USO DE CIGARRO ELETRÔNICO ENTRE ESTUDANTES DE MEDICINA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

E-CIGARETTE USE AMONG MEDICAL STUDENTS: AN INTEGRATIVE REVIEW OF THE LITERATURE

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11461899


Isabella Maria Nery Silva1
Isabella Tavares Rosa1
Weber Augusto Lemes Martins Soares1
Larissa Jácome Barros Silvestre2


Resumo

Introdução: Na tentativa de combater o cigarro convencional que tem como base a nicotina e o tabaco, os cigarros eletrônicos foram inseridos no mercado com a proposta de essências com sabores e fumaça aromatizada. Objetivos: Apresentar as motivações e riscos do uso de cigarros eletrônicos por estudantes de medicina, visando obter um maior conhecimento acerca das informações desse produto, além de conscientização e diminuição do uso de cigarros eletrônicos. Metodologia: Trata-se de umarevisão integrativa de literatura. As referências utilizadas foram coletadas a partir das bases eletrônicas de dados: United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em virtude da qualidade apresentada nos trabalhos dessas plataformas, em língua portuguesa e inglesa. Resultados: Inicialmente, identificaram 130 publicações potencialmente elegíveis, sendo excluídos 33 artigos por serem publicados fora dos últimos cinco anos. Posteriormente, excluíram 6 artigos por serem revisão de literatura, 76 por não abordarem a temática e 3 artigos por estarem duplicados. Considerações Finais: Concluímos que a principal motivação para o uso desse dispositivo é a atraente variabilidade de sabor, onde os acadêmicos do curso médico são influenciados por amigos, familiares ou famosos nas redes sociais.

Palavras-chave: Cigarros eletrônicos. Estudantes de medicina. Vaping.

1 INTRODUÇÃO

Ao ingressar na faculdade os jovens passam por um período de adaptação e alteração do estilo de vida, principalmente quando precisam se mudar para longe da casa dos seus pais para dar início ao ensino superior. Com isso, muitos deles se submetem a hábitos prejudiciais à saúde que podem gerar danos que os acompanharão durante o resto de suas vidas. Desde muito cedo, os adolescentes começam a ingerir bebida alcoólica, sendo essa a principal droga consumida pelos estudantes. O tabaco também é muito consumido pelos jovens universitários. Estima-se que nos últimos 10 anos o aumento da sua prevalência nessa população foi de 43 para 50% (Monteiro et al., 2018).

Na tentativa de combater o cigarro convencional que tem como base a nicotina e o tabaco, os cigarros eletrônicos foram inseridos no mercado com a proposta de essências com sabores e fumaça aromatizada que não provoca mau hálito e nem alastra cinzas. Ao contrário do cigarro de papel que tem como mecanismo a combustão, os novos cigarros eletrônicos, funcionam por vaporização. No interior do dispositivo é colocado uma essência líquida que ao se aquecer promove o vapor que é aspirado e exalado. Esses usuários preocupam os profissionais da área da saúde, pois podem se tornar futuros consumidores do tabaco, além de dependentes da nicotina, substância essa que também contém vários componentes tóxicos e pode ocasionar doenças cardiovasculares (Barradas et al., 2021).

No âmbito nacional, dentre 242.000 brasileiros, aproximadamente 6,86% usam concomitantemente o cigarro convencional e o eletrônico nas capitais do país. No entanto, muitos usuários optaram por substituir o cigarro convencional pelos dispositivos eletrônicos de fumar (DEF). Em uma amostra de 202 participantes fumantes, 25% fizeram essa substituição. Dentre o público fumante, as mulheres, são mais tendenciosas a trocar o cigarro tradicional pelo eletrônico, mais de 60% fizeram tal escolha.  Apesar disso, dentre os indivíduos que buscam parar com o hábito de fumar cigarro convencional, cerca de 80% deles recai ainda no primeiro mês (Gonçalves et al., 2022).

A ampla divulgação desses cigarros na mídia digital incentivou diversos jovens a consumi-lo, principalmente por serem falsamente divulgados como uma alternativa mais segura. Atualmente, os cigarros eletrônicos é o tipo mais consumido por jovens americanos. No entanto, o tabagismo é extremamente maléfico, pois faz com que a função endotelial seja comprometida, provoca aumento da liberação de radicais livres de oxigênio e acelera o processo aterosclerótico, aumentando os riscos de infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) e outras doenças vasculares periféricas (Scholz; Abe, 2019).

