UMA REVISÃO DE LITERATURA ACERCA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA COM ABORDAGEM NO CURRÍCULO EM ESPIRAL 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202507152021


Josefa Maria da Silva1
Claudio Rejane da Silva Dantas2
Francione Charapa Alves3


RESUMO 

O presente estudo consiste em uma revisão de literatura acerca da importância da  formação de professores de Matemática, com abordagem nas implicações do Currículo  em Espiral proposto por Bruner, percorrendo algumas bases teóricas em relação ao estudo  de currículo. Nesse percurso discursivo, formação e Currículo em Espiral se encontram,  viabilizando um diálogo integrador entre ensino e aprendizagem, que, por sua vez, abre  um leque de possibilidades para a construção e revitalização do conhecimento com  significado. Para tanto, a finalidade desse trabalho é promover uma reflexão acerca da  trajetória docente em uma perspectiva social, cultural e dialógica, favorecendo um cenário discursivo para a configuração do currículo matemático em uma perspectiva  espiral. O estudo consiste na abordagem bibliográfica e documental, valendo-se do  manuseio de livros e da riqueza de informações disponíveis nos materiais documentais. Assim, o estudo instiga docentes à leitura, investigação e ao aperfeiçoamento da prática  pedagógica, combinando saberes, protagonismo e formação. 

Palavras – chave: Formação de professores. Currículo em Espiral. Conhecimento.  Aprendizagem. 

ABSTRACT 

The present study consists of a literature review on the importance of the training of  Mathematics teachers, with an approach to the implications of the Spiral Curriculum proposed by Bruner, covering some theoretical bases in relation to the study of  Curriculum. In this discursive path, training and Spiral Curriculum meet, enabling an  integrative dialogue between teaching and learning, which, in turn, opens up a range of  possibilities for the construction and revitalization of meaningful knowledge. To this end,  the purpose of this work is to promote a reflection on the teaching trajectory in a social,  cultural and dialogical perspective, favoring a discussion scenario for the configuration  of the mathematical curriculum in a spiral perspective. The study consists of a  bibliographic and documentary approach, using the handling of books and the wealth of  information available in documentary materials. Thus, the study instigates teachers to  read, investigate and improve pedagogical practice, combining knowledge, protagonism  and training. 

Keywords: Teacher training. Spiral Curriculum. Knowledge. Apprenticeship.  

1. INTRODUÇÃO 

A formação de professores de Matemática na sociedade contemporânea tem  vislumbrado uma corrente de mudança, reflexão e ação, com vista em uma prática  social e dialógica, por se consistir em uma prática de interação humana, apontando  como uma fonte de estudo, pesquisa, possibilidades, transformação e conhecimento. 

Nesse aspecto, a Educação Matemática tem evidenciado a importância da  formação continuada de professores de Matemática, mostrando que é um campo  fundamental para a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem, convidando os  docentes refletirem suas práticas, compartilhar desafios, inquietudes e a  complexidades da sala de aula, por meio de uma cultura investigativa e dialógica na busca de novos horizontes e significados, partindo de princípios pedagógicos  consistentes ao articular teoria e prática.  

Assim, a formação continuada de professores de Matemática propõe um leque  de discussões em relação à formação, e, as constantes transformações nos currículos  escolares e nas demandas sociais e tecnológicas, que impactam no processo de ensino  e aprendizagem, exigindo que os docentes adotem uma postura reflexiva e dialógica,  de modo a pensar e repensar ações que possam se adequar as novas realidades escolares para melhor intervir.  

Por outro lado, o processo de formação continuada constitui momentos  magníficos para o crescimento contínuo, favorecendo novos caminhos de  aprofundamentos, desenvolvimento profissional, pensamento reflexivo, inovação e  aperfeiçoamento da prática pedagógica, possibilita trocas de experiências, valorização  docente, viabilização de ações interdisciplinares, contextualizadas e democráticas.

Nesse contexto, professores se integram em um percurso de estudo e  investigação, aprimorando a práxis docente por meio da ação-reflexão-ação, e,  ressignificando o ato de fazer e ensinar. Para Pimenta (2012, p. 51), “[…] o trabalho  docente é uma prática social. Prática que se faz no cotidiano dos sujeitos nela  envolvidos, e portanto nela se constituem como seres humanos […]”. 

Para Imbernón (2011, p. 41), “O processo de formação deve dotar os professores  de conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos ou  investigadores”. O autor (p. 41) destaca que, “[…] o eixo fundamental do currículo de  formação do professor é o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a própria  prática docente, com o objetivo de aprender e interpretar, compreender e refletir sobre  a realidade social e a docência”.  

Assim, a formação de professores de Matemática e as vivências da prática,  favorecem um repertório experiencial, social e cultural para organização e  reorganização do currículo matemático, uma vez que, compartilham seus fazeres  educativos e seus saberes, que se estruturam bases reflexivas e dialógicas para  incorporação de temáticas integradoras, intenções e valores para a construção de um  currículo impregnado de significados.  

Nesse contexto, o Currículo em Espiral, proposto por Jerome Bruner (1996),  surge como uma abordagem relevante, estabelecendo novos significados ao trabalho  escolar. Esse modelo currículo defende a ideia de que os conteúdos devem ser  revisitados ao longo do processo educacional, com níveis crescentes de complexidade,  favorecendo a construção contínua e integrada do conhecimento. Tal proposta não  apenas beneficia o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, mas, serve como  princípio orientador na formação docente à medida que articula teoria e prática em um  movimento cíclico e progressivo. 

Desse modo, o Currículo em Espiral consiste em proporcionar um modelo  diferente de pensar e construir o processo de ensino da Matemática, com vista nos  diferentes protagonistas que se encontram na sala de aula, que, por sua vez, propõe  possibilidades para a construção e revitalização do conhecimento com significado,  abordando estratégias investigativas, e, estimulando a descoberta e a resolução de  problemas, o que enseja o respeito à diversidade cultural e diferentes narrativas para o  processo de aprendizagem.  

