USO TERAPÊUTICO DA CANNABIS MEDICINAL NA DOR CRÔNICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7878709


AUTORES:
Camila Raffa Reinalde1
Julia Carvalho Costa2
Kely Centurião3
Nathalia Morais de Souza Pitaluga4
Vitor Barbosa Vieira5

COAUTORES
Arthur de Lima Ramires Almeida6
Carlos Alberto Feitosa dos Santos.7
Daisson José Trevisol8
Daniel Aparecido dos Santos9
Daniella Gomes Rodrigues de Morais10
Jiliélisson Oliveira de Sousa11
Kelly Santos Gonçalves12
Lucas Henrique de Souza Lopes13
Luiz Eduardo Takenouchi Goulart14
Matheus Victor da Cruz Temoteo15
Renan Guilherme Martioli16
Vítor Gabriel de Lima Simplicio17

ORIENTADOR: Rodrigo Daniel Zanoni18


RESUMO

Introdução: A dor crônica faz parte de uma das queixas mais prevalentes na população mundial. Atualmente, esse fato move a comunidade cientifica a realizar estudos para avaliar alternativas que contribuem para o tratamento da dor crônica. Por isso, a Cannabis Medicinal (CM) vem ganhando espaço na sociedade e é uma opção viável no que tange a discussão do seu uso terapêutico. Objetivo: Evidenciar os possíveis usos terapêuticos dos componentes presentes na planta Cannabis no manejo da Dor Crônica (DC). Métodos: Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa, elaborada a partir de trabalhos científicos acerca da ação da Cannabis Medicinal (CM) no processo de analgesia como uma alternativa para o tratamento da dor crônica. Foram considerados artigos originais e completos publicados em português, espanhol e inglês nos últimos dez anos, de 2013 até 2023, obtidos nas plataformas SCIELO, PUBMED e LILACS. Resultados: Os estudos atuais disponíveis sobre a eficácia dos canabinoides no tratamento da dor crônica são de qualidade variável, por isso existe uma grande necessidade de mais pesquisas. Algumas evidências sugerem que a Cannabis Medicinal pode ser útil no manejo da dor crônica e oncológica, mas não há informações claras para recomendar o uso de canabinoides na prática clínica. No entanto, os canabinoides parecem ser uma opção promissora e potencialmente benéfica, principalmente para os casos que não respondem aos tratamentos convencionais. Conclusão: A partir dos estudos analisados, evidencia-se que apesar da Cannabis Medicinal ser potencialmente benéfica para o tratamento da dor crônica, ainda é necessária a realização de mais pesquisas para elucidar plenamente como funcionaria sua utilização na prática clínica.

Palavras-chave: Uso Terapêutico da Cannabis. Dor Crônica. Revisão Integrativa.

ABSTRACT

Introduction: Chronic pain is one of the most prevalent complaints in the world population. Currently, this fact drives the scientific community to conduct studies to evaluate alternatives that contribute to the treatment of chronic pain. Therefore, Medicinal Cannabis (MC) is gaining space in society and is a viable option regarding the discussion of its therapeutic use. Objective: To demonstrate the possible therapeutic uses of the components present in the Cannabis plant in the management of Chronic Pain (CP). Methods: This is an integrative literature review, elaborated from scientific works about the action of Medicinal Cannabis (MC) in the process of analgesia as an alternative for the treatment of chronic pain. Original and complete articles published in Portuguese, Spanish, and English in the last ten years, from 2013 to 2023, obtained from the SCIELO, PUBMED, and LILACS platforms were considered. Results: The current available studies on the efficacy of cannabinoids in the treatment of chronic pain are of variable quality, so there is a great need for more research. Some evidence suggests that Medicinal Cannabis may be useful in the management of chronic and oncological pain, but there is no clear information to recommend the use of cannabinoids in clinical practice. However, cannabinoids seem to be a promising and potentially beneficial option, especially for cases that do not respond to conventional treatments. Conclusion: From the analyzed studies, it is evident that although Medicinal Cannabis is potentially beneficial for the treatment of chronic pain, further research is still needed to fully elucidate how its use would work in clinical practice.

Keywords: Therapeutic Use of Cannabis. Chronic Pain. Integrative Review.

