TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL EM CÃO – RELATO DE CASO

CANINE TRANSMISSIBLE VENEREAL TUMOR – CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410071805


Lídia Ketry Moreira Chaves1
Michelly Dias de Oliveira2
Isabel Cristina Costa Correia da Silva3
 Gabrielli de Oliveira Silva4
Isa Lorena Pinto Dantas Bezerra5
Rafaela Rodrigues Almeida6
Isadora Raquell Soares de Queiroz7
Marcielle Michelle Moreira Menezes8
 Anna Vitória Praxedes de Oliveira9
Mateus de Melo Lima Waterloo 10


RESUMO

O tumor venéreo transmissível (TVT) canino, também conhecido como sarcoma de Sticker, é uma doença presente mundialmente, especialmente em regiões de clima temperado com grande número de cães errantes. Acomete cães de ambos os sexos e raças, sendo mais comum em animais com atividade sexual não monitorada. Macroscopicamente, o TVT apresenta-se como uma massa friável com aspecto de couve-flor, frequentemente ulcerada, localizada na região genital ou extragenital. A transmissão ocorre por contato direto durante o coito ou através da pele e mucosas, por lambedura, mordedura ou ao farejar áreas contaminadas. O diagnóstico baseia-se no histórico clínico e nas características das lesões, sendo confirmado por exames citológicos ou histopatológicos. O tratamento mais eficaz é a quimioterapia com vincristina, com prognóstico favorável em 90% dos casos. Um caso foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Animal) da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), em Mossoró-RN, envolvendo um cão macho, sem raça definida, apresentando nódulos no prepúcio, flancos e membro pélvico esquerdo, além de perda de peso e linfonodos aumentados. A citologia confirmou TVT, com células arredondadas e citoplasma basofílico vacuolizado. O cão foi tratado com sulfato de vincristina (0,5 mg/m²) em quatro sessões semanais. Apesar de efeitos colaterais como neutropenia e vômitos, houve remissão total das lesões. O animal permanece livre da doença seis meses após o tratamento, sob acompanhamento veterinário. Este caso ressalta a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado no manejo do TVT.

Palavras-chaves: Neoplasia; Cães; Quimioterapia; Citologia; TVT

ABSTRACT

Canine transmissible venereal tumor (TVT), also known as Sticker’s sarcoma, is a globally occurring disease, particularly in regions with temperate climates and high numbers of stray dogs. It affects dogs regardless of sex or breed, being more common in animals with unmonitored sexual activity. Macroscopically, TVT appears as a friable, cauliflower-like mass, often ulcerated, located in genital or extragenital areas. It is transmitted by direct contact during copulation or through the skin and mucosa by licking, biting, or sniffing contaminated sites. Diagnosis is based on clinical history and macroscopic lesion characteristics, confirmed by cytological or histopathological exams. The most effective treatment is chemotherapy with vincristine, which has a favorable prognosis in 90% of cases. A case involving a male mixed-breed dog was attended at the Federal Rural University of Semi-Arid (UFERSA) Veterinary Hospital in Mossoró, Brazil. The dog presented with nodules on the prepuce, flanks, and left hind limb, along with weight loss, enlarged lymph nodes, and ectoparasites. Cytology confirmed TVT, showing round cells with vacuolated basophilic cytoplasm. The dog was treated with intravenous vincristine (0.5 mg/m²) for four weekly sessions. Despite side effects like neutropenia and vomiting, the dog responded well, with complete remission of the lesions. Six months post-treatment, the dog remains diseasefree, under follow-up care. This case highlights the importance of early diagnosis and appropriate treatment of TVT.

Keywords: Neoplasia; Dogs; Chemotherapy; Cytology; TVT

1  INTRODUÇÃO

O tumor venéreo transmissível canino (TVT), também conhecido como linfossarcoma de Sticker, é uma doença presente mundialmente, principalmente em regiões onde o clima é temperado e possui um alto número de cachorros errantes (BARBOSA, 2022). Acomete cães independemente de sexo ou raça, sendo mais comum em cães cuja atividade sexual não é monitorada (VALENÇOLA et al., 2015).

