REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412182110
Lavínia Diolindo Meneses; Márcio César Lustosa Cavalcante Júnior; Orientador: Guilherme Bandeira Santana; Josiane Lopes Feitosa; Kecya Maria Aguiar Ximenes Bezerra; Vitória Rayanne Pereira Correia; Rayla Yannael Delgado Rabelo; Bianca Ellen de Sousa Bispo; Maria Fernanda Bezerra Soares; Liliane Borges de Sousa
RESUMO
O bruxismo, caracterizado pelo ato involuntário de apertar ou ranger os dentes, pode levar a complicações como dor muscular, desgaste dentário e disfunções temporomandibulares, afetando negativamente a qualidade de vida dos indivíduos. A toxina botulínica tem se mostrado uma opção terapêutica eficaz no tratamento dessas condições. O objetivo deste estudo foi analisar os efeitos terapêuticos da toxina botulínica no tratamento de adultos com bruxismo, por meio de uma revisão integrativa da literatura. A busca foi realizada em bases de dados eletrônicas, como Science Direct, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE via PUBMED) e Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS), abrangendo o período de 2019 a setembro de 2024. A análise resultou em uma amostra de nove estudos, que evidenciaram uma redução significativa da dor e uma melhora expressiva da função muscular nos pacientes tratados com toxina botulínica, especialmente nas primeiras semanas após a aplicação. A redução da dor foi consistente, proporcionando maior conforto e qualidade de vida. Além disso, alguns estudos relataram uma diminuição nos episódios de bruxismo e uma melhora na amplitude dos movimentos mandibulares, comprovando a eficácia do tratamento no controle dos sintomas e na função mastigatória. Conclui-se que a toxina botulínica é uma intervenção eficaz no manejo do bruxismo, especialmente no alívio da dor e no controle da hiperatividade muscular, oferecendo resultados positivos no curto e médio prazo. Seu uso representa uma abordagem promissora para o tratamento do bruxismo.
Palavras chave: Toxina botulínica; Bruxismo; Tratamento.
ABSTRACT
Bruxism, characterized by the involuntary act of clenching or grinding the teeth, can lead to complications such as muscle pain, dental wear, and temporomandibular disorders, significantly affecting individuals’ quality of life. Botulinum toxin has proven to be an effective therapeutic option in treating these conditions. This study aimed to analyze the therapeutic effects of botulinum toxin in the treatment of adults with bruxism through an integrative literature review. The search was conducted in electronic databases such as Science Direct, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE via PUBMED), and the Virtual Health Library of Brazil (BVS), covering the period from 2019 to September 2024. The analysis resulted in a sample of 09 studies, which showed a significant reduction in pain and an expressive improvement in muscle function in patients treated with botulinum toxin, particularly in the first weeks after application. The pain reduction was consistent, providing greater comfort and quality of life. Additionally, some studies reported a decrease in bruxism episodes and improved mandibular movement range, confirming the treatment’s effectiveness in symptom control and mastication function. It is concluded that botulinum toxin is an effective intervention for managing bruxism, especially in alleviating pain and controlling muscle hyperactivity, offering positive short- and medium-term results. Its use stands out as a promising therapeutic approach for bruxism treatment.
Keywords: Botulinum toxin; Bruxism; Treatment.
1. INTRODUÇÃO
O bruxismo, uma desordem funcional caracterizada pela atividade muscular involuntária dos músculos mastigatórios, é uma condição comum tanto em adultos quanto em crianças. Essa condição pode ocorrer durante o sono ou enquanto o indivíduo está acordado, resultando em uma série de complicações, como desgaste dental, dores de cabeça, disfunção temporomandibular e dor crônica na região da mandíbula (Nuñez; Maach; Escoda, 2019).
A etiologia do bruxismo é multifatorial, envolvendo aspectos fisiológicos, psicológicos e neurológicos, o que torna o tratamento um desafio para os profissionais de saúde (Alwayli; Abdulrahman; Rastogi, 2024). Entre as terapias mais comuns estão o uso de dispositivos oclusais, fisioterapia, medicamentos relaxantes musculares e intervenções comportamentais, embora muitas dessas abordagens não proporcionem alívio completo dos sintomas, levando à busca por alternativas mais eficazes (Núñez; Maach; Escoda, 2019; Shim et al., 2020).
