ÚLCERA VENOSA – ESTUDO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506090736


Valéria Camata Gottardo*; Ana Carolina Camata Gottardo; Tatiane  Rayury Marques Martins; Alisson Manoel Rangel Dutra


RESUMO

Os vasos sanguíneos são responsáveis por transportar o sangue por todo o sistema  tegumentar e para todos os tecidos do organismo necessitam do sistema circulatório para  serem sustentados, e para que isso ocorra é necessário que os nutrientes cheguem aos  tecidos através do sistema circulatório. Portanto o objetivo deste estudo é avaliar a  evolução do estado de saúde ao longo do tempo contrastando formas variáveis de  tratamento que influenciam direta e indiretamente no modo saúde doença do indivíduo.  Para a realização do estudo e avaliação do processo saúde doença da paciente, a pesquisa utilizada foi de metodologia de qualitativa por meio do estudo de caso exploratório com  a amostragem não probabilística por conveniência/acessibilidade, devido acessibilidade  do local, que se encontra no mesmo território de abrangência da Unidade Básica de Saúde  (UBS) Policlínica. É possível observar que houve progresso negativo na cicatrização de  ambas feridas com MMII, havendo aumento da extensão, profundidade e com presença de pontos de tecidos inviáveis.

PALAVRAS CHAVE: Ferida. Úlcera venosa. Curativo.

INTRODUÇÃO

A pele é o maior órgão do corpo humano compondo o sistema tegumentar, que  compreende a pele e seus anexos. A pele é dividida em três camadas, sendo a camada  superficial epiderme, seguida da derme e por último e mais profunda a hipoderme. E tem  como uma de suas principais finalidades de formar uma barreira entre o meio interno e  externo do corpo. (GAYTON; HALL, 2011).

Na epiderme está presente o tecido epitelial estratificado, ou seja, um tecido  exposto em várias camadas que tem como função a proteção, sendo as células básicas os  queratinócitos que sintetizam e produzem a proteína queratina. Já a derme é composta,  em sua maioria, por colágeno e elastina que dá volume e elasticidade para pele. Na  camada mais profunda, a hipoderme, está presente o tecido conjuntivo adiposo, constituindo o colágeno responsável por manter os adipócitos unidos. (GAYTON; HALL,  2011).

Os vasos sanguíneos são responsáveis por transportar o sangue por todo o sistema  tegumentar e para todos os tecidos do organismo necessitam do sistema circulatório para  serem sustentados, e para que isso ocorra é necessário que os nutrientes cheguem aos  tecidos através do sistema circulatório. Essas substâncias atingem as células teciduais através das artérias, onde ocorre a troca por meio dos capilares, onde as toxinas  produzidas pelas células são substituídas pelos nutrientes trago pelas artérias. (GAYTON;  HALL, 2011).

Conforme afirma Brasil (2012) “o sangue desce muito facilmente do coração até  as pernas e os pés, através das artérias. Mas precisa desenvolver esforço muito grande  para voltar dos pés e pernas até o coração. ” Os vasos sanguíneos responsáveis por fazer  o sangue retornar ao coração são as veias. “Esta tarefa de retorno venoso é executada  pelas veias por meio de válvulas venosas que direcionam o sangue para cima. Na pessoa  normal a válvula se abre para o sangue passar e se fecha para não permitir que o sangue  retorne”. (BRASIL, 2012).

Toda vez que uma pessoa caminha ou move as pernas, ela acaba tencionando os  músculos, auxiliando a tarefa das veias com o retorno venoso ao coração.  Consequentemente se a pessoa fica muito tempo imóvel, não irá ter compensação dos  músculos para a ajuda do retorno venoso, causando aumento da pressão capilar e  extravasamento do líquido do sistema circulatório para as células intersticiais.  (GAYTON; HALL, 2011).

Conforme afirmam Gayton e Hall (2011) “esse sistema de bombeamento é  referido como “bomba venosa” ou “bomba muscular” e é tão eficiente que, sob  circunstâncias habituais, a pressão venosa nos pés do adulto enquanto caminha permanece  abaixo de +20 mmHg.” 

