USO DA TERAPIA ESPELHO EM MEMBRO SUPERIOR EM PACIENTES COM SEQUELAS APÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410181000


Sandra Virgínia Costa Santos¹; Giovana Lima Viana¹; José Ulisses Vasconcelos do Nascimento¹; Larisse dos Santos Cunha¹; Manoel Campos de Carvalho Neto¹; Rita de Cássia de Sousa Furtuna¹; Helane Brasil Arruda²; Marco Orsini³; Sergio Nader⁴; Victor Hugo do Vale Bastos⁵.


RESUMO

Introdução: O acidente vascular encefálico (AVE) tornou-se um problema de saúde pública em todo o mundo, sendo a segunda principal causa de limitação funcional, que resulta em disfunções motoras nos membros superiores, afetando a noção de espaço e os sentidos corporais. Alterações essas, relacionadas ao tato, temperatura, dor e propriocepção, espasmos extensores/flexores, aumento dos reflexos tendinosos, co-contração espástica, distonia, fatigabilidade ou espasticidade. A terapia espelho vem sendo considerada uma forma de tratamento muito eficaz nas disfunções motoras. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar o uso da terapia espelho na recuperação funcional dos membros superiores em pacientes com sequelas após AVE, além do seu impacto na qualidade de vida dos participantes. Metodologia: Este estudo é uma revisão integrativa da literatura com busca nos bancos de dados: PubMed, Medline, Cochrane e Pedro, com artigos publicados entre o período de 2019 à 2024. Resultados e discussão: Foram selecionados 13 estudos, os quais apresentaram a terapia do espelho associada a outras abordagens terapêuticas, demonstrando seus resultados com relação a funcionalidade motora, destreza manual, controle motor e agarramento. Considerações Finais: A partir dos achados, foi possível observar que a terapia do espelho pode contribuir de maneira significativa na reabilitação da função motora do membro superior e qualidade de vida de pacientes após AVE.

Palavras chaves: Acidente Vascular Encefálico; terapia de espelho, membro superior.

ABSTRACT

Introduction: Stroke has become a public health problem worldwide, being the second leading cause of functional limitation, which results in motor dysfunctions in the upper limbs, affecting the notion of space and body senses. These alterations are related to touch, temperature, pain and proprioception, extensor/flexor spasms, increased tendon reflexes, spastic co-contraction, dystonia, fatigability or spasticity. Mirror therapy has been considered a very effective form of treatment for motor dysfunctions. Thus, the present study aims to evaluate the use of mirror therapy in the functional recovery of the upper limbs in patients with sequelae after stroke, in addition to its impact on the quality of life of the participants. Methodology: This study is an integrative literature review with searches in the following databases: PubMed, Medline, Cochrane and Pedro, with articles published between 2019 and 2024. Results and discussion: Thirteen studies were selected, which presented mirror therapy associated with other therapeutic approaches, demonstrating their results in relation to motor functionality, manual dexterity, motor control and grasping. Final Considerations: Based on the findings, it was possible to observe that mirror therapy can contribute significantly to the rehabilitation of upper limb motor function and quality of life of patients after stroke.

Key words: Stroke; mirror therapy, upper limb.

Introdução

O acidente vascular encefálico (AVE) conhecido também, pelos pacientes, como derrame cerebral, é caracterizado como uma lesão cerebrovascular, podendo ser dividido em dois tipos, o primeiro é denominado AVE isquêmico e ocorre quando há uma interrupção do fluxo sanguíneo devido à falta de oxigênio (O2) no encéfalo e o segundo é denominado AVE hemorrágico, que é quando acontece extravasamento de sangue no tecido nervoso devido à ruptura de um vaso sanguíneo. Tal doença é de causa súbita e pode afetar qualquer zona no encéfalo, provocando uma alteração da função contralateral correspondente à área afetada (Martins et al; 2022 e Oliveira et al; 2021).