Nos últimos anos, a toxina botulínica (BTA), amplamente utilizada no tratamento de distúrbios neuromusculares, emergiu como uma opção promissora para o manejo do bruxismo (Lima; Guedes; Tuñas, 2020). Estudos clínicos recentes demonstram que a aplicação de BTA nos músculos mastigatórios, particularmente no masseter, pode reduzir significativamente a dor e a força de mordida em pacientes com bruxismo, melhorando a qualidade de vida desses indivíduos (Alwayli; Abdulrahman; Rastogi, 2024; Shehri et al., 2022).
A BTA atua inibindo temporariamente a liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares, promovendo relaxamento muscular e, consequentemente, diminuindo a atividade excessiva dos músculos envolvidos no bruxismo (Mattos, 2021; Satriyasa, 2019). Embora os resultados preliminares sejam promissores, há uma necessidade crescente de consolidar as evidências científicas sobre a eficácia e segurança dessa abordagem terapêutica (Cheng et al., 2022; Erdil et al., 2023; Ramalho et al., 2023).
Diante desse contexto, surge a necessidade de compreender os efeitos terapêuticos comprovados do uso de toxina botulínica no tratamento de adultos com bruxismo. Essa problemática é de extrema relevância para os profissionais de saúde, uma vez que o bruxismo, quando não tratado de maneira adequada, pode acarretar consequências graves, como desgaste dental severo, dores crônicas e até mesmo luxações articulares (Bashir et al., 2021).
Assim, a justificativa social deste estudo reside na busca por uma solução mais eficaz para o controle dos sintomas do bruxismo, condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, impactando diretamente sua qualidade de vida. O bruxismo pode gerar desconforto físico, dificuldades na alimentação e até mesmo alterações na aparência facial, além de repercutir psicologicamente, contribuindo para quadros de ansiedade e estresse (Bandeira; Picado; Sousa, 2023). Academicamente, a investigação sobre o uso da toxina botulínica no tratamento dessa condição pode contribuir significativamente para o aprimoramento das práticas clínicas e para a ampliação do conhecimento sobre tratamentos minimamente invasivos no manejo de desordens neuromusculares.
Portanto, este estudo tem como objetivo geral analisar os efeitos terapêuticos do uso da toxina botulínica no tratamento de adultos com bruxismo, por meio da análise de artigos publicados. Especificamente, busca-se identificar os principais resultados clínicos associados ao uso da toxina botulínica em adultos com bruxismo, bem como avaliar as implicações terapêuticas e a eficácia desse tratamento no controle dos sintomas do bruxismo. Ao reunir as evidências disponíveis, espera-se contribuir para um melhor entendimento da viabilidade e segurança dessa intervenção, além de oferecer subsídios que possam orientar práticas clínicas mais eficientes para o manejo dessa condição.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para analisar os efeitos do uso de Toxina Botulínica em adultos com bruxismo, foi realizada uma revisão integrativa da literatura de abordagem qualitativa. Esse tipo de pesquisa é particularmente útil em ciências da saúde, pois permite a integração de estudos e evidências disponíveis, proporcionando uma visão abrangente e aprofundada sobre o tema (Paiva et al., 2016). A abordagem qualitativa permitiu um levantamento minucioso da literatura existente, oferecendo um contexto mais amplo e fundamentado sobre a problemática estudada (Batista; Kumada, 2021; Gil, 2008).
A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Science Direct, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE via PUBMED) e Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS), por meio dos Descritores em Ciência e Saúde (DeSC) “Toxina Botulínica”, “Adultos”, “Bruxismo” e seus respectivos descritores em inglês: “Botulinum Toxin”, “Adults”, “Bruxism”. E combinando entre si pelo operador booleano AND.
No que diz respeito aos critérios de inclusão, foram considerados para a pesquisa artigos sobre o uso de Toxina Botulínica em adultos com bruxismo, publicados entre 2019 e setembro de 2024, em português e inglês. Os estudos deveriam investigar os efeitos da Toxina Botulínica no tratamento do bruxismo, com foco em suas implicações terapêuticas e resultados clínicos. Ademais, foram excluídos da análise artigos que não se alinhavam a esses critérios, incluindo pesquisas sobre outras condições ou tratamentos não relacionados ao bruxismo ou à Toxina Botulínica. Também foram desconsideradas publicações duplicadas, estudos de revisão, pesquisas com metodologias incompletas e trabalhos acadêmicos não revisados por pares, como teses e dissertações.
