UM PANORAMA DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS EM PERNAMBUCO

AN OVERVIEW OF ACCIDENTS CAUSED BY VENOMOUS ANIMALS IN PERNAMBUCO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10156577


Luan Antônio dos Santos Cabral¹
Milena Nayara Silva²
Maria Rafaela da Silva Ferreira²
Núbia Rafaela da Costa Amaral Soares²
Azriele Kauane de Souza Santos²
Maria Jose da Silva²
Carla Daniele da Silva Ferreira¹
Kleberson Jonata da Cruz Tavares¹
Carlos Danilo da Silva²
Maria Thaysa Monteiro¹


RESUMO

Os animais peçonhentos brasileiros são animais dotados de glândulas especiais que produzem e secretam venenos por meio de defesa instintiva e mecanismos de caça. O presente trabalho tem como objetivo analisar os casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos registrados no estado de Pernambuco. Trata- se de um estudo epidemiológico descritivo dos casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan net. O estado apresentou 21.754 notificações de acidentes envolvendo animais peçonhentos (2017-2022).

Palavras-chaves: animais peçonhentos. DATASUS. Saúde pública.

ABSTRACT

Brazilian venomous animals are animals equipped with special glands that produce and secrete poisons through instinctive defense and hunting mechanisms. The present work aims to analyze cases of accidents involving venomous animals registered in the state of Pernambuco. This is a descriptive epidemiological study of cases of accidents involving venomous animals reported in the Notifiable Diseases Information System – Sinan net. The state presented 21,754 notifications of accidents involving venomous animals (2017-2022).

Keywords: venomous animals. DATASUS. Public health.

INTRODUÇÃO

Os animais peçonhentos brasileiros são animais dotados de glândulas especiais que produzem e secretam venenos por meio de defesa instintiva e mecanismos de caça. As substâncias tóxicas excretadas resultam da atividade metabólica e são liberadas através de estruturas específicas desenvolvidas no corpo, como quelíceras, agulhas e presas de aranhas, escorpiões e cobras respectivamente. É por isso que os animais com esse aparelho de síntese e inoculação de veneno são chamados de animais peçonhentos (CARDOSO et al, 2003).

Exemplos desses animais são cobras, aranhas, escorpiões, centopéias, taturanas, vespas, formigas, abelhas e vespas. Seu conhecimento é vital, pois suas toxinas podem causar danos muito graves à saúde e levar à morte (MACHADO, 2016).

Eles são encontrados em todo o país, tanto em ambientes urbanos quanto rurais, e a maioria dos acidentes ocorre em residências porque as pessoas são descuidadas e não prestam atenção à presença dos animais, que injetam veneno quando se sentem ameaçados. O objetivo é imobilizar o atacante e escapar em segurança (AZEVEDO MARQUES, CUPO, HERING, 1992).

Acidentes causados por animais peçonhentos são um grave problema de saúde pública no Brasil, com aproximadamente 100 mil notificados anualmente, segundo o Ministério da Saúde brasileiro. Aranhas, escorpiões e cobras são os animais mais importantes, pois causam mais acidentes e, em alguns casos, intoxicações muito graves. Os escorpiões são os principais culpados, com 45% dos acidentes relatados em 2012 sendo causados por escorpiões, 20% por cobras, 18% por aranhas e outros animais peçonhentos causados por 17% (ARÊA LEÃO DE OLIVEIRA et al, 2018).

O presente trabalho tem como objetivo analisar os casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos registrados no estado de Pernambuco.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Animais peçonhentos são caracterizados por glândulas que produzem e expelem veneno pelo mecanismo instintivo de defesa ou caça. Possuem um aparelho inoculador que injeta esse veneno em suas presas, e variam de acordo com as espécies, como as presas, agulhões, quelíceras que são respectivamente, das serpentes, dos escorpiões, e das aranhas. Por esse motivo, os animais que possuem esse aparato de inoculação são denominados animais peçonhentos (CARDOSO et al, 2003).

No Brasil, os acidentes causados por esses animais constituem um problema grave de saúde pública e ocorrem principalmente em locais com enchentes, entulhos, ou alta vegetação. Eles representam cerca de 100 mil notificações por ano, segundo o Ministério da Saúde. E os animais que mais ocasionam são algumas espécies de serpentes, abelhas e escorpiões (ARÊA LEÃO DE OLIVEIRA, 2018; MACHADO, 2016).

