncias que possam potencializar a inteligência tem sido historicamente uma aspiração significativa da humanidade. O emprego dessas substâncias para aprimorar o desempenho cognitivo é motivado pela necessidade de elevar os níveis de atenção e vigília, e essa prática tem se tornado cada vez mais comum, especialmente entre estudantes universitários, um grupo particularmente propenso a adotar essa abordagem nos tempos contemporâneos. (CONCEIÇÃO, 2019).

No contexto universitário, o uso de substâncias pelos estudantes é impulsionado principalmente pelo estresse, a competitividade presente no meio acadêmico, insatisfação em relação à memória, concentração e atenção, falta de energia e/ou fadiga, e a busca pela otimização do tempo. Nesse cenário, os chamados “nootrópicos” emergem como a categoria de substâncias mais frequentemente empregadas, englobando medicamentos como o metilfenidato (MPH), modafinil, piracetam e, de maneira comum nesse ambiente, a cafeína. (CONCEIÇÃO, 2019).

A cafeína é a substância farmacologicamente ativa mais comumente ingerida em todo o mundo. Ela está presente em bebidas, produtos que incluem cacau ou chocolate, e até mesmo em medicamentos. Devido à sua natureza farmacológica, diversos pesquisadores têm se dedicado ao estudo dos efeitos da cafeína no organismo humano e à sua possível associação com algumas doenças. Estudos experimentais e epidemiológicos apontaram relações entre o consumo de café e/ou cafeína e várias doenças crônicas. No entanto, é importante destacar que essas pesquisas ainda são motivo de controvérsias. (ALCÂNTARA, 2018).

Do ponto de vista químico, a cafeína faz parte do grupo das trimetilxantinas, geralmente categorizadas como derivadas da xantina. As metilxantinas constituem uma classe de alcaloides quimicamente inter-relacionados, distinguindo-se pela intensidade de sua ação estimulante no sistema nervoso central. A cafeína, apesar de não oferecer qualquer valor nutricional, é reconhecida como um ergogênico natural devido à sua presença em diversos produtos alimentícios amplamente comercializados e consumidos diariamente. (ALCÂNTARA, 2018).

A cafeína (trimetilxantina) é uma droga psicotrópica do grupo dos estimulantes do sistema nervoso central. Em geral, os seus efeitos sobre o organismo consistem em aumentar o estado de alerta e reduzir a sensação de fadiga, podendo aumentar a capacidade para realizar determinadas tarefas. A cafeína também possui efeitos reforçadores que podem ser parcialmente devidos à ativação do sistema dopaminérgico. Outra ação importante da cafeína é o estímulo à diurese, devido – entre outros mecanismos – ao aumento de glomérulos em funcionamento e do fluxo sanguíneo renal, ao elevar o gasto cardíaco (GUERRA; BERNARDO; GUTIÉRREZ, 2000).

Os nootrópicos, ao mesmo tempo que estimulam a função cognitiva, também deixam o cérebro mais saudável por diversas ações. O neurônio depende do fornecimento de oxigênio e nutrientes de forma contínua, tendo em vista esse ponto, um estudo comprovou que esses nootrópicos atuam como vasodilatadores, causando um aumento da circulação sanguínea para o cérebro (SULIMAN, 2016).

Atua como um psicoestimulante sendo antagonista competitivo da adenosina, uma substância que exerce uma importante atividade na regulação do sono, excitação, cognição, memória e aprendizado (Figura 1). Por sua vez, quando a cafeína se liga nesses receptores, bloqueia sua ação afetando indiretamente a liberação de norepinefrina, dopamina, acetilcolina, serotonina, glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA), podendo causar então alteração no humor, estado de alerta e função cognitiva (PARDO LOZANO et al., 2007).

Figura 1 – Estruturas químicas da cafeína e da adenosina

Ao contrário do que é anunciado, os nootrópicos não agem diretamente na ligação de receptores, contudo, melhoram a oxigenação devido a vasodilatação e o suprimento de glicose, sendo muito importante para o consumo de energia. Há a estimulação do metabolismo dos fosfolipídeos nas membranas neuronais, age na eliminação de radicais livres, diminuindo a inflamação e melhorando as funções cognitivas, impactando diretamente na memória e foco. (MALIK, 2022).


