USO DE CONTRACEPTIVOS HORMONAIS COMO FATOR PREDISPONENTE PARA O DESENVOLVIMENTO DA DEPRESSÃO: UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

USE OF HORMONAL CONTRACEPTIVES AS A PREDISPONENT FACTOR FOR THE DEVELOPMENT OF DEPRESSION: A BRIEF BIBLIOGRAPHICAL REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10155652


Valeska Nayra Diógenes Oliveira Batista1
Júlio César Alves Cruz1
Anna Maria Nascimento de Lima1
Cellina Nava de Simas Lima1
Luiza Eduarda da Silva Paiva1
Naryelly Stelyte Gomes da Silva1
Gisele Mayara Vieira1
Ayane Araújo Rodrigues2
Ana Rachel Oliveira de Andrade³
Andressa Lima Ramos4


RESUMO

A depressão é um transtorno causado por vários fatores, afetando desde a saúde mental, ambiente e o físico do indivíduo. Pacientes depressivos acabam apresentando sintomas como alteração do humor, profunda tristeza, perda de sono, sentimento de dor e/ou culpa e diminuição ou aumento do apetite. Estudos mostram cada vez mais a relação do uso de anticoncepcionais hormonais como um dos fatores causais da depressão, tendo-se por exemplo, a progesterona, importante hormônio que compõe um dos tipos desses contraceptivos, sendo alvo de estudos em que foram observados tal relação com a depressão. Outrossim, os anticoncepcionais hormonais podem ser encontrados em várias formulações, combinações e concentrações hormonais, e também em diferentes vias de administração, sendo importante ressaltar que, a princípio, estes surgiram para evitar uma provável gravidez de uma relação sexual desprotegida, contudo, com o decorrer do tempo foram percebidos alguns malefícios, como a depressão. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2022 e maio de 2023, e utilizou-se as bases de dados SciELO, PubMed, BVS, MEDLINE e UpToDate, usando como descritores: anticoncepcionais, contraceptivos hormonais e depressão, e seus correspondentes na língua inglesa: contraceptives, hormonal contraceptives and depression, em artigos entre os anos de 2018 a 2023. No que concerne aos critérios para inclusão artigos, adicionou-se estudos e pesquisas originais ou de revisão, anais de congressos, monografias, dissertações, teses e boletins informativos, sendo o único critério de exclusão pesquisas ou artigos datados antes de 2018. Após a seleção dos artigos, seguiu-se os seguintes passos: levantamento bibliográfico e leitura, seleção dos estudos que versa sobre o eixo temático deste estudo, e por fim a leitura crítica e redação. O estudo busca informar mulheres e contribuir como referência científica para outros profissionais da saúde, proporcionando conhecimento sobre os contraceptivos hormonais, tendo em vista sua influência no desenvolvimento da depressão.

Palavras-chave/Descritores: Anticoncepcionais. Contraceptivos Hormonais. Hormônios. Depressão.

ABSTRACT

Depression is a disorder caused by several factors, affecting mental health, the environment and the individual’s physique. Depressive patients end up presenting symptoms such as mood changes, deep sadness, loss of sleep, feelings of pain and/or guilt and decreased or increased appetite. Studies increasingly show the relationship between the use of hormonal contraceptives as one of the causal factors of depression, taking for example progesterone, an important hormone that makes up one of the types of these contraceptives, being the subject of studies in which such a relationship was observed with depression. Furthermore, hormonal contraceptives can be found in various formulations, combinations and hormonal concentrations, and also in different routes of administration, it is important to highlight that, in principle, they were created to avoid a probable pregnancy from unprotected sexual intercourse, however, with the Over time, some harms were noticed, such as depression. Data collection was carried out between August 2022 and May 2023, and the SciELO, PubMed, VHL, MEDLINE and UpToDate databases were used, using the following descriptors: contraceptives, hormonal contraceptives and depression, and their corresponding words in English. : contraceptives, hormonal contraceptives and depression, in articles between the years 2018 and 2023. Regarding the criteria for inclusion of articles, original or review studies and research, conference annals, monographs, dissertations, theses and newsletters were added , the only exclusion criterion being research or articles dated before 2018. After selecting the articles, the following steps were followed: bibliographical survey and reading, selection of studies that deal with the thematic axis of this study, and finally reading criticism and writing. The study seeks to inform women and contribute as a scientific reference for other health professionals, providing knowledge about hormonal contraceptives, given their influence on the development of depression.

Keywords/Descriptors: Contraceptives. Hormonal Contraceptives. Hormones. Depression.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos o uso de contraceptivos anticoncepcionais vem sendo bastante difundido e utilizado abertamente para várias finalidades que não só exclusivamente a de bloquear o processo de fecundação. A contracepção hormonal foi desenvolvida nos Estados Unidos, na década de 1960, como o primeiro método de evitar a gravidez com quase 100% de eficiência. Para época foi considerado um dos maiores feitos na Farmacologia (COUTO et al., 2020).

Esse tipo de medicamento consiste na formulação combinada de um estrogênio e um progestagênio ou em apresentações simples de progestagênio isolado. Pode ser encontrado em diversas formulações e diferentes vias de administração, agindo com a finalidade de bloquear a ovulação e alterar as condições do útero e das trompas de falópio, dificultando assim a fecundação (BRANDT, OLIVEIRA & BURCI, 2018).

No Brasil, em 2015, 79% das mulheres utilizavam algum método contraceptivo de planejamento familiar, representando um índice 28% maior do que o registrado em 1970. Deste grupo, a contracepção hormonal reversível, como a pílula anticoncepcional, foi a escolha da maioria das mulheres, perdendo a posição no ranking para a ligadura de trompas, que é irreversível (BRANDT, OLIVEIRA & BURCI, 2018).

A constituição Federal de 1988 reconhece o Planeamento Familiar como um direito e é dever do Estado fornecer informações e os meios para sua execução, disponibilizando à população métodos que não prejudiquem a saúde e que sejam adequados a cada período da vida (RODRIGUES, 2018).

Os anticoncepcionais, no geral, têm como principal função evitar que uma relação sexual resulte em uma gravidez. Com relação aos benefícios não contraceptivos, tem-se a redução de: cólicas menstruais, dor pélvica relacionada à endometriose, diminuição de acnes, redução do hirsutismo, regulações de ciclos menstruais, redução de sangramentos e menorragia, reduz o risco de câncer de colo do útero, endométrio e ovário, reduz o desenvolvimento de novos cistos ovarianos e diminui o risco de gravidez ectópica. Reduz também, o risco de hiperplasia do endométrio, doenças benignas na mama, além da diminuição de doenças inflamatórias pélvicas (DEHLENDORF, 2022).

