REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291050
Giovanna Fernandes Misiunas ¹
Camila Schneider Cavalini ²
Guilherme Vasconcelos de Souza ³
Rafaela Sleman Cardoso dos Santos ⁴
Claudia Polubriaginof 5
INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae que acomete a pele, os nervos periféricos, os olhos e a mucosa nasal. A transmissão ocorre através de perdigotos provenientes do nariz e da boca no contato próximo e constante com casos não tratados. Observa-se uma prevalência mais acentuada em populações que vivem em condições com maior vulnerabilidade social, e com o tratamento nas fases iniciais da doença é possível prevenir as diversas sequelas, tais como incapacidades físicas.
Um indicador importante para o monitoramento da hanseníase é o Grau de Incapacidade Física (GIF), uma escala que padroniza as incapacidades resultantes da hanseníase. Essa doença pode progredir com divergentes tipos e graus de incapacidade. Ademais, o GIF é um informador da vigilância e da evolução dos casos. A sua classificação ocorre em três graus: zero (sem incapacidades), 1 (presença de incapacidades decorrentes do acometimento neural) e 2 (presença de incapacidades e deformidades físicas). Em 2022 teve um total de 9.554 casos, sendo Grau de Incapacidade Física 2 (GIF 2), representando uma taxa de 1,2 casos por 1 milhão de habitantes — cerca de 5,5% a mais do que em 2021.
No mundo, em 2022, foram registrados 174.087 casos novos de hanseníase, correspondendo a uma taxa de detecção de 21,8 casos por 1 milhão de habitantes. Índia, Brasil e Indonésia reportaram mais de 10 mil casos novos de hanseníase cada. O Brasil permanece em segundo lugar no ranking mundial em número de casos novos, o que o classifica como um país prioritário para a hanseníase pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Globalmente, em 2022 o número de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos foi de 10.302, o que corresponde a uma taxa de 5,1 casos por 1 milhão nesse grupo etário e a um aumento de 14,6% em relação a 2021.
A hanseníase afeta pessoas de ambos os sexos e idades, com tudo observou-se um aumento equivalente de casos novos na população com 60 anos e mais de idade está associado à diminuição da transmissão da doença.
Apesar de diversos estudos abordarem a prevalência de hanseníase no Brasil, nota-se uma lacuna literária quanto à análise de hanseníase em idosos, comparando-os a outros grupos etários nas diferentes regiões do país nos últimos 5 anos. O presente estudo ecológico tem como objetivo, proporcionar uma visão abrangente de hanseníase em idosos, comparando-os a outros grupos etários nas regiões brasileiras. Tal abordagem contribui para uma compreensão mais detalhada da carga da doença, auxiliando na formulação de políticas de saúde pública mais eficazes. É necessário abordar o tema em questão e fornecer uma visão integrada e comparativa dos grupos etários e suas diferentes regiões do país.
METODOLOGIA:
Um estudo transversal observacional, de abordagem quantitativa realizado a partir da análise das notificações de hanseníase no Brasil, no período de 2018 a 2023, visando a prevalência das faixas etárias em cada ano nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Todos os dados de notificações por hanseníase foram coletados utilizando o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN), por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) associado ao Ministério da Saúde, coletados utilizando a ferramenta de tabulação TABNET. A pesquisa ocorreu em setembro de 2024, sendo o período temporal avaliado de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Os dados coletados foram inseridos na plataforma Microsoft® Excel, sendo as variáveis analisadas: região do território brasileiro (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-oeste), faixa etária: (0 a 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 39 anos, 40 a 59 anos, 60 a 64 anos, 65 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos ou mais), raça/cor da pele (branca, negra, amarela e indigena), escolaridade (Sem instrução e Ensino Fundamental incompleto, Ensino Fundamental completo e Médio incompleto, Ensino Médio completo e Superior incompleto, Ensino Superior completo) classificação operacional (Paucibacilar e Multibacilar) forma clínica (Indeterminada, Tuberculóide, Dimorfa e Virchowiana) grau de incapacidade física no diagnóstico dentre os casos avaliados (Grau 0, Grau 1 e Grau 2) .
