USO DE ANTICONCEPCIONAIS ORAIS E SUA RELAÇÃO COM A TROMBOSE VENOSA PROFUNDA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10420794


Natália Silva Louzado Flick1
Daniele Oliveira²


RESUMO

É sabido que os anticoncepcionais hormonais são métodos contraceptivos eficientes e reversíveis. Crê-se que nos países desenvolvidos, cerca de 18% das mulheres casadas ou que moraram junto pelo menos uma vez na vida, usam anticoncepcional oral, visto que, representa milhões de mulheres em uso em todo o mundo. Esses medicamentos provocam modificações no equilíbrio hemostático, o que contribui para o aparecimento de trombose venosa profunda. Inúmeros conhecimentos epidemiológicos comprovam uma associação entre o uso de contraceptivos orais combinados (COC) e o risco para trombose venosa. Diante do exposto, o objetivo desse estudo é descrever a ação dos anticoncepcionais orais no organismo feminino e relatar os fatores que desencadeiam a trombose venosa profunda. A abordagem metodológica empregada para desenvolver este trabalho foi a revisão integrativa da literatura, foram selecionados 10 artigos, todos têm uma data de publicação que varia entre 2018 a 2023. Esta revisão permitiu evidenciar que os anticoncepcionais são fármacos de primeira escolha para a maioria das mulheres, devido a sua acessibilidade. Em geral, esses medicamentos são utilizados de forma inadequada por grande parte das usuárias, pois no Brasil a venda desses medicamentos é feita sem prescrição médica. Através deste estudo, podemos inferir que a utilização prolongada desses medicamentos pode elevar a probabilidade de ocorrência de trombose venosa profunda.

Palavras-chaves: Anticoncepcionais orais. Métodos contraceptivos. Trombose. Trombose venosa. Homeostasia.

ABSTRAT

It is known that hormonal contraceptives are efficient and reversible contraceptive methods. It is believed that in developed countries, around 18% of women who are married or have lived together at least once in their lives use oral contraceptives, as they represent millions of women in use around the world. These medications cause changes in the hemostatic balance, which contributes to the appearance of deep vein thrombosis. Numerous epidemiological knowledge proves an association between the use of combined oral contraceptives (COC) and the risk of venous thrombosis. Given the above, the objective of this study is to describe the action of oral contraceptives on the female body and report the factors that trigger deep vein thrombosis. The methodological approach used to develop this work was an integrative literature review, 10 articles were selected, all of which have publication data ranging from 2018 to 2023. This review made it possible to highlight that contraceptives are first-choice medications for most women , due to its accessibility. In general, these medicines are used conventionally by most users, as in Brazil these medicines are sold without a medical prescription. Through this study, we can infer that prolonged use of these medications can increase the likelihood of deep vein thrombosis occurring.

Keywords: Oral contraceptives. Contraceptive methods. Thrombosis. Venous thrombosis. Homeostasis

INTRODUÇÃO

Desde a década de 60 os anticoncepcionais orais são utilizados no Brasil, sendo o método de contracepção hormonal mais usado pelas mulheres pelo fato de ser mais fácil de adquirir o medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e ser de fácil ingestão (DA CRUZ; BOTTEGA; DE PAIVA, 2021; GODIM; DE ALMEIDA; PASSOS, 2022). As pílulas são esteroides utilizados de forma isolada ou associada, com a finalidade de impedir a concepção, as mais conhecidas são as combinadas com os hormônios progesterona e estrogênio (MONTEIRO; DOS SANTOS; HEINEN, 2018; DA CRUZ; BOTTEGA; DE PAIVA, 2021).

De acordo com Couto et al. (2020) é sabido que os anticoncepcionais hormonais são métodos contraceptivos eficientes e reversíveis. Crê-se que nos países desenvolvidos, cerca de 18% das mulheres casadas ou que moraram junto pelo menos uma vez na vida, usam anticoncepcional oral, representando milhões de mulheres em uso em todo o mundo. De acordo com informações da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher mais recente, realizada em 2006, 81% das mulheres brasileiras adotavam algum método contraceptivo na época, sendo que as pílulas anticoncepcionais (ACO) ocupavam a segunda posição entre os métodos mais (DA SILVA et al., 2022).

