USO DE ALGUMAS PLANTAS MEDICINAIS E SEUS POTENCIAIS RISCOS DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM CERTOS MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8000074


Estefany Kamila Sobrinho Rodriguês
Samara Borba da Silva
Orientadora: Profa. Tainah Raymundo


INTRODUÇÃO

A utilização de plantas para fins medicinais remonta ao início das primeiras formas de convivência comunitária. As pessoas têm recorrido às plantas como recursos alimentares desde os tempos antigos e, no processo, perceberam o potencial benéfico de certas espécies de plantas para o controle de agravos à saúde. Inicialmente, os recursos naturais eram utilizados de forma empírica, e tanto os conhecimentos acerca de resultados positivos quanto os efeitos tóxicos eram transmitidos oralmente de geração em geração. À medida que as pessoas foram adquirindo as habilidades necessárias para atender às suas necessidades, novos recursos de cura e métodos de manuseio de material vegetal foram surgindo (SANTOS et al, 2016).

Pensando na problematização foi criada a portaria nº 971 de 3 de maio de 2006, onde diz que a fitoterapia é a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a adição de substâncias ativas isoladas. O fitoterápico é o produto obtido a partir de uma espécie vegetal com finalidade profilática, curativa ou paliativa, podendo ser simples, quando é obtido de uma única espécie, ou composto, quando é composto por mais de uma espécie (BRASIL, 2006).

No ano de 2014 foi criada a RDC nº 26 de 13 de maio, onde diz que plantas medicinais são espécies vegetais, podendo ser cultivadas ou não, utilizadas com propósitos terapêuticos. São capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso popular, podendo ser utilizadas por várias formas e vias, sendo mais comumente usadas na forma de chás e infusões (ANVISA , 2014).

Entretanto, devemos levar em consideração a interação medicamentosa (I.M.) que pode ser descrita como uma reação clínica ou farmacológica resultante da administração de um fármaco com outra substância que pode resultar em alteração da resposta do paciente ao fármaco (SCRIPTURE e FIGG, 2006).

Também devemos levar em consideração as interações fármaco-planta medicinal, a qual ocorre quando o uso de uma planta medicinal interfere na ação de um fármaco, sendo interações mais complexas devido ao maior número de compostos ativos das plantas medicinais. Os primeiros relatos de interações entre plantas medicinais e fármacos surgiram na literatura nos anos 1980, em que relatou-se interações de Hypericum perforatum e Citrus paradisi com diversos fármacos (YEUNG; GUBILI; MAIO, 2018).

As plantas medicinais são utilizadas com fins terapêuticos e possuem papel importante na manutenção da saúde de todo ser vivo, porém, o seu uso em combinação com fármacos pode causar interação medicamentosa, provocando alterações na farmacocinética ou na farmacodinâmica do medicamento, podendo causar riscos à saúde de quem faz sua utilização.

Alguns consumidores acreditam que os medicamentos fitoterápicos por serem naturais não são tóxicos e não apresentam I.M., portanto, são mais seguros que aqueles usados pela medicina convencional. Em virtude disso, é provável que as I.M. com plantas medicinais sejam significativamente sub relatadas e subestimadas e, provavelmente, ocorram com mais frequência do que as interações entre medicamentos. Além disso, informações sobre os reais benefícios para a saúde humana, como os mecanismos de ação, eficácia clínica e dados de segurança desses produtos, ainda são raramente disponíveis.

Visando as problemáticas acima relatadas este artigo visa auxiliar os consumidores e profissionais da área da saúde, objetivando sanar dúvidas sobre o tema em questão já que as interações entre plantas medicinais e fármacos podem dificultar o ajuste de dose de medicamentos de uso contínuo ou, ainda, gerar efeitos tóxicos.

2 OBJETO DE ESTUDO

Analisar algumas I.M. descritas na literatura entre plantas medicinais e medicamentos de uso contínuo.

2.1 Delimitação

Uso de plantas medicinais e suas possíveis interações medicamentosas.

2.2 Problematização

Quais plantas medicinais mais utilizadas que causam interação medicamentosa com medicamentos de uso contínuo, descritas na literatura?

2.3 OBJETIVOS

2.3.1 Objetivo geral

Analisar algumas interações medicamentosas descritas na literatura entre plantas medicinais e medicamentos de uso contínuo.

2.3.2 Objetivos específicos

Identificar as plantas mais consumidas pela população brasileira.

Identificar algumas plantas medicinais que apresentam interações medicamentosas com medicamentos.