O AVE é a segunda principal causa de morte e limitação funcional em todo o mundo. Em 2016, ocorreram quase 260 mil casos de AVE, aproximadamente 107 mil mortes e mais de 2,2 milhões de vidas ajustados perdidos por limitação funcional após acidente vascular encefálico no Brasil (Minelli et al; 2022). Por estes motivos, essa condição clínica tornou-se um problema de saúde pública, com consequências econômicas e sociais para o país. Mesmo sendo uma doença de alto risco e prevalência, ela é potencialmente prevenível, visto que seus fatores de risco, tais como Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus (DM), hipercolesterolemia, tabagismo e sedentarismo, podem ser prevenidos e/ou eliminados com mudanças de hábitos de vida (Rodrigues e Mazzola; 2019).

Casos de Acidente Vascular Encefálico (AVE) têm aumentado constantemente na população mundial, sendo considerada a terceira doença que mais causa incapacidade em pacientes que à adquirem, é esperado que o acidente vascular cerebral incapacite várias outras pessoas em todo o mundo (Muñoz-Go et al., 2021). A maioria dos casos de AVE, cerca de 85% dos pacientes, apresentam hemiparesia persistente, ocasionando disfunções motoras nos membros superiores, afetando a noção de espaço, sentidos corporais como tato, temperatura, dor e propriocepção, espasmos extensores/flexores, aumento dos reflexos tendinosos, co-contração espástica, distonia, fatigabilidade ou espasticidade,que ocasiona o impedimento desses indivíduos terem uma vida cotidiana normal (Geller et al; 2021). Essa condição, interfere diretamente em diversas atividades de vida diária, como autocuidado, levando assim a uma baixa qualidade de vida, pondo como prioridade a reabilitação desses pacientes (Kim et al; 2022).

O AVE causa danos significativos ao tecido cerebral e múltiplas deficiências neurológicas, levando a uma perda significativa de função e incapacidade residual. O principal objetivo da reabilitação do AVE é organizar e otimizar o processo de recuperação, permitindo que uma pessoa atinja os seus níveis ideais de funcionamento físico, cognitivo, comunicativo, emocional e social através da integração de técnicas de reabilitação interdisciplinares (Minelli et al; 2022). A MT tem ganhado bastante atenção na literatura científica, apropriado ao seu potencial para reduzir a dor crônica e melhorar a função motora associada ao AVE (Wen et al., 2022). Esse método pode não só melhorar a amplitude de movimento, velocidade, força das extremidades e coordenação afetadas, mas também prover uma recuperação de forma mais eficiente, pois melhora diretamente a funcionalidade dos membros afetados (Chinnavan et al., 2020).

A terapia espelho (MT) tem sido considerada muito eficaz no tratamento de disfunções motoras, essa terapia é sugerida como uma forma de intervenção alternativa e bem acessível por ser de baixo custo, melhorando bastante o controle motor dos pacientes (Muñoz-Go et al 2021). O MT promove a remodelação das funções cerebrais e facilita a recuperação da função motora, pois promove a ativação do sistema de neurônios-espelho, o seu uso contínuo estimula o córtex motor principal do cérebro, assim afetando as atividades elétricas e a excitabilidade do córtex, explorando a capacidade do cérebro ao assimilar movimentos através da visualização de reflexos espelhados do membro não afetado, induzindo, assim, a percepção de movimento no membro comprometido. (Wen et al 2022).

Esse tipo de abordagem tem como objetivo promover a neuroplasticidade e a reorganização cerebral, ajudando na recuperação do membro afetado. Embora alguns estudos prévios tenham sugerido benefícios promissores da terapia espelho, há uma lacuna na literatura em relação à sua eficácia nos diferentes estágios pós-AVE (Jaafar et al 2021).

