REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.7946709
Shirlei Gomes da Silva1
Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma breve análise do conceito científico de Thomas Kuhn e elaborá-la em sua “Estrutura da Revolução Científica”. Como um filósofo natural, ele observou e analisou como responder às descobertas científicas naturais e revoluções de descoberta. Nessa sequencia, o trabalho promove a análise das ideias propostas pelo autor como conceitos científicos e tenta explicar o paradigma utilizado por Kuhn, o paradigma científico, a ciência extraordinária e a revolução científica.
Palavras-chave: Revolução Científica. Ciência. Paradigma.
INTRODUÇÃO
Thomas Kuhn, filósofo da ciência física, ao ministrar curso para leigos analisou e contestou textos antigos sobre descobertas científicas, o que o levou a mudar sua opinião, acerca de estudos e modos científicos, no qual acreditava ser retrógrados, o que o levou do fundamento da física à história e ideologia do conhecimento.
Kuhn notou uma ligação incisiva entre a ciência e a sequência de acontecimentos históricos ultrapassando o caráter cumulativo das ciências apresentados pelos trabalhos científicos com suas descobertas. Ele demonstra uma ciência construída, a começar de fatores históricos e sociais, e não exclusivamente por conclusões individuais, culminando numa concepção em uma pesquisa sobre o processo científico, colocando a pesquisa na busca de um conhecimento com veracidade, tidas como prontas e acabadas, ou seja, fechadas num paradigma.
Para isso, Kuhn, no enredo da física, no campo de seu maior saber, criou o sentido de analisar o trabalho cientifico através da história, sociedade e da política, dentro da ciência, numa concepção historicamente orientada, que segue essas etapas de desenvolvimento: novo modelo padrão e o aperfeiçoamento da ciência, ciência extraordinária, que corresponde ao momento da crise e a revolução cientifica.
1. THOMAS KUHN
Thomas S. Kuhn iniciou sua carreira universitária como físico teórico. Ascircunstâncias levaram-no ao estudo da história e a preocupações de natureza filosófica. Trajetória incomum, que este livro de certa forma sintetiza e que explica seu caráter polivalente. Múltiplas áreas, desde as exatas até as humanas, convergem para as agudas análises, que levam o autor, questionando dogmas consagrados, a ver o progresso da ciência não tanto como o acumulo gradativo de novos dados gnosiológicos, e sim como um processo contraditório marcado pelas revoluções do pensamento científico.
Tais revoluções são definidas como o momento de desintegração do tradicional numa disciplina, forçando a comunidade de profissionais a ela ligados a reformular o conjunto de compromissos em que se baseia a prática dessa ciência. Um dos aspectos mais interessantes de A Estrutura das Revoluções Científicas é a análise do papel dos fatores exteriores à ciência na erupção desses momentos de crise e transformação do pensamento científico e da prática correspondente. (KUHN, 2013, p.8)
Thomas Kuhn (1922 – 1996) nascido nos Estados Unidos da América, foi um físico, cujo trabalho obteve destaque nas áreas de filosofia e historiografia da ciência. O destaque da sua obra está na constatação de que o desenvolvimento científico, ou seja, a história das ciências naturais não está relacionada tão simplesmente ao acúmulo gradual e racional de informações, de constatações, de experiências ou fatos, assim como não acontece de muito de forma unidirecional, levando a um progresso.
Thomas Kuhn fez pós-graduação em física teórica na Universidade de Harvard. A pedido de seu superior, ele abriu um curso para apresentar a ciência física a não cientistas. Neste caso, ele tem a oportunidade de estudar calmamente alguns textos antigos (como o de Aristóteles textos), analisei e rejeitei algumas de suas ideias sobre teoria e prática científicas. Neste caso, percebi que o que a história da ciência diz é semelhante ao do público comum. A diferença entre o que aconteceu durante o experimento.
Os estudos realizados por Kuhn nessa nova visão que o colocou em contato com outros campos de estudos, como a epistemologia, a psicologia e ciências naturais e sociais o levou a enxergar a história e filosofia da ciência, que o permitiu compreender, sob sua ótica, a estabelecer e validar a ciência e como mantê-la e superá-la. A relação entre a história e a ciência, antes apenas compreendida como sob a forma de uma noção acumulativa de descobertas científicas se restringia à descrição de fatos ocorridos, sendo assim, pouco relevante para as ciências.