Identificar as principais classes de medicamentos de uso contínuo que apresentam interação medicamentosa com plantas medicinais.

3 JUSTIFICATIVA

O uso de plantas medicinais é consequência de um conhecimento empírico que passa de geração para geração e essas práticas fazem parte do cotidiano de milhares de pessoas, em especial dos idosos que utilizam para prevenir ou tratar algumas doenças. 

O problema de se automedicar com plantas medicinais é a interação medicamentosa com alguns medicamentos de uso contínuo, e que em sua grande maioria desconhecem essas interações. Justifica-se a realização deste estudo, visto que a pesquisa buscará oferecer informações relevantes sobre o tema em questão.

Além disso, este artigo é de grande valia para os colegas farmacêuticos, pois poderão se atualizar com as informações obtidas neste trabalho auxiliando-os na hora da dispensação dos medicamentos de uso contínuo, podendo realizar sua assistência farmacêutica com mais propriedade.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

Doenças crônico-degenerativas a exemplo da diabetes mellitus tipo 2, a hipertensão arterial sistêmica e os transtornos neuropsiquiátricos requerem um tratamento contínuo, em muitos casos apoiado em politerapia, circunstância em que ocorre o uso contínuo de cinco ou mais medicamentos . E neste sentido, as plantas medicinais e abordagens fitoterápicas representam uma alternativa mais acessível comparativamente aos medicamentos tradicionais. (SILVIA; SOUSA; OLIVEIRA, 2018).

De acordo com a farmacopéia a fitoterapia é uma terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. O uso de plantas medicinais é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da medicina. 

Neste sentido os povos tradicionais no Brasil, pelo seu vasto patrimônio histórico, que tem por característica uma grande integração cultural entre diversos povos, permitiram a manifestação de uma grande bagagem cultural em matéria de saberes e costumes, e em relação às plantas medicinais não é diferente, ao ser observado um conhecimento amplo sobre o tema (SANTOS et al, 2016).

Assim como as propriedades de cada planta medicinal são passadas de geração em geração na forma de um patrimônio histórico, também temos formas de uso variadas, como podem ser observados em relação à produção de chás, infusões, banhos e outros tratamentos medicinais, caracterizando uma prática que pode ser observada em diferentes espaços sociais, do litoral aos sertões (SZERWIESK et al, 2017). 

O Quadro 1 elenca algumas das plantas medicinais mais utilizadas pela população, e interações medicamentosas conhecidas. 

Quadro 1 – Plantas medicinais mais utilizadas pela população e suas interações com medicamentos

PLANTA MEDICINALAÇÃO FARMACOLÓGICAPARTE UTILIZADAMODO DE USOINTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
Chamomilla recutita (L.) Rauschert, Matricaria Chamomilla L., Matricaria recutita L.(CAMOMILA).Cólica uterina, má digestão, calmante e antisséptico.Flores secasInfusão: Preparar o chá com uma xícara (café) da flor em meio litro de água. Tomar uma xícara de chá seis vezes ao dia.Potencializa ou prolonga os efeitos de drogas com ação no sistema nervoso central.
Artemisia vulgaris L.(ARTEMISIA)Menstruação irregular e cólicas menstruais.Flores secasInfusão: preparar o chá com uma xícara de (café) da planta picada em meio litro de água. Tomar quatro xícaras de chá por dia.Reduz os efeitos de anti-inflamatórios não esteroidais.
Plectranthus barbatus Andrews.(BOLDO BRASILEIRO)Males do fígado, digestão difícil e ressaca alcoólica.Folhas frescas.Maceração: utilizar de três a quatro folhas para uma xícara de (chá) de água. Tomar de uma a três xícaras do chá.Interage com o ácido acetil salicílico.

Fonte: Tavares et al (2015)

Estudos epidemiológicos evidenciam que uma parcela significativa da população recorre a plantas medicinais com finalidades terapêuticas, principalmente entre a população maior de 60 anos de idade. Isto representa um problema, considerando que esta população acredita que as plantas medicinais podem ser usadas de maneira rotineira, pela interpretação de que a possibilidade de efeitos adversos é inexistente (PEREIRA et al, 2016).

Esta mentalidade favorece o uso irrefletido de plantas medicinais como recurso terapêutico, bem como a incidência de super dosagem e utilização de espécies que apresentam potencial efeito tóxico; sendo considerada como tóxica qualquer planta ou componente derivado desta que é capaz de promover dano metabólico local ou sistêmico (SANTOS et al, 2016).

