USO TERAPÊUTICO DA CANNABIS EM PACIENTES ONCOLÓGICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12510530


Lais Faustino Mendes;
Orientadora: Profª. Dra. Claudia Umbelina Baptista Andrade.


RESUMO

Introdução: O câncer é uma das doenças crônicas que mais aumentou sua incidência no Brasil e no mundo ao longo dos anos, segundo Instituto Nacional do Câncer (INCA), nos próximos três anos serão esperados mais de 2 milhões de novos diagnósticos de câncer. Objetivo: buscar evidências científicas sobre o uso terapêutico e medicamentoso da planta Cannabis sativa integrado ao tratamento do câncer. Métodologia: foi desenvolvida uma revisão narrativa de literatura. Resultados: verificou-se se a relevância deste composto no controle de náuseas e vômitos e atividade analgésica, além da ação antitumoral e diminuição da insônia, ansiedade e depressão. Conclusão: apesar de apresentar atividades terapêuticas comprovadas  por  pesquisas,  há  a necessidade  de  mais  estudos  para  melhorar  a  compreensão  sobre  o  fármaco,  assegurando  a  eficácia  e  segurança  da utilização da Cannabis.

Palavras-chave: Cannabis, câncer, canabidiol, oncologia, maconha medicinal.

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the combination of the marijuana substance that is used as “medical marijuana” for the treatment of cancer patients who have used several medications and have not obtained satisfactory results. The research was carried out using the ScientificElectronic database (Scielo), indexed in the Virtual Health Library (VHL), National Library of Medicine (NIH) and Google Scholar. Therefore, the following combination of words was previously evaluated as the most relevant key terms: cannabis, cancer, treatment. To carry out the search, a combination of Boolean operators will be used based on the following structure: cannabis AND cancer. This combination will be used with the aim of collecting as many articles as possible. 100 articles were found, only 4 of which met all eligibility criteria. The active ingredient extracted from Cannabis is tetrahydrocannabinol (Δ9-THC) and cannabidiol (CBD). Among the articles that were selected, CBD proved to be quite significant in improving the lives of cancer patients. Analyzing the 4 studies, it is concluded that the active ingredient CBD from Cannabis associated with cancer patients’ regular medications improves patients’ symptoms and quality of life, ensuring that the process is less painful. Although CBD shows promise as an adjuvant treatment, more research is needed to establish standardized dosages and interactions with conventional cancer therapies.

Keywords: Cannabis, cancer, cannabidiol, oncology, medical marijuana.

1 INTRODUÇÃO

O câncer é uma das doenças crônicas que mais aumentou sua incidência no Brasil e no mundo ao longo dos anos, segundo Instituto Nacional do Câncer (INCA), nos próximos três anos são esperados mais de 2 milhões de novos diagnósticos de câncer. A dor costuma ser um dos principais obstáculos no tratamento do câncer, pois também sofrem com efeitos colaterais que piora a qualidade de vida do paciente.

O uso medicinal da Cannabis Sativa é relatado há milênios de anos para o tratamento da dor, inflamação e náuseas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) seu uso terapêutico não existe o risco de ocasionar dependência, desde que seja utilizada com prescrição e acompanhamento médico (CONTE, 2022).

Um recente estudo de derivados de canabinoides traz novas perspectivas de uma frente da ação da medicina através da modulação do Sistema Endocanabinóide, onde a terapia canabinoide atua como coadjuvante no tratamento oncológico proporcionando melhor qualidade de vida aos pacientes, uma vez que através da ativação de receptores CB1 no sistema nervoso central o THC pode reduzir a dor, estimular o paladar e diminuir efeitos colaterais da quimioterapia. Vale ainda ressaltar que o canabidiol não cura, contudo atua ajudando a trazer uma melhor qualidade de vida aos pacientes (FRANCISHETTI,2006).

Diante da proporção que o câncer vem tomando na sociedade, os estudos sobre a atuação da Cannabis Sativa em pacientes oncológicos trás para comunidade um olhar ampliado para novos métodos de tratamento e também um avanço significativo da terapêutica dos portadores da doença. O uso da medicação poderá beneficiar o paciente agindo no sistema endocabinoide como um agente pró-inflamatorio, demonstrando ser capaz de controlar a resposta inflamatória exacerbada de neutrófilos (KHUJA, et al 2019). Vale ressaltar que além do alivio da dor, também tem seus efeitos farmacológicos a ação anti-nociceptiva, antiepilética, imunossupressora, anti-inflamatória, estimulante do apetite, além dos efeitos positivos na ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Estudos indicam que dentre os pacientes que estão no início do tratamento, 30% sentem dor, já os pacientes com câncer avançado é de 60% a 90%, sendo que, a dor é considerada um fator limitante da qualidade de vida, visto que impõem limitações, física, mental, social e espiritual (LESSA; CAVALCANTI; FIGUEIREDO, 2016).

