USO IRRACIONAL DE PSICOESTIMULANTES EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os10202411251046


Gustavo Oliveira De Araújo 
Maria Eduarda Souza Da Silva 
Pablo Pessoa Dos Reis Oliveira
Pamela Cristina Nascimento Bastos
Orientador: Prof. Msc. Amanda B. Carvalho
Coorientador: José Dantas


Resumo

O estudo explora o uso inadequado de psicoestimulantes entre estudantes universitários no Brasil, abordando os fatores que incentivam essa prática e os efeitos adversos associados. Psicoestimulantes, como metilfenidato, modafinil e cafeína, são amplamente utilizados para aumento do foco e desempenho acadêmico, especialmente entre estudantes da área de saúde, que enfrentam pressão acadêmica intensa. Apesar dos benefícios percebidos, o uso indiscriminado desses fármacos apresenta sérios riscos, como dependência, insônia e taquiarritmias. Utilizando metodologia PRISMA para análise sistemática de artigos, o estudo identifica que, além do ganho temporário de atenção, o uso prolongado pode acarretar problemas de saúde significativos. A pesquisa recomenda ações educativas e regulamentares para conscientizar os estudantes sobre os riscos envolvidos e propõe o papel do farmacêutico na orientação e monitoramento do uso desses medicamentos, promovendo um uso racional e seguro.

Palavras-Chave: Psicoestimulantes, Uso irracional, Estudantes universitários, Brasil, Efeitos adversos.

Abstract

This study examines the inappropriate use of psychostimulants among university students in Brazil, highlighting the factors driving this practice and its associated adverse effects. Psychostimulants like methylphenidate, modafinil, and caffeine are widely used to enhance focus and academic performance, especially among health science students under high academic pressure. While these drugs offer short-term cognitive benefits, their indiscriminate use poses serious risks, including dependency, insomnia, and tachyarrhythmias. Following the PRISMA methodology for systematic review, the study reveals that beyond temporary focus improvements, prolonged use may lead to significant health issues. It recommends educational and regulatory measures to raise awareness of the associated risks and underscores the pharmacist’s role in guiding and monitoring medication use, promoting rational and safe usage among students.

Keywords: Psychostimulants, Irrational use, University students, Brazil, Adverse effects.

  1. INTRODUÇÃO

Os medicamentos excitantes do sistema nervoso central (SNC), comumente conhecidos como psicoestimulantes, são elementos orgânicos e artificiais que atuam impulsionando as funções do cérebro com o intuito de promover um pico de concentração máxima e capacidade de compreensão, aumentando a habilidade para absorção de conhecimento (Oliveira et al., 2023). Apesar de existir uma variedade de estimulantes cerebrais, tais como metilfenidato, modafenil e anfetaminas, eles vão possuir uma ação de mecanismo diversificada, no entanto, iram atuar através da dopamina, de forma direta e indireta, associado a excitação, sensação de recompensa e principalmente, foco (Júnior et al., 2021). O estudo de Sá et al., (2018) aborda que os indivíduos que utilizam os medicamentos de forma não-médica, obtiveram diretamente de parentes ou profissionais que foram “enganados” pelos próprios pacientes, por meio de formas fraudulentas.

Além das opções de medicamentos, existe também uma alternativa orgânica muita utilizada pelos acadêmicos, a cafeína. Uma substância que participa da composição de diversos produtos que fazem parte da rotina dos estudantes, como o café e refrigerantes. O que é tido como fator para utilização desse produto, coincide com a tentativa de camuflar o cansaço e a abstenção do sono com o intuito de maximizar a capacidade de compreensão e modo de vigilância, no entanto, o uso indiscriminado pode acarretar o desenvolvimento de taquiarritmias e desordens (Oliveira et al., 2023).

Nos últimos anos, criou-se um grande interesse pelo assunto de psicoestimulantes, dado que os acadêmicos da área da saúde, devido a um conhecimento de fácil acesso a várias substâncias estimulantes, são apontados como uma coletividade desprotegida e suscetível ao uso irracional desses fármacos. As organizações de educação devem suprir um papel de guiar e orientar projetos e políticas no meio acadêmico, com o fito de interromper o uso indiscriminado dos psicoestimulantes, visto que há uma ligação entre o uso de substâncias excitantes com o uso de outras drogas, tais como maconha, cocaína e álcool (Júnior et al., 2021).