A partir dos dados coletados do DATASUS, foram avaliadas as prevalências das cinco regiões brasileiras separadamente durante o período de estudo. As informações foram analisadas e tabuladas no Microsoft® Excel. Após estimar as prevalências, a situação geral foi pesquisada a partir da média das prevalências, variáveis das regiões e suas faixas etárias.
As bases de dados utilizadas neste estudo são de domínio público, não envolvem a identificação dos indivíduos e respeitam as recomendações éticas da Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
No período analisado, o número total de casos de hanseníase em idosos (acima de 60 anos) foi de 87.427 e em todas as faixas etárias foi de 358.372. Os dados revelam uma distribuição regional notavelmente desigual dos casos de hanseníase em idosos no Brasil (Quadro 1).
Quadro 1: Número absoluto e proporções de casos novos de hanseníase, segundo características epidemiológicas e clínicas, por faixa etária. Brasil 2013-2023
Variáveis | Faixa etária | |||
Todas as faixas | Idosos (60 ou mais) | |||
n | % | n | % | |
Total | 358.372 | 100,00% | 87.427 | 100,00% |
Sexo | ||||
Masculino | 203.980 | 56,92% | 53.332 | 61,00% |
Feminino | 154.366 | 43,07% | 34.084 | 38,99% |
Forma clínica | ||||
Indeterminada | 41.509 | 11,58% | 6.623 | 7,58% |
Tuberculoide | 43.940 | 12,26% | 9.921 | 11,35% |
Dimorfa | 174.494 | 48,69% | 43.607 | 49,88% |
Virchowiana | 64.362 | 17,96% | 18.411 | 21,06% |
Não classificada | 21.576 | 6,02% | 5.533 | 6,33% |
Modo de entrada | ||||
Caso novo | 286.267 | 79,88% | 71.103 | 81,33% |
Outros (Transferências, Recidivas) | 72.105 | 20,12% | 16.324 | 18,67% |
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
A Região Nordeste destacou-se como o principal foco da doença, acumulando 152.595 casos em todas as faixas etárias e 39.139 casos especificamente entre idosos. Além disso, a Região Norte também apresentou um número elevado de casos em idosos, com 12.672 registros (Gráfico 1).
A Região Centro-Oeste, com 16.537 casos em idosos, também figura entre as áreas de maior incidência, refletindo uma conjunção de fatores urbanos e rurais que favorecem a disseminação da hanseníase. As Regiões Sudeste e Sul, com 15.162 e 3.917 casos respectivamente, apresentaram uma menor proporção de notificações entre idosos (Gráfico 1).
Gráfico 1: Distribuição do número de internações, segundo região
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Na distribuição dos casos por sexo, a hanseníase apresentou uma clara predominância entre os homens idosos, que contabilizaram 53.332 casos ao longo do período analisado, enquanto 34.084 casos foram notificados entre as mulheres. Quando considerados todos os sexos, o padrão se mantém, com 203.980 casos entre homens e 154.366 casos entre mulheres.
Na análise por faixa etária entre idosos, a hanseníase apresentou variação significativa, conforme mostra a figura 1. A maioria dos casos foi registrada entre indivíduos de 60 a 69 anos, com 37.774 casos notificados, refletindo uma fase da vida em que o sistema imunológico pode estar começando a declinar, tornando esses indivíduos mais suscetíveis a infecções crônicas como a hanseníase. A faixa etária de 70 a 79 anos registrou 26.210 casos, enquanto 11.351 casos foram reportados entre aqueles com 80 anos ou mais. Analisando todas as faixas etárias, o total acumulado foi de 358.363 casos entre 2013 e 2023, confirmando que, embora a hanseníase seja comumente considerada uma doença que afeta todas as idades, ela continua a ser um grande desafio de saúde pública entre a população idosa.
