USO INDISCRIMINADO DE METILFENIDATO (RITALINA®) POR UNIVERSITÁRIOS

INDISCRIMINATE USE OF METHYLPHENIDATE (RITALIN®) BY UNIVERSITY STUDENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8045398


Matheus Ogliari da Silva1
Fabrício Zantut2
Nagesson Sanders Gomes3
Gilmar dos Santos Nascimento4


RESUMO

Considerando as possíveis consequências negativas devido ao uso indiscriminado de RITALINA® e sua associação com universitários, este estudo tem por Objetivo: compreender o uso não terapêutico da RITALINA® e analisar seus principais efeitos positivos e adversos, em estudantes do nível superior. Assim, pretende-se, avaliar se o uso não terapêutico de metilfenidato em universitários gera efeitos positivos e negativos a esses indivíduos; Caracterizar os possíveis efeitos positivos associados a este consumo e investigar os prováveis danos devido a este uso na população estudada. Metodologia: Será realizada uma revisão sistemática da literatura, referente aos últimos cinco anos.  Os dados foram coletados em fontes como PubMed, via descritores: Ritalin medical student e nas bases SciElo E BVS, por meio do termo – Acadêmicos de medicina AND Uso de Metilfenidato. Resultados: Considerando as três bases digitais científicas, foram encontrados 254 resultados, dos quais 48 tiveram seus resumos lidos, possibilitando eleger nove estudos que foram analisados, apontando quais graduandos mais utilizam o fármaco indevidamente, as motivações do consumo, a forma como eles conseguem, os efeitos causados pela ingestão do metilfenidato. Além de um contexto altamente complexo que envolve esta problemática, não apenas no Brasil, mas também em diferentes nações mundiais.  

Palavras–Chave: Universitários. Metilfenidato. Uso indiscriminado.  

ABSTRACT

Considering the possible negative consequences due to the indiscriminate use of RITALIN® and its association with university students, this study aims to: understand the non-therapeutic use of RITALIN® and analyze its main positive and adverse effects in higher education students. Thus, it is intended to evaluate whether the non-therapeutic use of methylphenidate in university students generates positive and negative effects on these individuals; Characterize the possible positive effects associated with this consumption and investigate the probable damages due to this use in the studied population. Methodology: A systematic review of the literature will be carried out, referring to the last five years. Data were collected from sources such as PubMed, via descriptors: Ritalin medical student and from the SciElo and BVS databases, using the term – Academics of medicine AND Use of Methylphenidate. Results: Considering the three scientific digital databases, 254 results were found, of which 48 had their abstracts read, making it possible to elect nine studies that were analyzed, pointing out which undergraduates most misused the drug, the motivations for consumption, the way in which they manage, the effects caused by the ingestion of methylphenidate. In addition to a highly complex context that involves this problem, not only in Brazil, but in different world nations.

Keywords: University students. Methylphenidate. Indiscriminate use.

1. INTRODUÇÃO

RITALINA® é o nome comercial de um medicamento que tem como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato, cuja ação estimula o sistema nervoso central, pois o seu uso favorece a atenção, o foco e a concentração (PIMENTA, 2019). Por outro lado, por pertencer à família das anfetaminas (como a cocaína), a utilização deste fármaco pode causar dependência química (GARDENAL, 2013). Trata-se de um tópico sintetizado pelo químico italiano Leandro Panizzon, no ano de 1944, na Suíça, sendo patenteado somente no ano 1954. A denominação RITALINA® está relacionada ao apelido da esposa de Panizzon (Marguerite), que inicialmente se transformou em Rita e, logo depois, em Ritaline (BRANT; CARVALHO, 2012). O referido composto, inicialmente foi comercializado na Suíça como um psicoestimulante leve, e posteriormente na Alemanha, sem a necessidade de prescrição médica. Em 1956, chegou aos EUA, no Canadá em 1979 e, no Brasil, apenas em 1998. Inicialmente, indicava-se este medicamento para tratar o cansaço físico e mental em adultos e idosos. Na época com a promessa de maior disposição e energia, seu uso foi amplamente divulgado no meio publicitário (MAIA, 2017).  

