USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DE MUCOSITE ORAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

USE OF MEDICINAL PLANTS IN THE TREATMENT OF ORAL MUCOSITIS: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10202179


Cecília Soares Dias dos Santos1
Gabriele Freitas da Silva Lima2
Mayra Cristina Ribeiro de Lima3
Marcos Barbosa Pains4
Guilherme Duprat Ceniccola5


Resumo

A mucosite é um efeito frequentemente encontrado em pacientes oncológicos em tratamento de quimioterapia e/ou radioterapia. Clinicamente, observam-se lesões ulceradas e eritematosas, que causam dor e dificuldade na alimentação afetando a qualidade de vida do paciente. O estudo proposto é uma revisão integrativa, que avaliou o uso da Camomila e da Aloe Vera no tratamento de mucosite bucal, baseado em pesquisa da literatura em 3 bases de dados (Pubmed, Sciencedirect e Lilacs). Foram incluídos 6 artigos e mostram que, embora as conclusões variem entre os estudos, os resultados sugerem que intervenções como Aloe Vera e Camomila podem desempenhar papéis específicos na prevenção e redução da mucosite oral. Abordagens fitoterápicas exibem um potencial promissor na prevenção e redução da mucosite oral em pacientes oncológicos. Porém, faz-se necessário promover novas pesquisas, com métodos mais rigorosos e mais padronizados, de alta qualidade na área para respaldar suas indicações e eficácias.

Palavras-chave: Mucosite oral. Plantas medicinais ou fitoterapia. Quimioterapia. Radioterapia.

Abstract Mucositis is an effect often found in cancer patients undergoing chemotherapy and/or radiotherapy. Clinically, ulcerated and erythematous lesions are observed, which cause pain and difficulty in eating, affecting the patient’s quality of life. The proposed study is an

integrative review, which evaluated the use of Chamomile and Aloe Vera in the treatment of oral mucositis, based on a literature search in 3 databases (Pubmed, Sciencedirect and Lilacs). We included 6 articles and show that although conclusions vary between studies, the results suggest that interventions such as Aloe Vera and Chamomile may play specific roles in preventing and reducing oral mucositis. Herbal approaches exhibit promising potential in the prevention and reduction of oral mucositis in cancer patients. However, it is necessary to promote new research, with more rigorous and standardized methods, of high quality in the area to support its indications and efficacy.

Keywords: Oral mucositis. Medicinal plants or Phytotherapy. Chemotherapy. Radiotherapy.

1        INTRODUÇÃO

O tratamento antineoplásico como a quimioterapia e/ou radioterapia apesar de ser necessário e benéfico aos pacientes, podem causar efeitos adversos, como por exemplo, a mucosite oral. Isso se dá de forma complexa e multifatorial, pois os hábitos e condições genéticas prévios podem estar relacionados, afetando 75% da população submetida ao tratamento antineoplásico (SCULLY, SONIS & DIZ, 2006; DE SANCTIS et al., 2016). A mucosite é um efeito frequente que pode atingir a mucosa oral e/ou gastrointestinal dos pacientes submetidos ao tratamento antineoplásico (AKHAVANKARBASS et al., 2016). Ao exame clínico, observa-se a mucosite oral (MO) como lesões ulcerativas, eritematosas, dolorosas, causando dificuldade na fala e deglutição, podendo levar à infecções secundárias e outras condições que podem dificultar a qualidade de vida do paciente (GUEDES et al., 2021).

Atualmente, o tratamento da mucosite oral é realizado de diversas formas, como por exemplo através da laserterapia, crioterapia, uso de Benzidamina e gluconato de Clorexidina. Logo, também tem sido abordado como forma de tratamento, o uso de fitoterápicos. Segundo Souza (2020), essa forma de tratamento apresenta menos efeitos colaterais do que as demais drogas utilizadas corriqueiramente, além de possuírem efeitos anti-inflamatórios e antimicrobianos, que são de suma importância no tratamento da dor e reparo de lesões teciduais da MO.