Da mesma forma que ocorre com qualquer medicamento, os contraceptivos hormonais podem desencadear diversos efeitos adversos, abrangendo alterações em sistemas como imunológico, metabólico, nutricional, psiquiátrico, vascular, ocular, gastrintestinal, hepatobiliar, cutâneo-subcutâneo, renal/urinário e auditivo. Além disso, podem provocar distúrbios no Sistema Nervoso Central (SNC) e no Sistema Reprodutor (COUTO et al., 2020). Nessa situação, mulheres com propensão a doenças cardiovasculares e que fazem uso de contraceptivos hormonais estão suscetíveis a um aumento significativo no risco de desenvolver trombose arterial (COUTO et al., 2020). As mulheres são submetidas a grandes quantidades de hormônios, esses medicamentos provocam modificações no equilíbrio hemostático, o que contribui para o aparecimento de trombose venosa profunda (TPV) (GODIM; DE ALMEIDA; PASSOS, 2022).

Segundo Queiroz et al. (2021), o etinilestradiol, um componente presente nos contraceptivos hormonais, induz alterações notáveis no sistema de coagulação, esses hormônios exercem sua influência diretamente sobre a parede vascular, provocando modificações nos fatores que desencadeiam disfunções no endotélio, essas alterações contribuem para o surgimento de episódios tromboembólicos. Os sintomas e manifestações observados em casos de trombose venosa profunda (TVP) incluem: sensação de dor, inchaço, vermelhidão, coloração azulada, aumento do volume das veias superficiais, elevação da temperatura local, endurecimento muscular e sensibilidade dolorosa à pressão (GODIM, DE ALMEIDA, PASSOS, 2022).

Os anticoncepcionais orais quando ingeridos são absorvidos no intestino e chegam à corrente sanguínea, onde são levados à hipófise e aos ovários para evitar que ocorra a ovulação, no entanto, os contraceptivos alteram a viscosidade do sangue e da parede vascular, desta forma o risco da utilização desses medicamentos está associado ao aumento dos níveis sanguíneos dos fatores de coagulação II, VII, IX e X, bem como a diminuição dos níveis de antitrombina III e ao aumento de monômeros de fibrina no plasma (DE LIMA et al., 2019; FERREIRA; DA PAIXÃO, 2021).

Segundo Ferreira e Da Paixão (2021) o termo “tromboembolismo” engloba duas condições de saúde: a Trombose Venosa Profunda (TVP) e a Embolia Pulmonar (EP). Nesse contexto, ainda segundo os autores, a TVP destaca-se como uma condição resultante da formação de coágulos nas veias profundas, geralmente nas extremidades inferiores ou nos sistemas nervosos superficial e profundo, o que pode levar à obstrução parcial ou completa dessas veias, podendo se formar espontaneamente ou como resultado de lesões na parede das veias, traumatismos, choques ou inflamações, através da interação de vários fatores, como o aumento da reatividade plaquetária e danos no endotélio vascular, que podem ocorrer tanto em mulheres saudáveis quanto em mulheres com doença cardiovascular pré-existentes, e especialmente em decorrência do uso de anticoncepcionais orais. Este último apresentando um risco aumentado, influenciado pela quantidade de estrogênio e pelo tipo de progestogênio contidos na formulação do contraceptivo oral, podendo ser considerado modesto em termos absolutos, mas ainda assim revestindo-se de significância clínica (LAGO, et. al, 2022). Inúmeros conhecimentos epidemiológicos comprovam uma associação entre o uso de contraceptivos orais combinados (COC) e o risco para trombose venosa. Diante do exposto, o objetivo desse estudo é descrever a relação entre o uso do anticoncepcional oral e o risco para trombose venosa profunda.

METODOLOGIA

A abordagem metodológica empregada para desenvolver este trabalho foi a revisão integrativa da literatura, um método que possibilita a síntese de conhecimento por meio de um processo sistemático e rigoroso. As etapas desse método incluem a formulação da pergunta de pesquisa, a busca e seleção dos estudos primários relevantes, a extração de dados desses estudos, a avaliação crítica dos estudos primários incluídos na revisão, a síntese dos resultados obtidos e, por fim, a apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2019).