Na atualidade, a RITALINA® é um dos estimulantes mais prescritos em todo o mundo, licenciado em diversos países para tratar o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade – TDAH (CESAR et al., 2012), distúrbios do sono, como a narcolepsia (TERRA JÚNIOR, 2019), e atua ainda como terapêutica para a apatia (SILVA et al., 2012). Isso porque, o cloridrato de metilfenidato, proporciona aumento no nível de alerta e incremento dos mecanismos excitatórios do cérebro, resultando em uma melhor concentração e foco, coordenação motora e controle dos impulsos (BOGLE; SMITH, 2009). Assim, este medicamento além auxiliar no controle da distração e dos pensamentos irrelevantes, reduz a fadiga e aumenta a capacidade de manter-se acordado por mais tempo (SILVA JÚNIOR et al., 2016). Todavia, em muitos casos, a RITALINA® é utilizada para outras finalidades, como acontece com estudantes. Neste sentido, um estudo realizado nos Estados Unidos, pela Universidade de Harvard, apontou que 4,5% da população usa psicoestimulantes de forma equivocada a fim de melhorar o desempenho acadêmico. Essa proporção aumenta quando se trata de adolescentes, chegando a 35%. A maioria dos indivíduos que não possuem indicação clínica para usar esse fármaco, compra-o de pacientes com TDAH, formando um mercado paralelo (OLIVEIRA, 2018). 

No que concerne ao Brasil, Barros e Ortega (2011), afirmam que utiliza-se a RITALINA® para fins também não medicamentosos, sendo eles: recreativo, objetivando aumentar o estado de vigília. Estético, visando o emagrecimento.  E o do desempenho cognitivo, para beneficiar a performance cognitiva nos âmbitos profissional e acadêmico. Constituindo os estudantes com maior poder aquisitivo os principais consumidores deste medicamento para as referidas finalidades. Todavia, Ortega e colaboradores (2010) explicam que uso de RITALINA® para fins alheios ao de sua criação gera riscos de dependência e pode provocar malefícios a curto e a longo prazo como: alucinações, ansiedade, depressão, irritabilidade, insônia, dentre outros males. 

Os fatores que levam estudantes universitários ao consumo indevido de RITALINA®, podem ser oriundos da sociedade, pois vários universitários admitem que o principal motivo para a ingestão do fármaco é a pressão social quanto ao desempenho acadêmico deles (RODRIGUES et al., 2021). O consumo desse fármaco abrange questões que não apresentam concordância entre si. Mas sim, controvérsias que giram em torno da segurança e do risco desse consumo, assim como de seus resultados, além da indicação e comercialização ilegais (GONÇALVES; PEDRO, 2019). Quanto aos estudantes mais propensos ao uso incontrolado de RITALINA®, Vasconcelos Neto e colaboradores (2018) afirmam ser universitários de Medicina, que visam melhor desempenho cognitivo. E que eles conseguem esse fármaco, principalmente por meio de colegas de turma e de prescrições falsificadas. Afirmam ainda que, pouco se sabe a respeito dos efeitos a longo prazo deste uso, o que reflete no pouco conhecimento nesse sentido, pelos estudantes, justificado pela escassez de literatura

O exposto até aqui justifica a importância de pesquisas voltadas à investigação dos distintos efeitos da RITALINA®, pois estudos desta natureza podem conscientizar diferentes indivíduos, sobretudo aqueles que fazem uso indiscriminado desta substância Portanto, este trabalho objetiva compreender o uso não terapêutico da RITALINA® e analisar seus principais efeitos positivos e adversos, em estudantes do nível superior de ensino. Para alcançar este objetivo, pretende-se: Avaliar se o uso não terapêutico de metilfenidato por estudantes do nível superior, gera efeitos positivos e negativos para esses indivíduos; Caracterizar os possíveis efeitos positivos associados à este consumo e investigar os possíveis danos devido a este uso na população estudada.

Espera-se que este estudo contribua para a ciência, levantando questões que poderão provocar ações de conscientização tanto para pessoas que consomem o metilfenidato indevidamente, assim como para médicos que fazem prescrições deste fármaco sem a devida precaução. E ainda conscientizar a sociedade sobre os riscos do uso indevido RITALINA®, a fim de que este medicamento não seja consumido sem orientação médica confiável e ainda que denúncias sobre   sua comercialização ilegal sejam efetivadas.  

