REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7312090
Lívia Pereira Gall¹
Rosiene Gomes De Freitas¹
Wollace Scantbelruy2
RESUMO
Atualmente, uma das síndromes demenciais, que tem se tornado uma das preocupações da sociedade em geral, é a DA (Doença de Alzheimer). Pois a cada ano é assustador o número de indivíduos acometidos por este tipo de demência. Os mais afetados, são pessoas a partir de 60 anos. Por se tratar de uma doença que foi descoberta na década de 50, estudos continuam sendo realizados, com o objetivo de descobrir uma forma eficaz de tratamento. Este trabalho, visa apresentar, acerca do Alzheimer e suas alterações na função cognitiva e suas consequências nos aspectos psicológico/comportamental do indivíduo. O texto também dará ênfase às formas de tratamento farmacológico e não farmacológico. Apresentará também novas formas terapêuticas no alívio dos sintomas, dentre ela a musicoterapia como instrumento importante na reabilitação de pacientes idosos com a doença de Alzheimer.
Palavras Chaves: Doença de Alzheimer, musicoterapia, reabilitação, idosos.
1. Introdução
A doença de Alzheimer ou DA é uma doença que recentemente se tornou o foco de muitos estudos científicos, pois devido ao aumento de casos diagnosticados, entre a população de 60 anos ou mais, tornou-se uma preocupação para o público em geral, passando a ser considerada um problema de Saúde Pública. A DA, atinge não apenas o indivíduo acometido por ela como também familiares e amigos mais próximos.
Estudos preveem um crescimento no número de casos, nos anos posteriores. De acordo com pesquisadores dessa área, não existe até o momento, a cura total da doença, embora alguns tratamentos, ajudem a retardar a progressão da doença. Além disso, outros tratamentos ajudam a reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida, do indivíduo.
Dentre eles, a mais comum é a farmacologia, além disso, existem outros tipos de terapias sem base farmacológica, que ao serem acrescentada ao tratamento, causam efeitos positivos em pacientes que são submetidos a tais formas de tratamento. Um exemplo disso é a musicoterapia, a qual tem se tornado um instrumento terapêutico bastante utilizado na reabilitação de pessoas com a Doença de Alzheimer.
Com base nessa idéia, verificou-se que em indivíduos acometidos por esse tipo de demência, ao serem submetidos ao tratamento, através da musicoterapia como instrumento terapêutico no processo de reabilitação, têm apresentado melhorias no dia-a-dia, com relação a intensidade dos sintomas.
Com isso, destaca-se a importância de buscar novos tipos de terapias, que ajude os pacientes a não ficarem completamente dependentes do uso de terapia medicamentosas, mas que possam buscar novas alternativas que favoreçam o desaceleramento dos sintomas da doença.
A partir de uma breve argumentação, este trabalho, tem como objetivo, analisar os impactos da musicoterapia, em pacientes idosos acometidos pela Doença de Alzheimer. Com o intuito de alcançar objetivo, inicialmente, foram aprofundados e discutidos, conteúdos acerca do Alzheimer, suas consequências, no processo do envelhecimento, além do conceito da musicoterapia, sua importância e efeitos quando utilizada como instrumento terapêutico em idosos, no processo de reabilitação D. Posteriormente, identificou-se os desafios encontrados no dia-a-dia do paciente. E por fim, verificou-se os efeitos da musicoterapia e sua importância como instrumento terapêutico no alívio de sintomas do DA.
Dentre as várias contribuições oferecidas por este estudo, destaca-se a musicoterapia, como instrumento terapêutico, que tanto tem contribuído de forma positivamente no alívio dos sintomas, em pacientes idosos no processo de reabilitação da Doença de Alzheimer.
A intenção de se pesquisar, discutir e aprofundar acerca do tema, se deu a partir do aumento de casos de indivíduos na etapa do envelhecimento, que foram diagnosticados com a doença de Alzheimer, com ênfase na musicoterapia, como instrumento terapêutico.
