UM ESTUDO DE CASO: CADEIRA TERAPÊUTICA PARA MOLDAGEM DE UMA MENINA COM TEA. 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10827521


Paloma de Sousa Ribeiro
Professor Orientador: Ms. Ana Célia Fugikura


Resumo 

Este artigo tem como objetivo apresentar os avanços comportamentais  em uma menina com Transtorno Espectro Autista que foi submetida à moldagem  comportamental, social e cognitiva, usando cadeira terapêutica. A metodologia  adotada para coleta de dados foi um estudo de caso, realizado em consultório  psicopedagógico, no qual foram realizados 2 anos de sessões, duas vezes por  semana, sem intervalos. Os dados foram interpretados usando a análise  qualitativa, método microgenético. 

Abstract 

This article aims to present the behavioral advances in a girl with Autism  Spectrum Disorder who was subjected to behavioral, social and cognitive  molding: using a therapeutic chair. The methodology adopted for data collection  was a case study, carried out in a psychopedagogical office, in which 2 years of  sessions were held, twice a week, without breaks. The data were interpreted  using the qualitative analysis, microgenetic method.

Introdução 

Na atualidade, estima-se que o Brasil tenha 200 milhões de habitantes e  2 milhões de autistas. São mais de 300 mil ocorrências só no Estado de São  Paulo. Contudo, apesar de numerosos, os milhões de brasileiros autistas ainda  sofrem para encontrar tratamento adequado. De acordo com o DSM-IV-TR (APA,  2002), o autismo caracteriza-se pelo comprometimento em três áreas do  desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, de comunicação, e  presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Diante  dessas características é comum observar comportamentos primitivos,  desatentos, agressivos e opositores; sendo assim, se fazem necessárias  terapias que possam contribuir na moldagem dos comportamentos. Atualmente,  existem diversas ciências, técnicas e metodologias para trabalhar com pessoas  com autismo, porém é percebida a dificuldade ainda assim de alguns  profissionais e educadores no que se refere ao trabalho com autistas. Desta  maneira, com o cotidiano terapêutico, algumas pesquisas e dicas de alguns  profissionais da saúde e educação, foi percebido que as crianças com TEA  necessitam de ambientes que viabilizem rotina, ou seja, previsibilidade no seu  dia a dia. 

Objetivo 

Desenvolver ambientes que viabilizem rotinas e favoreçam  aprendizagens, usando a cadeira terapêutica em uma paciente com TEA, que atualmente tem seis anos, e está matriculada em escola particular de São Paulo, no ensino Infantil. Tal ambientação foi realizada com rotina de atividades e  cadeira terapêutica feita com cano de pvc, faixa de poliéster, tecidos e madeira.

Metodologia 

A pesquisa foi realizada na cidade de São Paulo, em meu consultório, é  do tipo estudo de caso. Segundo Martins (2010), a pesquisa estudo de caso é  uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa  profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem  definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma  pessoa ou uma unidade social. Visa conhecer o seu “como” e os seus “porquês”,  evidenciando a sua unidade e identidade própria. É uma investigação que se  assume como particularística, debruçando-se sobre uma situação específica,  procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. 

Essa pesquisa foi baseada no método microgenético, que se caracteriza  por analisar todo o processo investigado de forma minuciosa e qualitativa, com  a finalidade de obter maior detalhamento sobre o tema, uma vez que neste  método pode-se conseguir uma maior descrição sobre os dados coletados  (Oliveira, 2002). 

O caso analisado foi de uma criança que possui seis anos e atualmente  está no início do primeiro ano do ensino fundamental um. Inicialmente foi  conversado com a mãe, estudiosa sobre as questões que envolvem o autismo,  para obter a autorização para o desenvolvimento do presente estudo de caso.  Em seguida, foram coletadas imagens, anotações de observação e  desenvolvimento da criança, bem como relatórios, informes e laudos médicos.  Foram realizadas inicialmente 10 sessões de observação para entender os  interesses da paciente-aluna. 