2. MATERIAL E MÉTODOS

Realizou-se uma revisão literatura, modalidade de pesquisa explicada por Ercole, Melo e Alcoforado (2014), como um método que tem por objetivo sintetizar resultados alcançados em pesquisas publicadas nas bases de dados científicas, sobre determinado tema ou questão, de forma sistemática e abrangente.

A coleta de dados ocorreu por meio de buscas nas fontes de dados científicos:  PubMed, através dos descritores: Ritalin medical student. E nas bases digitais científicas: Biblioteca Virtual em Saúde – BVS e Scientific Electronic Library Online – SciElo, por meio de descritores: Acadêmicos de medicina; Uso de Metilfenidato, junto ao operador booleano AND. Constituindo o termo: Acadêmicos de medicina AND Uso de Metilfenidato. Os critérios para inclusão foram artigos oriundos de estudos primários, publicados no período de 2018 a 2023, nos idiomas inglês e português. Foram excluídos artigos originários de revisões da literatura, livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado, ensaios e outras bibliografias que não atendiam aos critérios de inclusão. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Optou-se por realizar a pesquisa nos dias 10,11 e 12 de abril do ano 2023, nas bases de dados: Pubmed; SciElo e BVS, respectivamente. 

Ao aplicar os descritores: ritalin medical student, no Pubmed apareceram 118 resultados, os quais foram reduzidos para 21 textos, após a aplicação dos filtros: Data de publicação equivalente aos últimos 05 anos e textos completos e gratuitos.  Após a leitura dos resumos dos 21 artigos, foram excluídos cinco deles por serem revisões de literatura. Outros cinco por tratarem do uso de metilfenidato para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade TDAH e outros transtornos, e ainda distúrbios como a narcolepsia. Três por discutirem sobre a indicação indevida do metilfenidato para outras condições clínicas, que não o TDAH e narcolepsia. Um estudo, pelo fato dele discutir sobre o uso indevido RITALINA® por adultos, não estudantes. E outros dois textos, por serem voltados à acadêmicos de Medicina que enfrentavam problemas, porém não faziam uso do metilfenidato. Sendo possível constatar que cinco artigos publicados nesta base, atendiam aos objetivos desta pesquisa.

Ao aplicar o termo de busca:  Acadêmicos de medicina AND Uso de Metilfenidato, na base de dados SciElo, a princípio, retornaram 97 resultados, os quais após a filtragem correspondente aos critérios de inclusão aqui estabelecidos, resultaram em 19 artigos. Estes tiveram seus resumos lidos, sendo possível verificar que três estudos fariam parte da construção do presente trabalho. 

O mesmo termo foi aplicado na BVS e houve, inicialmente, um retorno de 39 textos, que após serem submetidos aos mesmos critérios e etapas, já citados, resultaram em oito artigos, os quais tiveram seus resumos lidos, sendo possível verificar que três artigos nesta base já haviam sido encontrado nas fontes: Pubmed e SciElo, respectivamente, e outros quatro não condizem com a temática aqui tratada. De forma que será avaliado apenas um artigo publicado na Biblioteca Virtual em saúde. 

Considerando as três bases digitais científicas, foram encontrados 254 resultados, dos quais 48 tiveram seus resumos lidos, possibilitando eleger nove estudos, cujas algumas informações estão no quadro 01, abaixo, e foram lidos na íntegra, para fins de análise. 

QUADRO 01 – INFORMAÇÕES BÁSICAS DOS ARTIGOS A SEREM AVALIADOS

AUTORESTÍTULOANO DE PUBLICAÇÃO
FRANCO NETTO, Raphael Oliveira Ramos et al.Incidência do uso não prescrito de metilfenidato entre estudantes de medicina2018

JAVED, Nismat et al.
Prevalence of Methylphenidate Misuse in Medical Colleges in Pakistan: A Cross-sectional Study2019
CÂNDIDO, Raissa Carolina Fonseca et al.Prevalence of and factors associated with the use of methylphenidate for cognitive enhancement among university students2019
KORN, Liat et al.Non-Medical Use of Prescription Stimulants for Treatment of Attention Disorders by University Students: Characteristics and Associations2019
JEBRINI, Tarek et al.Psychiatric Comorbidity and Stress in Medical Students Using Neuroenhancers
2021
RODRIGUES, Laís de Aquino et al.Uso não prescrito de metilfenidato por estudantes de uma universidade brasileira:  fatores associados, conhecimentos, motivações e percepções2022
MIRANDA, Miguel;BARBOSA, MiguelUse of Cognitive Enhancers by Portuguese Medical Students: Do Academic Challenges Matter?2022
NASÁRIO, Bruna Rodrigues;ALMEIDA,Maria Paula Pereira Matos.Uso Não Prescrito de Metilfenidato e DesempenhoAcadêmico de Estudantes de Medicina.2022
MEINERS, Micheline Marie Milward de Azevedo et al.Percepções e uso do metilfenidato entre universitários da área da Saúde em Ceilândia, DF, Brasil2022

Quadro elaborado pelos autores.

Os estudos que constituem esta análise, foram publicados entre os anos de 2018 e 2022, e tem como tema central o uso de metilfenidato por estudantes, principalmente, do curso de Medicina, sendo oriundos do Brasil e de outros países, como: Paraguai; Paquistão; Israel; Alemanha e Portugal. Desta forma, dos nove estudos, quatro são brasileiros. 

A apresentação deles conta com seus respectivos métodos, resultados e demais conhecimentos. Os quais serão divididos por tópicos, apresentados em uma categoria dividida em subcategorias descritivas. 

3.1 UNIVERSITÁRIOS DE DIFERENTES CULTURAS E O USO NÃO PRESCRITO DE METILFENIDATO 

Franco Netto e colaboradores publicaram um estudo no ano de 2018, resultante de uma pesquisa quantitativa, observacional, transversal, na qual analisaram os casos do uso não prescrito de metilfenidato por estudantes de medicina, matriculados do 1º ao 5º ano, em uma faculdade localizada no Paraguai. De forma a constarem que 33% afirmaram utilizar o referido fármaco de modo indiscriminado. Observaram, além disso, maiores percentuais de uso de metilfenidato em acadêmicos que cursaram o primeiro ano 21%, e o segundo ano, 32%, ao realizarem a comparação com o terceiro ano – 18%, e no quarto e quinto anos – 14%.

O estudo de Javed e colaboradores publicado no de 2019, decorre de uma pesquisa do tipo transversal realizada no período de junho de 2018 março de 2019, por meio de questionário auto construídos com 400 estudantes de medicina matriculados em todos os anos do curso, em faculdades localizadas nas cidades gêmeas Islamabad e Rawalpindi no Paquistão. Sendo a amostra composta por 197 (49%) participantes do gênero masculino e 203 (51%) estudantes pertencentes ao gênero feminino, com idades aproximadas de 21 anos.  37 participantes, 9,25% da amostra admitiram usar o metilfenidato, dentre eles, somente 10 suspeitavam ter transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), porém não haviam sido diagnosticados por nenhum médico. 

A fim de estimar o uso não prescrito de psicoestimulantes, por universitários israelenses, Korn e colaboradores (2019), aplicaram um questionário anônimo a 1.280 graduandos, sendo 64% da amostra, pertencentes ao gênero feminino. Os autores constataram que 60 alunos da amostra (4,6%) expuseram usar o metilfenidato sem diagnóstico – principalmente, de TDAH, que requer este uso. Enquanto, mais da metade da amostra respondeu que não apresentava sintomas elevados do aludido transtorno, porém utilizavam o referido composto químico. 

O estudo de Cândido e colaboradores (2020), foi formado pela avaliação de 378 discentes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, sendo 69% deles alunos de graduação concentradas principalmente nas áreas de Biológicas e Saúde e de Humanas, de forma que 105 (27,8), estavam matriculados em cursos nas de áreas Biológicas e Saúde. Esses autores descobriram que 37 estudantes (9,8%), usavam o metilfenidato. 

A publicação de Jebrini e colaboradores (2021), originou-se de uma pesquisa sobre uso de drogas não prescritas por médicos, por estudantes de medicina de medicina de toda a Alemanha, para neuroaprimoramento cognitivo. Para isto, os autores validaram-se de um questionário aberto distribuído pela web no período de abril e maio de 2020. Os resultados apontaram que 78,8% dos estudantes faziam uso de café; 45,7% bebidas energéticas, 24,3% comprimidos de cafeína e 5,2% utilizavam metilfenidato. Substância que ficou à frente de anfetaminas ilícitas (2,0%) e cocaína (1,7%). 

Embora o uso de metilfenidato tenha sido considerado baixo quando comparado ao consumo de café, por exemplo, os autores afirmam que os estudantes de medicina alemães, são marcados intensamente por usarem substâncias lícitas e ilícitas. Sendo este um fato generalizado (JEBRINI et al., 2021). 

O estudo de Rodrigues e colaboradores (2022) realizado com estudantes de uma Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, apontou que 96,7% da amostra afirmaram conhecer o metilfenidato e desses, 4,3% o utilizam sem prescrição médica. 

Nasário e Almeida (2022), investigaram a relação entre o uso não prescrito de metilfenidato e a performance acadêmica de universitários de medicina matriculados em uma universidade do sul de Santa Catarina. Valendo-se do método   descritivo quantitativo coletaram dados de 243 acadêmicos do segundo ao oitavo semestre de medicina, via questionário. As autoras concluíram que a predominância do uso do metilfenidato, sem prescrição médica, atingia de 2,9%, da amostra, ao passo que 17,3% dos participantes admitiram já ter utilizado o medicamento em determinado momento de suas vidas.  

Meiners e colaboradores (2022), investigaram as percepções de 337 universitários matriculados em diferentes cursos de graduação da Universidade Federal de Brasília (UNB), por meio de uma pesquisa descritiva concretizada em duas fases. A primeira, quantitativa, constitui-se por meio do preenchimento de um questionário semiestruturado on-line. Já na segunda etapa, qualitativa, realizaram um grupo focal. Na etapa quantitativa da pesquisa, os autores descobriram que dos 337 estudantes, 14,5% expuseram usar o metilfenidato. Entre eles, o predomínio consumo sem receituário médico foi maior para o sexo masculino (65,3%).

Miranda e Barbosa (2022), realizaram um estudo em Portugal, no qual aplicaram questionários online a fim de descobrir o uso de substâncias consideradas potenciadoras da cognição. Assim distribuíram 1.156 questionários para estudantes de medicina e médicos prestes a realizarem o exame de licenciatura médica portuguesa.  

Após avaliarem os resultados os autores afirmaram que substância mais usada para aprimoramento cognitivo nos dois grupos foi o café, ao passo que o uso de medicamentos não prescritos por médicos para o mesmo fim, foi menor em estudantes da graduação, pois apenas 5% do grupo de graduandos consumiam tais fármacos. Por sua vez, no grupo de médicos recém graduados que fariam o aludido exame esse consumo foi de 14 %. Todavia, a maior parte deles consumiam o metilfenidato prescrito, pois 35% da amostra o utilizavam de forma considerada legal, o seja, por indicação médica, mesmo sem ter o diagnóstico de TDAH, principalmente, para aumentar a atenção – 83%, e a memória – 44%, (MIRANDA; BARBOSA ,2022), 

3.1.1 Principais motivações de uso do metilfenidato – RITALINA®

Javed et al. (2019), revelaram que estudantes de medicina paquistaneses, afirmaram usarem o metilfenidato para lidarem com a ansiedade relacionada aos estudos e conseguirem melhor desempenho acadêmico, ou ainda tão-somente, como opção recreativa. 

Korn e colaboradores (2019), concluíram que mais de 50% dos alunos de medicina israelenses, por eles questionados utilizavam a Ritalina, por motivos não condizentes ao tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Candido e colaboradores descobriram que 37 estudantes universitários de diferentes áreas, usavam a ritalina, e 22 (59%) afirmaram ter feito seu uso para fins de neuroaprimoramento. Ainda que o consumo recente da referida substância para a aludida finalidade   foi seis vezes superior, quando comparado ao uso em algum outra ocasião da vida Dentre os motivos, para universitários de medicina alemães, recorrem ao uso de substâncias psicoestimulantes, Jebrini e colaboradores (2021), destacam a sobrecarga em razão dos estudos, as desordens psiquiátricas, notadamente, transtornos percepção de estresse, pressão para alcançar resultados e pouca resiliência. 

Meiners e colaboradores (2022), afirmam que dentre 337 universitários matriculados em diferentes cursos de graduação em universidade brasileira, 61,2% descreveram eventos tormentosos como motivo para iniciarem o consumo, sendo que a causa principal foi o doping intelectual (65,3%). A etapa qualitativa do estudo, reforçou os dados obtidos anteriormente e além disso, possibilitou identificar tópicos temáticos como a pressão externa desempenhada por familiares, pela sociedade e a rotina universitária. De forma que 57% deles passaram a utilizar esse fármaco após ingressarem na Universidade. 

Rodrigues e colaboradores (2022) após buscarem entender os conhecimentos de universitários que faziam uso do metilfenidato, sobre essa substância, as causas que os levaram a consumi-la, e como eles se percebiam após utilizá-la, garantem que o melhoramento cognitivo é a principal causa de uso, em razão também do envolvimento dos estudantes em atividades extracurriculares. 

Nasário e Almeida (2022), apontam que motivações para consumo de metilfenidato mais alegadas universitários de medicina, foram:  aperfeiçoamento da função cognitiva (10%) e permanecer acordado por mais tempo – 4,1%. 

Um dado sobre causas do uso de Ritalina, diferente foi apontado por Miranda e Barbosa (2022), ao asseguram que médicos recém graduados em Portugal em vias de realizarem o exame de licenciatura médica portuguesa, consumiam o metilfenidato com receita médica, mais que os graduandos de medicina. Isto porque, eles representavam 35% dos usuários legais. Todavia, as principais motivações de consumo: aumentar a atenção – 83%, e a memória – 44%, se assemelhando assim, às principais motivações encontradas em outras pesquisas, embora, neste caso, a maioria dos medicamentos eram prescritos por profissionais da medicina.   

3.1.2 Principais formas de universitários obterem a Ritalina

Jovens universitários de medicina, paquistaneses adquiriam o metilfenidato, sobretudo de colegas (68%) de turma de curso, de forma que a pressão exercida por tais colegas foi apontada como um importante para usarem indevidamente esse fármaco (JAVED et al. 2019).

Neste sentido, Nasário e Almeida (2022), afirmam que a principal forma de universitários de medicina de uma faculdade do Sul brasileiro, obterem a Ritalina, ocorria por meio de amigos (56,5%).  Rodrigues e colaboradores (2022)   descobriram que a universidade é a principal a localidade de início de uso.

Diferentemente dos outros achados, Miranda e Barbosa (2022), asseguram que graduandos e médicos recém graduados em Portugal, faziam uso da Ritalina para aprimoramento cognitivo e a maioria deles   conseguiam essa substância por meio de prescrição médica, ou seja de forma legal. 

Observa-se com por meio deste estudo que os estudantes de medicina portugueses, pesquisado, apresentam baixo consumo de medicamentos para potenciar a cognição. Diferentemente, os candidatos ao exame de licenciamento expõem consumo superior em se tratando não apenas de fármacos, mas de quase todas as substâncias que foram incluídas nesta pesquisa. 

3.1.3 Principais efeitos do uso metilfenidato 

Franco Netto e colaboradores (2018), apresentaram os efeitos secundários sofridos por estudantes de medicina, decorrentes do uso não prescrito de metilfenidato, como:  taquicardia em 18%; falta apetite em 23%; mãos trêmulas e boca seca em 12%. E outros efeitos admitidos em 47% da amostra, porém não especificados.  

A maior parte dos usuários, avaliados por Rodrigues e colaboradores (2022), afirmaram    notar aumento na concentração. Por outro lado, 50% deles expuseram episódios de resultados indesejados. 

Nasário e Almeida (2022), descobriram um fato importantíssimo, pois o uso do metilfenidato não apresentou resultados de refinamento cognitivo, já que estudantes/participantes que nunca haviam feito o uso desta substância apresentaram um desempenho acadêmico superior (8,80) quando elas os comparam aos usuários, cuja performance intelectual foi (7,92) e (8,01), para o grupo que já havia consumido o fármaco em algum momento de suas vidas.  