O tratamento para mucosite oral com Camomila tem sido o fitoterápico mais utilizado atualmente no tratamento das lesões (SOUZA, 2020). Ela possui agentes químicos, como flavonoides, que possuem propriedades sedativas, anti-inflamatórias, analgésicas, antiespasmódicas, antioxidantes, antinociceptivas e neuroprotetoras (OVEISSI, 2019). Vários autores mencionam a camomila como sendo um protetor da mucosa oral, tornando-se útil na prevenção de úlceras orais, em especial as causadas pelo tratamento antineoplásico (SALEHI et al., 2019).

Outra alternativa de tratamento fitoterápico para mucosite oral é a Aloe Vera, também conhecida popularmente como Babosa. Essa planta possui a capacidade de estimular a formação de colágeno e oxigenação das lesões. Além disso, possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias (AGHAMOHAMAMDI & HOSSEINIMEHR, 2016). A Aloe Vera possui folhas em forma de lança, as quais possuem em seu interior um gel de onde são extraídos seus produtos (FERREIRA et al., 2022). Após a remoção da parte externa das folhas, obtêm-se um gel mucilaginoso com aspecto viscoso e incolor, tendo por nome: gel de Aloe Vera. Tal gel contém em sua composição principalmente água e polissacarídeos, tendo também diversos outros componentes, como vitaminas A, B, C e E, Magnésio, Zinco, Cálcio, Potássio, aminoácidos, enzimas e carboidratos (TESKE & TRENTINI, 1997; FEMENIA et al., 1999; CARVALHO, 2005; SURJUSHE, 2008).

Tendo em vista a utilização da Camomila e da Aloe Vera como opções de tratamento para mucosite oral induzida por terapia antineoplásica e seus benefícios, torna-se importante que sejam estudadas de forma mais aprofundada, para maior disseminação desse tipo de tratamento e maior conhecimento de suas propriedades e aplicabilidades. Assim, o presente estudo tem como objetivo, através de uma Revisão Integrativa, apresentar resultados da utilização das plantas citadas no tratamento da Mucosite Oral, principalmente no auxílio da prevenção de intercorrências e maiores complicações, além de também da atuação na promoção da qualidade de vida.

2         REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Mucosite bucal

A mucosite bucal é caracterizada por uma inflamação e formação de úlceras na mucosa da boca, acompanhada pela criação de pseudomembranas, representando uma fonte potencial de infecções com risco de vida. Segundo VOLPATO et al. (2007), este efeito adverso é comumente associado a tratamentos oncológicos, como radioterapia e quimioterapia, afetando mais de 40% dos pacientes e causando desconforto significativo. O quadro inicial se manifesta como eritema, evoluindo para o desenvolvimento de placas brancas descamativas, que são sensíveis ao toque. Com o tempo, ocorre a formação de crostas epiteliais e exsudato fibrinoso, resultando na criação de uma pseudomembrana e ulceração, sendo esta a forma mais grave da mucosite. A exposição do tecido conjuntivo subjacente, que é ricamente inervado, ocorre geralmente entre 5 e 7 dias após a administração do tratamento, causando dor intensa. Pacientes que desenvolvem mucosite ulcerativa, especialmente aqueles com supressão da medula óssea, podem enfrentar riscos adicionais de invasão sistêmica por bactérias ou produtos da parede celular bacteriana. O manejo da dor muitas vezes demanda ajustes na dieta e, em alguns casos, a administração parenteral de analgésicos narcóticos (VOLPATO et al., 2007).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mucosite bucal pode ser classificada em quatro graus: grau 0 – indica ausência de alterações; grau I – presença de eritema; grau II – presença de eritema, úlceras e alimentação sólida; grau III – úlceras e alimentação líquida; e grau IV – não consegue realizar alimentação via oral (SILVA JÚNIOR et al., 2010).