Após o processo de observação/avaliação da paciente, foram realizadas  sessões interventivas duas vezes por semana por dois anos, sendo utilizada a  cadeira terapêutica para colaborar na moldagem comportamental: a cadeira, por  sua vez, ajudou no que se refere à segurança, conforto, contorno, regras claras  e instruções implícitas. Atualmente, não há no mercado uma cadeira específica  para a finalidade de moldagem do comportamento com acessórios opcionais  como o cinto de contenção e mesa removível, que possam auxiliar as crianças  com transtornos comportamentais e neurobiológicos. A cadeira terapêutica por  sua vez, não só permite que seja adaptável às condições patológicas do  paciente: dando apoio e sustentação ao corpo, mas também facilitando a  interação com o terapeuta, pois o ideal é que todo o processo interventivo  realizado com crianças com TEA, seja realizado na frente da criança; o terapeuta  deve estar também na mesma altura do paciente. O modelo de cadeira  apresentado, pode ser adaptável para faixas etárias diferentes: bebês até  idosos, possibilitando que o paciente se inteire mais nas atividades e  aprendizagens. A bandeja, ou mesa é removível, o que permite maior  versatilidade e melhor operação. Além disso, pode se acrescentar rodinhas,  oferecendo maior mobilidade ao sujeito.
Foram realizadas também visitas semestrais à escola e conversas  semanais com a família. 

Desenvolvimento 

O autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se  manifesta antes dos 3 anos de idade e se prolonga por toda a vida. Segundo a  Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de setenta milhões de pessoas  no mundo são acometidas pelo transtorno, sendo que, em crianças, é mais  comum que o câncer, a aids e a diabetes. Caracteriza-se por um conjunto de  sintomas que afetam as áreas da socialização, comunicação, comportamento e  interação social. No entanto, não significa dizer, em absoluto, que a pessoa com  autismo não consiga e nem possa desempenhar seu papel social de forma  bastante satisfatória. (SILVA, 2012, p.11). 

Plouller (1906, p.13) introduziu o termo “autismo” na psiquiatria ao estudar  pacientes com demência precoce (atual esquizofrenia). Mas em 1911, Eugen  Bleuler, definiu o termo autismo como perda de contato com a realidade,  causada pela impossibilidade ou grande dificuldade na comunicação  interpessoal. O autismo foi pela primeira vez descrito cientificamente em 1943,  no artigo “Distúrbios autísticos de contato afetivo”, do psiquiatra infantil austríaco  Kanner (1943). Desde então o conceito passou por algumas transformações que  ajudaram a ampliar o campo de compreensão da psicodinâmica desse  transtorno. Em 1979, o pesquisador Rutter estudou e definiu o autismo como  uma síndrome comportamental originada por fatores orgânicos, considerando  quatro traços principais que caracterizariam crianças portadoras de autismo: a)  presença de comportamento motor bizarro que se manifesta através de  brincadeiras limitadas, repetitivas e de cunho realísticos; b) prejuízo grave nas  interações sociais; c) uma incapacidade para elaborar uma linguagem  responsiva; d) início do transtorno anterior à idade de 30 meses. No Brasil, é  perceptível que o autismo vem sendo cada vez mais discutido e reconhecido,  visto que é comum falas populares de que a quantidade de crianças com TEA  tenha aumentado; desta maneira, eventos e atos de mobilização são realizados  frequentemente como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Em 2010,  pela primeira vez, a data foi lembrada no dia 2 de abril com iluminações azuis  (cor definida para o autismo) de vários prédios e monumentos importantes. Esse  foi o marco para que o Brasil entrasse de vez no roteiro dos países que apoiam  o WAAD (World Autist Awareness Day). 