Após realizar a busca nas bases de dados, procedeu-se com uma triagem preliminar dos estudos, onde realizou-se a leitura de títulos e resumos para selecionar apenas aqueles que atendiam aos objetivos da pesquisa. A seguir, fez-se a leitura completa dos artigos selecionados na triagem inicial para definir quais seriam incluídos na amostra final. Os estudos escolhidos foram analisados minuciosamente, levando em conta sua relevância e qualidade metodológica.
Para avaliar a qualidade metodológica, utilizou-se a PEDro, que verifica critérios como randomização, ocultação da alocação e cegamento, com pontuações variando de 0 a 10; estudos com pontuação de 6 ou mais foram classificados como de boa qualidade. Ademais, os dados foram organizados e apresentados em quadros para proporcionar uma visualização clara dos resultados. Posteriormente, foi realizada uma análise detalhada das principais conclusões e contribuições dos estudos revisados para a compreensão do uso de Toxina Botulínica no tratamento do bruxismo em adultos.
O Fluxograma 1 apresenta as etapas de triagem, elegibilidade e inclusão dos estudos selecionados para esta pesquisa.
Figura 1. Processo de identificação, triagem e elegibilidade dos estudos selecionados.
Inicialmente, foram encontrados 147 artigos nas bases de dados Science Direct, MEDLINE via PubMed e BVS. Após a remoção de 10 artigos duplicados, restaram 137 para análise. Na etapa seguinte, 116 artigos foram excluídos com base na leitura de títulos e resumos, deixando 21 estudos para avaliação integral. Durante a leitura completa, foram aplicados critérios de exclusão, o que resultou na eliminação de 12 estudos. Assim, 9 artigos foram incluídos na pesquisa final.
3. RESULTADOS
O Quadro 1 apresenta uma visão geral dos nove estudos clínicos incluídos nesta pesquisa, organizados cronologicamente de acordo com o ano de publicação. Todos os estudos foram encontrados na base de dados da MEDLINE via PUBMED. O quadro descreve o tamanho e as características das amostras, os detalhes das intervenções realizadas e a pontuação obtida na Escala PEDro.
Quadro 1. Características dos estudos incluídos na pesquisa
Autor/Ano | Amostra | Intervenção | Escala PEDro | Base de dados |
Cahlin, Lindberg e Dahlström (2019) | 12 pacientes com bruxismo | Grupo placebo: injeção de solução salina; Grupo tratamento: injeção de BTX-A nos músculos masseter e temporal | 9 | MEDLINE via PUBMED |
Hosgor e Altindis (2020) | 44 pacientes (36 mulheres, 8 homens), idades entre 18 e 73 anos | Injeção de 500 UI de BTX-A nos músculos masseter e temporal, com acompanhamento por 6 meses | 4 | MEDLINE via PUBMED |
Shim et al. (2020) | 30 pacientes com bruxismo / 11 homens, 19 mulheres / idades entre 18 e 45 anos. | Grupo placebo: injeção salina; Grupo tratamento: injeção de Toxina Botulínica A nos músculos masseteres | 10 | MEDLINE via PUBMED |
Kaya e Ataoğlu (2021) | 40 pacientes (7 homens, 33 mulheres) entre 18 e 45 anos. | Grupo BTX-A: 24 unidades de Toxina Botulínica aplicadas no músculo masseter. Grupo controle: uso de placa oclusal por 8 horas diárias | 9 | MEDLINE via PUBMED |
Cruse et al. (2022) | 22 pacientes (14 mulheres, 8 homens) entre 22 e 68 anos. | Grupo A: 30U BTX-A em masseter; Grupo B: 30U BTX-A em masseter e 15U em temporalis; Grupo C: 30U BTX-A em masseter, 15U em temporalis e 15U em pterigoideo medial | 10 | MEDLINE via PUBMED |
Pardo et al. (2022) | 15 voluntários com idades entre 18 e 65 anos | Injeções de BTX-A (40U em masseter e 30U em temporal) com avaliação de movimento mandibular e análise oclusal computadorizada | 5 | MEDLINE via PUBMED |
Shehri et al. (2022) | 22 pacientes (13 mulheres, 7 homens) entre 18 e 40 anos. | Grupo BTX-A: 100 MU de Toxina Botulínica aplicados em dois pontos do músculo masseter bilateralmente. Grupo placebo: punção com caneta stinger sem injeção de substância. | 9 | MEDLINE via PUBMED |
Ramalho et al. (2023) | 20 pacientes (8 mulheres e 2 homens em cada grupo, idade média: 39 anos no Grupo M e 37 anos no Grupo MT) | Grupo M: Injeção de BTX-A nos músculos masseteres; Grupo MT: Injeção de BTX-A nos músculos masseteres e temporais | 9 | MEDLINE via PUBMED |
Alwayli, Abdulrahman e Rastogi (2024) | 40 pacientes (24 mulheres, 16 homens) entre 21 e 52 anos | Grupo BTX-A: 20U de Toxina Botulínica por lado em três pontos do músculo masseter bilateralmente; Grupo placebo: solução salina. | 9 | MEDLINE via PUBMED |
Fonte: Autora (2024). Legenda: BTX-A: Toxina Botulínica Tipo A; UI: Unidades Internacionais; MU: Unidades de Rato; U: Unidades.