2.2 Camomila

A camomila pode ser considerada uma planta medicinal e tem sido amplamente estudada devido às suas propriedades terapêuticas. Compostos fenólicos, especialmente flavonóides como aspegenina, quercetina, patuletin, e seus glicosídeos, são os principais componentes das flores de camomila (CURRA et al., 2013). Além de possuir propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas, a camomila é conhecida por suas habilidades curativas no tratamento de lesões ulceradas (MAZOKOPAKIS et., 2005). Ao longo dos séculos, a camomila (Matricaria recutita L.) tem sido utilizada pelas suas propriedades antibacterianas, antifúngicas, anti-inflamatórias, angiogênicas, anticancerígenas, espasmolíticas, antidiabéticas e sedativas. A presença significativa de flavonóides na camomila, juntamente com seus efeitos antibacterianos, antifúngicos e anti-inflamatórios, contribui para sua distinção na indústria farmacêutica. O enxágue oral líquido de camomila, devido à sua capacidade comprovada de retardar o início e a gravidade da mucosite induzida por radioquimioterapia em comparação com o placebo, destaca-se como uma intervenção promissora para pacientes submetidos a esse tipo de tratamento (SAHEBNASAGH et al., 2023).

2.3 Aloe Vera

De acordo com Sahebnasagh et al. (2023), a Aloe Vera, uma planta medicinal que abriga mais de 75 constituintes ativos, emerge como uma escolha apropriada para facilitar o processo de cicatrização de feridas. Seus efeitos benéficos nesse contexto parecem derivar da capacidade de inibir a ciclooxigenase, aprimorar a síntese de colágeno, promover o fluxo sanguíneo na área da ferida, neutralizar radicais livres e exibir propriedades antibacterianas. Em estudos, ficou evidenciado que a Aloe Vera desempenha um papel significativo na redução da incidência de mucosite grave induzida por radioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço (AHMADI, 2012).

3        METODOLOGIA
3.1  Tipo de estudo

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa, que avaliou o uso de plantas medicinais no tratamento de mucosite oral. Foi baseado em pesquisa da literatura através de 3 bases de dados (Pubmed, Sciencedirect e Lilacs) e sem restrição de período. Este estudo foi realizado de acordo com os itens de Relatório Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta Análise (PRISMA; http://www.prisma-statement.org).  Foram incluídos neste trabalho apenas estudos originais e o desenho do estudo foi realizado de acordo com a seguinte estratégia PICO: Pacientes com mucosite oral (População); Plantas medicinais (Intervenção); sem intervenção (Comparação); Melhora dos sinais sintomas (Desfecho). A estratégia de busca foi adaptada para cada base de dados (tabela 1).

Tabela 1 – Estratégia de busca

BASES DE DADOS:BUSCANº de Artigos
PUBMED((“mucosits”[Title/Abstract] AND “chemotherapy”[Title/Abstract]) OR “radiotherapy”[Title/Abstract]) AND (“Aloe”[Title/Abstract] OR “chamomile”[Title/Abstract])42
  LILACS  (Mucosite) AND (quimioterapia) OR (radioterapia) AND (Aloe Vera) OR (Camomila)154
SCIENCE DIRECT((“mucositis”[Title/Abstract] AND “chemotherapy”) OR “radiotherapy”) AND (“Aloe”[Title/Abstract] OR “chamomile”[Title/Abstract])58

Legenda: National Library of Medicine (PUBMED), Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Web of Science (SCIENCE DIRECT).

3.2 Participantes da pesquisa

Nessa revisão integrativa foram incluídos estudos que discorriam sobre o uso de plantas medicinais, sendo elas Camomila ou Aloe Vera no tratamento de Mucosite oral que ocorreram em indivíduos adultos (>18 anos) durante ou pós-tratamento antineoplásico.

3.3 Critérios de inclusão e exclusão

Foram selecionados artigos que envolvam pacientes com mucosite oral, que estavam ou que foram submetidos ao tratamento oncológico; artigos que fizeram uso da Camomila ou Aloe Vera como fitoterápico em pacientes que apresentaram mucosite; estudos realizados com pacientes adultos (>18 anos).

Foram excluídos todos os estudos/artigos de pesquisa secundária (revisões narrativas), assim como case reports e artigos de opinião;  artigos que não fornecerem os tipos de plantas medicinais que podem ser usados no tratamento de mucosite oral; artigos que utilizaram outro tipo de planta como fitoterápico, não sendo Camomila ou Aloe Vera, artigos em idiomas diferentes de inglês e português; artigos cuja revista publicada não seja indexada; artigos que use o termo “mucosite” de forma inadequada ou que não esteja relacionada ao tratamento quimioterápico e radioterápico; artigos que utilizem fitoterapia no tratamento de lesões que não sejam mucosite oral; também foram excluídos estudos em animais e in vitro.

3.4 Etapas da pesquisa

A presente pesquisa foi desenvolvida por meio de diretrizes contidas nas orientações para realização de revisões sistemáticas (PRISMA). A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados; utilizando como descritores as seguintes palavras chaves: mucosite oral; plantas medicinais ou fitoterapia; quimioterapia; e radioterapia; tabulação de dados por meio da criação de tabela independente, que foi desenvolvida através do programa Excel; análise dos dados obtidos; discussão; e conclusão dos resultados encontrados.

Após a conclusão da busca, foi realizada uma avaliação dos resultados para uma seleção de estudos elegíveis. Para diminuir o risco de viés a seleção foi feita por duas pesquisadoras, realizando-se a seleção de maneira independente e com base nos critérios de elegibilidade da revisão e registrados em uma tabela (Tabela 2). Cada revisora registrou se concorda ou não com a inclusão do estudo, com base na avaliação dos títulos e dos resumos. Os casos discordantes foram resolvidos por meio de uma terceira pesquisadora previamente estipulada.

Além disso, foi realizada uma busca manual para a seleção de artigos que obedeceram aos critérios de inclusão que foram citados nos artigos selecionados. Estes estudos foram encontrados através da leitura de Revisões Sistemáticas sobre o tema visando enriquecer o trabalho em questão.

Foram avaliados os textos completos dos artigos selecionados, observando-se então se atendiam aos critérios da pesquisa. Aqueles que foram excluídos nessa etapa tiveram seus motivos de exclusão registrados a fim de serem mencionados nos resultados deste estudo. Após a seleção final dos estudos, finalmente foi realizada a escrita do texto da revisão.

Essa revisão utilizou o Mendeley como gerenciador de referências para organização das referências dos estudos incluídos e exclusão de duplicatas.

3.5 Análise dos dados

Foi realizada uma análise das principais plantas medicinais utilizadas no tratamento de mucosite bucal, e essa análise dos dados foi contemplada na tabela 1, também utilizada como instrumento de coleta de dados. Na tabela se verificam as variáveis voltadas para pacientes oncológicos adultos que estão em tratamento quimioterápico ou radioterápico; e os tipos de tratamento fitoterápicos para mucosite bucal; com o propósito de investigar se essas plantas medicinais atuam no alívio de sinais e sintomas da mucosite ou previnem a evolução desta para um estágio mais grave.

Figura 1: Fluxograma de seleção de estudos nessa revisão segundo Prisma.

Legenda: National Library of Medicine (PUBMED), Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Web of Science (SCIENCE DIRECT).
(N)= Número de artigos.

Na primeira etapa de investigação, fez-se o levantamento dos artigos com os descritores propostos nas bases de dados, sendo identificados 254 estudos. Destes, 42 artigos estavam na base de dados PUBMED, 154 na base de dados LILACS e 58 na Web of Science. Na segunda etapa realizou-se análise dos títulos dos artigos e dos resumos, excluindo-se os artigos que não obedeciam aos critérios de inclusão, ou não eram artigos originais. Por fim, aplicou-se a leitura criteriosa dos artigos completos e a análise qualitativa deles para a extração dos dados, neste momento foram excluídos 8 artigos que não se enquadram nos critérios de inclusão deste trabalho. Foi realizada então, uma busca manual, onde foram encontrados 3 artigos com potencial de inclusão. Logo, a seleção foi finalizada com 6 artigos. Todas as etapas foram realizadas em pares, em casos de desacordo entre as revisoras, houve discussão, com o propósito de decidir sobre a inclusão ou exclusão do artigo (Figura 1).

1        RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 2 apresenta dados dos 6 estudos selecionados nesta pesquisa quanto ao tratamento da mucosite bucal em pacientes submetidos a diferentes intervenções, em formas de apresentações distintas, utilizando Aloe Vera ou Camomila. Os resultados destacam as diferenças observadas nos diversos grupos, fornecendo uma visão comparativa dos efeitos das intervenções na prevenção e redução da mucosite em pacientes oncológicos.