Com base nesse contexto, Bruner (2008, p. 92) propõe que, o Currículo em  Espiral e o ensino por descoberta, como um modelo de ação pedagógico para a exploração de diferentes alternativas de ensino, e consequentemente a aprendizagem com significado, os quais, consistem em “[…] auxiliar a criança a aprender uma  variedade de formas para resolver problemas e transformar a informação para uma melhor utilização, ou seja, ajuda a aprender como lidar com a tarefa de aprender”.  É por meio do processo formativo, que se tem surgido novas culturas de  conhecimentos, partindo da subjetivação de ações para superação das múltiplas  variáveis que implicam no processo de ensino e aprendizagem, bem como, interpretação e resolução de problemas, fazendo-se necessário a formação continuada  de professores e a gestão do currículo, com o olhar pautado nos aspectos sociais,  tecnológicos e culturais. Assim, a cultura de diálogos nos percursos formativos de  professores de Matemática vem ressignificar a prática pedagógica e enriquecer o  intercâmbio educativo, enfatizando conhecimento, teoria, prática, experiência,  vivência e saberes. 

Assim, o manuscrito tem como objetivo geral proporcionar uma reflexão sobre  a importância da formação continuada de professores de Matemática em uma  perspectiva social, cultural e dialógica, com abordagem nas implicações do Currículo  em Espiral e o ensino por descoberta para a iluminação novos saberes e significados no  processo de ensino e aprendizagem.  

Diante da abordagem apresentada, elaborou-se a seguinte pergunta norteadora:  De que maneira a literatura discute a formação de professores de Matemática à luz dos  princípios do Currículo em Espiral? 

Com vista nesse questionamento foram elencando os seguintes objetivos específicos:  

1. Analisar as abordagens presentes na literatura acerca da formação de professores de  Matemática em relação aos princípios do Currículo em Espiral. 

2. Discutir as implicações pedagógicas do Currículo em Espiral para a prática docente e  o ensino da Matemática com significado. 

3. Compreender a importância da apropriação dos aprofundamentos do currículo  matemático na formação de professores como uma construção social e cultural por meio  da revisão da literatura. 

Assim, nessa perspectiva, o manuscrito consiste em uma revisão de literatura  com abordagem na formação continuada de professores de Matemática e o Currículo  em Espiral, instigando-os para novas temporalidades e diferentes formas cultivar  habilidades de fazer e ensinar, calçados em contextos que valorizem as diferentes culturas de aprendizagens, por meio de uma abordagem integradora, interdisciplinar,  dialógica e transformadora.  

2. PERCURSO METODOLÓGICO 

O texto é fruto dos estudos realizado no Mestrado Profissional em Educação  proporcionado pela Universidade Regional do Cariri – URCA, no ano de 2020,  desencadeando uma série de reflexões acerca da formação continuada de professores  de Matemática, práxis docente e o Currículo em Espiral para o processo de ensino e  aprendizagem. O estudo traz como lócus de discussão o cotidiano docente e o espaço  escolar, por meio de uma cultura formativa, investigativa, reflexiva e dialógica.  

O manuscrito se fundamenta na revisão bibliográfica, com a missão de “[…]  identificar, selecionar, realizar uma análise crítica sobre as investigações e  conhecimentos prévios que existem acerca do tema a ser estudado”. Além disso, “[…]  permite uma maior clareza e precisão na hora de escrever, depois de explorar a  literatura referente ao tema” (Alvarenga, 2012, p. 23). Nesse sentido, a abordagem  bibliográfica, está relacionada “[…] a uma modalidade de estudo e análise de documentos de  domínio científico tais como livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos, dicionários e  artigos científicos” (Oliveira, 2012, p. 69). 

O estudo também é de natureza documental, valendo-se do manuseio e da utilização da  fonte de coleta de dados “[…] restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se  denomina de fontes primárias” (Marconi; Lakatos, 2003, p. 174). A escolha desse percurso é justificada pela riqueza de informações disponíveis nos materiais documentais e pela  pertinência desses dados para a compreensão histórica e contextual do tema em  questão. 

Assim, a finalidade desse manuscrito é construir um diálogo entre formação de  professores de Matemática e Currículo em Espiral por meio da reflexão e da cultura  investigativa, de modo a instalar mudanças e significados na prática docente, estimulando  novas percepções e aprendizagens. 

Diante disso, o ensaio propõe construir um caminho pedagógico reflexivo, com foco no  trabalho docente e na cultura educacional, entendendo a formação como um “[…] projeto  humano emancipatório” (Pimenta, 2012, p. 34). Nesse contexto, a autora (2012, p. 34) aponta  que Zeichner (1988),

[…] reconhece nessa tendência de formação reflexiva uma estratégia para melhorar a formação de professores, uma vez que pode aumentar sua capacidade de enfrentar a complexidade, as incertezas e as injustiças na escola e na sociedade.

Ao longo do texto, serão apresentadas reflexões articulando teoria e prática  integrada à formação continuada de professores de Matemática e Currículo em Espiral,  evidenciando o saber e o fazer pedagógico, configurados em valores culturais  dialogados em diferentes dimensões. 

3. ABORDAGEM TEÓRICA 

A formação continuada de professores de Matemática consiste em um campo  fértil de reflexões, inovação e mudança, possibilitando a atualização, comunicação,  trocas de experiências e interações acerca da práxis. Tudo isso, conduz para uma prática  contextualizada e multidisciplinar, com propósitos de recompor as relações matemáticas  na sala de aula, priorizando novos debates, investigações, construções, possibilidades  e novas estruturas para o processo de ensino e aprendizagem. 