A maioria desses dispositivos, conhecidos como vapes, contém nicotina e são bastante utilizados pelos universitários. Porém, esses indivíduos podem ser drasticamente acometidos, tendo em vista que a nicotina prejudica o desenvolvimento do cérebro, principalmente aquelas áreas que são responsáveis diretamente pela atenção, humor, impulso, aprendizado e controle. Com isso, o córtex cerebral e o hipocampo são expostos quando há o uso de nicotina (Leite et al., 2023).

Um estudo realizado por Martins et al. (2023), comprovou que a prevalência de estudantes de medicina que já experimentaram produtos como cigarros convencionais, cigarros eletrônicos e narguilé é alta. Contudo, a experimentação foi maior nos casos em que a pessoa possuía irmãos ou amigos usuários. Outro fator contribuinte para que esses jovens pudessem experimentar o uso de produtos com nicotina e tabaco foi a curiosidade quanto ao aroma e sabor. Apesar de 93% da amostra desse estudo relatar ter aprendido no curso de medicina os malefícios e danos do tabagismo, mais de 50% deles já se submeteram ao uso de pelo menos um desses produtos.

Pesquisas analíticas observaram que 47,32% dos universitários de uma instituição de ensino eram usuários de narguilé na cidade de Anápolis em Goiás, enquanto em Goiânia esse número aumentava para 59,6%. A Organização mundial de saúde aponta que o tabaco ocasiona mais de 8 milhões de morte por ano no mundo, sendo que no Brasil 428 pessoas vão ao óbito todos os dias devido a dependência a nicotina e as consequências desse uso (Gomes et al., 2021). Portanto, o objetiva-se identificar se estudantes de medicina de uma instituição de ensino superior privada têm utilizado cigarros eletrônicos.

Justifica-se o estudo desse trabalho pelo aumento do número de usuários de cigarro eletrônico, principalmente quando se trata de jovens, incluindo os universitários. Dessa forma, levantar informações sobre os seus riscos podem contribuir positivamente para a redução do tabagismo e dos efeitos adversos provocados pelo tabaco e pela nicotina. Espera-se que com essa pesquisa os estudantes de medicina e até mesmo de outros cursos possam se conscientizar dos riscos que estão submetidos ao aderirem o uso de cigarros eletrônicos. Ademais, também pode ser útil para os profissionais da área da saúde funcionando como referência no compartilhamento dessas informações para seus pacientes e população em geral.

Assim, o objetivo desse estudo foi apresentar as motivações e riscos do uso de cigarros eletrônicos por estudantes de medicina, visando obter um maior conhecimento acerca das informações desse produto, além de conscientização e diminuição do uso de cigarros eletrônicos.

2 METODOLOGIA

O artigo propõe-se como uma revisão integrativa de literatura, em que se refere a um método que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e possível construir uma única conclusão, pois foram investigados problemas idênticos ou parecidos (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).

Os critérios de inclusão foram artigos que aborda o uso de cigarro eletrônico entre estudantes de medicina e outras informações específicas correlacionadas ao assunto; artigos publicados no período de 2019 a 2024; artigos em inglês e português disponíveis eletronicamente. 

Optou-se por esse recorte cronológico em razão de se buscarem análises mais atuais sobre o tema em questão. A questão norteadora do estudo foi: Estudantes de medicina têm utilizado cigarros eletrônicos? Os critérios de exclusão foram cartas, monografias, manuais, resumos de congressos sobre a temática; artigos sem acesso ao texto na íntegra e artigos duplicados foram contabilizados apenas uma vez.

As referências utilizadas foram coletadas a partir das bases eletrônicas de dados: United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em virtude da qualidade apresentada nos trabalhos dessas plataformas, em língua portuguesa e inglesa, incluídas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e o Medical Subject Headings (MeSH), foram utilizadas como expressão de busca: “cigarros eletrônicos”, “estudantes de medicina”, “vaping” e seus equivalentes em inglês “electronic cigarettes”, “medical students”, “vaping”.