Quanto à frequência por ano de notificação, os dados anuais mostram flutuações na notificação de casos de hanseníase entre idosos. O ano de 2019 destacou-se como o período de maior incidência, com 9.010 casos entre idosos, seguido por uma queda acentuada em 2020, que teve apenas 6.206 casos. Essa redução pode ser atribuída, em parte, ao impacto da pandemia de COVID-19, que interrompeu muitos serviços de saúde pública, incluindo os programas de diagnóstico e tratamento de hanseníase. No total geral, 2019 também foi o ano com o maior número de notificações em todas as faixas etárias, com 36.626 casos, enquanto 2020 teve a menor notificação, com 23.645.
Com relação aos dados referentes ao modo de entrada, a grande maioria dos casos de hanseníase entre os idosos foi registrada como novos casos, totalizando 71.103 entre os 87.427 casos notificados. Isso reflete a contínua propagação da doença na população, particularmente em áreas onde o acesso ao tratamento preventivo pode ser limitado. No total de todas as faixas etárias, 286.267 casos foram identificados como novos diagnósticos, o que representa uma porção significativa do total de 358.372 casos notificados no período analisado. Os outros modos de entrada, incluindo transferências entre municípios e estados e casos de recidiva, compõem uma menor proporção dos casos, mas ainda indicam falhas no seguimento e controle da doença, especialmente em áreas de alta mobilidade populacional.
A avaliação da incapacidade física ao diagnóstico fornece uma visão crítica sobre o impacto da hanseníase entre os idosos. Dos 87.427 casos notificados entre indivíduos com 60 anos ou mais, 37.774 foram classificados com grau zero de incapacidade, indicando que esses pacientes não apresentavam sinais visíveis de comprometimento nervoso no momento do diagnóstico. No entanto, 26.210 idosos foram diagnosticados com grau I, revelando perda sensorial inicial, enquanto 11.351 casos apresentaram grau II, o que significa que esses indivíduos já sofriam de incapacidades mais graves, como deformidades visíveis e perda de função. A análise de todas as faixas etárias segue um padrão semelhante, com 113.510 pacientes apresentando algum grau de incapacidade ao diagnóstico (Gráfico 2).
Gráfico 2: Avaliação da incapacidade física
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Além disso, as formas clínicas mais graves da hanseníase predominam entre os idosos. A forma dimorfa, caracterizada por lesões mais disseminadas e uma maior carga bacilar, foi a mais frequente, com 43.607 casos entre os idosos, seguida pela forma virchowiana, associada a uma resposta imunológica ainda mais debilitada e mais difícil de tratar, com 18.411 casos. A forma tuberculóide, menos grave e com menor potencial de transmissão, foi registrada em 9.921 casos. Quando observamos todas as faixas etárias, os dados refletem a mesma tendência, com a forma dimorfa sendo a mais comum, com 174.494 casos, enquanto as formas virchowiana e tuberculóide somaram 64.362 e 43.940 casos, respectivamente.
Em relação às internações, o Sistema Único de Saúde (SUS) contabilizou 44.284 hospitalizações por hanseníase entre 2013 e 2023, sendo a maioria entre homens (29.075) e um número expressivo também entre mulheres (15.209). A faixa etária com maior número de internações foi de 30 a 49 anos, com 15.361 internações. Entre os idosos, destacam-se 3.694 internações na faixa dos 70 a 79 anos, e 1.925 internações em indivíduos com 80 anos ou mais (Gráfico 3).
Gráfico 3: Distribuição do número de internações, segundo faixa etária, no intervalo de 2013 a 2023
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Além disso, entre 2013 e 2023, o Brasil registrou 1.599 óbitos causados pela hanseníase, com uma predominância de casos entre homens (1.167 óbitos) em comparação com mulheres (431 óbitos). A maior concentração de óbitos ocorreu na Região Nordeste, com 716 mortes ao longo do período, seguida pela Região Sudeste (322 óbitos) e Norte (230 óbitos). A faixa etária mais afetada em termos de mortalidade foi a de idosos com mais de 70 anos, particularmente entre 70 e 79 anos, onde foram registrados 318 óbitos, e acima de 80 anos, com 299 óbitos (Gráfico 4).