4.1 Interações medicamentosas

Em estudos bibliográficos consultados relata-se que é comum o indivíduo fazer a associação de plantas medicinais e medicamentos alopáticos sem nenhum tipo de orientação profissional. A interferência de um fármaco na ação de outro, ou de alimentos na ação de medicamentos é chamada interação medicamentosa. Estas interações podem ser benéficas, indesejáveis (quando não se tem conhecimento da I.M.) ou desejáveis, agindo no tratamento de doenças concomitantes, reduzindo efeitos adversos, prolongando a duração de efeitos, impedindo ou retardando o surgimento de resistência bacteriana, aumentando a adesão ao tratamento, incrementando a eficácia ou permitindo a redução de dose (CORDEIRO; CHUNG; ACRAMENTO, 2005).

Compreende-se que o fácil acesso às plantas medicinais pode favorecer o uso irrefletido destas, o que aumenta o risco para interações medicamentosas. Uma interação medicamentosa pode ser descrita como uma resposta farmacológica ou clínica que se manifesta como decorrência da interação fármaco-fármaco, fármaco-alimento, fármaco-doença, fármaco-álcool, e a interação fármaco-planta medicinal (MEDEIROS, 2020). 

Isto se explica pelo fato de que as plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos também são constituídos de compostos químicos, que promovem as ações farmacológicas, pela interação de diversos constituintes químicos ativos, em diversos sítios de ação, em diferentes órgãos e tecidos (FURLAN; USHIROBIRA, 2021).

 Segundo Medeiros (2020), os primeiros relatos de interação medicamentosa entre plantas medicinais e fármacos datam da década de 80, com a constatação da interação entre Hypericum perforatum e Citrus paradisi com diversos fármacos.

Com base em exames realizados em laboratório, atualmente se sabe que o Hypericum perforatum, conhecido popularmente como Erva de São João, apresenta um grande potencial para interações medicamentosas, pela sua capacidade de induzir enzimas intestinais CYP e/ou P-glicoproteína (sua função é impedir a entrada de fármacos na célula ou promover a eliminação dos mesmos), dependendo da sua localização tendo sido observada grande incidência de interações com:

(…) imunossupressores, contraceptivos, medicamentos cardiovasculares, antirretrovirais e anticancerígenos, medicamentos para o SNC (como antidepressivos, ansiolíticos, ansiolíticos, antidepressivos, anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, antimicrobianos e anti-inflamatórios) (LIMA et al, 2022, p. 4)

Gonçalves et al (2022) faz uma distinção entre as drogas vegetais, que são comercializadas na forma de plantas secas e desidratadas, e os produtos industrializados, que são criados a partir de matérias primas ativas vegetais. No caso dos produtos tradicionais e medicamentos fitoterápicos, estes são descritos como uma subcategoria de produtos industrializados, que tem como característica o fato de sua segurança e eficácia terem base em evidências clínicas e sua utilização se deve a uma tradição. 

Furlan e Ushirobira (2021) argumentam que é errado vender a ideia de que as plantas medicinais disponíveis no mercado são seguras apenas por serem drogas de origem vegetal ou fitoterápica. Além disso, grande parcela da população não tem o hábito de informar ao médico quando está consumindo plantas medicinais, o que aumenta os riscos ao paciente, pela possibilidade de interações entre medicamentos alopáticos e os medicamentos baseados em plantas medicinais. 

Isto pode representar um grande problema, considerando que 80% da população mundial faz uso de plantas medicinais e derivados para atender a necessidades primárias de atenção à saúde (GONÇALVES et al, 2022). 

A própria biodiversidade brasileira favorece o uso de plantas medicinais e seus derivados, entretanto, a complexidade dos constituintes aumenta a possibilidade da manifestação de interações medicamentosas quando as plantas medicinais são empregadas paralelamente aos medicamentos convencionais (FURLAN; USHIROBIRA, 2021). 

Como exemplo, Furlan e Ushirobira (2021) relatam que o uso de Passiflora incarnata concomitante ao uso de Zolpidem, causou sonolência excessiva e vertigens em um paciente e a interação entre Aesculus hippocastanum e Varfarina ou Rivaroxabana aumenta o risco de sangramento, podendo acarretar em hemorragias.

De acordo com Lima et al (2022), existem relatos consistentes da interação entre fármacos psicoativos que atuam no sistema nervoso central e plantas medicinais, manifestando depressão excessiva e sedação, principalmente envolvendo os benzodiazepínicos, moduladores alostéricos dos receptores GABA, um neurotransmissor inibitório. 