- Metodologia
O presente artigo, foi construído com base em uma pesquisa bibliográfica de revisão descritiva, envolvendo uma abordagem qualitativa. A pesquisa descritiva é a análise ou pesquisa documental que pode ser realizada por historiadores a partir de fontes como cartas, relatórios, documentos arquivados em órgãos públicos, associações e sindicatos, diários, fotos etc. (SILVA; SILVEIRA, 2014).
A pesquisa buscou, apresentar a temática de forma mais ampla e abrangente, para que o leitor tenha uma visão mais detalhada e esclarecida sobre o objeto de estudo. Considerando que os pressupostos básicos da pesquisa qualitativa são a preocupação primária com os processos, não se limitando diretamente ao resultado. (KENECHTEL, 2014).
O levantamento de dados foi realizado nas plataformas virtuais de caráter científico, Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Google Academico, Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC), biblioteca virtual em Saúde (BVS) Portal da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ), Através da Análise de conteúdos relacionados à temática, (livros, artigos, periódico, dentre outros). O presente artigo, elaborado a partir da análise de 25 artigos, 3 livros de autores renomados, sobre o conteúdo abordado. A pesquisa utilizou textos escritos ou traduzidos exclusivamente em língua portuguesa, publicados entre os anos 2010 a 2022. Após a seleção dos textos, foi feita a leitura aprofundada, a análise e a discussão dos textos, comparando os conceitos, convicções e opiniões de cada autor, sublinhando as convergências e divergências existentes. Em seguida se fez o fichamento dos textos, para favorecer a construção do desenvolvimento do artigo.
3. As consequências da Doença de Alzheimer no processo do envelhecimento
Organização das Nações Unidas (2020), revela que a população a partir de 60 anos ou mais está crescendo a uma taxa de cerca de 3% ao ano. Em todo o mundo, a população idosa está crescendo mais rapidamente do que qualquer faixa etária mais jovem. O número de idosos em 2017 é duas vezes maior que em 1980, pois deve dobrar até 2050, e o crescimento nas regiões em desenvolvimento é ainda mais rápido, especialmente o número de pessoas com 80 anos ou mais, deve triplicar em 2017 e 2050 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2016).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2020) O número de indivíduos com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050, isso representará um quinto da população mundial.
No Brasil, em 2018, a população de pessoas com 65 anos ou mais é de 10,53% (NERI, 2020). Conforme dados do Ministério da Saúde, em 2030, estima-se que o número de idosos brasileiros ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos. É nesse contexto de envelhecimento populacional que se observa o crescimento de quadros demenciais. No Brasil a prevalência é de 7,1% na população geral, sendo de 20 a 25 % na população com 85 anos ou mais do percentual total 55%, é demência de Alzheimer (CAIXETA, 2016).
A Doença em destaque, causa profundas transformações tanto na vida de quem é acometido pela mesma, quanto na vida dos familiares e amigos próximos. Trata-se de uma patologia neurodegenerativa, que apresenta sintomas como deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades da vida diária, diferentes sintomas neuropsiquiátricos e alterações comportamentais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
A DA é caracterizada pela piora progressiva dos sintomas. Na fase leve podem ocorrer sinais de depressão, diminuição do interesse por atividade de lazer, perda de memória recente, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade na tomada de decisões. Na fase moderada manifesta-se incapacidade de cozinhar e de arrumar a casa, ir ao supermercado fazer compras, dependência de outras pessoas, dificuldades evidentes como rotina do dia a dia, demonstrando perda da memória, alterações de comportamento, ideias sem nexo e alucinações. Na fase grave ocorre prejuízo motor podendo ser necessário o uso de dispositivos e cadeira de rodas ou ficar acamado, prejuízo gravíssimo da memória, dificuldade para alimentar-se agravada pela incapacidade na deglutição, incapacidade de compreender o que se passa ao redor e de orientar-se dentro de casa, e ainda pode haver incontinência urinária e fecal e intensificação de comportamentos constrangedores (ABRAZ, 2020).
Dessa maneira, a pessoa idosa fica gradativamente mais dependente de um(a) cuidador(a) e esse torna-se fundamental na promoção da saúde e bem-estar na vida da pessoa com DA.