Fica evidente que esses fármacos estimulantes apresentam a força de potencializar o processo acadêmico, o que atrai estudantes acadêmicos a esse uso excessivo e irracional dessas substâncias, então é fundamental a criação de planos e programas públicos com o fito de propor uma conscientização e melhoria na característica de vida desse coletivo, assim como, ajudá-los a entender o desejo fisiológico de cada pessoa (Júnior et al., 2021).

Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho é investigar o uso indevido de psicoestimulantes por estudantes universitários, identificando os fatores motivacionais e os efeitos adversos associados, por meio de uma revisão sistemática da literatura, buscou-se discutir as circunstâncias que levam os estudantes universitários ao uso de psicoestimulantes para fins de neuroaperfeiçoamento, identificar os psicoestimulantes mais utilizados e seus efeitos desejados e identificar os efeitos adversos físicos e psicológicos relacionados ao uso indevido desses medicamentos em indivíduos saudáveis.

  1. METODOLOGIA

Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sistemática seguindo as recomendações da metodologia PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), que orienta os autores a relatar revisões sistemáticas e meta-análises de forma transparente e completa. 

A seleção dos artigos foi realizada por meio de buscas em bases de dados como Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-MS) e ScienceDirect. Foi utilizado o método booleano de busca avançada nos meios de busca para refinar e tornar a pesquisa mais precisa e eficiente, empregando os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): “psicoestimulantes” AND “irracional” OR “não medicinal” AND “efeitos adversos” AND “estudantes’’ AND “Brasil”. Também foram utilizados os termos correspondentes em inglês: “psychostimulants” AND “irational” OR “non-medical” AND “adverse reactions” AND “students” AND “Brazil”, para ampliar os resultados da pesquisa. 

A seleção dos artigos foi baseada em seus títulos, resumos e ano de publicação. Foram incluídos artigos online de acesso livre, publicados nos últimos 14 anos (2010-2024), nos idiomas português, espanhol e inglês. Foram considerados artigos dos tipos observacionais, descritivos, prospectivos ou retrospectivos, além de ensaios clínicos, relatos e séries de casos. Para a análise dos dados, os artigos selecionados foram avaliados na íntegra e sintetizados de forma sistemática e crítica. Os dados relevantes serão extraídos e organizados em tabelas.

Tabela 1: Tabela dos critérios de inclusão e exclusão

Critérios de inclusãoCritérios de Exclusão
Artigos sobre uso de psicoestimulantes porindivíduos saudáveisArtigos sobre uso de psicoestimulantes emindivíduos com TDAH e TEA
Estudos em estudantes brasileiros quecursam o ensino superior e vestibulandosEstudos em crianças e profissionaisgraduados
Estudos que utilizaram dados qualitativos ouquantitativos confiáveis e verificáveisEstudos de revisão sistemática
Artigos que abordam o impacto do usoirracional de psicoestimulantes na saúde mental e física dos estudantesArtigos que não investigam a relação do uso psicoestimulantes e a saúde dos estudantes

Fonte: Os autores (2024).

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O objetivo deste Fluxograma é apresentar o processo de seleção de dados. Durante a fase inicial de identificação, foram coletados 101 relatos de quatro bases de dados: Scielo (10), BVS (4) PubMed (6) e Science Direct (81). Durante a fase de seleção, 10 relatos foram excluídos por apresentarem duplicação. Dos 91 restantes, 65 foram excluídos por estarem fora do tema ou objetivo da pesquisa, restando 26 para análise de elegibilidade. Durante a fase de elegibilidade, foram excluídos 12 textos completos com a justificativa de não estarem no idioma desejado. Assim, foram incluídos 14 relatos.

Figura 1: Fluxograma de seleção de dados

Fonte: Os autores (2024).

A tabela a seguir apresenta uma síntese dos artigos selecionados nesta pesquisa, os estudos incluídos foram identificados nas bases de dados BVS, SciELO, PubMed e BVS, abordando diferentes aspectos como circunstâncias que levam os estudantes universitários ao uso de psicoestimulantes, psicoestimulantes mais utilizados e os efeitos adversos físicos e psicológicos relacionados ao uso indevido desses medicamentos. Os artigos foram selecionados para fornecer uma visão ampla e detalhada da experiência clínica e científica com desta prática, incluindo ensaios clínicos, estudos prospectivos e análises descritivas que trazem dados valiosos sobre seus benefícios e potenciais riscos.

Tabela 2: Descrição metodológica dos estudos incluídos nesta revisão.