Buscando conscientizar a população acerca dos perigos do uso irracional de plantas medicinais e remédios tradicionais industrializados, o Ministério da Saúde vem incentivando o desenvolvimento de pesquisas com este foco, e também estabeleceu programas de saúde objetivando a distribuição e utilização racional dos fitoterápicos (GONÇALVES et al, 2022).   

De acordo com Rubio, Nascimento e Martucci (2022), desde 1988 o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) vem avaliando a ação terapêutica de 55 plantas medicinais, cujos resultados auxiliaram a regulamentação da Fitoterapia nos serviços de saúde, embora o nome do programa tenha se alterado com as diferentes gestões que foram assumindo o governo federal. E em 2010, foi criado o Programa Farmácia Viva, com a proposta de cultivar, colher, processar, manipular e dispensar plantas medicinais e fitoterápicas.

Automedicação e interação podem atuar inibindo ou intensificando o efeito terapêutico dos medicamentos alopáticos, sendo assim a associação de plantas medicinais com outros medicamentos merece ser tratada com cautela devido à possibilidade de interferência no tratamento de doenças (CORDEIRO; CHUNG; SACRAMENTO, 2005).

Segundo Lorenzi e Souza (2008), o emprego correto de plantas para fins terapêuticos pela população em geral requer o uso de plantas medicinais selecionadas por sua eficácia e segurança terapêuticas com base na tradição popular ou cientificamente validadas como medicinais. Por este motivo, o principal cuidado para o uso adequado das plantas medicinais é a sua identificação correta, já que o uso inapropriado dessas plantas destaca-se como um problema para a fitoterapia.

Em estudos bibliográficos consultados nota-se que a maior parte da população que faz uso de fitoterápicos ou de ervas medicinais fazem uso de medicação de uso contínuo para tratamento e controle das doenças crônicas, (anti-hipertensivos, anti-glicêmicos, repositores hormonais, estatinas), outros para tratamento de doenças. 

Tavares (2015) elenca em seu estudo as principais interações observadas entre plantas e medicamentos, o que pode ser observado no Quadro 2. 

Quadro 2 – Plantas medicinais e suas interações com medicamentos

Planta MedicinalAção FarmacológicaMedicamentoInteração
Nome Popular: Alho
Nome Científico: Allium Sativum L.
Ação antimicrobiana, anti-fúngica, anti-trombótica, anti-agregante plaquetária, anti-hipertensiva e anti-
-hiperglicemiante.
Varfarina;HipoglicemiantesRisco de sangramento;Hipoglicemia.
Nome Popular: Ginkgo Biloba
Nome Científico: Ginkgo Biloba L
Ação vasodilatadora, antioxidante e moduladora de diversos neurotransmissores (como a serotonina, a norepinefrina, a dopamina e a acetilcolina).Ácido acetilsalicílico;
clopidogrel;
varfarina;
heparina;
anti-inflamatórios não esteroidais.
Risco de sangramento
Nome Popular: Guaraná
Nome Científico: Paullinia cupana H.B.K
Ação terapêutica estimulante do Sistema Nervoso Central.Anticoagulante;Analgésicos.Inibição da agregação plaquetária;Potencialização da ação analgésica.
Nome popular: Chá verde
Nome Científico: Camellia Sinensis L.
Ação na motilidade gastrointestinal, anti-
-radicais livres. Atividade neuroprotetora.
Paracetamol; Sulfato ferroso.↑Risco de hepatotoxicidade
Nome popular: AlcachofraNome Científico: Cynara Scolymus L.Colerético e colagogo.Ação diurética e anti-espasmódica.Diuréticos de alça (furosemida) e tiazídicos (hidroclorotiazida).Diminuição drástica do volume sanguíneo e queda de pressão arterial.Hipocalemia.
Nome Popular: Soja
Nome Científico: Glycine Max (L.)Merr.
Ação nos receptores beta estrogênicos (moduladores seletivos do receptor de estrogênio – SERM). Atividade na redução dos marcadores urinários de reabsorção óssea.Levotiroxina.Diminui a absorção da levotiroxina

Fonte: Tavares et al (2015)

4.2 Mecanismos da interação medicamentosa

Quanto ao seu mecanismo, as interações podem ser classificadas em interações farmacêuticas, farmacodinâmicas e farmacocinéticas (CORRIE, Et al, 2017). 