Frente à tamanha complexidade envolvendo o uso de metilfenidato por estudantes, principalmente, de medicina, demonstrada nesta análise, entende-se a necessidade de apresentar considerações com base nas percepções dos pesquisadores/autores destes estudos. 

Nesse seguimento, Franco Netto e colaboradores (2018) concluíram haver um percentual considerável de estudantes de medicina que consomem metilfenidato indiscriminadamente.  

Javed e colaboradores (2019), apontam o uso impróprio de metilfenidato como um grande problema para a parte vulnerável da sociedade paquistanesa, nomeadamente, os universitários de medicina. Ainda que o aumento da atenção e da vigília, gerado pela droga pode dar a impressão que ela os ajuda no desempenho cognitivo. Entretanto, o estresse rebote oriundo de seu uso por longos períodos, é uma enorme desvantagem que desencadeia um ciclo vicioso de dependência de drogas. Sendo que os efeitos colaterais deste uso superam consideravelmente os benefícios.

 Korn e colaboradores (2019), destacam a complexidade envolvendo o uso indevido de metilfenidato também por estudantes de Israel, pois esse fenômeno era mais demonstrado nos Estados Unidos e Europa, além do não conhecimento suficiente da sociedade israelense quanto às implicações sociais desta condição. 

Portanto, Meiners et al.  (2022) reforçam o quão é necessário medidas que possam apoiar e orientar os universitários, ainda reformular e o processo ensino-aprendizagem.  

CONCLUSÃO 

Objetivando compreender o uso não terapêutico da RITALINA® e analisar seus principais efeitos positivos e adversos, em estudantes do nível superior de ensino, realizou uma revisão de literatura com base em estudos encontrados em bases científicas digitais.  

Os dados revelam que os universitários que mais consomem metilfenidato (RITALINA®) são graduandos de medicina. Este consumo, geralmente, acontece de forma indevida, sem receita médica, e, portanto, ilegal. 

Eles conseguem, comumente, o metilfenidato, sobretudo, por meio de colegas de turma. E a principal causa para consumi-lo é o aprimoramento cognitivo, a necessidade deste aprimoramento, em linhas gerais, decorre da pressão oriunda do próprio curso, de colegas, familiares e da sociedade.

Os efeitos desta substância considerados positivos, condizem com o aumento na concentração. Entretanto foram encontrados mais efeitos antagônicos como:  taquicardia; falta apetite, mãos trêmulas e boca seca, associação a outras drogas, estresse rebote oriundo de seu uso por longos períodos, dentre outros resultados antagônicos. 

Ademais, destaca-se a afirmação que metilfenidato não apresenta resultados de refinamento cognitivo, pois estudantes/participantes que nunca o haviam utilizado apresentaram um desempenho acadêmico superior, quando comparados usuários deste fármaco. 

Outro ponto importante do presente trabalho, consiste no fato que foram analisados estudantes consumidores de metilfenidato para além do Brasil, pois avaliou-se estudos elaborados em diferentes países e continentes, e foram encontradas diversas semelhanças expostas ao longo da discussão. Todos os estudos foram constituídos por dados primários. 

O exame de diferentes aspectos relacionados com ao uso indevido do metilfenidato proporciona uma melhor compreensão das circunstâncias vivenciadas entre universitários e assinala os riscos à saúde relacionados à busca por aprimores performances acadêmicas e táticas para suportar a sobrecarga de atividades. 

Portanto, este estudo poderá contribuir, sobretudo, na conscientização das implicações negativas decorrentes do uso não prescrito de metilfenidato (RITALINA®). A fim de diminuir esta forma de consumo, que é um enorme problema social. 

REFERÊNCIAS

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1Acadêmico do Curso de Medicina – Faculdade Metropolitana (UNNESA) – Porto Velho.
2Acadêmico do Curso de Medicina – Faculdade Metropolitana (UNNESA) – Porto Velho.
 3Acadêmico do Curso de Medicina – Faculdade Metropolitana (UNNESA) – Porto Velho.
4Professor no Curso de Medicina – Faculdade Metropolitana (UNNESA) – Porto Velho.