UM ESTUDO ACERCA DA SÍNDROME DO IMOBILISMO EM PACIENTES IDOSOS: MOBILIZAÇÃO PRECOCE E ELETROESTIMULAÇÃO

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Jessyca Dryelle

Autora:
Jessyca Dryelle de Oliveira Amorim¹
Orientador:
Denilson da Silva Veras²

¹Acadêmica Finalista do Curso de Fisioterapia na Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, Manaus/AM.
²Fisioterapeuta Especialista; Docente na Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, Manaus/AM.


RESUMO

O aumento da longevidade propicia o aparecimento de doenças crônicas, doenças agudas incapacitantes e inatividade. Patologias crônicas atingem 75,5% dos idosos, dos quais 60,5% são do gênero feminino. A imobilidade corresponde a uma síndrome geriátrica, acometendo indivíduos com enfermidades incapacitantes, o que culmina na supressão dos movimentos articulares. Objetivo: O estudo visa delinear o papel importante da fisioterapia para o paciente acometido pela síndrome do imobilismo, bem como a utilização das técnicas de mobilização precoce e eletroestimulação que independe da colaboração ativa do paciente. Métodos: Trata-se de uma revisão bibliográfica, ancorada em artigos que estão entre os anos de 2012 a 2021e foram buscados entre agosto e novembro, sendo pesquisados nas bases de dados MEDLINE (LiteraturaI Internacional em Ciências da Saúde), LILACS (Lliteratura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO Org (Scientific Electronic Library Online) e PUBMED no período de agosto a novembro de 2021. Resultados: O uso da mobilização precoce e eletroestimulação se mostraram eficazes quanto à melhora do quadro clínico do paciente com síndrome do imobilismo. Conclusão: O estudo mostra que existem evidências científicas comprovando a atuação fisioterapêutica com aplicação de mobilização precoce e uso da eletroestimulação.

Descritores: Mobilização precoce, Terapia intensiva, ICU-AW, imobilidade, UTI, Eletroestimulação, Prevenção, Complicação do imobilismo, Terapia por Eletroestimulação, Idoso, aparelho locomotor.

ABSTRACT

Increased longevity leads to the onset of chronic diseases, acute disabling illnesses and inactivity. Chronic pathologies affect 75.5% of the elderly, of which 60.5% are female. Immobility corresponds to a geriatric syndrome, affecting individuals with disabling diseases, which culminates in the suppression of joint movement. Objective: The study aims to outline the important role of physiotherapy for the patient affected by the immobility syndrome, as well as the use of early mobilization and electrical stimulation techniques that do not depend on the patient\’s active collaboration. Methods: This is a literature review, anchored in articles that are between the years 2012 to 2021 and were searched between August and November, being searched in the MEDLINE (International Literature I in Health Sciences), LILACS (Literature Latino American and Caribbean in Health Sciences), SCIELO Org (Scientific Electronic Library Online) and PUBMED from August to November 2021. Results: The use of early mobilization and electrical stimulation proved to be effective in improving the clinical condition of patients with immobility syndrome. Conclusion: The study shows that there is scientific evidence proving the physical therapy action with the application of early mobilization and the use of electrical stimulation.

Keywords: Early mobilization, Intensive care, ICU-AW, immobility, ICU, Electrostimulation, Prevention, Complication of immobility, Electrostimulation therapy, Elderly, locomotor system.

INTRODUÇÃO

A dinâmica populacional dos últimos anos apresentam mudanças como o aumento significativo de adultos mais velhos, que foram influenciados pela combinação da expectativa de vida aumentando com o contínuo declínio na fertilidade. A Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde definem envelhecimento como o processo de integração entre um indivíduo em envelhecimento e uma realidade contextual em processo de mudança permanente, sendo o estado funcional o melhor indicador de saúde na população idosa. A funcionalidade física do idoso constitui o somatório de habilidades para realizar atividades essenciais à satisfação de suas necessidades. A dependência de qualquer uma das atividades básicas e elementos instrumentais da vida diária estão relacionados ao aumento na mortalidade dos idosos. O processo funcional geriátrico começa quando um adulto idoso independente desenvolve limitação em sua reserva funcional, manifestado por um estado de vulnerabilidade que tem como resultado a deficiência. (SOTO et al., 2014, v. 23, p. 10)