Para estudiosos desse campo de pesquisa, A DA, é considerada a doença degenerativa mais comum, com apenas, a metade dos casos diagnosticados e desse total somente um terço se submetem ao tratamento.
Para Resende et al., (2017) o aumento duplicado, do número de casos que se prevê futuramente, nas próximas décadas, fez com que o Alzheimer se tornasse um problema de Saúde Pública, preocupante.
O Ministério da Saúde ( 2020), partindo desse mesmo princípio, esclarece que a DA, ocasiona mudanças acentuadas não somente na vida de quem sofre a doença quanto na vida dos que convivem juntos no dia-a-dia. Por se tratar de uma patologia neurodegenerativa, apresenta sintomas como: deterioração cognitiva da memória, comprometimento progressivo das atividades da vida diária, diferentes sintomas neuropsiquiátricos e alterações comportamentais.
Sob tal ótica, Resende et al., (2017), constatam que no aspecto psicológico/comportamental, as perturbações tornam-se aparentes desde o início da progressão, e isso poderá desencadear tendência ao isolamento, à apatia, à falta de interesse e retirada gradual das atividades. Além disso, eles alegam que, tais perturbações são frequentemente associadas à irritabilidade, agressão e reações emocionais incaracterísticas por caracterizar-se histopatologicamente, pela maciça perda sináptica e pela morte neuronal observada nas regiões cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas, incluindo o córtex cerebral, o hipocampo, o córtex entorrinal e o estriado ventral.
Considerando essas constatacões, Naird e Samson (2015) aludem que, a previsão é que a ocorrencia crescente desse tipo de demência se converterá em uma das prioridades na área da Saúde Pública como também se tornará um dos desafios no campo social e economico da atualidade.
3.1. Formas de tratar os sintomas da Doenca de Alzheimer
Para Zanella et al.,(2016), a cultura ocidental, possui uma visão permeada pela ótica biomédica predominante, repleta de discursos de âmbito curativo e medicalizante. Segundo esses autores, apesar de os medicamentos aliviarem os sintomas da DA, é importante considerar que até o momento, não há compravações de cura para tal demência.
Da mesma forma, verifica-se que, além da eficácia do uso da medicação ser limitada, nota-se a presença de efeitos iatrogênicos nos pacientes, o que faz com que se possa vislumbrar novas perspectivas para além do medicamento e a procura por tratamentos não farmacológicos (VINKAT et al., (2011) como citado em BAIRD e SAMSON, 2015).
Vale ressaltar, como exemplo de efeito iatrogênico, a manifestação dada quando pacientes de Alzheimer são submetidos a tratamento com drogas neurolépticas e ansiolíticas, que podem causar danos graves ao estado motor do indivíduo, podendo levar a morte prematura (GALLEGO e GARCÍA, 2017). Por outro lado, os fármacos anticolinesterásicos e memantina possuem efeitos considerado baixos na cognição, fazendo com que haja a necessidade de aumentar as doses para se obter o efeito esperado (TAN et al., 2014 como citado em GALLEGO e GARCÍA, 2017).
Para incentivar a procura por terapias alternativas, para se evitar a total dependência de drogas medicinais, estudos foram realizados com diferentes tipos de terapias capazes de gerar melhorias no aspecto psicológico, com maior qualidade de vida e bem-estar físico, favorecendo com isso uma maior integração social em pacientes com DA (DE LA RUBIA ORTÍ et al., 2018).
De acordo com esses autores, a música nessa circunstância, é considerada uma das formas terapêuticas bastante favorável para os pacientes, com relação à defesa de habilidades no aspecto da socialização, e da expressão, melhorando o quadro depressivo, a ansiedade e irritabilidade.
4. A musicoterapia e sua importância no alívio dos sintomas do Alzheimer
4.1. O que é a musicoterapia?
A música é considerada um elemento de grande importância para o convívio social, por estar sempre presente no dia-a-dia das pessoas. Pois segundo, Cocentino (2015), a música não está estritamente ligada a ruídos, sons de objetos externos, mas é algo ligado ao mundo interno de cada indivíduo por se tratar de algo que toca as emoções, sentimentos, causando uma sensação de prazer e bem-estar. E ainda segundo esse mesmo autor, a música é constituída relevante modo de expressão e de entretenimento tanto para os indivíduos como para grupos.
E alem disso, a música é uma fonte mediadora capaz de favorecer o autoconhecimento e fortalecer integração das relações humanas, já que a influência e presença da mesma podem ocorrer a todos os tipos de pessoas em que a vivenciam e a significam de acordo com suas subjetividades (COCENTINO, 2015).
Nessa mesma ótica, Vargas (2010), realça que, a música sempre esteve inserida na vida do ser humano desde o início das civilizações e de diferentes modos em todas as culturas, pois estas, a utilizam como recurso para diferentes fins em cada uma delas. Segundo esse autor, durante séculos, a música foi aplicada de forma intuitiva para intervir no tratamento terapêutico, resgatando o equilíbrio, tanto do corpo como do espírito, particularmente quando outras ações não apresentavam efeitos positivos.
É importante observar que, a música sempre esteve presente em vários rituais importantes na vida do ser humano em sociedade. Um exemplo disso são as diferentes melodias, apropriadas para cada momento como: casamento, aniversário, músicas de ninar, músicas para festas cívicas, para rituais religiosos, para funerais etc. Dessa forma, verifica-se que a música é um elemento presente em todas as culturas do mundo, das mais primitivas e desprovidas de conhecimentos tecnológicos às mais avançadas.
Tabarro (2010, p.446) dicionário específico de música, traz uma definição, desta, como a arte de combinar os sons de modo a agradar ao ouvido e, pondo em ação a inteligência, ela é capaz de falar aos sentimentos e comover a alma.
Porém, Lobato (2011), parte da premissa que, a música aparentemente, imita certas características da linguagem, transmitindo emoções semelhantes à comunicação verbal, mas de uma forma não referencial e não específica. Ela também mobiliza as mesmas regiões neurais e, com maior intensidade que a linguagem, a música é captada pelas estruturas “cerebrais primitivas” envolvidas com a motivação, o prazer e a emoção.
A musicoterapia, segundo Monteiro e Fermoseli (2014) é um processo organizado que tem como propósito a adaptação de um objetivo terapêutico, envolvendo o cérebro em sua totalidade, promovendo estímulos satisfatórios através da utilização da música, equilibrando os aspectos físicos, mentais e emocionais. Com isso vê-se os benefícios que a música é capaz de provocar na vida dos indivíduos.
Aleixo, Santos e Dourado (2017) definem a musicoterapia como um meio terapêutico que faz uso de recursos musicais como ritmos, instrumentos e melodias para estimular as funções cognitivas e proporcionar uma melhora do bem-estar social e emocional. Pois a música além de possui uma relação profunda com as emoções, ela recorda as lembranças que de uma forma ou de outra, marcaram a vida dos seres humanos. Com base nessa idéia, a musicoterapia pode se tornar um recurso favorável para indivíduos acometidos por alguma síndrome demencial, tornando-os capazes de expressar suas emoções e diminuir os índices de agitação.
Para uma melhor compreensão a respeito, a Federação Mundial de Musicoterapia(WFMT, 2011) a musicoterapia é o uso profissional da música e de seus elementos. Sua utilização pode ocorrer em diversos espaços como; educacionais, médicos, no cotidiano de pessoas, famílias ou comunidades que desejam otimizar o bem-estar e a qualidade de vida. Como citado em WFMT (2011), “pesquisa, prática, educação e treinamento clínico em musicoterapia são baseados em padrões profissionais de acordo com contextos culturais, sociais e políticos” (WFMT, 2011, p.1).
A partir dessa concepção, entende-se que a musicoterapia, é portanto o emprego profissional da música, com base em estudos científicos de determinação diagnóstica e terapêutica. Dessa forma, a Associação Americana de Musicoterapia (AMTA, 2006) complementa a definição, enfatizando a importância de se planejar intervenções utilizando a musicoterapia para controlar o estresse, suavizar a dor, tornar melhor a memória e a comunicação e proporcionar oportunidades para que as pessoas possam interagir melhor entre si.