Para este trabalho, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: a seleção de artigos publicados em periódicos científicos no período de 2018 a 2023, considerando a relevância atual do tema e a busca por estudos mais recentes no campo do ensino em saúde. O processo de pesquisa foi conduzido em diversas bases de dados eletrônicas, incluindo a Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), a Scientific Electronic Library Online (SciElo), a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Na condução da pesquisa, foram empregados os seguintes termos de busca: “Anticoncepcionais orais”, “métodos contraceptivos”, “trombose”, “trombose venosa” e “homeostasia”.  Dos artigos identificados com o uso dos descritores booleanos “anticoncepcionais orais” AND “trombose venosa”,”métodos contraceptivos” AND “trombose”, “trombose venosa” AND “homeostasia”. Foram aplicados critérios de inclusão e exclusão para refinar a seleção. Os critérios de inclusão englobaram estudos que abordavam diretamente a relação entre anticoncepcionais orais e trombose venosa. Foram excluídos artigos que não tinham enfoque na associação entre esses elementos, bem como estudos sem dados relevantes ou metodologia inadequada. Esses critérios visaram garantir a relevância e qualidade dos artigos incluídos na revisão.

Após a aplicação desses critérios de busca, identificamos a seleção de 10 artigos que se alinhavam com os objetivos da pesquisa, enquanto outros 27 foram excluídos devido à falta de relevância para o estudo em questão. No total, 9 dos artigos selecionados estavam em língua portuguesa e 1 em inglês.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Quadro 1a seguir, mostra os estudos mais importantes onde foi possível verificar o interesse sobre as relações entre o uso da pílula anticoncepcional e o desenvolvimento da TVP.

Título do ArtigoObjetivoAutor(es)/AnoConclusões
A relação entre o uso da pílula anticoncepcional e o desenvolvimento da trombose venosa profunda no Brasil  Descrever sobre a pílula anticoncepcional e trombose venosa profunda, relacionar os principais fatores que levam à TVP através do uso da pílula anticoncepcional e identificar meios de prevenção e tratamento.      FERREIRA; DA PAIXÃO, 2021Pode-se concluir que para diminuir as reações adversas é necessário fazer uma anamnese realizada pelo profissional ginecologista que poderá analisar o histórico fisiológico e decidir o método contraceptivo de acordo com a particularidade de cada paciente.
A trombose venosa profunda como reação adversa do uso contínuo de anticoncepcionais oraisRelacionar as alterações no sistema hemostático com o uso contínuo dos anticoncepcionais orais e a ocorrência da trombose venosa profunda.  DE SOUSA, ALVARES, 2018Conclui-se que o estrogênio e progestagenios desencadeiam alterações significantes no sistema hemostático por sua ação androgênica, resultando na formação de fibrina, podendo acontecer à formação de coágulos nas veias, levando ao quadro de trombose venosa profunda.
Anticoncepcionais hormonais na atualidade: um novo paradigma para o planejamento familiarCompreender os métodos contraceptivos hormonais e interações medicamentosas mais peculiares de fronte a dinâmica do planejamento familiar.  BRANDT; OLIVEIRA; BURCI, 2018O anticoncepcional hormonal em sua maioria é benéfico, é um método muito utilizada para tratamentos ginecológicos, que não incluem somente a contracepção.
Conhecimento de universitárias sobre os riscos e benefícios associados aos contraceptivos orais combinadosAvaliar o conhecimento de jovens universitárias sobre os riscos e benefícios associados aos contraceptivos orais combinados.    DE ASSIS PINTO; RODOVALHO-CALLEGARI; CARBOL, 2020Conclui-se que é de suma importância que os profissionais de saúde identifiquem equívocos relacionados aos benefícios e efeitos colaterais dos anticoncepcionais orais, a fim de proporcionarem um aconselhamento contraceptivo efetivo.
Conhecimento dos estudantes da área da saúde acerca dos riscos dos anticoncepcionais hormonaisAnalisar o conhecimento de acadêmicas acerca dos riscos à saúde devido ao uso dos anticoncepcionais orais, relacionando os cursos e períodos das acadêmicas.    DE LIMA et al., 2019Pode-se concluir que mesmo lidando com pessoas com maior instrução, ainda existem questões deficitárias relacionadas aos riscos do uso do anticoncepcional oral. .
Influência do anticoncepcional hormonal oral no surgimento da trombose venosa profundaDescrever a ação dos anticoncepcionais orais no organismo feminino, relatar os fatores que desencadeiam a trombose venosa profunda.    GODIM, DE ALMEIDA, PASSOS, 2022Os anticoncepcionais orais exercem influência no surgimento de trombose venosa profunda pois podem causar alterações no Equilíbrio hemostático. Para a utilização desses medicamentos, é necessário responsabilidade e acompanhamento de um profissional.
Investigação dos riscos associados com o uso prolongado de contraceptivos hormonais em mulheres residentes da Região Metropolitana de Belém – PAIdentificar os riscos associados com o uso prolongado de contraceptivos hormonais e as reações adversas em mulheres residentes da região metropolitana de Belém, PA.    QUEIROZ et al., 2021Foi possível identificar a presença dos riscos ligados a fatores genéticos e ambientais e reações adversas relacionados ao uso prolongado dos contraceptivos hormonais, ficando evidente a necessidade de orientação de um profissional e realização de exames hormonais antes da adesão e escolha do método contraceptivo hormonal.  
Métodos Contraceptivos e Prevalência de Mulheres Adultas e Jovens com risco de Trombose, no Campus Centro Universitário do Distrito Federal-UDFAvaliar os riscos auto referidos de trombose causada por anticoncepcionais orais e injetáveis.  DA SILVA; SÁ; TOLEDO, 2019  O uso de contraceptivos orais aumenta a perspectiva de ocorrer TVP, pois os hormônios compostos nesses medicamentos atuam no sistema cardiovascular.
Risco de trombose venosa relacionada ao uso de anticoncepcionais oraisIdentificar as relações entre o uso de contraceptivos orais e a trombose venosa, assim como relatar os principais efeitos dos anticoncepcionais orais sobre a cascata de coagulação.    LAGO et al., 2022  Conclui-se que o uso de anticoncepcionais orais pode causar como efeito colateral o surgimento de Trombose Venosa nas mulheres. E apesar de substâncias como o estrogênio e o progestogênio alterarem as propriedades do sangue deixando-o mais propenso a desenvolver a Trombose Venosa, entretanto, os efeitos podem variar de pessoa para pessoa.
Exposição hormonal e tromboembolismo venoso (TEV) em mulheres seguradas comercialmente com idade entre 50 e 64 anosAvaliar a probabilidade de ocorrência de tromboembolismo venoso em mulheres de 50 a 64 anos nos Estados Unidos, levando em consideração a exposição a hormônios por diferentes vias e formulações.  WELLER et al., 2023As combinações orais com estradiol apresentaram um risco menor em comparação com outras formas de estrogênio. Por outro lado, os contraceptivos hormonais combinados com estrogênio-progesterona mostraram um risco consideravelmente maior.  

