USO DA ULTRASSONOGRAFIA NA AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA

Fisioterapeuta, chegou o Fisio.app | Aplicativo para fisioterapeutas. Baixe agora mesmo em www.fisio.app

\"\"

Dra. Luciana Moisés Camilo (RJ)
Fisioterapeuta, Doutora em Ciências Biológicas – Fisiologia pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho – IBCCF da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e pela Universidade de Leipzig – Alemanha, Docente do curso de graduação Bacharelado em Fisioterapia do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio de Janeiro, Docente do Mestrado Profissional em Pesquisa Biomédica da UFRJ.

Contextualização: A sarcopenia é um distúrbio do sistema músculo esquelético que cursa com alterações difusas na estrutura, na função e na potência muscular, e pode ser desencadeada primariamente por um processo fisiológico de envelhecimento e, de forma secundária por nutrição inadequada, sedentarismo, imobilidade, síndrome metabólica e doenças crônicas. Sua ocorrência está diretamente associada com aumento do risco de queda em idosos, incapacidade física, tempo de permanência hospitalar, mau prognóstico e mortalidade (BIOLO; CEDERHOLM; MUSCARITOLI, 2014; CHOI, 2016; CRUZ-JENTOFT et al., 2019; HIRAOKA et al., 2017; MONTANO-LOZA et al., 2012).

A sarcopenia passa por três estágios de gravidade, sendo o primeiro e menos grave classificado como pré sarcopenia (neste, o indivíduo apresenta apenas redução do grau de força muscular), o segundo como sarcopenia (onde além da força, a massa muscular encontra-se reduzida em quantidade e/ou qualidade) e, o terceiro como sarcopenia grave (somando às alterações anteriormente mencionadas, a redução do desempenho físico) (CRUZ-JENTOFT et al., 2019).

Desenvolvimento: Muitos métodos são utilizados para avaliar a massa muscular, porém os métodos padrão ouro são a Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Magnética (RM) (CHOI, 2016; ESLAMPARAST et al., 2018; HEYMSFIELD et al., 2014). A região muscular avaliada pela TC corresponde a área de secção transversal à nível da terceira vértebra lombar (L3), este método permite estimar a quantidade de massa muscular esquelética total livre de gordura por meio do índice de músculo esquelético (do inglês, SMI) (GRAFFY et al., 2019; MOURTZAKIS et al., 2008). A TC é uma ferramenta altamente confiável, mas que apresenta custo elevado, altos níveis de radiação ionizante e difícil acesso, não sendo viável para a prática clínica (CHOI, 2016) e a RM, de igual forma, é pouco acessível e cara. Em contrapartida, o ultrassom (US) convencional tem se mostrado uma ferramenta promissora para esta avaliação, sendo capaz de quantificar a massa muscular e avaliar a qualidade muscular (CRUZ-JENTOFT et al., 2019; HEYMSFIELD et al., 2014). Ele tem se destacado por ser um equipamento barato, portátil (capaz de avaliar à beira do leito), fácil de manusear, confiável, reprodutível e acessível.

Na USG a imagem é formada a partir da emissão de ondas sonoras de alta frequência pelo transdutor, que se propagam pelo tecido corporal, ecoando de volta ao transdutor ondas de diferentes amplitudes, características da morfologia de cada estrutura refletida (GENNISSON et al., 2013; HEYMSFIELD et al., 2015). É possível ainda formar imagens transversais bidimensionais usando o modo B (brilho), que permite quantificar a massa muscular a partir da mensuração da espessura e da área de secção transversa (HEYMSFIELD et al., 2015).

A RM e a TC são ferramentas de imagem de alta sensibilidade e têm sido descritas no ambiente de pesquisa para a investigação da qualidade do tecido muscular. O US, é um instrumento que tem precisão, boa confiabilidade e tem sido amplamente utilizado em pesquisas para avaliar a qualidade muscular. Contudo, até o momento, ainda não existe um consenso para a prática clínica de qual método utilizar (CRUZ-JENTOFT et al., 2019).

A avaliação da qualidade muscular por US se dá pela medição da ecogenicidade do músculo demarcado. Diferentes estruturas irão refletir ecos de diferentes intensidades, de acordo com a composição do tecido avaliado. Uma escala de cinza é formada a partir da intensidade dos ecos, sendo uma imagem hipoecóica mais próxima do preto e uma imagem hiperecóica mais próxima do branco. Segundo Cruz-Jentoft et al. (2019), a qualidade do tecido muscular pode ser avaliada pela ecogenicidade, uma vez que a mioesteatose (infiltração de gordura no músculo) corresponde a uma imagem hiperecóica (CRUZ-JENTOFT et al., 2019; FORMENTI et al., 2019). A análise da ecogenicidade é realizada com o auxílio de um software específico que calcula a intensidade de eco nos pixels que compõem a imagem. Embora a análise quantitativa da escala de cinza seja mais indicada para avaliar a qualidade muscular, ainda não existem valores de normalidade disponíveis (FORMENTI et al., 2019).

Considerações finais: A ultrassonografia é uma técnica que vem ganhando espaço na avaliação do tecido muscular esquelético. Não invasiva, indolor, isenta de radiação ionizante, possibilita avaliar o paciente à beira do leito, capaz de avaliar grandes áreas musculares de forma rápida; tudo isso contribui para um diagnóstico e uma intervenção mais precoce. Esta técnica demonstra ser capaz de identificar as alterações patológicas do tecido muscular. A avaliação muscular na prática clínica ainda é um desafio quando consideramos custos, praticidade e reprodutibilidade, assim a utilização da USG como instrumento de avaliação parece ser favorável.

REFERÊNCIAS:
Biolo G, Cederholm T, Muscaritoli M. Muscle contractile and metabolic dysfunction is a common feature of sarcopenia of aging and chronic diseases: from sarcopenic obesity to cachexia. Clin Nutr. 2014 Oct;33(5):737-48. doi: 10.1016/j.clnu.2014.03.007. Epub 2014 Mar 29. PMID: 24785098.

Choi KM. Sarcopenia and sarcopenic obesity. Korean J Intern Med. 2016 Nov;31(6):1054-1060. doi: 10.3904/kjim.2016.193. Epub 2016 Nov 1. PMID: 27809450; PMCID: PMC5094937.

Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, Boirie Y, Bruyère O, Cederholm T, Cooper C, Landi F, Rolland Y, Sayer AA, Schneider SM, Sieber CC, Topinkova E, Vandewoude M, Visser M, Zamboni M; Writing Group for the European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2), and the Extended Group for EWGSOP2. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019 Jan 1;48(1):16-31. doi: 10.1093/ageing/afy169. Erratum in: Age Ageing. 2019 Jul 1;48(4):601. PMID: 30312372; PMCID: PMC6322506.

Eslamparast T, Montano-Loza AJ, Raman M, Tandon P. Sarcopenic obesity in cirrhosis-The confluence of 2 prognostic titans. Liver Int. 2018 Oct;38(10):1706-1717. doi: 10.1111/liv.13876. Epub 2018 May 25. PMID: 29738109.
Formenti P, Umbrello M, Coppola S, Froio S, Chiumello D. Clinical review: peripheral muscular ultrasound in the ICU. Ann Intensive Care. 2019 May 17;9(1):57. doi: 10.1186/s13613-019-0531-x. PMID: 31101987; PMCID: PMC6525229.

Gennisson JL, Deffieux T, Fink M, Tanter M. Ultrasound elastography: principles and techniques. Diagn Interv Imaging. 2013 May;94(5):487-95. doi: 10.1016/j.diii.2013.01.022. Epub 2013 Apr 22. PMID: 23619292.

Heymsfield SB, Adamek M, Gonzalez MC, Jia G, Thomas DM. Assessing skeletal muscle mass: historical overview and state of the art. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2014 Mar;5(1):9-18. doi: 10.1007/s13539-014-0130-5. Epub 2014 Feb 15. PMID: 24532493; PMCID: PMC3953319.

Heymsfield SB, Gonzalez MC, Lu J, Jia G, Zheng J. Skeletal muscle mass and quality: evolution of modern measurement concepts in the context of sarcopenia. Proc Nutr Soc. 2015 Nov;74(4):355-66. doi: 10.1017/S0029665115000129. Epub 2015 Apr 8. PMID: 25851205.

Hiraoka A, Michitaka K, Kiguchi D, Izumoto H, Ueki H, Kaneto M, Kitahata S, Aibiki T, Okudaira T, Tomida H, Miyamoto Y, Yamago H, Suga Y, Iwasaki R, Mori K, Miyata H, Tsubouchi E, Kishida M, Ninomiya T, Kohgami S, Hirooka M, Tokumoto Y, Abe M, Matsuura B, Hiasa Y. Efficacy of branched-chain amino acid supplementation and walking exercise for preventing sarcopenia in patients with liver cirrhosis. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2017 Dec;29(12):1416-1423. doi: 10.1097/MEG.0000000000000986. PMID: 29016470.

Montano-Loza AJ, Meza-Junco J, Baracos VE, Prado CM, Ma M, Meeberg G, Beaumont C, Tandon P, Esfandiari N, Sawyer MB, Kneteman N. Severe muscle depletion predicts postoperative length of stay but is not associated with survival after liver transplantation. Liver Transpl. 2014 Jun;20(6):640-8. doi: 10.1002/lt.23863. Epub 2014 Mar 26. PMID: 24678005.