4.1.1 Os efeitos provocados pela música no cérebro
De acordo com Muszkat (2015), a experiência musical modifica o cérebro em termos estruturais e pode-se distinguir a maneira como a música é processada em músicos e não músicos, pois em músicos o processamento das melodias ocorridos se dá prioritariamente no hemisfério cerebral esquerdo, já nos não que não são músicos, o processo é realizado preferencialmente no hemisfério direito.
Nesse contexto, Baird e Samson (2015) destacam que os músicos tem maior probabilidade em recrutar ambos os hemisférios do cérebro ao executar tarefas musicais e, isso faz com que utilizem várias estratégias, em vez de uma somente, para efetuar atividades de cognição musical.
Existem estudos que comprovam o aumento da plasticidade cerebral adquirido através da música, ocasionando maior volume no córtex auditivo, aumento na concentração de massa cinzenta no córtex motor, e crescimento do corpo caloso anterior. Ainda assim, não há comprovação de que as mudanças no cérebro de músicos foram estimuladas pelo estudo da música ou de que já havia uma certa predisposição relacionada ao desenvolvimento delas antes da realização do estudo musical (ROCHA e BOGGIO, 2013).
Um aspecto importante que, Muszkat (2015), enfatiza, com relação ao treino musical, é que este aumenta tanto o tamanho quanto a conectividade cerebral, resultando com isso, uma maior quantidade de sinapses entre os neurônios de variadas áreas do cérebro, como: corpo caloso, que une um hemisfério a outro do cérebro; o cerebelo e o córtex motor, são envolvidos durante a execução de instrumentos.
Consequentemente, vários circuitos neurais são ativados pela música, sendo que o aprendizado musical abrange habilidades multimodais, que vão desde a integração de várias funções cognitivas, como a memória e a atenção, até as áreas de associação corporal e sensorial, que estão envolvidas na linguagem simbólica e corporal (MUSZKAT, 2015).
Nesse sentido, Omigie e Samson (2014), consideram que o treinamento musical pode equivaler a uma maior capacidade de reserva cerebral, como também à percepção de estímulos simultâneos.
4.1.2 Música e farmacoterapia
Através de um estudo realizado por Giovagnoli et al., (2017), foi possível observar uma determinada influência da combinação da musicoterapia e da farmacoterapia em pacientes com a DA. Pois, segundo esses autores, a Doença de Alzheimer pode impactar negativamente a linguagem, já, a combinação da musicoterapia e memantina, somada aos inibidores da acetilcolinesterase (AchEI), podem ajudar na melhora da comunicação.
Na visão de Adreasen e Black (2009 como citado em Giovagnoli et al., 2017), a memantina tem como efeito, provocar melhora cognitiva, mesmo que ela não tenha influência na prevenção ou regressão da doença, ela é capaz suscitar uma variedade de resposta a cada indivíduo.
Além disso, Giovagnoli et al.,(2017) apresentaram o efeito da combinação de memantina e musicoterapia em pacientes com a DA moderada, comparando com a memantina, em seu efeito isolado, considerando a terapia estável com inibidores da acetilcolinesterase em ambos os grupos. O experimento foi realizado com 45 pacientes, dos quais, (31 eram mulheres, com média de idade de 73,2) foram organizados dois grupos de forma aleatória: um dos grupos foi submetido ao tratamento utilizando a memantina e musicoterapia, e para o segundo, foi aplicada o tratamento, somente com a memantina.
Os resultados apontaram que a musicoterapia, adicionada à farmacoterapia não tem benefícios extraordinários, para a linguagem ao ser comparada com a farmacoterapia isolada. No entanto, o tratamento integrado pode melhorar o perfil psico-comportamental dos pacientes.
Em outros estudos realizados por, Li et al., (2015) e Ridder et al. (2013), com medicação e musicoterapia, onde foi avaliado o efeito musicoterapêutico na medicação, porém, não foram encontrados efeitos de grande relevância estatisticamente entre musicoterapia e medicação. Entretanto, esses mesmos autores afirmam que, por mais que a musicoterapia não tenha benefícios impactantes na cognição global e no funcionamento diário em pacientes com a DA, é importante perceber que há um efeito cognitivo adstrito na abstração, que leva a musicoterapia a ser utilizada como tratamento complementar na DA. Tal comprovação se deu através da análise mais complexa dos domínios cognitivos, através do “Cognitive Abilities Screening Instrument” (CASI), onde se observou um domínio maior do abstrato no grupo de musicoterapia e uma melhora na memória de curto prazo.
4.2 Os efeitos da musicoterapia na reabilitacão de idosos com DA
Em seu livro denominado “Alucinações Musicais”, Sacks (2015), destaca a o uso da música e seus elementos como intervenção, em pacientes com a DA. Em geral, idosos acometidos por essa doença, apresentam sinais possíveis de se perceber, um exemplo concreto, são as memórias passadas, as quais são relembradas continuamente pelos pacientes, já as memórias recentes, são difíceis de serem lembradas. E com o avançar da doença, a memória global do paciente vai ficando cada vez mais comprometida.
Nesse sentido, a inserção da música torna-se um fator importante, já que ela movimenta as funções cerebrais, estabelecendo contato com a memória, restituindo lembranças e reconstruindo novas histórias. Neste cenário, Alcantara Silva (2014) ressalta que as intervenções não farmacológicas incluindo medidas psicossociais, além da reabilitação cognitiva através da musicoterapia podem auxiliar na reabilitação cognitiva do paciente com DA.
Em um estudo realizado, avaliou-se o desempenho dos pacientes com a DA, utilizando testes de funções musicais, foi possível constatar que a estimulação da memória musical, torna-se um mecanismo plausível para a reabilitação dos pacientes com a DA (CORREIA, 2010). Essa primeira evidência sustenta a musicoterapia como fator de melhoria do espectro cognitivo e comunicativo dos pacientes com a DA (GUETIN et al., 2013). Logo, o objetivo deste trabalho foi analisar os efeitos obtidos através da intervenção utilizando a musicoterapia em pacientes com a DA, principalmente no que se refere aos sintomas comportamentais e perda cognitiva.
Há também estudos que revelam que, apesar do comprometimento da memória ser um sintoma característico da DA, a memória para músicas que são familiares ainda é bem conservada, mesmo em estágios graves da doença. Já, a memória de informações verbais é severamente prejudicada (CUDDY et al,. 2015).
Existem também, estudos que demonstram a capacidade de aprender a tocar novas músicas (FORNAZZARI et al., 2006 como citado em BAIRD E SAMSON, 2015). Mesmo assim, a noção de que a memória para a música é preservada em pacientes com DA não deixou de ser questionada.
Conforme Baird e Samson (2015), existem diferentes formas de memórias musicais que podem ser distintamente comprometidas na DA. A esse respeito, pode ocorrer em alguns indivíduos situações em que a memória musical implícita, especificamente processual, ou a capacidade de entoar uma música e tocar um instrumento musical não serem prejudicadas na DA. Não obstante, a memória musical explícita ou o reconhecimento de melodias pode sofrer prejuizos significativos.
Outrossim, mesmo com todas as observações feitas a respeito da equiparação de memória musical e seus prejuízos na DA, podem ser indicados estudos que revelam melhora significativa na memória de pacientes com a Doença de Alzheimer, através do tratamento musicoterapêutico.
É relevante citar o estudo feito por Di Cavalcanti, Valente e Menezes (2016), no qual realizaram uma pesquisa com 12 indivíduos diagnosticados com a DA e mais 17 adultos, considerados saudáveis. A pesquisa, teve como resultado, a confirmação da hipótese de que as informações de conteúdo geral em letras ao serem acompanhadas de melodias, podem ser lembradas com mais facilidade às estudadas somente com letras faladas. Esse mesmo estudo, constatou impacto positivo, provocando melhora na memória de conteúdo geral nos indivíduos diagnosticados com a DA e também nos adultos que não tinham a doença.