O objetivo deste estudo foi buscar evidências científicas sobre o uso terapêutico e medicamentoso da planta Cannabis sativa integrado ao tratamento do câncer.

2 REFERENCIAL TEÓRICO:

A Cannabis sativa é uma planta da família das Canabiáceas, integram a mesma família outras espécies, como a Cannabis indica e a Cannabis ruderalis. Apesar de nativa do Centro e Sul da Ásia, mantém facilidade de adaptação às diversas condições e é cultivada em várias regiões do mundo. Com os primeiros registros de sua utilização datadas de 2800 a.C. na China, a planta apresenta caules fibrosos e de grande durabilidade, sendo empregada na produção de papéis, cordas, fios para confecção de vestuário, além de ser propícia para a extração de óleo, o qual é utilizado para produção de tintas, sabão e óleo comestível. Outra vertente é o consumo recreativo, geralmente através de inalação do produto da queima de suas flores secas ou da utilização de seu extrato em produtos alimentícios e chás. Porém, a finalidade que mais se destaca é a medicinal, sendo objeto de estudos no mundo todo (CINTRA, 2019).

A planta possui mais de 80 tipos de canabinoides diferentes, assim denominadas as substâncias e compostos ativos presentes na Cannabis. Dentre eles, os mais utilizados são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocannabinol (THC).(CINTRA, 2019). E dentre inúmeros fitoterápicos, a Cannabis sativa é uma planta considerada como uma das ervas mais antigas e cultivadas pelo homem.

Quadro 1- Classificação Botânica da Cannabis

Nome da Espécie:Cannabis sativa L.
Reino:Plantae (Planta)
Sub-reino:Tracheobionta (planta vascular)
Subdivisão:Spermatophyta (planta com sementes)
Divisão:Magnoliophyta (planta com flores)
Classe:Magnoliopsida (Dicotiledônea)
Subclasse:Hamamelididae
Ordem:Urticales
Gênero:Cannabis L.
Especie:Cannabis sativa L
Subespécie:Sativa indica ruderalis, spontanea.

Entre  as subespécies mais populares, a Cannabis sativa é considerada a mais cultivada mundialmente e a que apresenta maior quantidade de componentes psicoativos, acredita-se que seja também a mais sedativa. A Cannabis ruderalis é uma espécie desprovida de componentes psicoativos. A Cannabis indica ,tem menor concentração destes elementos em relação à Cannabis sativa (PETRY, 2015).

A cannabis tem vários sinônimos, entre eles: maconha, cânhamo, marijuana, daga, diamba, liamba, fumo de Angola, skank e outros. Pertencente à família Cannabaceae, a Cannabis sativa L. (Figura 1) foi classificada em 1753 por Carl Linnaeus. Também é reconhecida uma série de variedades para as espécies, incluindo Cannabis indica, Cannabis americana, Cannabis chinensis, Cannabis erratica, Cannabis ruderalis, e outras. Comumente todas as plantas são denominadas como Cannabis sativa L. (INZUNZA; PEÑA, 2019; LÓPEZ et al., 2014; ROCHA et al., 2020). O gênero Cannabis é classificado como uma planta anual, predominantemente dioica, monoespecífica (CHANDRA et al., 2017).

Figura 1 – Cannabis sativa L.

O sistema endocanabinóide é neuromodulador e imunomodulador, onde os receptores CB1 e CB2 tem função essencial para homeostase, termorregulação, memória, funções cognitivas, controle de movimentos e sono, aprendizado, resposta emocional e resposta à dor. Os receptores CB1 são mais abundantes e são predominantes no sistema nervoso, especialmente no cérebro. Os receptores CB2 são encontrados em maior parte no sistema imunológico, principalmente nas células B e T e também são encontrados nas células da micróglia (FONSECA et al., 2013).