Fonte: AUTORA, 2023.

Das 10 publicações escolhidas, todas elas têm uma data de publicação que varia entre 2018 a 2023. Quanto à natureza das publicações selecionadas, identificou-se artigos de revisões e estudos com características transversais, descritivas, de corte transversal, qualitativas e analíticas.

De acordo com Ferreira e Da Paixão (2021) os contraceptivos orais que incorporam antiandrogênicos têm a capacidade de inibir os efeitos biológicos dos andrógenos, os quais podem contribuir para um aumento quatro vezes maior no desenvolvimento de tromboembolismo venoso (TEV) em comparação com os contraceptivos orais de emergência contendo levonorgestrel. Assim, a utilização de contraceptivos combinados que contêm progestágeno e estrogênio está diretamente correlacionada com a ocorrência e intensidade dos eventos tromboembólicos.

Conforme Brandt, Oliveira e Burci (2018) dentro do organismo, quando administrados por via oral, esses compostos são absorvidos no intestino e, em seguida, passam por um processo de metabolização no fígado, dando início ao circuito entero-hepático. Outros medicamentos também passam por esse processo de metabolização no fígado, podendo ser inativados ou ativados, resultando em potenciais interações medicamentosas, essas interações, na maioria das vezes, podem comprometer a eficácia desejada do medicamento.

De Lima et al. (2019) ressalta os efeitos mais indesejáveis associados ao uso prolongado de contraceptivos hormonais, destaca-se o aumento do risco em diversos aspectos da saúde, como um aumento que chega a duas a três vezes na probabilidade de desenvolver eventos trombóticos, tais como trombose venosa profunda, acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. No estudo de Queiroz et al. (2021) a maioria das participantes da pesquisa (57,21%) utiliza contraceptivos hormonais por um período de 1 a 5 anos, enquanto 39,54% relatam um uso que varia de 6 a 20 anos. Destaca-se que durante o estudo, 19 usuárias de contraceptivos orais combinados (COCs) apresentaram enxaqueca com aura. Destas, 10 têm idade superior a 35 anos e 7 relataram aumento de peso como reação adversa, fatores que contribuem para o aumento do risco de trombose entre as entrevistadas.