A cultura formativa gera saberes incalculáveis, tanto para prática individual  como para prática coletiva, oportunizando o docente a refletir acerca do fazer  pedagógico, articulando a teoria com a prática por meio de ações dialógicas e  interdisciplinares. Nessa óptica, Skovsmose (2008, p. 63), salienta que, “Se desejamos  uma educação matemática que facilite as reflexões sobre matemática em ação, então  devemos trabalhar na direção de estabelecer ambientes de aprendizagem nos quais as  reflexões possam ser estimuladas por meio de diálogos”. 

É nessa perspectiva, que o Currículo em Espiral favorece um diálogo com os  princípios pedagógicos e com a realidade da sala de aula, envolvendo professores e  estudantes em uma cultura de construção e reconstrução de novos saberes. Assim,  viabiliza o desenvolvimento de competências e habilidades, criando conexões  significativas com a realidade da sala de aula e o cotidiano, a partir da abordagem de  diferentes temáticas, oportunizando a revisitação de conteúdos, viabilizando a  aprendizagem crítica e significativa, de modo a servir para a apropriação do  conhecimento e transformação da realidade.  

3.1 Formação continuada de professores de Matemática: uma trilha de  conhecimento, construção e saberes

A formação continuada de professores de Matemática consiste em um percurso  de dialogicidade, aprendizagem e transformação, em que socializam saberes e angústias  acerca do trabalho docente com seus pares. Assim, vai se construindo um legado de  experiências e modificando a cultura escolar.  

Desse modo, o trabalho docente é compreendido por um conjunto de atividades complexas, vivenciadas na realidade da sala de aula, ligadas a uma série de demandas de  origem social, econômicas, políticas e culturais. Nesse contexto, os(as) professores(as) precisam apresentar domínio dos conteúdos matemáticos curriculares, competências e  saberes pedagógicos, como: estratégias para o enfrentamento dos desafios vivenciado no  cotidiano escolar, ferramentas que potencializem do processo de ensino e  aprendizagem, conhecimento e praticidade para lidar os com desafios da aprendizagem e que contribuam para formação da cidadania dos discentes, além da rotina cotidiana,  veem as exigências escolares e sociais. Para isso, os professores precisam se apoiar em  seus pares, para que juntos, possam transformar essa realidade.  

Com base nesse enfoque, Nóvoa (2009, p. 30 – 31), pontuam cinco (05) pontos que considera primordiais para o trabalho docente: 

1. Conhecimento. O trabalho do professor consiste na construção de práticas docentes que conduzam os alunos à aprendizagem. 

2. Cultura profissional. Ser professor é compreender os sentidos da instituição escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. É na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. 

3. Tacto pedagógico. Nele cabe essa capacidade de relação e de comunicação sem a qual não se cumpre o acto de educar. E também essa serenidade de quem é capaz de se dar ao respeito, conquistando os alunos para o trabalho escolar. 

4. Trabalho em equipa e compromisso social. Os novos modos de profissionalidade docente implicam um reforço das dimensões coletivas e colaborativas, do trabalho em equipa, da intervenção conjunta nos projetos educativos de escola. 

5. Compromisso social. Podemos chamar-lhe diferentes nomes, mas todos convergem no sentido dos princípios, dos valores, da inclusão social, da diversidade cultural.

Para o exercício da docência, compreende-se a necessidade do processo  formativo contínuo, configurando-se por meio de discursos e ações que denotem  liberdade, democracia e “[…] valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos  professores e das instituições escolares […]” ( Pimenta, 2012, p. 35). 

A formação continuada é uma trajetória de envolvimento, de compreensão do  exercício da docência, da construção de saberes pedagógicos, da identidade docente, de  valorização, de autoformação e do reconhecimento como sujeito reflexivos e transformadores. Fávero e Tonieto (2010, p. 47) cita Alarcão (2007, p. 41), explicando  que, o professor reflexivo “[…] baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e  reflexão que caracteriza o ser humano como criativo, e não como mero reprodutor de  ideias e práticas que lhe são exteriores”.  

Nesse sentido, o professor reflexivo, compreende como um sujeito em  construção, “[…] reconhecendo a necessidade de um processo educativo-formativo  constante, de modo a dar conta dos novos desafios que são impostos aos sujeitos durante  o seu exercício profissional” (Fávero; Tornieto, 2010, p. 62-63).  

Feldmann (2009, p. 79), explica que, “[…] a formação continuada de professores,  articulada aos fazeres na e da escola, além da formação compartilhada, é também uma  autoformação, uma vez que os professores reelaboram os seus saberes em experiências  cotidianamente vivenciadas”. Autora (2009, p. 75-76) intensifica o pensamento afirmando que, pensar na formação de professores, 

[…] é sempre pensar a formação do humano e, nessa perspectiva, se vislumbra a construção de mudanças em qualquer que seja o seu espaço de ação. Mudança entendida como aprimoramento da condição humana, como liberdade de expressão e comunicação e como desenho de possibilidades de um mundo melhor, de uma melhor convivência entre as pessoas. 

Na visão de Imbernón (2010, p. 81), a formação deve potencializar e estabelecer  novos espaços de reflexão e participação, levando em consideração

[…] a identidade individual e coletiva, para ajudar o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores no âmbito laboral e de melhoria das aprendizagens profissionais e para ajudar a analisar os sentimentos e as representações pelas quais os sujeitos se singularizam.

Silva e Sousa (2014, p. 27) apontam a necessidade de “(…) formar professores  com qualidade social e compromisso político de transformação, respondendo às novas  dimensões diante dos desafios da sociedade contemporânea ”. À luz desse pensamento,  o professor defronta-se diariamente no seu ofício de mediador com situações  desafiadoras, tendo que se reinventar, aprimorar e inovar suas práticas, enquadrando-se  nos enfoques contemporâneos, bem como, diversidade cultural, os avanços científicos e  tecnológicos para a construção de novos saberes.  