Gráfico 4: Distribuição do número de óbitos, segundo faixa etária, no intervalo de 2013 a 2023
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
DISCUSSÃO
O presente estudo revelou uma distribuição regional desigual dos casos de hanseníase no Brasil, com maior concentração nas regiões Nordeste e Norte, especialmente entre a população idosa. Entre 2013 e 2023, dos 358.372 casos notificados, 87.427 ocorreram em pessoas com mais de 60 anos, destacando a importância de direcionar políticas de saúde para essa faixa etária. Observou-se uma predominância de casos entre homens idosos, com 53.332 casos em comparação a 34.084 entre mulheres. Essa diferença de gênero sugere a necessidade de abordagens específicas para o diagnóstico e tratamento em homens. As formas clínicas mais graves, como a Dimorfa e a Virchowiana, foram predominantes entre idosos, indicando um quadro de maior gravidade para indivíduos dessa faixa etária e a necessidade de intervenções médicas mais agressivas e precoces como ato de prevenção de futuras incapacidades. A maioria dos casos em idosos foi registrada como novos diagnósticos, os quais em sua maioria já constavam incapacidade física. Isso sugere falhas na detecção precoce e destaca a necessidade de melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento, especialmente em áreas distantes das grandes metrópoles brasileiras.
Os resultados desse estudo revelam um cenário alarmante em relação à prevalência da doença, ao impacto funcional e às desigualdades regionais. A alta incidência entre idosos, o diagnóstico tardio e as formas clínicas graves estão associadas a fatores socioeconômicos, falhas no sistema de saúde e limitações imunológicas decorrentes do envelhecimento. A comparação desses resultados com a literatura revela percepções essenciais sobre os fatores que influenciam o curso da hanseníase nessa população, além de destacar áreas prioritárias para intervenção e políticas de saúde pública.
Os dados apresentados mostram que as Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste concentram o maior número de casos de hanseníase entre idosos, com o Nordeste registrando 39.139 casos, refletindo as condições socioeconômicas adversas nessas regiões. Fato o qual, é enfatizado por outro estudo que abrange a mesma faixa etária avaliada, pontuando que as áreas de maior endemicidade, como o Nordeste e Centro-Oeste, são caracterizadas por pobreza, baixa escolaridade e acesso limitado aos serviços de saúde (Rocha, et al, 2020) (3). Além disso, a baixa escolaridade e a renda insuficiente foram características prevalentes entre os idosos afetados pela hanseníase, assim como identificado no estudo realizado em Fortaleza, que apontou que 60% dos idosos acometidos pela doença tinham renda inferior a dois salários-mínimos e 70% tinham menos de quatro anos de escolaridade (Nogueira, et al, 2017)(1). Essas condições socioeconômicas estão diretamente relacionadas ao atraso no diagnóstico e à dificuldade de acesso ao tratamento, o que foi corroborado pelo estudo direcionado à população nordestina, que revelou que 45,9% dos participantes tinham apenas 0-4 anos de escolaridade, o que contribuiu para o atraso no reconhecimento dos sintomas e do tratamento dos mesmos (Santos, et al, 2024) (2)
Os dados deste estudo mostraram que 53.332 homens foram diagnosticados com hanseníase no período analisado, destacando uma predominância masculina significativa. Este padrão está em acordo com os achados referentes à população idosa, que registrou que 65,7% dos casos em idosos eram de homens, atribuindo isso a fatores como a menor busca por cuidados médicos por parte dos homens e a influência de fatores hormonais e imunológicos (Rocha, et al, 2020) (3). Tal fato, é um fator determinante para sua maior prevalência da doença, visto que o cuidado com a saúde não é uma prática comum masculina . Além disso, o estigma social relacionado à hanseníase ainda é uma barreira significativa para a detecção precoce, especialmente em homens mais velhos, que tendem a evitar buscar tratamento até que a doença tenha progredido para estágios mais graves. Dessa forma, os dados apresentados corroborados por outros estudos que abordam o público masculino ( Gomes, et al, 2007) (6) e (Araujo, et al, 2015) (4), evidenciam um desafio adicional no combate à doença.