Vários estudos demonstram que a porcentagem de mulheres que adquirem esse efeito colateral é baixa, mas demonstram a importância do aconselhamento e mesmo que tenha baixa probabilidade deve ser orientado (ROE, BRATZ & DOUGLAS, 2022).

Recentemente, estudos demonstram que mulheres que fazem uso de anticoncepcional na adolescência possuem mais chances de desenvolverem depressão na fase adulta, comparado a mulheres que nunca usaram anticoncepcional (ANDER, LI & CHEN, 2020). Contudo, o objetivo típico de um anticoncepcional é impedir a concepção, ou seja, tem a função de evitar que a partir de uma relação sexual surja uma gravidez. Dada a gravidade do número de mulheres em uso de anticoncepcionais hormonais (AH) em todo o mundo e as altas taxas de distúrbios psicológicos, surgiu a seguinte questão de pesquisa: Qual a influência do uso de anticoncepcionais no desenvolvimento da depressão?

Diante disso, observamos que há a necessidade que mais mulheres estejam cientes das vantagens e desvantagens antes de usar o AH. Notamos que há uma variedade de efeitos, a grande maioria dos quais ainda carece de explicação científica, como o surgimento de transtornos depressivos ligados ao uso de contraceptivos hormonais. Portanto, torna-se de extrema importância pesquisar esse tema para compreender e difundir as evidências científicas, dando aos profissionais de saúde mais assistência em sua prática profissional e contribuindo para a argumentação do tema nas comunidades científica e civil, uma vez que ainda é pouco discutido. Assim, o objetivo desse estudo é analisar as evidências científicas sobre a influência do uso de anticoncepcionais hormonais no desenvolvimento de depressão.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. USO DO ANTICONCEPCIONAL HORMONAL E DEPRESSÃO

A depressão, segundo o Manual Estatístico de Diagnóstico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana, Quinta Edição (DSM-5), classifica a depressão como um transtorno de humor que causam sintomas persistentes de tristeza, solidão, perda de interesse para atividades diversas, associado a outras alterações somáticas e cognitivas, que interferem diretamente na vida do indivíduo. A etiologia da depressão é bastante diversificada, podendo ter como causa fatores biológicos (podendo se referir a alterações hormonais por exemplo), fatores psicossociais (que pode vincular-se com eventos traumatizantes ou marcantes) e a saúde em geral (a qual pertence agentes como transtornos psiquiátricos já existentes, hábitos de vida, obesidade, etc), todos estes aliados a fatores externos, que podem ser definidores para o desenvolvimento da depressão (CHAND & ARIF, 2022).

Durante a fase da adolescência e períodos de climatério, a utilização de contraceptivos hormonais vem se tornando cada vez mais comum, tanto para tratamentos ginecológicos quanto para impedir uma gravidez, contudo tal método utiliza para tal objetivo substâncias ainda questionáveis: hormônios. Normalmente, as mulheres em idade reprodutiva produzem três classes de esteróides, mas dois deles são de suma importância para que aconteça um adequado desenvolvimento e manutenção dos órgãos sexuais, são eles: estrogênio, progestinas. A associação do hormônio ativa o receptor, tornando-o capacitado de acionar mudanças nos perfis de expressão gênica nos tecidos alvos dos hormônios, como útero e glândulas mamárias, sendo importante ressaltar o protagonismo da progesterona, ela é um fator chave na expressão das funções reprodutivas (GONZAGA, ROZIN & DA LOZZO GARNELINI, 2018).

O uso de contraceptivos hormonais, se caracterizam por serem repositórios de hormônios, podendo estes já se encontrarem fisiologicamente no organismo, podendo alterar o nível basal e normal dos hormônios do organismo, no entanto, a reposição ocorre em virtude de tratamento de doenças de base, como em casos de endometriose, ou para fins mais usuais, como impedir uma gravidez (DOS SANTOS et al., 2020).

Essas substâncias que servem como base química para a comunicação célula a célula, regulando funções como promover a síntese de proteínas e ativação enzimática, realizar o movimento de substâncias através da membrana celular, regular a expressão gênica, entre outras, que contribuem com uma série de processos específicos do organismo, podendo estes serem o crescimento e desenvolvimento celular, regulação do metabolismo, controle dos batimentos cardíacos e da pressão sanguínea, função dos rins, eritropoiese, motilidade do trato gastrointestinal, secreção de enzimas digestivas e de outros hormônios, lactação e atividade do sistema reprodutivo (DA SILVA & DINIZ, 2021).

Haja visto que as pesquisas nos mostram que a depressão foi identificada como o distúrbio que causa mais incapacidade nas mulheres. Ao fazer esta apresentação, apontam que as mulheres podem estar em risco particular e merecem cuidados e comportamento adequado porque são mais propensas a essas doenças. Assim, observaram que mulheres em uso de contraceptivos hormonais, em muitos dos casos combinados, relataram alterações de humor, incluindo depressão e ansiedade, entre os efeitos colaterais, que impactaram diretamente na qualidade de vida. (DE CARVALHO ANDRADE et al., 2023) (MANDU, 2023)

Baseado nessas afirmações, estudos corroboram citando que dentre os efeitos indesejáveis e complicações dos contraceptivos hormonais, destacam-se as alterações do humor, náuseas, vômitos, mal-estar gástrico, cefaleia, tontura, mastalgia, sangramento uterino irregular, cloasma, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio e trombose venosa profunda. Além disso, o autor afirma que os hormônios sexuais femininos, estrogênio e progesterona, influenciam na etiologia dos sintomas depressivos, uma vez que estes hormônios influenciam as regiões corticais e subcorticais cerebrais, envolvidas no processamento emocional e cognitivo (JUNIOR et al., 2021).

Desse modo, é válido citar que a progesterona produz metabólitos que agem sobre o complexo receptor do ácido aminobutírico, que consiste no principal mecanismo inibitório do sistema nervoso central humano. Sabe-se, que esses metabólitos liberados na fase lútea relacionam-se a efeitos adversos de humor nesse período. Visto isso, as evidências relatam que a influência dos hormônios sexuais na função psíquica e cognitiva vem sendo pesquisada com intensidade, parecem exercer um importante papel em desestabilizar o humor em alguns momentos do ciclo de vida da mulher (JUNIOR et al., 2021).