Nesse sentido, compreende-se que, são nas relações pedagógicas compartilhadas que os professores se encontram como seres reflexivas, pois, é nesse contexto, que se  veem como protagonistas e construtores de suas histórias, e, se libertarem das ideais  neoliberais que oprimem seus pensamentos e querem moldar suas práticas e ações. Na percepção de Freire (2005, p. 14), “A verdadeira reflexão crítica origina-se e dialetiza-se na interioridade da “práxis” construtiva do mundo humano – é também “práxis”.  De acordo com Pimenta (2012, p. 51-53), a práxis consiste na atividade docente “[…] como saber pedagógico e este, ao mesmo tempo, fundamento e produto da  atividade docente que acontece no contexto escolar […]”. Assim, ‘[…] o trabalho docente  é uma prática social. Prática que se faz no cotidiano dos sujeitos envolvidos, e que  portanto se constituem como seres humanos”. Nesse contexto, a práxis se traduz na  forma de intervenção do(a) professor(a) na sala de aula, a partir da leitura da realidade,  idealizando ações conscientes para interferir e transformar a realidade.  Para essa compreensão, Freire (2005) mostra que é por meio das relações de  consciência, os educadores se apropriam da realidade, compartilhando e comungando  com seus pares os desafios, medos, angústias, e, em conjunto, buscam inscrever e  renovar seus saberes, possibilitando a inserção no processo histórico como sujeito,  evitando os fanatismos, afiliando-se num processo de busca para sua afirmação.  Conforme D’Ambrosio (2012, p. 19), “A consciência é o impulsionador da ação do  homem em direção à sua sobrevivência e à sua transcendência, ao seu saber fazendo e  fazer sabendo”. 

É nesse universo problematizador e vivencial, que se emerge uma relação crítica dialógica de conhecimento e reconhecimento da formação docente, considerando as  leituras de mundo, sonhos, desejos e utopias. De acordo com Shor e Freire (1986), o  diálogo cria condições para que pessoas possam falar de suas vivências, experiências e desafios, pois, são caminhos para organização e transformação crítico-social,  possibilitado pela discussão e socialização dos sonhos, desejos e lutas; desse modo,  pessoas pensam, fazem e refazem seus mundos coletivamente. 

Para os autores (1986), é nos encontros de formação que os professores  discutem, refletem e transformam suas práticas, beneficiando-se do apoio do outro. Daí,  percebe-se a importância do protagonismo docente, destacando o aprimoramento  profissional e intelectual, e, por outro lado, é uma apreciação e valorização do ser  humano, como sujeito que luta e transforma com o intuito de mudar a realidade do  espaço vivencial e escolar.  

Dentro dessa visão, a formação continuada é um lócus robusto de aprendizagem,  em que os professores questionam as suas práticas diárias de sala de aula e lança mão  de diferentes saberes, os quais foram concebidos ao longo de sua trajetória, por meio de  princípios que instituiu a sua identidade profissional. Tardif (2014) salienta que, o saber docente não se reduz a uma transmissão de conhecimentos já constituídos, mas, está  integrado a uma prática de diferentes saberes, mantidos em diferentes reações; definindo  o saber docente como um saber plural, produzido pela combinação de saberes, provindo  da formação profissional, disciplinares e experienciais. 

Nesse contexto, observa-se uma necessidade crescente de compreender os  fenômenos educativos, incluindo o papel do professor como sujeito transformador do  meio que está inserido e a importância da sua formação continuada em um processo  relacional e contextual para a construção do conhecimento humano, com vista, nas  relações ideológicas, sociais, culturais, científicas e tecnológicas para construção de  novos saberes. Para Fávero e Tonieto ( 2010, p. 63), 

O professor, ao compreender-se e compreender o seu exercício profissional como um processo em permanente construção, consegue dar-se conta de que qualquer transformação ou visão mais elaborada dos problemas educacionais exige necessariamente estudo e aprendizagem.

Ao passo que, os professores vão compreendendo os problemas educacionais,  vão instalando novas formas de pensar, construir e se verem dentro do processo, e assim,  conseguem “[…] propor estratégias para a resolução de problemas, a partir de uma  transformação entre ideias pessoas e as do coletivo” (Feldman et al., 2018, p. 28).  

Com base nesse pressupostos, Nóvoa (2009, p. 21) destaca a importância da  participação dos docentes nos movimentos pedagógicos ou das comunidades de prática,  definindo como espaços ricos em ideias, pesquisas e inovações, nos quais discutem e  elaboram perspectivas comuns sobre o ensino, aprendizagem e os desafios profissionais,  permitindo que se apropriem dos processos de mudança e se “[…] transformem em  práticas concretas de intervenção”.  

Por fim, o processo de formação continuada de professores de Matemática consiste na socialização de saberes, reflexão da prática, constitui parcerias no mundo  profissional, viabilizando leituras e discussões acerca do pensar e fazer pedagógica,  promove uma cultura para autonomia, liberdade, transformação e valorização, além de  desencadear ações emancipatórias no cenário educativo, à luz de uma convivência  estabelecida por meio do diálogo, da experiência, da aquisição de valores e do respeito  cultural.  

Desse modo, a formação continuada propõe a ampliação de novos olhares  pedagógicos, por meio de um ambiente cooperativo de reflexão e ação, para que os  profissionais docentes, se vejam, se organizem e atuem como sujeitos políticos, ingressados em um espaço histórico, cultural e social. 

3.2 Currículo em Espiral: concepção e significado 

Para esse caminhar discursivo, mergulhamos na literatura de Jerome Bruner, o  qual, mostra em seu livro “Sobre a Teoria da Instrução” (2006), as implicações do  Currículo em Espiral para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática e para  outras áreas do conhecimento. Na sua visão, o currículo estabelece um conjunto de  saberes que são socialmente elaborados a partir do ato existencial, vivencial e cultural,  na qual, a escola se encontra imersa nesse complexo campo de reprodução e ação social.  