Diante deste contexto, o presente estudo tem como propósito avaliar o uso da terapia espelho na reabilitação de membros superiores em pacientes com sequelas pós AVE. Será investigado os efeitos da MT em aspectos como, independência nas atividades de vida diária, funcionalidade e qualidade de vida. Ao preparar uma análise abrangente e aprofundada, tem se como objetivo contribuir para a compreensão mais categórica dos benefícios potenciais que essa terapia inovadora pode fornecer na reabilitação pós-AVE, provendo dados valiosos para a prática clínica e contribuindo no desenvolvimento de futuras intervenções terapêuticas.

Metodologia

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde realizou-se busca nos seguintes bancos de dados: PubMed, Medline, Cochrane e Pedro a partir dos descritores “Terapia de Espelho”, “AVE” e “Membro Superior” utilizando o operador booleano “AND” a fim de realizar cruzamento de dados, entre os anos de 2019 a 2024. Após finalização das buscas e análise, 13 estudos atenderam aos nossos critérios de inclusão e exclusão.

Os critérios de inclusão basearam-se em: apenas ensaios controlados randomizados, foco do estudo na reabilitação e função motora de membros superiores utilizando terapia de espelho de forma isolada ou combinada em pacientes após AVE, e estudos que permitiam acessibilidade ao texto completo.

Os critérios de exclusão foram: estudos anteriores ao período de tempo de 2019 a 2024, revisões sistemáticas, estudos de meta-análise, estudos que não abordavam a avaliação de membros superiores e sua funcionalidade, e estudos com acessibilidade restrita.

Utilizou-se a estratégia PICO a fim de se obter a pergunta da pesquisa: “O uso da terapia de espelho é eficaz na reabilitação da função de membros superiores em pacientes após AVE?”. Sendo (P): Pacientes após AVE; (I): terapia de espelho, como intervenção; e (O): melhora da função motora de membros superiores, conforme apresentado na tabela 1.

Tabela 1: Estratégia PICO

PPacientes após AVE
ITerapia de espelho
C
OMelhora da função motora de membros superiores
Fonte: Autoria própria

Resultados e Discussão

Inicialmente a pesquisa resultou em 70 artigos a partir da utilização dos descritores e aplicação de filtros de tempo (2019-2024). Desses, apenas 13 atendiam a todos os critérios de inclusão previamente estabelecidos. A fim de se obter uma análise mais detalhada, realizou-se inicialmente leitura dos títulos, seguida de revisão dos resumos e posteriormente leitura completa do texto dos estudos, conforme apresentado na tabela 2.

No total, 450 pacientes foram incluídos dentre os 13 estudos, com amostras variando entre 23 e 52 participantes e faixa etária de 44 a 75 anos, de ambos os sexos. Os indivíduos incluídos no estudo apresentavam características diversas, tais como AVE isquêmico ou hemorrágico, estágio clínico agudo, subagudo e crônico, com lado da lesão no hemisfério direito ou esquerdo, além da associação da Terapia de Espelho com diferentes outras abordagens destinadas à melhora da função motora de membros superiores em pacientes após AVE, considerando fatores como destreza manual, controle motor, alcance e agarramento.