Assim, Kuhn chama a atenção para a estreita relação entre história e a ciência, que ultrapassa a ação de uma simples somatória de descobertas cientifica realizada pelos cientistas. Muitas vezes, segundo Kuhn, essa somatória de fatos e descobertas contemplada por meio da historiografia pode advir no tratamento da ciência a partir da biografia de cientistas, mas sem considerar a trajetória intelectiva que gerou nas suas descobertas. Onde levou a uma tratativa que subestima as descobertas científicas, apresentando-as, diversas vezes, como consequência da genialidade de atores científicos ou obra do acaso, no caso da história da maçã que caiu sobre a cabeça de Isaac Newton, levando-o a perceber a existência da gravidade, além da sua sustentação e/ou superação.
Kuhn reflete sobre o processo epistemológico acima das relações sociais ou relações contextuais, embora argumente que estas últimas não são o resultado da separação do processo científico. Para Kuhn, deve se considerar o contexto no qual o cientista e a sociedade em questão estão inseridos no momento da descoberta científica, sendo estes contextos histórico, social, psicológico, ou seja, Kuhn salienta a importância dos contextos para a corroboração de um processo científico. Portanto, pode-se afirmar que Thomas Kuhn estabeleceu uma análise das descobertas científicas e seus métodos de processamento.
2 A Ciência segundo Thomas Kuhn
2.1 Ideia de Ciência
Nessa obra, Kuhn traz como consequência de seu estudo a concepção de ciências a partir da história das descobertas científicas. A partir desse entendimento, é óbvio que a ciência de Kuhn não é linear, mas gradual e cumulativa. De acordo com essa concepção, a ciência não passa de um ajuntamento de estudos, fatos, teorias e metodologias.
A par disso, a concepção de ciência desenvolvida aqui sugere a fecundidade potencial de uma quantidade de novas espécies de pesquisa, tanto históricas como sociológicas. Por exemplo, necessitamos estudar detalhadamente o modo pelo qual as anomalias ou violações de expectativa atraem a crescente atenção de uma comunidade científica, bem como a maneira pela qual o fracasso repetido na tentativa de ajustar uma anomalia pode induzir à emergência de uma crise. Ou ainda: se tenho razão ao afirmar que cada revolução científica altera a perspectiva histórica da comunidade que a experimenta, então essa mudança de perspectiva deveria afetar a estrutura das publicações de pesquisa e dos manuais do período pós-revolucionário.
Um desses efeitos – uma alteração na distribuição da literatura técnica citada nas notas de rodapé dos relatórios de pesquisa – deve ser estudado como um índice possível da ocorrência de revoluções. (KUHN, 2013, p.41)
Dessa perspectiva, como a ciência se limita a coletar fatos de cientistas em vários campos, não haverá registros importantes de estudos científicos, mas, para Kuhn, os estudos científicos tem um papel mais importante do que as listas de fatos. E a teoria que constitui ou refuta a tese. Para Kuhn é muito difícil, senão impossível selecionar fatos e teorias que contribuíram para uma descoberta científica. Da mesma forma que seria igualmente difícil apontar fatos históricos responsáveis por celebrar o sucesso, na época, de teorias de vários estudiosos, hoje refutada pelas ciências.
Analisar a história da ciência em um determinado estudo mitológico pode permitir aos historiadores perceber que os fatos históricos não mudaram, revelando erros no conceito de acumulação de ciência. Pois segundo Kuhn, se o conhecimento científico de outrora passou a ser considerado como mito, consequentemente os mitos podem ser produzidos pelos mesmos tipos de métodos e mantidos pelas mesmas razões que hoje dirigem ao conhecimento científico. Mas se, contudo, essas teorias refutadas ainda devem ser chamadas de ciências, então a ciência mantém um composto de crenças ora incompatíveis.
2.2 Visão de Paradigma
Daqui por diante referir-me-ei às realizações que partilham essas duas características como “paradigmas”, um termo estreitamente relacionado com “ciência normal”. Com a escolha do termo pretendo sugerir que alguns exemplos aceitos na prática científica real – exemplos que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e instrumentação – proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica. São essas tradições que o historiador descreve com rubricas como: “astronomia ptolomaica” (ou “copernicana”); “dinâmica aristotélica” (ou “newtoniana”), “óptica corpuscular” (ou “óptica ondulatória”), e assim por diante. O estudo dos paradigmas, muitos dos quais bem mais especializados do que os indicados acima, é o que prepara basicamente o estudante para ser membro de determinada comunidade científica na qual atuará mais tarde. Uma vez que ali o estudante reúne-se a homens que aprenderam as bases de seu campo de estudo a partir dos mesmos modelos concretos, sua prática subsequente raramente irá provocar desacordo declarado sobre pontos fundamentais. Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto é, para a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada.(KUHN, 2013, p.54-55)
Cientistas buscam suporte para problemas descobertos cientificamente através de paradigmas. Enfim, os paradigmas são, portanto, as hipóteses das ciências confirmadas através de leis, teorias, explicações e aplicações. Como exemplo de paradigma temos a física de Aristóteles aceito por mais de mil anos, a astronomia Copernicana, a dinâmica Newtoniana, a química de Boyle, a teoria da relatividade de Einstein também são paradigmas. Esses paradigmas considerados de sucesso atendem a duas características definidas.
A definição do primeiro paradigma determina a maturidade da descoberta científica, representa a conexão do acordo e elimina possíveis diferenças entre escolas concorrentes. Mesmo em face da ciência, também fornece um conjunto de regras e regulamentos da prática científica para os profissionais científicos. em princípio. Pesquisa mais aprofundada, pois, segundo Kuhn, o paradigma estabelece um encaixe ideológico e só então levanta novas questões.
Quando um cientista pode considerar um paradigma como certo, não tem mais necessidade, nos seus trabalhos mais importantes, de tentar construir seu campo de estudos começando pelos primeiros princípios e justificando o uso de cada conceito introduzido. Isso pode ser deixado para os autores de manuais. Mas, dado o manual, o cientista criador pode começar suas pesquisa onde o manual a interrompe e desse modo concentrar-se exclusivamente nos aspectos mais sutis e esotéricos dos fenômenos naturais que preocupam o grupo. Na medida em que fizer isso, seus relatórios de pesquisa começarão a mudar, seguindo tipos de evolução que têm sido muito pouco estudados, mas cujos resultados finais modernos são óbvios para todos e opressivos para muitos. Suas pesquisas já não serão habitualmente incorporadas a livros como Experiências… sobre a Eletricidade de Franklin ou a Origem das Espécies de Darwin, que eram dirigidos a todos os possíveis interessados no objeto de estudo do campo examinado. Em vez disso, aparecerão sob a forma de artigos breves, dirigidos apenas aos colegas de profissão, homens que certamente conhecem o paradigma partilhado e que demonstram ser os únicos capazes de ler os escritos a eles endereçados.(KUHN, 2013, p.61).
A exemplificar o que significa um paradigma e sua consequência para nossa vida, podemos citar a “alegoria dos sete macacos”:
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…”(autor desconhecido)
Nesse caso, uma análise permite observar que um paradigma como uma certeza pronta e acabada impede questionamentos, mesmo que inconscientes, fazendo com que os estudos esotéricos, partam a partir de das premissas estabelecidas por um paradigma sem questioná-lo.
O valor de um paradigma para a ciência normal outorga promover uma pesquisa mesmo sem que haja concordância entre os membros de uma sociedade, ou seja, divergências entre os cientistas sobre as regras que regem determinado campo de estudo, mas o paradigma tem prioridade na determinação da pesquisa. Kuhn admite a dificuldade no estabelecimento de um conjunto de regras aplicadas em todos os campos de pesquisa de uma ciência, contudo, mesmo divergindo, a concordância quanto ao paradigma.
A ciência normal pode ser parcialmente determinada através da inspeção direta dos paradigmas. Esse processo é frequentemente auxiliado pela formulação de regras e suposições, mas não depende dela. Na verdade, a existência de um paradigma nem mesmo precisa implicar a existência de qualquer conjunto completo de regras. (KUHN, 2013, p.74)
Kuhn acredita que o estabelecimento de um novo modelo define um campo como o primeiro passo em um campo científico, pois pode desenvolver e caracterizar todas as etapas do trabalho científico.
Contudo, quando um novo modelo é confrontado, quando surgem a divisão e o pacto com outros campos deram às pessoas uma nova compreensão deste tipo de ciência, questões e dados, e o paradigma não pode mais ser respondido ou compreendido, é o que Kuhn chama de crise de paradigma.
Essa crise aparece dentro da ciência normal e é encarregada pelas alterações de concepção e costume dentro de uma determinada área de conhecimento, motivadas pela presença das frequentes anomalias, isto é, pontos de discordâncias, de interseções que questionam o aspecto convencional de contemplar o procedimento e a produção científica. Podendo ser ilustrado tomando um campo específico, a Educação, como coloca Bartelmebs, (2012), onde um paradigma pode ser identifica o ensino, já que as pesquisas dentro dessa área considerariam aspectos dos acontecimentos da educação e do aprendizado, mas, nosso paradigma educacional atual é o ensino. Porque todas as pesquisas e artigos estão relacionados a este paradigma visando aprimorar os métodos educacionais. Todos os esforços e estudos são desenvolvidos no sentido de aprimorar as formas de ensino, a preparação dos profissionais prevê mais a excelência do ensino que a aprendizagem, ainda que se admita que esses procedimentos não se desassociem, existe uma diferença aparente entre se formar para ensinar e se formar para propiciar o conhecimento.
Descobertas de outras áreas mostram que há divisões e pactos refletindo novos entendimentos dentro da Educação. Novos questionamentos, dados, incoerências não mais respondidos pelo modelo educacional, que transpõem, neste momento, a instigar os cientistas da educação.
Assim, quando o conhecimento instaurado, em outras palavras, a ciência normal já não consegue mais responder as deficiências que as atuais informações ou atuais fatos determinam, movem as categorias de cientistas de promoverem nova forma de fazer ciência.
2.3 A Ideia de Ciência Normal
Diz-se que a ciência normal encontra-se trabalhando apenas para resolver uma enxurrada de incógnitas que permaneceram sem solução no atual campo da ciência.
Neste ensaio, “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada emuma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior.
Embora raramente na sua forma original, hoje em dia essas realizações são relatadas pelos manuais científicos elementares e avançados. Tais livros expõem o corpo da teoria aceita, ilustram muitas (ou todas) das suas aplicações bem-sucedidas e comparam essas aplicações com observações e experiências exemplares. Uma vez que tais livros se tornaram populares no começo do século XIX (e mesmo mais recentemente, como no caso das ciências amadurecidas há pouco), muitos dos clássicos famosos da ciência desempenham uma função similar. (KUHN, 2013, p.54)
A ciência normal, segundo Kuhn é a condição em que se encontram os saberes científicos de uma área precisa, o momento em que os saberes dão conta de responder aos questionamentos a cerca dessa comprovação. A articulação em adequar os paradigmas à realidade aceita pelos cientistas através de comprovações científicas é que Kuhn define como ciência Normal. Assim, é possível afirmar que a ciência normal é o produto ao mesmo tempo em que produz paradigmas.
Assim, Kuhn expõe a metáfora do quebra-cabeça para explicar a ciência normal, isto é, partimos de um pressuposto já definido (a imagem que se quer montar) e as peças seriam a realidade, a natureza, aquilo que se quer comprovar. Assim, a função do cientista é testar as peças que se encaixam para formação da imagem desejada, orientados pelos conhecimentos já comprovados pelos paradigmas. Isto é, a ciência normal não busca apresentar descobertas, novidades, mas a busca pela confirmação dos paradigmas.
2.4 Ideia de Ciência Extraordinária
A ciência extraordinária só acontece quando as anomalias começam a desmistificar um paradigma, ou seja, em um momento, determinado paradigma não apresenta mais o resultado esperado ou não mais consegue ser mantido pelas comprovações científicas. Assim, essas falhas muitas vezes não são verificadas, uma vez que a ciência normal, como já mencionado, não tem como foco criar novos fatos, mas, sim confirmar aquilo que foi imposto pelo paradigma corrente. Contudo, diante da persistência de anomalias não mais aplacadas pelos dados e estudos científicos vigentes, elas podem gerar o que Kuhn chama de crise de paradigma.
Ou, finalmente, o caso que mais nos interessa: uma crise pode terminar com a emergência de um novo candidato a paradigma e com uma subsequente batalha por sua aceitação. Esse modo de resolução será extensamente examinado nos últimos capítulos, mas anteciparemos algo do que será dito, a fim de completar estas observações sobre a evolução e a anatomia do estado de crise.(KUHN, 2013, p. 109)
No entanto, convém salientar o que Kuhn afirma, sobre a transição de um paradigma em crise para um novo
A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido por meio de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações. Durante o período de transição haverá uma grande coincidência (embora nunca completa) entre os problemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e os que podem ser resolvidos pelo novo. Haverá igualmente uma diferença decisiva no tocante aos modos de solucionar os problemas. Completada a transição, os cientistas terão modificado a sua concepção da área de estudos, de seus métodos e de seus objetivos. Um historiador perspicaz, observando um caso clássico de reorientação da ciência por mudança de paradigma, descreveu-o recentemente como “tomar o reverso da medalha”, processo que envolve “manipular o mesmo conjunto de dados que anteriormente, mas estabelecendo entre eles um novo sistema de relações, organizado a partir de um quadro de referência diferente” (KUHN, 2013, p. 109)
Diante disso, os conflitos da ciência extraordinário levam a três desfechos, onde no os paradigmas são ajustados por meio de pesquisa, no segundo os cientistas podem concluir que os problemas não têm solução e são isolados. Já no terceiro a crise pode terminar com o estabelecimento de um paradigma e culminar em uma revolução científica.
2.5 Ideia de Revolução Científica
O primeiro livro de Kuhn concernente à ciência e sua história não foi a Estrutura, porém A Revolução Copernicana13. A ideia de revolução científica já estava em plena circulação. Após a Segunda Guerra Mundial escreveu-se muita coisa sobre a revolução científica do século XVII, Francis Bacon foi seu profeta; Galileu, seu farol e Newton seu sol.
O primeiro ponto a observar – aquele que não é imediatamente óbvio ao primeiro correr de olhos sobre a Estrutura – é que Kuhn não estava falando sobre a revolução científica. Essa era uma espécie completamente diferente de evento em face das revoluções cuja estrutura Kuhn postulava14. De fato, pouco antes da publicação da Estrutura, ele aventara a ideia de que havia uma “segunda revolução científica”15. Esta ocorrera durante os primeiros anos do século XIX; novos campos inteiros foram matematizados. Calor, luz, eletricidade e magnetismo adquiriram paradigmas, e subitamente uma massa inteira de fenômenos indiscriminados começaram a fazer sentido. Isso coincidiu com – deu-se passo a passo com – o que denominamos de Revolução Industrial. Era indiscutivelmente o início do moderno mundo técnico-científico em que vivemos. Porém, não mais do que a primeira revolução científica, a segunda revolução exibiu a “estrutura” da Estrutura. (KUHN, 2013, p. 13)
A revolução cientifica se dá quando um novo consenso é aceito entre os cientistas. Assim, uma nova concordância passa a existir entre os cientistas e uma nova descoberta, uma nova visão de mundo surge com esse novo paradigma. Por outro lado, um paradigma, portanto, deixa de existir, pois o paradigma que emerge, surge para resolver as dúvidas que seu anterior não respondia.
Entretanto, é um erro refletir que uma revolução científica corrobora e é aceita em um pequeno período. A invisibilidade das revoluções, assim como a incomensurabilidade entre paradigmas sucessivos, além da inercia dos cientistas em readaptar suas teorias ao novo paradigma promovem a morosidade e o emaranhado que constitui em uma revolução cientifica.
1. Considerações finais
A importância das contribuições científicas é inquestionável, principalmente das ciências naturais cujo campo do conhecimento é o que mais chama a nossa atenção pelo seu aparente progresso e relevância. Portanto, a filosofia da ciência é um campo dedicado à pesquisa filosófica, dedicado a compreender, questionar e melhorar os processos e métodos científicos, e sempre se esforçando para que o trabalho científico seja realizado da melhor maneira e forneça princípios básicos incontestáveis de conhecimento e tecnologia e confiável. Contudo, o que Thomas Kuhn demonstra na sua obra “Estruturas das revoluções cientificas (1962)” e que é trazido para esse debate, é que os estudos científicos de um conjunto de pesquisadores são sempre sustentados por uma teoria e, no esforço de comprovar suas teorias, os pesquisadores não estão isentos das teorias que ora os constituem. Mediante a aparição de irregularidades que frustrem as verdades cientificas, haverá tentativa de torna-las propicias, contudo, se a tentativa for frustrada, caso as irregularidades continuem, a rota provavelmente será o da transformação, isto é, a revolução cientifica.
Mas, vale destacar, que mesmo após umas revoluções científicas, os dados apresentados como resultado do processo de pesquisa não pode ser considerado dado estável e individual e fechado. Mesmo embora após estas revoluções representarem um consenso de opiniões resultantes de muito estudo.
Kuhn desvenda através da história da ciência e cria uma concepção de ciência historicamente orientada. Ele divide um estudo científico em períodos de ciência normal e ciência extraordinária, estabelecendo os paradigmas como norteadores da sociedade científica, a presença de anomalias alimentam os estudos e posterior confirmação de um paradigma, ou então, a desconstrução do precedente, emergindo num novo que substitua o seu percussor.
Com seus estudos, Kuhn evidencia que o conhecimento cientifica não é cumulativo, nem imutável. É possível encontrar um local por caminhos diferentes, e encontrar características inéditas nesse novo caminho. Ou seja, teorias baseadas em bem fundamentadas são agregadas à pesquisa científica e aceitas pela comunidade científica, o que levou Kuhn a chamá-la de revolução científica.
Referências Bibliográficas
KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 2013
BARTELMEBS, Roberta Chiesa. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1997: Resenhando as estruturas das revoluções científicas de Thomas Kuhn. Revista Ensaio. Belo Horizonte.V.14, N. 03, P. 351-358, S,set-dez, 2012.
1Mestranda em Ciência Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos; especialista em Gestão Empresarial e bacharel em Ciências Contábeis.