O estrogênio é um hormônio sexual feminino que desempenha um papel importante em uma variedade de funções do corpo, incluindo o sistema nervoso central. Quanto ao seu efeito no humor e na depressão, o estrogênio tem um impacto significativo. É importante ressaltar, que o estrogênio pode ter um papel importante na regulação do humor e do bem-estar emocional. Acredita-se que oscilações nos níveis de estrogênio possam afetar os neurotransmissores no cérebro, como a serotonina, que estão envolvidos no desenvolvimento da depressão. Lembrando que não é a única variável que afeta o humor e a depressão. Outros fatores como predisposição genética, estresse, histórico de saúde mental e estilo de vida também influenciam um papel (BARBOSA & CHAVES, 2021).

O uso de estrogênio na perimenopausa e pós-menopausa (nestes periodos pode ocorrer uma oscilação/baixa consideravel, por isso a necessidade de uso, melhora dos níveis) está associado a melhorias na atenção, humor, memória e sono. Também tem sido associado ao atraso no declínio cognitivo, uma marca registrada do envelhecimento, e os dados também sugerem que o estrogênio desempenha um papel no atraso do aparecimento da doença de Alzheimer. Alguns estudos observacionais também sugerem que o estrogênio pode melhorar o humor e ter efeitos antidepressivos. Nestes casos os estudos relatam para reposição, buscando melhora nos níveis para estes períodos (BARBOSA & CHAVES, 2021).

Os efeitos da progesterona e seus componentes são opostos aos estrogênios. Curiosamente, ensaios clínicos planejados indicam que o uso de estrogênios e progestágenos em mulheres na pós-menopausa não conseguiu melhorar a memória, a cognição ou a qualidade de vida. Isto contradiz estudos observacionais e experimentais anteriores que sugeriram o contrário. Além disso, uma terapia combinada testada num risco de demência aumentou (BARBOSA & CHAVES, 2021).

Dessa maneira, é válido frisar que a depressão está entre as principais causas de incapacitação no mundo todo, sua prevalência em mulheres é o dobro quando vista em homens, e sua incidência está aumentando. Essa afirmação é comprovada quando o autor relata que mulheres utilizando contraceptivos orais combinados com história de depressão devem ter observação médica rigorosa e o medicamento deve ser suspenso se a depressão reaparecer em grau severo. Além disso, o autor afirma ainda, que dentre os sintomas mais comuns que as mulheres podem citar, tem-se: aumento de peso decorrente do ganho exagerado de apetite, depressão, exaustão, cansaço, queda da libido, aparecimento de cravos e espinhas, crescimento das mamas, elevação do colesterol LDL, redução do HDL e prurido, que estão interligados aos efeitos da progesterona. Dentre seus principais efeitos indesejáveis pelo uso contínuo de anticoncepcionais, os efeitos mais comuns são alterações de humor (DE OLIVEIRA QUEIROZ et al., 2021).

Conforme achados de pesquisas, existem vários determinantes para a escolha do melhor anticoncepcional hormonal, como fatores biológicos, sociais, culturais e econômicos. Esses medicamentos vêm em diferentes formas e formas de administração, podem ser injetados, através do adesivo cutâneo, tomados por via oral, entre outros, e são amplamente utilizados para prevenir a gravidez, seja por causa de seu efeito impedindo a ovulação ou porque causam alterações no corpo. Limitando o fluido cervical através do qual os espermatozoides passam, eles também atuam regulando o ciclo menstrual (DE LIMA, DA SILVA LIMA & DA SILVA, 2021).

2.2. TIPOS DE ANTICONCEPCIONAIS HORMONAIS

Existem diversas formas anticonceptivas disponíveis no Brasil, sendo eles métodos de barreira, hormonais ou definitivos. Dentre eles, os métodos hormonais podem se apresentar de diferentes maneiras como anéis vaginais, adesivos, dispositivos intrauterinos (DIU), implantes, injeções e pílulas, podem ainda, se diferenciar em combinados(bases estrogênio+progesterona) ou somente a base de progesterona. Todos os métodos possuem como principal função evitar que ocorra uma gravidez, criando uma barreira que evita a fertilização de um óvulo por espermatozoides. Cada um dos métodos com seus potenciais benefícios e efeitos colaterais devem ser levados em consideração, tanto pelo paciente, quanto pelo profissional, para que alcance um efeito melhor e mais satisfatório (FERREIRA & DE ANDRADE, 2022).

Ademais, estudos apontam que a oferta de contraceptivos, é uma maneira importante que permite aos programas de planejamento familiar, e demais programas de saúde relacionados a reprodutividade, melhorar a qualidade de seus serviços e atender às necessidades de indivíduos que procuram esses tipos de métodos. Desse modo, o autor aborda que a contracepção é necessária, embora nenhum método anticoncepcional seja 100% eficaz e poucas pessoas usam os métodos de maneira perfeita cada vez que mantêm relação sexual (DA SILVA ET AL., 2021).

2.2.1. ANÉIS VAGINAIS CONTRACEPTIVOS

Os anéis vaginais possuem maior vantagem e durabilidade de ação em comparação a outros métodos combinados. As formas contraceptivas disponíveis comumente incluem o anel com uso de um mês, composto por etonogestrel/etinilestradiol, e o anel com uso de um ano, constituído por acetato segesterona/etinilestradiol. Os anéis têm como principais vantagens evitar dificuldades com o uso diário ou semanal (KERNS & DARNEY, 2022).

Possuem uma liberação lenta, no caso do anel mensal, sua inserção no colo uterino é no 5° dia de menstruação e permanece por três semanas, após esse período ele é retirado para que ocorra um novo ciclo menstrual, a própria usuária pode fazer esse manejo. Conforme estudo, o mecanismo de ação dos anéis vaginais está relacionado com a absorção que ocorre através do epitélio da vagina, liberando o hormônio através da circulação sistêmica, não tendo assim uma primeira passagem pelo fígado. Este anel libera os hormônios etonogestrel (progesterona) e etinilestradiol (estrogênio), que entram na corrente sanguínea e agem para suprimir a ovulação. Desse modo, viu-se que ao ser retirado ocorre o sangramento resultante da privação de hormônios, e logo após este período deve-se colocar um novo anel. Neste ponto, seu mecanismo de ação é semelhante ao dos anticoncepcionais combinados (OLIVEIRA & TREVISAN, 2021).

O anel vaginal é um método que apresenta um efeito imediato, apresentando em suas principais vantagens uma alta eficácia de 99,7%. Além disso, possui facilidade para inserir e retirar, não precisar de um controle diário, não causa desconforto, não interrompe ou prejudica a vida sexual, não interfere no uso da camisinha masculina e pode ser utilizado absorvente interno normalmente. Com relação às suas desvantagens, apesar da eficácia, muitas mulheres possuem dificuldade no seu manuseio, exigindo que elas lembrem do momento de retirar após o tempo previsto referente ao seu tipo, ou seja, mensal ou anual. Sob o mesmo ponto de vista, pode aumentar o corrimento vaginal, alteração no peso, surgimento de cefaleias frequentes, e seu custo benefício pode não ser acessível (BRANDT, OLIVEIRA & BURCI, 2018).