CITACOESTÍTULOTIPO DEESTUDOSOBJETIVOSRESULTADOS ECONCLUSOES
Cândido et al., 2021Uso de Estimulantes do Sistema Nervoso Central por Estudantes de Saúde do Sertão de Pernambuco.Estudo transversal e abordagem quantitativaAvaliar o uso de estimulantes do sistema nervoso central por estudantes de saúde no município de Serra Talhada, Pernambuco, especialmente o uso de substâncias como hipnóticos, Ginkgo biloba, ritalina (metilfenidato), bebidas energéticas e cafeína.O uso irracional de estimulantes do sistema nervoso central entre estudantes de saúde é um problema crescente, considerado uma questão de saúde pública devido aos riscos associados à saúde mental e física.

Delgado et al., 2018
As abordagens de aprendizagem superficial eprofunda estão associadas aos padrões eescolhas deestudo entre estudantes       demedicina? Um estudo transversalEstudo TransversalInvestigar as associações das abordagens de aprendizagem superficial e profunda com padrões de estudo, tipo preferido de método de avaliação, práticas de trapaça e qualidade do sono entre estudantes de medicinaO estudo descobre que entre os 710 alunos incluídos, 43% estudavam frequentemente na noite anterior a um exame, 65% usaram psicoesti- mulantes para estudar e mais de 46% trapacearam em um exame. O tipo de abordagem de aprendizagem foi associado a padrões de estudo e escolhas entre estudantes de medicina.

Junior et al., 2021
Consumo depsicoestimulantes por estudantes demedicina de uma universidade do extremo sul do BrasilEstudo QualitativoAnalisar a evolução do consumo de psicoestimulantes pelos acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) durante quatro anos.Entre 2015 e 2018, o uso depsicoestimulantes entre acadêmicos subiu de 58% para 68%. O início do consumo durante a faculdade aumentou de 15% para 30%, com a taxa chegando a 38% no quarto ano. O metilfenidato foi o principal responsável pela alta, passando de 21% para 56%. Concluiu-se que o uso desses medicamentos é elevado e percebido como eficaz, dificultando o controledo uso indevido.

Pereira et al., 2022
Elevada prevalência de consumo inadequado de psicoestimulantes por universitários da área da saúde / Alta prevalência de uso inadequado de psicoestimulantes entre estudantes da área da saúdeEstudo de prevalênciaO objetivo deste estudo foi identificar a prevalência e traçar o perfil dos estudantes que fazem uso de psicoestimulantes como automedicação, além de analisar os fatores relacionados a esse comportamento.Os resultados revelaram que a maioria dos participantes utilizava essas substâncias com o objetivo de melhorar o desempenho acadêmico. Observou-se um predomínio de mulheres, com média de idade de 24 ± 4,5 anos, sendo a maioria matriculada no curso de Medicina, entre o quinto e o oitavo período, em tempo integral. Verificou-se que morar com a família foi um fator protetor contra esse comportamento. A cafeína foi identificada como a substância mais consumida, o que contribuiu para a alta prevalência de uso de psicoestimulantes na amostra.
Nazarudin et al., 2024The Short-Term Effect of Caffeine Consumption on Reading PerformanceEstudo transversal experimental.Investigar os efeitos do consumo de cafeína no desempenho de leitura em termos de acuidade e velocidade em jovens adultos.O consumo moderado de cafeína pode melhorar a velocidade de leitura, sem prejudicar a acuidade, em jovens adultos.
Nida, Muhamad, Jufri, 2017MDMA (Ecstasy) AbuseRelatório de pesquisafornecer uma visão abrangente sobre o uso e abuso de MDMAO MDMA possui riscos significativos à saúde, tanto no curto quanto no longo prazo, especialmente quando usado em ambientes extremos ou em combinações com outras substâncias.

Pires et al.,2018
O uso de substancias psicoestimulantes sem devida prescrição medica por estudantes Universitários.Estudo TransversalDeterminar a utilização de medicamentos psicoestimulantes, sem necessidade médica, pelos estudantes de Medicina da Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGCOC) da Ubá-MG.Entre os resultados analisados, 99 (52,94%) usam substâncias psicoestimulantes, com o metilfenidato sendo o mais comum (56,56%). O uso inicia-se frequentemente na faculdade (66,66%) e ementa nas vésperas de provas (88,1%).    Embora    84,21%relatem maior concentraçãocom o uso, 69,73% enfrentam efeitos colaterais, dos quais apenas 37,73% interrompem o uso. O estudo confirma queo consumo não prescrito é prevalente e que o curso de Medicina pode ser um fator de risco devido ao acesso facilitado ou ao conhecimentosobre o mecanismo da droga.
Rodrigues et al., 2021Uso não prescrito de metilfenidato por estudantes de uma universidade brasileira: fatores associados, conhecimentos, motivações e percepçõesEstudo epidemiológico seccional.Investigar os conhecimentos, motivações, percepções e o perfil de uso não prescrito de metilfenidato por estudantes de uma Universidade Federal de Minas Gerais, além de analisar fatores associados ao uso.O uso não prescrito de metilfenidato entre estudantes universitários é impulsionado principalmente pela busca por melhor desempenho acadêmico. Este comportamento é mais prevalente entre homens e aqueles que se envolvem em muitas atividades. O estudo alerta para os riscos à saúde associados a esse uso indevido, enfatizando a necessidade de conscientização e estratégias de intervenção.