O autismo pode ser percebido nos primeiros anos de vida da criança. Uma  das estratégias é a observação da pessoa responsável no processo de  desenvolvimento da criança, uma vez que, segundo Silva (2012, p.20), “a criança  autista apresenta os primeiros sintomas antes dos três anos de idade.”. As  características presentes nos autistas são os interesses limitados e  comportamento repetitivo, seus movimentos corporais são estereotipados,  seguem rotinas com todos os detalhes, essas características são notadas pelos  pais ou por pessoas mais próximas quando acompanham o desenvolvimento de  suas crianças. O desenvolvimento cognitivo e social é afetado pela falta de  interação com o mundo que os cerca, os autistas podem ser mais tímidos e  tendem a ficar afastados dos grupos na escola, por exemplo. Nota-se que elas apresentam certa dificuldade de se relacionar com outros da mesma idade, não  gostam de contato físico, mesmo dependendo do grau, leve ou mais grave, têm  grande dificuldade de comunicação e certa timidez ao se aproximar. Geralmente  os autistas são solitários, e quando chegam à fase da adolescência têm poucos  amigos, algumas permanecem com comportamentos repetitivos (ecolalia), e  acompanhados de agressividade em momentos de frustração. As causas do  autismo ainda são desconhecidas, não há maior clareza. Na literatura, é possível  verificar estudos que relatam a pré-disposição, sendo elas: mães mais velhas  ou muito novas, causas genéticas, e ainda depressão, alimentação e poluição  são alguns fatores discutidos por pesquisadores. 

Em muitos casos, a criança apresenta deficiência intelectual e  convulsões, como também doenças genéticas (síndromes). Por enquanto,  apenas suposições e estudos de comportamentos de indivíduos com TEA,  porém desde a amamentação já é possível observar através do olhar do bebê,  se este corresponde aos estímulos do ambiente. 

Buscou-se através da observação e investigação, analisar o envolvimento  afetivo e a mudança de comportamento da paciente. Foi pensado que, quanto  mais se conhece a criança, mais existirá afeto e melhor entendimento dos gostos  para elaboração de rotina. Além disso, foi visto que quanto mais livre a criança  ficava, mais situações de irritabilidade, agressividade, estereotipias e  comportamentos repetitivos aconteciam. A paciente do estudo de caso, por sua  vez, falava poucas palavras, não mantinha o contato ocular, apresentava  ecolalias e interesses específicos por água, inglês, cores e números. Com a  observação, foi possível verificar a importância de encaminhar a paciente para  outros profissionais como neurologista e fonoaudiólogo, além de ajustar/  adequar a medicação com a equipe médica. 

Após o processo de observação/avaliação da paciente, foram realizadas  sessões interventivas duas vezes por semana, sendo utilizada a cadeira  terapêutica para colaborar na moldagem comportamental, no início, com ajuda  de cinto de contenção, que foi utilizado apenas duas vezes, em momentos de  crises e descontrole comportamental e com recursos visuais, como: cores,  números, formas, interesses da criança para colaborar na comunicação e  ampliação de vocabulário. Sempre que a paciente correspondia, dava-se um  prêmio e/ou reforço positivo: salgadinho, bala (algo que gostasse de comer).  Com o passar das sessões, era perceptível que a paciente havia se acostumado  com a cadeira, não sendo necessário o uso do cinto de contenção para ajudar a  sentar, por exemplo. A própria paciente olhava a cadeira e se dirigia para fazer  o assento. 

Consideravam-se acertos e evolução no tratamento, sempre que a  criança sentava por conta própria, esperava o brinquedo e utilizava a linguagem  funcional: emitindo sons, fazendo gestos e ou repetindo a palavra solicitada e/ou  entregando a figura correta. As atividades realizadas com a paciente são do  manual: TREINO POR TROCA DE FIGURAS PECS, Picture Exchange  Communication System, foi seguido todo o manual e metodologia à risca. Além  disso, a paciente passou pela equipe solicitada, bem como houve o ajuste da  medicação.

Relatório de avaliação de 2017 

A paciente G. frequenta a educação infantil no Centro de Educação  Infantil Pequeno Príncipe, além de fazer terapias com terapeuta ocupacional e  fonoaudióloga. 

Em visita à escola, a professora comentou que G. está mais sociável,  acompanhando os coleguinhas nas atividades, mas que ainda demonstra mais  segurança nos adultos do que em crianças. G. recebe informações com êxito,  mas possui dificuldades em pedir informações e, em alguns momentos, o  comportamento acaba prejudicando a compreensão mais rápida. Na escola, G.  quer ser a primeira nas atividades e tem resistência em obedecer a ordens dadas  na primeira vez. Apresenta também pouca concentração nas tarefas escolares,  mas seu ritmo de trabalho é ágil e rápido. Em estado perpétuo de agitação, G.  sobe nas mesas e outros móveis, sem temor ou noção de risco. A paciente não  mantém o contato ocular e utiliza ambas mãos para pintar, embora aparenta ser  predominante a mão direita. Utiliza a pressão e a preensão inadequada no lápis.  Do ângulo funcional, sua motricidade global precisa ser estimulada, apresenta  pouco equilíbrio, tem predominância de lateralidade direita e apresenta  dificuldades em relação à coordenação motora fina. G. tem uma motricidade  perturbada por movimentos repetitivos e complexos (estereotipias). Os mais  comuns envolvem mãos e braços, mexendo-os frente aos olhos ou batendo  palmas. 

G. reconhece as letras do alfabeto e a sequência alfabética. Está na  estratégia logográfica, visto que associa imagem à palavra escrita: exemplo: MC  Donald’s (comida). 

Beneficia-se de sons e músicas. Possui interesse em livros de animais,  bem como sabe os sons dos bichos. Entende comandos do cotidiano  perfeitamente e, quando não consegue realizar alguma atividade, direciona a  mão para que a pessoa colabore com ela. 

Na linguagem, apresenta ecolalia: repetição de palavras, após a  reprodução de algo que ouviu. G. apresenta a imitação social tão importante  para o desenvolvimento da linguagem (dar tchau, jogar beijinho e utilizar os  brinquedos em atividades de faz de conta); o que é muito positivo para o  desenvolvimento da linguagem. Foi observado também que G. fala algumas  palavras em inglês e também cria novas palavras. Reconhece os números de 1  a 10. Sabe contar e identificar. Na utilização de jogos no diagnóstico, mostrou-se participativa em jogos como quebra cabeça, montar e lego. Ajuda a  organizar os brinquedos com frequência e participa ativamente das atividades  propostas. 

G. desenha apenas garatujas e não consegue pintar dentro do espaço.  Em atividade com tintas e pincéis, G. mostrou-se mais atento e pintou a forma  geométrica até o fim. Percebeu-se que o tipo de material trabalhado, pode  colaborar para que G. domine melhor sua atenção e se interesse pela atividade. 

Quando irritada, pode se jogar no chão, fazer xixi na roupa, gritar, morder e bater.

Resultados 

Para que se pudesse verificar os avanços da paciente, era anotada a  maneira como se comportou na atividade, a duração da atividade, quanto tempo  conseguiu ficar sentada e materiais da sessão. Além disso, verificaram-se os  avanços obtidos com os próprios registros da criança e fotografias. 

Iniciamos o processo de investigação em 2017, como verificado no  relatório da paciente acima. Foram realizadas 10 sessões avaliativas, em que  pudemos conhecer e perceber as características principais da paciente. Na  primeira sessão de investigação, G. ficou extremamente irritada, pelo fato de sua  mãe não a acompanhar, além disso, não conseguia sentar na cadeira e brincar,  interagindo com a assessora. Para que a paciente ficasse na sessão, perguntei  para a mãe o que ela mais gostava de fazer, a mãe por sua vez, disse que G.  gostava muito de água. Desta maneira, foi colocada uma bacia com pinos  coloridos dentro da água, foram depositados também peixes de tamanhos  diversos. A paciente conseguiu ficar trinta minutos na sessão. A partir daí,  seguimos a avaliação da mesma maneira, fazendo trocas com água e depois  chocolate, como ilustra a figura 1. A cadeira terapêutica foi sendo introduzida aos  poucos, após a criança se acostumar com a terapeuta e com o ambiente  terapêutico. 