De acordo com Pimentel et al. ( 2022), foi realizado um estudo na Dinamarca, com uma paciente que, fez uso de anel vaginal combinado com etonogestrel e etinilestradiol, e após seu início apresentou transtorno depressivo, passando a fazer uso de antidepressivos, passando de uma depressão moderada para uma depressão leve, em seguida, ela cessou o uso do anel e apresentou uma melhora gradual. Diante do relato, conclui-se que, o uso do anel vaginal, variando de acordo com a paciente, esteve mais propensa a ser diagnosticada com depressão e receber antidepressivos pela primeira vez do que as mulheres que não faziam uso de métodos contraceptivos. Apesar do anel vaginal possuir um pequeno risco de transtorno depressivo, a mulher assistida apresentou um agravamento da condição desde que o anel vaginal foi inserido.

2.2.2. ANTICONCEPCIONAL TRANSDÉRMICO (ADESIVO CONTRACEPTIVO)

Os adesivos contraceptivos transdérmicos, são bastante eficazes na combinação de estrogênio-progesterona, que é o único disponível no Brasil. Assim como, os demais adesivos, eles são aplicados semanalmente, podendo oferecer uma forma mais vantajosa e prática, oferecendo também uma possibilidade de uso em um ciclo mais prolongado. Além de seus efeitos terapêuticos serem alcançados em doses mais baixas, por evitar sua degradação no trato gastrointestinal (por ser na pele direto para corrente sanguínea), pode ser indicado para mulheres que apresentam efeitos colaterais, incômodos de outros métodos ou em caso de polimedicação (BURKMAN, 2022).

O mecanismo de ação ocorre de forma direta e simples onde o hormônio é liberado em contato com a pele que atinge a corrente sanguínea inibindo o processo de ovulação (liberação de ovócitos) (CARDOSO, 2019).

Oliveira & Trevisan (2021), aborda que o uso do adesivo proporciona um esquema de dosagem mais prático e simples, quando comparado com os anticoncepcionais orais, com recomendação de aplicação semanal, por três semanas consecutivas, seguidas de uma semana sem aplicação, ou seja, trocas devem ser feitas semanalmente por 21 dias, com intervalos de 7 dias. Neste ponto, o estudo cita que os adesivos são tiras pequenas aderentes a pele, composto por 750 mcg de etinilestradiol e 6000 mcg de norelgestromina, que se modifica em levonorgestrel em seguida a metabolização no fígado, que libera 150 mcg de norelgestromina e 20 mcg de etinilestradiol, diariamente, na circulação sistêmica, o que resulta em concentrações no estado de equilíbrio semelhantes às obtidas com 35 mcg de etinilestradiol oral.

Neste sentido, estudos são concomitantes ao relatar que o adesivo compõe quatro camadas, sua primeira camada é composta por um filme poliéster incolor, na segunda camada possui o fármaco estradiol, a terceira camada forma-se uma membrana de copolímero de etileno-coacetato de vinila, que é responsável por controlar a liberação do fármaco, a última camada sendo a adesiva (PEIXOTO, 2022).

Os benefícios dos contraceptivos transdérmicos são comparáveis ​​aos dos contraceptivos injetáveis, pois não apresentam o efeito de primeira passagem hepática. Acrescentando, ainda, que a facilidade do uso torna este método uma boa opção para pessoas que têm problemas de deglutição, bem como para mulheres com síndrome disabsortivas intestinais, o uso é indolor e confortável. Além disso, tem uma ampla gama de indicações para reduzir a dismenorreia e é considerado seguro para pacientes suscetíveis a desenvolver tromboembolismo venoso (DOS SANTOS CARDOSO et al., 2019).

Em contrapartida, a imprevisibilidade menstrual foi citada como principal efeito adverso dos implantes, escapes menstruais estão entre as reclamações mais frequentes, o que acarreta na interrupção (RIOS et al, 2021). Ainda mais, pode ficar visível, causando desconforto, pode desgrudar ao longo do dia, causar reação alérgica ou eritema no local de aplicação, pode afetar o peso e não funciona na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST’s). O risco de elevação dos níveis plasmáticos de etinilestradiol no sangue, pode acontecer devido ao uso simultâneo de medicamentos como paracetamol, ácido ascórbico, inibidores da enzima Citocromo P450 3A4 (CYP3A4), alguns inibidores da protease (indinavir, atazanavir) e inibidores da enzima HMG-CoA-redutase. O emprego simultâneo de ACOs e contraceptivos transdérmicos é contraindicado, pois afeta a farmacocinética (DE AGUIAR MOREIRA et al., 2022).

Etinilestradiol pode causar a alteração do humor, gerado do desequilíbrio dos outros hormônio, por ele ser um hormônio exógeno, a base de estradiol, ao entrar na corrente sanguínea causa uma redução na produção natural do estradiol, por conta da entrada de um hormônio exógeno sintético, causando uma diminuição do estradiol. Em consequência disso vai alterar os níveis de estradiol, causando a baixa da libido, e por ele ser considerado o hormônio da felicidade que dá origem a outros hormônios, acaba alterando o humor, além disso, estudos apontam que o uso de hormônio contraceptivos diminui os níveis de serotonina, que é um neurotransmissor, relacionado à depressão. Essa alteração pode variar de pessoa para pessoa, em alguns casos pode continuar até após o uso, sendo conhecido como uma instabilidade emocional, sendo necessário uma investigação melhor (FONSECA, 2020).

2.2.3. DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS

Devido ao seu alto nível de cuidado e segurança, de fácil utilização e relação custo-benefício, o dispositivo intrauterino (DIU) é o método mais popular de contracepção com durabilidade longa, é disponibilizado atualmente em 2 tipos, o de cobre e o de ação hormonal. O Sistema Intrauterino Liberador de Levonorgestrel (SIU-LNG), habitualmente chamado de DIU hormonal e o nome comercial mais conhecido é o Mirena, oferece uma opção não combinada para prevenir a gravidez, que é tão eficaz quanto os métodos combinados. Este possui uma estrutura de polietileno, em formato de T, a peça é envolvida por uma membrana de polidimetiloxane e levonorgestrel, e é através dessa película que ocorre a liberação de levonorgestrel, durante 5 anos (MADDEN, 2022).

