REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408210181356
Isabela Freitas Silva1; Letícia Burato Da Cruz1; Lívia Santana de Oliveira1; Roberta Vitória Barbosa De Carvalho1; Yasmin Roberta Vieira Marques1
RESUMO
O presente trabalho conta com a revisão bibliográfica e investigação da eficácia do uso de canabidiol (CBD) no tratamento de dores crônicas na região da coluna vertebral dos pequenos animais, uma condição que afeta muitos animais e apresenta desafios significativos para o manejo clínico. A pesquisa visa a avaliação dos efeitos terapêuticos do CBD como uma alternativa ou complemento no tratamento de dores, explorando o impacto na redução das dores e melhora na vida dos pacientes. Serão apresentadas suas formas de administração, como óleos, cápsulas, cremes, etc e será exposto o mecanismo da Cannabis na analgesia e suporte dos animais em questão e relatos que comprovam melhora após o uso do fármaco. A revisão literária abrange estudos que investigaram os efeitos analgésicos do CBD em animais de pequeno porte. Os artigos revisados forneceram informações sobre os mecanismos de ação do canabidiol, sua segurança e eficácia, bem como possíveis efeitos adversos.
Palavras chaves: Dor de coluna, Canabidiol, analgesia, pequenos animais, CBD.
INTRODUÇÃO
O canabidiol, conhecido como CBD, é um composto presente na planta Cannabis sativa, popularmente denominado “maconha”. Os ingredientes presentes na Cannabis são principalmente Tetrahidrocanabinol (THC), que é responsável pela parte intoxicante da cannabis e o CBD, que, ao contrário do THC, não possui efeitos intoxicantes.
Em relação aos tipos de CBD, pode ser apresentado o de espectro completo e amplo espectro, sendo este sem adição de THC. Há também o CBD isolado, que não contém nenhum outro composto.
Apesar da comprovação de sua eficácia, no Brasil, segundo a lei de número 11.343/2006, mantém a proibição do uso e plantio da cannabis pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
A dor crônica que é geralmente definida como dor que persiste por mais de três a seis meses, pode ser contínua ou intermitente e pode variar em intensidade de leve a grave. Ocorre quando há uma disfunção no sistema nervoso, podendo incluir sensibilização nervosa e alterações no processamento da dor no cérebro e na medula espinhal.
A coluna vertebral é considerada a base principal do corpo, pois tem função de proteção da medula espinal (ME) e de suas raízes nervosas, formada por 5 segmentos e suas vértebras, sendo 7 cervicais, 13 torácicas, 7 lombares, 3 sacrais e cerca de 20 caudais, podendo haver variações.
A dor crônica na coluna em pequenos animais, como cães e gatos, representa um desafio significativo na prática veterinária, afetando o bem-estar e a qualidade de vida desses pacientes. O canabidiol (CBD), um composto não psicoativo da Cannabis sativa, tem ganhado destaque como uma alternativa terapêutica promissora devido às suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Este estudo busca investigar a eficácia do CBD no manejo da dor crônica em cães e gatos, analisando os efeitos clínicos e os mecanismos subjacentes que podem contribuir para a sua ação.
OBJETIVO
Realizar uma revisão na literatura a respeito do uso de canabidiol em cães e gatos, identificando dor, a eficácia para tratamentos após a aplicação do fármaco e os efeitos terapêuticos após a utilização, visando contribuir com a finalidade e conhecimentos do uso da planta dentro da medicina veterinária.
MÉTODOS
A metodologia utilizada foi redigida através de revisões bibliográficas, utilizando as palavras chaves: Canabidiol, dor crônica, pequenos animais e dor em coluna, em plataformas de busca como Pubvet, Google acadêmico e tratado de anatomia veterinária.
A pesquisa teve como base, artigos e publicações dentro do período de 2010 a 2024, arrecadando informações a respeito da eficácia do tratamento com Canabidiol em dor de coluna em pequenos animais.
DESENVOLVIMENTO:
MECANISMO DE AÇÃO DO CANABIDIOL:
O canabidiol age na região hipotalâmica, aliviando o estresse e a ansiedade, uma vez que sua ação é analgésica e age nos pontos de vigília e sono; age na plasticidade neural, ajudando a restaurar o equilíbrio na regulação da dor. O caminho do canabidiol (CBD) até alcançar a analgesia envolve vários mecanismos bioquímicos e neurológicos que atuam em conjunto para modular a percepção da dor. O processo se inicia na administração, sendo o óleo de CBD por via oral o método de eleição. Vale ressaltar, que a administração por via oral, possibilita o efeito de primeira passagem, sendo metabolizada pelo fígado, permitindo que apenas uma pequena porção entre na circulação após a ingestão. Ademais, a dosagem de CDB é individual, levando em consideração as condições fisiológicas e patológicas do paciente avaliado.