RESUMEN

Introducción: El dolor crónico es una de las quejas más prevalentes en la población mundial. Actualmente, este hecho impulsa a la comunidad científica a realizar estudios para evaluar alternativas que contribuyan al tratamiento del dolor crónico. Por lo tanto, el Cannabis Medicinal (CM) está ganando espacio en la sociedad y es una opción viable en lo que respecta a la discusión de su uso terapéutico. Objetivo: Demostrar los posibles usos terapéuticos de los componentes presentes en la planta de Cannabis en el manejo del Dolor Crónico (DC). Métodos: Esta es una revisión bibliográfica integrativa, elaborada a partir de trabajos científicos sobre la acción del Cannabis Medicinal (CM) en el proceso de analgesia como alternativa para el tratamiento del dolor crónico. Se consideraron artículos originales y completos publicados en portugués, español e inglés en los últimos diez años, de 2013 a 2023, obtenidos en las plataformas SCIELO, PUBMED y LILACS. Resultados: Los estudios actuales disponibles sobre la eficacia de los cannabinoides en el tratamiento del dolor crónico son de calidad variable, por lo que existe una gran necesidad de más investigaciones. Algunas evidencias sugieren que el Cannabis Medicinal puede ser útil en el manejo del dolor crónico y oncológico, pero no hay información clara para recomendar el uso de cannabinoides en la práctica clínica. Sin embargo, los cannabinoides parecen ser una opción prometedora y potencialmente beneficiosa, especialmente para los casos que no responden a los tratamientos convencionales. Conclusión: A partir de los estudios analizados, se evidencia que a pesar de que el Cannabis Medicinal es potencialmente beneficioso para el tratamiento del dolor crónico, aún se necesita realizar más investigaciones para dilucidar plenamente cómo funcionaría su utilización en la práctica clínica.

Palabras clave: Uso Terapéutico del Cannabis. Dolor Crónico. Revisión Integrativa.

INTRODUÇÃO

A dor é um sintoma desconfortável que leva sofrimento físico e mental ao indivíduo, envolvendo diversos mecanismos fisiológicos de complexa compreensão, sendo um sinal indicativo de algum problema presente no organismo. Pode ser classificada quanto a intensidade (leve, moderada, intensa), ao local (periférica, somática, visceral ou central), a causa (neuropática, nociplástica, mista ou nociceptiva) e a duração (aguda ou crônica) (RAJA et al, 2021).

A Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) define a dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão” (RAJA, et al, 2020).

A dor crônica é definida como dor que persiste por mais de três meses. É um quadro multifatorial decorrente de diversas etiologias, como fibromialgia, lombalgia inespecífica, dor crônica relacionada ao câncer, dor neuropática crônica, dor visceral crônica, dor crônica pós-traumática e pós-cirúrgica, cefaleia crônica, dor orofacial e dor musculoesquelética secundária crônica, referente a uma doença subjacente (TREEDE et al, 2019).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a dor crônica afeta cerca de 30% da população mundial e constitui um dos principais fatores de morbidade, e é a condição que lidera o ranking de anos vividos com incapacidade globalmente. Desse modo, pelo fato da dor crônica se tratar de uma condição que impacta a qualidade de vida de muitas pessoas, existe grande interesse de buscar novos tratamentos para amenizar o impacto dela.

Nesse sentido, a Cannabis Medicinal (CM) vem ganhando espaço, uma vez que já foi associada a um possível benefício em múltiplas patologias, com ênfase em doenças de ordem neurológica e/ou psíquica, incluindo a dor crônica (SAMPAIO et al, 2021).

Os canabinoides são compostos químicos chamados fitocanabinóides quando derivados da cannabis, como Δ-9-tetrahidrocanabidinol (THC) e canabidiol (CBD). Eles são ainda classificados em sintéticos, como as drogas nabilona, dronabinol e nabiximols, e endógenos, como N-araquidonoiletanolamina (anandamida, AEA) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG)1 conhecidos como endocanabinoides. Estes, juntamente com seus receptores e as enzimas responsáveis por seu metabolismo, compõem o sistema endocanabinoide (SEC) (NAROUZE et al, 2020).

Os receptores canabinoides melhor caracterizados são CB1 (receptor canabinoide 1) e CB2 (receptor canabinoide 2), que são receptores acoplados à proteína G (RAPG). Uma de suas funções é inibir a liberação de neurotransmissores. para ajudar ou impedir a liberação de citocinas. A maior concentração de CB1 está no sistema nervoso central (SNC) e a de CB 2 está no sistema imunológico, podendo ser regulado positivamente em resposta a lesões e inflamações (HU et al, 2015).

Diante disso, o presente artigo teve como objetivo analisar os potenciais benefícios da Cannabis Medicinal no tratamento da dor crônica por meio de uma revisão integrativa da literatura.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa da literatura, elaborada a partir de trabalhos científicos acerca da ação da Cannabis no processo de analgesia como uma alternativa para o tratamento da dor crônica.

A busca foi realizada a partir de Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) em inglês, combinados entre si por operadores booleanos: “Chronic pain”, “Medicinal Cannabis” e “Therapeutic use cannabis”. Foram analisados artigos originais e completos publicados em português, espanhol e inglês nos últimos dez anos, de 2013 até 2023, obtidos nas plataformas Scientific Electronic Library Online, (SCIELO), National Library of Medicine (PUBMED) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Como critérios de exclusão foram considerados: artigos publicados anteriormente a 2013, dissertações, teses, monografias, artigos não disponibilizados integralmente, além de pesquisas que não eram especificas e/ou satisfatórias para o tema após ler o resumo e a introdução. Assim, foram utilizados esses dados com o intuito de revisar e analisar os estudos referentes à temática abordada.

A seleção e extração de artigos foram feitas por todos os autores de forma coletiva e seguidas por etapas sistematizadas. Iniciou-se a busca com o total de 1118 artigos retirados das bases de dados citadas (SCIELO, PUBMED e LILACS). Adiante, foram excluídos 179 artigos por terem sido publicados antes de 2013, restando 939 artigos. Desses, foram excluídos outros 554 artigos por meio de filtros aplicados contendo apenas artigos em português, inglês e espanhol com texto completo, além de serem feitas leituras de resumo e conclusão do artigo para selecionar aqueles que se adequassem com o tema proposto, restando 385 artigos. Por fim, foram realizadas leituras mais profundas dos artigos, focando nos resultados e na discussão para excluir aqueles que fugissem do tema, restando apenas 10 artigos. Não houve divergências nas etapas do processo. A quantidade de artigos selecionados está resumida na Figura 1.

Figura 1: Seleção de artigos

Fonte: Autores (2023).

Tabela 1 – Artigos selecionados nas bases de dados

TítuloAutores/ anoResultados
Efficacy and analgesic potency of cannabinoids considering current available data  MORAIS M.V, et al (2023).Os dados atualmente disponíveis ainda não são contemplados com alto grau de evidência de qualidade, sendo necessário mais estudos para definir a eficácia e o poder analgésico dos canabinoides.
Cannabis and pain: a scoping review  RUIZ C.P, et al (2021).Há evidências limitadas que apoiam a eficácia de medicamentos à base de Cannabis, mas não existem dados suficientes para recomendar os canabinoides na prática clínica.
Evidência científica actualizada del tratamiento con cannabis medicinal en pacientes con dolor crónicoJF García-Henares, J de Santiago-Moraga (2022).Existem evidências de qualidade alta ou moderada de que o uso de canabinoides está associado a uma melhora pequena ou muito pequena da dor, na capacidade física e na qualidade do sono em pacientes com dor crônica.
Canabinoides na dor crónica: uma revisão baseada na evidência.SILVA R.G, et al (2021).A evidência para a utilização de canabinoides na dor crônica é limitada, com mais benefícios nas dores crônicas de origem neuropática e oncológica, e menos benefícios para as dores crônicas reumatológicas.
El cannabis en el dolor crónico ¿una indicación respaldada por evidência científica?CODAS M, et al (2018).A falta de estudos clínicos bem desenhados e delimitados implica na diminuição de evidências satisfatórias para avaliar a real eficácia da Cannabis para o tratamento médico da dor crônica.
Therapeutic applications based on cannabinoids actionSÁNCHEZ R.P, et al (2019)O conhecimento atual sugere que os canabinoides parecem ser uma nova alternativa para o combate da dor que não responde aos tratamentos medicamentosos clássicos.
Medicinal cannabis in the treatment of chronic painHENDERSON L.A, et al (2021).As evidências atuais não apoiam, mas também não refutam a eficácia e segurança dos canabinoides no tratamento da dor.
The Effects of Cannabis Among Adults With Chronic Pain and an Overview of General Harms: A Systematic Review  NUGENT S.M, et al (2017).Evidências limitadas sugerem que a Cannabis pode aliviar a dor crônica de origem neuropática, mas existem poucas informações em relação a outros tipos de dor.
Medical Cannabis for Chronic Noncancer Pain: A Systematic Review of Health Care Recommendations  CHANG Y, et al (2021)Existem apenas recomendações fracas para cannabis medicinal em pacientes com dor crônica não oncológica, como terapia de terceira ou quarta linha. Faz-se necessária uma discussão entre médico e paciente acerca dos benefícios e possíveis efeitos adversos do uso.
Cannabis-Based Products for Chronic Pain – A Systematic Review  MCDONAGH M.S, et al (2022)Produtos de cannabis sintéticos orais com THC e CBD podem estar associados a melhorias de curto prazo na dor crônica.
Fonte: Autores (2023).

RESULTADO E DISCUSSÃO

A dor crônica é o motivo de uso medicinal da Cannabis mais comumente declarado pelos pacientes. É responsável por 90% das autorizações de cannabis medicinal na Europa e nos Estados Unidos (LIJARCIO, 2015). O uso de cannabis pode bloquear a transmissão do impulso nervoso em diferentes níveis (neurônios periféricos, medula espinhal e cérebro). Os canabinoides demonstraram eficácia em alguns tipos específicos de dor crônica, como dor neuropática associada à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, lesões na medula espinhal, esclerose múltipla e dor de origem oncológica (WHITING et al, 2015).

Em março de 2021, a IASP (Associação Internacional para o Estudo da Dor) emitiu uma declaração de que o uso de canabinoides para o tratamento da dor não poderia ser suportado naquele momento devido à falta de evidências de pesquisa de alta qualidade. Acrescentou ainda que não se podem descartar as experiências vividas por pessoas com dor que se beneficiaram com o uso de canabinoides. Por isso, as evidências atuais “nem apoiam nem refutam alegações de eficácia e segurança de canabinoides, cannabis ou medicamentos à base de cannabis no tratamento da dor” (HAROUTOUNIAN et al, 2021)

Ainda assim, há uma necessidade de compreensão dos canabinoides e seus efeitos nos receptores do SNC. A sua compreensão, pode nos mostrar seu uso terapêutico de forma norteadora, visto que, os receptores endocanabinoides atuam de forma diferente em cada área do SNC, parecendo ser uma nova alternativa para combater a dor e outros sintomas que não respondem ao tratamento medicamentoso clássico. Além disso, ele pontua a escassez de medicamentos disponíveis prejudicando sua evidência e estudos. Dessa forma, estudos visando o uso terapêutico que se deseja dar a cannabis são necessários (PLANCARTE-SÁNCHEZ et al, 2019).

O uso da cannabis como forma medicinal deve ser levada em consideração para o manejo da dor crônica, colocando seus riscos e benefícios em consideração.  Deve-se reconhecer que os efeitos a longo prazo da cannabis medicinal, potenciais interações medicamentosas e eficácia em diferentes tipos de dor permanecem apenas parcialmente compreendidas (HENDERSON et al, 2021).

Uma parcela relevante de revisões sistemáticas modernas reforça que os medicamentos à base de canabinoides (CBM) podem ser eficazes em alguns casos de dor crônica, especialmente na dor neuropática. No entanto, pelo fato do grau de evidência limitado, eles devem ser recomendados como tratamentos de terceira ou quarta linha (CHANG Y et al, 2021).

Sabe-se que os opioides são a classe de medicamentos mais utilizados para analgesia na prática clínica. No entanto, são relatados muitos efeitos adversos potencialmente graves no seu uso indiscriminado e a longo prazo. Nesse sentido, a aplicação de canabinoides no tratamento da dor crônica ganhou relevância, já que um estudo recente demonstrou que existe uma probabilidade de redução do consumo de opioides na dor crônica, quando a cannabis medicinal (MC) é associada ao tratamento, lembrando que a dose ideal para esse uso não é descrita (OKUSANYA et al, 2020).

Demonstrou-se que o CBM pode ser uma opção adjuvante em paciente com dor neuropática em tratamento de estimulação medular, com possíveis resultados no que se refere à diminuição da dor e melhora do sono (ODONKOR et al, 2022).

Um estudo controlado e randomizado com uma amostra pequena resultou em pequenos efeitos analgésicos no uso de cannabis vaporizada (LEE et al, 2018). De forma coadjuvante, um outro estudo realizado evidenciou que a cannabis inalada pode reduzir a dor neuropática crônica a curto prazo em um a cada 5 a 6 pacientes (ANDREAE et al, 2015).