Conforme estudo, o SIU-LNG é colocado na cavidade uterina por um profissional durante o ciclo menstrual, ele possui um reservatório de 52 mg de levonorgestrel, que vai agir liberando 20 mcg de progesterona por dia, por um período de 5 anos. Sua inserção é recomendada após o ciclo menstrual, tornando o muco cervical mais espesso dificultando a motilidade do espermatozóide e em alguns casos agindo no bloqueio da ovulação. Além disso, o autor aponta que para ser colocado, a cliente não pode apresentar vaginites, doença inflamatória da pelve, malformações uterinas, doenças cardíacas, hematológicas ou deficiências imunológicas (PEIXOTO, 2022).

É um método que vem sendo bastante estudado, pois tem demonstrado uma eficácia no tratamento para menorragia, hiperplasia endometrial, adenomiose, endometriose, anemia ferropriva, coagulopatias, miomas uterinos e dismenorreia. No entanto, suas contraindicações absolutas são gravidez ou suspeita, cervicite não tratada, tumor ou doença hepática aguda, alergia ao levonorgestrel, e infecção aguda ou recente. Dentre seus efeitos adversos, podem ser citados: surgimento de acnes, aumento de peso, humor depressivo e cefaleia (SLYWITCH et al., 2021).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e seus critérios de elegibilidade, tem-se que os benefícios precisam superar os riscos para se considerar uma boa opção de contracepção. Além disso, a OMS afirma também que, seus critérios são válidos para serem usados com segurança em mulheres multíparas, nulíparas e mulheres que apresentam outras condições clínicas. Para o DIU possuir indicativo de alta eficácia, foram feitos estudos, onde mais de 80% das mulheres mantiveram seu uso após um ano. O qual apresentou altas taxas de aceitabilidade e baixas taxas de complicações a serem considerados satisfatórios nas usuárias SLYWITCH et al., 2021).

Com relação a saúde mental e seu uso, os estudos feitos com base científica, até o momento não apresentam uma ligação clara entre o nível deste hormônio e a saúde mental, adentrando em si, a depressão. Visto isso, sabe-se que o SIU-LNG (Sistema Intrauterino Liberador de Levonorgestrel) possui seus efeitos colaterais, dessa forma, algumas mulheres afirmam ter alteração de humor, incluindo tristeza, irritabilidade ou ansiedade, podendo ser causado pela ondulação hormonal resultante do uso do dispositivo (PIMENTEL et al., 2022).

Vale ressaltar, que esses efeitos colaterais reagem de forma diferente de uma pessoa para outra, ou seja, nem todas as mulheres irão apresentar sintomas de depressão por utilizar o DIU hormonal (DA SILVA FARIAS, DE SOUZA & DE BARROS, 2022).

2.2.4. IMPLANTES SUBCUTÂNEO

O implante, é um anticonceptivo de progestina etonogestrel reversível de longa duração, que é colocado subdérmicamente na região interna do braço em mulheres. Ele consiste em uma haste de plástico semirrígido, constituída por um composto sólido não biodegradável de acetato de etileno vinílico saturado, que libera de forma controlada os hormônios durante o uso, por três anos. Ele se apresenta bastante eficaz, sendo de fácil aplicação e retirada. Um exemplo de contraceptivo subdérmico é o Implanon, que é o único implante aprovado pela ANVISA, no Brasil (DARNEY, 2022).

Oliveira & Trevisan (2021), relata que os implantes são pequenas cápsulas de 4 cm de comprimento e 0,2 cm de diâmetro implantadas no tecido subcutâneo, na face interna do braço acima do cotovelo. O uso está aprovado para duração de 3 anos, mas há estudos relatando que sua duração pode ser de até 5 anos. O etonogestrel é liberado gradualmente após introdução, variando de dosagens de 60 a 70 mcg/dia, inicialmente, e 25 a 30 mcg/dia, até o final do terceiro ano. O autor aborda, ainda, que seu funcionamento se dá pelo fato de atuar espessando o muco cervical e impedindo a liberação de óvulos. Se o implante for realizado entre 5 e 7 dias após o início da menstruação, não é necessário utilizar outro método contraceptivo para evitar uma gravidez.

Os efeitos adversos mais comuns das mulheres que fazem o uso deste método contraceptivo são cefaleia, acne, dor mamária, ganho de peso, dor abdominal e labilidade emocional(mudanças repentinas no humor). Relacionado a possíveis alterações ligadas ao comportamento e humor, como citado a “labilidade emocional” – é uma condição que inclui desregulação emocional/afetiva caracterizada por mudanças exageradas e contínuas de sentimentos e/ou humor. Esse quadro clínico está associado ao desequilíbrio hormonal, decorrente da inclusão de hormônio sintético de progesterona (etonogestrel). Os estudos nos mostram que é uma variável dependendo do paciente, por conta da sensibilidade de receptores à aquele hormônio e a baixa de neurotransmissores, alguns pacientes apresentam mudanças repentinas e bruscas tanto emocionais como físicas (GRAZIOTTIN et al. 2023) (BOAS & QUEIROZ, 2019).

Como benefícios, este método expõem a minimização de sinais e sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), dor ligada à endometriose, mantém o desempenho normal dos ovários após sua extração, sua indicação para mulheres lactentes, com histórico de enxaqueca, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico (AVE) e até trombofilias (SOUSA et al., 2021).

Graziottin et al. (2023), demonstrou em seu estudo que os principais motivos para retirada do implante foram mudanças no padrão de sangramento (59 a 80%), alterações de humor (10 a 25,8%) e ganho de peso (9 a 23%).

2.2.5. INJETÁVEIS

Os contraceptivos injetáveis (CIS) são mais indicados para pacientes que não conseguem se acostumar com os anticoncepcionais orais, por esquecer de tomar a pílula diariamente ou por apresentar intolerância gastrointestinais aos hormônios. Os injetáveis apresentam duas formas diferentes de escolha, os mensais, que são combinados de estrogênio e progesterona, e os trimestrais, apenas progesterona. No entanto, possuem os mesmos efeitos e objetivos, sendo aplicados por via intramuscular do 5º ao 7º dia após o ciclo de 30 dias. Inclusive, podem ser usados durante a amamentação, sendo seu uso indicado para seis semanas após o parto. Ambos os tipos são ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (NASCIMENTO et al., 2022).

Mecanismo de ação desses hormônios inibem a glândula pituitária de liberar o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo-estimulante (FSH). Isso impede a ovulação, a liberação de um óvulo do ovário. Eles engrossam o muco cervical, dificultando a passagem dos espermatozoides pelo colo do útero (SOUZA, ANDRADE & OLIVEIRA, 2023).

Considerando os benefícios dessa abordagem, os anticoncepcionais injetáveis ​​apenas de progestágeno têm sido associados ao sistema reprodutivo e ao ciclo menstrual, como aumento da lubrificação vaginal, uso pós-parto para reduzir o risco de anemia por deficiência de ferro, redução de cólicas menstruais e proteção contra o câncer de útero, mama, endométrio e ovário. O de uso combinado (estrogênio e progesterona) auxiliam a manutenção da menstruação, tratando dentro do âmbito de contracepção. Lembrando que o estrogênio bloqueia a ovulação, atrofia o endotélio (tecido) e engrossa o muco cervical, fatores estes que impossibilitam a gestação. Geralmente, esse método tem alta aceitabilidade, porque são bastantes eficazes e são superiores aos contraceptivos orais, pois permitem liberação uniforme e lenta. É fácil de aplicar porque é uma injeção mensal ou trimestral, tem doses reais de esteroides, é simples de aplicar, não interfere no sexo, você pode parar de usar a qualquer momento, restaurar a fertilidade a curto prazo e após um período de tempo, os contraceptivos injetáveis ​​não terão efeito cumulativo após múltiplas injeções (DE AGUIAR MOREIRA ET AL., 2022; BRANDT, OLIVEIRA & BURCI, 2018).

Esse método, contraceptivos injetáveis, aumentam riscos de infarto do miocárdio, eventos tromboembólicos, acidente vascular cerebral e hipertensão, dependendo do tipo de hormônio usado, da dose e do histórico médico do paciente. Existem complicações como irregularidades no ciclo menstrual e no fluxo, que podem levar à amenorréia, retenção de líquidos e acne. Também, pode coincidir com uma condição que algumas mulheres não aceitam, porque as injeções intramusculares podem causar alterações cíclicas na dor e no sangramento. Essas alterações geralmente são causadas pela interrupção do método e podem levar a efeitos colaterais, como ganho de peso e dor nas mamas (PINHEIRO et al., 2022).

Estudos mostram que os motivos para a interrupção do uso de injetáveis, principalmente trimestralmente, são decorrentes de alterações nos padrões menstruais, perda de libido, ganho de peso, ansiedade, depressão, dores musculares, dores de cabeça, fadiga excessiva e dores no peito, mesmo após a interrupção do uso. Os efeitos desses métodos demoram um pouco para passar, às vezes permanecem certo tempo após a parada, conhecido como “síndrome pós-pílula”. Tudo isso pode ser explicado pela alta concentração de hormônios durante a gravidez (TRUJILLO RODRÍGUEZ, 2019).

Essas alterações hormonais acarretam modificações pós uso, levando ao organismo voltar a produzir o hormônio que estava sendo substituído pelo injetado, ou voltar a produção normal, organismo leva tempo para estabilizar podendo demorar a regulação, as concentrações durante o uso são altas, pós uso estarão baixas: onde essa desordem de estrogênio e progesterona vai ocasionar a mudança de humor, ansiedade, depressão e outros sintomas (DO VALLE GARCIA, DE SOUZA & OPPENHEIMER, 2023).

2.2.6. ANTICONCEPCIONAIS ORAIS

Os anticoncepcionais orais (ACOs), são um dos métodos reversíveis usados ​​pelas mulheres para evitar gravidezes indesejadas. Eles são feitos de compostos químicos, que se parecem com os hormônios femininos à base de estrogênio e progesterona ou apenas de progesterona (ALLEN, 2022).

Os comprimidos combinados são compostos por estrogênio, que normalmente é o etinilestradiol, e progesterona, que podem alterar se entre levonorgestrel, noretisterona ou etinodiol. Contudo, a combinação possui como objetivo impedir a liberação do hormônio folículo estimulante (FSH), ou seja, impede a ovulação. No entanto, a progesterona vai inibir a secreção do hormônio luteinizante (LH), resultando na prevenção da ovulação, ou seja, mesmo que o espermatozoide consiga passar, ele não vai conseguir se implantar (SOUZA, ANDRADE & OLIVEIRA, 2023).

Os ACOs, têm benefícios contraceptivos, regular a dismenorréia, controlar a anemia por deficiência de ferro e as doenças benignas da mama. Além disso, tem o potencial de melhorar a qualidade da pele, reduzindo oleosidade e acne, torna o cabelo menos oleoso, controla o ciclo menstrual, reduz o fluxo e as cólicas, diminui os sinais TPM. Auxilia ainda, no encolhimento de sinais do hirsutismo, e modera os riscos de câncer de ovário e endométrio (DE AGUIAR MOREIRA et al, 2022).

Segundo Dos Santos et al. (2020), esse método apresenta alguns riscos e até desvantagens, como esquecer de tomar o remédio ou não seguir o horário recomendado para tomar o remédio, também, náuseas, vômitos, dor de cabeça, alterações de humor, ansiedade, interações farmacológicas, possível sangramento irregular. Elevam os riscos de infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), câncer de mama, falha na proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) e possível interferência na produção de leite durante a amamentação.

De acordo com Fonseca (2020), não se sabe muito do mecanismo que provoca essas alterações de humor, no entanto, relata diversas hipóteses baseadas em estudos. Pode-se formular uma síntese baseada nos estudos, na qual descreve que o estrogênio está associado a um excitação do cérebro, já a progesterona provoca um efeito contrário e inibitório, causando uma resposta sedativa no cérebro.

A prevalência de anticoncepcionais orais de venda livre, podemos dizer sem prescrição, levou a uma falta de conscientização sobre o uso contraindicado, que pode ter efeitos adversos à saúde. Um estudo recente, avaliou o conhecimento de mulheres sobre os efeitos dos ACOs na saúde em um total de cinco cidades do Brasil, porém, resultou em níveis mais baixos de conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais hormonais usados. Poucos estudos tentaram avaliar as contra indicações ao uso de ACOs em mulheres (DE AGUIAR MOREIRA et al, 2022).

Após diversos estudos, resultou-se que os ACOs possuem fator de risco para o aumento do humor depressivo, e os que contêm apenas progesterona obtiveram maior prevalência para desenvolver transtorno de humor, no entanto, não foi possível concluir sua interferência para o progresso da depressão. Ademais, quando foi realizada uma distinção por idade, viu-se que as adolescentes de (15 a 19 anos) obtiveram traços mais fortes do que mulheres em geral, demonstrando que elas possuem uma tendência maior para o surgimento da depressão. Ressalta, ainda, que se alguma mulher apresentar eventos de humor, após iniciar o uso de ACOs, possuem sensibilidade fisiológicas ou patológicas que ainda não foram estudadas (FONSECA, 2020). Contudo, De Carvalho Andrade et al. (2023) afirma que a longo prazo, os principais efeitos adversos são os transtornos de humor, ansiedade e depressão, além de outros sintomas já citados anteriormente.