Macroscopicamente, o TVT tem um aspecto semelhante a uma couve-flor, frequentemente ulcerado e de consistência friável. As lesões podem ser localizadas na região genital ou extragenital. Microscopicamente, as células são arredondadas ou ovais, com núcleos redondos e várias figuras mitóticas. (MORAIS et al, 2021). O TVT é transmitido por contato direto durante o coito ou mecanicamente através da pele e/ou mucosa no ato de lambedura, mordedura e farejar locais contaminados (GREATTI et al., 2004).

O diagnóstico baseia-se no histórico clínico e nas características macroscópicas das lesões, sendo confirmado por exames citológicos e/ou histopatológicos. A impressão em uma lâmina ou a aspiração por agulha fina (PAAF) são duas opções para a realização do exame citológico. O imprint é usado em lesões ulceradas e exsudativas, onde a lâmina de vidro é pressionada contra a lesão, e a PAAF é obtida introduzindo uma agulha na lesão, seguida de movimentos de vai-e-vem para obter maior representatividade celular, revelando citoplasma basofílico, vacuolizado e de alta relação núcleo-citoplasma (Morais et al, 2021). O tratamento mais eficaz é a quimioterapia com vincristina, que, apesar dos efeitos colaterais, é o método mais utilizado (Pimenta e Viana, 2021).

O prognóstico é favorável para 90% dos casos, quando realizado o tratamento corretamente (FLORENTINO et al., 2006). O presente relato tem como objetivo descrever um caso clínico atendido no Hospital Veterinário (HOVET) da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) em Mossoró-RN de um canino, macho, SRD, apresentando TVT no prepúcio e outras regiões, assim como apresentar a conduta clínica deste caso. 

2  RELATO DE CASO

Foi atendido no HOVET da UFERSA em Mossoró-RN, um cão, macho, SRD, não castrado, com 20 kg, apresentando aumento de volume do pênis e de nódulos no prepúcio, flancos e membro pélvico esquerdo. A tutora informou que o animal vivia na rua e foi resgatado para a consulta. O exame clínico revelou perda de peso, linfonodos aumentados (mandibulares, cervicais superficiais e poplíteos), presença de ectoparasitas (carrapatos e piolhos), e nódulos na região do prepúcio, flancos e membro pélvico esquerdo. O nódulo no prepúcio era ulcerado, com formato de couve-flor, enquanto os nódulos nos flancos e membro pélvico esquerdo eram sólidos e não ulcerados.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 1. Cão, macho, SRD, mostrando aumento de volume peniano e nódulos na região do prepúcio. O tumor apresenta aspecto hemorrágico e formato irregular de couve-flor

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 2. Nódulo no membro pélvico esquerdo do cão, medindo 2,5 cm de largura por 3 cm de comprimento

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 3. Nódulo no flanco esquerdo, medindo 2 cm de largura por 2,5 cm de comprimento                                 

A principal suspeita foi de TVT, confirmado por citologia de PAAF dos nódulos. O exame revelou células redondas com núcleos ovais, cromatina frouxa, nucléolos visíveis e citoplasma basofílico com vacúolos citoplasmáticos, característicos do TVT.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 4. Exame citológico das células tumorais do paciente, corado por Giemsa, com aumento de 1000x, mostrando células redondas com citoplasma vacuolizado, típico de TVT.

O tratamento com sulfato de vincristina foi iniciado na dose de 0,5 mg/m², aplicado por via endovenosa, em 4 sessões semanais. Durante o tratamento, o animal apresentou efeitos colaterais como neutropenia e vômitos, mas a resposta ao tratamento foi positiva, com remissão total das lesões, ficando livre da doença por seis meses após o tratamento. O cão permanece em acompanhamento, sem sinais de recidiva. O animal também recebeu, Simparic® 40 mg, Vetmax ® e coleira repelente como tratamento adjuvante. 

3  DISCUSSÃO

           O Tumor Venéreo Transmissível (TVT) é uma doença que afeta os cães em todo o mundo, mas é mais comum em climas tropicais e subtropicais, especialmente em locais onde existem grandes populações de cães errantes e onde há pouco controle reprodutivo (PIMENTA & VIANA, 2021). O comportamento sexual não monitorado e o contato físico com outros animais, seja por coito ou por ações como lambedura, mordedura e farejar locais contaminados, estão diretamente associados à prevalência de TVT em cães de vida livre (HUPPES et al., 2014). A história aqui mostra que o cão acometido vivia nas ruas antes de ser resgatado, corroborando a literatura anterior que indica que esses animais são mais vulneráveis à infecção.

O tumor no caso relatado era tanto genital quanto extragenital, e havia lesões específicas no prepúcio, flancos e membro pélvico esquerdo. O TVT afeta com mais frequência o pênis, mas cerca de 15% dos casos envolvem áreas extragenitais, como a cavidade nasal, oral, pele e olhos (FERNANDES, 2020). Huppes et al. (2014) enfatizam que quando um tumor invade cavidades como o seio nasal ou a cavidade oral, pode causar sintomas respiratórios como corrimento nasal e dispneia, bem como erosões ósseas, o que neste caso não ocorreu.

 O tratamento utilizado neste protocolo é considerado o mais eficaz, com taxas de sucesso superiores a 90% (SANTOS et al., 2011). A vincristina é muito eficaz na remoção das células neoplásicas, pois impede a divisão celular. No entanto, como neste paciente, os efeitos colaterais, como neutropenia, vômitos e anorexia, ocorrem com frequência durante o tratamento (FLORENTINO et al., 2006). A neutropenia causada pela vincristina é uma complicação potencialmente grave que requer acompanhamento constante do paciente durante a quimioterapia (MORAIS et al., 2021).

 Em casos de resistência ao tratamento inicial, outras opções terapêuticas, além da vincristina, foram descritas na literatura, incluindo doxorrubicina, ciclofosfamida e até mesmo radioterapia (PIMENTA & VIANA, 2021). Devido à alta taxa de sucesso da vincristina, é importante considerar outras opções terapêuticas em caso de resistência ou recidiva.

Embora o tratamento do TVT seja amplamente eficaz, a prevenção é fundamental para controlar a propagação da doença. O controle da população de cães errantes, a castração e a divulgação de informações sobre a transmissão do TVT podem reduzir significativamente o número de casos da doença (GREATTI et al., 2004). Além disso, o uso de antiparasitários, como os adjuvantes Simparic® e Vetmax® para tratamento, reduz a infestação por ectoparasitas, que podem piorar a condição clínica do animal.

Quando o tratamento do TVT é administrado corretamente, o prognóstico geralmente é favorável. Estudos mostram que a maioria dos cães que recebem vincristina recupera completamente de suas lesões. Nesse exemplo, o cachorro não teve nenhuma doença por seis meses após o tratamento (FLORENTINO et al., 2006). O

acompanhamento a longo prazo, por outro lado, é essencial, pois a recidiva pode ocorrer em até 10% dos casos (SANTOS et al., 2011). O acompanhamento clínico regular permite a detecção precoce de qualquer recidiva e a aplicação de terapias adicionais, se necessário.

Uma técnica rápida, barata e não invasiva conhecida como citologia de PAAF foi usada para confirmar o diagnóstico de TVT. Este método é ideal para lesões ulceradas ou exsudativas (MORAIS et al., 2021). Devido à sua facilidade e precisão na revelação de características citológicas típicas, como citoplasma basofílico e vacuolizado, a citologia é amplamente utilizada no diagnóstico da TVT. No entanto, exames histopatológicos podem ser necessários em casos de diagnóstico incerto ou em lesões incomuns para confirmar o diagnóstico e diferenciar o TVT de outras neoplasias de células redondas (FERNANDES, 2020).