Santana, et al., 2020
Consumo de Estimulantes Cerebrais porEstudantes      emInstituições de Ensino de Montes Claros/MGEstudo quantitativoanalisar o uso de substâncias psicoativas por estudantes de graduação e pré- vestibulandos, de Montes Claros-MFoi identificada uma maior prevalência do uso de psicoestimulantes entre os pré-vestibulandos emcomparação aos universitários, com a cafeína e o pó de guaraná sendo os mais consumidos. Entre os pré-vestibulandos, observou- se uma frequência significativamente maior na adoção de dietas e no uso de medicamentos indutores do sono. 
Silva;Caldeira, 2020O uso de psicoestimulantes do tipometilfenidato entre acadêmicos De umainstituição superior de ensino de minas geraisEstudo descritivo, transversalInvestigar a prevalência do uso de psicoestimulantes entre acadêmicos de uma instituição de ensino superior da região da Zona da Mata de Minas Gerais, avaliando as motivações para o uso, formas de consumo e aquisição e os efeitos sentidos pós consumo.O estudo revela que o uso de psicoestimulantes é comum entre estudantes de Medicina e Direito, com o metilfenidato sendo o mais usado. Os alunosfrequentemente utilizam essas substâncias sem receita médica, motivados pela busca de melhor desempenho acadêmico. Apesar de alguns relatórios de efeitos colaterais como náuseas e humor deprimido, muitos consideram que o uso atende suas expectativas. Esse consumoindiscriminado       é       umapreocupação de saúde pública.
Takeda, 2023Uso Indiscriminado do Venvanse®Boletim informativoInformar o público sobre os riscos do uso indiscriminado de Venvanse®.O uso de Venvanse® aumentou significativamente no Brasil entre 2020 e 2022, com a venda de caixas duplicando no período, o que levou a uma escassez temporária do produto no mercado. O medicamento, inicialmente utilizado para tratar TDAH e transtornos de compulsão alimentar, se popularizou como “droga da moda” entre jovens estudantess, que buscam melhorar a concentração e a performance.
Tozzi et al., 20Uso de psicoestimulantes em estudantes do curso de Odontologia de uma universidade privada do sul de Minas GeraisEstudo quantitativoO estudo teve como objetivo detectar o uso de fármacos psicoestimulantes pelos estudantes do curso de Odontologia de uma universidade privada do sul de Minas Gerais.Nesse estudo, 74,5% dos entrevistados afirmaram utilizar ao menos uma substância psicoestimulantes, como, cafeína, bebidas energéticas, cloridrato de metilfenidato, entre outrosO uso elevado de psicoestimulantes sem prescrição médica é preocupante e representa um problema de saúde pública. É essencial avaliar os impactos desse uso, restringindo-o e tornando o diagnóstico mais rigoroso, especialmente com o aumento do TDAH em crianças e adolescentes. O sistema público de saúde e as universidades devem conduzir pesquisas e intervenções sobre o consumo desses medicamentos, implementando medidas preventivas devido aos riscos à saúde.
Trigueiro; Leme, 2024Estudantes e o doping intelectual: vale tudo na busca do sucesso no vestibular?Estudo qualitativoAnalisar o fenômeno do uso de medicamentos para aprimoramento cognitivo, conhecido como doping intelectual, dentro do contexto da medicalização e medicamentalização.Esse estudo revela que a maioria considerou positivo o uso desses medicamentos, mostrou curiosidade em relação à substância e afirmou que faria uso, caso tivesse acesso, para garantir energia e concentração nas atividades. Os resultados deste estudo ressaltam a importância de se compreender a percepção dos jovens sobre este tema para que se possa orientarfuturas intervenções.