Nesse sentido, a Teoria da Instrução proposta por Bruner (2006), “[…] é  prescritiva, no sentido de que expõe regras com relação à forma mais efetiva de adquirir  um conhecimento ou habilidade”. Ela também é normativa, porque “[…] propõem  critérios e determinam as condições para encontrá-los”.  

Mergulhado nessa abordagem, o autor (1996) descreve que, a ideia do Currículo  em Espiral foi concebida a partir de um esboço intuitivo de um domínio de  conhecimento, levando em consideração o aluno, professor, os problemas sociais e  culturais, além, de evidenciar fatores de ordem cognitiva, que influenciavam na  aquisição do conhecimento. Assim, a abordagem para o processo de educação com  significado, levou-o à construção de um Currículo em Espiral, oportunizando os  estudantes a vivenciarem várias alternativas de aprendizagens.  

Para esse autor (1996), os currículos escolares precisam refletir os valores  culturais, sendo explicitados nos planos de ações escolásticos, ressaltando valores que  enriqueçam os espaços e a vida dos estudantes, de modo que estes se sintam filhas e  filhos do meio onde estão inseridos. Ressalta ainda, a relevância do currículo  democrático, como uma forma educativa para consciência comunitária e libertadora com  propriedades transformadoras para o respeito multicultural. Além disso, reprime o  currículo subterrâneo, sublinhando que é uma forma de exprimir atitudes racistas e  discriminatórias, e, mostra que, a escola deve ser um espaço político e de mudança, e  não de alienação. 

Em diálogo com esse pensamento, Freire (2000) menciona que a educação é um  ato político, cultural e social, na qual deve demandar um discurso com abordagem  reflexiva, existencial e histórica, devendo assim, proporcionar liberdade de criar, de  reescrever o mundo, de estimular a criatividade crítica e servir de inspiração para superação coletiva do medo. A educação não pode ser vista como um treino de palavras,  uma transferência de conteúdos, um adestramento, um exercício de adaptação ao mundo,  mas deve ser uma construtora de sonhos com propostas reais para a transformação e  libertação. Dessarte, a educação é teimosia e tem historicidade, pois, é permanente, e, se  encontra num processo de constante evolução. 

Bruner (2015), explica a necessidade de elaborar currículos que reflitam a  estruturação básica das disciplinas com seus respectivos conteúdos, requerendo uma  compreensão ampla e significativa no campo do saber. Esta elaboração, reelaboração e  revisão devem se apoiar na investigação e na participação ativa dos professores nos  encontros de formação continuada, com objetivos de melhorar a prática educacional, e,  para o enfrentamento dos desafios científicos, sociais e culturais. Nesse sentido, o  Currículo em Espiral expõe que, qualquer ciência pode ser ensinada de forma simples,  dinâmica, participativa e criativa, traduzindo ponderação e cuidados na transmissão da  matéria, pois destaca que pode ser ensinada de forma genuína, podendo futuramente ser  retomado, revisitado e aprofundado, quando necessário para atender as finalidades da  aprendizagem.  

No que diz a respeito ao Currículo em Espiral, Bruner (2008, p. 109 – 110) afirma  que, os conteúdos podem ser ensinados de forma justa, desde que respeite o estágio  cognitivo de cada estudante, e que, 

[…] as ideias são apresentadas primeiramente de forma e linguagem honesta, embora imprecisa, que pode ser entendida por crianças, ideias que podem ser posteriormente revisitadas com grande precisão e potência, até que finalmente o estudante alcance a recompensa do domínio. […] o conteúdo pode ser ensinado a quaisquer indivíduos, em qualquer idade de forma justa.

Nesse esboço de construção e significado, o Currículo em Espiral propõe o  ensino por descoberta, consistindo-se em uma forma significativa de estimular o ensino  por meio da investigação, inserindo o estudante em uma cultura de conhecimento e  reconhecimento, respeitando as leituras de mundo e suas concepções. Bruner (2008, p.  92) anuncia que, a descoberta “[…] auxilia a criança a aprender uma variedade de formas  para resolver problemas e transformar a informação para melhor utilização, ou seja,  ajuda a aprender como lidar com a tarefa de aprender”. Este processo coloca o professor  como mediador do conhecimento. À vista disso, professor e estudante aprendem juntos,  e, compartilham saberes.  

Assim, o ensino por descoberta é uma forma honesta ensinar um indivíduo de  qualquer idade, respeitando suas visões de mundo e o estágio de vida, , fazendo-o perceber o seu universo por meio de suas experiências e situações cotidianas. Nesse  sentido Bruner (2008, p. 92) salienta que: 

A ênfase na descoberta dentro do processo de aprendizagem tem precisamente o efeito de levar o aprendiz a ser um construcionista, a organizar o que ela encontra de forma não somente estruturada para descobrir regularidades e relações como também evita o tipo de desvio de informações que falha ao avaliar os usos que tal informação poderia ter. (…), além disso, auxilia a criança a aprender uma variedade de formas para resolver problemas e transformar informações para uma melhor utilização, ou seja, ajuda a aprender como lidar com a tarefa de aprender. 

Para o autor (2008), uma estrutura de ensino apresentada de forma honesta,  significa uma maneira organizada, sequenciada, simples e dinâmica de expor um  conteúdo, evidenciando atividades que conduzam o estudante a vivenciar diferentes  experiências, para aquisição do conhecimento com significado. Nesse sentido, ele  (1996, p. 12) destaca que:

O conhecimento adquirido é mais útil ao aluno, sobretudo quando ele é “descoberto” através dos esforços cognitivos do próprio aluno, pois fica então relacionado com o conhecimento anterior e usado em referência a ele. Tais atos de descoberta são enormemente facilitados pela própria estrutura do conhecimento, pois, por mais complicado que seja qualquer domínio do conhecimento, ele pode ser representado por formas que o tornem acessível  através de processos de elaboração menos complexa.