Serpentes

Ocorre o envenenamento quando a serpente consegue injetar o conteúdo de suas glândulas, porém nem toda picada leva ao envenenamento porque há espécies de cobras que não possuem venenos, e quando estão presentes, se localizam na parte de trás da boca, dificultando a injeção da toxina (BOCHNER; STRUCINER, 2003).

A prevenção dos acidentes com cobras pode ser feitas com o uso de botas de cano alto ou perneira de couro, e podem evitar 80% dos acidentes. Além do uso de luvas para manipular folhas secas, lixos, lenha, palhas, etc. Não se deve colocar as mãos em buracos, pois cerca de 15% das picadas atingem essa parte do corpo e os antebraços (BARRAVIERA, 1994).

As serpentes gostam de se abrigar em locais úmidos, quentes e escuros, por isso é preciso limpar terrenos, não deixar lixo acumulado e fechar buracos e frestas de portas, pois onde há ratos pode haver cobras (PUZZI et al, 2008).

Se houver acidente com serpentes é necessário lavar o local apenas com água, manter o paciente deitado e hidratado, e procurar rapidamente o atendimento médico mais próximo. Caso seja possível, levar o animal junto. Se não, é preciso dar informações básicas das suas características. O tratamento é feito de acordo com cada tipo de envenenamento através de um soro e devem ser administrados em ambiente hospitalar. Por isso é preciso dar as informações mais precisas possíveis (DIAS et al, 2023).

Aranhas

Acidentes causados por aranhas são comuns no Brasil e os gêneros de mais importância são as espécies: aranha-marrom, aranha- armadeira e viúva negra. Outras aranhas também provocam acidentes e são os principais grupos que vivem nas casas ou suas proximidades, como as caranguejeiras, porém não têm a mesma relevância em saúde pública (DE SANTANA, BARROS, SUCHARA, 2015).

Para prevenção é preciso manter os quintais e jardins limpos, evitando o acúmulo de entulhos e lixo doméstico, além de material de construção nas proximidades das casas. Deve-se evitar folhagens densas junto a paredes e muros das casas e aparar a grama. Também é preciso manter os terrenos baldios das proximidades sempre limpos. Os acidentes com aranhas provocam sintomas que podem até levar à morte (PUORTO, 2017).

Escorpiões

O envenenamento provocado por escorpião é feito através de ferrão. São representantes dos aracnídeos e predominantes em zonas tropicais e subtropicais com maior incidência nos meses que ocorre umidade e aumento de temperatura. No Brasil as espécies que mais causam problemas são; o escorpião amarelo, o escorpião marrom, o escorpião amarelo do Nordeste e o escorpião preto da Amazônia (MARTINS et al, 2018).

Os grupos de maior vulnerabilidade são as crianças, trabalhadores da construção civil, além de trabalhadores de madeireiras, transportadoras e distribuidoras de hortifrutigranjeiros. Os principais sintomas dos acidentes com escorpiões são vermelhidão e inchaço leve por acúmulo de líquido, sudorese, pelos em pé (RECKZIEGEL, 2013).

É preciso manter a limpeza de quintais e evitar acúmulo de entulhos, além de evitar colocar as mãos sob pedras e troncos podres. Também é comum encontrar escorpiões sob dormentes da linha férrea. Muitos desses animais peçonhentos mantêm hábitos noturnos, então pode-se evitar a entrada deles vedando as soleiras das portas e janelas ao escurecer (SOUZA et al, 2018).

Se pode concluir que Uma das maneiras de se evitar é usar calçados fechados e calças compridas quando se está em matas fechadas, fazendas e/ou lugares com gramas e folhas secas acumuladas no chão. Dentro da área urbana, em casa e apartamentos, mantenha uma boa limpeza do local, preservando a organização e o não acúmulo de entulhos e lixos, sempre conferindo armários, cortinas, debaixo de camas e locais escuros e fechados (SILVA, 2012).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo dos casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan net, da plataforma DATASUS do Ministério da Saúde, Brasil. A coleta de dados foi realizada no DATASUS e a análise estatística descritiva dos dados de 2017 a 2022 foi realizada por meio de frequência, frequência absoluta e frequência relativa e apresentados em forma de tabela e gráficos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando-se os dados presentes no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan net, da plataforma DATASUS do Ministério da Saúde, Brasil, com relação aos casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos no estado de Pernambuco nos últimos anos, o estado apresentou 21.754 notificações de acidentes envolvendo animais peçonhentos. Destes, 99,5% dos acidentes foram registrados para o ano de 2022 (21.644 notificações). A plataforma ainda consta com dados para 2021 (103 notificações), 2020 (4 notificações) e 2017 (1 notificação). Não constam notificações registradas para os anos de 2018 e 2019, nem anos antecedentes a 2017. Ainda constam duas notificações sem data de ocorrência notificada na plataforma.

Animais peçonhentos são aqueles que produzem ou modificam um veneno e conseguem injetá-lo em outro organismo, ou seja, possuem dispositivos especializados para inocular o veneno em presas ou predadores. No Brasil, os principais agressores são cobras, escorpiões, aranhas, abelhas e algumas outras espécies (SOUSA et al, 2015). Acidentes envolvendo animais peçonhentos podem ocorrer por diversos motivos, como ritmos biológicos e natureza das atividades humanas (FONSECA et al, 2009). Nas zonas rurais, estes acidentes aumentaram, principalmente devido a alterações ambientais provocadas pelo homem. Essas alterações reduzem a disponibilidade de habitats naturais, aumentando assim o contato desses animais com as populações rurais (OLIVEIRA, COSTA, SASSI, 2013; RITA, SISENANDO, MACHADO, 2016; BOCHNER, STRUCINER, 2004).

No Brasil, existe uma diversidade de animais de relevância médica. Os principais animais peçonhentos do país são cobras, escorpiões e aranhas. Esses animais podem existir em diferentes tipos de ambientes. Caso ocorra um acidente, é necessária uma avaliação clínica minuciosa e é utilizado soro adequado ao tipo de intoxicação e ao quadro clínico do paciente (PARISE, 2016).

Com relação aos casos de acidentes envolvendo serpentes, o estado registrou 991 notificações entre os anos de 2021 e 2022, sendo 99,7% das notificações para o ano de 2022 (988 notificações) e 0,3% para o ano de 2021 (3 notificações). Acidentes ofídicos, ou simplesmente picada de cobra, é uma condição clínica causada por picada de cobra. No Brasil, as cobras são comumente chamadas de “cobras”. O nome é mais corretamente utilizado para se referir às cobras da família Ophiidae, representada no Brasil pela verdadeira cobra coral. Certas espécies de serpentes produzem veneno em suas glândulas venenosas capaz de perturbar processos fisiológicos e bioquímicos normais em possíveis vítimas, levando a alterações colinérgicas, hemorrágicas, anticoagulantes, necróticas, miotóxicas, citolíticas e inflamatórias. Certas espécies de cobras venenosas são de interesse para a saúde pública.

Pertencem a duas famílias: Viperidae e Viperidae (BOCHNER; STRUCINER, 2003).

Outras cobras podem causar acidentes e até envenenamento, mas nada grave. Algumas cobras da família Colubridae podem imitar a cor do coral real. Estes são chamados de corais falsos. Embora possuam glândulas de veneno, o envenenamento por pseudocorais não afeta a saúde (SILVA, 2019).

Com relação aos casos de acidentes envolvendo abelhas, 2022 também é o ano com maior caso de notificações, com 3.918 casos registrados (99,7%) – tabela 1. As abelhas são insetos com corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. Seus corpos são cobertos por um exoesqueleto e algumas áreas são cobertas por pelos. No abdômen podemos encontrar diversos órgãos como os sistemas digestivo, circulatório e excretor, além de glândulas produtoras de cera. Existem também espinhos venenosos no abdômen, que são órgãos de defesa das formigas operárias e das formigas rainhas. O ferrão é conectado ao saco de veneno e o veneno é injetado na superfície da picada da abelha. Depois de uma picada de abelha, na maioria das vezes o ferrão fica preso, eventualmente causando a ruptura do abdômen, fazendo com que a abelha morra ao tentar se libertar (DA CRUZ LANDIM, 2009; SILVEIRA, MELO, ALMEIDA, 2002; SOUZA, EVANGELISTA-RODRIGUES, DE CALDAS PINTO, 2007).