Tabela 2: Caracterização dos artigos selecionados

Autor, AnoTipo de estudoAmostraObjetivoIntervençãoDesfecho
Chinnavan, E et al. 2020Ensaio clínico randomizado25 indivíduos após o AVC foram aleatoriament e designados para o grupo experimental (n = 13) e o grupo controle (n = 12).Verificar a eficácia da terapia do espelho nas funções motoras dos membros superiores em pacientes hemiplégicosO grupo controle recebeu 45 minutos de sessão de tratamento e a terapia consistiu em terapia convencional apenas com a extremidade superior afetada , enquanto o grupo experimental também recebeu 45 minutos de sessão de tratamento e a terapia consistiu em terapia convencional junto com terapia de espelho por três dias/semana.A combinação de terapia convencional e de espelho é um método eficaz para restaurar a função motora do membro superior entre pacientes hemiplégicos.
Chen, Yen-Wei et al. 2023Ensaio clínico randomizadoPermanecera m no estudo 37 pacientes, sendo 19 no grupo experimental e 18 no grupo controleExaminar se o uso da terapia de espelho como estratégia de preparação aumentaria os efeitos terapêuticos da terapia assistida por robô.Todos os participantes receberam intervenções por 60 min/sessão, 3 sessões/seman a por 6 semanas consecutivas. No grupo MR, cada intervenção consistiu em 20 min de terapia de espelho, seguida por 40 min de terapia assistida por robô. No grupo SMR, cada intervenção consistiu em 20 min de terapia de espelho simulada, seguida por 40 min de terapia assistida por robô.As descobertas do estudo sugerem que a terapia de espelho combinada sequencialme nte com a terapia assistida por robô pode ser vantajosa para aumentar a autoeficácia pós-AVC
Hung, Jen-Wen et al. 2022Ensaio piloto randomizado controlado37 pacientes com AVC hemiplégico espástico crônico foram aleatoriament e designados para receber RT (n= 13), MT (n=12) e AC (n=12)Investigar os efeitos de 3 treinamentos orientados para tarefas (terapia assistida por robô (RT), terapia de espelho (MT) e tratamento de controle ativo (AC)) em pacientes com AVC após injeção de BoNT-ACada sessão de RT, MT e AC foi de 75 min, 3 vezes por semana, durante 8 semanasEste estudo demonstrou que uma combinação de BoNT-A e treinamento UE RT, MT ou AC melhora as funções motoras, reduz a espasticidade e melhora a função diária em pacientes com acidente vascular cerebral que receberam injeção de BoNT-A sobre músculos UE espásticos
Hsu, Hsiu-Yun et al. 2022Ensaio clínico randomizado52 participantes concluíram o estudo, sendo 17 no grupo de terapia de espelho (MT), 17 no de terapia ocupacional convencional (COT) e 18 no de treinamento de MT baseado em realidade virtual (VR-MT)Investigar as diferenças nos efeitos do uso de terapia ocupacional convencional (COT), terapia de espelho (MT) e treinamento de MT baseado em RV (VR-MT) na função sensório-moto ra do membro superior em pacientes com AVC crônicoAs condições do estudo foram entregues dentro do programa de terapia ocupacional. Além de 20 minutos de treinamento específico para tarefas facilitado pelo terapeuta como uma sessão de cuidados usual, os pacientes receberam 30 minutos de VR-MT, 30 minutos de terapia de espelho e 30 minutos de programas de OT convencionais para o membro afetado nos grupos VR-MT, MT e COT, respectivamen te.Este estudo sugeriu que a VR-MT tem efeitos potenciais de tratamento na restauração das habilidades motoras e da função da extremidade superior afetada em pacientes com AVC crônico