Tabela 2 – Características e resultados dos estudos incluídos.

A mucosite bucal é uma complicação comum em pacientes com câncer submetidos a tratamentos como quimioterapia e radioterapia, podendo afetar na qualidade de vida dos pacientes durante o tratamento oncológico. Muitos autores atribuem ao laser de baixa potência o título de ferramenta padrão ouro no tratamento e prevenção de mucosite bucal, porém, diversos estudos têm investigado outras estratégias para prevenir ou atenuar essa condição, destacando intervenções como o uso de Aloe Vera e Camomila.

Um estudo de Putipun Puataweeponga. et al., (2010) analisou os efeitos do Aloe Vera na incidência e gravidade da mucosite, em seus diferentes graus, em pacientes com câncer, comparando-os com um grupo placebo. O estudo contou com 30 pacientes no grupo Aloe Vera e 31 pacientes no grupo placebo e a incidência de mucosite grave foi significativamente menor no grupo Aloe Vera em comparação com o grupo placebo (53% versus 87%, p=0,004), sugerindo uma aplicação preventiva benéfica do Aloe Vera. Dessa forma, este estudo sugere que o Aloe Vera pode desempenhar um papel na redução da incidência e gravidade da mucosite em pacientes com câncer. Já um ensaio clínico de Catherine et al. (2004) envolveu 58 pacientes com câncer de cabeça e pescoço, divididos em dois grupos: um grupo de 28 pacientes tratados com Aloe Vera e outro com 30 pacientes, com placebo. Embora os pacientes no grupo de Aloe Vera tenham apresentado um grau máximo de gravidade menor em comparação com o grupo placebo, essa diferença não alcançou significância estatística na duração da mucosite entre os dois grupos.

Em 2017, uma pesquisa de Marucci e colaboradores envolveu uma análise de 104 pacientes com câncer de cabeça e pescoço, randomizados para receber um agente natural ou placebo durante quimiorradioterapia que completaram pelo menos 5 semanas de tratamento. A avaliação incluiu uma variedade de desfechos relacionados à mucosite bucal. Este trabalho mostrou que não houve diferenças estatisticamente significativas entre os pacientes designados para o agente natural e o grupo placebo em relação a esses desfechos cruciais, indicando que a adição do agente natural não influenciou significativamente esses resultados. Os autores sugerem que o volume de tecido irradiado é um fator mais determinante na gravidade da mucosite do que a atribuição de tratamento. Esses resultados ressaltam a complexidade da mucosite bucal. Portanto, sabe-se que medicações fitoterápicas podem apresentar limitações, podendo não obter respostas desejadas quando utilizadas em graus de mucosite mais avançados. É importante salientar que essas medicações apresentam não apenas propriedades curativas, como também preventivas.

Em um ensaio clínico randomizado de fase II de Braga et al., (2015), 40 pacientes, que foram submetidos ao Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH) alogênico, foram randomizados para receber cuidados de rotina e enxaguatório bucal contendo extrato líquido de Camomila Recutita a 0,5%, 1% ou 2% (grupos experimentais de 10 paciente cada) ou apenas tratamento padrão (grupo controle de 10 pacientes) para a análise da incidência e intensidade da mucosite bucal. Nesta pesquisa, os pacientes dos grupos experimentais receberam a instrução de realizar enxágue bucal com 10 ml do enxaguatório prescrito duas vezes ao dia, 1 hora antes das refeições (café da manhã e jantar), durante 1 minuto cada, seguido pela eliminação do enxaguatório por meio do ato de cuspir. A incidência de mucosite foi notavelmente menor no grupo que recebeu enxaguatório bucal na dosagem de 1%, apresentando um efeito protetor significativo em comparação com o grupo controle. Além disso, o grupo de dosagem de 1% apresentou pontuações significativamente mais baixas na escala da OMS e menos dias de mucosite em comparação com o grupo controle, indicando não apenas uma redução na frequência, mas também na intensidade da mucosite bucal. Este grupo também apresentou o menor número de lesões ulcerativas, destacando seu potencial preventivo eficaz. A aceitação do enxaguatório bucal foi alta e a ocorrência de efeitos adversos foi mínima. Logo, esses resultados sugerem que o enxaguatório bucal de camomila, em especial na dosagem de 1%, pode ser uma intervenção ideal na prevenção da mucosite bucal em pacientes submetidos ao TCTH alogênico.