Em relação aos efeitos adversos, o estudo COMPASS avaliou a segurança do uso da cannabispara fins médicos comparando pacientes com dor crônica intensa usando THC em 12,5% versus pacientes que não usavam a substância. O estudo concluiu que não houve grande diferença em relação aos efeitos adversos graves entre os grupos, porém o grupo que usou THC apresentou eventos adversos não graves, como sonolência, amnésia, tosse, náusea, tontura, humor eufórico, hiperidrose e paranoia (CHOI et al, 2018).

Por meio de uma revisão sistemática de 6 ensaios clínicos aleatorizados em doentes com dor não oncológica, concluiu que houve benefício no alívio da dor com baixas doses de cannabis medicinal. Acrescentaram que os efeitos adversos a curto prazo foram bem tolerados, porém os eventos psicoativos e neurocognitivos não permanecem claramente elucidados (DESHPANDE A, et al 2015).

Em conclusão, segundo a metanálise dos pesquisadores Marian S. McDonagh, et al.; as intervenções orais, sintéticas, com alta proporção de THC para CBD e sublinguais, extraídas de plantas, comparáveis com THC para CBD podem estar associadas a melhorias de curto prazo na dor crônica principalmente neuropática e aumento do risco de tontura e sedação. As evidências sobre outros produtos são insuficientes ou inexistentes. São necessários estudos sobre os resultados a longo prazo e uma avaliação mais aprofundada dos efeitos da formulação do produto (MCDONAGH et al, 2022).

CONCLUSÃO

O uso terapêutico da Cannabis no tratamento de doenças crônicas é um assunto recente que vem sendo difundido e discutido na contemporaneidade. Dessa forma, os trabalhos científicos estão mais concentrados em países desenvolvidos e com maior flexibilização de leis. Sendo assim, ainda há poucas evidências cientificas que preenchem as lacunas desconhecidas quanto ao uso da Cannabis Medicinal. 

Uma das lacunas visualizadas ao longo da pesquisa foi a falta de identificação/proporção da dose necessária THC e CBD, juntamente com o tipo de produto utilizado, ou seja, a natureza da Cannabis e sua forma de administração, como óleo, spray, orais, etc; além do tipo de extração da droga in natura ou sintética.

De acordo com os dados da literatura colhidos no presente trabalho, conclui-se que a Cannabis Medicinal (CM) possui relação significativa com a dor crônica, sendo potencialmente benéfica. No entanto, apesar da crescente produção de conhecimento científico sobre o tema, é necessário que mais estudos clínicos e pré-clínicos sejam realizados, a fim de estabelecer critérios rigorosos para o seu uso na prática clínica e compreender de forma mais ampla os efeitos adversos no organismo humano, principalmente a longo prazo.

Para que isso aconteça, é imprescindível que as legislações que tangem o uso medicinal da Cannabis sejam mais flexíveis, possibilitando a produção cientifica mais eficaz, por meio de estudos experimentais sistematizados com maior nível de evidência.

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1Acadêmica de Medicina na Universidade de Rio Verde Campus Rio Verde – GO

2Graduada em Medicina pelo Centro Universitário de Mineiros Campus Trindade – GO

3Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Campo Grande – MS

4Graduada em Medicina pelo Centro Universitário São Lucas, Porto Velho – RO

5Acadêmico de Medicina na Universidade de Rio Verde Campus Rio Verde – GO

6Acadêmico em Medicina no Centro Universitário CESMAC – AL.

7Mestrando em Psicologia na Universidade Ibirapuera – SP.

8Graduado em Farmácia. Pós-Graduado em Ciências da Saúde
Universidade do Sul de Santa Catarina.

9Graduado em Medicina na Escuela Latinoamericana de Medicina – ELAM – Havana / Cuba. Revalidação pela Universidade de Brasília UnB. Especialista em Saúde Indígena na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Especialista em Medicina de Família e Comunidade pelo Hospital de Amor Barretos – SP.

10Graduada em Medicina na IMEPAC – MG.

11Graduado em Medicina na Universidade Federal da Paraíba – PB.

12Acadêmica de Enfermagem na Faculdade Anhanguera de Governador Valadares – MG.

13Graduado em Medicina na Universidade Católica de Brasília – DF.

14Mestrando em Administração na Universidade de São Caetano do Sul – SP.

15Graduado em Medicina na Uninassau Campus Recife – PE.

16Acadêmica em Medicina na Universidade Brasil – SP.

17Graduado em Medicina na Uninassau Campus Recife – PE.

18Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Pós Graduado em Dermatologia /Pós Graduado em Cirurgia Dermatológica pelo Instituto BWS. Mestre em Saúde Coletiva pela Faculdade São Leopoldo Mandic Campinas