USO DA GEOFÍSICA DE ELETRORRESISTIVIDADE COMO FERRAMENTA  PARA CARACTERIZAÇÃO DE UMA DOLINA EM ÁREA DE USINA  FOTOVOLTAICA NO NORTE DE MINAS GERAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12633416


SOUZA-SILVA, Herbert1;
BARBOSA, João Victor da Silva2;
MATA, Jônatas Franco Campos da1;
FARIA, Claydson Ferreira3


RESUMO 

A tomografia elétrica, ou eletrorresistividade, é uma técnica geofísica não invasiva usada para  prospecção de minerais, localização de poços tubulares e trabalhos de geotecnia. No norte de Minas  Gerais, regiões cársticas com rochas calcárias apresentam cavidades subterrâneas formadas pela  dissolução das rochas pela água. Este estudo visa identificar a composição dos materiais e classificar  geofisicamente uma dolina localizada em uma usina fotovoltaica no município de Francisco Sá/MG.  Foram realizados cinco levantamentos geoelétricos, sendo quatro levantamentos em direção  aproximada S-SO para N-NE e um na direção de O-NO para L-SE, com espaçamento de 25m entre  estações (eletrodos) e atingindo cerca de 85m de profundidade. As análises indicam uma possível  propagação da deformação em direção à porção sul, como é possível concluir ao analisar os dados dos  caminhamentos elétricos, região sul, onde os quatro caminhamentos paralelos tiveram origem. Somado  a isso, os dados geofísicos sugerem que a norte da dolina o substrato calcário possui os mesmos  ingredientes que favorecem o desenvolvimento da deformação para o norte. Apesar dos claros  resultados encontrados, é sugerido a realização de sondagem direta, para a confirmação os dados dos  modelos geoelétricos. 

PALAVRAS-CHAVE: Geofísica de eletrorresistividade. Dolina. Geologia aplicada. 

1. INTRODUÇÃO 

Os métodos geoelétricos são técnicas de geofísica que envolvem a indução de correntes  elétricas no subsolo, permitindo a análise de seu comportamento por meio de medições na  superfície ou examinando os campos elétricos naturais presentes nas rochas do interior da Terra (Kearey et al., 2002). Tal técnica é amplamente empregada na prospecção de bens minerais,  localização de poços tubulares e trabalhos de geotecnia.  

A geofísica de eletrorresistividade é não invasiva, mas eficaz, permitindo detectar  contrastes de condutividade elétrica em diversos materiais e estruturas geológicas (Gandolfo,  2007). Além disto, o método eletrorresistivo caracteriza-se pela medida da diferença de  potencial entre dois pontos, devido à excitação de um substrato rochoso por campos elétricos  artificiais criados pela injeção no solo de uma corrente elétrica contínua ou de baixa frequência.  Geralmente os dados obtidos são correlacionados com informações geológicas locais para  inferir a estrutura geológica da área estudada (Rios, 2019). 

O método eletrorresistivo caracteriza-se pela medida da diferença de potencial entre  dois pontos, devido à excitação de um substrato rochoso por campos elétricos artificiais criados pela injeção no solo de uma corrente elétrica contínua ou de frequência muito baixa. Portanto,  mapeando-se a distribuição do potencial elétrico por meio de dois pontos, obtém-se a  resistividade elétrica das rochas, que depende de fatores como: seu conteúdo em fluido, a  constituição mineralógica, a textura e a estrutura do material. Por se tratar de uma aplicação  não invasiva, além de ser de rápida resposta, a geofísica é indicada para diversos sistemas em  subsuperfície (Canatto, 2021). 

Os diferentes tipos de materiais existentes nos ambientes geológicos apresentam, como  uma de suas propriedades fundamentais, o parâmetro físico de resistividade elétrica, o qual  reflete algumas de suas características, servindo para caracterizar seus estados, em termos de  alteração, fraturamento, saturação, etc., e até identificá-los litologicamente, sem necessidade de  escavações físicas (Braga, 2007). 

Logo, a resistividade das rochas, está amarrada em diversas condições, para que apenas  um valor único possa representar certo tipo litológico. Um determinado tipo litológico pode  proporcionar, deste modo, uma ampla gama de variação nos valores de resistividade, como  relatado em Braga (2007), particularmente, os minerais são razoavelmente consistentes em suas  propriedades elétricas, mas num conjunto, como ocorrem as rochas na natureza, a variação total  de suas resistividades é muito maior.  

De acordo com Braga (2007), para correlacionar de modo mais adequado com a  geologia em uma determinada área de estudo, são necessários a localização geográfica e o  conhecimento da geologia local em termos estratigráficos. O norte de Minas Gerais é, em  grande parte, caracterizado pelo ambiente cárstico, ambiente este que apresenta uma alta  incidência de cavidades subterrâneas, característica relacionada à presença de rochas calcárias  na região. Regiões cársticas são formadas por rochas solúveis, como o calcário, que são  facilmente erodidas pela água, formando cavidades subterrâneas. Essas cavidades podem variar  em tamanho e forma, desde pequenas fendas até grandes cavernas, e são influenciadas pela  geologia local e pelo regime hidrogeológico da região (Oliveira, 2000). 

É importante ressaltar que a evolução dos processos de carstificação encontra-se  constantemente integrada a três importantes fatores: pluviometria (volume de águas),  características litológicas (composição mineralógica) e condições estruturais (especialmente  sistemas de falhas e fraturas) (Travassos, 2019). 

A água é fundamental para os processos de carstificação. O contato entre as águas das  chuvas, com o gás carbônico do ar e dos solos, promove a formação do ácido carbônico, que  dissolve rochas carbonáticas e precipita calcita (CaCO³+H²O+CO²=Ca(HCO³)²). As características das rochas são importantes, sendo as carbonáticas as mais suscetíveis à  dissolução (Vieira, 2016). 

A dissolução e desenvolvimento dos aquíferos cársticos estão diretamente relacionados  com elementos estruturais, como falhas e fraturas, que facilitam a circulação da água  subterrânea. De forma geral, o fenômeno cárstico ocorre devido à circulação da água em rochas  carbonáticas. As feições cársticas incluem dolinas, depressões circulares formadas pela  dissolução das rochas, e sumidouros, áreas que permitem a rápida infiltração da água para o  subsolo (Christofoletti, 1980). 

Os processos de formação de dolinas, por sua vez, envolvem diferentes aspectos, sendo  os principais aspectos relacionados aos mecanismos erosivos como a dissolução ou ação  mecânica, os tempos diferenciados como o tempo geológico, histórico ou repentino e de acordo com os diferentes materiais, como coberturas móveis, rochas carstificáveis ou outro tipo de  rocha. A dinâmica dos processos de formação e desenvolvimento de dolinas é geralmente  classificada como dissolução, colapsos ou subsidências (Beck, 2012). 

Desta forma, este estudo tem como objetivo identificação da composição dos materiais, ocorrências locais e classificação geofísica de uma dolina em área de usina fotovoltaica no  município de Francisco Sá, localizado no norte de Minas Gerais. 

2. MATERIAIS E MÉTODOS 

2.1 Área de Estudo 

A área de estudo se encontra no noroeste do município de Francisco Sá, limite com o  município de Capitão Enéias, localizadas no norte do estado de Minas Gerais (Figura 1). 

Figura 1. Localização e acesso a área do estudo 

Legenda: Rota, da cidade mais próxima (Capitão Enéias) ao empreendimento onde foi realizado o estudo (em  azul) e, em vermelho, a área onde foi realizado o estudo.