O estudo piloto randomizado de Reis et al., (2016) examinou os efeitos da crioterapia com infusão de camomila na incidência e gravidade da mucosite bucal através da comparação de dois grupos: o grupo controle, que recebeu crioterapia apenas com água (n = 18), e o grupo camomila, que recebeu crioterapia com infusão de camomila (n = 20). Ambos os grupos foram orientados a realizar enxágue bucal com gelo por pelo menos 30 minutos durante as sessões de quimioterapia e a avaliação da mucosa bucal foi realizada nos dias 8, 15 e 22 após o início do tratamento quimioterápico. Os resultados indicam que a intervenção com camomila pode oferecer benefícios significativos na prevenção da mucosite bucal. A incidência de mucosite bucal foi menor no grupo camomila em comparação com o grupo controle. A diferença atingiu significância estatística no dia 8, onde nenhum paciente no grupo camomila desenvolveu mucosite com grau 2 ou superior, enquanto 30% dos pacientes no grupo controle apresentaram essa condição. Embora as diferenças não tenham atingido significância estatística nos dias 15 e 22, a tendência de menor incidência no grupo camomila é notável. Além disso, a avaliação da dor na boca pontuou consistentemente mais baixa no grupo camomila em todas as avaliações, sugerindo um impacto positivo na redução da sintomatologia dolorosa associada à mucosite bucal. No oitavo dia, a análise de ulceração mostrou diferença estatística, onde o grupo camomila presentou 0% de ulceração, contra 16% no grupo controle. Portanto, os achados deste estudo sugerem que a crioterapia com infusão de camomila pode ser uma estratégia eficaz e segura para prevenir e reduzir a mucosite bucal em pacientes oncológicos.

Um outro ensaio clínico cego, não randomizado e controlado, publicado em 2015 por Bahramnezhad et al. envolveu 104 pacientes submetidos à radioterapia devido a câncer de cabeça e pescoço. Foram divididos em 3 grupos que utilizaram: enxaguantes bucais de Camomila, mel e o protocolo comum de cuidado na enfermaria, com água. A avaliação da mucosite revelou diferenças significativas entre os grupos camomila, mel e controle nos dias 7 e 14. A gravidade da mucosite foi mais pronunciada nos grupos camomila e controle em comparação com o grupo mel nesses dias. A mucosite se apresentou de forma mais grave nos indivíduos que utilizaram apenas água para enxaguar a boca. Embora não tenha havido diferenças significativas na intensidade da mucosite entre os grupos experimentais e o controle no primeiro dia de avaliação. Porém, os resultados deste estudo sugerem que o uso de mel pode estar associado a uma redução na gravidade da estomatite, enquanto a camomila e a prática convencional de enxágue bucal não apresentaram benefícios comparáveis. No entanto, do ponto de vista odontológico, o uso do mel como bochecho somente é viável em pacientes edêntulos, pois a composição do mel inclui açúcares que associado ao menor fluxo salivar pode desencadear doença cárie.

A limitação significativa deste trabalho reside na carência de estudos abrangentes sobre o tema, impossibilitando a aplicação de uma abordagem de meta-análise. A escassez de dados relevantes e a falta de um número substancial de estudos anteriores prejudicam a capacidade de realizar uma síntese estatística abrangente e confiável. Além disso, não foi possível realizar uma análise de vieses de publicações com os estudos selecionados. Os estudos encontrados não são padronizados em relação a apresentação das substâncias ou posologia de aplicação. Além disso, o grau de mucosite não foi observado em todos os estudos que utilizaram fitoterápicos.