O aumento da longevidade propicia o aparecimento de doenças crônicas, doenças agudas incapacitantes e inatividade. Patologias crônicas atingem 75,5% dos idosos, dos quais 60,5% são do gênero feminino. A imobilidade corresponde a uma síndrome geriátrica, acometendo indivíduos com enfermidades incapacitantes, o que culmina na supressão dos movimentos articulares. As causas do comprometimento da mobilidade são multifatoriais, predominando as neurológicas e musculoesqueléticas. (CINTRA et al., 2013, p. 70)

Dentro das grandes síndromes geriátricas, a imobilidade é uma das consequências mais sérias das doenças que o idoso pode sofrer, constitui o conjunto de sintomas e sinais que resultam da descompensação ou deterioração do equilíbrio devido à desconexão das funções de relação do sistema neuromusculoesquelético que determina a limitação funcional da prostração e dependência progressiva. (MADRIGAL, 2015, p. 551)

A prevalência e a incidência de problemas de mobilidade em idosos aumentam com a idade. Por outro lado, o primeiro varia de acordo com as circunstâncias. Estima-se que entre 15 e 18% das pessoas com mais de 65 anos têm dificuldade em se locomover por conta própria; 53% de idosos com mais de 75 anos têm dificuldade em sair de casa, sendo que 20% estão praticamente confinado em casa. 7 a 22% dos idosos hospitalizados sofrem restrições fisica; 50% dos idosos hospitalizados morrem agudamente em 6 meses. (CHÁVEZ, et al., 2019, p. 32)

As complicações da imobilização e inatividade nem sempre foram conhecidas como causas de disfunção, porém, nas últimas décadas, os profissionais de saúde estão voltando a atenção para os efeitos negativos e maléficos do descanso ou repouso prolongado no leito, da inatividade e os efeitos benéficos da atividade e dos exercícios. Antes de 1950, o repouso no leito e a imobilização eram utilizados de maneira generalizada no tratamento de enfermidades traumáticas e agudas, antes que seus efeitos fisiológicos fossem bem compreendidos. Porém, naquela época, o que não foi observado era o fato que o imobilismo trazia prejuízo para as partes não afetadas do corpo. A síndrome do imobilismo (SI) geralmente compromete o sistema osteomuscular dificultando as atividades de vida diária e profissionais, alterando também o padrão da marcha. Quando a capacidade funcional cai para níveis perigosamente baixos, novos sinais e sintomas aparecem e podem ser observados no aparelho locomotor e no sistema cardiovascular como a presença de trombose venosa profunda (TVP) devido à estase no fluxo sanguíneo nos membros inferiores, sistema respiratório, geniturinário, gastrintestinal e no sistema nervoso central (SNP). Sendo assim, considera-se que de 7 a 10 dias no leito seja um período de repouso, de 12 a 15 dias já é considerado imobilização e a partir de 15 dias decúbito de longa duração. (CINTRA et al., 2013, p. 70)

Os sistemas mais afetados pela imobilidade são o cardiovascular e músculoesquelético. São as debilidades no sistema cardiopulmonar: fluxo sanguíneo prejudicado com maior retorno venoso e diminuição da frequência cardíaca, que pode causar tendência sincopal e fadiga, embolia, trombo e hipotensão ortostática; sistema músculoesquelético: apresenta uma diminuição de até 55% da força muscular em 6 semanas de imobilização e atrofia dominante nos músculos flexores. As articulações mais afetadas são o tornozelo e o quadril com fraqueza na estrutura de apoio. Também há perda de massa óssea dependendo do estresse e a osteoporose pode ocorrer por imobilização e posturas viciosas; sistema respiratório: há aumento na produção de muco, há diminuição do movimento ciliar e diminuição na expansão da caixa torácica na qual reduz a capacidade volume vital e aumentando residual; sistema geniturinário: presença de pedras e infecções do trato urinário recorrente; sistema nervoso: alteração do equilíbrio e coordenação; sistema digestivo: anorexia, distúrbios de deglutição, refluxo gastroesofágico e constipação; sistema endócrino: hiperglicemia causada por resistência à insulina, paratormônio aumentado, deficiência imunológica e balanços minerais negativos e por fim, os distúrbios da pele: se associarmos diretamente aos idosos, as mudanças na pele os torna mais suscetíveis a desenvolver necrose por pressão contínua e outros fatores que os favorecem são: atrito, desnutrição e hipoxemia. (MADRIGAL, 2015, p. 553)

Muitos recursos são utilizados para reverter as alterações que ocorrem na síndrome do imobilismo. Um dos tratamentos descrito na literatura é o uso da Estimulação Elétrica Funcional (FES) sendo uma ferramenta terapêutica utilizada para restaurar funções motoras e sensoriais. O uso de corrente elétrica produz contração muscular favorecendo o fortalecimento e hipertrofia muscular. Consiste na estimulação elétrica de um músculo privado de controle normal para produzir uma contração funcionalmente útil. Esta estimulação despolariza o nervo motor, produzindo uma resposta sincrônica em todas as unidades motoras do músculo estimulado, melhorando o trofismo. A mobilização precoce diminui a incidência de fenômenos tromboembólicos e além de permitir a melhor oxigenação e nutrição dos órgãos internos. Atualmente, uma das funções mais importantes do fisioterapeuta é a retirada precoce do paciente do leito, evitando diversas patologias associadas ao repouso prolongado. Portanto, é importante conhecer e entender o grande número de comorbidades que envolvem o paciente idoso submetido à imobilidade ou inatividade, pois o tornam mais suscetíveis à complicação, perda funcional e incapacidades. (CINTRA et al., 2013, p. 71)

Os cuidados podem ser divididos em primário, secundário e terciário. Primário: visa manter grau de mobilidade, o exercício será ajustado de acordo com a patologia e gravidade da mesma. Em caso dos idosos doentes mais frágeis são recomendados exercícios de baixa intensidade e aeróbica; enquanto que no idoso hospitalizado ou institucionalizado é fundamental capacitar atividades fora do quarto de acordo com a possibilidade. É recomendado suspender os exercícios em caso de dor, dispneia, tontura ou instabilidade. Secundário: uma vez com a imobilidade instaurada, a detenção precoce é muito importante. Deve-se incluir uma série de adaptações do meio ambiente que favoreça os deslocamentos e encorajar a manutenção de autonomia. Dentro das medidas se encontra: evitar barreiras, estimular independência e adaptações técnicas (facilidade de portas abertas, corredores e quartos mais espaçosos, verificar móveis que interfiram na deambulação, uso de bengalas para apoio, iluminação adequada, entre outros). Terciário: inclui o tratamento de complicações. (MADRIGAL, 2015, p. 554)

A mobilização precoce e o posicionamento adequado no leito podem significar uma oportunidade única de interação do paciente com o meio ambiente, devendo ser consideradas como fontes de estimulação sensório motora e meio de prevenção de complicações secundárias à imobilização. A mobilização precoce reduz o tempo para desmame da VM e auxilia na recuperação funcional, sendo realizada através de atividades terapêuticas progressivas, tais como exercícios motores no leito, sedestação a beira do leito, transferência para a cadeira, ortostatismo e deambulação. A intervenção precoce é necessária para prevenir tanto problemas físicos como psíquicos e evita a hospitalização prolongada assim como os riscos associados à imobilização. (FELICIANO et al., 2012)

Nesse contexto, a eletroestimulação muscular apresenta-se como recurso de grande valia. Sua principal vantagem está no fato de poder ser empreendida independentemente da cooperação do paciente, e por ser capaz de gerar respostas musculares eficientes, bem como resultados satisfatórios na preservação da massa muscular, condicionamento físico e funcionalidade dos que usam essa ferramenta. (GODOY et al., 2015)

O desenvolvimento de fraqueza muscular generalizada é uma complicação que acomete de 30% a 60% dos pacientes internados nas UTIs, podendo persistir entre seis meses até dois anos após a alta da unidade, e, consequentemente, acarretando impactos na função física desses pacientes. Além disso, pacientes com força muscular periférica reduzida permanecem um maior tempo em ventilação mecânica (VM). No entanto, esses efeitos deletérios do imobilismo podem ser revertidos ou amenizados pela atuação da fisioterapia, a qual contribui para a redução do tempo de permanência na UTI, assim como no hospital.  (MACHADO et al., 2017).

O imobilismo é uma síndrome que acomete adultos, porém, afeta idosos em grande escala, o que os impossibilita de serem funcionais. No entanto, são poucos os estudos que esclarecem a mobilização precoce como técnica necessária para otimizar a funcionalidade e/ou qualidade de vida na síndrome do imobilismo. Entretanto, este estudo teve como objetivo delinear a importância da fisioterapia no imobilismo e salientar a mobilização precoce como prevenção de complicaçóes referentes à mesma.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura, utilizando artigos científicos em português, inglês e espanhol, publicados entre os anos de 2012 a 2021. A questão PICO foi: P- paciente: pacientes idosos, E-exposição: mobilização precoce, C- controle: foram incluídos todos os estudos relacionados com o tema, O- desfechos: A questão clínica foi evidenciar e demonstrar o que é a síndrome do imobilismo, bem como a importância da fisioterapia junto com a mobilização precoce para manutenção de funcionalidade e/ou qualidade de vida no paciente idoso com imobilismo. Foram utilizadas as bases de dados MEDLINE (LiteraturaI Internacional em Ciências da Saúde), LILACS (Lliteratura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO Org (Scientific Electronic Library Online) e PUBMED no período de agosto a novembro de 2021. Utilizou-se a combinação dos seguintes descritores: imobilidade, unidade de terapia intensiva, fraqueza muscular adquirida, mobilização precoce e seus correspondentes em inglês e espanhol, estes descritores poderiam estar no título ou no resumo.

A busca dos artigos resultou: 13 artigos no PUBMED, 2 artigos no LILACS, 5 artigos no MEDLINE e 11 artigos no SCIELO. Foram incluídos artigos que abordassem o imobilismo publicados no período de 2012 a 2021 e excluídos aqueles indisponíveis na íntegra, duplicatas e que não abordassem o tema proposto ou aqueles publicados antes do ano 2011. Seguindo os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 5 artigos que contemplaram o desenho metodológico proposto.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram incluídos nesta análise o total de 5 artigos que realizaram diversos estudos para explanar o imobilismo e a eficácia da mobilização precoce em pacientes idosos com síndrome do imobilismo.

A Tabela 1, mostra os resultados dos estudos encontrados para posterior discussão deste trabalho:

AnoAutorObjetivoTipo de estudoResultados
2012FELICIANO, et al.Avaliar a eficácia de um protocolo de mobilização precoce no tempo de estadia na unidade de terapia intensiva (UTI).Ensaio clínico, controlado e randomizado.Os pacientes do protocolo de mobilização ficaram um tempo mais curto na UTI do que aqueles que não entraram no protocolo de mobilização.
2013CINTRA, et al.Avaliar a influência da fisioterapia na Síndrome do Imobilismo.Estudo de casoA eletroestimulação neuromuscular de baixa frequência é indicada para fortalecimento muscular.
2015MADRIGALCompreender a síndrome do imobilismo no idoso.EditorialA Síndrome de Imobilização é uma das síndromes mais comuns em geriatria. Isto é de grande importância saber métodos de prevenção e realizar o manuseio adequado para neutralizar as causas e diminuir o aumentao da morbidade e mortalidade.
2019CHÁVEZ, et alCaracterizar o comportamento da síndrome da imobilidade em idosos.Estudo descritivo e retrospectivo.A síndrome predominou em pacientes do sexo feminino em idades avançadas.
2015SOTO, et al.Realizar diagnóstico da capacidade funcional do idoso institucionalizado na casa do sul de Jalisco.Estudo transversal, descritivo e prospectivo.A amostra foi composta por 111 idosos. A idade média era 81 anos, 27,9% apresentaram independência total, 28,8% dependência leve, 14,4% moderada, 18% grave e 10,8% total. Estatisticamente não houve diferença significativa de acordo com o sexo (p = 0,36). As atividades básicas com o maior número de sujeitos independentes totais foram: comer, cuidar da aparência, vestir-se, controlar a micção e a evacuação, movimentar-se e deambular; subir e descer escadas e lavar-se foram atividades em que mais sujeitos apresentaram dependência total.