Em primeira análise, buscou-se um estudo para o entendimento do tema, identificando nas leituras uma abordagem relativa ao uso de cigarro eletrônico entre estudantes de medicina. No segundo momento foi realizada uma busca nas principais plataformas acadêmicas disponíveis, utilizando-se critério de inclusão artigos publicados no período de 2019 a 2024, que respondem à questão norteadora com textos gratuitos e disponíveis em inglês e português.

Os artigos analisados foram selecionados com base no título e no objetivo dos trabalhos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram escolhidos doze artigos para compor o material para a revisão bibliográfica. Em seguida, houve a leitura e debate crítico dos artigos selecionados, priorizando sempre o alinhamento com o presente trabalho científico.

Visto que os dados coletados nos artigos se tratam de informações públicas e de livre acesso, não foi necessária a submissão a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Como apresentado no fluxograma na Figura 1, inicialmente, foram identificadas 130publicações potencialmente elegíveis para participarem do presente estudo. Foram excluídos 33 artigos por serem artigos publicados fora dos últimos cinco anos. Posteriormente, excluíram 6 artigos por serem revisão de literatura, 76 por não abordarem a temática e 3 artigos por estarem duplicados (Fluxograma 1).

Figura 1: Fluxograma do estudo.

3 RESULTADOS

Assim,a amostra ficou composta por doze estudos que avaliou o uso de cigarros eletrônicos entre os acadêmicos de medicina apresentados na Tabela 1, em ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo, com dados sobre autores, objetivo do estudo, amostra, principais achados e desfecho.

Autor (es)Objetivo do estudoNo de participantesResultados do estudoConclusões dos estudos
LOMAS; BARCELONA; MAYORAL, 2023Conhecer a prevalência do consumo de tabaco e outras substâncias associadas entre os alunos do 1º, 4º e 6º ano da Faculdade de Medicina de Albacete.Nada consta. 66% dos estudantes já experimentaram tabaco, dos quais 97% foram oferecidos por amigos. 100% acreditam que o tabaco faz mal. Entre os que já experimentaram tabaco, 9,5% são fumantes regulares e dentre eles, 57,9% estão no sexto ano de Medicina. Existe uma relação estatisticamente significativa entre ser homem e ser fumante. Um aluno fuma IQOS e outro usa vapes, ao contrário dos 54 alunos (27%) que consomem narguilé, sendo o consumo nos finais de semana o mais comum. Existe uma prevalência bastante elevada do consumo de tabaco e produtos relacionados entre os estudantes, apesar de todos estarem conscientes dos efeitos nocivos para a saúde.
MARTINS et al., 2023Avaliar a prevalência de experimentação e uso atual de narguilé e cigarros eletrônicos e os fatores associados entre estudantes de medicina.700As prevalências de experimentação e uso atual de cigarros, narguilé e cigarros eletrônicos foram, respectivamente, de 39,1% e 7,9%; 42,6% e 11,4%; e 13,1% e 2,3%. A experimentação de narguilé foi maior entre aqueles que tinham irmãos (OR ajustada = 2,64; IC95%: 1,24-5,61) ou amigos (OR ajustada = 2,33; IC95%: 1,63-3,31) fumantes. O mesmo ocorreu em relação à experimentação de cigarros eletrônicos: irmãos (OR ajustada = 2,76; IC95%: 1,17-6,50) e amigos (OR ajustada = 2,47; IC95%: 1,45-4,22). Curiosidade e aroma/sabor foram os principais motivos para o uso de narguilé e a experimentação de cigarros eletrônicos. Embora 93% dos respondentes tenham aprendido sobre os danos do tabagismo à saúde nas aulas da faculdade de medicina, 51,4% relataram já ter experimentado pelo menos um desses produtos do tabaco. Há uma alta prevalência de experimentação de produtos do tabaco entre estudantes de medicina cujos irmãos ou amigos fumam, apesar de terem conhecimento sobre os malefícios do tabagismo.
DEGANI-COSTA et al., 2023Investigar a frequência e os padrões de uso de cigarros eletrônicos e narguilé entre estudantes de medicina.7.526A frequência de vaporização atual foi de 20% (Brasil), 11% (EUA) e <1% (Índia), e o uso atual de narguilé foi de 10% (Brasil), 6% (EUA) e 1% (Índia).Cigarros eletrônicos e narguilé foram frequentemente usados ​​por estagiários brasileiros e americanos, contrastando fortemente com os dados da Índia. Aspectos culturais e políticas de saúde pública podem explicar as diferenças entre os países. Abordar os problemas do consumo de narguilé e cigarro eletrônico nesta população é relevante para evitar a renormalização do tabagismo.
BABJAKOVÁ et al., 2022Investigar o uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina, seus conhecimentos e crenças (opinião sobre nocividade e potencial de dependência) sobre os cigarros eletrônicos, percepções de risco, bem como avaliar o tipo de escolaridade e cessação. treinamento que receberam durante seus estudos na Faculdade de Medicina da Universidade Comenius em Bratislava, Eslováquia.577Havia 385 (66,7%) não fumantes, 111 (19,3%) ex-fumantes e 81 (14%) fumantes atuais na amostra do estudo. O cigarro eletrônico utiliza atualmente 13,5% de estudantes de medicina, com uma diferença intersexual estatisticamente significativa, mais estudantes estrangeiros do que estudantes eslovacos, mais fumantes de cigarros convencionais do que não fumantes. O cigarro eletrônico parece ser menos prejudicial para 59,97% dos estudantes, principalmente na faixa etária ≤ 24 anos, 41,25% dos estudantes consideram o cigarro eletrônico é menos viciante, 55,6% acham que não recebem educação suficiente sobre cigarro eletrônico durante o curso de medicina.Os resultados globais mostram o elevado consumo de produtos do tabaco e a falta de conhecimento e sensibilização dos estudantes de medicina, futuros prestadores de cuidados de saúde. Na promoção da saúde e na prevenção de doenças, devem servir de modelo para os seus pacientes e também para o público em geral. O nosso estudo enfatiza a necessidade de intervenção neste domínio nas faculdades de medicina e de apoio a uma monitorização adicional na Eslováquia e noutros países e chama a atenção para a contínua falta de regulamentação do cigarro eletrônico.
BERNSTEIN et al., 2022Observar o comportamento dos fumantes da escola médica para parar de fumar.102Uso de cigarros eletrônicos ou produtos de reposição de nicotina vendidos sem receita (OTC) para parar de fumar, 34,3% (35/102) vaporizaram cigarros eletrônicos, tornando-se o segundo mais comum próximo aos patches (47,1% {48/102}). Em comparação, n=48 relataram uso de medicação. Os participantes estudantes de medicina (n=168) estavam confusos em relação a se um paciente deveria mudar de cigarros tradicionais para cigarros eletrônicos (56,0% sim; 44,0% não) e relataram receber educação sobre cigarros tradicionais (92,3%) em uma taxa muito mais alta do que para cigarros eletrônicos. cigarros (46,4%), p<0,001.Muitos ex-fumantes inveterados submetidos a exames de câncer de pulmão usaram cigarros eletrônicos para conseguir parar de fumar. No entanto, quase metade dos estudantes de medicina entrevistados não acha que os pacientes deveriam mudar dos cigarros tradicionais para os cigarros eletrônicos.
PÁEZ; ORELLANA; NAZZAL, 2021Determinar a prevalência de consumo de cigarros eletrônicos e identificar a percepção de risco associado a esses, tanto por usuários como por não usuários; além de explorar atitudes e motivações relacionadas ao consumo em estudantes de Medicina da UCH.35432,9% usaram cigarros eletrônicos alguma vez na vida, 6,8% no último ano e 1,1% no último mês. A idade média de início foi 18,0 ± 2,2 anos. A respeito às percepções positivas para os cigarros eletrônicos: 37,1% acreditam que ajudam as pessoas a deixar de fumar; 39,7% que são menos perigosos que os cigarros e 19,0% que são menos viciantes. O consumo de cigarros eletrônicos algumas vezes na vida está associado ao consumo de tabaco e às percepções positivas para os cigarros eletrônicos (eficaz para deixar de fumar e menos viciante que os cigarros). As principais motivações para o consumo foram “simplesmente porque sim”, “porque eu gosto do sabor”, “me recomendo um amigo/familiar” e “porque me relaxei”.O consumo de cigarros eletrônicos é predominante em estudantes de medicina da UCH. Observa-se que o cigarro eletrônico ajuda as pessoas a deixar de fumar, havendo menos perigo ou menos vício. O consumo de cigarros eletrônicos foi associado de forma significativa com percepções positivas em relação ao cigarro eletrônico e ao consumo de tabaco; nenhuma associação significativa foi observada com a intenção de fazer isso tabaco em fumantes.
BIN ABDULRAHMAN, et al., 2021Investigar os hábitos de vida de estudantes de medicina, incluindo qualidade do sono, padrões de alimentação e bebida, atividade física e status social. 675Cerca de metade deste número eram estudantes do sexo masculino e a maioria tinha entre 18 e 24 anos. A maioria dos estudantes (87,6%) dormia entre 4–8 horas por dia e mais de 44% estavam insatisfeitos com o sono. Apenas 4,6% fumavam cigarros diariamente, enquanto 7,1% fumavam cigarros eletrônicos diariamente. Em contrapartida, apenas 0,3% usavam shisha (narguilé) diariamente. Estudantes de medicina do sexo masculino estavam substancialmente mais inclinados ao uso de cigarros eletrônicos do que as mulheres. Este estudo revelou que a maioria desses estudantes de medicina na Arábia Saudita exibia estilos de vida saudáveis, até certo ponto, e esses comportamentos de promoção da saúde diferiam com base no sexo, especialmente no que diz respeito à atividade física e aos padrões alimentares. 
AL-SAWALHA et al., 2021Examinar as percepções e o conhecimento sobre cigarros eletrônicos entre estudantes universitários na Jordânia.1.25911% dos participantes relataram uso de cigarros eletrônicos. Entre os utilizadores, 26,5% utilizaram-no para efeitos de cessação tabágica, enquanto 22% deles utilizaram por curiosidade, e 20,5% utilizaram-no por acreditarem que é menos prejudicial que outros produtos do tabaco. Na Jordânia, o uso de cigarros eletrônicos é menos popular em comparação com outros países. No entanto, são necessárias intervenções educativas para corrigir conceitos errados sobre os cigarros eletrónicos entre os jovens adultos.
BALOGH et al., 2020Avaliar as mudanças ocorridas entre 2016 e 2018 na prevalência do uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina e explorar associações entre o uso de cigarros eletrônicos, características demográficas e tabagismo.3.811Em toda a amostra, o uso de cigarros eletrônicos nos últimos 30 dias aumentou de 4,5% para 8,0%. O aumento no uso de cigarros eletrônicos foi significativo em ambos os sexos. A prevalência do uso de cigarros eletrônicos foi maior entre os estudantes húngaros do que entre os estudantes alemães (2,2% versus 5,7% em 2016 e 4,1% versus 10,5% em 2018). Não houve diferença significativa no uso de cigarros eletrônicos entre os diferentes anos acadêmicos. A prevalência do uso de cigarros eletrônicos aumentou significativamente entre estudantes de medicina sem redução no consumo de cigarros. As escolas médicas devem adicionar o tema dos cigarros eletrónicos aos seus currículos e desenvolver programas de cessação para ajudar os seus alunos a abandonarem tanto os cigarros como os cigarros eletrônicos.
HABIB et al., 2020Avaliar a prevalência da vaporização de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina na Arábia Saudita, compreender e analisar as razões que os levaram a experimentá-lo e investigar as percepções dos estudantes em relação à vaporização de cigarros eletrônicos.401A prevalência de vaporização foi de 49/401 (12,2%). Houve uma forte associação entre sexo e vaporização, com os homens tendo 3 vezes mais probabilidade de vaporizar em comparação com as mulheres (χ2 (1) =13,62, P <0,001). Os três motivos mais comuns para o uso de cigarros eletrônicos foram aproveitar a variabilidade de sabores (61,4%, n = 30), reduzir ou parar de fumar cigarros (29,5%, n = 14) e evitar a proibição de fumar em público (13,6% , n = 7). O uso de cigarros eletrônicos não é incomum entre estudantes de medicina, principalmente devido à sua atraente variabilidade de sabor. Mais pesquisas são necessárias para definir perfis de segurança e efeitos colaterais a longo prazo e para gerar diretrizes baseadas em evidências sobre a segurança e eficácia dos cigarros eletrônicos para parar de fumar.
CASTRILLO et al., 2019Descrever o conhecimento, o uso e a percepção da nocividade dos cigarros eletrônicos em estudantes da área da saúde.38097,9% conheciam esses produtos. 29,2% já experimentaram alguma vez, sendo seu uso maior entre fumantes e estudantes de enfermagem. 15,5% dos não fumantes já usaram alguma vez, sendo 62,5% deles com nicotina. O principal motivo de utilização foi a curiosidade (70,1%).Os resultados apoiam a hipótese de que os cigarros eletrônicos podem ser uma porta de entrada para produtos de nicotina entre a população jovem não fumadora. Por outro lado, os estudantes de ciências da saúde, e em particular os estudantes de medicina e enfermagem, representam um pilar fundamental no sistema de saúde como futuros profissionais responsáveis ​​pela saúde da população. É importante continuar a estudar esta população não apenas como população de risco, mas como futuros responsáveis ​​pelo controlo do tabagismo. Treinar e manter os alunos atualizados sobre os avanços no conhecimento sobre o tabagismo e os novos produtos que dispensam nicotina, como os cigarros eletrônicos, poderia aumentar as intervenções na prática clínica para parar de fumar e não recair em outros produtos do tabaco para melhorar a saúde da população.
GRUZIEVA et al., 2019Identificar as características da prevalência do consumo de tabaco, álcool e bebidas energéticas entre estudantes de medicina e justificar formas de contra-ataque com base nos resultados da própria investigação sociológica, literatura científica, programa da OMS e documentos estratégicos.948Um terço dos estudantes consome tabaco, dos quais 15,2 em cada 100 inquiridos são fumadores regulares com experiência, 9,3 em cada 100 inquiridos fumavam 10 ou mais cigarros por dia. Uma nova tendência negativa é o uso de narguilé por quase metade dos estudantes entrevistados e o consumo de cigarros eletrônicos (8,5 por 100 entrevistados), o que deve ser levado em consideração na fundamentação de formas de contra-ataque. A ligação revelada entre o consumo de tabaco, álcool e bebidas energéticas entre estudantes de medicina comprova a necessidade de uma abordagem integrada para reduzir a prevalência de fatores de risco no contexto de um estilo de vida saudável.

Fonte: Autores (2024).

4 DISCUSSÕES

O uso de cigarros eletrônicos não é incomum entre estudantes de medicina, principalmente devido à sua atraente variabilidade de sabor (Habib et al., 2020) ou por acreditarem ser menos prejudicial que outros produtos do tabaco (Al-Sawalha et al., 2021). Corroborando com tais achados, Martins et al. (2023) ressalta que os os principais motivos para os participantes de seu estudo usarem cigarros eletrônicos foram a curiosidade e o aroma/sabor.

Dentro deste contexto, os dados encontrados no presente estudo são compatíveis com os descritos no estudo de Garcia et al. (2024), onde a experimentação e o uso de produtos nocivos acontece por uma falsa sensação de imunidade pessoal, desinformação sobre o efeito nocivo do cigarro eletrônico e curiosidade de experimentar uma droga disfarçada por variadas cores e sabores, feitos para quebrar o estigma da fumaça tóxica do cigarro. Ainda, possibilita o consumo em ambientes julgados previamente como impróprios.

Diante dos achados neste trabalho e os encontrados na literatura, ressalta-se uma motivação bastante frequente em relação ao estereótipo de normalidade que se criou em torno do cigarro eletrônico, uma vez que o seu uso em ambientes públicos apresenta maior flexibilidade, atrelado a influência de amigos, familiares e pessoas famosas nas redes sociais (Leite et al., 2023).

Essa é uma droga de elevada toxicidade e psicotrópica, ocasionando implicações físicas, elevação moderada no humor e diminuição do apetite. Por essa razão, vários fumantes demonstram a sensação de relaxamento, ocasionada pela diminuição do tônus muscular (Sousa et al., 2023). Além disso, as publicidades também contribuem significativamente para o uso dos cigarros eletrônicos, visto que é amplamente difundida nos diferentes meios sociais e virtuais (Leite et al., 2023).

Páez; Orellana; Nazzal (2021) verificou que os estudantes de medicina tinham mais consciência do potencial aditivo dos cigarros eletrônicos. Entretanto, Martins et al. (2023) evidencia que embora 93% dos participantes terem aprendido sobre os danos do tabagismo à saúde nas aulas da faculdade de medicina, 51,4% já experimentaram pelo menos um dos produtos do tabaco.

Segundo Castrillo et al. (2019), os principais preditores do consumo são ser fumante, ter dependência média-alta de nicotina e ser estudante da área da saúde, especialmente medicina. Evidências ressaltam que a prevalência do uso de cigarros eletrônicos aumentou significativamente entre estudantes de medicina. Dessa forma, as escolas médicas precisam adicionar o tema dos cigarros eletrônicos aos seus currículos e desenvolver programas de cessação para ajudar os alunos a abandonarem tanto os cigarros quanto os cigarros eletrônicos (Balogh et al., 2020).

A ligação revelada entre o consumo de tabaco, álcool e bebidas energéticas entre estudantes de medicina comprova a necessidade de uma abordagem integrada para reduzir a prevalência de fatores de risco no contexto de um estilo de vida saudável (Gruzieva et al., 2019). Ainda, é relatado na literatura que abordar os problemas do consumo de narguilé e cigarro eletrônico nesta população é relevante para evitar a renormalização do tabagismo (Degani-Costa et al., 2023).

Bin Abdulrahman, et al. (2021) verificou que apenas 4,6% dos participantes de seu estudo fumavam cigarros diariamente, enquanto 7,1% fumavam cigarros eletrônicos diariamente. Babjaková et al. (2022) afirma que o cigarro eletrônico parece ser menos prejudicial para 59,97% dos estudantes, sobretudo na faixa etária inferior a 24 anos.

Em consonância com os dados encontrados, achados da literatura verifica que os estudantes consideram o cigarro eletrônico menos viciante, onde a maioria acredita que não recebe educação suficiente sobre os malefícios do uso de cigarro eletrônico durante o curso médico (Babjaková et al., 2022).

Sendo assim, é importante o conhecimento dos estudantes quanto aos malefícios do uso desses dispositivos, onde aumenta a ocorrência de infarto do miocárdio, angina e derrame cerebral, além de prejuízos no sistema imunológico e desenvolvimento neurológico (Overbeek et al., 2020).

De acordo com Bernstein et al. (2022), os estudantes de medicina estavam confusos se um paciente deveria mudar de cigarros tradicionais para cigarros eletrônicos e relataram receber educação sobre cigarros tradicionais em uma taxa muito mais alta do que para cigarros eletrônicos.

Portanto, verifica-se que os profissionais e estudantes de medicina são fonte confiável de informação sobre saúde para os pacientes. Seu papel em assuntos, como a cessação do tabagismo, é bem estabelecido na literatura. Contudo, evidências demonstram que os profissionais e estudantes ainda carecem de informações no tocante ao aconselhamento e à orientação de pacientes sobre tabagismo e produtos semelhantes (Pessoa et al., 2023).

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo possibilitou apresentar as motivações e os riscos do uso de cigarros eletrônicos por estudantes de medicina, visando obter um maior conhecimento acerca das informações desse produto, além de conscientização e diminuição do uso de cigarros eletrônicos. Concluímos que a principal motivação para o uso desse dispositivo é a atraente variabilidade de sabor, onde os acadêmicos do curso médico são influenciados por amigos, familiares ou famosos nas redes sociais.

Além disso, também foi possível identificar que mesmo os estudantes de medicina conhecendo os efeitos nocivos do cigarro eletrônico para a saúde, ainda continuam usufruindo desses dispositivos. Sucintamente, há muito a ser estudado e discutido a respeito destes cigarros eletrônicos e de seus prejuízos. Dessa forma, destaca-se a importância de trabalhos futuros, para que, as substâncias inseridas na composição dos cigarros eletrônicos sejam analisadas minuciosamente, com o objetivo de elucidar os efeitos no organismo e, como consequência, descontinuar o consumo e a sua comercialização.

REFERÊNCIAS

BABJAKOVÁ, J. et al. E-cigarette use, opinion about harmfulness and addiction among university students in Bratislava, Slovakia. Central European Journal of Public Health, v. 30, n. Supplement, p. S50-S56, 2022.

BALOGH, E. et al. Increasing prevalence of electronic cigarette use among medical students. repeated cross-sectional multicenter surveys in Germany and Hungary, 2016–2018. Substance Use & Misuse, v. 55, n. 13, p. 2109-2115, 2020.

BARRADAS, A. D. S. M.; SOARES, T. O.; MARINHO, A. B.; SANTOS, R. G. S. dos.; SILVA, L. I. A. da. Os riscos do uso do cigarro eletrônico entre os jovens. Global Clinical Research Journal, v. 1, n. 1, p. 1-8, 2021.

BERNSTEIN, M. H. et al. Electronic Cigarettes for Smoking Cessation: The Gap Between Behavior in Smokers and Medical Education. Cureus, v. 14, n. 9, 2022.

BIN ABDULRAHMAN, K. A. et al. The lifestyle of Saudi medical students. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 18, n. 15, p. 7869, 2021.

CASTRILLO, G. G. et al. Conocimiento, uso y percepción de los cigarrillos electrónicos en estudiantes de ciencias de salud. Index de Enfermería, v. 28, n. 4, p. 179-183, 2019.

DEGANI-COSTA, L. H. et al. Vaping and hookah use among medical trainees: a multinational survey study. American Journal of Preventive Medicine, v. 65, n. 5, p. 940-949, 2023.

GARCIA, P. L. B. et al. Prevalência e perfil de uso de cigarros eletrônicos em estudantes de medicina de uma capital do sul do Brasil. Revista de Medicina, v. 103, n. 2, 2024.

GOMES, S. C. A. et al. Análise do perfil de uso do narguilé entre estudantes de medicina. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 11, p. 1-9, 2021.

GONÇALVES, A. T. S. et al.  Uso de cigarros eletrônicos e fatores associados entre estudantes de Medicina em Maringá. Brazilian Journal of Health Review, v. 5, n. 5, p. 20125-20141, 2022. 

GRUZIEVA, T. et al. Prevalence of bad habits among students of the institutions of higher medical education and ways of counteraction. Wiadomości Lekarskie, v. 72, n. 3, p. 384-390, 2019.

HABIB, E. et al. Prevalence and perceptions of e-cigarette use among medical students in a Saudi University. Journal of Family Medicine and Primary Care, v. 9, n. 6, p. 3070-3075, 2020.

LEITE, Á. M. et al. Uso de cigarros eletrônicos entre estudantes. Revista Científica Integr@ção, v. 4, n. 1, p. 59-70, 2023.

LOMAS, A. B.; BARCELONA, M. A.; MAYORAL, R. G. Tabaquismo y otras formas de fumar entre los estudiantes de Medicina. Prevención del Tabaquismo, v. 25, n. 1, p. 11-20, 2023.

MARTINS, S. R. et al. Prevalence and associated factors of experimentation with and current use of water pipes and electronic cigarettes among medical students: a multicentric study in Brazil. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 49, p. e20210467, 2023.

MENDES, K. D. S., SILVEIRA, R. C. C. P., GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem, v. 17, n. 4, p. 758-764, 2008.

MONTEIRO, L. Z. et al. Uso de tabaco e álcool entre acadêmicos da saúde. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 31, n. 1, p. 1-9, 2018.

OVERBEEK, D. L. et al. Uma revisão dos efeitos tóxicos dos cigarros eletrônicos / vaping em adolescentes e adultos jovens. Critical Reviews In Toxicology, v. 50, n. 6, p. 531-538, 2020.

PÁEZ, S.; ORELLANA, D. I.; NAZZAL, C. Percepción y prevalencia del consumo de cigarrillos electrónicos en estudiantes de Medicina. Revista Chilena de Enfermedades Respiratorias, v. 37, n. 4, p. 275-284, 2021.

PESSOA, L. C. et al. Nível de conhecimento dos estudantes do curso de graduação em medicina de faculdade particular do Piauí sobre cigarros eletrônicos. Research, Society and Development, v. 12, n. 5, p. e9312541491, 2023.

SCHOLZ, J. R.; ABE, T. O. Cigarro Eletrônico e doenças cardiovasculares. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 65, n. 3, 2019.Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/542/337. Acesso em: 26 fev. 2023.

SOUSA, S. L. et al. Conhecimento e uso do cigarro eletrônico por acadêmicos de medicina. Revista Eletrônica Acervo Científico, v. 44, p. e12865-e12865, 2023.