Por fim, os trabalhos mostram que embora as conclusões variem entre os estudos, os resultados sugerem que intervenções como Aloe Vera e Camomila podem desempenhar papéis específicos na prevenção e redução da mucosite bucal. A heterogeneidade desses resultados destaca a complexidade da condição e mostra a importância de considerar diferentes abordagens para atender às necessidades individuais dos pacientes. Sabe-se também que a laserterapia é um tratamento relativamente caro, o que o torna inacessível para grande parte da população, além de necessitar de um profissional habilitado para realizar tal terapêutica. O uso de fitoterápicos surge como uma alternativa acessível e de fácil aplicação, que pode ser considerada na ausência do tratamento com laser de baixa potência, podendo oferecer resultados positivos aos pacientes.

2        CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de substâncias de origem natural, como a Camomila e o Aloe Vera, emerge como alternativa terapêutica viável para prevenir e tratar a mucosite oral, oferecendo propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e cicatrizantes. Tais agentes naturais podem desempenhar um papel significativo na melhoria da qualidade de vida dos pacientes durante o tratamento. Contudo, é fundamental enfatizar a importância de uma abordagem personalizada na escolha das intervenções, considerando as características individuais dos pacientes. Ainda que alguns resultados apresentem divergências, as pesquisas indicam que abordagens fitoterápicas, como o Aloe Vera e a Camomila, exibem um potencial promissor na prevenção e redução da mucosite oral em pacientes oncológicos. Entretanto, é evidente a carência de estudos mais robustos na literatura para respaldar suas indicações e eficácia. Logo, faz-se necessário promover novas pesquisas, com métodos mais rigorosos de alta qualidade na área, que inclui estudos controlados, randomizados e duplo-cegos, considerados padrão ouro em pesquisa clínica, além de estudos que avaliem o uso dos fitoterápicos em diferentes graus de mucosite e/ou como estratégia preventiva antes do início das lesões. Por fim, observa-se que dentre os resultados obtidos, a Camomila demonstrou maior eficácia quanto à redução do grau de mucosite bucal em pacientes submetidos a quimioterapia e radioterapia, pois, houve melhora significativa dos quadros de mucosite. A Aloe Vera, apresentou um resultado positivo em relação a regressão das lesões, porém, não foi tão eficiente quanto o uso da Camomila, não havendo regressão total das lesões com este componente. Sendo assim, pode-se observar que com o uso da Camomila ou Aloe Vera para o tratamento da mucosite, é possível que o paciente consiga obter uma melhora da qualidade de vida, como consequência da regressão das lesões, sendo esse resultado mais observado nos pacientes que fizeram o uso de Camomila.

REFERÊNCIAS

AGHAMOHAMAMDI, Azar; HOSSEINIMEHR, Seyed Jalal. Natural products for management of oral mucositis induced by radiotherapy and chemotherapy. Integrative cancer therapies, v. 15, n. 1, p. 60-68, 2016.

AHMADI, Amirhossein. Potential prevention: Aloe vera mouthwash may reduce radiation-induced oral mucositis in head and neck cancer patients. Chinese journal of integrative medicine, v. 18, p. 635-640, 2012.

AKHAVANKARBASSI, Mohammad Hasan et al. Randomized doubleblind placebocontrolled trial of propolis for oral mucositis in patients receiving chemotherapy for head and neck cancer. Asian Pacific Journal of Cancer Prevention, v. 17, n. 7, p. 3611-3614, 2016.

BAHRAMNEZHAD, Fatemeh et al. Honey and radiation-induced stomatitis in patients with head and neck cancer. Iranian Red Crescent Medical Journal, v. 17, n. 10, 2015.

BRAGA, Fernanda TMM et al. Use of Chamomilla recutita in the prevention and treatment of oral mucositis in patients undergoing hematopoietic stem cell transplantation: a randomized, controlled, phase II clinical trial. Cancer nursing, v. 38, n. 4, p. 322-329, 2015.

CARVALHO, J.C.T. Formulário Médico Farmacêutico de Fitoterapia 2.ed. Editora Pharmabooks, 2005. 404p.

CURRA, Marina et al. Effect of topical chamomile on immunohistochemical levels of IL-1β and TNF-α in 5-fluorouracil-induced oral mucositis in hamsters. Cancer Chemotherapy and Pharmacology, v. 71, p. 293-299, 2013.

DE SANCTIS, Vitaliana et al. Mucositis in head and neck cancer patients treated with radiotherapy and systemic therapies: Literature review and consensus statements. Critical reviews in oncology/hematology, v. 100, p. 147-166, 2016.