Dos nove estudos, oito utilizam a metodologia de ensaio clínico randomizado, o que reflete uma abordagem consistente de alta qualidade na avaliação dos efeitos da Toxina Botulínica. O estudo piloto de Pardo et al. (2022) complementa essa diversidade metodológica, trazendo dados iniciais promissores.
No que tange às amostras dos estudos, elas variam em tamanho, com o menor estudo envolvendo 12 pacientes (Cahlin; Lindberg; Dahlström, 2019) e o maior recrutando 44 participantes (Hosgor; Altindis, 2020). A composição das amostras também varia em termos de gênero e idade. A maioria dos estudos incluiu predominantemente mulheres, como o estudo de Kaya e Ataoğlu (2021), que contou com 33 mulheres e 7 homens, sugerindo uma possível prevalência maior de bruxismo entre as mulheres ou uma maior procura feminina por tratamento. A faixa etária dos participantes também é variada, com estudos abrangendo desde indivíduos jovens (a partir dos 18 anos) até pacientes mais velhos, com até 73 anos (Hosgor e Altindis, 2020). Essa diversidade nas amostras é importante para avaliar a generalização dos resultados, embora a predominância de mulheres em muitos estudos possa sugerir um possível viés de gênero.
As intervenções realizadas nos estudos variam em termos de dosagem de Toxina Botulínica e músculos alvo. Nos estudos de Shehri et al. (2022) e Pardo et al. (2022), por exemplo, doses de 100 MU (Unidades de Rato) e 40U foram aplicadas, respectivamente, nos músculos masseter e temporal, enquanto no estudo de Cruse et al. (2022), a intervenção incluiu a injeção em três grupos musculares: masseter, temporal e pterigoideo medial. A escolha dos músculos e a dosagem variaram conforme o protocolo de cada estudo, refletindo abordagens diferentes para maximizar a eficácia e minimizar os efeitos colaterais da Toxina Botulínica. Em alguns casos, como o de Kaya e Ataoğlu (2021), o grupo controle recebeu placas oclusais, permitindo uma comparação direta entre tratamentos conservadores e a Toxina Botulínica. A intervenção também foi acompanhada de avaliações periódicas para mensurar a eficácia ao longo do tempo, como visto em Hosgor e Altindis (2020), que realizaram acompanhamento por até seis meses.
As pontuações na Escala PEDro revelam diferenças significativas na qualidade metodológica dos estudos revisados. Estudos como os de Shim et al. (2020) e Cruse et al. (2022), ambos com pontuação 10, destacam-se pela excelente qualidade, atendendo a todos os critérios metodológicos exigidos. Outros estudos, como os de Cahlin, Lindberg e Dahlström (2019), Kaya e Ataoğlu (2021), Shehri et al. (2022), Ramalho et al. (2023) e Alwayli, Abdulrahman e Rastogi (2024), com pontuação 9, também demonstraram qualidade metodológica robusta, sendo considerados confiáveis. Por outro lado, os estudos de Hosgor e Altindis (2020) e Pardo et al. (2022) obtiveram pontuações abaixo de 6 na Escala PEDro, com 4 e 5, respectivamente, o que indica uma qualidade metodológica inferior.