A cafeína passa por um processo de metabolização no fígado, iniciando com a remoção dos grupos metila 1 e 7, uma reação catalisada pelo citocromo P450 1A2. Isso resulta na formação de três grupos de metilxantina. Em nível celular, a cafeína atua como um antagonista competitivo dos receptores de adenosina e, possivelmente, tem efeitos diretos nos receptores para potencializar a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, desacoplando a atividade da ATPase no músculo esquelético. (ALCÂNTARA, 2018).

Quanto à absorção, a cafeína é rapidamente e eficientemente absorvida por via oral, passando pelo trato gastrointestinal, com aproximadamente 100% de biodisponibilidade. Após a ingestão, atinge seu pico de concentração na corrente sanguínea entre 15 e 120 minutos. (ALCÂNTARA, 2018).

Contudo, existe uma falta de consenso entre os acadêmicos quanto à aceitabilidade ética do uso desse tipo de substância, uma vez que há argumentos que sustentam que os neuro-aprimoradores podem criar desigualdades entre os estudantes. Essa controvérsia reflete uma discussão recente sobre o emprego de aprimoradores cognitivos para impulsionar o desempenho estudantil, como evidenciado pela maior parte dos estudos publicados nos últimos dois anos. A necessidade de uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos de ação e dos potenciais efeitos adversos dessas substâncias de neuro-reforço, amplamente utilizadas por estudantes universitários em todo o mundo, é evidente no cenário atual. Além disso, é imperativo investigar os impactos em longo prazo, especialmente entre estudantes saudáveis, para oferecer uma perspectiva mais abrangente sobre as implicações do uso dessas substâncias na esfera acadêmica. (CONCEIÇÃO, 2019).

Recentemente, há estudos que foram divulgados que além das ações citadas anteriormente, o nootrópico é capaz de estimular a liberação de dopamina, captação colinérgica e renovação da atividade fosfatase A2 (SULIMAN, 2016). Um ponto importante a ser citado é que a disfunção cognitiva está fortemente atrelada à diminuição da função colinérgica, e essa perda de função é responsável pela principal característica da doença de Alzheimer.

FORMAS FARMACÊUTICAS E DOSAGEM

Apresentando uma característica básica, sendo solúvel em água e etanol, pode encontrá-la nas seguintes formas físicas:  pó, em cápsulas (gelatinosas ou não) e líquida. Entretanto, sua concentração varia dependendo da forma que é manipulada e para qual fim é destinada (ANDRADE, 2023).

Tabela 1 – Formas farmacêuticas contendo cafeína disponíveis no mercado farmacêutico (BRASIL, 2003).

FORMA FARMACÊUTICACONCENTRAÇÃO DE CAFEÍNA
Comprimidos de Cafeína50 mg, 100 mg e 200 mg.
Cápsulas de Cafeína100 mg a 420 mg são as doses indicadas para função cognitiva. A cafeína em doses moderadas anteriormente citadas melhora o foco e a vigilância, e além disso, promove ação antioxidante contra os radicais livres, protegendo de danos e inflamação.
Pó de CafeínaGeralmente varia, por exemplo, 100% de cafeína em peso.
Bebidas EnergéticasVaria amplamente, geralmente entre 80 mg a 160 mg por porção de 250 ml.

 

A dose terapêutica da cafeína contida em medicamentos varia entre 30 a 100mg. Neste caso é necessário observar quando há uso de bebidas ou alimentos que contém cafeína. Doses grandes de cafeína podem acabar provocando ansiedade aguda e intensa, medos e crises. São expostos também casos de psicose aguda induzida pela cafeína (Geralmente doses >180mg). São listados também como efeitos colaterais comuns: taquicardia, problemas gástricos, tremor, tontura e insônia (RIBEIRO, 2010).

A dose letal estabelecida para a cafeína em adultos é de 5 a 10 gramas (via oral ou endovenosa). Uma intoxicação crônica pode ser demonstrada pelos sintomas: fraqueza muscular, náuseas, vômitos e hipocalemia. Há relatos de que doses elevadas (concentração plasmática maior que 50µM, o que equivale a, no mínimo, cinco e, no máximo, dez xícaras) podem promover tolerância, sendo comum a ocorrência de sensação de angústia, nervosismo e agitação. Entre os estudantes, observa-se uma maior prevalência do uso da cafeína, cujo efeito é considerado tão fisiológico que o indivíduo pode ser levado à dependência sem perceber. (GRIFFITHS RR, 2004).