As ulceras venosas são causadas por fatores que impedem o sangue retornar ao  coração, e geralmente é uma consequência causada por patologias primárias como: varizes, trombose profunda, anomalias valvulares venosas e outras causas que induzem  no retorno do sangue venoso, tornando o local fragilizado e qualquer pequeno trauma  pode levar a uma lesão e evoluir para a condição crônica. (BRASIL, 2002).

O tipo de atividade de ocupação pode influenciar na cicatrização da ferida,  afetando diretamente o dia a dia do indivíduo, tendo potencial para acarretar  aposentadoria prévia. (CRUZ; BERNARDES, 2018).

A cicatrização de ulceras venosas está relacionado por um conjunto de fatores. O  que pode influenciar no processo de cicatrização é o conhecimento do profissional de  enfermagem que irá realizar o procedimento e, sobretudo, a história atual e pregressa do  paciente, que dependendo de tal, pode aumentar ou diminuir a duração da terapêutica de  cicatrização (BERTOCHI; GOMES; MARTINS, 2019).

As feridas crônicas influenciam diretamente na vida social do indivíduo portador,  tornando a autoestima mais baixa, isolamento social como também a perda significativa  de autonomia se tornando dependente de terceiros para garantir a realização de tarefas  simples do cotidiano. (BONFIM, 2019)

Portanto o objetivo deste estudo é avaliar a evolução do estado de saúde ao longo do  tempo contrastando formas variáveis de tratamento que influenciam direta e  indiretamente no modo saúde doença do indivíduo. 

METODOLOGIA

Para a realização do estudo e avaliação do processo saúde doença da paciente, a  pesquisa utilizada foi de metodologia de qualitativa por meio do estudo de caso exploratório com a amostragem não probabilística por conveniência/acessibilidade,  devido acessibilidade do local, que se encontra no mesmo território de abrangência da  Unidade Básica de Saúde (UBS) Policlínica ao qual uma das pesquisadoras atua. A  paciente foi selecionado de acordo com a cronicidade de patologias e por ser portadora  diagnosticada com ulcera venosa a mais de 5 anos. 

A investigação consistiu em três etapas sendo a primeira fase descritiva onde se  realizou a anamnese para visão global da paciente. O instrumento usado para coletar  dados, no estudo desta pesquisa, é baseado em um levantamento de dados qualitativos,  em forma de questionário baseado na teoria das necessidades de Joao Mohana em  conjunto com avaliação especial dos membros inferiores (MMII) através da classificação  para doença venosa – CEAP (Do American Venous Forum) e a avaliação do índice  tornozelo braquial (ITB).Foram elaboradas pelo entrevistador da pesquisa para avaliação do perfil pessoal e processo de saúde doença do paciente o roteiro de anamnese e exame  físico. 

Na segunda fase a avaliação do estado de saúde no momento da coleta de dados com  descrição do estado de saúde física e da ferida e com registros fotográficos. E a terceira  fase se deu pela intervenção dos dados coletados, analisados por descritiva simples.

RESULTADOS 

Caso clínico:

M. J. S. A. sexo feminino, 79 anos, parda, natural de MG, analfabeta, casada,  aposentada, 03 filhos, hipertensa, reside em casa de alvenaria com o filho mais novo e  nora. Nega fumo, alcoolismo ou uso de drogas, nega realizar automedicação, salvo em  casos específicos durante a vida como cefaléia. Não realiza nenhuma atividade física e  informa que seja devido a idade e pela condição física e financeira. Nega alergias. Dorme  durante 8h diárias, auxilia no preparo dos alimentos, informa ingerir 2l de agua/dia.  Eliminações fisiológicas de forma diária, sem queixas. Portadora de ulcera venosa a mais  de 5 anos. Ao exame físico: peso: 58kg, altura 159cm, IMC: 25,44 FR: 20rpm, sat O2  97%, eupineica, PA: 120X80mmhg, FC: 87bpm, pulso forte e cheio, edema + MMII,  perfusão periférica enchimento capilar >03 segundos, varizes em ambos MMII. T:  36,6°C. Boa audição, visão com auxílio de óculos. Queixa de dor diária, frequente e  intensa no local da ferida, em forma de ardência, para controle da dor deixou de utilizar  métodos não farmacológicos pois refere que dão muito trabalho e pouco resultado e  quando a dor se intensifica muito, faz uso das medicações prescritas pelo médico da UBS,  dipirona e nimesulida. Verbaliza que sente ansiedade a maior parte do tempo que fica  sozinha.

