USE OF ELECTRONIC CIGARETTES AND THE RISK OF COPD: IMPLICATIONS FOR PUBLIC HEALTH IN BRAZIL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506091122
Daniele da Silva Rodrigues1
Janinne Maria Cruz da Silva2
Orientador: Prof. Me. Josemir de Almeida Lima3
RESUMO
Introdução: O cigarro eletrônico (E-Cig) é frequentemente considerado menos nocivo que o cigarro tradicional, mas estudos indicam que seu uso está associado a sérios riscos à saúde, incluindo a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), especialmente entre os jovens. Objetivo geral: Analisar as implicações do uso de cigarros eletrônicos para a saúde pública brasileira e como ela se associa à DPOC. Método: Estudo de revisão integrativa da literatura, com recorte temporal de 2019 a 2024. Foram incluídas publicações disponíveis nas bases LILACS e MEDLINE, em português e inglês, que abordassem os efeitos do uso de E-Cigs sobre a saúde pulmonar. A seleção seguiu critérios de atualidade, relevância temática e qualidade metodológica. Resultados: Os achados da pesquisa evidenciaram que, de forma gradativa, o uso de cigarros eletrônicos está em ascensão, principalmente entre os jovens, promovendo diversos riscos à saúde, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e outras enfermidades. Discussão: Os impactos negativos do E-Cig são inegáveis, principalmente por provocar problemas no sistema respiratório e cardiovascular, até a sua associação com o câncer. Conclusão: O uso prolongado do E-Cig configura-se como um problema de saúde pública, evidenciando a necessidade de estratégias de políticas públicas voltadas para essa crescente realidade populacional, bem como de ações educativas e informativas por parte dos enfermeiros, a fim de esclarecer os riscos associados ao seu consumo.
Descritores: Cigarro eletrônico. DPOC. Saúde pública. Enfermagem.
ABSTRACT
Introduction: Electronic cigarettes (E-Cigs) are often considered less harmful than traditional cigarettes, but studies indicate that their use is associated with serious health risks, including Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD), especially among young people. General objective: To analyze the implications of e-cigarette use for Brazilian public health and how it is associated with COPD. Method: Integrative literature review study, with a time frame from 2019 to 2024. Publications available in the LILACS and MEDLINE databases, in Portuguese and English, that addressed the effects of E-Cig use on lung health were included. The selection followed criteria of timeliness, thematic relevance, and methodological quality. Results: The research findings showed that, gradually, the use of e-cigarettes is on the rise, especially among young people, promoting several health risks, such as Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) and other diseases. Discussion: The negative impacts of E-Cig are undeniable, mainly because it causes problems in the respiratory and cardiovascular systems, and even its association with cancer. Conclusion: Prolonged use of E-Cig is a public health problem, highlighting the need for public policy strategies aimed at this growing population reality, as well as educational and informative actions by nurses, in order to clarify the risks associated with its consumption.
Descriptors: Electronic cigarette. COPD. Public health. Nursing.
1. INTRODUÇÃO
Este estudo aborda as implicações do uso de cigarros eletrônicos (E-Cig) para a saúde pública brasileira e sua associação com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A motivação para o estudo surgiu devido ao aumento do consumo de cigarros eletrônicos, principalmente entre os jovens e a necessidade de destacar a importância do enfermeiro, pelas suas habilidades técnicas na atenção primária e o suporte necessário para medidas preventivas e educativas quanto à DPOC, pelo uso contínuo do E-Cig.
No Brasil, desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu a importação, comercialização e propaganda do cigarro eletrônico devido aos efeitos adversos à saúde. Apesar disso, os fabricantes frequentemente propagam informações equivocadas sobre a segurança do produto, sugerindo que ele conteria menos substâncias tóxicas em comparação com o cigarro tradicional. No entanto, estudos demonstram que os E-Cigs estão associados a diversas doenças pulmonares e síndromes respiratórias (SILVA; PACHÚ, 2021; SABINO et al., 2023).