Um estudo conduzido por Da Silva, Sá, Toledo (2019) revelou que muitas mulheres fazem uso inadequado de métodos contraceptivos, os dados coletados nesta pesquisa indicaram um alto índice de mulheres que utilizam contraceptivos orais de forma autônoma, correspondendo a 20% das 84% que recorrem a esse método.

De acordo com De Assis Pinto, Rodovalho-Callegari, Carbol (2020), dentre as mulheres que utilizaram contraceptivos orais combinados (COC), 59,46% optaram por interromper seu uso, quando indagadas sobre os motivos que as levaram a suspender o método, 70,45% mencionaram preocupações relacionadas à saúde e potenciais efeitos colaterais, uma situação semelhante foi observada entre as não usuárias, com 66,67% das mulheres apontando essas preocupações como a razão para não adotarem o método. Destaca-se no estudo de Weller et al. (2023) que foram registrados 10.995 casos de embolia pulmonar (com ou sem trombose venosa profunda), representando 54,01% das ocorrências, e 9.364 casos de trombose venosa profunda (sem embolia pulmonar), correspondendo a 45,99% dos casos.

No estudo de Lago et al. (2022) relata que as substâncias drospirenona, gestodeno, ciproterona e desogestrel apresentam um risco mais elevado de desenvolvimento de trombose venosa profunda, cerca de 1,5 a 1,8% maior em comparação com o norgestimate, levonorgestrel e noretisterona. O uso desses comprimidos pode afetar adversamente o sistema circulatório, uma vez que os hormônios de progesterona e estrogênio influenciam os vasos sanguíneos, interferindo na hemostasia e aumentando os fatores de coagulação. Isso resulta na redução dos inibidores de coagulação, enquanto as vias intrínsecas e extrínsecas estimulam a cascata de coagulação. Os contraceptivos, por sua vez, ampliam os fatores de coagulação, limitam os fatores anticoagulantes, alteram a viscosidade do sangue e impactam na parede vascular, contribuindo para as alterações na cascata de coagulação.

Corrobora-se ao estudo de De Souza, Alvarez (2018) onde evidências indicam que os estrogênios e progestágenos desencadeiam alterações significativas no sistema hemostático devido à sua ação androgênica, o que resulta na formação de fibrina e pode contribuir para a coagulação nas veias.

Vários elementos podem aumentar a probabilidade de tromboembolia, o que ressalta a importância de tomar decisões sobre contracepção sob a supervisão de um profissional de saúde, é fundamental conduzir uma avaliação abrangente, incluindo uma análise de histórico familiar para identificar possíveis antecedentes hereditários de tromboses, portanto, a seleção do método contraceptivo deve ser uma decisão informada, baseada na análise de todos os dados coletados, levando em consideração tanto os fatores de risco quanto os benefícios associados a cada método disponível (GODIM, DE ALMEIDA, PASSOS, 2022).

É importante observar que o risco tende a diminuir com a prolongação do uso do contraceptivo e à medida que se opta por doses menores de estrogênio, adicionalmente, é notável que esse risco diminui após a interrupção do seu uso, os contraceptivos hormonais são uma opção recomendada para pessoas que, no momento, não desejam ou não podem engravidar, bem como para aquelas que apresentam alguma condição ovariana específica ou que buscam tratamento para determinada patologia, conforme ressaltado por De Lima et al. (2019) e Da Silva, Sá e Toledo (2019).

Não há um acordo unânime sobre a escolha ideal de contraceptivo, no entanto, é amplamente reconhecido que os contraceptivos de segunda geração, que contêm levonorgestrel e noretisterona, são geralmente considerados a primeira opção mais segura para a maioria das mulheres, em comparação com os contraceptivos de terceira e quarta geração (GODIM, DE ALMEIDA, PASSOS, 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão permitiu evidenciar que os anticoncepcionais são fármacos de primeira escolha para a maioria das mulheres, devido a sua acessibilidade. Em geral, esses medicamentos são utilizados de forma inadequada por grande parte das usuárias, pois no Brasil a venda desses medicamentos é feita sem prescrição médica. Isso é um fator preocupante, pois como a maioria dos fármacos, os anticoncepcionais possuem efeitos colaterais, ainda mais por se tratarem de um combinado de hormônios.

Através deste estudo, podemos inferir que a utilização prolongada desses medicamentos pode elevar a probabilidade de ocorrência de trombose venosa profunda. Nesse sentido, é imperativo que a paciente busque aconselhamento médico, no qual seu histórico e características pessoais serão cuidadosamente avaliados. Isso permitirá a seleção do contraceptivo mais apropriado e adaptado às suas necessidades específicas.