Possui registros em prontuário Eletrônico (PEC) com diagnóstico de varizes dos  membros inferiores (CID 10- I83) desde 2015, com registros de ulcera venosa desde 2020  e registros de curativos frequentes na UBS, procedimentos cirúrgicos para  reestabelecimento da circulação dos MMII, porém sem êxito, tornou-se domiciliada em  2023, fazendo uso de fraldas geriátricas, e possui registros mensais de realização de  curativos na UBS. Foi utilizado como rotina desde o início dos ferimentos até início do  ano de 2025 clorexidina para limpeza da ferida e ainda a colagenase também de uso  contínuo. Não foi possível identificar registros do início das lesões, mas a descrição pela

paciente é começou a notar inchaço progressivo em ambos tornozelos, principalmente ao  final do dia, percebeu alterações na pele, hiperpigmentação e prurido local. Logo depois  surgiu pequenas feridas próximas aos maléolos, que desde então não cicatrizam e está  aumentando de tamanho lentamente. Refere que inicialmente havia apenas leve dor local,  mais como uma sensação de queimação ou peso.

Registro 12.03.2025

Fonte: Arquivo do pesquisador. 

Imagem 01 Membro inferior direito e imagem 02 Membro inferior esquerdo

Evolução ferida 01: Úlcera venosa com aproximadamente 15 cm de extensão,  presença de tecido de granulação vermelho vivo, úmido, predominante em 70% da área.  áreas com crostas e exsudato seropurulento escasso. Bordas irregulares, ligeiramente  maceradas em alguns pontos. Pele perilesional com presença de hiperpigmentada, com  áreas de ressecamento e escoriações; sinais de dermatite ocre. Exsudato em quantidade moderada, seroso a seropurulento, sem odor fétido e dor referida pelo paciente como  moderada (EVA 5/10), principalmente durante manipulação.

Úlcera venosa com aproximadamente 14x6cm, presença predominante de tecido de  granulação úmido, com áreas residuais de esfacelo e crostas secas nas margens, exsudato  moderado, seroso, sem odor fétido, bordas irregulares, levemente elevadas e com sinais  de maceração pele perilesional hiperpigmentada com áreas áreas descamativas e ressecadas, temperatura local levemente aumentada ao toque, dor referida pelo paciente  como moderada (EVA 5/10), principalmente durante manipulação. Sem sinais de  infecção sistêmica. 

Presença teleangiectasias e veias varicosas visíveis, com trajeto tortuoso, pulso cheio  em ambos MMII, edema ++/++++ dermatite ocre, sinal de Homans: Negativo. teste da  elevação dos membros: Edema reduz parcialmente com elevação por 15 minutos. Teste  de Trendelenburg: Não realizado no momento. Teste de Perthes: Sugestivo de disfunção  venosa profunda.

Os curativos são em sua maioria realizados de forma domiciliar, pelos familiares, logo  após o banho. E uma vez ao mês a equipe da Estratégia em Saúde da Família (ESF) realiza  o curativo a fim de avaliar evolução e orientar realizações. Os materiais utilizados tanto  por familiares ou profissionais são apenas os disponibilizados pelo Sistema Único de  Saúde (SUS), que consiste em soro fisiológico 0,9%, gazes estéril, luvas de  procedimentos, máscara, óleo de girassol, colagenase quando necessário, esparadrapo e ataduras. 

Tabela 01: Sistematização da assistência de enfermagem (SAE)

DISCUSSÃO: 

Capacidade caminhar de  um lugar para outro de  forma independente ou  com auxilio necessário. 

A clorexidina, embora amplamente utilizada como antisséptico devido à sua  eficácia contra uma ampla gama de microrganismos, não é recomendada para a limpeza de feridas. Estudos indicam que seu uso pode ser citotóxico para células essenciais na  cicatrização, como fibroblastos e osteoblastos, potencialmente retardando o processo de  cicatrização (BRAGANÇA, 2018).

Portanto, para a o tratamento das feridas com diagnóstico de úlcera venosa são  indicados terapias compressivas que são consideradas a primeira linha e variam entre  meias elásticas de compressão e ataduras elásticas, tratamento cirúrgico, tratamento local  como a limpeza de úlceras venosas, recomenda-se o uso de soluções menos agressivas,  como soro fisiológico 0,9% ou água potável, que são eficazes na remoção de detritos sem  comprometer o tecido saudável, medicamentos sistêmicos de substâncias que afetam o  tônus venoso ou flebotômicas e substâncias que afetam as propriedades de fluxo sanguíneo, e as medidas complementares, como e repouso e atividades guiadas e  assistidas. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2020). 

CONCLUSÃO:

É possível observar que houve progresso negativo na cicatrização de ambas  feridas com MMII, havendo aumento da extensão, profundidade e com presença de  pontos de tecidos inviáveis. Apesar dos fatores que dificultam a cicatrização, como as  doenças vasculares, idade, sedentarismo e dieta inadequada as ulceras venosas são  caracterizadas por sua cronicidade, porém ainda sim passíveis de cicatrização. Pode-se  inserir nas terapias de tratamento o uso de curativos compressivos, uso de medicamentos  que afetam tônus venoso e fluxo sanguíneo e o fortalecimento motor principalmente dos  membros afetados.

REFERÊNCIAS 

Bertochi, T., Gomes R. Z., Martins, M. Mobilidade da articulação talocrural como  fator preditor no prognóstico de cicatrização em portadores de insuficiência venosa  crônica com úlcera venosa. J Vasc Bras. 2019.

Bonfim, A. P. Souza, G. T. Pita, M. C. Araújo, A. J. de S. Atuação do enfermeiro na  assistência ao paciente idoso portador de úlcera venosa, REAS/EJCH | Vol.Sup.22.  2019.

Brasil. Ministério da Saúde. Biblioteca virtual em saúde / Dicas em saúde / varizes. 2012.  Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/247_varizes.html. Acessado no dia  25/05/2020. 

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção  Básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas / Ministério da  Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília:  Ministério da Saúde, 2002.

Cruz C.C., Caliri M. H. L., Bernardes RM. Características epidemiológicas e clínicas  de pessoas com úlcera venosa atendidas em unidades municipais de saúde. ESTIMA,  Braz. J. Enterostomal Ther, 2018. 

GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro,  Elsevier Ed., 2011. 177 – 186p. 

HERDMAN, T. Heather; KAMITSURU, Shigemi; LIPPINCOTT, Williams & Wilkins.  Diagnósticos de Enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2024-2026. 13. ed.  Porto Alegre: Artmed, 2024.

BUTCHER, Howard K. et al. NIC: Classificação das Intervenções de Enfermagem. 7.  ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2024.

MOORHEAD, Sue. NOC: Classificação dos Resultados de Enfermagem. 7. ed. Rio de  Janeiro: Gen Guanabara Koogan, 2024.

BRAGANÇA, Karolina Andrade. Revisão integrativa: influência da solução de  clorexidina na cicatrização de feridas. 2018. Monografia (Especialização em Estratégia

do Cuidar em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas  Gerais, Belo Horizonte, 2018. 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Consenso sobre diagnóstico e  tratamento das úlceras crônicas de membros inferiores. Hematology, Transfusion and  Cell Therapy, [S.l.], v. 42, n. 1, p. 1–10, 2020.


*Enfermeira pós graduada em estomoterapia, atua na APS no interior de Rondônia.  E-mail: valeriacgotardo@gmail.com