O cigarro eletrônico é um dispositivo eletrônico que funciona por meio da vaporização de um líquido, conhecido como “juice” ou essência, composto por aromatizantes, nicotina e solventes, como o propilenoglicol. A inalação do aerossol gerado tem sido relacionada a doenças como pneumonite de hipersensibilidade, hemorragia alveolar difusa, pneumonia eosinofílica aguda e sintomas como vômito, falta de ar, febre e dor abdominal (XIE et al., 2020; DONGMEI, 2020; LI et al., 2022).
Entre as principais complicações associadas ao uso do E-Cig, destaca-se uma condição inflamatória que obstrui o fluxo de ar nos pulmões e pode levar a sintomas graves como tosse crônica, dispneia e produção excessiva de escarro. Estudos apontam que o uso do cigarro eletrônico duplica a incidência de sintomas respiratórios em adolescentes e aumenta significativamente o risco de desenvolvimento da DPOC (OSEI et al., 2020; ANTWI, 2020).
Importa enfatizar que, a influência da DPOC em usuários apresenta a maior prevalência em fumantes atuais, com cerca de 15,2%, se comparado com os ex- fumantes, que representam 7,6% e sua associação com o uso do cigarro eletrônico promove o aumento da reatividade das vias aéreas, o que reflete no comprometimento do tecido pulmonar, além da defesa contra microrganismos (BARBOSA SILVA, 2024; PINTO, 2020).
A DPOC consiste em uma condição que obstrui nos pulmões o seu fluxo de ar, por problemas inflamatórios anormais, como também pela inalação de gases, onde o tabagismo se destaca como um dos grandes fatores de risco, provocando sintomas como: tosse crônica, dispneia e escarro exacerbado. Já as doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes e comorbidades promovem o seu maior agravamento, podendo levar a óbito (LAM et al., 2021; SINGH et al., 2022).
Além disso, os componentes do líquido vaporizado, como propilenoglicol e glicerol, afetam a fluidez da membrana dos epitélios das vias aéreas, interferindo na interação entre proteínas e processos celulares essenciais, como fagocitose e exocitose. Essas alterações aumentam o risco de infecções respiratórias e desenvolvimento de câncer pulmonar (ARAÚJO et al., 2022).
O consumo de cigarros eletrônicos no Brasil, desde 2019 vem gradativamente crescendo, culminando em aproximadamente 600% de aumento no seu consumo, com estatística entre adultos, de cerca de três milhões de usuários. Os estados com maior índice de consumo são Paraná, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. Destaca-se que o contrabando do produto, especialmente vindo do Paraguai, é uma das principais formas de acesso da população ao E-Cig (MORENO, 2024).
Diante desse cenário, o enfermeiro desempenha um papel essencial na prevenção e controle dos danos associados ao cigarro eletrônico. Como profissional de saúde, ele é responsável por promover ações educativas, campanhas de conscientização e tratamentos voltados para a cessação do uso do tabaco e derivados. Além disso, sua atuação inclui a assistência direta a pacientes já acometidos por doenças relacionadas ao consumo de E-Cigs, fornecendo suporte clínico e promovendo o manejo adequado das complicações pulmonares (CARRIJO et al., 2022; SANTOS et al., 2021).
A partir do exposto, surgiram as seguintes questões norteadoras para este estudo: Quais são as implicações do uso de cigarros eletrônicos para a saúde pública brasileira e como ela se associa à doença pulmonar obstrutiva crônica?
Este estudo justifica-se pela crescente adesão da população, especialmente entre os jovens, ao uso de cigarros eletrônicos e pela urgência de ampliar o debate sobre os riscos que essa prática representa para a saúde pública. Diante desse cenário, torna-se fundamental destacar o papel do enfermeiro na prevenção, no tratamento e na educação em saúde, com o objetivo de minimizar os impactos negativos dessa prática na sociedade, promovendo a conscientização e estratégias eficazes de controle.