O sistema endocanabinóide, é um sistema de sinalização constituído de receptores, ligantes endógenos e enzimas metabolizadoras. Os principais componentes do sistema endocanabinóide são: receptores canabinoides CB1 e CB2; ligantes endógenos (endocanabinoides) anandamida e 2- araquidonoilglicerol (2-AG); enzimas metabólicas: ácido graxo aminohidrolase (FAAH) e lipase monoacilglicerol (MAGL). Os receptores CB1 estão localizados, principalmente, no sistema nervoso central, e em menor grau, em alguns tecidos periféricos. Já os receptores CB2 estão expressos na superfície de células imunológicas (DARIS et al., 2019).O estudo de Daris et al (2019), demonstraram a importância do sistema endocanabinoide e dos endocanabinoides em diversos processos fisiológicos e patológicos, como regulação excitatória e inibitória da transmissão sináptica no sistema nervoso central, apetite, sinalização nociceptiva, analgesia, imunomodulação e sinalização de células cancerígenas (DARIS et al., 2019).

A partir de estudos sobre o sistema endógeno e os canabinóides da planta foi observado que o potencial terapêutico da planta poderia ser uma alternativa para os pacientes que buscam outros tipos de tratamento para suas patologias como doenças neurodegenerativas desempenhado uma ação neuroprotetora, no tratamento de distúrbios alimentares, como um tratamento de insônia, ansiedade e depressão (RIBEIRO, 2014)

O uso da Cannabis sativa tende a reduzir o número de prescrições de opioides, que vem triplicando em todo o mundo nos últimos anos. Opioides não são uma farmacoterapia ideal para dor crônica, onde apresenta efeito de hiperalgesia gradual, fazendo com que os pacientes aumentem a dosagem dos opioides ao longo dos anos. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, aponta que a “cannabis medicinal reduz a dependência de opioides em pacientes com dor crônica”, publicado pela revista científica especializada Cannabis – Publication of the Research Society on Marijuana.

A Cannabis sativa tem grande potencial para se tornar uma das melhores alternativas para dores crônicas a serem incorporadas em programas de acesso em todo país. A Abrace Esperança é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2014 com o objetivo, não apenas de dar apoio às famílias que precisam de um tratamento com a Cannabis Medicinal, como também apoiar pesquisas sobre o uso da planta. A partir desta, se abre novas oportunidades para estudos onde baseia-se na utilização da erva para fins medicinais.

E de acordo com o PL89/2023, a política assegura o direito ao medicamento, nacional ou importado a base de Cannabis para uso medicinal, em associação com outras substâncias canabinoides, incluindo o tetrahidrocanabidiol, nas unidades de saúde públicas e privadas conveniadas ao SUS.

Vários estudos comprovam que as diferentes propriedades e características da cannabis contêm diferentes combinações de canabinóides. Por isso, estudiosos relatam efeitos medicinais diferentes ao utilizar cepas diferentes.

O Quadro 2  mostra os efeitos terapêuticos de algumas destas substâncias:

Quadro  2: efeitos terapêuticos de diferentes combinações de canabinóides

NomeCaracterísticas Terapêutica
THCÈ o principal composto psicoativo da cannabis. Também responsável pelo estado de euforia associado ao uso de planta, contudo tem efeitos medicinais, como a redução de náuseas e vômitos.
CBDÉ capaz de produzir muitos benefícios físicos e prevenir convulsões e aliviar a enxaqueca.
CBNO canabinol (CBN) é usado para aliviar os sintomas e efeitos colaterais das condições neurológicas, incluindo epilepsia, convulsões e rigidez muscular incontrolável.
THCAO ácido tetra-hidrocanabinol (THCA) é semelhante ao THC, mas não causa efeitos psicoativos. Seus benefícios potenciais incluem a redução da inflamação causada por artrite e doenças autoimunes. Também pode ajudar a reduzir sintomas de condições neurológicas como a doença de Parkinson e a ELA.
CBGAcredita-se que o cannabigerol (CBG) ajude a reduzir a ansiedade e os sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático e depressão.

Conforme apresentado no Quadro 2, a partir a partir das diversas substâncias diferentes na composição da cannabis, tem-se uma grande variedade de efeitos em sintomas e doenças. (HONÓRIO; ARROIO; SILVA, p.319, 2006). 

Assim, os benefícios associados ao uso, são a redução da dor, aumento de apetite e melhora na qualidade de sono. Cannabis Sativa ou maconha tem em sua classificação terapêutica, enquadrada na classe dos sedativos. (CONRAD 2001).

Como se observa, diversos estudos evidenciam a eficácia terapêutica dos compostos da Cannabis Sativa como tetraidrocanabidiol (THC) e canabidiol (CBD), bem como o efeito dos demais produtos naturais presentes na espécie, para o tratamento de várias enfermidades (BORILLE, 2016).