Ao olhar para o ensino por descoberta numa perspectiva investigativa, conduz a  um campo de significação, uma vez que, favorece o desenvolvimento de habilidades que  estimula o raciocínio, viabiliza a manipulação, intensifica o processo de representação,  desperta curiosidade e instiga a construção de diferentes estruturas para a compreensão  do objeto em estudo. Neste processo, o estudante resgata, cria e recria novos modelos  de aprendizagem, ampliando as competências cognitivas, reflexiva e analítica em prol  do crescimento intelectual, formativo e integrador. 

Nesse sentido, Lorenzato (2008, p. 82) pontua que, “A descoberta pode não ser  o caminho mais curto ou rápido para o ensino, mas é o mais eficiente para a  aprendizagem. É interessante notar que a descoberta possibilita a reconstrução do  conhecimento, quando necessário, porque valoriza a compreensão”. 

No contexto da descoberta, o ensino se torna mais atrativo, dinâmico e  motivador, possibilitando a articulação de atividades impregnadas de significados e  disseminando a criatividade e a curiosidade, de forma que, o estudante participa  ativamente do processo de aprendizagem. 

De acordo com Ostrower (2010, p. 5), “A natureza criativa do homem se elabora  no contexto cultural”. E, “[…] se desenvolve em uma realidade social, em cujas  necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vida”. Nesse  sentido, Bruner (2008, p. 31) evidencia que, o “(…) ato criativo pode levar o homem a  uma nova dignidade”.  

Com enfoque nesse diálogo, Freire (1996, p. 24 – 25) afirma que, aprender “[…]  é um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador”. Assim, “[…] quanto mais criticamente se exerça a capacidade  de aprender mais se constrói e desenvolve […]” a curiosidade, por sua vez, estimula  a capacidade do estudante de arriscar-se e aventurar-se no campo do conhecimento.  Para o autor (1996, p. 32), não há “[…] criatividade sem a curiosidade”, pois, essas  habilidades nos movem e nos põe “[…] pacientemente impacientes diante do mundo que  não fazemos, acrescentando a ele algo que fazemos”. 

Assim, no processo de ensino e aprendizagem da matemática por descoberta é  uma estratégia investigativa, criativa e participativa, em que estudante e professor  constroem o conhecimento de forma coletiva, avivando a compreensão para resolução  de problemas e a estruturação linguística para o entendimento das conjecturas  matemáticas. Essa é uma forma heurística de sensibilizar e despertar o gosto pela  matemática, com vista nas aplicabilidades contextuais no cotidiano, uma vez que,  transcreve e oportuniza a elaboração de atividades contextualizadas centradas na leitura  e na interpretação de fatos ou eventos vivenciais, como também, na construção de  materiais didáticos visuais como materiais alternativos para o desenvolvimento da  aprendizagem.  

3.3 Abordagem teórica acerca de currículo 

No campo do currículo da Matemática, tem-se ampliado novos fluxos culturais,  combinando conteúdo com informações cotidianas, passando por reformulações e  mudanças contextuais, com o propósito de desmistificar, processar novos valores e  conhecimentos, apresentando uma natureza holística, contextual, multidisciplinar,  contextualizada e interdisciplinar para ressignificação da aprendizagem. Assim, a  aprendizagem se fundamentaliza na natureza social, cultural e científica, e, se integra a  partir da exploração de novas alternativas de ensino, impulsionando a construção e  reconstrução de novos conhecimentos. De acordo com D’Ambrosio (1986, p. 44) , “[…] o verdadeiro espírito da Matemática é a capacidade de modelar situações reais, codificá-las adequadamente, de maneira a permitir a utilização das técnicas e resultados  conhecidos em um outro contexto, novo”.  

Nessa linha de raciocínio, o currículo é uma construção sociocultural, composto  por um agrupamento de ações que norteia o trabalho educativo nas instituições escolares,  compreendendo um conjunto de saberes, que, se estabelece a partir das relações  históricas, culturais e sociais. Consiste em uma construção coletiva e social, circundado  por movimento de lutas, disputas e tensões pela ocupação territorial dos saberes.  “Nesses movimentos se mostram as delimitações dos significados dos campos de  conhecimento, seus processos (discursos e métodos) e o sentido dos sentidos na vida das  pessoas envolvidas” (Feldmann, 2009, p. 73).  

Para Libâneo (2013), o currículo é um núcleo de instruções, que estabelece  conexões entre o ensino e a aprendizagem, apresentando orientações, princípios,  diretrizes, competências, habilidades, disciplinas (conteúdos, objetivos, estratégias e  atividades), métodos, técnicas e procedimentos para validação do conhecimento. Nesse  sentido, autor (2013) expõe que, o currículo é um projeto socializador, pois, deve estar  incorporado aos contextos históricos, ajudando a ver e compreender as transformações  sociais, culturais, tecnológicas e científicas, servindo de inspiração e orientação para as  entidades escolares, não como um documento engessado, mas como um documento em  constante transformação e construção. 

Desse modo, o currículo se funde num sistema de ações concretas, que se  substancia ou se concretiza nas condições práticas do cotidiano, por meio de processos e contextos diversificados e complexos. Seguindo essa interpretação, Sacristán (2000,  p. 17) fala que, o currículo é marcado pelo “[…] o conflito de interesses dentro de uma  sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos”.  

Dessa forma, o currículo se projeta e se modela em uma realidade sociocultural,  cujos instrumentos e objetivos se concentram na especificidade da realidade escolar.  Ao se estabelecer nessa complexidade, o currículo se concretiza nas bases de uma  práxis educativa, configurando-se dentro de um mundo caracterizado por  transformações, mudanças, intenções e valores. Ao tratar de currículo como práxis  educativa, Sacristán (2000, p. 15 -16) pontua que:

O currículo é uma práxis antes de um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tão pouco se esgota na parte explícita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos ensino. […] É uma prática na qual se estabelece um diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam, etc.