DOS REIS, Paula Elaine Diniz et al. Chamomile infusion cryotherapy to prevent oral mucositis induced by chemotherapy: a pilot study. Supportive Care in Cancer, v. 24, p. 4393-4398, 2016.

FEMENIA, A. et al. Compositional features of polysaccharides from Aloe vera (Aloe barbadensis Miller) plant tissues. Carbohydrate Polymers, v.39, n.2, p.109-117, 1999.

FERREIRA, Ana Sofia et al. Natural Products for the Prevention and Treatment of Oral Mucositis—A Review. International Journal of Molecular Sciences, v. 23, n. 8, p. 4385, 2022.

GUEDES, Jéssyca Viviane de Oliveira et al. Uso de agentes naturais no manejo da mucosite oral. Odontol. Clín.-Cient, p. 47-53, 2021.

MARUCCI, Laura et al. Double‐blind randomized phase III study comparing a mixture of natural agents versus placebo in the prevention of acute mucositis during chemoradiotherapy for head and neck cancer. Head & neck, v. 39, n. 9, p. 1761-1769, 2017.

MAZOKOPAKIS, E. E. et al. Wild chamomile (Matricaria recutita L.) mouthwashes in methotrexate-induced oral mucositis. Phytomedicine, v. 12, n. 1-2, p. 25-27, 2005.

OVEISSI, Vahideh et al. Medicinal plants and their isolated phytochemicals for the management of chemotherapy-induced neuropathy: therapeutic targets and clinical perspective. DARU Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 27, n. 1, p. 389-406, 2019.

PUATAWEEPONG, Putipun et al. The efficacy of oral Aloe vera juice for radiation induced mucositis in head and neck cancer patients: a double-blind placebo-controlled study. Asian Biomedicine, v. 3, n. 4, p. 375-382, 2009.

SAHEBNASAGH, Marzieh et al. Prevention of radiotherapy-related oral mucositis with zinc and polyherbal mouthwash: a double-blind, randomized clinical trial. European Journal of Medical Research, v. 28, n. 1, p. 1-9, 2023.

SALEHI, Bahare et al. Plant-derived bioactives in oral mucosal lesions: a key emphasis to curcumin, lycopene, chamomile, aloe vera, green tea and coffee properties. Biomolecules, v. 9, n. 3, p. 106, 2019.

SCULLY, C.; SONIS, S.; DIZ, P. D. Oral mucositis. Oral diseases, v. 12, n. 3, p. 229-241, 2006.

SILVA JÚNIOR, Francisco Lopes da et al. Radiation-induced oral mucositis: the use of growth factors and laser. RGO. Revista Gaúcha de Odontologia (Online), v. 58, n. 4, p. 511-514, 2010.

SU, Catherine K. et al. Phase II double-blind randomized study comparing oral aloe vera versus placebo to prevent radiation-related mucositis in patients with head-and-neck neoplasms. International Journal of Radiation Oncology* Biology* Physics, v. 60, n. 1, p. 171-177, 2004.

SURJUSHE, A. et al. Aloe vera: A short review. Indian Journal of Dermatology, v.53, n.4, p.163-66, 2008.

TESKE, M.; TRENTINI, A.M.M. Herbarium – Compêndio de Fitoterapia 3.ed. Curitiba: Herbarium Laboratório Botânico, 1997. 317p. VOLPATO, Luiz Evaristo Ricci et al. Mucosite bucal rádio e quimioinduzida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 73, p. 562-568, 2007.


Cecília Soares Dias dos Santos – Residente de Odontologia do Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva da Fepecs/ESCS1
Gabriele Freitas da Silva Lima – Residente de Odontologia do Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva da Fepecs/ESCS2
Mayra Cristina Ribeiro de Lima – Residente de Odontologia do Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva da Fepecs/ESCS3
Marcos Barbosa Pains – Tutor de Odontologia do Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva da FEPECS/ESCS4
Guilherme Duprat Ceniccola – Coordenador do Programa de Residência em Terapia Intensiva da FEPECS/ESCS. Doutor em Nutrição Humana5