Ao chegar no SNC, acontece uma interação com os receptores canabinóides e no sistema nervoso periférico. Embora o CBD tenha baixa afinidade pelos receptores CB1 e CB2, ele pode modular indiretamente a atividade desses receptores e influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na transmissão da dor. Ao agir na mesma, pode interferir na transmissão e influenciar a liberação de neurotransmissores como glutamato, serotonina e noradrenalina.
Em relação ao manejo da dor crônica e aguda, os canabinóides podem ser usados como um complemento para o alívio das mesmas. Estudos relatam, que análises revelam imunorreatividade do córtex cerebral reativos ao CB1, confirmando a participação e prevenção a sensibilização dos canabinóides no controle da dor crônica devido a inibição de GABA, glutamato e canais dependentes de voltagem (MIRANDA-CORTÉS, 2023).
O sistema endocanabinóide é formado por receptores canabinóides, endocanabinóides e enzimas metabólicas. Os receptores canabinóides (CB1 e CB2) na imagem ilustrativa no final do texto mostram que, ficam espalhados por diversas partes do corpo como cérebro e células da glia, fígado, pâncreas, pulmões, trato gastrointestinal, sistema vascular, órgão receptores, pele, músculos, ossos e sistema imunológicos ingeridos por meio da cannabis. Assim, os efeitos desses compostos agem nos locais do corpo onde existem esses receptores. Os receptores CB1, um dos principais receptores opióides, estão localizados nos neurônios do corno dorsal superficial da medula espinhal. Comprovadamente, os receptores canabinóides tipo CB2, localizados em tecido linfóide, ajudam a mediar a liberação de citocinas pelas células imunológicas, auxiliando na redução da dor e da inflamação. No cérebro, os receptores CB1 modulam a liberação de neurotransmissores, evitando a atividade neuronal excessiva e promovendo um efeito calmante, o que também impacta a modulação da dor (BUSHLIN, 2010). Os efeitos do CBD em cães são relatados como proporcionais à dose (BARTNER, 2018); quanto maior a dose e a concentração plasmática, mais eficaz é o tratamento. Na dosagem de 2 mg/kg, duas vezes ao dia, o CBD apresenta uma meia-vida curta (t1/2) variando de 1 a 4,2 horas, com concentração máxima (Cmax) variando de 102 a 301 ng/mL e tempo para atingir a concentração sérica máxima (tmax) entre 1,4 a 1,5 horas (DEABOLD, 2019; GAMBLE, 2018).
Figura 1 e 2 : locais do corpo onde existem os receptores da CB1 e CB2
Atualmente, poucos estudos relatam a farmacocinética do CBD em gatos saudáveis, entretanto, os estudos relataram que o uso de óleo de CBD mostra uma boa resposta com efeitos adversos leves e raros (Kulpa et al., 2021). Pesquisadores descobriram que o tempo que o CBD leva para ser eliminado do corpo é de 1,5 horas em gatos e 1 hora em cães. A concentração máxima no sangue foi de 43 ng/mL em gatos e 102 ng/mL em cães, com o pico sendo alcançado em 2 horas e 1,4 horas, respectivamente, com uma dose de 2 mg/kg duas vezes ao dia. Foi observado que os gatos absorvem o CBD mais lentamente e o mantêm no organismo por mais tempo, resultando em uma concentração máxima que é 7 vezes menor do que a dos cães. Isso sugere que as dosagens devem ser diferentes para cada espécie. (DEABOLD, 2019).
Assim como em humanos, alguns animais podem ser sensíveis ao CBD e experimentar efeitos colaterais indesejados, como sonolência, boca seca, náusea ou mudanças no apetite. É importante monitorar de perto os animais durante o uso de CBD e interromper o tratamento se ocorrerem reações adversas. Animais com problemas hepáticos podem apresentar complicações, uma vez que o canabidiol é metabolizado pelo fígado (SHANE-MCWHORTER., 2024).
Resultado da eficácia e segurança:
O uso do CDB tem demonstrado eficácia no tratamento de dor crônica, segundo (SIHOTA, 2021) pacientes que fizeram uso do canabidiol relatam redução de >30% da sensibilização da dor. Da mesma forma, (SOUZA., 2023) “o sistema canabinóide tem participação essencial no circuito dor. Nessa perspectiva, o canabidiol (CBD) é considerado uma estratégia promissora para o tratamento neuropático.” Novas pesquisas vêm surgindo sobre o benefício da Cannabis na medicina veterinária, segundo (VAUGHN; KULPA; PAULIONIS, 2020) alguns estudos mostram potencial como uma via de terapia única para dor em casos de cães com osteoartrite, como terapia adjuvante para reduzir convulsões em cães como epilepsia idiopática.