A utilização indiscriminada e, em sua maioria, irresponsável de substâncias, muitas vezes devido à falta de supervisão profissional, suscita preocupações relacionadas à incerteza acerca de seu uso consciente. Dentro desse cenário, o conceito de neuro-reforço, que descreve a utilização de substâncias psicoativas sem orientação médica para aprimorar as funções cognitivas, está sujeito a contínuos debates, especialmente nos campos da epidemiologia e neuroética. A prática do neuro-reforço tem se expandido à medida que a administração dessas substâncias torna-se mais acessível, oferecendo potenciais benefícios que atraem aqueles que buscam tais objetivos. (CONCEIÇÃO, 2019).

As discussões em torno do neuro-reforço têm destacado questões de justiça e saúde, especialmente diante do suposto aumento na prevalência dessa prática entre os estudantes. A falta de supervisão profissional e a crescente facilidade de acesso às substâncias têm levado a reflexões sobre a equidade e os impactos na saúde daqueles que adotam o neuro-reforço como uma estratégia para melhorar o desempenho cognitivo. (CONCEIÇÃO, 2019).

UTILIZAÇÃO DA CAFEÍNA POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS


A transição dos jovens para o ambiente universitário representa uma mudança significativa nos hábitos e na cultura, tornando-se um período de vulnerabilidade para o consumo de substâncias psicoativas. Os estudantes que ingressam nas universidades destacam-se pelo uso dessas substâncias. Entretanto, há relatos de que o período de preparação para o ingresso na faculdade, como o cursinho pré-vestibular, é uma fase perturbadora para os alunos, devido ao ritmo de estudos diferenciado, resultando em níveis elevados de estresse e exaustão. A carga horária extensa, a necessidade de estudos incessantes e a pressão autogerada pelos alunos em relação ao futuro e ao desempenho acadêmico são fatores que podem contribuir para o estímulo do uso de substâncias psicoativas. A busca por manter-se acordado por mais tempo para atender às demandas de estudo propicia o recurso a estimulantes do sistema nervoso central. (CORTÊS, 2020).

É comum que universitários consumam a cafeína com o objetivo de auxiliar no foco e nos estudos, principalmente em épocas de prova, por exemplo. A exposição a determinados fatores de risco pode desencadear o uso de substâncias, como a carga horária extensa, a necessidade de estudar frequentemente, a cobrança imposta pela sociedade e pelos próprios estudantes, a preocupação com o desempenho acadêmico, dentre outros (LEMOS KM, 2007).  Por outro lado, existem os efeitos adversos, tais como o disparo negativo no humor e no sono, função fisiológica necessária para que nosso organismo possa exercer suas funções restauradoras durante este período.

Complementarmente, salienta-se que a cafeína pertence à categoria de alcaloides, sendo mais especificamente classificada no grupo das xantinas. Essa substância tem a capacidade de exercer efeitos no sistema nervoso central e na taxa metabólica basal dos organismos. Frequentemente, seu consumo pode resultar em dependência para aqueles que a consomem regularmente. (ALCÂNTARA, 2018).


Foi constatado um índice mais elevado de utilização de psicoestimulantes, como a cafeína, entre os candidatos a vestibulares em comparação ao grupo de estudantes universitários. No que diz respeito às diversas áreas de estudo no ensino superior, não foram identificadas disparidades significativas no consumo das substâncias que visam estimular o cérebro. É crucial ressaltar os danos potenciais associados ao uso prolongado de psicoestimulantes, especialmente a possibilidade de desenvolvimento de dependência e tolerância química. (CORTÊS et al. 2020).

Um estudo realizado em Minas Gerais, na cidade de Montes Claros, analisou condições associadas ao uso de psicoestimulantes em estudantes do ensino superior e pré-vestibulandos. Esta análise teve um campo amostral de 348 estudantes no total, sendo 296 universitários e 52 vestibulandos, contendo perguntas sobre o consumo de psicoestimulantes, que, além da cafeína, foram metilfenidato (Ritalina®), pó de guaraná, modafinil, piracetam, energético, anfetamina e ecstasy (SANTANA e col. 2020).

Os vestibulandos encontram-se em maioria, o que poderia indicar que é por conta da grande pressão que recebem na preparação para ingressar no ensino superior, acarretando a busca por mais foco e concentração nos estudos, e assim, utilizando destes nootrópicos para alcançar a vaga tão almejada. (SANTANA e col. 2020).