Ademais, os autores desse estudo realizado, acentuam que a música também pode favorecer a confiança metamemorial, ou seja, a capacidade que o indivíduo possui de memorizar. Além do mais, as músicas de efeitos mnemônicos, provocam benefícios para o funcionamento de memórias gerais, podendo favorecer uma qualidade de vida, melhorando a depressão, a ansiedade e também a função cognitiva. E com isso, considera-se a importância da musicoterapia como tratamento complementar, capaz de provocar melhoria significativa na vida em geral de portadores da DA (Di Cavalcanti et al., 2016).
Johnson e Chow (2015), apontam que a literatura, mostra como se dá o processamento musical, pois este, acontece diversas vezes, de forma diferenciada em pessoas que apresentam com algum tipo de demência. Sabe-se que, pessoas que sofrem com doenças neurodegenerativas, sofrem danos comuns no sistema auditivo central, entretanto, na DA existem exemplos de casos que demonstram que há uma relativa preservação das habilidades musicais, relacionada as capacidades O estudo foi realizado com 30 idosos e 24 jovens adultos, onde eram aprendidos textos apenas falados e, em outro momento, textos adaptados para música. Mediu-se a recordação logo após a atividade e alguns minutos depois da atividade, mediu-se novamente a recordação. Com relação ao primeiro objetivo, observou-se que, apesar dos idosos apresentarem um declínio nos processos de codificação e recuperação mnemônica em comparação com adultos jovens, as letras cantadas foram mais lembradas do que as faladas em curto prazo. Enquanto que na capacidade de determinar a condição emocional, os resultados mostraram que a familiaridade com a música não é o único elemento importante para um maior aprimoramento musical da aprendizagem verbal em idosos, pois a letras cantadas mostram-se melhores que as faladas na terceira idade, mas apenas quando a música associada é validada positivamente (RATOVOHERY et al., 2018).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa utilizada na elaboração deste artigo, apresenta a música como parte da construção de aspectos sociais e culturais do indivíduo. dada a relação que o indivíduo tem com a música, as técnicas de musicoterapia tornam-se um valioso recurso de intervenção no tratamento de idosos acometidos pela Doença de Alzheimer.
Neste sentindo, mostrou-se que demência é uma síndrome cerebral progressiva que afeta a memória, o pensamento, o comportamento e as emoções. Embora cada processo seja individual, em algum momento as pessoas com demência não conseguem mais cuidar de si mesmas e precisam de ajuda em todas as suas atividades. Observou-se que a música é uma ótima estratégia terapêutica que pode ser associada ao tratamento de pessoas com a DA. Viu-se que pessoas acometidas por doenças neurovegetativas se tornam totalmente dependentes, se mostram mais agressivas, inquietas, com déficits de memória e deterioração motora e cognitiva.
Constatou-se que a musicoterapia não substitui o tratamento farmacológico porem, ela pode oferece ao paciente, uma melhora significativa nas relações sociais, principalmente por meio da facilitação da expressão através da música, que afeta a esfera física, social, mental e emocional do indivíduo, suavisando os sintomas e proporcionando uma melhor qualidade de vida para o paciente. Ressalta-se que no decorrer das buscas por teorias sobre a temática, foi observou-se a escassez de estudos com ênfase em terapias não farmacológicas, que auxiliem no tratamento da DA.
Vê-se a necessidade de maiores investimentos, em novos voltados para terapias alternativas de fácil acesso para a população, como é o caso da musicoterapia, que pode se tornar uma grande aliada, na reabilitacao de idosos portadores da Doença de Alzheimer. Diante dos benefícios demonstrados pelo uso da musicoterapia durante este estudo, sugere-se, sua incorporação como ferramenta no manejo de pacientes diagnosticados com Alzheimer, pois seu uso traz benefícios de forma não invasiva e custo-efetiva, que oferece a esses idosos uma qualidade de vida ainda melhor, apesar dos sintomas da doença.
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¹Discentes Graduandas do curso de Graduação em Psicologia do Centro Universitário FAMETRO.
²Docente Orientador Especialista do Curso de Graduação em Psicologia do Centro Universitário FAMETRO.