O Quadro 2 apresenta uma síntese dos principais resultados clínicos e implicações terapêuticas dos estudos revisados sobre o uso da Toxina Botulínica no tratamento de bruxismo em adultos. Cada estudo é analisado quanto aos efeitos observados na redução de dor, melhora funcional e controle dos sintomas, destacando-se a eficácia terapêutica da Toxina Botulínica em diferentes abordagens clínicas.
Quadro 2. Resultados Clínicos e Implicações Terapêuticas do Uso de Toxina Botulínica no Tratamento do Bruxismo
Autor/Ano | Resultados Clínicos | Implicações Terapêuticas |
Cahlin, Lindberg e Dahlström (2019) | Não houve diferenças significativas entre o tratamento com BTX-A é o grupo controle para a maioria das variáveis, exceto na capacidade de mastigação, que apresentou uma melhora significativa no segundo registro para o braço ativo. | A Toxina Botulínica A não demonstrou eficácia significativamente maior em comparação com o placebo em variáveis de força de mordida ou índices de bruxismo, mas houve uma leve melhora na capacidade de mastigar no grupo BTX-A. |
Hosgor e Altindis (2020) | Redução significativa da dor em pacientes com bruxismo do sono, com queda nos valores da escala VAS de 7.09 para 2.90 no primeiro mês, 1.95 no terceiro mês e 2.11 no sexto mês. Abertura bucal e movimentos laterais também mostraram melhora significativa. | A Toxina Botulínica é eficaz no manejo da dor miofascial temporomandibular e bruxismo do sono, reduzindo a dor e melhorando a função mandibular, sugerindo um tratamento viável para a disfunção temporomandibular e bruxismo. |
Shim et al. (2020) | Houve uma redução significativa na amplitude dos surtos de EMG e nos episódios de bruxismo em 12 semanas. Mudanças nos estágios de sono (N1, REM) e no índice de arousal foram observadas, com redução significativa no grupo de tratamento (p = 0.008). | O uso de Toxina Botulínica tipo A foi eficaz na redução dos surtos de EMG e na diminuição dos episódios de bruxismo, principalmente em combinação com a análise dos parâmetros de EMG ao longo do tempo. |
Kaya e Ataoğlu (2021) | O BTX-A reduziu significativamente a força máxima de mordida nas primeiras semanas (2ª e 6ª semanas) após o tratamento, com uma diminuição da dor relatada pelos pacientes. | O BTX-A foi eficaz no tratamento do bruxismo, proporcionando redução rápida da dor e melhora na função mastigatória, especialmente nas primeiras semanas. No entanto, os efeitos a longo prazo não mostraram superioridade significativa em relação ao tratamento com placas oclusais. |
Cruse et al. (2022) | O BI foi significativamente reduzido no grupo BTX-A em comparação ao placebo após 4 semanas (redução média de 1.66, p=0.003). No entanto, essa diferença não se manteve após 12 semanas. | A Toxina Botulínica foi eficaz na redução dos eventos de bruxismo após 4 semanas, mas os efeitos diminuíram após 12 semanas, conforme esperado devido à recuperação gradual da função muscular. |
Pardo et al. (2022) | Redução significativa no desequilíbrio da força BF entre os lados direito e esquerdo após injeções de BTX-A. Aos 15 dias, diferença significativa (p = 0,028). Melhoria na duração do tempo de oclusão (OT) e tempo de discussão (DT) ao longo de 90 e 120 dias. | Injeções de BTX-A eficazes para reduzir a hiperatividade muscular e melhorar o equilíbrio da força de mordida e função mandibular em pacientes com bruxismo. Terapia promissora para controle do bruxismo. |
Shehri et al. (2022) | O grupo BTX-A apresentou uma redução significativa na dor (VAS) em comparação com o grupo placebo, com a dor diminuindo de 8.62 mm antes da injeção para 1.32 mm após um mês, enquanto o grupo placebo manteve uma pontuação elevada (8.07 mm). A redução na dor foi observada em todas as avaliações, com um aumento gradual após seis meses. | A Toxina Botulínica foi eficaz na redução da dor e na diminuição da EMG nos músculos masseter direito e esquerdo, sendo significativamente mais eficaz do que o placebo nas primeiras semanas e meses, mas a eficácia começou a diminuir após três meses. |
Ramalho et al. (2023) | Redução significativa da dor em ambos os grupos aos 15, 90, 120, e 180 dias, sem diferença estatística entre os grupos. Redução da dor no grupo BTX-A de 8.62 mm para 1.32 mm após 1 mês. No grupo placebo, a dor permaneceu alta (8.07 mm).” | Alta satisfação com o tratamento relatada em ambos os grupos, com valores entre 8.70 e 9.78, sem diferença estatística. |
Alwayli, Abdulrahman e Rastogi (2024) | No grupo BTX-A, a dor diminuiu de 5.75 no primeiro dia para 0.44 após 2 semanas, mantendo níveis baixos por até 16 semanas (VAS). Após 24 semanas, a dor aumentou levemente para 2.00. | A Toxina Botulínica mostrou eficácia significativa na redução da dor por até 16 semanas, com aumento leve dos sintomas após esse período. |
Fonte: Autora (2024). Legenda: EMG: Eletromiografia; BTX-A: Toxina Botulínica tipo A; VAS: Escala Visual Analógica; BI: Índice de Bruxismo; BF: Força de Mordida; OT: Tempo de Oclusão; DT: Tempo de Disclusão.