Figura 1- G. na primeira sessão brincando com os pinos coloridos e a bacia de  água. Destaco que selecionou os pinos por cores, no caso da imagem, pinos  rosas. Buscamos na primeira fase da intervenção, o engajamento da paciente.  Sempre que realizava uma tarefa ou um comando, reforçamos o  comportamento com a própria brincadeira; no caso: brincadeiras com água. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020. 

Após o processo de investigação, observamos a queixa relatada pela  família no que se refere à interação, comunicação, vida diária, ansiedade e  agitação. Deste modo, foi percebida a necessidade de ajudá-la na moldagem de  seu próprio comportamento, pois tinha dificuldades em brincar com uma única  coisa, sentar e acalmar-se. Sendo assim, pensando na importância de se ter  uma rotina estruturada e visível, foi construída uma cadeira terapêutica com outro objetivo, além de ajudar nas questões de mobilidade e acessibilidade como  proposto em pacientes com deficiências físicas e paralisia cerebral; usamos a  cadeira com outros objetivos, sendo eles comportamentais; a seguir imagem da  cadeira terapêutica. 

Figura 2 – Cadeira Terapêutica 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020. 

Após a paciente apresentar um melhor engajamento nas atividades,  introduzimos a cadeira terapêutica, a fim de colaborar na atenção,  hiperatividade, comportamentos opositivos e desafiadores. No princípio do  trabalho, foi necessário usar o cinto de contenção para que conseguisse  permanecer sentada e mais engajada nas atividades; pois era percebido que se  perdia com facilidade em seus pensamentos, comportamentos e emoções. Na  primeira sessão, a paciente chorou, balançava-se muito, mostrava-se  desorganizada mentalmente. Na segunda sessão com a cadeira, a paciente chorou, mas foi diminuindo a frequência do choro, irritação e desregulação  emocional; quando sentada e mais calma, reforçamos o comportamento com  seus brinquedos favoritos e uso de água nas atividades (sempre brincando da  maneira da criança) e aos poucos, introduzindo novas aprendizagens e  variações. Aos poucos, fomos retirando o cinto de contenção e a própria paciente  ao chegar na sessão, já identificava onde deveria sentar e esperar. 

Após cinco meses de trabalho, conseguimos criar um quadro de rotina,  em que a paciente podia manipular. No quadro havia sequências de atividades  que a paciente faria. (imagem – quadro fazer efeito). A paciente aceitou muito  bem o quadro de rotinas e seguimos adicionando novas tarefas de  comunicação, coordenação motora, comportamento, memória auditiva, visual e  interação, como mostra a imagem 3. 

Figura 3- G. em uma sessão de intervenção. O trabalho realizado na sessão era  ouvir o vocabulário da avaliadora e colocar a massinha na figura correta. A  atividade foi realizada na cadeira terapêutica (sem o uso do cinto de contenção).  Eram colocadas variadas figuras sobre a mesa e a paciente tinha que identificar  a imagem colocando massinha. (A massinha, por sua vez, era um grande  reforçador). Com o exemplo de atividade da imagem, reduzimos atrasos sociais,  de linguagem, adaptabilidade, de regras e rotinas. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020 

Após um ano de insistência, sempre partindo de atividades que  interessavam a criança, conseguimos que a paciente entendesse que ficaria  sentada durante os 50 minutos de sessão. Fomos alcançando o tempo total de 50 minutos vagarosamente e utilizando os reforçadores positivos. Nos primeiros  meses, sempre eram trabalhadas atividades do gosto da criança. Além de água,  a paciente gostava muito de números, letras, massinhas e tintas. A partir daí,  criamos grupos de interesses em sacos plásticos que continham nomes de frutas,  números, cores, letras, animais e etc; aos poucos, acrescentamos pedidos  diários, frases do cotidiano como ilustra a imagem 2: “eu quero um.” Com a  atividade de imagens, como ilustra a figura 3, ampliamos o repertório lexical da  paciente, sendo possível evoluir para o uso de verbos do cotidiano: dar, querer,  sentar, beber, comer. 

Figura 4 – G. no processo interventivo, após oito meses. A paciente já conseguia  apontar e fazer pedidos usando o verbo “querer.” 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020. 

Após um ano de trabalho interventivo, verificaram-se ganhos cognitivos,  comportamentais, na comunicação, interação com o meio e o outro, bem como  avanços no que se refere à praxia: movimentos motores grossos e finos. Além  disso, a paciente conseguiu melhorar também nas atividades de vida diária e na  escola, como mostram as figuras 5.

Figura 5 – G. no processo interventivo, após dois anos. A paciente consegue  interagir com outros pacientes. Comunica-se, elabora frases, consegue sentar  em qualquer cadeira e permanecer sentada. Além de ajudar pacientes a  conhecer a sala e fazer tarefas. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020. 

Figura 6 – G. no processo interventivo, após dois anos. A paciente consegue  interagir com diversos materiais e seguir instruções com êxito. Aceita diversos  tipos de materiais: estruturados ou mais lúdicos. Os reforçadores são as próprias  atividades e aprendizagens adquiridas; não necessitando de estímulos sensórios  sociais como atividades de brincadeira na água, por exemplo. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020.

Figuras 7 e 8 – G. no processo interventivo, após dois anos. A paciente consegue  colorir dentro do desenho, usar cores conforme o mundo social e interagir ao  mesmo tempo com uma tarefa de Natal. A paciente brinca de faz de conta e dá  nomes aos bonecos terapêuticos; aprendeu a brincar simbolicamente. Não só  brincar com partes dos brinquedos, mas de forma realmente lúdica. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020.

Figuras 9 e 10 – G. fazendo pose para o aniversário da terapeuta. Mantendo o  olhar na câmera e interagindo com o meio social. Enfatizamos a orientação  social através das figuras (identificar rostos, expressões faciais, bem como  traços característicos): físico, gestual, facial ou corporal para que a paciente se  habitua se a direcionar seus interesses para pessoas e não só para objetos  específicos. A paciente alcançou a percepção social. Na foto 10, observamos a  paciente em um momento de interação familiar. 

Fonte: Um Estudo de Caso: cadeira terapêutica para moldagem de uma menina  com TEA, São Paulo, 2020. 

Considerações Finais 

Este artigo descreve uma maneira diferente além da ciência Aba, de  ajudar no manejo do comportamento de uma paciente com Transtorno do  Espectro Autista, trazendo contribuições teóricas e práticas acerca da moldagem  comportamental. 

Ao realizar as observações, investigações e intervenções, foi possível  observar que pacientes dentro do espectro necessitam de ambiente educacional e terapêutico que viabilizem a rotina, regras claras, condutas simples,  ambientação e conforto emocional. 

Destaco a importância da equipe multidisciplinar no processo interventivo,  além da adequação da medicação, caso o médico neurologista ou psiquiatra,  veja a necessidade. Além disso, a escola realiza papel importante no que se  refere à rotina e atividades. 

O artigo, por sua vez, contribui quanto às evidências de que crianças com  espectro do autismo necessitam de moldagem, enquadramento, paciência e  afeto, além de colaborar com atividades e instituições escolares, terapêuticas e  ambientes familiares. Acrescento que a cadeira pode ser usada com outras  crianças que necessitam de moldagem comportamental, não se limitando ao  público autista. 

A cadeira terapêutica além de poder ser utilizada com diversas crianças  com diagnósticos diferentes, apresenta baixo custo e pode ser feita em casa.  Sabemos que materiais específicos e terapêuticos apresentam custo alto;  acrescento aqui a importância do profissional que manipula a cadeira e conduz  a criança, conhecer sobre ciências que envolvam o autismo, bem como métodos  e técnicas para trabalhar com tal público.

Referências Bibliográficas 

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