4  CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tumor venéreo transmissível canino (TVT) é uma doença muito comum em cães de rua, principalmente em locais onde há muitos animais errantes e atividades sexuais não controladas. O relato de caso descrito reafirma a importância do diagnóstico precoce com citologia, que permite rapidez, facilidade e baixo custo. Além disso, o tratamento quimioterápico com vincristina demonstrou ser altamente eficaz, com alta taxa de remissão; neste caso, o animal recuperou todas as suas lesões. O paciente teve uma resposta positiva, apesar dos efeitos colaterais da quimioterapia, como neutropenia e vômitos, que confirmaram o sucesso do protocolo. Para evitar recidivas, o animal deve ser acompanhado continuamente. Conclui-se que o uso de vincristina no tratamento do TVT é uma abordagem eficaz e amplamente recomendada, sendo capaz de proporcionar um prognóstico favorável em grande parte dos casos.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, D. S. Tumor venéreo transmissível canino: relato de caso. UERJ. Disponível em: <https://www.publicacoes.uerj.br/sustinere/article/view/65858/41805>. Acesso em: 16 ago. 2024.

FERNANDES, M. P.; SILVA, J. R.; OLIVEIRA, L. C.; MORAES, R. A. Tumor venéreo transmissível nasal-oral único e primário em um cão. Revista de Agroecologia no Semiárido (RAS), v. 4, n. 2, p. 60-64, 2020. Disponível em:<https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/ras/article/viewFile/4333/pdf144#:~:text=O%20tumor%20ven%C3%A9reo%20transmiss%C3%ADvel%20(TVT)%20%C3%A9%20 uma%20enfermidade%20cosmopolita%2C,por%20lambedura%20da%20%C3%A1rea %20genital.. Acesso em: 23 ago. 2024.

FLORENTINO, K. C., NICACIO, F. D., BATISTA, J. C., COSTA, J. L. DE O., & BISSOLI, E. D. A. G. (2006). Tumor venéreo transmissível cutâneo canino: Relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, 03(07), 1-10.

GREATTI, W. F. P.; AMARAL, A. S.; SILVA, S. B. Índices proliferativos do tumor venéreo canino transmissível pelas técnicas do CEC e KI-67 na citologia aspirativa com agulha fina. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 1, 2004

HUPPES, R. R.; SILVA, C. G.; USCATEGUI, R. A. R.; DE NARDI, A. B.; SOUZA, F. W.; COSTA, M. T.; AMORIM, R. L.; PAZZINI, J. M.; FARIA, J. L. M. Tumor venéreo transmissível (TVT): Estudo retrospectivo de 144 casos. Ars Veterinaria, v. 30, p. 13-18, 2014

MORAIS, F. C. M. R., SOUSA, P. P. A., TAVARES, W. L. F., NOGUEIRA, L. L. P., MORAIS, R. F. F., SANTANA, L. R. F., & MARTINS, J. G. Aspectos clínicos, hematológicos, citológicos, diagnóstico e tratamento de tumor venéreo transmissível em cão. Research, Society and Development, 10(10), 2021.

PIMENTA, K. C.; VIANA, D. C. Tumor venéreo transmissível nasal em cão – Relato de caso. Revista Científica Universitária, 8(2):62-68, 2021.

SANTOS, I. F. C.; Cardoso, J. M. da M.; Oliveira, K. C. Metástases cutâneas de tumor venéreo transmissível canino – Relato de caso. Revista Científica de Medicina Veterinária, 9(31):639-645, 2011

VALENÇOLA R. A., ANTUNES, T. R., SORGATTO, S., OLIVEIRA, B. B., GODY, K. C. S., & SOUZA, A. I. (2015). Aspectos citomorfológicos e frequência dos subtipos do tumor venéreo transmissível canino no município de Campo grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta Veterinaria Brasilica. 9(1), 82-86


1 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: lidiaketry@gmail.com

2 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlo, e-mail: michellydiasdias03@gmail.com 

3 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: isabel.silva@alunos.ufersa.edu.br 

4 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: gabriellideoliveiras@hotmail.com 

5 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: isalorena234@gmail.com 

6 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: rafaelaalmeida208@gmail.com  

7 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: isadora.r.s.qz@gmail.com 

8 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: marcielle.menezes@alunos.ufersa.edu.br 

9 Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semiárido Campus Mossoró e-mail: annavipraxedes@gmail.com 

10 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (Clínica e Reprodução Animal) da Universidade Federal Fluminense (UFF), e-mail: mateuswaterloo@icloud.com