Tabela 1: número e percentual de casos de acidentes envolvendo abelhas no estado de Pernambuco.

AnoRegistrosPercentual
20223.91899,7%
2021110,3%
Total3.929100%

Fonte: os autores.

Os aracnídeos totalizaram 15.135 notificações, sendo destes, 97,6% acidentes envolvendo escorpiões e 2,4% acidentes envolvendo aranhas – gráfico 1. Assim como os insetos, miriápodes (centopéias) e crustáceos, os aracnídeos pertencem ao filo Artrópodes. São animais com patas articuladas, revestidas por um exoesqueleto mais ou menos rígido e menos maleável, mas com articulações flexíveis que permitem a movimentação. Devido à sua pele dura, os aracnídeos passam por mudas contínuas para permitir que cresçam até a idade adulta e, em alguns casos, durante toda a sua vida (CARVALHO, 2015).

Gráfico 1: percentual de casos envolvendo escorpiões e aranhas no estado de Pernambuco.

Fonte: os autores.

Alguns aracnídeos, como aranhas e escorpiões, são capazes de se inocularem com veneno e, portanto, são venenosos. As aranhas são capazes de entregar veneno às suas vítimas através de ferrões nas quilíferas. O escorpião, por sua vez, se inocula com veneno por meio de um ferrão na cauda. No Brasil, os acidentes escorpiônicos envolvendo o gênero Tityus, especialmente a espécie T. serrulatus, causam os acidentes mais graves. Os sintomas geralmente incluem sudorese, náusea, vômito, diarreia, dor abdominal e irritabilidade. Em casos mais graves, podem ocorrer problemas como arritmia, edema pulmonar e choque. Em relação às aranhas que causam acidentes em nosso país, podemos focar nas aranhas blindadas (gênero Phoneutria), nas aranhas marrons (gênero Loxosceles) e nas aranhas viúvas negras (gênero Latrodectus). Acidentes envolvendo esses animais são facilmente evitáveis (AZEVEDO MARQUES, CUPO, HERING, 1992; BIAZI, 2015; DE MATTOS, 2017; RODRIGUES, 1986).

Os acidentes envolvendo escorpiões foram registrados para os anos de 2017, 2020, 2021 e 2022 – tabela 2, sendo 2022 o ano com maior número de notificações, com 14.693 casos notificados (99,4%).

Tabela 2: número e percentual de casos de acidentes envolvendo escorpiões no estado de Pernambuco.

AnoRegistrosPercentual
201710,05%
202040,05%
2021790,5%
202214.69399,4%
Total14.777100%

Fonte: os autores.

Os acidentes envolvendo aranhas foram registrados para os anos de 2021 e 2022. O ano de 2021 contou com apenas 4 casos notificados, enquanto o ano de 2022 contou com 354 casos notificados, o que totalizou 358 casos de acidentes envolvendo aranhas registrados para o estado de Pernambuco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como são muitos os casos de acidentes envolvendo animais peçonhentos, e diante disso, a população deve tomar diversos cuidados, como não andar descalço. Se você cultiva ou faz jardinagem, use luvas de couro e evite colocar as mãos em buracos no chão, buracos de árvores, cupinzeiros, pilhas de madeira ou pedras. Ao entrar em uma floresta ou matagal com galhos baixos, pare na borda da transição de luz e espere que sua visão se ajuste à área escura. Não armazene ou colete materiais inutilizáveis, como lixo, detritos ou materiais de construção perto da casa. Controle a população de ratos em sua área para evitar o acesso de cobras venenosas que atacam ratos. Fique longe de plantas muito próximas ao solo, grama ou jardim durante o amanhecer e o anoitecer em campos, fazendas e acampamentos. Também é importante ressaltar a importância de procurar atendimento médico em caso de picada de cobra.

REFERÊNCIAS

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¹Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória; ²Centro Universitário Mauricio de Nassau