Os resultados clínicos apresentados na tabela evidenciam uma redução significativa da dor em pacientes com bruxismo, como observado nos estudos de Shehri et al. (2022), Ramalho et al. (2023) e Hosgor e Altindis (2020). Esses estudos mostram que a Toxina Botulínica é eficaz no alívio da dor e na melhora da função mandibular, com efeitos notáveis nos primeiros meses após a aplicação. Além disso, estudos como o de Cruse et al. (2022) e Pardo et al. (2022) destacam melhorias na redução da atividade muscular e no equilíbrio da força de mordida, sugerindo benefícios funcionais além do controle da dor.
Em termos de implicações terapêuticas, a maioria dos estudos, como os de Shehri et al. (2022), Ramalho et al. (2023), Kaya e Ataoğlu (2021), Cruse et al. (2022), e Pardo et al. (2022), sugere que a Toxina Botulínica é uma terapia promissora para o controle do bruxismo, principalmente em curto e médio prazo. No entanto, estudos como o de Cruse et al. (2022) indicam que os efeitos tendem a diminuir após algumas semanas, sugerindo a necessidade de reaplicações ou ajustes na terapia. Portanto, enquanto a Toxina Botulínica se mostra eficaz para tratar os sintomas do bruxismo, há a necessidade de considerar a durabilidade dos efeitos e possíveis reavaliações do tratamento ao longo do tempo.
4. DISCUSSÃO
A presente pesquisa buscou analisar os efeitos terapêuticos do uso da Toxina Botulínica no tratamento de adultos com bruxismo, focando nos principais resultados clínicos e nas implicações terapêuticas dessa intervenção. A análise dos estudos revisados revela que a Toxina Botulínica é uma alternativa viável e eficaz para o manejo do bruxismo, principalmente no que se refere à redução da dor, à melhora da função mandibular e ao controle da hiperatividade muscular.
Os resultados clínicos dos estudos analisados demonstram de forma consistente a capacidade da Toxina Botulínica em reduzir a dor e melhorar a função mandibular dos pacientes. Um exemplo claro é o estudo de Hosgor e Altindis (2020), no qual foi utilizada a VAS para avaliar a intensidade da dor. A VAS é uma ferramenta amplamente usada na prática clínica e na pesquisa, composta por uma linha reta de 10 cm onde os pacientes indicam a intensidade de sua dor, variando de 0 (‘sem dor’) a 10 (‘pior dor possível’). No estudo, os valores médios da VAS caíram de 7.09 no início do tratamento para 2.90 no primeiro mês, 1.95 no terceiro mês e 2.11 no sexto mês, demonstrando uma redução significativa e sustentada da dor em pacientes com bruxismo do sono. Além disso, esses pacientes também apresentaram melhorias na abertura bucal e nos movimentos laterais da mandíbula, reforçando o potencial da (BTX-A para restaurar a função mandibular e aliviar o desconforto relacionado ao bruxismo.”
Comparando-se os grupos de tratamento com Toxina Botulínica e os grupos controle, a eficácia da BTX-A também é reforçada. Shehri et al. (2022) relataram uma redução significativa da dor no grupo tratado com BTX-A, onde a dor caiu de 8.62 mm para 1.32 mm após um mês de tratamento, enquanto o grupo placebo manteve pontuações elevadas de dor (8.07 mm). Esse estudo destaca a superioridade da Toxina Botulínica em relação ao placebo nas primeiras semanas e meses, embora a eficácia tenha diminuído gradualmente após três meses. Resultados semelhantes foram observados por Ramalho et al. (2023), que também registraram uma redução significativa da dor em ambos os grupos, com alta satisfação relatada pelos pacientes, sem diferença estatística significativa entre os grupos.