Segundo Cintra et al. (2013), em um estudo de caso realizado para avaliar a contribuição da eletroestimulação na síndrome do imobilismo onde havia duas pacientes: uma de 87 anos (paciente 1) e outra de 74 anos (paciente 2) ambas com diagnóstico de pelos 3 anos e com perdas funcionais, apresentando diminuição de força muscular e amplitude de movimento, retração articular, avaliados e coletados dados. Foi realizado verificação de aptidão motora: agilidade, velocidade e equilíbrio para execução de alguns movimentos. As pacientes se encontravam acamadas há pelo menos um mês devido fraqueza muscular. O tratamento foi realizado por um fisioterapeuta, com 20 sessões sendo 2 vezes por semana, o que incluía as mobilizações articulares em membros superiores e inferiores, exercícios de alongamento e relaxamento em sessões de 40 minutos. A segunda paciente além de receber todo o tratamento, também fez uso de FES em membros inferiores no quadríceps, o que se mostrou eficaz e oportuno, tendo em vista que a segunda paciente finalizou as sessões melhorando capacidade funcional, amplitude de movimento, apresentando deambulação com caminhada ativa-assistida. Em contrapartida, a primeira paciente não apresentou melhora no quadro motor. Ainda conforme os estudos realizados por Sachetti et al. (2018) e Miranda et al. (2012), a estimulação elétrica neuromuscular tende a ser uma alternativa para trabalhar e otimizar o aumento da força muscular, sendo segura, viável e benéfica aos pacientes na UTI, apesar dos protocolos para esse tipo de recurso não estar tão bem estabelecido devido a individualidade, variação de intensidade, frequência, duração, numero de aplicações e local de aplicação.

Feliciano et al. (2012), em um ensaio clínico, controlado e randomizado avaliou um protocolo de mobilização precoce em relação ao tempo de estadia na unidade de terapia intensiva e separou os grupos aleatoriamente e foram excluídos os pacientes com sinais de hipertensão intracraniana, incapacidade de andar sem assistência antes doença aguda na UTI, debilidade cognitiva antes do internamento na UTI, doença neuromuscular, índice de massa corporal (IMC) > 40 kg/m2, fratura não consolidada, submetidos à VM por um período maior que 7 dias antes de ser transferido para UTI, reincidiva de pós-operatório e terapia contra câncer nos últimos seis meses. Sendo assim, foram divididos em 2 grupos: grupo fisioterapia convencional onde receberam um atendimento ao dia de mobilização nos quatro membros e com exercícios ativo-assistidos e grupo mobilização precoce que recebeu um protocolo de mobilização sistematizado onde havia condutas conforme estágios, sendo eles: estágio 1 (paciente inconsciente) enquanto inconsciente era realizado alongamento passivo de membros superiores 3x e em 30 minutos e mobilizações passivas em membros superiores e inferiores, 2 vezes ao dia e realizado 10 movimentos em cada articulação; estágio 2 (paciente consciente): neste o paciente já conseguindo executar o comando de abrir os olhos, direcionar olhar, abrir a boca e protrair a língua foi classificado como passível de interação assim como para alcançar estágio 2 foi preciso apresentar grau de força muscular 2 em membros superiores, realizadas mobilizações do estágio 1 e exercícios ativo-assistido como também a manutenção na posição sedestada por pelo menos 20 minutos; estágio 3: com a melhora da força muscular em membros superiores acima de 3, os pacientes realizaram os mesmos exercícios anteriores 1º contra a gravidade e 2º com auxílio de peso, transferência para a beira do leito e cicloergometria para membros inferiores com tempo de 2, 5 e 10 minutos com 2 minutos de intervalo; no estágio 4 do programa de MP foi realizada após os pacientes apresentarem grau de força igual ou maior que 4 e foram adicionados exercícios de transferência do leito para a cadeira e ortostatismo e por fim, no estágio 5 o paciente precisava ficar em posição ortostática, realizando exercícios do estágio 4 com adição de exercícios de equilíbrio, transferência de peso para ambos os lados, para frente e para trás e deambulação na UTI. Sendo assim, foi verificado quanto à duração de permanência na UTI que os pacientes que participaram do protocolo de mobilização ficaram um tempo menor na UTI do que aqueles que não entraram no protocolo de mobilização (19,86 ± 11,67 e 21,43 ± 17,14). De acordo com os achados em estudos de Tellez et al. (2012), a Mobilização Precoce em pacientes críticos é efetiva na prevenção de problemas físicos e mentais exacerbados em decorrência do imobilismo, agindo diretamente na redução do período de internação hospitalar. A indicação da Mobilização Precoce se dá principalmente pela perda de força muscular, podendo chegar a 60%, ocasionada pelas respostas inflamatórias sistêmicas, desregulação do controle glicêmico, sedação, desnutrição, bloqueadores neuromusculares, a própria imobilidade prolongada e o tempo que o paciente se mantém no suporte ventilatório mecânico.

Para Madrigal (2015), em seu editorial é delineado o imobilismo no idoso, bem como conceitos, consequências da imobilidade conforme sistemas e prevenção, fazendo a seguinte ressalva: é de grande importância saber métodos de prevenção e realizar o manuseio adequado para neutralizar as causas e diminuir a morbidade e mortalidade.

Conforme Soto et al. (2015), em seu estudo descritivo transversal e prospectivo realizou um diagnóstico da capacidade funcional em idosos institucionalizados com a escala de Barthel. As amostras não foram aleatórias: era necessário que o indivíduo possuísse ao menos três meses de estadia na casa, não tivesse problemas com comunicação e com participação voluntária. A escala aplicada (Barthel) pontua da seguinte forma: 100 pontos – totalmente independentes, 95 a 60 pontos – dependência leve, 55 a 40 pontos – dependência moderada, 35 a 20 pontos – dependência severa e menor que 20 pontos a dependência é total. Ao todo, foram 111 asilados de 6 instituições distintas onde 46,8% eram mulheres, com idades que variaram de 60 a 104 anos, ficando com uma idade média de 81 anos. Sendo assim, o autor identificou maior independência total no público masculino e no feminino a frequência maior era na dependência leve e severa. Quanto à frequência de independência moderada e total foi semelhante em ambos. O estudo foi dividido em dois grupos: funcionais que abrange idosos totalmente independentes e dependentes leves e não funcionais que são os idosos dependentes moderados, severos e totais. Ao avaliar os resultados, foi percebido que os idosos têm maior independência total em comer, vestir, controlar micção e evacuação, transferência e deambulação e mostrou maior dependência total em subir e descer escadas. Em suma, 72,1% dos idosos do estudo apresentaram algum grau de dependência.

Por outro lado, Chávez et al. (2019), em seu estudo descritivo e prospectivo selecionou 145 idosos, cujo critério de inclusão foi ter 60 anos ou mais e que concordaram em cooperar com o estudo. Foram excluídos os idosos que apresentaram algum tipo de problema mental que não permitisse o bom entendimento da pesquisa. Neste estudo, as variáveis operacionalizadas foram idade (que variaram em grupos entre: 60 a 69 anos, 70 a 79 anos, 80 a 89 e mais de 90 anos), sexo, os hábitos, tipo de imobilidade, origem da imobilidade e complicações. Predominou a idades entre 80 e 89 anos, seguido de 70 e 79 anos, como também maior no público idoso feminino para síndrome do imobilismo. Conforme estudo, as causas mais prevalentes são as doenças degenerativas do sistema osteomioarticular com 83,15%, a segunda e terceira causa mais frequente são as doenças pulmonares obstrutivas e neoplasias, no contexto de imobilidade larvada. Por outro lado, quanto à imobilidade aguda o que mais afeta o idoso é a síndrome do cuidador com 68%, seguido de fraturas, infecção por hospitalização e traumas com complicações mais frequentes como constipação, úlceras de decúbito e sepse respiratória.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Síndrome do Imobilismo é oriunda do repouso prolongado no leito que ultrapassa 15 dias e por sua vez, causa efeitos deletérios à saúde, podendo ser decorrente do envelhecimento (uma vez que com o passar dos anos o corpo sofre alterações) como também devido à internação posterior a acidente. O imobilismo é uma das causas da morbidade no idoso, podendo levar à perda de até 6% de massa e força muscular por dia, o que contribui para o declínio dos sistemas: cardiovascular, musculoesquelético, endócrino, urinário, respiratório, gastrintestinal e tegumentar. No entanto, o trabalho fisioterapêutico com o paciente crítico pode ofertar desfecho positivo para as disfunções secundárias ao imobilismo onde atua na redução de dor, dando estímulo para deambulação, melhorando mobilidade e flexibilidade, evita complicações respiratórias e entre outros, mostrando eficácia na recuperação e redução de tempo de internação.

Em suma, este estudo mostra que existem evidências científicas comprovando a atuação fisioterapêutica com aplicação de mobilização precoce e uso da eletroestimulação, o que indica a importância do fisioterapeuta no ambiente hospitalar e equipe multidisciplinar Ainda assim, existe escassez quanto às pesquisas voltadas para este âmbito, o que é sugestivo de que sejam feitos mais estudos.

REFERÊNCIAS

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