Conforme apontado pelos dados, o diagnóstico tardio foi uma questão central, com 11.351 idosos apresentando grau II de incapacidade física, o que confirma que a hanseníase geralmente é identificada em estágios mais avançados. Ao comparar esses dados com outro artigo que também abordou essa questão, (Araujo, et al, 2015) (4), percebe-se que o estigma social exacerbado pelo envelhecimento contribui para o atraso no diagnóstico entre idosos do sexo masculino, o que frequentemente resulta em formas multibacilares da doença consequentemente a um mal prognóstico.
O presente estudo mostrou que os casos de hanseníase em idosos são expressivos e que vem aumentando durante os anos, ao contrário das demais faixas etárias que apresentaram queda de casos. Estudos mostram uma situação preocupante de aumento do número de casos na faixa etária acima de 60 anos, porção da população com declínio da função imune e maior suscetibilidade à doenças (Araujo, et al, 2015) (4). Em um contexto de envelhecimento populacional acelerado, essa situação evidencia uma lacuna significativa no cuidado integral à saúde dos brasileiros. Apesar dos avanços nas políticas públicas, o sistema de saúde brasileiro ainda enfrenta desafios para atender às demandas complexas e crescentes dos idosos. Entre os idosos, as formas mais graves de hanseníase foram predominantes, com 43.607 casos da forma dimorfa e 18.411 da virchowiana. A imunossenescência, ou seja, o declínio do sistema imunológico com a idade, foi um fator crucial que facilitou a manifestação das formas graves da hanseníase. Tal constatação é corroborada por demais estudos epidemiológicos, destacando que idosos com reações hansênicas, como neurites, apresentaram uma maior prevalência de incapacidades físicas (Nogueira, et al, 2017)(1).
A revisão integrativa sobre hanseníase na pessoa idosa, enfatiza que a imunossenescência é um dos principais fatores que tornam os idosos mais suscetíveis à hanseníase multibacilar, resultando em uma carga bacilar mais elevada e maior transmissibilidade (Santos, et al, 2019) (5). Adjunto a isso, o mesmo artigo menciona que a combinação de hanseníase e comorbidades, como hipertensão e diabetes, agrava o declínio funcional dos idosos, o que compromete ainda mais a sua qualidade de vida e eleva o risco de incapacidades permanentes
Um dos desafios mais críticos enfrentados pelos idosos com hanseníase, identificado por este estudo, foi o diagnóstico tardio. Entrave o qual também foi pontuado por outro artigo que destacou que 54,2% dos participantes relataram não buscar atendimento imediatamente após o início dos sintomas, e 83,1% deles subestimaram a gravidade dos sinais da doença. Além de que a falta de capacitação dos profissionais de saúde em áreas endêmicas resultou em erros de diagnóstico em 25,8% dos casos, contribuindo para o atraso no tratamento e para o agravamento da condição física dos idosos (Santos, et al, 2024) (2). Esses dados são consistentes com os resultados aqui apresentados, que mostraram que 11.351 idosos já apresentavam grau II de incapacidade no momento do diagnóstico. Essa condição é frequentemente associada a diagnósticos tardios e à falha em detectar a doença em seus estágios iniciais, como reforçado pelo artigo (Araujo, et al, 2015) (4), que alertou sobre a necessidade de um diagnóstico mais rápido na atenção primária.