2. MÉTODO
Este estudo adota a revisão integrativa da literatura como método de investigação. A pesquisa apresenta caráter exploratório e qualitativo, pois não utiliza dados estatísticos, mas baseia-se na análise de publicações científicas relevantes, permitindo ampla compreensão sobre a temática investigada.
A revisão foi desenvolvida a partir de fontes bibliográficas como artigos científicos, revistas, livros e teses, com o intuito de construir um embasamento teórico sólido. A pesquisa integrativa caracteriza-se pela reflexão sobre trabalhos de diferentes autores, integrando conhecimentos qualitativos e/ou quantitativos com vistas à construção de novos saberes (HASSUNUMA et al., 2024).
As etapas da revisão integrativa seguidas neste estudo incluem: definição da temática e formulação do problema de pesquisa; seleção de descritores e bases de dados; localização das publicações; definição de critérios de inclusão e exclusão; leitura e análise crítica dos estudos selecionados; organização dos achados em quadros descritivos e, por fim, a redação do artigo (HASSUNUMA et al., 2024).
Em relação à pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa visa: “conhecer o fenômeno estudado tal como ele se apresenta ou acontece no contexto em que está inserido, com uma compreensão detalhada do fenômeno (LÖSCHI; RAMBO; FERREIRA, 2023, p. 3)”.
Assim, como pesquisa exploratória visa promover maior familiaridade com a temática proposta, a fim de torná-la conhecida. Já em relação à abordagem qualitativa, prima pela realização de pesquisas sem levantamentos quantitativos, ou dados estatísticos.
Para orientar a construção da pergunta norteadora, foi adotada a estratégia PICO, ferramenta que auxilia na elaboração de questões de pesquisa mais precisas. O acrônimo PICO corresponde a: P (paciente ou população), I (intervenção), C (comparação ou controle) e O (desfecho ou resultado).
A aplicação desse método permitiu formular a seguinte pergunta: Quais são as implicações do uso de cigarros eletrônicos para a saúde pública brasileira e como ela se associa à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)?
A seguir, apresenta-se o Quadro 1 com a estrutura adaptada do PICO utilizada neste estudo:
Quadro 1 – Aplicação do método PICO para formulação da problemática
P (População da pesquisa) | População adulta e jovens usuários de E-Cig. |
I (Intervenção) | Intervenção de enfermagem em usuários de E-Cig e sua relação com DPOC. |
C (Comparação) | Não aplicável nesse estudo. |
O (Resultado) | Melhoria na qualidade de vida, através de medidas preventivas e educacionais quanto ao uso do E- Cig e aos riscos associados à DPOC. |
Fonte: Autoria própria
A busca pelos estudos foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Os descritores utilizados foram: saúde pulmonar, cigarro eletrônico e DPOC, combinados com operadores booleanos para refinar os resultados.
Foram incluídos artigos e revistas publicadas em português e inglês, entre os anos de 2019 e 2024, com texto completo disponível, que abordassem os efeitos do uso de cigarros eletrônicos sobre a saúde pulmonar. Excluíram-se estudos duplicados, aqueles com mais de cinco anos de publicação ou em idiomas distintos do português e inglês.
O processo de seleção iniciou-se com a identificação de 472 artigos, dos quais, se dividiram em: Medline (n=142), BV salud (n= 241) e Lilacs (n=89). Após leitura dos títulos e aplicação dos critérios de inclusão, 368 permaneceram, sendo assim distribuídos em: Medline (n=100), BV salud (n= 200) e Lilacs (n=68). Destes, 104 foram excluídos após cinco de publicação: Medline (n=20), BV salud (n= 70) e Lilacs (n=14). Após a leitura do resumo, 94 artigos foram excluídos, com a seguinte divisão: Medline (n=18), BV salud (n= 64) e Lilacs (n=12), restando 10 artigos, que foram incluídos após leitura completa e análise metodológica.
Por se tratar de uma revisão de literatura, não houve delimitação de universo nem aplicação de instrumentos de coleta primária de dados, o que torna desnecessária a definição de amostra. Da mesma forma, considerando-se que todos os dados utilizados são de domínio público, não foi necessária a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa. Todos os estudos selecionados foram devidamente referenciados, respeitando os princípios éticos e legais da pesquisa científica.
A seguir, apresenta-se o fluxograma da pesquisa com as etapas de identificação, triagem e seleção dos estudos:
Figura 1 – Fluxograma da pesquisa

Fonte: Autoria própria.
3. RESULTADOS
Nesta seção são apresentados e analisados os principais estudos selecionados na revisão integrativa, que investigaram os efeitos do uso do cigarro eletrônico (E-Cig) sobre a saúde pulmonar, suas associações com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e outras complicações. A seguir, a Tabela 2 sintetiza as informações essenciais de cada artigo, incluindo autor, objetivo, metodologia, principais achados e conclusões. Essa compilação permite identificar tendências e evidências científicas recentes sobre os impactos do E-Cig na saúde respiratória e cardiovascular.
Quadro 2 – Seleção de artigos para a pesquisa, categorizados com eixos temáticos de seus efeitos respiratórios, cardiovasculares e prevalência entre jovens
AUTORES | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS | CONCLUSÃO |
Efeitos respiratórios | ||||
Pessoa et al. (2021) | Investigar a influência do E-Cig no desenvolvimento da DPOC. | Revisão sistemática. | O uso crescente do E-Cig ainda carece de dados conclusivos, porém alguns estudos indicam piora da função pulmonar em usuários frequentes. | O uso do E-Cig está associado a efeitos adversos, como alterações biológicas e sintomas respiratórios, mas estudos de curto prazo limitam conclusões definitivas, indicando a necessidade de pesquisas contínuas. |
Araújo et al. (2022) | Analisar as consequências do cigarro eletrônico na saúde dos usuários. | Revisão de literatura. | Os compostos dos aromas e e-líquidos provocam hiperreatividade nas vias aéreas e níveis elevados de carboxihemoglo-bina em comparação ao tabaco. | Evidências indicam prejuízo da fisiologia respiratória pelo uso prolongado do E-Cig, associando-se à DPOC e enfisema pulmonar. |
Sabino et al. (2023) | Investigar os impactos do E-Cig no sistema pulmonar. | Revisão integrativa de literatura. | O uso do E-Cig está relacionado a diversas doenças pulmonares, como hemorragia alveolar, pneumonia e pneumonite por hipersensibilida-de. | O E-Cig gera reações inflamatórias e oxidativas que comprometem a saúde pulmonar e podem estar associados ao desenvolvimen-to de câncer e DPOC. |
Agostini et al. (2024) | Identificar os efeitos do cigarro eletrônico no sistema respiratório. | Revisão sistemática de literatura. | Houve aumento do uso do E-Cig, relacionado a lesões pulmonares, toxicidade e inflamação crônica. | Os componentes tóxicos do E-Cig afetam negativamente o sistema imunológico e pulmonar, contribuindo para a DPOC. |
Efeitos cardiovasculares e neurológicos | ||||
Sousa (2021) | Identificar os efeitos do cigarro eletrônico no sistema respiratório. | Revisão sistemática de literatura. | Evidenciou-se que o consumo de E-Cig promove efeitos nocivos à saúde, incluindo problemas respiratórios, cardiovasculares e neurológicos. | Os efeitos tóxicos do E-Cig não são inferiores aos do cigarro tradicional, reforçando a importância de políticas públicas e a atuação do enfermeiro na educação e prevenção. |
Chiaradia et al. (2023) | Avaliar o nível de toxicidade do E-Cig no organismo. | Revisão integrativa de literatura. | Foram identificados prejuízos significativos no sistema respiratório, incluindo DPOC, asma, aterosclerose e trombose, devido à inflamação causada pelas substâncias tóxicas. | O uso do E-Cig provoca impactos tóxicos no sistema respiratório e cardiovascular, aumentando o risco de doenças crônicas. |
Pereira et al. (2024) | Avaliar o impacto do E-Cig na saúde humana. | Revisão integrativa. | O E-Cig apresenta efeitos inflamatórios severos, associados à DPOC, câncer e eventos cardiovasculares | Destaca-se a necessidade de políticas públicas para enfrentar os impactos do E-Cig na saúde pública nacional e internacional. |
Gadelha et al. (2025) | Analisar os efeitos fisiopatológicos do E-Cig em fumantes. | Revisão sistemática. | O E-Cig altera a função pulmonar e arterial, elevando o risco de infarto, aterosclerose e agravamento da DPOC. | O impacto cardiovascular do E-Cig é significativo, refletindo no aumento de doenças cardíacas e alterações da pressão arterial. |
Prevalência entre jovens | ||||
Silva et al. (2024) | Examinar a relação entre E-Cig e fatores de risco para DPOC. | Revisão narrativa. | Usuários jovens apresentam maior prevalência de doenças respiratórias e aumento da reatividade das vias aéreas, com risco elevado para DPOC. | O uso do E-Cig compromete a defesa imunológica pulmonar e eleva a probabilidade de sintomas bronquiais e desenvolvimento do DPOC. |
Leite et al. (2025) | A transmissão de conhecimento e ações preventivas com estudantes favoreceram maior conscientização sobre os riscos do E-Cig e a DPOC. | Relato de experiência. | A transmissão de conhecimento e ações preventivas com estudantes favoreceram maior conscientização sobre os riscos do E-Cig e a DPOC. | Destaca-se a importância da educação e troca de experiências para fortalecer o conhecimento e prevenção entre acadêmicos e profissionais. |
Fonte: Dados da pesquisa (2025).
Os estudos reunidos indicam um aumento significativo do uso do cigarro eletrônico, sobretudo, entre populações jovens e apontam para múltiplos prejuízos à saúde, em especial ao sistema respiratório. A maioria dos artigos destaca a associação do E-Cig com o desenvolvimento e agravamento da DPOC, além de evidenciar efeitos nocivos ao sistema cardiovascular, inflamação crônica e outras condições pulmonares. Esses resultados reforçam a necessidade de intervenções educativas e políticas públicas voltadas para a prevenção e controle dos danos relacionados ao uso do cigarro eletrônico.
Apesar da busca ter incluído estudos publicados em inglês, nenhum estudo nessa língua atendeu aos critérios de elegibilidade.
4. DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo convergem com a literatura existente ao demonstrar que o uso do cigarro eletrônico, mesmo na ausência de nicotina, está associado a alterações significativas no organismo, comprometendo a saúde cardiovascular e pulmonar (Pessoa et al., 2021). Esses achados desconstroem a falsa percepção de segurança atribuída aos dispositivos eletrônicos, uma vez que, seus compostos químicos, como metais pesados e substâncias cancerígenas são potencialmente danosos e muito disseminados entre jovens (Sousa, 2021).
A análise de Araújo et al. (2022) reforça que ainda não há consenso científico sobre a segurança dos cigarros eletrônicos em comparação aos convencionais, devido à carência de estudos conclusivos in vivo e in vitro. A destruição do tecido pulmonar, o desenvolvimento de enfisema e o risco de DPOC são efeitos documentados, que exigem atenção e aprofundamento investigativo.
Além disso, Sabino et al. (2023) evidenciam a ocorrência de reações inflamatórias e estresse oxidativo em usuários de E-Cig, o que agrava os danos sistêmicos. A popularização desses dispositivos, somada à escassez de campanhas educativas e políticas públicas eficazes, contribui para o aumento do consumo, especialmente entre jovens, o que é corroborado pela pesquisa promovida por Chiaradia et al. (2023), que apontam a atratividade dos cigarros eletrônicos como uma prática “moderna” e, supostamente, menos prejudicial, o que fortalece sua aceitação social. Entretanto, alertam para a urgência de ações interdisciplinares que revelem seus impactos crônicos, com ênfase nos sistemas pulmonar e cardiovascular.
Agostini et al. (2024) identificaram que o pulmão é o principal órgão afetado, destacando doenças como pneumonia, bronquite crônica, enfisema, câncer e DPOC. Esses efeitos relacionam-se à natureza inalatória das substâncias presentes nos líquidos eletrônicos.
No mesmo sentido, Pereira et al. (2024) demonstram que, apesar da proposta inicial de reduzir os danos do tabagismo convencional, os E-Cigs vêm sendo associados a distúrbios graves, como diabetes, artrite, ACOS (síndrome de sobreposição entre asma e DPOC – síndrome que apresenta simultaneamente sinais de DPOC e asma no indivíduo), além de malformações congênitas em bebês expostos durante a gestação e riscos cardiovasculares, o que se assemelha com a pesquisa de Gadelha et al. (2025), em que enfatizam que os riscos do cigarro eletrônico de lesões pulmonares e disfunções cardiovasculares. Observam-se ainda danos endoteliais. Defendem, portanto, a implementação de campanhas educativas e a intensificação da vigilância clínica precoce.
Silva et al. (2024) acrescentam que o uso contínuo dos dispositivos altera a fisiologia pulmonar, reduz a defesa imunológica e intensifica o processo inflamatório crônico, aproximando seus efeitos aos do tabaco tradicional.
No contexto educacional, Leite et al. (2025) destacam a eficácia das atividades com discentes para promover conhecimento crítico sobre os efeitos dos E-Cigs. A educação em saúde, nesse sentido, mostra-se uma ferramenta essencial para a conscientização e prevenção de agravos, principalmente entre jovens, em que se observa a ascensão do E-Cig.
Portanto, a discussão dos resultados revela não apenas os impactos negativos à saúde provocados pelo cigarro eletrônico, mas também a urgência de estratégias preventivas que articulem a atuação dos profissionais da saúde, especialmente o enfermeiro, com políticas públicas eficazes e educação em saúde qualificada.
5. CONCLUSÃO
Com base nos dados analisados, conclui-se que o uso do cigarro eletrônico está diretamente associado a diversos prejuízos à saúde, afetando os sistemas respiratório, cardiovascular e neurológico. Os compostos presentes nos E-líquidos, em especial os aromatizantes e metais pesados, promovem efeitos tóxicos que se intensificam com o uso prolongado.
Os principais agravos identificados incluem a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), lesões pulmonares, estresse oxidativo, hipertensão, AVC, câncer e doenças autoimunes. Tais consequências desmentem a ideia equivocada de que o E-Cig é menos nocivo que o cigarro tradicional, reforçando a necessidade de desmistificação desse discurso.
Além disso, destaca-se a vulnerabilidade de populações jovens, grupo frequentemente influenciado por campanhas de marketing e pela falsa percepção de segurança. A popularização desses dispositivos exige uma resposta articulada entre as esferas da saúde e da educação.
Diante do cenário apresentado, recomenda-se o fortalecimento de políticas públicas de regulação e controle do comércio e uso de cigarros eletrônicos, bem como a implementação de programas educativos com foco nos danos associados ao seu consumo. O papel do enfermeiro torna-se fundamental neste contexto, tanto na assistência direta aos usuários, quanto na promoção de ações educativas e preventivas em saúde.
Por fim, sugere-se que novas investigações sejam conduzidas, com delineamentos experimentais robustos, a fim de ampliar a compreensão sobre os efeitos de longo prazo do uso dos E-Cigs e subsidiar intervenções mais eficazes em saúde pública.
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1Graduanda do Curso de Enfermagem da Faculdade Centro Universitário Cesmac; daniellysilva.al@outlook.com
2Graduanda do Curso de Enfermagem da Faculdade CentroUniversitário Cesmac; janinnems1@gmail.com
3Enfermeiro, Docente do CESMAC e da UNCISAL , mestre em ciência da saúde – UNIFESP / orcid.org/0000-0003-3295-1006