Embora a maioria dos estudos demonstra benefícios clínicos do uso da Toxina Botulínica no tratamento do bruxismo, há variações nos resultados entre os estudos. Cahlin, Lindberg e Dahlström (2019), por exemplo, indicaram que o BTX-A não apresentou diferenças significativas em relação ao placebo na maioria das variáveis, exceto na capacidade de mastigar, onde o grupo de tratamento apresentou melhora. Esse contraste em relação a outros estudos pode ser atribuído a fatores metodológicos, como a dosagem utilizada, o número de pontos de aplicação ou a população estudada. Já o estudo de Cruse et al. (2022) mostrou uma redução significativa no índice de bruxismo (BI) após quatro semanas de tratamento com BTX-A, com uma redução média de 1.66 (p=0.003). No entanto, os efeitos não se mantiveram após 12 semanas, sugerindo uma recuperação gradual da função muscular após a injeção, o que aponta para a necessidade de reaplicações periódicas para sustentar os benefícios clínicos.
Além da eficácia na redução da dor e controle dos episódios de bruxismo, alguns estudos também apontaram para o impacto da Toxina Botulínica na força de mordida e na função mastigatória. Kaya e Ataoğlu (2021) relataram uma redução significativa da força de mordida nas primeiras semanas após o tratamento com BTX-A, além de uma diminuição rápida da dor relatada pelos pacientes. No entanto, a eficácia a longo prazo não foi superior ao tratamento com placas oclusais, indicando que a BTX-A pode ser mais útil como uma intervenção de curto prazo, especialmente para pacientes que buscam alívio rápido da dor.
Outro estudo relevante, de Pardo et al. (2022), registrou uma melhora no equilíbrio da força de mordida e na função mandibular após as injeções de BTX-A. O desequilíbrio da força de mordida entre os lados direito e esquerdo foi reduzido significativamente após 15 dias (p=0.028), e melhorias na duração do tempo de oclusão e disclusão foram observadas ao longo de 90 a 120 dias. Esses resultados indicam que a BTX-A não apenas reduz a dor, mas também melhora o funcionamento geral da mandíbula em pacientes com bruxismo.
As implicações terapêuticas dos estudos revisados apontam para o potencial da Toxina Botulínica como uma opção de tratamento eficaz para o controle do bruxismo, especialmente na redução da dor e na melhoria da função muscular. A BTX-A se mostrou eficaz em reduzir a hiperatividade muscular, melhorar a função mandibular e proporcionar alívio da dor de maneira consistente, conforme evidenciado por Alwayli, Abdulrahman e Rastogi (2024), onde a dor foi reduzida de 5.75 para 0.44 nas primeiras duas semanas, com os níveis de dor permanecendo baixos por até 16 semanas.
Portanto, os nove estudos revisados demonstram que a Toxina Botulínica é uma intervenção eficaz para o tratamento do bruxismo em adultos, proporcionando alívio da dor, redução da hiperatividade muscular e melhora da função mandibular. Embora a durabilidade dos efeitos varia entre três e seis meses, com a necessidade de reaplicações para manter os benefícios terapêuticos, a BTX-A se mostrou uma opção promissora, especialmente para pacientes que não respondem adequadamente a outros tratamentos, como placas oclusais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados analisados, conclui-se que a Toxina Botulínica é uma alternativa eficaz no tratamento do bruxismo em adultos, especialmente na redução da dor e no controle da hiperatividade muscular. Os estudos demonstraram melhorias significativas nos sintomas, como redução da dor e melhorias funcionais, incluindo abertura mandibular e equilíbrio da força de mordida. Embora a eficácia seja notável a curto e médio prazo, com os efeitos diminuindo após três a seis meses, reaplicações periódicas podem ser necessárias. Contudo, limitações como a variabilidade nos protocolos de aplicação e a predominância de amostras femininas indicam a necessidade de mais estudos com amostras maiores e maior padronização para consolidar sua eficácia como tratamento de primeira linha.
REFERÊNCIAS
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