Por outro lado, um estudo feito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que o consumo de cafeína por colegiados de medicina é significativo. O estudo estimou um total de 257 alunos elegíveis para pesquisa, tendo 78% de adesão (n = 200), contando com alunos de medicina do primeiro ao quarto período. Dentre as substâncias abordadas, estavam a cafeína, metilfenidato (Ritalina®), modafinil, piracetam, bebidas energéticas, anfetaminas e MDMA (ecstasy). (MORGAN e col. 2017).

Na pesquisa foi encontrado que as substâncias mais consumidas foram, respectivamente, bebidas energéticas (38%; n = 76) e cafeína (27%; n = 54), considerando a ingestão de cafeína mais de cinco vezes durante a semana. Ademais, o consumo regular de cafeína possuiu sobre o raciocínio dos usuários um efeito benéfico em 64,7% (n = 51), enquanto 37% dos que não tinham tal regularidade de consumo, assim como o bem-estar dos estudantes, mostrou-se também que 64,7% (n = 51) obtiveram efeito positivo, diferentemente de 42,6% (n = 33). (MORGAN e col. 2017).


Quanto à eficácia da cafeína, alguns especialistas argumentam que seu potencial de aprimoramento se limita a certas áreas de desempenho, como a memória, sendo eficaz somente em doses específicas. Em relação ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), pesquisas recentes apontam a cafeína como uma ferramenta terapêutica promissora para melhorar os sintomas cognitivos e emocionais, sugerindo a necessidade de estudos adicionais que explorem adequadamente esse potencial por meio de um ajuste cuidadoso das doses de cafeína. (CONCEIÇÃO, 2019).

Contudo, no contexto de adultos jovens que consomem concentrações elevadas de cafeína, alguns autores alertam que esse hábito pode ter impactos negativos na duração e no ciclo do sono, possivelmente resultando em um desempenho acadêmico geralmente mais baixo ao longo do tempo. Para compreender os mecanismos subjacentes aos efeitos estimulantes da cafeína no sistema nervoso central, é conhecido que a substância, de maneira resumida, é capaz de mobilizar o cálcio intracelular, inibir fosfodiesterases e antagonizar receptores de adenosina. Essa compreensão mais aprofundada desses mecanismos é crucial para uma avaliação mais precisa dos impactos da cafeína em diferentes contextos e condições de saúde. (CONCEIÇÃO, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, analisando o uso dos nootrópicos, percebe-se a facilidade de comercialização no mercado farmacêutico. A falta de controle de dispensação por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é um fator que contribui para o uso indiscriminado dessas substâncias. No contexto estudantil, é fundamental adotar uma abordagem equilibrada em relação ao consumo de cafeína. Em vez de depender exclusivamente dessa substância, os alunos devem priorizar práticas saudáveis, como sono adequado, alimentação balanceada e exercícios físicos. O entendimento de que os nootrópicos, incluindo a cafeína, não substituem hábitos de vida saudáveis é crucial para promover uma abordagem consciente em relação ao seu uso.  Em última análise, a educação sobre o uso responsável de substâncias como a cafeína é essencial para garantir que os estudantes possam maximizar seu potencial acadêmico de maneira segura e sustentável.

REFERÊNCIAS

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BRANDÃO, E, R. CASTRO, B. Aprimoramento cognitivo e uso de substâncias: um estudo em torno da divulgação midiática brasileira sobre “smart drugs” e nootrópicos. TEORIA E CULTURA. UFJF v. 15 n. 2 Julho. 2020.

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¹Discente do oitavo semestre do Curso de Farmácia da Universidade Anhembi-Morumbi. Colaboradora da empresa Lumiar Healthcare, desempenha atividades com Sistemas de Qualidade, Análise de Dados, Comunicação e Inovação

²Discente do oitavo semestre do Curso de Farmácia da Universidade Anhembi-Morumbi. Possui conhecimento na área magistral da farmácia, tanto na área laboratorial quanto comercial

³Discente do oitavo semestre do Curso de Farmácia da Universidade Anhembi-Morumbi. Colaborador na Pharmácia Millenium, com experiência em homeopatia e controle de qualidade

4Discente do oitavo semestre do Curso de Farmácia da Universidade Anhembi-Morumbi. Possui experiência na área hospitalar (logística e clínica), com ênfase em comunicação com pacientes e colaboradores

5Discente do oitavo semestre do Curso de Farmácia da Universidade Anhembi-Morumbi. .