A interação farmacêutica ocorre quando há incompatibilidade farmacológica ou físico química entre o fármaco e a outra substância utilizada, o que pode resultar na inviabilização da terapia medicamentosa (SECOLI, 2001). 

As interações farmacodinâmicas podem ser divididas em interações com receptores e interações não específicas. A interação que ocorre em receptores acontece quando ambas as substâncias atuam sobre um mesmo receptor ou múltiplos receptores, o que resulta em alterações nos efeitos farmacológicos (CORRIE, Et al, 2017).

As interações não específicas podem, ainda, ser divididas em sinergísticas, quando o efeito de duas substâncias é maior que a soma de seus efeitos individuais; antagonistas, quando o efeito de duas substâncias é menor que seus efeitos individuais; e aditivas, quando ocorre a soma dos efeitos das substâncias (SCRIPTURE e FIGG, 2006 apud MEDEIROS, 2020).

As interações farmacocinéticas ocorrem quando um composto altera a farmacocinética de um fármaco, podendo afetar absorção, distribuição, metabolismo ou eliminação (PALLERIA, 2013).

As interações que afetam a absorção podem ocorrer devido à alteração na absorção gastrintestinal, mudanças do pH gástrico, formação de complexos ou alterações na motilidade gastrintestinal; ou devido à modulação da P-glicoproteína intestinal, que é uma das principais proteínas responsáveis pela regulação do transporte intestinal de fármacos (PALLERIA, 2013).

A distribuição do fármaco para seu sítio de ação é determinada principalmente pelo fluxo sanguíneo e pela capacidade do fármaco de se ligar às proteínas de transporte. Por isso, substâncias que afetem estes fatores podem interferir na distribuição do fármaco no organismo, o metabolismo encerra a ação dos fármacos e os prepara para a eliminação, formando metabólitos hidrossolúveis (CORRIE, Et al, 2017). 

Certas substâncias podem interferir no metabolismo de fármacos, podendo causar sua indução ou inibição, principalmente através de ação sobre o citocromo P450 (O citocromo P450 é um complexo enzimático muito importante por biotransformar principalmente fármacos com alto grau de lipossolubilidade, que na sua maioria, atuam no sistema nervoso central sendo necessário esse caráter para transpor a barreira hematoencefálica),a eliminação de fármacos pode sofrer alterações quando há competição com outra substância, quando duas substâncias utilizam o mesmo mecanismo.

5 METODOLOGIA

A metodologia utilizada na elaboração deste artigo foi uma pesquisa bibliográfica realizada por meio de levantamento, seleção e documentação de algumas bibliografias já publicadas sobre o assunto que está sendo pesquisado. As bases consultadas para esta produção foram Bireme, LILACS, SciELO, Pubmed e portal de periódicos CAPES, através de uma abordagem qualitativa de caráter exploratório.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo destaca o uso generalizado de plantas medicinais e o risco de toxicidade e interações medicamentosas para as espécies de plantas identificadas. Medicamentos fitoterápicos e seus derivados são extraídos exclusivamente de matérias primas vegetais, importantes fontes de compostos biologicamente ativos, que são de grande valia para o tratamento de doenças, à exemplo de moléstias que afetam diretamente o sistema nervoso central, à exemplo da insônia. 

O uso terapêutico de plantas medicinais é uma prática milenar, de fácil acesso e que representa uma oportunidade de integração aos cuidados tradicionais que são dispensados à saúde da população, principalmente entre estratos sociais mais vulneráveis economicamente ou então cujo acesso a serviços de saúde é limitado. Entretanto, esta mesma facilidade de acesso pode representar um problema ao favorecer o uso irrefletido das plantas medicinais, sendo que o uso concomitante a medicamentos industrializados tradicionais abre caminho para a manifestação de reações adversas. 

Isto evidencia a importância do uso racional das plantas medicinais, e reconhecendo a importância de um profissional habilitado como o farmacêutico para orientar a população acerca dos riscos inerentes ao uso conjunto de plantas medicinais e medicamentos de uso contínuo requer um esforço multidisciplinar, com foco no uso racional, na promoção da saúde, bem estar e qualidade de vida do paciente, fornecendo assim uma atenção farmacêutica de qualidade.

Nesse sentido, para proteger os usuários, o profissional deve elaborar um protocolo de atendimento que inclua questões sobre o uso concomitante de plantas medicinais com drogas sintéticas. Essa prática orientará sobre os riscos dessa associação e como usar as plantas medicinais com segurança, principalmente em pessoas com doenças crônicas, gestantes, lactantes e crianças em tratamento contínuo.

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