Outrossim, as comorbidades desempenham um papel crucial no agravamento da hanseníase em idosos. Ao se basear no artigo voltado ao estudo da capacidade funcional dos idosos com essa patologia, nota-se que 35% dos idosos com hipertensão estágio 2 tiveram maior dificuldade em realizar atividades físicas diárias. Além de que o impacto das reações hansênicas, como neurites, também foi significativo, com 20% dos idosos apresentando limitações funcionais em atividades que exigiam esforço físico, como reparos domésticos (Nogueira, et al, 2017)(1). Há também o fato de que o índice de massa corporal (IMC) afeta diretamente a funcionalidade dos idosos com hanseníase, com 25% dos idosos com baixo peso apresentando dependência funcional acentuada (Santos, et al, 2019) (5).. Esses dados reforçam a necessidade de um acompanhamento holístico desses pacientes, considerando não apenas o tratamento da hanseníase, mas também a gestão de suas comorbidades para minimizar o impacto na capacidade funcional.
A comparação entre idosos e outros grupos etários destaca que os idosos são desproporcionalmente afetados pelas formas graves da hanseníase e pelas incapacidades físicas, 14,5% dos idosos apresentavam Grau de Incapacidade Física 2 (GIF2), enquanto esse percentual variava entre 7,5% a 11% em grupos mais jovens (Rocha, et al, 2020) (3). Esses dados reforçam a necessidade de políticas de saúde mais eficazes voltadas para o diagnóstico precoce e tratamento da hanseníase entre idosos, visando reduzir a progressão da doença para estágios mais graves.
Os resultados e a literatura destacam a urgência de fortalecer a vigilância ativa e de capacitar os profissionais de saúde, especialmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em áreas endêmicas. O artigo referencial voltado à análise da visibilidade da doença, recomenda uma maior integração entre as políticas de saúde voltadas para a hanseníase e o cuidado ao idoso, com foco no diagnóstico precoce e na reabilitação (Araujo, et al, 2015) (4). Campanhas de conscientização também são essenciais, como ressaltado por demais estudos relacionados, que enfatizam a importância de envolver famílias e cuidadores no reconhecimento dos sinais da doença (Santos, et al, 2019) (5).
Os dados utilizados neste estudo foram obtidos do Datasus, que é o sistema público de informações sobre a saúde no Brasil. Assim, uma limitação deste estudo é não incluir dados sobre os serviços da rede privada, que são oferecidos por instituições não conveniadas ao SUS. Caso ocorra uma saturação dos leitos da rede pública ou um aumento do número de pessoas com planos de saúde, ou ainda um crescimento na capacidade de pagamento para contratação de serviços privados, a população pode ter optado por buscar atendimento fora do sistema público de saúde. Além disso, este é um estudo observacional transversal não sendo possível realizar associações de causa e efeito entre as variáveis analisadas.
CONCLUSÃO
Os dados deste estudo, corroborados pela literatura, indicam que a hanseníase entre idosos no Brasil é um problema de saúde pública de grande magnitude. A alta prevalência de casos graves, o diagnóstico tardio e as incapacidades físicas permanentes ressaltam a necessidade urgente de políticas de saúde mais eficazes. O diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a reabilitação são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos idosos afetados pela hanseníase. Além disso, é crucial fortalecer a atenção básica e as estratégias de conscientização para reduzir o estigma associado à doença e incentivar a busca precoce por tratamento.
A análise dos dados de hanseníase em idosos, com base em dois conjuntos de informações provenientes do DATASUS e cobrindo o período de 2013 a 2023, oferece um panorama detalhado da dinâmica da doença no Brasil. Os resultados revelam padrões importantes em termos de distribuição geográfica, demográfica e clínica, além de fornecer uma visão aprofundada sobre a gravidade da doença e seu impacto sobre a funcionalidade dos pacientes idosos. Ao examinar tanto as características epidemiológicas gerais quanto as particularidades do comportamento da hanseníase em diferentes regiões e populações, este estudo contribui para uma compreensão mais clara das áreas prioritárias para intervenção.
REFERÊNCIAS
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Graduanda em Medicina pela Universidade Santo Amaro¹
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Ciências da saúde de Porto Alegre2
Graduando em Medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública³
Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Valença4
Mestre em Ciências Humanas. Professora Universitária do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro5