UMIDIFICAÇÃO NA OXIGENOTERAPIA: CONSEQUÊNCIAS ELETROLÍTICAS E FISIOLÓGICAS

HUMIDIFICATION IN OXYGEN THERAPY: ELETROYTE AND PHYSIOLOGICAL CONSEQUENCES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202502091041


Rafaelly Gomes Vieira1
Lucas Danelli2


RESUMO

A água destilada, amplamente utilizada em diversos dispositivos médicos e em processos de purificação, pode apresentar riscos para a saúde humana quando consumida de forma contínua. Este artigo tem como objetivo discutir os efeitos adversos do uso prolongado de água destilada no corpo humano, focando em distúrbios eletrolíticos e na quebra da homeostase. Ao contrário da água potável e filtrada, que contém minerais essenciais, a água destilada não contribui com os íons necessários para manter o equilíbrio hídrico e eletrolítico, podendo levar a distúrbios como hiponatremia, alterações do pH sanguíneo e sobrecarga renal.

Palavras-chave: Oxigenoterapia. Homeostase. Umidificação.

INTRODUÇÃO

A oxigenoterapia é um tratamento fundamental para pacientes com hipoxemia, caracterizada por níveis insuficientes de oxigênio circulante na corrente sanguínea. Este tratamento pode ser utilizado para correção ou prevenção da deficiência de oxigênio em pacientes com diversas condições respiratórias, como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), fibrose pulmonar, asma grave, insuficiência respiratória e cardiopatias. Tem, portanto, como principal objetivo a elevação da saturação de oxigênio até níveis ideais, a melhorara da ventilação pulmonar e o alivio de sintomas da hipoxemia, promovendo, assim, adequado aporte de oxigênio aos órgãos vitais (Brasil, 2019).

Tanto em casos de pacientes com hipoxemia crônica ou aguda, a oxigenoterapia domiciliar é indicada para sujeitos que apresentam saturação de oxigênio inferior a 88%, tanto em repouso quanto durante a prática de atividades físicas (Pereira, 2020). Consiste em uma terapêutica comum no contexto domiciliar, especialmente para pacientes com doenças respiratórias crônicas avançadas e visa a melhora da qualidade de vida e a prevenção de complicações graves (Oliveira, 2018).

Entretanto, o uso prolongado de oxigenoterapia também pode acarretar efeitos adversos. Os riscos mais comuns se relacionam à toxicidade do oxigênio, e à hiperóxia, que podem causar danos pulmonares como fibroses e atelectasias, e até mesmo alterações a nível de sistema nervoso central, decorrente do estresse oxidativo, resultando em danos neuronais (Oliveira, 2018; Pereira, 2020). Pode, ainda, afetar a função cardiovascular, especialmente em pacientes com doenças cardíacas preexistentes (Brasil, 2019).

Outro aspecto importante no que tange à oxigenoterapia domiciliar envolve o conforto do paciente, especialmente no que diz respeito à umidificação das vias respiratórias e a escolha do tipo de água utilizada no processo de umidificação deve ser cuidadosamente considerada para garantir a eficácia da terapia e o bem-estar do paciente (GOMES, 2019).

Em suma, embora a oxigenoterapia seja uma intervenção necessária em muitos casos de patologias respiratórias graves, sua administração deve ser monitorada com cautela. A combinação de oxigênio terapêutico com a escolha inadequada de substâncias para umidificação pode levar a complicações adicionais. Assim, é fundamental que os profissionais de saúde considerem todos os aspectos envolvidos na oxigenoterapia domiciliar, desde a dosagem de oxigênio até a escolha de soluções de hidratação adequadas, para minimizar os riscos e melhorar a qualidade de vida do paciente (Silva, 2018).

METODOLOGIA

Este estudo tem como objetivo explorar os impactos da utilização de água filtrada e água destilada no tratamento de pacientes que utilizam oxigenoterapia domiciliar, para isso, foi adotada uma abordagem qualitativa de revisão de literatura, complementada por análise de dados clínicos e estudos experimentais previamente publicados em periódicos indexados.

Trata-se, portanto, de um estudo descritivo e exploratório, com caráter bibliográfico e qualitativo. que envolveu uma análise crítica de publicações científicas, diretrizes profissionais e outros documentos relevantes.

A seleção de fontes foi realizada por meio de uma busca em bases de dados científicas reconhecidas, como PubMed, Scopus, Google Scholar, e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde). Foram incluídos artigos, livros e diretrizes que tratam de temas relacionados à oxigenoterapia domiciliar, umidificação na oxigenoterapia e seus efeitos no equilíbrio eletrolítico do corpo humano. Os critérios de inclusão foram:

  • Diretrizes recentes publicadas por órgãos relacionados à medicina e fisioterapia.
  • Estudos revisados por pares, publicados nos últimos 10 anos, garantindo a qualidade metodológica e a credibilidade das fontes.
  • Trabalhos focados em pacientes que utilizam oxigenoterapia, com ênfase no uso domiciliar.

A análise foi realizada por meio de uma revisão sistemática das publicações selecionadas. O processo de análise envolveu as seguintes etapas:

  1. Levantamento e Seleção das Publicações: Após a busca nas bases de dados, foi realizada uma triagem preliminar dos artigos com base nos títulos e resumos. A partir disso, foram selecionados os estudos que tratavam diretamente dos efeitos da água destilada na oxigenoterapia e seus impactos sobre o equilíbrio eletrolítico e a homeostase.
  2. Análise de Conteúdo: O conteúdo dos artigos foi analisado qualitativamente e agrupados conforme os temas abordados.
  3. Interpretação Crítica: As informações extraídas das publicações foram interpretadas à luz do conhecimento científico atual sobre os processos fisiológicos e clínicos envolvidos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A água destilada é amplamente reconhecida por sua pureza, sendo obtida por meio de um processo de destilação que remove impurezas e minerais. Apesar de ser considerada uma opção segura em diversos contextos, como na utilização de aparelhos médicos e dispositivos de purificação, o consumo prolongado de água destilada pode trazer efeitos adversos para o equilíbrio homeostático do organismo humano. A homeostase consiste no mecanismo pelo qual o corpo mantém condições internas estáveis, como os níveis de eletrólitos, necessários para o funcionamento adequado das células, músculos e sistema nervoso (Gayton, 2014). Este artigo visa explorar as implicações do uso contínuo de água destilada na saúde humana, com ênfase em distúrbios eletrolíticos e desequilíbrios fisiológicos.

Água Destilada e Seus Efeitos Orgânicos

A água destilada é produzida pela remoção de impurezas e minerais através do processo de destilação, o qual consiste em aquecer a água até o ponto de ebulição, captura do vapor e, posteriormente, condensação do mesmo (Santos, 2016). Como produto tem-se a água destilada, essencialmente livre de minerais como cálcio, magnésio e sódio.

A absorção contínua de água destilada pode resultar na diluição de eletrólitos essenciais devido à ausência de minerais, sua utilização excessiva pode diluir os níveis de sódio, potássio e outros íons, levando a distúrbios como a hiponatremia (Morris, 2013).

Além dos efeitos sobre os eletrólitos, a água destilada pode alterar o equilíbrio ácido-base do organismo. Por possuir um pH neutro, a água destilada pode interferir nas capacidades do sistemas tampão, necessárias para a regulação dos níveis de pH sanguíneo (Duarte, 2015). Tais alterações podem desencadear condições como acidose ou alcalose.

Embora a água destilada possa fornecer hidratação, sua utilização contínua pode gerar um efeito rebote, causando desidratação celular. A falta de minerais como cálcio e potássio, essenciais para processos a nível de membrana celular, pode impactar em potenciais de membrana e, portanto, reações orgânicas. Em pacientes que dependem da hidratação contínua, como aqueles em uso de oxigenoterapia prolongada, a água destilada se mostra inadequada a longo prazo (Gomes, 2019).

Água Filtrada e Seus Efeitos Orgânicos

A água filtrada contém minerais essenciais, como sódio, cálcio e magnésio, que são importantes para o funcionamento adequado das células e para a manutenção da homeostase do corpo. A presença desses minerais na água utilizada na umidificação ajuda a manter o equilíbrio eletrolítico, especialmente em pacientes com condições respiratórias crônicas que podem já estar suscetíveis a desequilíbrios eletrolíticos. Esses minerais, além de serem necessários para as funções celulares, ajudam a prevenir complicações como hiponatremia, que pode ocorrer quando a água destilada é utilizada por longos períodos e não repõe esses componentes essenciais (Gomes, 2019).

Em pacientes em oxigenoterapia domiciliar, o uso de água filtrada pode prevenir a perca minerais importantes, além de garantir que as células nasais e das vias respiratórias recebam a hidratação adequada.

Além disso, a água filtrada promove a redução de secreções, bem como sua fluidificação, promovendo a manutenção da viscosidade adequada das secreções nasais, o que reduz o risco de infecções respiratórias (Silva, 2020).

Pode, ainda, auxiliar na preservação da função ciliar, por outro lado, o uso de água destilada pode impactar negativamente seu funcionamento e dificultar o processo de remoção de partículas e patógenos, aumentando, portanto, o risco de infecções respiratórias (Pereira, 2020).

Impactos Econômicos

O uso contínuo de água destilada em dispositivos de oxigenoterapia domiciliar pode gerar impactos econômicos negativos tanto para os pacientes quanto para o sistema de saúde. Embora a água destilada seja frequentemente recomendada, não oferece benefícios exclusivos e, tem custo mais elevado decorrente de seu processo de purificação, tornando-a uma opção mais dispendiosa em longo prazo para pacientes que utilizam oxigenoterapia de forma contínua (Gomes, 2019).

O custo adicional da água destilada pode representar um ônus financeiro significativo para os pacientes que necessitam de oxigenoterapia domiciliar, especialmente em tratamentos de longo prazo. Em detrimento à isto, a água filtrada oferece uma alternativa mais econômica, já que o processo de filtragem é geralmente mais acessível e menos oneroso, sem comprometimento da hidratação e do equilíbrio eletrolítico necessários para o paciente (Silva, 2020).

Deve-se, ainda, ter em vista que o uso contínuo de água destilada pode resultar em complicações clínicas que exijam tratamentos adicionais, gerando custos adicionais (Oliveira, 2018).

CONCLUSÃO

Embora a água destilada seja adequada para diversas finalidades industriais e médicas, seu uso contínuo para consumo humano pode ter efeitos adversos graves. A ausência de minerais essenciais pode prejudicar a manutenção do equilíbrio eletrolítico, resultando em condições como hiponatremia, distúrbios do pH sanguíneo e sobrecarga renal. Em tratamentos de oxigenoterapia domiciliar, a água filtrada, que mantém uma composição mineral controlada, pode ser uma alternativa mais segura, garantindo tanto a saúde do paciente quanto o funcionamento adequado dos dispositivos.

Referências

BRASIL. Protocólos clínicos de oxigenoterapia: Diretrizes para o uso terapêutico de oxigênio. Brasília: Ministério da Saúde, 2019.

DUARTE, M. L. Equilíbrio ácido-base e distúrbios clínicos. São Paulo: Editora Medicina, 2015.

GAYTON, W. F. Fisiologia humana: estruturas e funções. 7. ed. São Paulo: Editora McGraw-Hill, 2014.

GOMES, L. M. Hidratação e saúde celular: um estudo sobre a água no corpo humano. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2019.

MELLO, R. F. Função renal e fisiopatologia. 2. ed. São Paulo: Editora Santos, 2017.

MORRIS, B. L. Distúrbios eletrolíticos e suas implicações clínicas. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2013.

OLIVEIRA, L. R. Complicações da oxigenoterapia prolongada e a toxicidade do oxigênio. São Paulo: Editora Medicina, 2018.

PEREIRA, R. A. Oxigenoterapia domiciliar: Aplicações clínicas e desafios terapêuticos. 2. ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2020.

SANTOS, A. R. Purificação de água: processos e técnicas. 4. ed. São Paulo: Editora Acadêmica,

SILVA, P. J. Oxigenoterapia domiciliar: cuidados e considerações clínicas. Belo Horizonte: Editora Saúde, 2018.


1Fisioterapeuta da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, especialista em Fisiologia do Exercício (Estácio) e Terapia Intensiva (PUC-PR) Mestranda do curso de Políticas Públicas e Desenvolvimento (UNILA). e-mail: raffyvieira.vieira@gmail.com
2Administrador, aluno especial do programa de mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento (UNILA). e-mail: lucas.danelli@unila.edu.br