2.2 Geologia da Área de Estudo  

A área de estudo está localizada na Formação Lagoa do Jacaré (Figura 2), composta  por calcários pretos a cinza, oolíticos e pisolíticos, brechas intraclásticas, margas, siltitos e  folhelhos verdes. Os calcários são encontrados em camadas paralelas de 10 a 20 cm, com sinais  de recristalização intensa, nódulos de chert e cheiro fétido quando quebrados. Existem também  marcas onduladas, gretas de ressecamento e estruturas de estratificações cruzadas por ondas.  A formação indica uma sedimentação regressiva, com plataformas carbonáticas sujeitas a  retrabalhamento e tempestades, intercaladas com períodos de calmaria. Gretas de ressecamento  sugerem emersão temporária da plataforma. A presença de calcários negros e pirita indica  condições de sedimentação redutoras e atividade orgânica intensa. 

Figura 2. Geologia da área de estudo e seu entorno 

Legenda: Localização, em vermelho, da área de estudo. Sistema de Coordenadas UTM; Datum: SIRGAS 2000. 

2.3 Coleta de dados 

Para o estudo e levantamento de dados, foram utilizadas cartas geológicas e  hidrogeológicas digitalizadas em diferentes escalas, além de equipamentos específicos. Para os  levantamentos de eletrorresistividade, foi utilizado um eletrorresistivímetro da Auto Energia,  modelo X5 de dezesseis canais, com dois multímetros digitais da Hikari, modelo HM-2090 

(Figura 3). Também foram utilizados cabos de conexão elétrica, trenas, eletrodos de alumínio  para envio de corrente elétrica e leitura do potencial, e um GPS portátil eTrex 10 Garmin para  georreferenciamento dos locais de estudo.

Figura 3. Eletrorresistivímetro X5 utilizado para a captura dos dados. 

Legenda: As indicações na imagem representam os itens necessários para o levantamento de dados, ligados ao  eletrorresistivímetro. 

O estudo utilizou dados morfológicos de relevo e drenagem, mapeados e integrados em  um sistema de informação geográfica (SIG) com o auxílio dos softwares ArgGIS Pro, Global  Mapper 19. Foram definidos perfis geofísicos para investigar uma área com dolina, com  alinhamentos para cobrir toda a região e mapear diferentes direções. Os levantamentos de  eletrorresistividade foram feitos com o arranjo dipolo-dipolo, buscando variações laterais na  resistividade para mapear contatos geológicos e estruturas. Foram realizados dois  levantamentos em cada linha para melhor resolução. As medidas coletadas em campo foram  interpoladas para gerar pseudo-seções de resistividade aparente, que são analisadas  qualitativamente para identificação de anomalias. Os caminhamentos elétricos foram  realizados em diferentes direções, cobrindo a área da dolina (Figura 4). 

Os caminhamentos elétricos deste estudo foram realizados através de dois  levantamentos sobre o mesmo alinhamento, com o objetivo de melhorar a resolução lateral de  ambos. Cada levantamento foi composto por 15 estações de medidas equidistantes (também  conhecidos como eletrodos) de 25 metros entre si, totalizando para cada linha o comprimento  superficial de 375 metros. Posteriormente aos levantamentos e integração dos levantamentos,  o comprimento superficial total foi de 378,5 metros. 

Os caminhamentos elétricos das Linhas 01, 03, 04 e 05 possuem direção aproximada  S-SO para N-NE. Todas as linhas foram compostas de dois levantamentos sobre o mesmo  alinhamento com o objetivo de melhorar a resolução lateral geral. Os alinhamentos tiveram  início na porção S-SO. Os caminhamentos elétricos da Linha 2, por sua vez, tiveram direção de O-NO para L-SE. O alinhamento teve início na porção O-NO. A disposição das linhas em  campo pode ser vista na Figura 4. 

Figura 4. Vista aérea da área do estudo 

Os pontos de coordenadas que identificam o início e o fim das linhas (L1, L2, L3, L4 e  L5) podem ser observados a seguir: 

Coordenadas para localização da linha L1: 

• Inicial (UTM; WGS84; 23K; 652611.40 m E 8209279.71 m S); 
• Final (UTM; WGS84; 23K; 652774.54 m E 8209629.12 m S). 

Coordenadas para localização da linha L2: 

• Inicial (UTM; WGS84; 23K; 652578.16 m E 8209527.24 m S); 
• Final (UTM; WGS84; 23K; 652929.56 m E 8209381.62 m S). 

Coordenadas para localização da linha L3: 

• Inicial (UTM; WGS84; 23K; 652584.82 m E 8209301.69 m S); 
• Final (UTM; WGS84; 23K; 652745.33 m E 8209642.49 m S). 

 Coordenadas para localização da linha L4: 

• Inicial (UTM; WGS84; 23K; 652650.36 m E 8209254.32 m S);
• Final (UTM; WGS84; 23K; 652803.00 m E 8209595.00 m S). 

 Coordenadas para localização da linha L5: 

• Inicial (UTM; WGS84; 23K; 652687.00 m E 8209235.00 m S); 
• Final (UTM; WGS84; 23K; 652833.44 m E 8209581.90 m S).  

2.4 Inversão dos Dados Geofísicos 

A inversão de dados geofísicos é uma arte versada no assentamento de um modelo  bidimensional (2-D) de resistividade tendo como partida os dados colhidos nos levantamentos  elétricos em campo. Neste trabalho, para realizar a inversão dos dados dos caminhamentos  elétricos foi utilizado o programa RES 2D INV (Geotomo Software, 2003). 

A modelagem 2-D utilizada no software da Geotomo porciona a subsuperfície em um  número de polígonos retangulares, sendo o arranjo desses polígonos definido de acordo com a  distribuição dos eletrodos para a coleta de dados que originou a pseudo-seção. O software então  determina a resistividade aparente dos polígonos ajustando as medidas realizadas. 

Os procedimentos para realizar a inversão se utilizam de uma técnica otimizatória que  recebe a denominação de “smoothness-constrained least-squares”. Com o intuito de reduzir a  diferença entre os valores encontrados para a resistividade aparente, mensurados e aferidos no  trabalho de campo, desta feita ajustando a resistividade aos polígonos gerados no programa.  (GANDOLFO, 2007).  

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A interpretação considerou a litologia local, com uma camada superficial de cobertura  sedimentar seguida por rocha calcária, evidenciada por afloramentos na área da dolina e do  sumidouro. A Figura 5a mostra a exumação de rocha calcárea, na parte central da dolina, com  sinais claros de foi esculpida (descontinuidades) pela presença de água. A presença de tal rocha  fortalece a análise prévia da geologia local. Já na Figura 5b, no ponto mais profundo da dolina,  foi identificado um sumidouro, onde não foi possível mensurar a profundidade da cavidade.

Figura 5. Afloramentos de calcário no local do estudo. 

Legenda: (a) Rochas calcáreas encontradas na área central da dolina e em (b) o olho de um sumidouro no ponto  mais baixo da dolina. 

Após a análise da Figura 5, somada à classificação tipológica proposta por Waltham e  Fookes (2005) a dolina analisada pode ser classificada com o uma dolina de dissolução, como  pode ser visto na Figura 6. 

Figura 6. Tipologia de dolinas  

Fonte: Adaptado de Waltham e Fookes (2005). 

Após o processamento e modelagem, os dados de eletrorresistividade foram  apresentados como seções verticais de resistividade e profundidade, com legenda colorimétrica. Os resultados das interpretações foram associados para formulação de uma  interpretação conjunta das condições geoelétricas do ambiente cárstico no local do estudo.  Segundo Braga (2007), os calcários podem variar sua resistividade entre 100 e  5.000ohm.m (Figura 7). Neste trabalho, apesar de não ter sido realizada medida direta da  resistividade elétrica do tipo de calcário presente nos afloramentos, os resultados das  modelagens dos dados e a sua interpretação indica que calcários muito alterados estão  associados com baixas resistividades (< ~550ohm.m) enquanto os calcários mais preservados  correspondem às resistividades acima deste valor (>550ohm.m).  

Figura 7. Faixas de Resistividade/Litologia 

Fonte: Braga (2007). 

Portanto, foi considerado na interpretação as regiões das seções com resistividade  menores do que 550ohm.m como áreas de ocorrência de calcários alterados e/ou muito  fraturados, podendo haver preenchimento destes espaços por sedimentos carreados pelo fluxo  hídrico e podendo então estarem saturados, ou até mesmo considerar que estes espaços possam  estar preenchidos por água. Só sendo possível afirmar com coeficiente de exatidão através de  sondagem direta. 

Reiterando, os valores de resistividade encontrados nos caminhamentos, que serão  apresentados na sequência deste relatório, são absolutamente harmônicos com aqueles  estabelecidos como limites de variação estabelecidos por Luiz; Silva (1995), Borges (2007) e  Braga (2007), para os materiais litológicos encontrados na geologia regional. 

De acordo com os critérios para valores de resistividade utilizados pelos autores citados  anteriormente e por referências já citadas neste trabalho, algumas anomalias condutoras, onde  o padrão de resistividade local no modelo possui valores baixos quando comparado ao seu entorno. Desta forma, ao comparar tais valores com a média do substrato em questão – definido  neste trabalho como calcário alterado – pode-se levantar a possibilidade de tais pontos serem  associados a falhamentos ou bolsões de dissolução da rocha calcária. Sendo válido lembrar  que, as rochas calcárias são formadas principalmente pela calcita (carbonato de cálcio, CaCO3),  mineral este com predicado de se dissolver quando entra em contato com a água acidulada  (Neves & Piló, 2008). 

De forma geral, os primeiros 12,5 metros em profundidade dos levantamentos, foram  considerados como sendo um pacote de cobertura sedimentar superficial, pois os dados  coletados apenas oferecem arcabouço técnico para análise a partir de tal profundidade, em vista  valor do espaçamento utilizado entre os dipolos, mesmo havendo no local, como já citado,  alguns afloramentos. 

Os gráficos de resistividade juntamente com a interpretação geológica serão  apresentados no próximo tópico com as especificações da Figura 8, utilizada como legenda  para as análises feitas sobre os gráficos que virão a seguir.  

Figura 8. Sistema de legendas utilizada no estudo 

O caminhamento elétrico apresentado na Figura 9, teve extensão de 387,5 metros. A  interpretação sugerida indica a presença de uma estrutura geológica no local onde é possível  observar a presença da dolina, e uma possível região de avanço começando por volta dos 168  metros até os 200 metros em extensão do caminhamento, pois é uma região de baixa  resistividade, considerada como calcário alterado e que se encontra anterior a área onde  possivelmente já houve o colapso que originou esta dolina. 

Como observado, a informação mais importante da seção está nas áreas que  indicam a existência dos contrastes de resistividade em subsuperfície. Já que o intuito deste  trabalho é prospectar e mapear a estrutura da dolina em profundidade. Sendo assim, foi  identificada uma grande região possivelmente composta por rocha calcária alterada, iniciando  a partir dos 168 metros e se estendendo até o final do caminhamento, e alcançando uma  profundidade próxima dos 50 metros. 

Deste modo é possível inferir que o local descrito indica fortemente a possibilidade de  essa ser a região compreendida pelas mudanças estruturais que ocasionaram a formação da  dolina. Os demais valores de resistividade encontrados em outros pontos do CE – 1 são bastante  condizentes com aqueles estabelecidos como limites de variação estabelecidos por Luiz; Silva  (1995) e Borges (2007), para os materiais litológicos encontrados na geologia da região, sendo  estes: calcários e argilas. 

Regiões que também merecem destaque neste alinhamento foram definidas como  possíveis cavidades subterrâneas inundadas, pelo fato dessas zonas possuírem valores de  resistividade anômalos, mais baixos quando comparadas com o seu substrato de entorno. Desse  modo essas zonas foram definidas como possíveis cavidades inundadas. 

Figura 9. Seção de resistividade aparente do CE – 1 

A linha 02, apresentada no gráfico da Figura 10, correspondente ao Caminhamento  elétrico 2, o qual foi realizado de forma perpendicular a todos os outros Caminhamentos deste  trabalho, mas que foi realizado com as mesmas características citadas anteriormente. 

Este alinhamento se assentou exatamente sobre o sumidouro presente ao fundo da  dolina. a interpretação da seção do CE – 2 indica a presença de material calcário alterado ao longo de praticamente todo o caminhamento, começando logo após a cobertura sedimentar  superficial, esta que possui espessura variável ao longo do alinhamento.  Uma ampla região foi definida como sendo de material calcário possivelmente saturado  em água, o que pode ser devido à existência de um grande conjunto de falhas e/ou fraturas na  rocha, essa região começa próxima aos 94 metros e se estende até aproximadamente os 218  metros, estando abaixo de um matacão localizado ao centro da linha e destacado no parágrafo  a seguir. Foram destacadas neste alinhamento também, mais regiões que igualmente ao CE – 1, podendo ser consideradas como possíveis cavidades inundadas.  

Já citado, merece destaque a possível presença de um bloco/matacão de rocha  provavelmente pouco alterada próxima ao centro do caminhamento (região em tom de amarelo  no gráfico), coincidindo em parte com o local onde se encontra o sumidouro, permitindo  caracterizar conceitualmente, as regiões de seu entorno como sendo os locais preferenciais para  o fluxo de água que é drenada por esta feição cárstica. Completando a análise do gráfico do CE  – 2, o embasamento de rocha sã surge aproximadamente a partir dos 50 metros de  profundidade. 

Figura 10. Seção de resistividade aparente do CE – 2 

A linha 03 apresentada no gráfico da Figura 11, diz respeito ao Caminhamento Elétrico  3, localizado na extremidade oeste da dolina. Apesar de estar logo ao lado do CE – 1, distando  aproximadamente 40 metros um do outro, o CE – 3 não apresentou a mesma característica de  existir rocha calcária são bem próxima à superfície na primeira metade da Linha. Neste caso, como pode ser notado na figura a seguir, o embasamento de rocha sã se encontra a partir dos  40 metros de profundidade.

É possível conceituar a existência do mesmo pacote de rocha alterada ao longo de todo  o perfil, com caracterização de algumas zonas neste substrato estarem saturadas em água, assim  como nos Caminhamento anteriores. Regiões essas, destacadas na análise geológica do gráfico  de resistividade. 

Figura 11. Seção de resistividade aparente do CE – 3 

O gráfico da Figura 12, apresenta o resultado da seção de resistividade aparente do  Caminhamento Elétrico 4. Um pouco diferente das características apresentadas do CE – 3, o  embasamento rochoso, definido como sendo de rocha calcária sã, não segue uma característica  de ser retilíneo, ele possui a particularidade de formar uma condição de bacia, tendo nas  extremidades uma elevação deste pacote rochoso mais consistente (assim definido por possuir  maior valor de resistividade). Estando então mais raso do que na região central do  caminhamento que coincide com a área da dolina. Na porção central do Caminhamento o  embasamento de rocha calcária está a cerca dos 60 metros de profundidade. 

Acompanhando a mesma dinâmica citada para a rocha sã neste alinhamento, o estrato  de rocha alterada também segue as mesmas características de disposição, citadas no parágrafo  anterior, isto de forma geral ao longo do perfil. Falando em características recorrentes, no  alinhamento correspondente ao CE – 4, foi admissível a definição de sítios que também podem  corresponder a áreas de calcário possivelmente saturado, bem como de plausíveis cavidades  inundadas, relembrando, isso quando é feita uma análise de contexto geoelétrico.  

Um destaque importante neste alinhamento é a possível presença de matacão/bloco de  rocha sã em baixa profundidade, a partir dos 200 metros de extensão se estendendo até  aproximadamente os 250 metros de distância, em relação ao ponto inicial do Caminhamento.

Figura 12. Seção de resistividade aparente do CE – 4 

O Caminhamento Elétrico 5 (Figura 13), foi executado na extremidade leste da dolina,  nos resultados obtidos para a seção de resistividade do CE – 5, é possível identificar o que o  embasamento de rocha calcária sã tem início a aproximadamente 50 metros de profundidade.  

Acompanhando a mesma característica presente em todos os outros caminhamentos  realizados neste trabalho, é possível caracterizar um estrato de provável rocha calcária alterada  em razão das feições cársticas do local, se estendendo ao longo de todo o perfil do  caminhamento. Neste alinhamento foi mapeada uma possível região, mais centralizada onde o  calcário pode estar saturado em água, devido aos valores de resistividade medidos, e uma  anomalia condutiva mais ao final da do gráfico, começando quase aos 300 metros e terminando  pertos dos 325 metros, onde é possível a existência de mais uma cavidade saturada em água,  como já foi visto por diversas vezes neste estudo. 

Foram identificadas e destacadas também no perfil apresentado a seguir algumas  porções mais próximas à superfície, que foram delimitadas como sendo possíveis matacões de  rocha calcária são, devido a sua resistividade aparente ter ficado num patamar mediano em  relação aos valores apresentados anteriormente para rocha calcária. 

Figura 13. Seção de resistividade aparente do CE – 5 

Sobre a análise dos levantamentos em separado é possível já indicar que os  levantamentos seguem o mesmo padrão de contrastes, bem como, havendo bastante  homogeneidade entre os valores da resistividade aparente dos materiais em cada um dos cinco  caminhamentos, indicando as feições estruturais e a litologia já citadas. 

Os dados de superfície, analisados, indicam uma possível propagação da deformação  em direção à porção sul, como é possível concluir ao analisar os dados do CE – 1 região sul,  onde os quatro caminhamentos paralelos tiveram origem. Entretanto, os dados geofísicos  sugerem que a norte da dolina o substrato calcário possui os mesmos ingredientes que  favorecem o desenvolvimento da deformação para o norte. Já que o estrato definido como  sendo de rocha calcária alterada se estende basicamente por toda a extensão dos  Caminhamentos, logo abaixo da cobertura de sedimentos superficiais. Utilizando como  referência, Kohler e Castro (2011), no carste, existem processos de dissolução e abatimentos  que são produtos da ação das águas sobre a rocha solúvel, fato que o torna um relevo frágil e  dinâmico.  

Ao se observar a dolina, somada à imagem aérea apresentada na metodologia deste  estudo, é possível classificar a dolina como simples, de acordo com a classificação de Angel e  colaboradores (2004), classificação essa que leva em consideração a visão superior (em planta)  de uma dolina (Figura 14).

Figura 14. Classificação morfológica em vista superior, proposta por Angel et al. (2004)

No entanto, ao se observar a topografia (cotas), principalmente a depressão nos gráficos das linhas geofísicas (L1 à L5), e analisar de acordo com a classificação proposta adaptada por  Kholer (1995), classificou-se a dolina em questão como uma dolina do tipo bacia (Figura 15). 

Figura 15. Classificação morfológica em vista superior, proposta por Angel et al. (2004)

4. CONCLUSÃO 

Os resultados deste trabalho indicaram que na região em torno da dolina, onde foi  realizado o estudo, os dados geofísicos comprovaram a existência de um substrato calcário  alterado, provavelmente muito enfraquecido pela presença de zonas de deformação.  Porquanto é possível indicar baseado nas análises geoelétricas, que os processos que atuam no desenvolvimento de relevos e feições cársticas, estão presentes na evolução da paisagem e das  características em subsuperfície deste terreno. 

É evidente que neste local as características litológicas estão intimamente relacionadas  pelas feições cársticas existentes no local. Utilizando como referência, Kohler e Castro (2011),  no carste, existem processos de dissolução e abatimentos que são produtos da ação das águas  sobre a rocha solúvel, fato que o torna um relevo frágil e dinâmico. Baseado nesse apontamento  seria de grande valia o aprimoramento e a ampliação dos estudos na área, sendo sugerido sondagem direta, capaz de confirmar os dados dos modelos geoelétricos, bem novos  levantamentos indiretos.

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1Docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM);
2Discente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM);
3Mestre em Geologia Econômica e Aplicada (Sierranegra Consultoria e Serviços)