Fonte: Autores (2024)

3.1 PSICOESTIMULANTES MAIS UTILIZADOS E SUES EFEITOS DESEJADOS      

Entre os psicoestimulantes mais populares no ambiente universitário, destacam-se a cafeína, o MDMA, o metilfenidato, as bebidas energéticas e as anfetaminas. Embora atuem de diferentes maneiras, esses estimulantes têm em comum o fato de interagirem com neurotransmissores como a dopamina, o que eleva níveis de motivação, excitação, recompensa e atenção (Júnior et al., 2021). 

A cafeína, por exemplo, é a substância psicoativa mais consumida mundialmente, encontrada em produtos de uso cotidiano, como café, chá, refrigerantes de cola, energéticos e até mesmo chocolates e medicamentos. Devido ao seu efeito estimulante sobre o sistema nervoso central, a cafeína é amplamente utilizada em suplementos voltados ao desempenho físico e mental, e é particularmente buscada em momentos de alta demanda acadêmica, como períodos de provas e entregas de trabalhos (Nazarudin et al., 2024). Um estudo recente demonstrou que uma dose moderada de cafeína pode aumentar a velocidade de leitura sem comprometer a clareza visual, o que potencializa o desempenho em atividades que exigem atenção sustentada e rápida resposta cognitiva (Nazarudin et al., 2024). 

Outro psicoestimulante que, embora mais conhecido por seu uso recreativo, atrai alguns estudantes é o MDMA, ou ecstasy. O MDMA proporciona, aproximadamente 45 minutos após a ingestão, uma intensa sensação de bem-estar e abertura emocional, facilitando interações sociais. Em certos contextos, pode ser usado como uma “fuga” do estresse acadêmico (Nida, Muhamad, Jufri, 2017). 

O metilfenidato, comercialmente conhecido como Ritalina®, é outro medicamento amplamente utilizado para finalidades que extrapolam suas indicações médicas. Inicialmente prescrito para tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o metilfenidato tem sido empregado por estudantes saudáveis que buscam aprimorar o foco e a atenção. No Brasil, esse medicamento tornou-se popular como “a droga da obediência” por sua eficácia em reduzir a desatenção e a impulsividade, ainda que seu uso fora de supervisão médica envolva riscos significativos à saúde física e mental (Rodrigues et al., 2021).

A lisdexanfetamina, conhecida comercialmente como Venvanse®, é outro exemplo de medicamento originalmente desenvolvido para TDAH que se popularizou entre estudantes universitários. Seu efeito estimulante, resultante do aumento dos níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro, torna-a eficaz para manter o foco em períodos prolongados de estudo e complicações cardiovasculares e psiquiátricas (Takeda et al., 2022). 

3.2 CIRCUNSTÂNCIAS AO USO DE PSICOESTIMULANTES PARA FINS DE NEUROAPERFEIÇOAMENTO. 

O uso de psicoestimulantes por estudantes universitários para fins de   neuroaperfeiçoamento é um fenômeno complexo e bem conhecido na comunidade acadêmica. Esse fenômeno refere-se à melhoria das habilidades cognitivas, emocionais e motivacionais de indivíduos saudáveis através do uso de drogas sem a devida prescrição médica (Silva; Caldeira, 2020). 

A busca por um melhor rendimento acadêmico é uma das principais motivações entre os estudantes, principalmente devido à grande pressão e carga horária enfrentadas ao ingressarem na faculdade, como demostra o estudo de Pires et al., (2018), feito com 187 alunos de medicina da faculdade de Ubá, Minas Gerais, de onde 99 deles alegaram fazer o uso de psicoestimulantes para a melhora das habilidades cognitivas. Além disso, Silva e Caldeira, trouxe dados apontando que a maior quantidade de alunos que utilizam são dos cursos de medicina e direito em comparação aos demais cursos como administração, farmácia, contabilidade, entre outros.

 Identificando que cursos com a dupla jornada de trabalho e faculdade, carga hora pesada, dificuldade com a adaptação, cobranças pessoas e familiares e a competitividade no meio academico propoem a utilização dessas substancias durante o dia a dia. O estudo de Delgado et al., (2018) feito em Juiz de fora, Minas Gerais, mostra os padrões de estudos e         circunstâncias que levam os universitários ao uso de psicoestimulantes como pilulas de cafeína,  energéticos, guaraná em pó, medicamentos uma noite anterior a exames para a melhora dos estudos e aprendizados como 65% dos 710 entrevitados destacando como maior efeito adverso a piora da qualidade de sono, o que é prejudicial para os alunos principalmente quando o uma boa noite sono torna-se uma aliada para um melhor rendimento.

Outro ponto que apesar de medicamentos como metilfenidato e lisdexanfetamina serem eficazes no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), cujos sintomas incluem desatenção, hiperatividade e impulsividade, e proporcionar melhora na atenção e cognição dos pacientes com o transtorno, segundo Trigueiro e Leme (2020) as influências sociais e culturais podem fazer com       que os alunos vejam o uso de psicoestimulantes de forma positiva, sendo mais aceito e muitas      vezes considerado inofensivo para o aprimoramento intelectual e recomendado o uso. Além da recomendação entre amigos e familiares, há a facilidade de aquisição de receitas e medicamentos entre os universitários, que alegam saber onde adquirir a medicação sem prescrição médica com conhecidos ou pela facilidade da internet e sem se preocupar com futuras reações a longo prazo, desconhecendos os verdadeiros efeitos colaterais como apontam Silva e Caldeira (2020).

       3.3   EFEITOS ADVERSOS FÍSICOS E PSICOLÓGICOS    RELACIONADOS AO USO INDEVIDO DE PSICOESTIMULANTES

No brasil em estudo entre universitarios de odontologia do sul de minas gerais quando questionados sobre o uso de psicoestimulantes Embora estejam estão cientes dos benefícios dessas drogas , é preocupante que desconhecem os efeitos a longo prazo que elas podem causar , mudanças no comportamento e o potencial de dependência (Tozzi et al., 2020).

Em estudo recente de 2020, realizado com estudantes de Monte claros/MG. De todos os efeitos observados por usuários de estimulantes cerebrais do ensino superior, o mais notável foi a redução da qualidade do sono, seguida de melhorias na concentração, bem-estar, raciocínio, fadiga, memória e redução do estresse (Santana et al., 2020). Os ingredientes contidos nas bebidas energéticas, como açaí, café, energético ou refrigerante podem resultar em diversos efeitos colaterais, incluindo câimbras,insuficiência renal, dependência, insuficiência hepática, ganho de peso, insônia, taquicardia, desidratação e agitação excessiva cerca de 76% dos participantes afirmam utilizar para o auxílio do estudo. 

Portanto, é fundamental monitorar a frequência de consumo dessas bebidas e estar atento aos sinais que o corpo apresenta, uma vez que pode ocorrer intoxicação. (Cândido et al., 2021). Embora os principais efeitos dos psicofármacos estimulantes possam parecer vantajosos para os estudantes, o uso dessa substância ainda é considerado arriscado. Esse risco não se limita apenas à alta probabilidade de efeitos adversos ou indesejáveis, mas também está relacionado à associação desses medicamentos com o consumo de outras substâncias psicoativas. Em outras palavras, o uso desses estimulantes pode desencadear uma série de consequências negativas, tanto em termos de saúde física quanto mental, e pode favorecer o uso concomitante de outras substâncias psicoativas. (Pereira et al., 2022).

  1. CONCLUSÃO

O presente estudo investigou o uso indevido de psicoestimulantes entre estudantes universitários no Brasil, identificando fatores motivacionais, efeitos adversos e possíveis estratégias de intervenção. A pesquisa revelou que a busca por aprimoramento cognitivo, muitas vezes impulsionada pela pressão acadêmica e competitividade, leva ao uso indiscriminado de substâncias como o metilfenidato e a lisdexamfetamina. Embora esses medicamentos tenham efeitos positivos em curto prazo, como o aumento da concentração e a redução da fadiga, seu uso prolongado em indivíduos saudáveis pode resultar em sérias consequências à saúde, como dependência, insônia, perda de apetite e até danos cardiovasculares.

A análise também apontou que a falta de orientação adequada e a facilidade de acesso a essas substâncias agravam o problema. É fundamental que sejam implementadas estratégias de conscientização e controle, tanto no ambiente acadêmico quanto no sistema de saúde, visando educar os estudantes sobre os riscos do uso indevido desses medicamentos. Além disso, o papel do farmacêutico é crucial para a promoção do uso racional de medicamentos, devendo estar ativamente envolvido na orientação e monitoramento do uso de psicoestimulantes.

Portanto, o combate ao uso irracional de psicoestimulantes exige uma abordagem multidisciplinar, integrando ações educacionais, regulamentações mais rigorosas e apoio psicológico aos estudantes, a fim de mitigar os danos causados pelo uso inadequado dessas substâncias.

  1. REFERÊNCIAS

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