MÉTODOLOGIA:

Foi desenvolvida uma revisão narrativa de literatura, que segundo Fonseca (2002),  é feito por meio de levantamento de referenciais teóricos que foram publicados  em meios escritos e eletrônicos como livros, artigos científicos e página da web local na rede Internet com o objetivo de reunir informações ou conhecimentos prévios sobre a questão para a qual se busca a resposta. Esse método de revisão tem como base evidências científicas e é considerado um instrumento eminente no âmbito da saúde. Feito pelos acessos as bases de dados ScientificElectronic (Scielo), indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), National Library of Medicine (NIH), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Google Acadêmico, em português e inglês por meio das palavras chave: Cannabis, câncer, canabidiol, oncologia, maconha medicinal.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Segundo Paulo e Abreu (2015), quando falamos em Cannabis, associamos diretamente a maconha, como é conhecida no Brasil. A Cannabis é de origem asiática e possui muitas peculiaridades em termos de solo, clima e altitude. É uma planta anual, o que significa que tem a propriedade de germinar, florescer e morrer em um período aproximado de 12 meses. A maconha é uma planta germinada a partir de uma pequena semente que, com a ajuda de luz e água, pode crescer em uma planta de até 4 metros de altura.

Segundo estudo de Paulo e Abreu (2015), a Cannabis é uma planta que contém cerca de 400 substâncias, das quais 60 pertencem a um grupo classificado como canabinóides. Essas substâncias podem ser divididas em substâncias psicoativas e não psicoativas. O Delta-9-Tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) é a principal substância psicoativa, assim como o Canabidiol (CBD) tem efeito terapêutico e não possui efeitos psicoativos. Desde o isolamento do delta-9-tetrahidrocanabinol e do canabidiol, houve um maior interesse em conhecer essas substâncias para uso médico.

Estudos afirmam que existem três tipos de receptores canabinóides, nomeadamente CB1, CB2 e CB3. Eles pertencem à família de receptores acoplados à proteína G e, juntamente com os receptores ionotrópicos e glutamatérgicos, são os receptores acoplados à proteína G mais comuns no sistema nervoso central (PAULO; ABREU, 2015). Em relação aos pacientes com câncer, Mayer et al (2015) mostraram que os medicamentos utilizados no tratamento desses pacientes apresentam efeitos colaterais que afetam o estado emocional do indivíduo.

Estudos mostram que a maconha tem sido de grande ajuda em pacientes com câncer, produzindo efeitos satisfatórios em tratamentos pós-quimioterapia, devido ao efeito semelhante ao da morfina, ou seja, efeito sedativo. Além dos efeitos positivos na saúde humana, a planta também possui efeitos tóxicos que podem afetar o comportamento e a psique de seus usuários, tudo depende da dose utilizada, regra para todas as drogas existentes (LIMA; ALEXANDRE; SANTOS, 2021).  

Em um estudo retrospectivo de 244 usuários de cannabis com dor crônica, houve uma redução de 64% no uso de opioides, menos efeitos colaterais e aumento na qualidade de vida. Em outra pesquisa realizada com 2897 pacientes, 97% relataram que a dor foi significativamente reduzida além de diminuir o uso de outros fármacos (KLECKNER et al, 2019).

Quanto aos efeitos colaterais da cannabis, em estudos com o uso de 15 e 20 mg de THC mostraram: confusão mental (2%), sonolência (14%), tonturas (12%), hipotensão (0%) e náusea (7%) dos pacientes. Nem todos os efeitos colaterais foram experimentados por todos os pacientes, mas esses efeitos tendem a se tornar mais prevalentes com o aumento das doses (BLAKE, 2017). No entanto, os autores concluiriam que a cannabis parece ser uma solução eficaz no tratamento para pacientes com dor oncológica.

Evidências clínicas sustentam o uso da Cannabis para tratar náuseas, perda de apetite, dor e neuropatia periférica relacionadas à quimioterapia. Estudos indicam seu potencial em aliviar desconfortos gastrointestinais, ansiedade e distúrbios do sono, independentemente do câncer.

Segundo a médica Paula Dall’Stella, fundadora e CEO da Sativa Global Education, empresa de capacitação em medicina endocanabinoide, médicos que banalizam a prescrição da Cannabis medicinal colocam a saúde de pacientes em risco. Segundo ela, os derivados da planta podem contribuir no tratamento de muitas doenças, mas devem ser indicados com seriedade devido aos efeitos adversos. A fala ocorreu  durante o 10º Congresso do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. Dall’Stella explica que os canabinoides não são indicados para todos os casos. Conhecida pela capacidade de atuar no sistema endocanabinoide —responsável pela regulação de uma série de processos no corpo—, a Cannabis medicinal pode interagir com outros remédios usados pelo paciente, causando efeitos adversos e podendo até mesmo levar à morte.