O canabinol apresentou um perfil de segurança favorável, com efeitos adversos leves/moderados, de acordo com (VAUGHN; KULPA; PAULIONIS, 2020). Em altas doses, os efeitos colaterais relacionados ao CBD podem incluir fadiga, diarreia e alterações no apetite e no peso. Analisando, (SILVA, 2023) em seu relato de caso, onde um cão da raça Dachshund de dez anos de idade, macho, castrado e massa corpórea de 12 kg, com histórico dos efeitos de uma lesão na coluna cervical, que foi diagnosticada através de exames clínicos, físicos, neurológicos e radiográficos. No qual houve no animal uma melhora clínica do alívio de dores do cão, houve ausência de efeitos colaterais identificados na intervenção. O óleo de canabidiol tem se mostrado uma alternativa viável para o controle da dor em lesões cervicais. Estudos indicam que, mesmo quando administrado em altas doses de concentração, não há evidências de toxicidade associada ao uso do extrato. (SILVA, 2023)
É comum que animais com condições clínicas apresentem múltiplas doenças simultaneamente. Segundo (SILVA, 2023), o uso de canabinóides é contraindicado em animais com cardiomiopatia dilatada, bem como em cadelas gestantes ou em lactação e animais filhotes. No entanto, pacientes com doença renal crônica e doença hepática podem utilizar medicamentos à base de cannabis, desde que sejam cuidadosamente monitorados (SILVA, 2023).
Ao serem comparados, os opioides são comumente prescritos para o tratamento da dor crônica, apesar de seus efeitos colaterais ao longo prazo, como vômito, salivação, vocalização, bradicardia, hipotermia, ofegação e dependência química (Ripplinger, 2018), já o canabidiol demonstrou uma segurança mais favorável. (SIHOTA, 2021) relatam que muitos pacientes e médicos estão considerando a cannabis medicinal para apoiar a redução gradual de opioides e o controle da dor crônica, (SILVA, 2023) corroboram com esses relatos já que o CDB possui muitas aplicações como antiinflamatórias, analgesia entre outras; mas também atua nos receptores opioides ajudando nesses efeitos.
CONCLUSÃO
A partir das informações obtidas, foi possível constatar que o uso de canabidiol (CBD) para o tratamento de dores crônicas na coluna vertebral de cães e gatos revela um potencial promissor, destacando sua eficácia analgésica e propriedades anti-inflamatórias, apresentando um perfil de segurança superior ao dos opióides.
Embora não haja muitas pesquisas, a análise dos estudos indicam que o CBD pode oferecer alívio significativo para esses pacientes, melhorando sua qualidade de vida, assim a integração do CBD na medicina veterinária pode representar um avanço importante no manejo da dor em animais, promovendo novas abordagens terapêuticas.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Rafaela Moraes; BONORINO, Rafael Prange. O uso de canabidiol na terapêutica em cães com epilepsia. Anais do 24° Simpósio de TCC do Centro Universitário ICESP, 2022.
BARTNER, L. et al. Pharmacokinetics of cannabidiol administered by 3 delivery methods at 2 different dosages to healthy dogs. Canadian Journal of Veterinary Research, v. 82, p. 178-183, 2018.
DEABOLD, K. A. et al. Single-dose pharmacokinetics and preliminary safety assessment with use of CBD-rich hemp nutraceutical in healthy dogs and cats. Animals, v. 9, p 832, 2019. DOI: 10.3390/ani9100832.
GAMBLE, L.-J. et al. Pharmacokinetics, Safety, and Clinical Efficacy of Cannabidiol Treatment in Osteoarthritic Dogs. Frontiers in Veterinary Science, v. 5, p. 165, 2018.
GARCIA, Isabella Velasco Barbosa et al. Uso de cannabis em cães com doenças crônicas: Quais as evidências?. RECIMA21 – Revista Científica Multidisciplinar, 2022.
MACHADO, Talita Delgado et al. Óleo de canabidiol para controle de dor em cão: Relato de caso. Pubvet Medicina Veterinária e Zootecnia, 2022.
MAYO CLINIC. Canabidiol (CBD). Disponível em: MSD Manuals. Acesso em: 24 set. 2024.
MIRANDA-CORTÉS, A et al. The role of cannabinoids in pain modulation in companion animals. Frontiers in Veterinary Science, v. 9, p. 1-17,2023
MORAIS, Marcus Vinicius; ALMEIDA, Mauro; JUNIOR, José Oswaldo De Oliveira. A eficácia e o poder analgésico dos canabinóides à luz dos dados atuais disponíveis. Brazilian Journal of Pain, 2023.
SANTOS, Gabriel Vinicius. A utilização da cannabis sativa para analgesia na medicina veterinária. 2020.
SANTOS, Gabriel Vinícius dos; MELLO, Manuella Rodrigues de Souza. A utilização de Cannabis sativa para analgesia na Medicina Veterinária: Uma revisão sistemática. Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – UNICEPLAC, 2020.
SOUSA, Laura Toledo Novellino; DAIBERT, Ana Paula Falci; DIAS, Anna Marcella Neves. Canabidiol para controle da dor em pequenos animais: Revisão. Pubvet Medicina Veterinária e Zootecnia, 2023.
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1Graduandos do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário das Américas (FAM)