Com vista na construção do currículo, Goodson (2018), menciona que a escola  não pode se deter somente aos ensinamentos propostos pelas diretrizes curriculares, mas,  precisa investigar os processos informais em diferentes perspectivas, com o objetivo de  subsidiar e transformar o conhecimento numa visão crítica e consciente. Para isso, é  necessário que os educadores estabeleçam uma relação prática para a construção de um  currículo igualitário, insistindo na primordialidade do diálogo e da mutualidade em  defesa da reconstrução do conhecimento transformador. 

Sendo assim, o currículo é um projeto de caráter social, fundamentado a partir  de várias concepções teóricas, e, elaborado numa variedade de áreas e níveis, e, se  estabelece por meio de normas, critérios e significados. Para Goodson (2018, p. 85) ,  “[…] devemos adotar plenamente o conceito de currículo como uma construção social,  primeiramente em nível da própria prescrição, mas depois também em nível de processo  e prática”.  

Para Freire (2005, p. 100 – 106), o currículo é constituído por um conjunto de  temas geradores que estão em diálogo com o cotidiano, produzindo ações  existenciais acerca de ser no mundo, cultura e história. É, por meio da ação educativa  transformadora, os sujeitos refletem a “[…] sua situação no mundo em que se constitui”.  Então, a relação sujeito e mundo, se faz mediante da reflexão e da transformação da  realidade, posicionando-se como “[…] seres da práxis”.  

De acordo com a BNCC (2017), o currículo contém um conjunto de orientações,  princípios, propostas, decisões e valores, devendo se adequar a realidade de cada  instituição de ensino, levando em consideração o contexto e as características dos alunos,  com o intuito de assegurar a aprendizagem. Assim, propõe ações essenciais para a “[…]  formação e o desenvolvimento humano global em suas dimensões intelectual, física,  afetiva, social, ética, moral e simbólica”. Desse modo, o currículo se estrutura a partir  do processo de envolvimento, participação e cooperação, apresentando um campo de  ações integrativas para o desenvolvimento de competências e habilidades, para a  potencialização e ampliação de novos cenários de aprendizagens.  

Para intensificação desse cenário curricular, a BNCC (2017, p. 16 – 17), faz referência ao conjunto de ações, tais como: 

• contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas; 

• decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem; 

• selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.; 

• conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens; 

• construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos; 

• selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender; 

• criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem; 

• manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curricular para os demais educadores, no âmbito das escolas e sistemas de ensino.

Como foco nessa abordagem, Fiorentini et al. (2003, p. 73), relata que é  fundamental que docentes tenham conhecimento e entendam o currículo matemático no  contexto escolar e como este, vincula-se à disciplina de matemática, “Isso inclui o  aprofundamento dos tópicos matemáticos escolares, uma ampla compreensão dos  conceitos matemáticos significativos e de como eles relacionam-se com outras partes do  curriculum”. O autor (2003) destaca a importância de conhecer a matemática tendo em  vista o seu discurso, a abstração, modelos, construções, argumentos, demonstrações,  definições, exemplos e contra-exemplos, comunicando e conectando as ideias  matemáticas com contextos do cotidiano, além de considerar essencial, o  desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas. 

Portanto, o currículo apresenta componentes que estruturam o processo de  ensino, modelando ações que definem o processo de aprendizagem, por isso, a cultura  curricular precisa ser flexível, projetando propostas que desenvolvam componentes  contextuais com significados, definindo-se como prática política, social e pedagógica,  constituindo bases para uma educação transformadora. 

3.4 Uma breve discussão acerca de currículo e formação de professores de  Matemática 

A discussão de currículo de Matemática com abordagem no Currículo em Espiral  na formação continuada de professores, visa compreender e ampliar a função educativa,  concebendo um leque de reflexões para o planejamento e organização de novas ações  para o trabalho na sala de aula, adequando-se às mudanças e transformações sociais e  culturais, pondo em evidência os desafios que condicionam tanto a realidade escolar  quanto a do cotidiano dos discentes e docentes, criando uma relação de conhecimento,  significado e aprendizagem.  

Assim, compreende-se o currículo matemático como percursos de movimentos  e mudanças, adequando-se às realidades contextuais do cotidiano, incorporando  questões sociais e culturais, trilhando novas configurações pedagógicas,  proporcionando diferentes alternativas de ensino e novas formas de aprendizagens,  definindo ações que potencializem o processo investigativo, descrevendo assim, múltiplas  possibilidades e modelos, com a função de ressignificar o processo de aprendizagem  para crianças, jovens e adultos.  

Desse modo, a configuração curricular se acentua na construção e reconstrução  de novos cenários matemáticos dentro da literatura escolar, pautado-se no diálogo e na  produção compartilhada de diferentes saberes, norteado por uma conexão temática reflexiva acerca do ensino com significado, por meio da implementação de ferramentas  de ensino, projetando novos cenários para apropriação do conhecimento. 

Com vista nos desdobramentos curriculares, a escola se depara com os desafios  vivenciados no seu cotidiano, uma vez que, professores se defrontam com uma clientela  bem diversificada, exigindo cada vez mais da escola e do professor, fazendo-os assumir  uma postura pedagógica construtivista, requerendo ações que possam inovar o ensino,  daí, percebe-se a necessidade do aperfeiçoamento da práxis docente, no sentido de  buscar diferentes culturas que proporcione a aprendizagem com significado. Nesse  aspecto, Charlot (2008, p. 26) pontua que:

Ser construtivista implica em despertar nos alunos um desejo de aprender, acompanhá-los numa caminhada cheia de obstáculos superados, de erros retificados, de problemas resolvidos, de angústias, de mal-entendidos, de incompreensões. Ser construtivista é trabalhar num mundo afetiva e intelectualmente turvo.

Diante desse cenário, o autor (2008, p. 21 – 26) esclarece que, muitos dados em relação injunção construtivista é negligenciada o que diz a respeito ao trabalho docente na  sociedade contemporânea, pois, estes profissionais se deparam com alguns obstáculos  na sua prática pedagógica, como: rejeição dos estudantes em relação às atividades construtivistas, os desafios em mobilizá-los e adequação da ação ao contexto. Posto  isso, a instituição escolar da sociedade contemporânea exige tanto do professor quanto  do estudante resultados, impregnando a nota “[…] como função central do ensino”,  cobrando do discente uma formação ambiciosa “[…] visando cada vez mais à nota e não  o saber”.  

Diante dessas contradições, o circuito formativo é um espaço de reflexão acerca  dessas tensões que circunda a centralidade da escola e o trabalho docente. Com base  nessa configuração, Nóvoa (2009, p. 62) esclarece que o trabalho escolar tem dois  grandes objetivos, “[…] por um lado, a transmissão e apropriação dos conhecimentos e  da cultura; por outro lado, a compreensão da arte do encontro, da comunicação e da vida  em conjunto”.  

Assim, o processo de formação continuada de professores de Matemática oportuniza diferentes abordagens de um trabalho coletivo, pois, é um espaço de convívio  democrático, mobilizando o processo de ensino e aprendizagem de forma consciente e  valorosa.  

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

O manuscrito estabelece uma conexão entre formação continuada de professores  de Matemática em uma dimensão reflexiva, dialógica, social e cultural, levando-os a  refletir acerca do fazer pedagógico e a valorização pessoal e profissional. À luz dessa  discussão, evidencia-se as implicações do Currículo em Espiral como proposta de  ensino com significado, inserindo o professor e o estudante de campo de investigação, para construção de novos saberes. 

Nesse base nesse contexto, apresenta-se o seguinte esquema:

Fonte: própria

Assim, a formação docente compreende uma relação de saberes, experiências,  sociedade e cultura, integrado ao desenvolvimento humano e profissional. O processo  de formação continuada se dá por meio da apropriação do conhecimento consciente,  participação ativa no processo educativo, compreensão do papel profissional e das diferentes leituras de mundo, refletindo ações que contribuam para gestão da  organização curricular. Nesse sentido, a organização curricular é uma construção social,  considerando as necessidades escolares, incluindo seus sujeitos e a diversidade cultural.  

No contexto de construção e significado, apresenta-se o Currículo em Espiral,  propondo alternativas para ressignificar o processo de ensino e aprendizagem. A sua  contribuição é proporcionar o ensino por descoberta por meio de processos criativos e  investigativos, colocando professor e estudante na centralidade do processo educativo. 

A partir dessas discussões, percebe-se a importância de dialogar a relação teoria  e prática nos processos de formação continuada de professores, visando a compreensão  do currículo, mobilização e articulação de propostas de ensino com significado para  apropriação de novos conhecimentos, e, aperfeiçoamento da prática pedagógica, com  vista em uma postura crítica, construtiva e democrática. 

5. COMENTÁRIOS FINAIS 

A escrita do texto convergem para o aprofundamento e ampliação do saber  docente, promovendo um diálogo entre formação continuada de professores de Matemática, Currículo em Espiral, percorrendo algumas bases teóricas em relação ao  estudo de Currículo, com embasamento na literatura, favorecendo um intercâmbio entre  a cultura docente, saberes e aprendizagens.  

Desse modo, é importante que o docente compreenda o seu papel na sociedade e  os desafios que circunda o seu exercício profissional, para isso, torna-se substancial o  apoio em outros colegas para o fortalecimento da prática, superação e crescimento por intermédio dos encontros formativos. 

Nesse contexto, a formação continuada de professores de Matemática consiste  na socialização de saberes, reflexão da prática, parceria com o mundo profissional,  leituras e discussões acerca do pensar e fazer pedagógico. Nesse sentido, abre-se um  leque de possibilidades para estudo, construção e ação, levando o docente a refletir sobre  o processo de ensino e aprendizagem, e, a importância da participação coletiva na  construção da organização curricular. Essas ações, se enquadram em uma percepção de  diálogo, criticidade, engajamento e ação mútua, constituindo estratégias para investigação.  

Assim, o foco desse estudo é promover uma reflexão acerca do pensar e fazer  educativo, por meio da leitura e do diálogo respeitoso, com fundamentações teóricas e  concepções cultivadas na prática docente.  

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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1Mestra em Educação pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Curso de Especialização em  Qualificação do Ensino de Matemática no Estado do Ceará pela UFC – Universidade Federal do Ceará.  Curso de Especialização Lato Sensu em Matemática pela Universidade Regional do Cariri – URCA.  Professora da Rede Estadual do Ceará (SEDUC – Secretaria de Educação do Ceará).  

2Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação de Ensino de Ciências e Educação Matemática da  Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Doutorado em Ensino de Física pela Universidade Federal do  Rio Grande do Sul (UFRGS/ 2018). Professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Física da Universidade  Regional do Cariri (URCA/ CE), Professor Permanente e Vice Coordenador do Mestrado Profissional em  Ensino de Física (URCA/Polo31), Professor Permanente do Programa de Mestrado Profissional em  Educação da URCA. 

3Pós-doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual  do Ceará-UECE. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará- UFC/CAPES-DS. Professora  Adjunta da Universidade Federal do Cariri – UFCA, Professora Permanente do Mestrado Profissional em  Educação da Universidade Regional do Cariri (MPEDU/URCA), Professora do Mestrado Profissional em  Filosofia da Universidade Federal do Cariri (PROF-Filo/UFCA) em parceria com a UFPR, Professora do  Mestrado Profissional em Saúde da Família da Universidade Federal do Cariri (PROF-SAÚDE/UFCA) em  parceria com a FIOCRUZ. Líder do Grupo de estudos e pesquisas (auto)biográficas em formação docente, interseccionalidade e currículo – GEPAFIC.