Faz-se necessário realizar uma orientação farmacêutica no sentido de informar as pacientes sobre a possibilidade de ocorrência de trombose em usuárias de contraceptivos orais combinado e, principalmente na presença de fatores de riscos, assim como atentar-se a possíveis contraindicações e interações medicamentosas.

REFERÊNCIAS

BRANDT, G.P.; OLIVEIRA, A.P.R.D; BURCI, L.M. Anticoncepcionais hormonais na atualidade: um novo paradigma para o planejamento familiar. Revista Gestão & Saúde, v. 18, n. 1, p. 54-62, 2018.

COUTO, P.L.S et al. Evidências dos efeitos adversos no uso de anticoncepcionais hormonais orais em mulheres: uma revisão integrativa. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 4, 2020.

COUTO, P.L.Santos et al. Evidências dos efeitos adversos no uso de anticoncepcionais hormonais orais em mulheres: uma revisão integrativa. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 4, 2020.

DA CRUZ, S.L.A.; BOTTEGA, D.D.S.; DE PAIVA, M.J.M. Anticoncepcional oral: efeitos colaterais e a sua relação com a trombose venosa. Research, Society and Development, v. 10, n. 14, p. e283101421798-e283101421798, 2021.

DA SILVA, C.S.; SÁ, R.; TOLEDO, J. Métodos contraceptivos e prevalência de mulheres adultas e jovens com risco de trombose, no campus centro universitário do distrito federal-udf. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, v. 8, n. 2, p. 190-197, 2019.

DA SILVA, D.D.M et al. Efeitos adversos e a descontinuação do uso de anticoncepcionais orais. Revista Interdisciplinar Ciências Médicas, v. 6, n. 2, p. 22-27, 2022.

DE ASSIS PINTO, L. F.; RODOVALHO-CALLEGARI, F.V.; CARBOL, M. Conhecimento de universitárias sobre os riscos e benefícios associados aos contraceptivos orais combinados. Revista de Medicina, v. 99, n. 5, p. 423-431, 2020.

DE LIMA, L.N et al. Conhecimento dos estudantes da área da saúde acerca dos riscos dos anticoncepcionais hormonais. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 36, p. e1335-e1335, 2019.

DE SOUSA, I.C.D.A.; ÁLVARES, A.D.C.M. A trombose venosa profunda como reação adversa do uso contínuo de anticoncepcionais orais. Revista de divulgação cientifica Sena Aires, v. 7, n. 1, p. 54-65, 2018.

FERREIRA, B. B. R.; DA PAIXÃO, J.A. A relação entre o uso da pílula anticoncepcional e o desenvolvimento da trombose venosa profunda no Brasil. Revista Artigos. Com, v. 29, p. e7766-e7766, 2021.

GONDIM, A.C.S.; DE ALMEIDA, C.S.A; PASSOS, M.A.N. Influência do anticoncepcional hormonal oral no surgimento da trombose venosa profunda. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, v. 11, n. 2, p. 120-126, 2022.

LAGO, A.C.V et al. Risco de trombose venosa relacionada ao uso de anticoncepcionais orais. Research, Society and Development, v. 11, n. 16, p. e158111638150-e158111638150, 2022.

MENDES, K.D.S.; SILVEIRA, R.C.D.C.P.; GALVÃO, C.M. Uso de gerenciador de referências bibliográficas na seleção dos estudos primários em revisão integrativa. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 28, 2019.

MONTEIRO, B.I.R.; DOS SANTOS, M.A.; HEINEN, R.C. Associação entre o uso de anticoncepcionais orais e o surgimento de eventos trombóticos. Revista Saúde Física & Mental-ISSN 2317-1790, v. 6, n. 1, p. 41-58, 2018.

QUEIROZ, E et al. Investigação dos riscos associados com o uso prolongado de contraceptivos hormonais em mulheres residentes da Região Metropolitana de Belém-PA. Research, Society and Development, v. 10, n. 16, p. e574101624276-e574101624276, 2021.

SILVA, J.E et al. A relação entre o uso de anticoncepcionais orais e a ocorrência de trombose. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, v. 9, n. 1, p. 383-398, 2018.

WELLER, S. C et al. Hormone exposure and venous thromboembolism in commercially insured women aged 50 to 64 years. Research and Practice in Thrombosis and Haemostasis, v. 7, n. 3, p. 100135, 2023.