2.2.7. ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA

A pílula do dia seguinte, também conhecida como contraceptivo de emergência, é um método contraceptivo de uso ocasional, que pode ser utilizado para prevenir a gravidez após uma relação sexual desprotegida ou falha do método contraceptivo regular. Ela contém uma alta dose de hormônios, normalmente levonorgestrel ou ulipristal acetato, que são responsáveis por evitar a gravidez (REBELO et al., 2021; DA SILVA COSTA & BAIENSE, 2023).

Existem diferentes tipos de contraceptivos de emergência disponíveis. Podemos citar os mais comuns:

  • Levonorgestrel: é o tipo mais amplamente utilizado de contraceptivo de emergência. Como dosagem de 1,5 mg de Levonorgestrel. Também conhecido como pílula do dia seguinte, contém uma dose única de levonorgestrel, um hormônio sintético semelhante à progesterona. Geralmente, é eficaz se tomado dentro de 72 horas após a relação sexual desprotegida, embora a eficácia diminua com o passar do tempo (MEDEIROS et al., 2022).
  • Acetato de ulipristal (HRP 2000): seu nome comercial é Ellaone, dosagem liberada pela ANVISA é de 30 miligramas (mg), também conhecido como pílula de 5 dias, é um modulador seletivo do receptor de progesterona (SPRM) desenvolvido como contraceptivo de emergência para mulheres. Também conhecido como pílula de emergência de ulipristal, é um contraceptivo de emergência mais recente. É considerado mais eficaz que o levonorgestrel, e pode ser tomado até 120 horas, após a relação sexual desprotegida. O acetato de ulipristal é uma substância que inibe a ação do hormônio progesterona, atrasando ou inibindo a ovulação (MEDEIROS et al., 2022).

A pílula do dia seguinte funciona de diferentes maneiras, dependendo do momento do ciclo menstrual em que a mulher se encontra. Ela pode inibir a ovulação, impedindo que um óvulo seja liberado pelos ovários. Além disso, também pode alterar a qualidade do muco cervical, dificultando a passagem dos espermatozóides para o útero, e interferir no revestimento uterino, tornando-o menos receptivo à implantação do óvulo fertilizado. (MEDEIROS et al., 2022)

É importante ressaltar que a pílula do dia seguinte não deve ser utilizada regularmente como método anticoncepcional, pois sua eficácia é menor em comparação com métodos contraceptivos de uso contínuo, como os já citados em tópicos anteriores. Deve ser utilizada apenas em situações de emergência, pois além de não oferecer proteção contra ISTs, a recomendação é de utilizar apenas duas vezes por ano (REBELO et al., 2021).

A eficácia da pílula do dia seguinte diminui com o decorrer do tempo após a relação sexual desprotegida. Ela é mais eficaz quando utilizada nas primeiras horas após a relação, e sua eficácia diminui progressivamente ao longo dos dias. É recomendado que a pílula do dia seguinte seja utilizada o mais rápido possível após a relação, preferencialmente dentro das primeiras 24 horas, para obter melhores resultados (MEDEIROS et al., 2022).

É importante destacar que, a pílula do dia seguinte, pode causar efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, dor abdominal, alterações no ciclo menstrual, fadiga e sensibilidade mamária. Caso ocorram sintomas graves ou persistentes, é recomendado buscar orientação médica (REBELO et al., 2021). Acrescenta, ainda, que pode implicar com cefaléia, hemorragia, sensação de falta de ar, gravidez ectópica, aumento dos riscos de cistos ovarianos, elevação da pressão arterial, e que seu uso frequente pode provocar gravidez indesejada e infertilidade. (DA SILVA COSTA & BAIENSE, 2023)

Não encontramos evidências científicas que comprovam diretamente que as doses de contraceptivos de emergência, em uso corriqueiro (mais de duas pílulas por ano), podem levar a alterações de humor, ansiedade ou depressão. Sabemos que o uso de doses inespecíficas levam alterações no eixo hormonal, causando desequilíbrio e assim a queda de neurotransmissores como a serotonina, “hormônio da felicidade” (ALVES et al., 2020)

O mecanismo de ação do contraceptivo de emergência baseado em levonorgestrel pode incluir os seguintes processos (DE OLIVEIRA & JÚNIOR, 2021):

  • Inibição ou atraso da ovulação: A pílula do dia seguinte pode atuar no sistema hormonal, suprimindo ou atrasando a liberação do óvulo pelos ovários. Isso impede que ocorra a fertilização caso haja espermatozóides presentes no trato reprodutivo feminino.
  • Alterações no muco cervical: O levonorgestrel pode tornar o muco cervical mais espesso, dificultando a passagem dos espermatozóides pelo colo do útero. Isso reduz a probabilidade de os espermatozóides alcançarem o óvulo.
  • Alterações no revestimento uterino: A pílula do dia seguinte também pode afetar o revestimento do útero, tornando-o menos receptivo à implantação do óvulo fertilizado. Isso dificulta a fixação do embrião caso a fertilização ocorra.

É importante ressaltar que o contraceptivo de emergência não é 100% eficaz na prevenção da gravidez, e não deve ser usado como método contraceptivo regular. Ele é mais eficaz quando usado o mais rápido possível após a relação sexual desprotegida, preferencialmente dentro das primeiras 24 horas, mas pode ser utilizado até 72 horas (ou em alguns casos até 120 horas) após a relação (MEDEIROS et al., 2022).

3. METODOLOGIA

Este estudo constitui uma revisão narrativa de caráter descritivo, com enfoque indutivo e qualitativo a respeito do uso de anticoncepcionais hormonais existentes, sendo estes orais, tópicos, injetáveis e intrauterinos. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2022 e maio de 2023, e utilizou-se para as pesquisas às bases de dados SciELO, PubMed, BVS, MEDLINE e UpToDate, utilizando como descritores: anticoncepcionais, contraceptivos hormonais, hormônios e depressão, e seus correspondentes na língua inglesa: contraceptives, hormonal contraceptives, hormones and depression, sendo utilizados artigos entre os anos de 2018 a 2023.

No que concerne aos critérios para inclusão dos artigos, adicionou-se estudos e pesquisas originais ou de revisão, anais de congressos, monografias, dissertações, teses e boletins informativos, sendo o único critério de exclusão pesquisas ou artigos datados anteriores ao ano de 2018.