Segundo os especialistas, é comum ver pacientes que, ao utilizar canabinoides, conseguem retirar vários medicamentos do dia a dia. É o caso de Ana Márcia, 25,  diagnosticada com leucemia, ela buscou o óleo de Cannabis desde o início da quimioterapia. Não conseguiu pelo SUS e buscou associações de pacientes e médicos particulares para iniciar o tratamento. Quando começou a usar o produto, parou com remédios alopáticos, como a Quetiapina e o Vonau.

A atividade analgésica exibida por compostos canabinóides vem sendo amplamente estudada. A classe de fármacos analgésicos é uma das mais vendidas no mundo, gerando centenas de bilhões de dólares. Historicamente, alguns compostos alucinógenos, como o ópio e a morfina, têm sido associados à analgesia. De acordo com a portaria SAS/MS nº 1083, de 02 de outubro de 2012, os opióides possuem regulamentação para terapia de dores crônicas, a partir de degrau 2 e 3 no Degrau da Escala Analgésica da Organização Mundial de Saúde (OMS) (Ministério da Saúde, 2012).

Através de estudos com voluntários sadios foi descoberto a capacidade do CBD em reduzir a ansiedade e inibir os efeitos causados pelas psicoses, utilizando 1 mg/kg de canabidiol por via oral juntamente a uma dose de 0,5 mg/kg do Δ9-THC. Essa combinação resultou na redução significativa da ansiedade e dos sintomas psicóticos desencadeados pelo Δ9- THC, notando-se também que seus níveis plasmáticos não foram modificados pelo CBD, sugerindo, assim, um efeito ansiolítico e antipsicótico próprio do CBD (Matos et al., 2017). Além disso, segundo Moreira e Grieb (2009), foi observado que a administração de doses baixas de Δ9-THC com ação agonista em receptores CB1 resultou em efeitos ansiolíticos, enquanto as doses altas promoveram comportamentos ansiogênicos. Esta ação decorre da ativação de receptores do tipo CB1, TRPV1 e 5TH1a (Blessing et al., 2015).

Segundo Matos (2017), em alguns estudos envolvendo pacientes com dor crônica ocasionada pelo tratamento do câncer, submetidos à terapia analgésica poupadora de opioides observou que a suplementação analgésica a base de Cannabis resultou redução da dor, espasmos musculares, melhora do humor e da qualidade do sono e aumento da disposição dos pacientes. Em outros estudos, foi observado que em usuários de cannabis com dor crônica houve uma redução satisfatória da dor e do uso de opioides, menos efeitos colaterais e aumento na qualidade de vida, além de diminuir o uso de outros fármacos.

Uma pesquisa específica sobre tumores cerebrais malignos (gliomas) analisou a ação antitumoral canabinóide. Os gliomas apresentam altas taxas de morbidade e mortalidade, provenientes de células gliais, são caracterizados pelo conjunto de tumores primários heterogêneos do sistema nervoso central (SNC). Apesar dos avanços no diagnóstico e das novas formas de tratamento, diante os gliomas existentes o glioblastoma é o mais constante e perigoso apresentando um prognóstico complicado, por isso são necessárias novas oportunidades para o desenvolvimento de terapias efetivas para gliomas malignos. (Silva et al., 2010).

Segundo pesquisas realizadas pela AACR (American Association for Cancer Research) a utilização do THC inibe a proliferação de células malignas causadoras de câncer de mama. O artigo descreve o procedimento e seus resultados, que consistiu em várias linhas de células de mama humana incubadas juntamente com o THC e estimou-se o número de células viáveis. Como resultado, a diminuição na proliferação em todas as células tumorais testadas, sendo as mais sensíveis ao TSH aquelas com o fenótipo mais agressivo (ER). E as células saudáveis foram as mais resistentes ao tratamento canabinóide, não alterando assim, o perfil do ciclo celular das células epiteliais mamárias humanas (Caffarel, Sarrió, Palacios, Guzmán, Sánchez, 2006).

Alguns medicamentos à base de cannabis receberam liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para serem vendidos nas farmácias e podem ser adquiridos por meio de um receituário especial. Para fazer uso desses medicamentos é preciso ter acompanhamento e prescrição de um médico, de preferência com expertise no assunto.