Jo, Sungbae et al. 2024Ensaio clínico randomizado45 participantes sendo 15 no grupo baseado em realidade virtual imersiva de 360° (360 MTG), 15 no grupo de terapia de espelho tradicional (MTG) e 15 no grupo controle (CG).Avaliar os efeitos da MT baseada em realidade virtual imersiva de 360° (360 MT) e comparar sua eficácia com a MT tradicional (TMT) e a fisioterapia convencional para reabilitação de membros superiores em pacientes com AVC.Todos os participantes dos três grupos receberam fisioterapia convencional, onde 360 MTG e TMG receberam sessões adicionais de MT.A 360MT parece ser uma opção mais vantajosa em comparação à TMT para reabilitação de membros superiores em pacientes com AVC.
Kaviraja, K et al. 2021Estudo experimental30 pacientes foram designados aleatoriament e para o Grupo A (n=15) de terapia de espelho e Grupo B (n=15) de terapia de movimento induzido por restrição modificada (mCIMT)Comparar e examinar a eficácia da terapia de espelho e da terapia de movimento induzido por restrição modificada (mCIMT) na extremidade superior de pacientes com acidente vascular cerebral subagudoO grupo A foi designado para terapia de espelho por 5 dias por semana, por 4 semanas e intervalos de descanso foram dados. Da mesma forma, o grupo B foi designado para mCIMT por 5 dias por semana, por 4 semanas. Ambos os grupos receberam terapia convencional por 20 minutosO Movimento Induzido por Restrição Modificado (mCINT) é mais eficaz do que a Terapia do Espelho na melhora da extremidade superior hemiparética em pacientes com AVC subagudo
Kim, Young-Soung et al. 2023Ensaio clínico randomizado26 participantes foram aleatoriament e designados para o grupo experimental (n = 13) ou o grupo de controle (n = 13)Investigar os efeitos da TM baseada em estimulação elétrica funcional (FES) incorporando um dispositivo de biofeedback de reconhecimen to de movimento na recuperação motora de membros superiores em pacientes com AVC crônicoTodos os participantes foram submetidos a um programa geral de reabilitação (terapia ocupacional e neurodesenvol vimental). O grupo de controle foi submetido a um programa de MT padrão, enquanto o grupo experimental foi submetido a um programa de MT baseado em FES usando um dispositivo de biofeedback de reconhecimento de movimento. O programa de MT de cada grupo foi conduzido por 30 minutos por sessão, 5 sessões por semana, por 4 semanasA MT baseada em FES usando biofeedback de reconheciment o de gestos é um método de intervenção eficaz para melhorar a recuperação e função motora da extremidade superior, ROM ativa em pacientes com AVC crônico
Liao, Wan-Wen et al. 2020Estudo piloto randomizado e controlado28 participantes concluíram todas as sessões de treinamento. Havia 8 participantes no grupo combinação sequencial de tDCS com MT (SEQ), 12 participantes no grupo combinação simultânea de tDCS com MT (CON) e 8 participantes no grupo tDCS simulado com (MTSHAM)Examinar os efeitos dependentes do tempo da tDCS com MT na função diária, função motora da extremidade superior e controle motor em pacientes com AVC crônicoTodos os participantes receberam uma ou das três intervenções por 90 min/dia, 5 dias/semana, por 4 semanasO estudo demonstrou potenciais efeitos dependentes do tempo de tDCS com MT na função diária e no controle motor da mão parética em pacientes com AVC crônico. A aplicação sequencial de tDCS antes da MT pode melhorar a função ADL/IADL mais do que a aplicação de tDCS simultaneame nte com MT ou estimulação simulada.