Após a seleção dos artigos de acordo com os critérios de inclusão supracitados, seguiu-se os seguintes passos: levantamento bibliográfico e leitura, seleção dos estudos que versa sobre o eixo temático deste estudo, e por fim a leitura crítica e redação.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A depressão pode ser por causas biológicas ou psicossociais. Esse é um distúrbio que causa mais incapacidade nas mulheres. Com isso, foi observado que muitas mulheres que fazem uso de anticoncepcionais hormonais relatam sintomas como alteração de humor, depressão e ansiedade. Autores relatam que os hormônios sexuais femininos, estrogênio e progesterona, podem sim influenciar na origem de sintomas depressivos, pois atuam nas regiões corticais e subcorticais do cérebro, áreas que implicam no processamento emocional e cognitivo.

A progesterona produz metabólitos que atuam sobre o receptor do ácido aminobutírico, que é o receptor que age no sistema nervoso central, além disso, são esses metabólitos, liberados na fase lútea (ciclo menstrual), ligados aos efeitos de humor nesse intervalo. O estrogênio também atua no SNC, seu efeito no humor e na depressão, é inverso ao da progesterona, ou seja, ele está associado a melhora das alterações de humor, mas seu efeito pode variar de pessoa para pessoa.

Existem vários tipos de anticoncepcionais hormonais, procuramos entender quais e como eles afetam para desenvolver a depressão nas pacientes. E a partir dessa revisão de literatura, podemos entender que a progesterona é o hormônio que mais estimula o desenvolvimento da depressão, pois ela atua inibindo o cérebro, ou seja, provocando uma resposta sedativa do e, consequentemente, diminuição da serotonina. No entanto, a grande maioria dos métodos contraceptivos hormonais são compostos apenas de progesterona ou similares, e as pesquisas ainda apresentam uma deficiência nos resultados definitivos sobre o assunto, fatores que dificultam uma conclusão precisa.

4.1. RESULTADOS DE CADA TIPO DE CONTRACEPTIVO HORMONAL

Anéis vaginais, foi visto que eles podem provocar alterações hormonais, mas não se sabe ao certo se ele está ligado à depressão. Estudos, com os combinados, mostraram que o anel pode sim estar ligado à depressão, visto que quando as paciente interrompiam o uso paravam de ter sintomas depressivos.

Adesivo contraceptivo, no Brasil só tem o combinado, estudos demonstram que seu efeito de baixa libido e serotonina, resulta diretamente em sintomas depressivos, claro que sempre há uma mudança de mulher para mulher, mas esses sintomas podem continuar até depois da interrupção do método.

Dispositivos intrauterinos (DIU), método a base de progesterona, pode provocar humor depressivo, mas não se sabe ao certo se o DIU tem relação com o desenvolvimento da depressão, com base nas pesquisas algumas mulheres relatam alterações no humor que levaram a depressão, mas a grande maioria não apresenta efeitos colaterais significativos.

Implantes subcutâneos, o único aprovado para uso no Brasil é a base de progesterona, que provoca uma instabilidade emocional, podendo provocar alterações, como os citados anteriormente, varia de paciente para paciente, mas chega a quase 26% a causa de descontinuação por conta de alterações hormonais.

Contraceptivos injetáveis (CIS), melhores que os orais, pois mantem uma liberação lenda de hormônios. Principalmente os trimestrais (progesterona), estão ligados à depressão, por isso possui uma interrupção mais acentuada por esse motivo, mas também por provocar outros efeitos adversos, e seus efeitos costumam demorar a sair do organismo, síndrome pós-pílula.

Anticoncepcionais orais (ACOs), possuem fator de risco para o aumento do humor depressivo, e os que contêm apenas progesterona obtiveram maior prevalência para desenvolver transtorno de humor, no entanto, após diversas pesquisas não foi possível identificar sua atuação no desenvolvimento da depressão, foi visto apenas que é um fator de risco, principalmente em adolescentes.

Anticoncepção de emergência, compostas progesterona, pela alta dosagem liberada diminuem serotonina, causando alterações de humor, seu uso irregular aumenta a chance de desenvolver uma depressão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos dos estudos publicados demonstram certas limitações, não se tem um padrão nos resultados, além da deficiência de publicações sobre o assunto. No entanto, foi possível observar estudos que comprovam essa ligação de anticoncepcionais hormonais e depressão, por mais que muitas mulheres não mencionem com tanta frequência, foi possível notar que podem existir fatores que influenciam para o desenvolvimento da depressão. Esses fatores podem ser tanto por conta da idade (início do uso), período de utilização do método ou composição. Além de alterações de humor, foi possível observar outros efeitos mais constantes, como: cefaléia, mudando fluxo menstrual, sensibilidade mamária, em muitos casos aumento de tecido adiposo, mudança na libido e aumento de peso.

Contudo, para entender de fato, comprovar como acontece alterações de humor, e por que os anticoncepcionais hormonais ajudam no desenvolvimento da depressão, é necessário mais pesquisas exploratórias e analíticas de casos, principalmente, em pacientes que começam a utilizar os contraceptivos hormonais ainda na adolescência e nas que fazem o uso a longo prazo.

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1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba LTDA – IESVAP. Campus Parnaíba-PI.

2 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba LTDA – IESVAP. Campus Parnaíba-PI. Mestre em Ciências Biomédicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Doutorado em Biotecnologia em saúde na Universidade Federal do Delta do Parnaíba- UFDPAR.

3 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba LTDA – IESVAP. Campus Parnaíba-PI. Pós-doutora em Ciências Biomédicas.

4 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba LTDA – IESVAP. Campus Parnaíba-PI. Mestre em Saúde e Comunidade pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.

Valeska Nayra Diógenes Oliveira Batista1,e-mail: valeskanayra@hotmail.com
Júlio César Alves Cruz1,e-mail: juliocesarac@gmail.com;
Anna Maria Nascimento de Lima1,e-mail: namarialima42@gmail.com;
Cellina Nava de Simas Lima1, e-mail: cellina.nava@gmail.com;
Luiza Eduarda da Silva Paiva1, e-mail: luizapaiva2423@gmail.com;
Naryelly Stelyte Gomes da Silva1, naryellystelyte19@hotmail.com;
Gisele Mayara Vieira1, e-mail: gisellemayara01@gmail.com ;
Ayane Araújo Rodrigues2,e-mail: ayane.rodrigues@iesvap.edu.br;
Ana Rachel Oliveira de Andrade³, e-mail: ana.andrade@iesvap.edu.br;
Andressa Lima Ramos4, e-mail: andressalimaramos@gmail.com