CONCLUSÃO

Este estudo nos permitiu entender os benefícios da utilização da Cannabis sativa para finalidades medicinais em pacientes oncológicos, onde se observa uma série de consequências negativas na vida dos pacientes, sendo necessário ir atrás de outras alternativas que complementam o tratamento.

Com limitações do estudo, entende-se que é escasso as pesquisas sobre o tema escolhido, que especifiquem resultados obtidos com os pacientes. É preciso mencionar também sobre o preconceito em relação ao uso medicinal da maconha, principalmente no uso recreativo da maconha. Neste sentido, a pesquisa apresenta indícios de que o uso da Cannabis sativa usada em pacientes com câncer, trouxe alívio de alguns sintomas como: náusea, vomito, dores, entre outros. O uso medicamentoso da Cannabis apresenta segurança e seu uso de ver indicado por profissionais qualificados.

A pesquisa possibilitou o aumento de novos conhecimentos sobre os efeitos colaterais da maconha em relação aos pacientes oncológicos. Deste modo, recomenda- se novos estudos a fim de comprovar os benefícios fitoterápicos da planta, e também quebrar diversas barreiras e preconceitos sobre tal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os canabinóides têm potencial para complementar efetivamente o tratamento paliativo do câncer devido à sua segurança e versatilidade. Mudanças legais e sociais permitirão estudos mais precisos sobre os benefícios e riscos da Cannabis, adaptando doses e métodos de administração.

Evidências clínicas sustentam o uso da Cannabis para tratar náuseas, perda de apetite, dor e neuropatia periférica relacionadas à quimioterapia. Estudos indicam seu potencial em aliviar desconfortos gastrointestinais, ansiedade e distúrbios do sono, independentemente do câncer.

A utilização da cannabis de forma medicinal no alívio de sintomas oncológicos pode oferecer uma abordagem eficaz para pacientes em tratamento contra o câncer. Embora mais pesquisas sejam necessárias para compreender completamente suas propriedades medicinais, os resultados iniciais são promissores.

Apesar do crescente apoio, são necessários estudos controlados para definir o papel específico da Cannabis no tratamento do câncer, incluindo tipo, dose e método de entrega ideais. Com acompanhamento médico adequado, a cannabis medicinal pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes e proporcionar alívio para os sintomas associados ao câncer.

REFERÊNCIAS

Fonseca, J. J. S. [s.d.] (2002). Apostila de metodologia da pesquisa científica. João José Saraiva da Fonseca

BALBINO, M. A. Estudo do comportamento eletroquimico do Δ9 tetraidrocanabinol derivatizado com Fast Blue B. 2014. Tese (Doutorado em Quimica) – Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Ribeirao Preto, Universidade de Sao Paulo, Ribeirao Preto.

PETRY, L. dos. S. Estudo analitico experimental e comparativo de amostras de maconha apreendidas no municipio de Santa Cruz do Sul-RS. 2015. 61p. Monografia (Bacharel em Farmacia) – Universidade de Santa Cruz do Sul. Santa Cruz do Sul.

LESSA, M.A et al. Derivados canabinoides e o tratamento farmacologico da dor. Revista Dor, v. 17, n. 1, Sao Paulo, janeiro/marco de 2016.

KLECKNER, A.S et al. Oportunidades para a cannabis nos cuidados de suporte no cancer. Oncologia Medica, v. 11, p. 1-29, agosto de 2019.

BLAKE, A et al. Uma revisao seletiva da maconha medicinal no tratamento da dor do cancer. [s.l.] Editora AME, v. 06, marco de 2017.

Honório, K. M., Arroio, A., & Silva, A. B. F. D. (2006). Therapeutical aspects of compounds of the plant Cannabis sativa. Química Nova, 29, 318-325.

https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4828/1/PPG_20204.pdf

https://www.scielo.br/j/sausoc/a/9tJ7FDcg56PLDkkhDWsvT8D/#ModalScimago

https://www.scielo.br/j/sausoc/a/9tJ7FDcg56PLDkkhDWsvT8D/#ModalScimago

https://www.scielo.br/j/sausoc/a/9tJ7FDcg56PLDkkhDWsvT8D/#ModalScimago

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/mais-de-10-milhoes-de-pessoas-morrem-todos-os-anos-por-

https://revistas.unifoa.edu.br/cadernos/article/view/4207/3056

https://www.scielo.br/j/pe/a/6RNgwhmwtkGbXFqFpdx9MQr/