Li, Yi-Chun et al. 2019Estudo controlado randomizado23 pacientes com AVC crônico foram randomizados para receber MT orientada para tarefas em hospital (n=12) ou BAT – treinamento bilateral de braço (n=11)Avaliar os efeitos de priming do feedback visual do espelho comparando os efeitos da MT e BAT orientados para tarefas no desempenho sensório-moto r e na qualidade de vida entre pacientes com AVC crônicoOs regimes de tratamento foram projetados para que ambos os grupos recebessem uma quantidade igual de terapia, que inclui 4 semanas com (1) 1,5 horas/dia, 3 dias/semana de MT hospitalar ou o protocolo BAT e (2) 30 a 40 minutos/dia, 5 dias/semana de prática em casaA MT envolvendo prática de movimento bilateral com o efeito de preparação do feedback visual do espelho pode gerar efeitos benéficos. A abordagem unilateral ou a MT aumentada por feedback extra podem ser modificações apropriadas.
Schrader, Mareike et al. 2022Ensaio clínico randomizado controlado24 pacientes concluíram o estudo, sendo 14 no grupo de terapia de espelho assistida por robô (RMT) e 10 no grupo de terapia de espelho (MT)Comparar os efeitos do tratamento da MT unilateral com uma versão da MT bilateral onde o movimento do braço não afetado foi fornecido por meio de uma luva robótica (RMT).Os pacientes receberam RMT ou MT em sessões individuais de 30 minutos. 3–5 sessões foram fornecidas por semana com o objetivo de completar 15 sessões de treinamento em 5 semanas.O estudo fornece evidências de que a RMT bilateral alcança maior benefício de tratamento na função motora do que a MT convencional
 Wen, Xin et al. 2022 Ensaio clínico controlado randomizado 52 pacientes com AVC agudo e subagudo, sendo 25 pacientes no grupo experimental e 27 no grupo controle Investir nos efeitos da terapia de espelho adicional na melhoria da função motora dos membros superiores e das atividades da vida diária em pacientes com AVC agudo e subagudo, e explorar ainda mais os efeitos de outros fatores na eficácia da terapia do espelho (MT).Todos os pacientes incluídos receberam tratamento de reabilitação de rotina para AVC por 3 semanas, 6 dias por semana e meia hora por dia. O tratamento de rotina incluiu técnicas de facilitação do neurodesenvol vimento, fisioterapia, terapia ocupacional e treinamentode fala e deglutição (se necessário). Os pacientes no grupo experimental receberam 30 minutos extras de MT por dia com base no tratamento de reabilitação de rotina para AVC.a MT combinada com terapia ocupacional convencional pode efetivamente melhorar o desempenho motor da extremidade superior e aumentar a capacidade de realizar atividades da vida diária em pacientes com AVC. No entanto, a MT não pareceu ter um efeito adicional na melhoria do componente de participação em atividades dos pacientes com AVC
Zhang, Kexu et al. 2024Estudo de fMRI em repouso35 pacientes com AVC foram randomizados para um grupo de TM ( n = 16) e um grupo de terapia convencional (TC) ( n = 19)Projetar um estudo controlado randomizado e utilizar uma análise de cérebro inteiro baseada em voxel de fMRI em estado de repouso para explorar as reorganizaçõe s cerebrais induzidas pela TMpaciente recebeu 20 sessões de intervenções (5 dias por semana durante 4 semanas), incluindo reabilitação de rotina e tratamentos específicos de grupo de 1,5 horaO MT alcançou a reabilitação motora principalment e pelo recrutamento das vias motoras ipsilaterais.
Zhuang, Jin-Yang et al. 2021Estudo de controle randomizado36 pacientes com AVC, sendo 18 no grupo controle (GC) e 18 no grupo experimental (GE)Explorar a viabilidade e eficácia da terapia do espelho associado (AMT) em pacientes com AVCTodos os pacientes inscritos receberam o programa convencional de reabilitação de AVC por 4 semanas, 5 dias/semana e cerca de 4 horas/dia. O programa convencional de AVC consistiu em fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala e gerenciament o respiratórioA AMT foi uma abordagem viável e prática para melhorar a recuperação motora dos braços paréticos e a função diária em pacientes com AVC. Além da melhora da destreza manual para reabilitação pós AVC.
Fonte: Autoria própria

Três estudos observaram o uso da terapia de espelho assistida por robô (Chen, Yen-Wei et al. 2023; Schrader, Mareike et al. 2022; Hung, Jen-Wen et al. 2022) e outros dois associando à realidade virtual (Hsu, Hsiu-Yun et al. 2022; Jo, Sungbae et al. 2024). Foi possível observar que a utilização de novas tecnologias de forma combinada contribui positivamente com efeitos eficazes na reabilitação da função motora da extremidade superior, porém com relação à função sensorial, não apresenta resultados e diferenças tão significativas, como demonstra o estudo de Schrader, M. et al (2022).

Sabe-se, porém, que a utilização de algumas intervenções necessitam de maior investimento, seja com relação à equipamentos, seja na contratação de profissionais capacitados para aplicar a técnica. Diante disso, Chinnavan, E. et al (2020) e Wen, X. et al (2022) exploraram o uso da terapia de espelho associado à terapia convencional em comparação à utilização da terapia convencional isolada em pacientes após AVE, onde foi possível observar que apesar de ambas as intervenções demonstraram melhora no desempenho motor de membros superiores, o grupo que recebia adicionalmente a terapia de espelho apresentou aumento na capacidade de realização de funções diárias e função motora mais eficaz.

A Terapia de Espelho convencional apesar de colaborar para a reaprendizagem de tarefas bilaterais em pacientes após AVE, fornece apenas feedback unilateral, devido ao seu posicionamento vertical entre os membros superiores. Dessa forma, Zhuang, J. et al (2021), apresentou em seu estudo o uso da terapia de espelho associada, baseada em técnicas de câmera, no qual os pacientes não apenas podiam ver a cooperação bimanual regular, como também podiam atingir as tarefas cooperativas bilaterais com o auxílio de terapeutas, apresentando em seus resultados diminuição do comprometimento motor da extremidade superior parética, melhora na função diária e da destreza manual.

O estudo de Kim, Yong-Song et al. (2023), Yi-Chun et al. (2019), e Kaviraja K et al. (2021) , revelam que a terapia espelho promove uma melhoria significativa na função motora dos membros superiores onde a análise de dados mostrou um aumento médio na função dos pacientes sendo um a valor consideravelmente ótimo para os resultados das pesquisas, pois após a intervenção com terapia espelho, houve melhorias na amplitude de movimento e na realização de tarefas motoras diárias em pacientes após AVE em recuperação na fase subaguda que participaram do programa de terapia espelho.

Liao Wan-Wen et al. (2020) e Zhang, Kexu et al. (2024), apesar de focados em diferentes condições, relatam que a MT é eficaz na redução da dor e na melhoria da função motora nos membros superiores dos pacientes testados. Os dois estudos indicam benefícios significativos para o manejo da dor pois proporcionam benefícios clínicos notáveis, incluindo aumento da amplitude de movimento, melhora na coordenação e redução da dor. Zhang, Kexu et al. (2024) teve mais em foco explorar a eficácia em condições específicas e os mecanismos de ação, fornecendo uma análise única dos mecanismos neurofisiológicos, oferecendo uma explicação detalhada sobre como a terapia espelho pode afetar a percepção da dor e a função motora.

Yi-Chun et al. (2019) e Liao et al. (2020) concentram-se na reabilitação dos membros superiores, onde revelam que a MT é extremamente benéfica para a recuperação das áreas de membros superiores. Yi-Chun et al. (2019) destaca a melhora na função motora tanto quanto a redução da dor nos MMSS, enquanto Liao et al. (2020) faz uma importante observação sobre a eficácia da terapia do espelho, ressaltando os diferentes estágios da reabilitação, sugerindo que a MT é mais eficaz quando aplicada nos estágios iniciais, antes que os déficits motores se tornem mais resistentes à terapia. Isso mostra que a aplicação da terapia o quanto antes pode ser crucial para otimizar os resultados. Kaviraja et al. (2020) apesar de destacar e comparar a terapia do espelho e outras intervenções de reabilitação, também sugere que a terapia do espelho pode ser uma alternativa eficaz e complementar, dependendo do estágio e levando em conta as necessidades específicas do paciente, principalmente se aplicada de forma prematura.

Considerações Finais

A partir do presente estudo foi possível observar que a terapia do espelho é uma alternativa positiva e eficaz para a reabilitação da extremidade superior em pacientes após AVE, principalmente se aplicada precocemente e de forma adicional a outras modalidades terapêuticas. Há presença de evidências robustas de sua capacidade e seus efeitos na melhora da função motora, de atividades de vida diária e na qualidade de vida de pacientes que receberam a terapia espelho em seu protocolo de tratamento. Porém, ainda há uma necessidade nítida de mais pesquisas para refinar sua aplicação e compreender melhor os seus mecanismos envolvidos.

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¹Graduandos em Fisioterapia pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
²Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica
³Neurologista, Docente na graduação em Medicina e Pesquisador do Mestrado em Vigilância e Saúde – Universidade Iguaçu – UNIG
⁴Endocrinologista, Docente na graduação em Odontologia e Medicina – UNIG
⁵Professor Associado III, PPGCBM e PPGBIOTEC – Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPAR